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PORTUGAL ANTIGO E MODERNO DECIMO PRIMEIRO VOLUME PORTUGAL ANTIGO E MODERNO DICCIÕNÃRIO Geogrraphico, Estatístico, chorographico, Heráldico, Archeoloyico, Histórico, Biographico e Etymologico OE TODAS AS CIDADES, VILLAS E FREGUEZÍAS DE PORTUGAL E DE GRANDE NUMERO DE ALDEIAS n«* K?f9Qieif tas S&° n°taveis, Por serem pátria de homens celebres, por batalhas ou outros factos importantes que delias tiveram locar, por serem solares de familias nobres, ou por monumentos de qualquer natureza, alli existentes NOTICIA DE MUITAS CIDADES E OUTRAS P0V0AÇÕESrDA LUSITÂNIA QUE APENAS RESTAM VESTÍGIOS OU SOMENTE A TRADIÇÃO P0fi Augusto Soares de Azevedo Barbosa de Pinho Leal LISBOA Livraria Editora de Tavares Cardoso & ísmão 5 —Largo do Camões —6 1886 J^ISBOA TYPOGRAPHIA MATTOS MOREIRA i5, Traça dos Restauradores, 16 1886 D? 1*1 THE 6ETTY CEN1 tW1 L1BRARY PORTUGAL ANTIGO I MODHO V VIL VIL DE, MATOS— freguezia do concelho, comarca, districto e diocese de Coimbra, na província do Douro. Orago— S. João Evangelista— fogos 148 — almas 592. Carvalho deu-lhe 160 fogos. Foi curato amovível da apresentação do parocho da freguezia de Barcouço,— perten- ceu ao extincto concelho d'Ançã— depois ao de Catanhede— e hoje pertence ao de Coim- bra por decreto de 24 de outubro de 1855. Comprehende as aldeias seguintes:— Vil de Matos (sede da parochia) Vendas de Sant'Anna, Mourellos, Costa e Rios Frios,— os casaes da Murteira, Cartaxos e Cova de Coelhos— e a quinta da Zombaria, perten- cente ao sr. dr. Julio Augusto Henriques, benemérito director do Jardim Botânico de Coimbra e muito illustrado lente de botâni- ca na Universidade,— a quinta do Barreiro, pertencente ao barão do Cruzeiro, de Mogo- fores,— a do Burlegão, pertencente a Joa- VIL quim Maria Diniz— e a do Paraíso, perten- cente ao sr. conselheiro dr. Francisco de Castro Freire. As suas freguezias limitrophes são:- An- tuzende e Trouxemil, do concelho de Coim- bra,—Ançã, concelho de Cantanhede, — e Barcouço do concelho da Mealhada. Dista de Coimbra 12 kilometros para N. E. —da estação de Souzellas (C. de ferro do N.) 7 kilometros para 0,-119 do Porto— e 232 de Lisboa. Atravessa esta freguezia a estrada muni- cipal da ponte da Carvalhinha á povoação de Vil de Mattos;— dista 3 kilometros da es- trada districtal de Coimbra a Cantanhede— e 2 da estrada real de Lisboa ao Porto. A egreja matriz é pequena e tem altar- mór e 2 lateraes com decorações de talha singela;— em ura dos altares lateraes se vê uma lindíssima imagem de Nossa Senhora PORTUGAL ANTIGO E MODERNO DECIMO PRIMEIRO VOLUME PORTUGAL ANTIGO E MODERNO ICCIONARIO Geographico, Estatístico, cliorographico, Heráldico, Archeologico, Histórico, Biographico e Etymologico DE TODAS AS CIDADES, VILLAS E FREGUEZIAS DE PORTUGAL E DE GRANDE NUMERO DE ALDEIAS Se estas são notáveis, por serem pátria de homens celebres,, por batalhas ou outros factos importantes que n"ellas tiveram logar, por serem solares de familias nobres, ou por monumentos de qualquer natureza, alli existentes NOTICIA DE MUITAS CIDADES E OUTRAS P0V0AÇÕES'0A LUSITÂNIA DE QUE APENAS RESTAM VESTÍGIOS OU SOMENTE A TRADIÇÃO por Augusto Soares de Azevedo Barbosa de Pinho Lea! LISBOA Livraria Editora de Tavares Cardoso & Irmão 5 — Largo do Camões— 6 1886 J^ISBOA TYPOGRAPHIA MATTOS MOREIRA i5, Traça dos Restauradores, 16 1886 D? In THE GETTY CENlkkv UBRARY PORTUGAL ANTIGO 1 MUI V VIL VIL DE MATOS— freguezia do concelho, comarca, districto e diocese de Coimbra, na província do Douro. Orago— S. João Evangelista— fogos 148 — almas 592. Carvalho deu-lhe 160 fogos. Foi curato amovível da apresentação do parocho da freguezia de Barcouço,— perten- ceu ao extincto concelho d'Ançã— depois ao de Catanhede— e hoje pertence ao de Coim- bra por decreto de 24 de outubro de 1855. Comprehende as aldeias seguintes: — Vil de Matos (sede da parochia) Vendas de SanfAnna, Mourellos, Costa e Rios Frios,— os casaes da Murteira, Cartaxos e Cova de Coelhos— e á quinta da Zombaria, perten- cente ao sr. dr. Julio Augusto Henriques, benemérito director do Jardim Botânico de Coimbra e muito illustrado lente de botâni- ca na Universidade,— a quinta do Barreiro, pertencente ao barão do Cruzeiro, de Mogo- fores ,— a do Burlegão, pertencente a Joa- VIL quim Maria Diniz— e a do Paraiso, perten- cente ao sr. conselheiro dr. Francisco de Castro Freire. As suas freguezias limitrophes são:- An- tuzende e Trouxemil, do concelho de Coim- bra,— Ançã, concelho de Cantanhede, — e Barcouço do concelho da Mealhada. Dista de Coimbra 12 kilometros para N. E. —da estação de Souzellas (C. de ferro do N.) 7 kilometros para 0,-119 do Porto— e 232 de Lisboa. Atravessa esta freguezia a estrada muni- cipal da ponte da Carvalhinha á povoação de Vil de Mattos;— dista 3 kilometros da es • trada districtal de Coimbra a Cantanhede— e 2 da estrada real de Lisboa ao Porto. A egreja matriz é pequena e tem altar - mór e 2 lateraes com decorações de talha singela;— em um dos altares lateraes se vê uma lindíssima imagem de Nossa Senhora 062 1 VIL VIL do Rosario, Tem mais nas Vendas de Santa Anna uma capella publica d'esta invocação, com festa própria e romaria annual no 1.° domingo depois de 26 de julho, — em Rios Frios a de S. Thomé, também publica, sem festa ha muitos annos,— e uma capella par- ticular na quinta da Zombaria. A capella de Sant'Anoa já foi a matriz d'esta paroehia e é bastante antiga, porque já se vê mencionada na Chorographia Por- tugueza, bem como a de S. Thomé. Banham esta freguezia o rio de Caval- leiros, que atravessa o Valle Travesso e desagua na Valia do Norte (parallela ao Mondego) a distancia de 5 kilometros, — e as valias da Linteira e do Carregal, que desaguam no rio de Cavalleiros, em Valle Travesso. Tem 2 pontes, — 3 moinhos em Cadavae, Paraíso e Carvalho, que moem milho, trigo e centeio — e 1 em Valle Travesso, que se emprega em preparar o arroz. Produz milho, trigo, centeio, cevada, fei- jões e nomeadamente vinho de mesa, muito bom, e arroz. Este ultimo artigo constitue hoje uma das produeções mais importantes d'esta paro- ehia, mas tem dado origem a febres devas- tadoras, muitos desgostos, muitas desordens e grandes questões que promettem reviver. A cultura do arroz tem sido uma mina para muitos proprietários d'este districto, mas foi uma verdadeira praga para esta e outras muitas parochias I . . . Daria grossos volumes tudo o que se tem escripto sobre tão momentoso assumpto e bem quizeramos aproveitar o ensejo para consignarmos aqui os tópicos principaes da grande questão, mas somos forçados a ali- geirar e resumir e portanto apenas indica- remos muito summariamente a parte que prende com esta paroehia: Data de 1864 ou 1865 a cultura do arroz n'esta paroehia. 1 1 Referimo-nos á cultura em grande escala, pois já desde 1853 se haviam feito ensaios e tentativas. O dr. Eusébio Rodrigues Manique, de Coimbra, comprou uma grande porção de terreno no sitio de Val Travesso, setneou-o todo de arroz em um d'aquelles annos e, como auferisse lucros, proseguiu com a mesma cultura nos annos de 1866, 1867 e 1868; desenvolveu-se porém logo uma me- donha epidemia de febres pestilenciaes n'esta freguezia e na de Barcouço, sualimi- trophe, a ponto tal que os habitantes das duas parochias e da de Ançã resolveram fazer justiça por suas mãos. Em certo dia aprasado (um domingo) reuniram se na ponte de Maurelles alguns centos de pessoas, — homens e mulheres, velhos e novos, padres e seculares, — inva- diram os arrosaes do dr. Eusébio e d'ouíros — e destruiram-nos completamente todos. Nem o dr. Eusébio nem outro algum dos proprietários d'arrosaes colheram n'aquelle anno um grão único de arroz!. . . lnstaurou-se processo contra os delin- quentes, mas ninguém ficou culpado, porque todas as testemunhas inqueridas disseram que aquelles destroços foram causados pelos habitantes das tres freguezias em massa, sem distineção de pessoas. Em vista de facto tão estranho o dr. Eu- sébio e os outros exploradores da mina da orysicultura esmoreceram; não mais semea- ram arroz desde 1868 até 1876, pelo que o estado sanitário d'esta paroehia e das limi- trophes foi excellente durante aquelle pe- ríodo; mas em 1876 a sacra fames auri determinou vários egoístas a posporem á saúde publica os seus interesses;— repeti- ram a cultura do arroz e a desenvolveram em larga escala, desenvolvendo-se logo na mesma proporção as sezões malignas, como consequência evidente, necessária, fatal, ameaçando converter esta e as parochias limitrophes em um deserto. Graças, porém, á dedicação do ex.mo sr. Bispo Conde (D. Manuel Correa de Bastos Pina) e d'outros cidadãos beneméritos, ha 3 annos que foi extincta a cultura do arroz n'esta e em ou- tras parochias d'este districto de Coimbra onde a orysicultura era mais nociva á saúde publica. VIL VIL 663 Foi óptimo o estado sanitário d'esta fre- guezia até 1883, mas este anuo dois especu- ladores de Mira arrendaram ao sr. Alberto Ferreira Pinto as terras de Val Travesso e de novo as semearam d'àrroz, pelo que o parocho d'esta freguezia e todos seus paro- chianos representaram ao governo contra semelhante sementeira e em abril ultimo foram pessoalmente entregar a representa- ção ao sr. governador civil de Coimbra, que prometteu fazer-lhes justiça; receiam po- rém que sejam obrigados a appellar para meios violentos, como já fizeram duas vezes, — a l.a unidos aos habitantes das freguezias de Ançã e Bareouço — a 2." de per si sòs e com menos felicidade, porque ficaram pro- nunciados em numero de 14. No supplemento ao artigo Coimbra volve- remos ao assumpto e iremos um pouco mais longe; entretanto quem quizer iniciar-se na grande questão dos arrozaes pode ler — a lei de 1 de julho de 1876, os officios que o sr. bispo-conde dirigiu ao governo com data de 7 de janeiro e 26 de fevereiro de 1881, — e 15 de fevereiro de 1882, — a Pastoral do mesmo sr. com data de 3 d'abril de 1882, — os decretos de 23 de março e de 5 d'abril do mesmo anno, — o n.° 1 das Instituições Christãs, 1.» serie, 1883, pag. 14, — e o n.° 8 das mesmas Instituições, 1." serie do 2.° atino, 1884, pag. 249. Tudo isto corre impresso e torna evi- dentíssima a nefasta influencia dos arrozaes sobre a hygiene publica, nomeadamente nos concelhos de Coimbra, Montemor-o- Velho, Figueira, Soure, Pombal, Condeixa e Leiria; — mas, para se formar idéa de quanto po- dem o sophisma e a sêde do lucro, ou a sacra fames auri, devem ler-se também, como reverso da medalha .n'este assumpto, as celebres cartas de Amaro Mendes Gaveta, pseudonymo de um dos nossos mais lau- reados poetas contemporâneos, grande pro- prietário e grande cultivador dos malditos arrozaes no districto de Coimbra. Apesar de haver sido terminantemente prohibida a cultura dos arrozaes em 1867 e 1882, ella teve um incremento de 80 p. c. nos últimos 10 annos, calculando-se em 1:880 hectares o chão empregado hoje na dita cultura??!!!... Isto é ofjficial. Na correspondência de Coimbra para o Commercio do Porto, que é sem contéstação o jornal menos faccioso e mais serio de todo o nosso paiz, se lia com data de 20 de se- tembro ultimo (1884) o seguinte: «Já principiou a colheita do arroz, cuja producção é abundantíssima. A este respeito podemos informar que nunca a oryzicultura no districto de Coimbra tomou tanto desen- volvimento como no presente anno. E isto apesar de todas as leis, portarias, decretos e commissões! As doenças originadas nas emanações deletérias d'estes verdadeiros pântanos também este anno recrudesceram, havendo povoações onde as febres intermit- tentes teem feito grandes estragos. «E' lamentável que a saúde dos povos assim esteja á mercê do capricho e ambi- ção dos potentados monetários e das in- fluencias politicas, que são os que aqui, como em toda a parte, querem e defendem os arrozaes.» VIL DE SOUTO— Freguezia. V. Villa de Souto. VILHARIGAS ou VILHARIGUES — Fre- guezia do concelho de Vouzella. V. Paços de Vilharigues, vol. 6.°, pag. 397, col. 2." VILIAR — porluguez antigo — despresar, ter em pouco, desestimar. De uma sentença de 1496 consta que a villa de Val de Prados, era terras de Bra- gança, devia ter forca, picota e tronco por ser villa sobre si, sem por isto viliarem e deshonrarem a villa de Bragança. VILLA — designação de centenares de po- voações, casaes e quintas do nosso paiz. Só este tópico (em boa hora o encete- mos!...) daria um volume, se não fossemos obrigados a aligeirar e resumir quanto pos- sível para vermos se fechamos o diccionario com este 10.° volume, reservando para o supplemento as rectificações e addicções. VILLA. — Em todos os nossos documen- tos até os fins do século xn se tomou villa não por uma povoação grande, supe- rior a uma aldeia e que tivesse juiz, senado 664 VIL VIL e pelourinho eom os mais distinetivos de ju- risdieção civil e criminal, mas sim por uma pequena ou grande herdade, casal ou granja, comprehendendo terrenos com sua casa rús- tica e abegoaria para recolher os fructos e criar os gados e outros animaes domésti- cos. Dividia- se a villa, segundo Columella, em urbana, rústica e frutuaria. A primeira constava de uma casa mais elegante e aceada (casa nobre) em que o senhor da villa resi- dia temporária ou permanentemente; — a segunda pouco ou nada tinha de polida e era destinada para habitação do colono e sua família; constava também de curraes, cortes e cobertos para os animaes e apres- tes da lavoura ; — a terceira finalmente era o que chamamos adega ou celleiro. A villa (herdade ou quinta) menos importante era denominada villula, villar e villarinho. Desde os fins do século xii até os do sé- culo xv também algumas vezes se tomou villa como synonimo de cidade, assim se en- contra em muitos documentos villa de Bra- gança, de Lamego, de Coimbra, da Guarda, etc, mas desde o tempo de el-rei D. Af- fonso III se começou a chamar villa uma povoação grande ou cabeça de concelho, na qual se decidiam as causas na primeira in- stancia e n'esta ultima accepção se toma hoje em Portugal a palavra villa. V. Aldeia no supplemento. VILLA D'ALA — freguezia do concelho do Mogadouro, districto e diocese de Bra gança, província de Traz-os-Montes. Orago — Nossa Senhora da Assumpção,— fogos 122,— almas 535. Reitoria. Foi curato annual da apresenta- ção do marquez de Távora, da coroa e da mesa da consciência. Dista 9 kilometros do Mogadouro para E., 35 de Miranda para S. O., 56 de Bragança para S. E. e 10 da margem direita do Douro. Toca na povoação de villa d'Ala, séde d'esta freguezia, a estrada da villa da Bemposta para o Mogadouro. Comprehende mais esta freguezia as al- deias de Paçô e Santiago. As suas parochias limitrophes são Thó, Mogadouro, Variz e Villa de Rei. Ha n'esta freguezia uma pyramide geodé- sica que marca 816 metros d'altitude sobre o nível do mar. O seu chão é áspero e frio e as suas pro- ducçoes dominantes são batatas, lã e ce- reaes. Entre esta parochia e a de Variz está a serra d'Ala, onde se encontram vestígios de povoação importante antiquíssima que tal- vez fosse cidade outr'ora. Vide Ala, serra, vol. l.°, pag. 45. VILLA ALVA ou VILLALVA — freguezia do concelho e comarca de Cuba, districto e diocese de Beja, província do Alemtejo. Orago Nossa Senhora da Visitação, — fo- gos 370, — almas 1:400. Foi villa e teve por donatário o duque de Cadaval. Pertenceu ao concelho de Villa de Frades e á comarca de Beja. D. Manuel lhe deu foral em Lisboa com data de 1 de junho 1512. Livro dos Foraes Novos do Alemtejo, fl. ó6, col. 2." Veja-se o processo para este foral na Gav. 20, Maço 12, n.° 24. Está situada em planície na margem es- querda de uma ribeira affluente da de Odi- vellas, 10 kilometros a E. da estação d'Al- vito e 12 ao N. da de Cuba, na linha férrea do sul, 29 ao N. de Beja e 134 a S. E. de Lisboa. Comprehende além da villa, povoação única d'esta parochia, os montes ou ca- saes de Gandra, Zambujal, Farelôa, Ribeira, Chouriça, Marqueza e Antas. É priorado e em 1768 rendia 600:000 rs. As suas producções dominantes são vi- nho, que é o melhor do distrieto, azeite e lã, pois cria bastante gado. Também produz muita frueta de pevide e de caroço e cor- tiça. A sua herdade mais importante é hoje a do Zambujal, pertencente ao sr. José Maria Ayres Parreira Capas. Freguezias limitrophes — Cuba, Oriolla, Villa Ruiva, Villa de Frades e Albergaria dos Fusos. Tem uma estrada a macadam por Villa de Frades para a estação de Villa Nova da Baronia e outra para a estação de Cuba. VIL VIL 665 A sua egreja matriz é pequena; está no meio da villa e a poucos metros de distan- cia ha uma torre que foi feita quando trou xeram de um dos conventos d'Evora um bom relógio que n'ella colloearam. Diz-?e que esta freguezia tomou o nome do antiquíssimo casal de Monte Alvo. Tem casa de Misericórdia, hoje em deca- dência. A sua egreja soffreu varias modifi- cações, mas ainda conserva alguma obra de talha dourada de merecimento. Ha ainda n'esta parochia mais 2 templos públicos pouco notáveis, — ao todo 5. A industria local reduz-se a uma fabrica de rolhas de cortiça, que são exportadas quasi que exclusivamente para a America do Norte. Também exporta alguma madeira d'alamo. A distancia de 4 kilometros d'esta villa (approximadamente) no sitio de Malk-abrão ou Malcabrão teem appareeido algumas moedas antigas de prata e cobre. Em uma se lia Cesar Tib. Ha n'esta villa um edifício brasonado, pertencente ao sr. Fernando Guilherme Guedes Pimenta. Está ha Praça Velha, junto da torre do relógio. Tem mai3 dois bons edifícios, embora sem brazões, — um na Praça Nova, pertencente a Joaquim Antonio da Fonseca, — outro na rua da Miseri- córdia, pertencente á sr.a D. Anua Rita da Cruz Arce. Esta villa nunca foi fortificada, nem teve convento algum, nem feiras ou mercados. Ainda n'ella se veem os antigos paços do concelho e a cadeia. O pelourinhojá desap- pareeeu. T m um largo arborisado e 5 ruas pnn- cipaes — de Lisboa, Misericórdia, Figueira, Carreira e Outeiro. Ha n'esta freguezia 5 moinhos de vento e 3 d'agua na ribeira de Odivellas, onde ha também uma ponte de pedra junto da ex- tremidade d'esta parochia. Villalva assenta nas vertentes septen- trionaes duma pequena cordilheira de mon- tes que fazem parte da serra dAlpedreira, ramificação da serra d'Ossa. V. Alpedreira. Tem duas escolas d'instrucção primaria elementar para os dois sexos, — 1 hospital, que é o da Misericórdia, — e 1 hospedaria de Manuel Calado da Luz. Temos em nosso poder uma copia do fo- ral que D. Manuel deu a esta villa e bem quizeramos extractal-o/ porque é muito in- teressante, mas como este artigo vae já bas- tante longo, no supplemento encontrarão os leitores o extracto do dito foral sob o mesmo titulo Villa Alva. VILLA D'AL VA — villa acastellada e fre- guezia em 1240, hoje uma pequena e pobre aldeia pertencente á freguezia de Poiares no concelho de Freixo d'Espada á Cinta, província de Traz os Montes. V. Alva, vol. l.° pag. 169, — Barca d' Alva. no mesmo vol. pag. 324 — e o Douro Illus- trado, pag. 66 a 68. VILLA DALVARO — villa e freguézía do concelho de Oleiros, comarca da Certã no antigo priorado do Crato, até 1882 patriar- chado de Lisboa e desde 1882 bispado de Portalegre. E' priorado. Conta hoje 356 fogos e 1:374 habitantes. Orago S. Thiago Maior. Comprehende esta freguezia, alem da villa, os logares de Gaspulha, Povoa da Tal- vinheira, Povoa do Meio, Povoa de Cima, Val da Carreira, Sendinho de Santo Amaro, Quartos dAlem, Quartos dAquem, Quarti- nhos, Valinho, Pandos, Bexinheira, Com- geira, Longra, Sarnadas dAlem, Sarnadas d'Aquem, Val dos Vascos, Portilla, Gorga, Povoas, Povoas da Ribeini, Casal da Ordem, Beco, Frazumeíra, Pecegueiros, Maria Go- mes, Travessa e Portalegre. V. Alvaro, n'este diccionario, tomo 1.° e no supplemento — e as Memorias da Villa de Oleiros pag. 236, pelo rev.,n0 Sr. D. João Maria Pereira do Amaral Pimentel, bispo d' Angra. VILLA DO BISPO — villa, freguezia e séde do concelho d'este nome, comarca de Lagos, districto e diocese de Faro na pro- víncia do Algarve. Orago Nossa Senhora da Conceição, — fogos 277 e 1:181 habitantes. A Chrographia Portugueza em 1708 deu- 666 VIL VIL lhe 200 fogos, a Chrographia do Algarve em 1837 deu lhe 211 — e o Portugal Sacro e Profano 144 em 1768, acerescentando que o seu parocho tinha de rendimento oito moios de trigo e era prior da apresentação alternativa do papa e do prelado. E' hoje viga irar ia. Dista 4 kilometros para O. e 6 para o N. do oceano, que aqui fórma um pontal, espé- cie "de península tendo na sua extremidade S. O. o cabo deS. Vicente a 10 kilometros d'esta villa, a qual dista de Lagos 25 kilo- metros e de Faro cerca de 100 para oeste. Em 1840 esta villa com a de Sagres e as freguezias de Bordeira, Budens Barão, Ra- poseira e Carrapateira constituíam o con- celho de Villa do Bispo, extincto pelo de- creto de 2i d'outubro de 1855, passando as ditas freguezias para o concelho de Lagos; mas por decreto de 10 de setembro de 1861 foi restaurado o antigo concelho de Villa do Bispo com as mesmas freguezias, exce- ptuando a de Bordeira e a sua annexa de Carrapateira, que passaram para o concelho de Aljesur; mais tarde a de Carrapateira passou outra vez para este. Compreheude pois este concelho hoje 4 freguezias — Budens, Raposeira e Carrapa- teira, sua annexa, Sagres e Villa do Bispo, com o total de Fogos 953 Almas 4:151 Superfície em hectares 22:867 Prédios inscriptos na matriz 7:504 Esta freguezia tem uma area bastante ex- tensa ; o seu chão é alto, lavado dos ventos e muito saudável, pelo que outr'ora vieram residir para este concelho, como para uma estação de saúde, muitas famílias abastadas e cavalleiros de pontos distantes, o que ainda revelam os claros vestígios de embellesamen- tos que se notam nas quintas de Val Santo, Guadalupe, Lontreira, Alagoas, etc. Comprehende esta freguezia, alem da vil- la, os casaes, quintas e hortas seguintes: Ta- bual ou Atabual, Pedralva, Santo Antonio, Horta Garcia, Pena Furada, Monteso e Mur- ração. As herdades principaes hoje são Fonte dos Monteiros, pertencente a José Cardoso e Valle do Paço, de José de Sousa Marreiros Cintra, ambos d'esta villa. Freguezias limitrophes:— Budens, Rapo- seira, Sagres e Bordeira, sendo esta ultima do concelho de Aljesur. Ê atravessada pela estrada do litoral, em via de construcção. Os seus templos reduzem se á egreja ma- triz, que se acha em bom estado de conser- vação e tem boas alfaias, avultando entre ellas uma custodia de muito merecimento. As festas principaes que n'ella se celebram são a da padroeira, N. S. da Conceição, no dia 8 de dezembro, e a de S. Vicente no dia 22 de janeiro. Costuma haver aqui annualmente um pe- queno mercado de gado bovino que dura duas a tres horas e que chamam feira da villa. O seu terreno é muito fértil, como todo o Cabo de S. Vicente, por justos títulos deno- minado celleiro do Algarve; as suas produc- ções são trigo, cevada, milho, batata redon- da, chicharos, grão de bico, algum vinho, lã e queijos, pois cria bastantes cabras e ove- lhas e do leite fazem queijos excellentes e manteiga. Tem igualmente abundância de peixe, le- bres, coelhos e perdizes. A sua agua potável é boa. Foi conduzida para a villa por um peque- no aqueducto. . ' Apesar da fertilidade do solo, os seus ha- bitantes em geral são pobres, porque a maior parte da propriedade pertence a estranhos. As mulheres vestem surianos e estame- nhas e occupam-se na colheita do esparto para diversos usos. Segundo a Geographia Commercial dlo sr. João Felix, ha n'este concelho 23 theartes de lã. A antiga povoação de Santa Maria do Ca- bo, hoje séde d'esta paroehia, foi doada aos bispos do Algarve por el-rei D. Ma.nuel, quando visitou o Cabo de S. Vicente, pelo que desde então se ficou denominando Al- VIL VIL 667 deia do Bispo e Villa do Bispo depois que D. Pedro II a elevou á cathegoria de villa e lhe deu foral (diz a Chorographia Moderna) mas nem Franklim nem a Chorographia do Algarve o mencionam. Ha aqui um vasto Reguengo que perten- ce aos próprios nacionaes e um baldio para logradouro commum e pastagem dos gados. Se fossem divididos em courellas pelos ha- bitantes da freguezia e convenientemente agricultados, podiam transformar-se em um bom elemento de riqueza. Nas Memorias para, a Historia Ecclasias- Uca do Algarve, eseriptas pelo mesmo auctor da Chorographia do Algarve, João Baptista da Silva Lopes e publicadas pela Academia Real das Scieneias em 1848, se diz a pag. 641 (nota) : «Estes dous concelhos (Villa do Bispo e Aljesur) não devem subsistir por insignifi- cantes: os seus moradores vão a Lagos con- sultar Medico, Cirurgião, Advogado, e pro- ver-se de tudo que lhes falta, levando ali to- dos dias os seus géneros para vender». Aiuda existem os antigos paços do conce- lho e a cadeia d'esta villa, mas já não existe o pelourinho, que estava na praça, porque foi derrubado por um tufão no dia 4 de fe- vereiro de 1871, pelas 5 horas da manhã. Esta freguezia é banhada por uma ribeira que lem uma pequena ponte na estrada do litoral e desagua no oceano a 12 kilometros de distancia. Ha n'esta freguezia 2 minas de manganez e de outros metaes, simplesmente registra- das, no sitio de Morração. N'esta parochia é sensível a falta de arvo- redo, inclusivamente de figueiras que tanto abundam na maior parte do Algarve. João Baptista da Silva Lopes menciona na sua Chorographia um benemérito prior d'es- ta parochia, José Pedro da Silva Gonçalves Reis que, em premio do seu zelo pela pros- peridade dos seus parochianos, foi perseguido e preso em 1823 e veiu a morrer martyr da liberdade poucos mezes depois de sair pela segunda vez da prisão, em 1833. Causou aqui muitos prejuisos o grande terremoto de 1 de novembro de 1755. Des- moronou todas as casas da villa, exceptuan- do unicamente uma ! . . . Este beneficio foi um dos melhores do Al- garve. O seu prior recebia os dízimos das miuças, que eram importantes. Os dízimos da massa grossa d'esta fregue- zia e da de Sagres foram alguns annos arren- dados por 1:600$000 réis, cento e dez al- queires de trigo e duas pipas de mosto. VILLA BOA — Aldeia da freguezia de Serapicos no concelho de Valpassos, perten- cente á diocese de Braga desde 1882. Foi séde da extíncta freguezia de Santo Estevão de Villa Boa de Carças. O sr. J. M. Baptista na sua Chrographia Moderna men- ciona mais 27 aldeias ou simples povoações e 4 quintas ou casas com o nome de Villa Boa. VILLA BOA — Aldeia da freguezia de Boi- vão, concelho de Valença do Minho, da qual já se fallou no vol. l.°, pag. 407, col. 2.» Vide. Comprehende esta freguezia as aldeias de Lordello, Pedreira, Paço, Cimo de Villa e Villa Boa. N'esta foi publicamente exautorado com todas as formalidades do estylo, em 10 de outubro de 1839, o 2.° sargento de infan- teria n.° 10. José da Silva Rosa, condemna- do em ultima instancia a ser-lhe despida a farda com todos os signaes de despreso, e degredado para um dos logares da Africa por 10 annos. O crime do dito sargento foi o ter abusa- do da sua auctoridade e extorquido dinheiro a vários moradores d'aquella aldeia. Toda a guarnição da praça de Valença foi assistirão acto da exautoração. VILLA BOA — freguezia do concelho e co- marca de Mirandella, distrieto e diocese de Bragança na província de Traz os Montes. Orago Santa Maria Madaglena, — fogos 67, almas 304. Em 1768 contava 43 fogos e rendia réis 30$0u0. Pertenceu ao concelho de Lamas d'Ore- lhão, extincto pelo decreto de 31 dezembro de 1853, pelo qual passou para o de Miran- della, e atá á ultima circumscripção dioce- 668 VIL VIL sana feita em 1882, era do arcebispado de Braga. É reitoria, hoje annexa civilmente á fre- guezia do Franco. Foi apresentada pelo vi- gário de Lamas de Orelhão, mas os dízimos d'esta parochia, da do Franco e das outras d'aqutlle extincto concelho pertenciam ao convento das freiras franciscanas de Santa Clara de Villa do Conde. Comprehende além da povoação, séde da freguezia, a pequena aldeia da Gricha, que também já foi parochia. As suas fregueziaslimitrophes são— Fran- co, Ávidagos e Abreiro. Dista 3 kilometros para S. E. da estrada nova de Villa Real a Mirandella e Bragança, — 20 da séde do concelho e 92 da séde do disiricto. Ê atravessada por uma estrada municipal; deve passar a 15 kilometros de distancia a linha ferroa de via reduzida em construc- ção da foz do Taa (linha do Douro) a Mi- randella,'— e dista da foz do Tua e da linha do Douro 30 kilometros para N. E. Oi seus templos reduzem-se á egreja ma- triz e a uma capella sem terem coisa algu- ma digna de menção. E' banhada por dois pequenos ribeiros que nascem na serra do Franco e desaguam na margem direita do Tua a 12 kilometros de distancia, sem terem pontes nem move- rem moinhos. As suas produeções dominantes são vinho, azeite e cereaes. O seu vinho é bom, como vinho de pasto, por estar esta freguezia comprehendida na região da Terra Quente, mas os seus vi- nhedos acham-se compromettidos e doentes, como todos os do Douro, depois da invasão phylloxerica. É uma aldeia pequena e pobre. Muito tínhamos a dizer com relação á freguezia do Franco, hoje identificada com esta, mas como somos obrigados a aligeirar e resumir, veja-se Franco n'este diccionario e no siipplemento. VILLA BOA — Freguezia do concelho e comarca de Barcellos, districto e diocese de Braga. Abbadia. Orago S. João Baptista, fogos 60, almas 280. Em 1768 contava 66 fogos ; era da apre- sentação da mitra e rendia 300 mil réis. Dista de Barcellos 3 kilometros para N., cerca de 20 de Braga para O. e 4 da mar- gem direita do Cavado para N. 0. Comprehende as aldeias de Villa Boa, séde da freguezia, Covello, Egrega, Estrada, Tornada, Forca Velha, Jordão, Bermil, Se- rôdio, Cachada, Curujo, Ribada e Siadim. As suas produeções dominantes são vinho verde e cereaes. Foi da apresentação da mitra. VILLA BOA — freguezia do concelho e comarca do Sabugal, districto e diocese da Guarda, província da Beira Baixa. Orago S. Pedro ad Vincula, — fogos 200,. almas 801. Em 1768 era curato da apresentação do reitor da Nave ; — contava 109 fogos e ren- dia 401000 réis; — depois foi annexa á fre- guezia da Nave, 3 kilometros distante para leste, mas desde 1834 é abbadia indepen- dente. Pertenceu ao bispado de Lamego, — de- pois ao de Pinhel — e desde 1882 ao da Guafda pela suppressão legal do de Pinhel e pela ultima circumscripção diocesana operada em 1882. Esta freguezia é formada por uma povoa- ção única. Não tem aldeias nem quintas, casaes ou herdades dignos de men<;ão. O seu prédio mais considerável é a quinta do Costa, entre esta freguezia e a de Rendo. Parochias limitrophes — Souto e Nave, a leste, — Buvina, ao norte, — Rendo, a oeste — e Quadrazaes, ao sul. Dista 8 kilometros do Sabugal para N. E. — 28 da Guarda para S. O. — 15 da estação da Cerdeira na linha da Beira Alta, — 242 da cidade da Figueira, — 296 do Porto — c 420 de Lisboa. Ha n'esta freguezia as 3 capellas seguin- tes — Nossa Senhora da Assumpção na séde da parochia; S. Gregorio 2 kilometros a leste, no cabeço do seu nome e Santo Antão 1:500 metros ao sul, entre Villa Bia e Ouzendo, freguezia hoje annexa á de Gua- drazaes. VIL VIL 669 A de S. Gregorio tem festa e romagem no dia 12 de março e a de Santo Antão 2 festas com romagem também a 17 de janeiro, dia do orago, e na 2." feira immediata á dominga in Albis Santo Antão é particularmente venerado pelos povos circumvisinhos que, em satisfa- ção de voios, costumam offertar-lhe no dia 17 de janeiro, trigo, centeio, dinheiro, chou- riços e pés de porco. E' tal a fé com este santo que as mulheres de Quadrazaes cos- tumam esfregar a capella cora lenços e de- pois com os lenços a cara, julgando que isto as preserva das bexigas I . . . Esta paroehia é banhada pelo ribeiro da Murganheira que move 6 moinhos, 4 pisões e 2 fabricas de cobertores de lã. Não tem pontes e desagua a menos de 1 kilometro d'esta paroehia na ribeira de Poucafarinha, confluente do Côa. As suas producções dominantes são — batatas, milho, centeio, trigo e castanhas. Tem uma escola d'instrucção primaria para o sexo masculino, creada era 1882. Ao digno abbade actual d'esta freguezia, o sr. padre Francisco da Ressnrreição Que- lho, agradeço os apontamentos que se dignou enviar-me. VILLA BOA — freguezia do concelho e comarca de Sattam, districto e diocese de Viz^u, província da Beira Alta. Orago S. Miguel,— fogps 349, almas 1 :573. Em 1768 era vigairaria do padroado real, contava 200 fogos e rendia 40$000 réis. Comprehende 8 aldeias — Abrunhosa, La- dario, Serraquim, Travaço, Travacinho, Travaneella, Portella, Villa Boa, Carvalho, Crujeira, Fervença, Forno Telheiro, Outeiro, Prechocas, Sequeiros, Torneiros e Villa Nova. As suas quiDtas principaes são— Ramada e Paços, de Antonio Maria Lopes d'Almeida Ferreira,— Tapada, de José Cardoso de Carvalho Homem, — Regada e torneiros, de Antonio e Manuel de Figueiredo, — Sequei- ros, do cónego Francisco d'Abreu, — Coru- geira, do dr. Valeriano Pinto de Queiroz, — Egreja, de Manuel de Figueiredo — e Villaboinha, do Visconde de Loureiro. volume x Freguezias limitrophes — Villa d'Egreja, S. Pedro de Franco, Povolide, Pindo, Lu- zinde e Rio de Moinhos. Dista da séde do concelho, que é a paro- ehia de Villa da Egreja, 7 kilometros para S. O. — de Vizeu 20 para N E — da linha férrea da Beira Alta (estação de Mangualde) 20, — da Figueira 148, do Porto 204 e de Lisboa 328. A povoação de Villa Boa está em um valle, cerca de 3 kilometros a E. da mar- gem esquerda do rio Sattam, rio que dá o nome a este concelho e desagua no Dão, confluente do Mondego. Atravessa esta freguezia a estrada distri- ctal n.° 40 e passa a 7 kilometros a estrada municipal de Caslendo a Mangualde. Ha n'esta freguezia 4 capellas publicas — Senhora da Esperança, privativa da sua irmandade, S. Silvestre, S. Paulo. S Domin- gos e 5 particulares — uma em Torneiros, outra em Serraquim, outra na Abrunhosa e duas em Villa Nova, - todas em bom es- tado de conservação. Ha também n'esta freguezia, além da sua egreja matriz em Villa Boa, outra egreja no Ladario, que era a matriz da villa e paro- ehia d'este nome, hoje extincta e annexa á Villa Boa. V. Ladario, vol. 4.° pag. 10, col. 1." A capella de Nossa Senhora da Esperança na aldeia da Abrunhosa é um dos mais formosos templos das circumvhinhanças, muito elegante, bem alfaiada, muito bem tratada e situada era local muito interes- sante e pittoresco. Pertence a uma riea e numerosa irmandade1 com muitas indul- gências e privilégios especiaes e todas as indulgências concedidas á venerável archi- confraria do Santíssimo Sacramento da Ba- sílica lateranense de Roma, á qual foi agre- gada em 174'L 1 Esta irmandade foi erecta em 1690, sendo bispo de Vizeu D. Jeronymo Soares, e em 1716 contava 3ò'0 irmãos. O papa Ale- jandre VIU lhe concedeu muitas imíulgen- cias. V. Sant. Marian. voi. 5.° pag. 476. 43 670 VIL VIL Tem luzida festa e grande romaria no dia da padroeira, 8 de setembro. 1 Ha na povoação e villa extincta do Ladario, hoje parte integrante d'esta freguezia de Villa Boa, uma feira considerável todas as segundas feiras depois do 4.° domingo de cada mez, avultando em gado bovino preto e cereaes. Na mesma povoação ha um grande edifí- cio brasonado, hoje em ruinas, pertencente ao conde da Lapa, e outro na povoação de Torneiros. Pertenceu ao dr. Diogo do Ama ral e hoje é de Antonio de Figueiredo. Ha também no Ladano um edifício im- portante e digno de menção, embora não seja brasonado, — é a antiga Casa de Borba, hoje em reediíicaçào e pertencente a Luiz Philippe de Carvalho- Homem. Esta freguezia de Villa Boa nunca foi villa, mas sim a do Ladario, hoje extincta e annexa a esta. Ainda conserva o seu vetusto pelourinho como tropheu da gloria perdida. Banham e fertilisam esta parochia o Sat- tam e 8 ribeiros, dos quaes 3 desaguam no Côja e 5 no Saltam. Tem 12 moinhos, uma azenha e 2 pontes de pedra, — uma em Villa Boa, outra em Fer vença. As suas producções dominantes são — cereaes, vinho e fructa. Tem apenas uma aula d'instrucção pri- maria elementar para o sexo masculino. Appareceram e conservam-se ainda na aldeia de Travacinho duas moedas romanas, uma de cobre e outra douro, do tempo de Constantino Magno (dizem os apontamentos que recebi da localidade) — e o dr. Húbner diz que appareceu aqui uma lapida sepul- chral na aldeia de Villa Boa, mas não deu a copia d'ella. Notic. Arch. de Port. pag. 66, na traducção feita pela Academia Real das Sciencias d* Lisboa, 1871. A sede d'este concelho e d'esta comarca 1 «A riqueza do templo e o magestoso do arraial não tem igual entre nós» — diz um jornal de Vizeu. de Sattam está, como dissemos, na parochia limitrophe— Villa da Egreja, mas muito injustamente, pois por todas as considera- ções a sede d'este concelho e d'esta comarca devia ser a importante povoação do Ladario, hoje pertencente a esta freguezia de Villa Boa. Para evitarmos repetições, vejam-se os ar- tigos Sattam, vol. 9.° pag. 64 — e Villa da Egreja. VILLA BOA DO BISPO — freguezia do concelho e comarca de Canaveses, districto e diocese do Porto na província do Douro. Orago Santa Maria, — fogos 362, almas 1:360. A Chorographia Portugueza (vol. l.° pag. 398 a 400) deu lhe em 1706 — 260 fogos — e o Portvgal Sacro e Profano em 1768 deu-lhe 329 fogos e 600000 réis de rendi- mento ao seu vigário, que era apresentado pelo prior dos cónegos regrantes de Villa Boa. Pertenceu esta freguezia ao antigo conce- lho de Bem Viver (vol. l.° pag. 382 col. 2.a) extincto, bem coroo o de Soalhães, pelos decretos de 31 de março e 28 de dezembro de 1852 — e 31 de dezembro de 1853, pas- sando as freguezias que os compunham e outras a constituir o novo concelho do Marco de Canaveses. Comprehende esta freguezia os logares de Betiro, Lamoso, Pinheiro, Pombal, Veiga, Formiga. Casal, Casadella, Casal de Mattos, Lages, Meixide, Estrada, Sidraes, Cavalhões, CavalhÕesinhos, Bairral, Uzenda, Deguilhas, Fafiães, Bouça, Bibeira do Barco, Bibeira de Cima, Bibeira de Baixo, Albello, Valle, Valverde, Mirijeíro, Quebradas, Villar, Ou- teirinho, Coalva, Quintâs, Carcavellos, Eidi- nho e Lavandeira— e as habitações isoladas de Baceira, Bremes e Gandra. Está na margem esquerda do Tâmega e as suas freguezias limitrophes são — a O. S. Paio de Favões e Ariz *, — Sande a S. — 1 Esta parochia pertence ao concelho de Canaveses e não ao de Baião, como por la- pso se dis«e quando se fallou á'Ariz. Tem aqui a sua casa o visconde d'Ariz, na povoa- ção da Feira Nova, onde se faz uma feira importante bimensal, nos dias 12 e 27. VIL VIL 671 Avessadas a E. — e ao norte Abragão, na margem direita do Tâmega. Dista cerca de 12 kilometros da foz do Tâ- mega e da lioha férrea do Douro, (estação de Marco) — 9 da sede do concelho e 72 do Porto. Passa ao nascente d'esta freguezia a es- trada n.° 12, de Basto a Entre os Rios, que a liga com a estação do Marco — e já chega á freguezia limitrophe de Abragão a nova estrada a macadara dé Penafiel ao apeadeiro da Palia na linha do Douro. Moninho Viegas, o gasco, em cumprimento j d'um voto feito quando andava por estes sí- tios pelejando contra os mouros, fez aqui um mosteiro de cónegos regrantes, ao qual deu principio em 990 N'este mosteiro pas- sou os últimos 5 annos da sua larga vida o bispo resignatario do.Porto D. Sizeoando, ir- mão do fundador. Vivendo aqui o santo e decrépito D. Size- nando, costumava ir todas as sextas-feiras dizer missa em uma capella que havia no monte próximo, cerca de 2 kilometros para o nascente do mosteiro, dedicada a S. Sal- vador, e, estando um dia a celebrar o sancto sacrifieio, os mouros que ainda habitavam terras não muito distantes na margem es- querda do Douro, o surprehendei am e tru- cidaram, em 1035. Os cónegos regrantes o sepultaram sob o altar da capelinha onde foi morto e alli se conservaram os seus res- tos mortaes 107 annos, até 1142, data em que D. Pedro Ribaldis, bispo do Porto, indo ao dicto mosteiro, mandou abrir o tumulo de D. Sizenando, cujo corpo encontrou intacto e o fez trasladar para a egreja do mosteiro, onde foi mettido em um outro tumulo de pedra (á direita, entrando pela porta princi- pal). O 1.° tumulo tinha a inscripção se- guinte: III KAL. FEBR. OBIIT in DoMmo D. Sesnandus, Epis copus Portugal" a Maurorijm teus confossu9, dum sacrum faceret. Era MLXXIII. «aos 30 dias do mez de janeiro falleceu o bispo do Porto D. Sizenando, morto ás lançadas pelos mouros, quando estava a di- zer missa. Na era de 1073 (anno de 1035).» O 2.° tumulo (na psrede da egreja do con- vento) tinha esta inscripção : Martvr, & Antistes jacet hic rite sepultus v. idus octob. in Era M. C. LXXX. Sesnadus nomine, qubTChristus a d aethera supsit III Kal. Feb. in Era M.LXXIII. «O marfyr e bispo D. Sisnando, a quem Christo levou para o ceu em 30 de janeiro do anno de 1035, foi aqui sepuliado com so- lemne rito em 2 d'outubro de 1142.» Esta parochia tomou o titulo de villa desde que el rei D. Affonso Henriques visitou este mosteiro e o coutou, em 12 de fevereiro de 1141. Dizem que se denominou Villa Boa por ser o seu chão mimoso, saudável o fértil,— e do Bispo para commemorar e perpetuar o martyrio de D. Sizenando. Também se diz que foi este santo e mar- tyr o primeiro christão que se sepultou den- tro de um templo (a capellinha de S Salva- dor) no bispado do Porto, honra que nem aos fundadores das egrejas se concedia, como prova o terem sido sepultados seu irmão e sobrinhos em jazigos nas paredes da egreja do convento para o lado dos claustros, onde ainda^hoje se conserva a inscripção seguinte: Era M. C. LX.1 obit D. Mumò Viegas, pkioli, qui dicitur gascus, et filii ejus, egas muniz, et Gomez Muniz. Requiescãt in pace. amen. •Na era de 1060 (anno de 1022) morreu o prior D. Moninho Viegas, chamado o gasco, e jazem aqui com elle seus filhos Egas Mo- niz e Gomes Moniz. Dencancem em paz. Amen.» i Assim se lê na Chronica dos Cónegos Bè- grantes, vol. l.° pag. 288, mas deve lér-se: Era M. LX. 672 VIL VIL Este mosteiro de Villa Boa, originaria- mente de cruzios, passou em 1740 para os jesuítas, que alli viveram até á sua extinc- ção, revertendo em seguida para a coroa; depois foi veDdido por uma bagatella a um particular, que o revendeu á família Ribeiro Vieira, em cuja posse ainda hoje se con- serva. A sua egreja foi sempre a matriz d'esta parochia e o mosteiro, sempre pequeno, está bem conservado, bem como a cerca, que tem sólidos muros, A torre foi n'este anno de 1884 reformada á custa do governo, sendo para lamentar que lhe pozessem uma cúpula de madeira e lousa, bavendo na localidade bom granito. Nos claustros e na egreja se conservam dif- ferentes sepulturas antigas, além das men- cionadas, com as suas respectivas inscri- pções, tal è a de Julio Geraldes fallecido na era de 1419, cuja familia é hoje represen- tada por Antonio Carneiro Geraldes de Fi- gueiroa, da Casa Nova, na freguezia limi- trophe de S. Paio de Favões,— e outra do D. prior Salvador Pires, fallecido em 1392. Também alli jaz Pedro Gonçalves Cabral, filho do commendatario D. Nicolau, casado com D. Brites Affonso Vieira de Mello, de quem descendem os Vieiras Lemos da casa do Ribeiro, em S. Lourenço, representados hoje pela viscondessa deNegrellos;— os Viei- ras de Mello, da casa do Pinheiro, também de S. Lourenço do Douro, representada por Luiz Carneiro de Vasconcellos, casado com D. Maria Thereza Nobre, de Penafiel, — e os Mellos das casas da Lage e Foz, de S. Tho- mé de Covellas, representadas por D. Maria de Mello e sua irmã D. Anna Amélia Pinto da Cunha; a 1.» casou com Joào da Silveira Pereira Bravo, da Quinta, de S. Thia^o de Piães;— a 2." que também succedeu na casa de Carrapatello, freguezia de Penhalonga *, casou com Duarte Huet Bacellar, de quem faremos menção em Villa Boa de Quires. Villa Boa do Bispo é uma das freguezias 1 Vide Penha Longa no vol. 6.°d'este dic- cionario e no supplemenlo. mais importantes d'este concelho. As suas producções dominantes são fructas, vinho verde e cereaes, e tem muitas casas nobres, tal é a do Cosa/Junto da grande capella pu- blica do Pinheiro, que tomou o nome d'um monstruoso pinheiro, ha poncos annos der- rubado por urna tempestade. Deu taboas que mediam im,30 de largura, e ainda lá se vêem outros pinheiros de notável grandeza, per- tencentes á dieta quinta do Casal, do vis- conde de Alemtem, cavalheiro respeiíabilis- simo e o primeiro proprietário ao concelho de Lousada. Entre oh seus nobres ascenden- tes conta D. Christovam d'Almeida Soares, 1. ° bispo de Pinhel (V. vol. VII pag. 64, col. 2. » e seg.) Outra familia nobre é a d'Alvélo, dos Ge- raldes, da Casa Nova; — outra era a de Olei- ros (Pereiras Bravos) cuja casa passou aex- tranhos; — outra é a da Lavandeira, dos Britos Corte-Reaes, representada pelo dr. Antonio Pimentel Cone-Real e por seu ir- mão Carlos Corte-Real. São também dignas de menção as casas de Carcavellos, Eidinho, Cortes, Cavalhões, Ca- valhõ-sinhos e a do Barral, pertencente ao dr. Augusto Anthrro de Madureira, que foi commtssario geral da policia no Porto e é hoje official do governo civil d'este distri- cto, casado com D. Carlota de Lencastre, ir- mão do visconde d'Alemtem. No alto d'esta freguezia está o Monte Arado (mons aratvs) e na cumiada d'elle se vêem as ruinas d'um grande castello que se suppõe estar occupado p^los mouros quando D. Moninho o cercou e tomou, pelo que fez o voto de edificar o mosteiro. Foi tal a mortandade nos mouros fugiti- vos (diz a lenda) que a uma ponte próxima se deu o nome de ponte da Degola, nome que ainda hoje conserva. Este D. Moninho Viegas reedificou a ci- dade do Porto, depois de expulsar d'ella os mouros, e, unido á hoste de Mendes de Sousa e de Arnaldo de Baião, levou os mouros de vencida até Rezende, havepdo lhes tomado entre outros, os castellos de Villa Cova, de Vez d'Aviz e de Abragão, na margem direita do Tâmega, hoje concelho de Penafiel, no VIL VIL 673 ullimo dos quaes mataram o seu alcaide Agam e fizeram prisioneira Zaara, sua filha» a qual depois resgataram os mouros e era easada com o rei de Lamego Iben Alboacem, que v» iu com grandes forças vingar a morte do sogro, ficando por seu turno vencido na grande batalha do Mons Aratus. N'esta freguezia se vê ainda hoje em uma bouça, juoto da estrada publica, um arco de granito em ogiva, d-nominado Marmoiral (Memorial) sendo muito diversas as opiniões relativamente á sua fundação e significação. Para evrarmos repetições veja se no i.° vol. pag. 503 o artigo Bvgefa; no 5,° vol. pag- 87, col. i.a o artigo Marmoiral— e no mesmo volume, pag. 67, col. 2 .■ o tópico Santa Ma- ria de Villa Boa do Bispo, no artigo Marco de Canaveses. O padre Carvalho na sua Chorographía Portugueza, tomo I pag. 399, diz que o Mar- moiral commemora o sitio onde esteve a Ca- pella em que foi martyrisado D. Sisnando. Tot capita, tot sententiae ! . /. Com relação ao mosteiro de Villa Boa do Bispo e ao martyrio de D. Sisnando, leia-se a Chorographía Portugueza, logar citado, e a Chronica dos Cónegos Regrantes por D. Ni- colau de Santa Maria, vol. I pag. 287 a 294. Ao ex.mo sr. Duarte Huet Bacellar agra- deço os apontamentos que se dignou forne- cer-me para este artigo. VILLA BOA DO CARCÃOZINHO— fregue- zia do coucrlho e bispado de Bragança, hoje extincta e annexa á de Serapieos do mesmo concelho. Villa Boa e Carcãozinho foram outr'ora freguezias independentes e pertenciam ao concelho de Izeda, extincto pelo decreto de 24 doutubro de 1855. Hoje são duas peque- nas aldeias da mencionada freguezia de Se- rapieos ou Sarapicos, parochia (abbadia) in- dependente, mas que por seu turno ja foi curato aunexo á abbadia de S. Pedro de Car- ças, do mesmo concelho de Bragança. Vide Carcãozinho, vol. 2.° pag. 105, col. d.a — e Serapieos (a 1.", orago N. S. da As- sumpção) vol. 9.° pag. 150, col. l.a n'este diccionario e na Chorographía Moderna, vol. l.o pag. 320. VILLA BOA D'0UZILHÃ0— freguezia do concelho de Vinhaes em Traz-os-Montes. Já se tratou d'esta freguezia no artigo Mi- guel de Villa Boa de Ouzilhão (S.)— vol. 5.° pag. 220, col. 1." Vide. Esta parochia está hoje annexada civil- mente á de Ouzilhão. Vide, vol. 6.° pag. 363, col. 2.a VILLA BOA DE QUIRES — freguezia do concelho do Marco de Canaveses, districto e diocese do Porto, na província do Douro. Orago Santo André— fogos 430, habitan- tes 1:700. A Chorographía Portugueza deu-lhe 212 fogos— o Port. Sacro eProf. 304,— Almeida 383 — e o Almanach Ecclesiastico do Porto para o anno de 1857 deu-lhe os mesmos 383 fogos e 1:317 almas. É hoje abbadia, mas já foi reitoria apre- sentada p^la casa de Bragança, rendendo apenas 90$000. O Almanach Eccles. diz que rende 250$000 rs , sendo 50$000 rs. provenientes do passal, 10411000 réis do pé d'altar e benesses e 96$000 réis de derrama. Tem coadjutor com 671960 réis pagos pela freguezia,— residência e cemitério pa- rochial. Esta freguezia pertenceu ao concelho de Penafiel, mas por decreto de 31 de dezem- bro de 1853 passou para o de Canaveses. Em tempos anteriores foi commenda da ordem de Christo, pertencente á casa de Bragança e cabeça do couto de Villa Boa de Queires no antigo concelho de Porto Car- reiro, comarca ou provedoria do Porto, de onde dista 56 kilometros, pela linha férrea do Douro (estação de Villa Meã), — 5 ki- lometros d'esta estação — e approximada- mente 8 das estações do Marco de Canave- ses, Penafiel e Cahide, com as quaes se acha ligada pela estrada real n.° 34, que passa ao nascente d'esta freguezia. As suas parochias limitrophes são a leste Sancta Eulália de Constance, Canaveses e o Tâmega, — ao poente Villa Cova de Vez de Aviz, Rande e Croça, — ao sul Mourelles e Abragão — ao norte Castellões e S. Martinho de Recesinhos, no concelho de Penafiel. 674 VIL VIL Teve foral dado por D. Manuel em Lis- boa, no dia 1 de setembro de 1513. Era o mesmo do antigo couto e villa extínctos de Porto Carreiro e comprehendia também a freguezia de Abragão. A egreja matriz é um templo muito anti- go, pequeno, mas de merecimento, estylo gothico, paredes revestidas d'azulejo, no ci- mo d'ellas varias figuras e sereias esculpi- das em granito, capella-mór abobadada com apainelados e boas pinturas a oleo represen- tando os Passos do Redemptor; altar-mór e 4 lateraes, todos de entalha antiga dourada» e confrarias ou irmandades do Santíssimo Sacramento, Senhora do Rosario e Menino Deus, todas de remota fundação. Como a egreja fosse muito pequena para a população actual d'esta parochia, amplia- ram-n'a recentemente, accrescentando-lhe quasi o dobro em comprimento, prolon- gando-lhe as paredes lateraes até absorve- rem a galilé ou alpendrada que tinha na frente, e que era um pouco mais baixa do que a egreja, tapada pelo sul por uma pa- rede, — pelo norte e poente firme em colu- mnas de pedra— e pelo nascente presa ao frontispicio da egreja, .que olhava e olha para o poente. Também lhe addicionaram uma torre, pois só tinha um campanário de duas sineiras que rematava a frontaria do templo. Houve todo o cuidado em respeitar o seu estylo archiiectonieo, pelo que a 'sua fronta- ria actual é com pequena differença a mesma que tinha antes da ampliação. Apenas avan- çou alguns metros para a frente, conservan- do o seu elegante pórtico, hoje mais vistoso e desafrontado, com as suas quatro ordens de columnas e correspondentes arcadas fir- mes em capiteis muito ornamentados, re- presentando cabeças de boi e outros ani- maes, tudo de granito, e superiormente a fresta do velho templo, no mesmo estylo do pórtico. No acto da demolição e remoção da fron- taria, encontrou-se uma pedra com uma data que se julgou ser 1180. Em seguida á ampliação do templo foram restaurados e dourados de novo os altares, — e também se alargou o cemitério e se res- taurou e accrescentou a residência paro- chial. Todas estas obras foram levadas a effeito por espontânea generosidade d'alguns paro- chianos beneméritos, debaixo da activa e ze- losa inspecção do não menos benemérito pa- dre Vietorino José Alves, professor régio n'esta parochia, sendo muito efficazmente auxiliado pelo sr. Antonio de Vasconcellos, da nobre casa dos Chãos. As producçòes principaes d'esta parochia são fructas, cereaes e vinho verde— e os seus habitantes são muito trabalhadores e indus- triosos, pois n'ella abundam pedreiros, car- pinteiros, trolhas, ferreiros, serralheiros, al- faiates, soqueiros, chapelleiros de palha e tecedeiras. Também aqui ha uma boa banda de mu- sica, desde longa data. No Allo do Crasto, ao cimo e poente d'esta freguezia, houve em tempos remotos um Cas- tello, de que ainda hoje se vêem os alicer- ces, a 6 kilometros da margem direita do Tâmega, approximadamente;— e no logar da Torre ainda existe a casa da camará e ca- deia do antigo concelho e couto de Porto Carreiro, ha poucos annos vendida pelo es- tado a um particular que a modificou e apeou o velho pelourinho. A pequena distancia da dieta casa se vêem também ainda hoje as ruinas do antiquíssi- mo solar da Torre de Porto-Carreiro, divi- dido em emphyteuse por vários lavradores, alguns dos quaes ainda reconhecem por di- recto senhorio a nobre família Porto Carrei- ro, do palácio das Sereias ou da Bandeiri- nha, no Porto, hoje representada por João Pinto Pisarro da Cunha Porto Carreiro, ca- sado e com sueeessão, descendente de D. Reymão Garcia Porto Carreiro quii veiu para Portugal com o conde D. Henrique e foi o primeiro que usou d'este appellido, depois que o dicto conde D. Henrique lhe deu e cuutou a terra e concelho de Porto Carrei- ro n'esta freguezia, onde estabeleceu o seu solar, na celebre quinta e casa da Torre, D. Reymão Garcia Porto Carreiro era fi- VIL lho de D. Garcia Affonso, rico-homem do tempo de D. Ordonho III de Leão e descen- dente dos mesmos reis de Leão. D'esta família Porto-Carreiros descendem muitas famílias da primeira nobreza de Por- tugal e da Hespanba, taes são os Viscondes de Porto Carreiro, de Laborim e de Boviei- ro, os condes da Costa, os Vasconeellos da casa de Villa Boa de Quires, os Huets e Gue- des do Buibal, Padornello e Fojo, os Cyr- nes do Porto, os Guedes d'Avelêda, etc — e em Hespanha os condes de |eba e de Mon- tijo, Medelim, Puebla dei Maestro, Palma, Montalvim e Mondava, — os marquezes de Villa Nueva dei Fresno, Alcalá, Alameda e Barca-Bota e os duques de Ossuna, todos grandes de Hespanha, muitos dos quaes se appellidam ainda hoje Porto-Carreros. Os condes de Montijo são em Hespanha os representantes do ramo primogénito dos Por- to-Carreiros portuguezes, e por isso a ultima imperatriz dos francezes, D. Eugenia, viuva de Luiz Napoleão, se appelliJa Gusman de Porto Carrero, por ser filha dos menciona- dos condes. Para evitarmos repetições, veja-se o art. Porto, vol. 7.° pag. 519, col. l.a e seg. — e pag. 500, col. 2 a — e o art. Porto Carreiro, no mesmo vol. pag. 565, col. 1." Ha n'esta freguezia 4 capellas publicas: Senhora do Pilar, (em ruinas) S. Sebastião, Senhora do Penedo e Calvário, em substitui- ção da antiga capella de S Miguel— e 4 par- ticulares das casas de Villa Boa, Penidos, Buriz e Telha. Esta ultima foi da nobre fa- mília Camellos Leites e é hoje d'um lavra- dor, por compra. Tem aqui o conde de Bezende o Paço do Pombal, que foi também dos Porto Carrei- ros, mas venderam-no a Duarte Carneiro Bangel. Estava fóra do antigo concelho de Porto tarreiro, no antigo couto que houve na parte norte d'esta freguezia. É natural d'esta parochia, da nobre casa dos Chãos, o sr. Duarte Huet Bacellar, cava- lheiro respeitabilissimo, casado com a ex.™* Sr.a D. Anna Amélia Pinto da Cunha e Abreu, residentes no Porto. VIL 675 No supplemento a este artigo darei uma nota genealógica de ss. ex." Foi muitos annos abbade d'esta freguezia, collado em 19 de junho de 1841, o rev. José Joaquim Duarte Pinto Bandeira e Castro, egresso franciscano da província da Sole- dade, prégador eleito em capitulo geral da sua ordem, no dia 15 de novembro de 1823. Veja-se no supplemento a este diccionario o artigo Villa Boa de Quires. VILLA BOA DA RODA— concelho extineto na antiga comarca de Guimarães; distava cerca de 2i kilometros de Braga para N. E. g e comprehendia somente a freguezia, de S-i$j Thiago de Guilhofreí, hoje pertencente ao'| concelho e comarca de Vieira.Y. Guilhofrei. Era da coroa; tinha juiz ordinário e de I órfãos, 2 vereadores e procurador do con- celho feitos por pelouro e eleição triennal do povo, a que presidia o corregedor de Gui- marães—2 escrivães, distribuidor, inquiri- dor, contador, almotacé e meirinho, que ser- via de carcereiro. El- rei D. Manuel lhe deu foral em Lisboa no dia 8 d'agosto de 1514 ». Pela divisão judicial feita por decreto de 7 d'agosto de 1835, ficou pertencendo ao julgado de primeira instancia de Cabeceiras de Basto e pelo recenseamento de 1820 con- tava 310 fogos; o Flaviense deu-lhe 1:108 habitantes e o padre Carvalho 130 fogos. Agradeço estes apontamentos ao meu il- etrado collega o rev. José dos Santos Mou- ra, digníssimo abbade de Caires. VILLA BOIM — freguezia e villa extincta no concelho e comarca d'Elvas, hoje diocese d'Evora, districto de Portalegre, na província do Alemtejo. Até 1882, data da nova cireumscripção diocesana, pertenceu ao extineto bispado d'Elvas. i Livro de Foraes Novos de Traz-os-Mon- tes fl. 23, col. 2 a Também teve foral velho, dado por el-rei D Affonso III em Guimarães no dia 15 de fevereiro de 1261. Livro I de Doações do sr. Rei D. Affonso III, fl. 51. col. 2* Veja-se a Inquirição para o Foral Novo no Maço único de Inquirições, armário 17, n.° 15. 676 VIL Orago S. João Baptista,- fogos 120, almas 1:697. Em 1708 contava 60 fogos — e 120 em 1767. É priorado ; foi da apresentação da casa de Bragada e peio meiado do ultimo século rendia apenas 90:000 réis. Dista d'Elvas 10 kilometros para O. S. E. — 60 de Portalegre e 70 d'Evora, 12 da es- tação d'Elvas, no caminho de ferro de leste., e é atravessada pela estrada real a macadam d'Elvas para Extremoz, construída de 1848 a 1857. Comprehende além da villa, séde da paro- chia, as hortas de Chamorra de Baixo e Cha- morra de Cima (que formam a herdade da Chamorra, pertencente á casa de Bragança) — Poute, Magdalena, Monte Velho, Azenha de Pariz — e os montes (casaes) Novo, Val- bom, Valverde, Cavalleira, T- ixugo, Serra e e um casal na travessa da Magdalena. A maior parte d'estes montes são herda- des; pertencem á casa de Bragança as de Atalaia, Valbom, Castello, Valverde, Caval- leira, Teixugo, Serra, Monte Novo e Bama- lha, hoje quasi todas divididas em courellas pelos habitantes d'esta freguezia, que>s cul- tivam e usufruem, mas pagam fòroá casa de Bragança. Também ha n'esta freguezia a herdade de Carnagem ou Canugem, pertencente a Joa quim Marques Pinto— e a do Baldio, grande parte da qual foi cedida para logradouro com- mum aos habitantes d'esta parochia, sendo também foreira á sereníssima casa de Bra- gança. VIL Ha também aqui a egreja da Misericór- dia e houve (não sei se ha ainda) n'esta freguezia, duas capellas mencionadas na Chorographia Portugueza,— uma de S. Bar- tholomeu, outra de Santa Maria Magda- lena. Tem feira annual importante nos dias 10, li e 12 de maio. Esta parochia foi villa e concelho, até 1836, pertencentes á provedoria ou comarca de Villa Viçosa. Ainda existem os antigos paços do concelho, a cadeia e o pelourinho. As suas ruas principaes são a d' Elvas, a meio da qual tem um largo,— a de Burba e a de Villa Viçosa. Banham esta freguezia os ribeiros de Val- verde, do Teixugo, dos Chiqueiros e o de Todo o Anno que desaguam a 2 kilometros de distancia na ribeira de Moures — e esta na margem direita do Guadiana. Ha n'esta freguezia duas pontes de pedra e uma azenha, movida por agua. Freguezias limitrophes: S. Lourenço a E. — Santo Antonio da Terrugem a O. — Villa Fernando a N.— e Ciladas a S. A egreja parochial é um bom templo. Já se achava construída em 1446 e foi reedifi- cada em 1778 a 1785. Tem capella-mór e duas lateraes, uma dedicada a S. Miguel e Almas, outra á Seuhora dos Bemedios, to- das ires revestidas de mármore. A imagem da Senhora dos Bemedios é alvo de muita devoção e desde tempos remotos tem luzida festa e grande romagem. Producções dominantes — vinho, azeite, trigo, cevada e aveia, caça e lã, pois cria bastante gado lanígero. É saudável o clima d'esta parochia, mas fez aqui bastantes victimas o cholera em 1855. Entram n'esta parochia as serras de Moi- ses (?)— do Maluco (?)— e o monte do Fer- reiro, que nada offerecem de notável. Tem uma escola publica d'instrucção pri- maria elementar para o sexo masculino e tres particulares para o sexo feminino,— uma casa de Misericórdia muito antiga, mas hoje decadente— e duas estalagens. Têem apparecido aqui, em differentes pon- tos d'esta parochia, moedas romanas e vasos de vidro e de louça, revelando muita anti- guidade. Os duques de Bragança tiveram aqui uma grande coutada para os seus entretenimen- tos venatorios. A povoação de Villa Boim, outr'ora Villa a" Aboim, está muito vantajosamente situada em alegre e vistosa planície; foi fundada por D. João Pires d'Aboim, de quem tomou o VIL VIL 677 nome *, como consta da 5.* parte da Monar- chia Lusitana, liv. 16, cap. 53, fl. 124, e teve antigamente um bom castello, com hortas, casas e fontes dentro e fóra d'elle, mas foi arrasado pelos castelhanos, quando D. Luiz d'Haro sitiou a praça d'Elvas. A este castello fof el-rei D. Philippe I, quando estava em Elvas, visitar a duqueza de Bragança D. Ca- tharina, sua prima co irmã. Hoje (1884) apenas restam os alicerces d'alguns lanços do mencionado castello e al- gumas paredes servindo de muro aos quin taes de diversa* habitações. A pequena distancia d'este castello e á vista d'elle, se erguia uma atalaia na emi- nência da serra, occupando o ponto mais alto que ha de Lisboa alé Madrid (diz a Clio rographia Portugueza). D'ella se descobria um vastíssimo horisonte e tres reinos — Por- tugal, Castella e Leão, — 3 cidades episco- paes, Elvas, Portalegre e Badajoz— uma ar chiepiscopal, Merida, a antiga capital da Lusitânia, — e grande numero de villas nos tres mencionados reinos. Até 1836 teve esta villa juiz ordinário, feito por pelouro, na fórma da Ordenação, 2 vereadores, 1 procurador do concelho, 1 escrivão da camará e da almotaçaria e ou- tro dos órfãos, do judicial e notas. Têij-m furai dado por D Manuel em Lisboa no dia 1 de julho de 1518. Livro de Foraes Novos do Alemtejo, fl. 111, v. col. l.a Em junho de 1876 Braz Leon Alvares sol- licitou do governo o diploma de descobridor legal de uma mina de cobre no sitio de Val- bom, desta freguezia. Falleceu no dia 6 d'abril de 1876 o abas- tado e honrado lavrador d'esta parochia, Luiz Marques Pinto, cavalheiro muito esti- mável e muito obsequiador. A sua casa e a sua mesa estavam sempre á disposição dos seus numerosos amigos e mesmo de quaes- 1 Este D. João d'Aboim foi grande privado de D. Affotiso III e de D. Diniz e um dos ho- mens mrtis ricos de Portugal no seu tempo. É o mesmo de quem ja extensamente se fal lou nos artigos Aboim da Nóbrega, vol 1.° pag. 14, col 2 a — e Mosteiro (de Nóbrega) vol. 5.° pag. 557. Vide. quer pessoas extranhas que era passeio ou jornada por aqui fizessem caminho. Era um quartel general permanente a sua casa, pois n'ella recebeu innum^ras vezes officiaes de differentes corpos e os gen^raes, principalmente quando a séde da divi-ão do Alemtejo eslava em Extremoz. Seus paes fo« ram egualmente generosos e hospitaleiros e tiveram a honra de receber inclusivamente a rainha, a sr.» D. Maria II e seus augustos filhos, o príncipe D. Pedro, depois rei, D. Pedro V, e o infante D. Luiz, hoje imperante, quaudo em outubro de 1843 foram a Elvas, sendo ainda hoje proverbial a admiração que a Sua Magestade causou o lunch que os donos da casa lhe offereceram, lunch que podia abastecer um exercito 1 É digno prior actual d'esta freguezia o rev. sr. Marcos da Cruz Serpa, a qu-ra agra- deço os apontamentos que se diguou en- viar-me. VILLA Cà — freguezia do concelho e co- marca de Pombal, districto de Leiria, dio- cese de Coimbra, na Estremadura. Fogos 358, almas 1687, orago S. Bartho- lomeu. Em 1768 contava apenas 253 fogos, era vjgairaria da apresentação d'el-rei pela Mesa da Consciência — e rendia 401000 iéis para o pobre parodio. Foi commenda da ordem de Christo. Está situado o logar de Villa Cã (Villa Cãa ou Villa Cão) entre duas pequenas ri- beiras que formam a ribeira de Valmar, uma das nascentes do rio Nabão, 3 kilometros a 0. S. O. da villa de Abiul e da estrada de Pombal para Thomar, 11 a E. da Estação de Vermoil, 9 a N. N. E. da estação d^ Alber- garia (C. de ferro do N.) e 10 a S. E. de Pom- bal. Comprehende mais esta fiegu^zia os luga- res ou aldeias de Tourilhe ou Touril, Gar- riapa, Castello, Carvalhal, Chão de Ulmeiro, Alçaria, Aroeiras, Valle, Outeiro da Galega, Casaes, Lameiros, Bailaria, Traz os Mattos Gonçalviuho, Outeiro, Vicentes, Fontainha, ViuveirQ, Val da Vinha, Souto, Pipa, Villa Pouca e os casaes de Tojeira, Mont'agudo, Cardeaes, Casal Novo, Matta, serôdia e Fonte Nova. 678 VIL VIL Vem mencionados na Chorographia Por- tugueza os logares de Garriapa com uma capella de S. Juão Baptista, Chão d'Urmeiro com outra capella de Nossa Senhora da Con- ceição, Valle com outra de Nossa Senhora do Amparo e Traz os Mattos com outra de Nossa Senhora do Soccorro. As suas freguezias limitrophes são Litem, Abiul, Pousa Flores e S. Simão. Ha n'esta freguezia de Villa Cã um ribei- ro, em cujo leito, de tal a tal ponto apenas, apparece mui frequentemente ouro de apu- radissimo quilate, sendo certo que até os próprios pastores, sem terem conhecimento algum dos processos empregados para a pro- cura d'aquelle metal, o encontram sem gran- de difflculdade. Temos visto já por muitas vezes alguns boccados de ouro do tamanho de grãos de milho -e outros maiores ainda, que vão ser vendidos nas differentes feiras, e que, ape- nas vistos pelos ourives, são immediatamente comprados. Isto indica que a sua qualidade é exeellente. Parecia-nos que alguém, conhecedor de terrenos auríferos, não perderia o seu tem- po, vindo a estes sítios orientar-se e fazer as pesquizas convenientes. VILLA CAHIZ E PASSINHOS — freguezia do concelho e comarca d'Amaraute, dístricto e diocese do Porto na província do Douro. Orago S. Miguel e S. Julião, — fogos 250, almas 900, comprehendendo as duas fregue- zias, que hoje constituem uma só. É orago da i.a S. Miguel — e foi orago da 2." S. Ju- lião. A aldeia de Villa Cahiz, séde da parochia, dista 3 kilometros da margem direita do Tâ- mega para O.— 8 de Amarante para S. O. — cerca de 20 de Penafiel para E. N. E. — 30 da foz do Tâmega — e 3 da linha férrea do Douro, (apeadeiro da Livração). Freguezias limitrophes— Louredo e S. Ju- lião de Passinhos l, annexa de Villa Cahiz, a 1 Não se confunda esta freguezia com a de S. Miguel de Passinhos, annexa á de Boêlhe, no concelho de Penafiel. V. Boêlhe. E.— Santa Eulália de Constance a 0.— Ba- nho e Carvalhosa a N. — e Toutosa a S. E9ta parochia é abbadia; pertenceu ao ar- cebispado de Braga até 4882, data da nova circumscripção diocesana; — em 1768 era da apresentação da condessa d'Alva, — ren- dia 400$000 réis— e contava 130 fogos. Foi villa, couto e honra do antigo conce- lho de Santa Cruz de Biba-Tamega, extingo pelo decreto de 24 d'outubro de 1855, em virtude do qual passou para o concelho de Amarante. Em um alto, na próxima freguezia de Lou- redo e não de S. Martinho de Recezinhos, como por engano dissemos l, se vô ainda a antiga capella de Santa Cruz, que dava o ti- tulo ao concelho, e ao lado d'ella se notam claros vestígios d'uma velha fortaleza. Esta honra foi dos senhores de Unhão. Ayres Gomes da Silva a vendeu por 120$000 réis a Gomes da Silveira, que casou com Isa- bel Pinheiro, dos Pinheiros de Barcellos, de quem teve entre outros filhos a Leonardo da Silveira que foi o 2.° senhor d'esta honra e casou com Isabel Teixeira da casa de Cer- gude, cuja successão pôde ver-se na Choro- graphia Portugueza, vol. l.° pag. 132 e seg- Vagando para a coroa em 1673 por falleci- mento do ultimo donatário Francisco da Sil- veira, que não deixou filhos, D. Pedro II a deu a Boque Monteiro Paim, do seu conselho e 9eu secretario, juiz presidente da junta da Inconfidência, commendador de Santa Maria de Campanhã na ordem de Christo, senhor dos concelhos da Maia e Befojos, etc. Pode ver se a sua nobilíssima ascendência e des- cendência na Chorographia Portugueza, lo- gar citado. Aqui tiveram os donatários d'esta honra um palacete, venerando solar, denominado da Pena, hoje pertencente a um capitalista que o obteve por compra modificando-o e destruindo com a restauração do edifício uma formosa capella, que tinha o privilegio de n'ella poder conservar-se o Santíssimo permanente 1 V. Recezinhos, orago S. Miguel, vol. 8.° pag. 77, col. 2." VIL VIL 679 Ha n'esta freguezia, em ura vistoso pín- caro, a linda capella de Nossa Senhora da Graça, luxuosamente reedificada nos últimos annos pelo benemérito e zeloso padre Anto- nio Augusto Pinto de Magalhães, distiuclo orador sagrado que, com o auxilio dos fieis e com o producto da predica, alli tem feito obras importantes. Não só transformou a ve- tusta e humilde capella em um esplendido sanctuario, mas fez um collegio onde vivem algumas piedosas mulheres, irmãs do Cora- ção de Maria, que se dedicam ao culto da Virgem e ao ensino de meninas, quasi todas pobres. Este virtuoso ecclesiastico, sendo ainda novo, tem arruinado a saúde com o seu tra- balho insano era pró de tão santa institui- ção, dando-se por bem pago das suas fadi- gas por vêl-a prospera e florescente. É hoje esta capella um dos mais formosos sanctuarios do Minho; — n'ella se fazem mui- tas festas com romagens, clamores e grande concorrência de fieis dos povos circumvisi- nhos. D'ali se descobre um largo horisonte e a linha férrea do Douro que lhe fica ao sul, distando apenas 3 kilometros o apeadeiro da Livração, que tomou o nome do santuário de Nossa Senhora da Livração, pertencente á freguezia de Toutosa1. O Santuário harianno (vol. 7.° pag. 442) publicado em 1721, fallando da capella de Nossa Senhora da Graça, diz que a imagem da Virgem estava em um retábulo de talha dourada; que era de pedra, mas muito lin- da, tendo tres palmos e meio d'altura e so • bre o braço esquerdo o Menino Jesus, am- parando-o com a mão direita. Que a egreja era bonita e tinha na porta travesssa uma galilé muito elegante sobre 6 columnas de pedra com 3 entradas e que a egreja mos- trava ter sido reconstruída. Que o dicto templo era muito concorrido 1 V. Toutosa, vol. 9 ° pag. 705, col. l.a A pequena distancia do sanciuario da Li- vração ha um cruzeiro antiquíssimo, cha- mado do Paço. Diz a tradição que foi erguido em memoria d'um rei mouro (?) que alli fal- leceu. pelos fieis e a elle iam çom romarias e cla- mores em certos dias do anno varias paro- ehias, tal era a de Villa Boa de Queiris e outras, então do arcebispado de Draga, mas que a estas lhes fôra prohibido o irem in- corporadas. Que antigamente tivera ermitães que ve- lavam pelo sanctuario, mas que n'aquella data (1721) já os não tinha, porque lh'os não permitliram os prelados bracarenses. Final- mente que nada se sabia ao certo, nem mesmo pela tradição, relativamente á origem d'este sanctuario. O antigo concelho de Santa Cruz de Riba- Tamega teve foral, dado em Lisboa por D. Manuel a 1 de setembro de 1513. Livro de Foraes Novos do Minho, fi. 87, v. col. 2.» O dito foral comprehendia as terras se- guintes, pertencentes ao mencionado con- celho : Castellãos, Athayde de S. Pedro, Cahide de Rei, Constance,, Ermida, Figueiró de Santa Christina (sic), Louredo, Oliveira de Sampaio, Recezinhos, Rial, Sansinhos, Tra- vanca e Villa Cahiz. As producções dominantes d'esta parochia são — milho, trigo, centeio, azeite e vinho verde a" enforcado. Cahiz ou cafiz era antigamente o nome de uma medida dos sólidos ou grãos. Havia cahiz grande, ou maior, e cahiz pe- queno, ou menor; o 1.° constava de 16 al- queires, que formavam um quarteiro, quarta parte do moio ordinário ou geral, a que da- vam além dos" 15 um alqueire mais de ver- teduras; — o 2.a constava só de 8 alqueires. No anno de 1229 se deu uma sentença apostólica por um rescripto de Honorio III contra D. Durão de Corces e Domingos Mar- cos, o barba de porco, que haviam feito gra- ves damnos ao mosteiro de Santa Maria de Aguiar e lhe tinham furtado da granja de Turões 14 bois, 5 carneiros e seis cafizes e meio de trigo e centeio. D'esta medida ainda hoje se usa na Hespanha. Villa Cahiz quer pois dizer— a villa onde se pagavam os taes cahizes. 680 VIL VIL Talvez que do mesmo cahiz provenha tam- bém o nome da freguezia de S. Pedro de Cahide de Rei, oulr'ora do mesmo concelho de Santa Cruz de RibaTamega e hoje do concelho de Lousada, posto que o meu an- tecessor opinou por outra etimologia bem difíV rente. Veja-se Caíde (ou Cahide) d' El- Rei, vol. 2.° pag. 33, col. 2.a in-fine. O extineto concelho de Santa Cruz de Ri- ba-Tamega, pertenceu á provedoria ou co- marca de Guimarães até 1776, data em que por uma provisão d'el-rei D. José, de 5 de julho d'aquelle anno, passou para a comarca de Penafiel. «Houve por bem ordenar que da comarca de Guimarães se separassem o concelho de Unhão, o de Santa Cruz de Riba Tamaga, o de Govêa de Riba Tamaga, o de Gestacô, a Honra de Vila Gahiz e a villa de Canavezes e Tuhias, e se aggregassem á de Penafiel, ficando precípuos para a comarca do Porto os concelhos de Gondomar, Aguiar de Sousa, Maia e Refoios, que sempre constituíram o termo d'ella* — diz a citada provisão, que pôde ler-se na sua integra na Descripção histórica e topographica de Penafiel por An- tonio d'Almeida, publicada no tomo X, parte II da Historia e Memorias da Academia Real das Sciencias de Lisboa, pag. 167 a 168. Esta freguezia comprehende as aldeias se- guintes: Villa Cahiz, séde da parochia, Espo- rões, Carvalhal, Pena, Outeiro, Aldeia Nova, Villarinho, Coura e Passinhos, freguezia an- nexa e que hoje tem apenas 22 fogos. A egreja parochial de Villa Cahiz [é um bom templo, feito ern 1774, bem tractado e com uma torre moderna e elegante, man- dada fazer por João Pereira de Magalhães. As festas principaes que hoje aqui se ce- lebram são a do Menino Deus, no dia 6 de janeiro, e a do Santíssimo Sacramento a 15 d'agosto. Ha n'esta freguezia uma capella de S. Pe- dro na aldeia de Coura. É particular, per- tencente a Victoriuo Ferreira de Magalhães, da freguezia de Santo Isidoro. Os edifícios principaes d'esta parochia são a casa de Cimo de Villa, onde viveu e mor- reu o capitão-mór do extineto concelho de Santa Cruz, Dento Corrêa,— a casa da Pena, antigo solar do conde d'Alva, marquez de Santa Iria, comprada pelo captalisia Fran- cisco José Cardoso, hoje restaurada e pos- suída por seu filho Joaquim Augusto Fer- reira Cardoso,— e a de José Augusto Moreira de Mattos, em Coura. Até 1835 teve casa de camará, cadeia, pe- lourinho, as auctoridades próprias do con- celho e um capitão-mór; extineto o conce- lho, foram supprimidas todas as auctorida- des, mas ainda existem o pelourinho e a casa da cadeia. Esta freguezia vai pelo nascente até o Tâ- mega onde tem 12 rodas de moinhos. Além da serra da Senhora da Graça ha u'esta freguezia o monte das Costeiras, so- branceiro ao Tâmega, — monte que tem de notável um penedo denominado Penedo da Moura com um lagar, uma lagareta e uma lagarinha (dizem os apontamentos que me enviou o rev. parocho) — tudo obra dos mou- ros, segundo reza a tradição. Tem finalmente esta freguezia uma aula d'mstrucção primaria elementar para o sexo masculino e uma archí-coufraria do Santís- simo Coração de Maria, erecta com grande pompa no santuário de Nossa Senhora da Graça, no dia 14 de maio de 1876. VILLA CHà — aldeia importante na fre- guezia da Penajoia, concelho, comarca e dio- cese de Lamego. V. Penajoia n'este diecionario e no sup- plemento. VILLA CHà — freguezia do concelho de Esposende, comarca de Darcellos, districto e diocese de Draga, na província do Mi- nho. Orago S. João Daptista,— fogos 166,— al- mas 694. Em 1708 contava 110 fogos, segundo se lê na Chorographia Portugueza, — e o Port. Sacro e Profano deu-lhe os mesmos 110 fo- gos em 1768. Foi sempre abbadia e da apresentação da casa de Dragança até 1836. Comprehende os logares da Egreja, Ou- teiro, Aldeia de Cima, Aldeia de Raixo, La- VIL VIL 681 goeíra, Bicudo, Lages, Sovereira, Chouso, Casaes e Abelheira. Freguezias limitmphes — Antas, S. Paio, Marinhas, S. Bartholomeu do Mar, Forjães, Belinho, Curvos, Palme e Feitos. Dista de Esposende 5 kiiometros, 16 de Barcellos, 34 de Biaga e 41 da estação de Barroselas no C. de F. do Miuho. Nenhuma estrada a maçada m construída ou em via de construcção atravessa ou toca esta freguezia, mas passa a 2 kiiometros (Telia a eslrada real de Barcellos a Vianna. A egreja matriz é um templo regular e de- cente. Neila se fazem duas festas priucipaes — a do padroeiro, S. João Baptista, — eada Assumpção do Senhor. Ha n'esta freguezia uma capella com a in- vocação de S. Lourenço. É publica e tem festa e romagem no dia 10 d'agosto. Banha esta freguezia o ribeiro da Abe lheira, que desagua no oceeano a 3 kiiome- tros de distancia, na praia das Marinhas, freguezia limitrophe. Move uma fabrica de serrar madeira e 2 moinhos; não tem ponte alguma. Producções dominantes — cereaes, vinho verde e algum azeiíe. O termo dVsta freguezia comprehende parte da serra de S. Lourenço, que se ergue a poente, encimada pela vistosa capellinha d'aquelle, nome, de que já fizemos menção — e o monte de Figueiró ao nascente. É pouco elevado e bastante plano, sem píncaros nem morros e baldio ou logradouro commum. Ha nYsta parochia apenas uma aula de instrucção primaria elementar para o sexe masculino. Em uma escavação que se fez, haverá 10 annos, na serra de S. Lourenço, appareceram algumas moedas romanas pequenas e de co- bre. Ha na dieta serra um pequeno penedo com uma cavidade, na qual por vezes se encon- tra agua, proveniente do influxo das marés (diz o puvo)— agua que julgam milagrosa e por i*so denominam aquelle penedo Fonte da Virtude. É certo que muitas pessoas das circumvi- sinhanças, até 15 e 18 kiiometros de distan- cia, costumam levar pequenas porções da di- eta agua para lavarem cora ella creanças que padecem certas moléstias, julgando-a remédio effieaz. VILLA CH× freguezia do concelho e co- marca da Ponte da Barca, dinricto de Vian- na do Castello, diocese de Braga, na provín- cia do Minho. Orago S. João Baptista,— fogos 227,— al- mas 663. Em 1708 contava 160 fogos e 192 em 1768. Beitoria; foi da apresentação do arce- diago da Nóbrega e Neiva ; rendia para o vigário 1001000 réis e 3000000 réis para o arcediago. Foi outr'ora vigairaria. A egreja parochial dista 4 kiiometros da margem esquerda do Luna para S. S. E. — 8 da Ponte da Barca para E' S. E. na estrada de Lindoso para Pico de Regalados — e 49 de Vianna. Comprehende esta freguezia as aldeias de Portuzello, Paradella, Seixas, Golfeiro, Egre- ja, Santa Marinha, Quinteiro, Loureiro, Sa- borido, Barral e Cajaneiro. Producções dominantes — cereaes, vinho de enforcado e batatas. Limitam esta freguezia a E. o riacho de Germil, — a N. o rio Lima e a freguezia de Villa Chã (S. Thiago) — a O. a freguezia de Touvedo— e ao S. a de SibÕes, do concelho de Terras de Bouro. Banham-na vários ribeiros, que alimen- tam 14 moinhos, um lagar d'azeite e uma fabrica de burel. A quinta principal d'esta parochia per- tence a D. Carlota Amália de Paços, viuva do desembargador José de Vasconcellos Athaide e Menezes— e compr e-se das terras chamadas da Patriarchal e do Passal da Egreja. Ha n'esta freguezia o monte do Outeiri- nho, que lhe fornece matto para estrume e pastagens para os gados. Também fica pró- xima a serra do Galinheiro. Tnm finalmente esta parochia uma aula official de instrucção primaria para o sexo masculino. VILLA CH× freguezia do concelho e co- marca da Ponte da Barca, districto de Vian- 682 VIL VJL na do Castello, diocese de Braga, na provín- cia do Minho, Reitoria. Orago S. Thiago,— fogos 107,— almas 436. Em 1708 contava 80 fogos, diz a Choro- graphia Portugueza; o Portugal Sacro e Pro- fano deu-lhe 74 em 1768. Foi vigairaria annexa á abbadia de S Mi- guel d'Entre os Rios, apresentada pelo abba- de d'aquella parochia e rendia em 1768 ape- nas 40$000 réis. Hoje é parochia indepen- dente. O logar de Villa Chã, séde d'esta fregue- zia, está na margem esquerda do' Lima, 3 kilometros a S. S. E. — 10 a E. da Ponte da Barca, na estrada que d'esta villa vae para Lindoso, — 51 a N. E. de Vianna — e 36 a N. E. de Braga. Compreheude mais esta" freguezia as al- deias de Seixt-nha, Barreiro, Eido de Baixo, Eido de Cima e Lamellas. As suas producções dominantes são vinho de enforcado e cereaes. Limitam-na ao nascente a freguezia de S. Miguel d'Entre os Rios,— ao sul e poente a de S. João de Villa Chã,— e ao norte o rio Lima. Até 1859 teve feira mensal, no dia 26 de cada mez. Banham-na differentes regatos que des- aguam no Lima. V. Entre Ambos os Rios, vol. 3.° pag. 37, col. 2.» VILLA CH× ou Villa Chã da Montanha — freguezia do concelho e comarca de Alijó, districto de Villa Real, diocese de Lamego, província de Traz-os-Montes. Orago S. Thiago, — fogos 276, — almas 1:019. Em 1706 contava 100 fogos, -e 153 em 1768,— era vigairaria collada da apresenta- ção do reitor de Alijó e rendia 100$000 réis. Também já esteve annexa algum tempo á villa d'Alijó, mas hoje è reitoria indepen- dente. Foi do arcebispado de Braga até 1882, data da nova circumscripção diocesana. Comprehende as aldeias de Villa Chã, séde da parochia, Chã e Carvalho. As suas fregueziaslimitrophes são— Alijó, Villar de Maçada, Parada do Pinhão e Riba- Longa na margem direita do rio Tinhella» confluente do Tua,— e na margem esquerda Santa Eugenia e Carlão. Dista 3 kilometros da margem direita do rio Tinhella para poente, 6 d'Alijó para N.N.O. — 18 da estação de Pinhão na linha férrea do Douro, — 145 do Porto e 482 de Lisboa. Producções dominantes — vinho, azeite e cereaes. VILLA CHà — freguezia do concelho de Macieira de Cambra, comarca de Oliveira d'Azemeis, districto d'Aveiro, diocese do Porto, na província do Douro. Até 1882 pertenceu á extincta diocese de Aveiro e anteriormente pertenceu á comar- ca d' Arouca. Orago Nossa Senhora da Purificação, — fogos 230— almas 897. Em 1708 contava apenas 150 fogos, — per- tencia ao termo da extincta villa de Bem- posta, de que foi donatário o conde de Villa Verde, — e era um simples curato da apre- sentação das freiras benedictinas do Porto; — mas em 1768 já era priorado da apresen- tação do convento d' Arouca, — rendia réis 4001000 e contava 201 fogos. Hoje é priorado e comprehende as aldeias seguintes: Villa Chã, séde da parochia (a egreja matriz está um pouco isolada) Bou- cinha, Cancella, Corredoura, Devesa, Gan- dra, Leiras, Lordello, Moradal ou Muradal, Moinho Vedro, Picão, Pedreira, Portella, Po- voa, Refoios ou Refojos, Relva, Regadas e Theamonde. O logar de Villa Chã dista 2 kilometros de Macieira de Cambra para oeste e (appro- ximadamente) 15 de Oliveira d'Azemeis para N. E— 20 d'Arouca para S. O— e 23 da es- tação d'Ovar, na linha férrea do norte. Passa n'esta freguezia a nova estrada a macadam, n.° 40, de Ovar para Entre os Rios e Arouca, por Oliveira d'Azemeis, servida por diligencias — e deve atravessar também esta freguezia a nova estrada districtal, de Vizeu ao Porto, em via de construcçáo. Freguezias limitrophes— Castellões a S. — Macieira de Cambra a E. — Carregosa e Villa Cova do Perrinho a N.— Ossella a O.— e Ce- dal a N. O. VIL VIL 683 A egreja matriz é ura templo regular bas- tante antigo, demandando nova eapella-mór, e tem a freguezia 3 capellas publicas— uma de Santo Antonio, na Gandra,— outra da Se- nhora das Dores, em Lord-llo,— e outra da Senhora da Ribeira, em Theamonde, sendo esta meíeira com a freguezia de Carregosa. Tem mais 3 capellas particulares— uma em Refojos, outra na Cancella e outra no Mo- radal. Feiras— uma mensal, no logar da Gandra, no dia 9, — outra também mensal no dia 2, em Coelhosa, aldeia de CastellÕes, freguezia limitrophe. Banham e fertilizam esta parochia 2 rios —o Vigues, que corre de N. paraS. 0. — e o Trancoso, que corre de N. para S.— mais 2 ribeiros, o dos Cães e o dos Pelames, que desaguam no rio Trancoso, bem como este no Vigues, no sitio da ponte da Gandra,— e o Vigues no Caima junto de Areias de Cas- tellÕes. Tem o Vigues duas pontes de pedra na estrada n.° 40, de Ovar a Entre os Rios, a da Berbolga e a da Gandra— e outra no Mo- radal, feita ha poucos annos. O rio Trancoso tem uma, prestes a con- cluir-se, no Souto, junto da egreja matriz, e no regato dos Pelames ha outra em via de construcção, já com o arco fechado. Esta parochia não tem fabricas, mas tem bastantes moinhos, todos movidos por agua. As suas producções dominantes são milho e vinho verde. É natural d'esta parochia o barão de Sal- gueiro, que vivendo em Leiria alli casou. Tocam n'esta freguezia os montes de Ario e Perrinho, que nada offerecem de notável. VILLA CH× freguezia do concelho e co- marca d'01iveira d'Azemeis, districto de Aveiro, diocese do Porto, na província do Douro. Orago S. Pedro, apostolo,^— fogos 225,— almas 1:030. Abbadia. Em 1708 contava apenas 120 fogos e já era abbadia apresentada pelo bispo do Por- to;—em 1768 contava 134 fogos, rendia réis 320$000 e era apresentada pelo cabido e pelo bispo da mesma diocese do Porto. Até 1802 (approximadamente) pertenceu á grande comarca da Villa da Feira, pas- sando em seguida para o concelho e comarca d'01iveira d'Azemeis. Comprehende as povoações de Villa Chã, Costa-Má, Bustello, Gandra, Lomba, Samil e Travessas. O sr. J. M. Baptista menciona mais— Ou- teiro, Ramillos, Covada, Farrapa e Fonte- Chã. Está também nos limites d'esta parochia a grande quinta, casa e fabrica dos fidalgos, hoje condes, do Côvo. Freguezias limitrophes — Nogueira do Cravo, Pindello e Ossella a E. — Couto de Cucujães e S. Thiago de Riba d'UI a O. — S. João da Madeira e Macieira de Sarnes a N. — e Oliveira d' Azeméis a S. Dista 4 kilometros de Oliveira d' Azeméis, — 12 da estação d'Ovar, na linha férrea do norte,— 34 do Porto, pela estrada real a ma- cadam do Porlo a Lisboa, mas 48 pela linha férrea do norte (estação d'Ovar) — 40 de Aveiro— e 3l3 de Lisboa. Atravessam esta freguezia uma estrada districial a macadam, servida por diligen- cias, da estação d'0var, no caminho de ferro do norte, á villa d'Arouca, tocando em Oli- veira d'Azemeis e na casa e fabrica do Côvo — e outra estrada também a macadam de Oliveira d'Azemeis para a villa de Arouca e que toca no logar de Bustello. Esta ultima é municipal. Emquanto a templos, tem esta parochia, além da sua egreja matriz, 2 capellas publi- cas, muito decentes, — uma de SanfAnna, em Villa Chã, que data de u-mpo ímmemo- rial,— outra de Santo Antonio, em Bustello, edificada pela junta de parochia em 1882. Tem mais uma de Nossa Senhora da Con- ceição, particular, mas franca ao publico, pertencente á nobre casa do Côvo. Foi feita em 1862 pelo fallecido sr. S bastião de Cas- tro e Lemos, pae do actual sr. conde do Côvo. Está extremamente limpa e ricamente decorada e tem um mausoléu para sepultura da família, com as armas dos Castros Le- mos. 684 VIL VIL O chão d'esta freguezia é bastante acci- dentado, mas fértil e muito abundante de agua potável e para irrigação e moagens, pois bauham-na 3 rios — o de Samil e o da Ribeira Verde que desaguam no rio Ul, a 2 kilometros de distancia, e o rio Anluan que desagua no Vouga, junto de Aveiro, a 39 kilometros dVsta parochia. Tem o Aniuan uma ponte de pedra no lo- cal da Fuzeira, dentro da grande quinta do Côvu, — tem outra a Ribeira Verde no local de Silvares, — e outra o Samil, todas 3 nos limites d'esta parochia. Movem também den- tro (1'ella o rio Antuan 8 moinhos de milho e centeio, 1 d'azeitona e a importante fabrica de vidros da nobre casa do Côvo, — o de Ri- beira Verde 2 moinhos de milho e centeio— e o de Samil 28 moinhos de milho, centeio e trigo, — total 39 moinhos, e 2 fabricas, a de vidros, no Côvo, e uma de cortumes de couros, na povoação de Bustello. Tem só esla freguezia mais agua perenne do que metade da província do Alemtejo! As suas producções dominantes são mi- lho, vinho verde, trigo, centeio, feijões, azeite e hervHgens. Também engorda muitos bois que vende pára Lisboa e para a Inglaterra. Posto que desde tempos remotos é S. Pe- dro o orago d'esta freguezia e seja ofíicial- mente denominada S. Pedro de Villa Chã, o povo a denominou sempre e a denomiua ainda hoje, S. Roque de Villa Chã ou Villa Chã de S. Roque!. . . Talvez qu^ S. Roque fosse o seu primeiro orago ou que houvesse aqui em outros tem- pos alguma capella dedicada a S. Roque. Em 1857 era abbade d'esta freguezia (col- lado em 12 de janeiro de 1846) um vene- rando sacerdote, D. João da Natividade, pré- gador e egresso da congregação dos cónegos regulares de Santo Agostinho (cruzios) e contava então esta parochia mais 6 presby teros, namraes d'ella — Domingos Luiz Va- lente e Manuel Marques de Pinho, de Costa- Má, — Jnào José Ferreira e Manuel Dias da Costa, de Samil, — José Luiz Ferreira, de Villa Chã—e Lourenço Luiz Dias da Costa, de Bustello. A casa e a quinta do Côvo são uma das mais importantes vivendas da província, verdadeira residência senhorial. O edifício para habitação è espaçoso, foi reedificado em 1850 — e com a fabrica de vidros e suas dependências fórma uma po- voação. A quinta é um condado! Tem de circum- ferencia 10 kilometros e comprehende gran- des tractos de terra lavradia, vinhedos, oli- vaes e um vastíssimo pinheiral que occupa a maior parte do grande prédio, não só mon- tes ásperos, mas valles fundos e férteis que, se fossem arroteados e convenientemente agricultados, podiam produzir milhares de alqueires de pão e muito azeite e vinho. Toma grande parte d'esta parochia e das ires parochias visinhas— Piodello, Ossella e Oliveira d'Azemeis, sendo cortada e servida pela estrada a macadam d Ovar para a villa d'Arouca e banhada por differentes rios e ribeiros. A dieta estrada corre a jusante do pala- cete e da fabrica, na distancia dalguns me- tros apenas. É hereditária e proverbial nos donos d'este grande prédio a nobreza do sangue e dos sentimentos, pelo que os povos circurn- visinhos, longe de se insurgirem contra tão opulentos senhorios, sempre os acataram e respeitaram. Como prova da magnanimidade e genero- sidade de ss. ex.** basta notar-se que desde tempos remotos, todas as semanas, em dias determinados, franqueiam ao publico a sua grande mata e permiltem que todos indis- tinctamente se abasteçam de lenha para o consumo domestico, o que para a pobreza é uma graade esmola, de que usa e abusa. Também são proverbiaes n'esta família o vigor e força hercúlea. De um ascendente do nobre conde se diz que em um momento de bom humor dobrára e partira com os dedos uma ferradura nova de grande espessura, bom ferro e bem for- jada!. . . A fabrica de vidros do Côvo foi a primei- ra fabrica de vidros que houve em Portugal. VIL VIL 685 É anterior a 1484. A 2.a foi a de Coina, no Ribatejo— e a 3.a a da Marinha Grande, em substituição da de Coina. Entre os muitos privilégios que os nossos reis outr'ora concederam a esta fabrica do Côvo, um d'elles era o seguinte : — só ella poderia vender vidro em todo o norte do nosso paiz, até á margem direita do Mon- dego. Para evitarmos repetições, vejam -se os ar- tigos Côvo, tomo 2.» pag. 436 — e Marinha Grande, tomo V, pag. 79, col. 1." e 2.» Do ultimo inquérito industrial, ordenado pelo nõsso governo em 1880, exlractámos com relação a esta fabrica o seguinte: tProduz productos de vidro branco e de cores, copos, garrafas, frascos, chaminés para candieiros, etc. Não produz chapas de vidro. Possue um pisão com motor hydraulico para triturar os differentes materiaes, e qua- tro fornos aquecidos a lenha dos pinhaes, consumindo annualmente 6 a 7:000 steres, que reputa no valor de 400 réis cada stere. Emprega a argilla extrahida em terreno perto e pertencente á fabrica, ligada com a do Casal dos Ovos, do districto de Leiria; o manganez é das minas da Anadia; não usa areia, mas seixo moído, extraindo a 5 kilo- metros da fabrica, em Vermoil, onde possue jazigos inexgotaveis de quartzo, casco de vi- dro em pó, cal fina nacional, e soda, arse- • nico, e productos corantes de origem estran- geira, comprados no Porto. Occupa o seguinte pessoal : um director que tem interesse na producção, 4 officiaes ganhando 800 a 900 réis diários, 4 primei- ros ajudantes 400 réis diários, 4 segundos ajudantes 285 réis, 16 aprendizes menores 100 réis diários, 2 atiçadores 200 réis diá- rios, 2 olheiros 400 réis, 1 fundidor 34o réis, 2 lapidadores, que se empregam a tirar pon- teis, a 2$000 réis diários. Estes operários trâbalham 5 horas em cada dia. Emprega mais 6 rachadores de lenha a 300 réis diá- rios e 4 mulheres a 100 réis, que trabalham de sol a sol, com as horas de descanço do costume. Os potes refractários são fabricados com VOLUME X - argilla plástica do Côvo e da Bairrada, e bem assim os tijolos refractários. Declarou que julga ser sufBciente a pro- tecção concedida á sua industria, de 160 réis cada kilogramma, direito estabelecido na pauta aos productos similares da industria estrangeira, e entendia podia ser diminuído esse direito, se lhe fossem concedidas livres de direitos as matérias primas que precisa importar, e que muito lhe sobrecarregam os productos. Ensaiou em tempo a soda nacional pro- duzida por Deligny; teve de a abandonar por ser pouco graduada; tem assim de a im- portar do estrangeiro, pagando direito ele- vado ; o mesmo acontece nos productos co- rantes, que pagando muitos d'elles mais de 20 por cento do respectivo valor, de direi- tos, lhe custam.preço elevado, e não se fa- bricam no paiz. Declarou mais terem os seus productos sahida, sendo vendidos no deposito da fa- frica, na rua de D. Pedro, no Porto, e não ter falta de capital.» A exploração é feita por conta do ex.m0 sr. Gaspar Maria Ce Castro e Lemos, hoje conde do Côvo, proprietário da dieta fabrica. Thereza Luiza Dias, casada com Manuel Alves da, Costa, do lugar da Farrapa, d'esta freguezia, deu á luz na noite de 9 para 10 de julho de 1881, uma creança do sexo mas- culino com duas cabeças, quatro braços, quatro pernas, uma só barriga e duas par- tes genitaes; ao nascer ainda tinha vida uma das cabeças, roas logo morreu. O pae, quando viu tal aborto, começou a gritar, acudindo toda a visinhança,para ver aquelle triste espectáculo, e sem detença en- terraram o feto, perdendo^se um interessante exemplar para estudo. VILLA CH× freguezia do concelho e co- marca de Villa do Conde, districto e diocese do Porto na província do Douro. Orago S. Mamede, — fogos 150, — almas 618. Abbadia. Em 1706 pertencia ao concelho da Maia; era da apresentação do collegio da Compa- nhia de Jesus, de Braga, e tinha apenas 46 fo- gos;—em 1768 era da apresentação do pa- 44 686 VIL droado real, — eontava 55 fogos e rendia 70$000 réis. Também foi algum tempo apre- sentada pela universidade de Coimbra. Comprehende as aldeias de Villa Chã, séde da paroehia, Rio da Egreja, Outeiro, Lavandeira, Rio da Gandra, Figueiras, Cimo de Villa, Fundo de Villa e Poça. As suas freguezias limitrophes são Min- dello a N. 0. — Modivas a leste e Labruge a S. E. Ao poente é banhada pelo occeano, do qual a povoação de Villa Chã dista pouco mais de 1 kilometro,— 8 de Villa do Conde para S.S.E.— 3 da estação de Modivas na li- nha férrea do Porto á Povoa de Varzim e Famalicão,— 19 do Porto (pela linha férrea) — e 356 de Lisboa. Passa também ao nascente d'esta fregue- zia a estrada a macadam do Porto a Villa do Conde. As suas producções dominantes são ce- reaes e vinho de enforcado, muito rascante e muito verde. VILLA CH× freguezia do concelho e co- marca de Fornos d'Algodres, districto da Guarda, diocese de Vizeu, na província da Reira Baixa. Fogos 54,— almas 230,— orago Nossa Se- nhora das Boas Novas, ou da Assumpção. Em 1768 contava apenas 32 fogos; — era curato da apresentação do vigário d'Algo- dres, que recebia os dizimos e dava ao po- bre cura 151000 réis e o pé d'altar. Ainda é hoje um simples curato, — com- prehende uma única povoação, Villa Chã,— e tem por freguezias limitrophes Maceira, Figueiró da Granja, Cortiço d'Algodres, Mu- xagata e Sobral Pichorro. Dista 7 kilometros de Fornos d'Algodres e da estação d'este nome na linha da Beira Alta, — 69 da Guarda, — 30 de Vizeu,— 160 da cidade da Figueira, — 216 do Porto — e 340 de Lisboa. A estrada a macadam mais próxima é a districtal n.° 41-4— de Vizeu a Celorico da Reira e que toca em Fornos d'Algodres. A egreja matriz é um templo singelo e po- bre sem coisa alguma notável. O melhor edifício d'esta paroehia hoje é a VIL casa de Antonio Pedroso de Sousa Couti- nho, um dos 40 maiores contribuintes d'este concelho. É bastante antiga, mas foi ha pouco reedificada e bem mobilada. Tem uma linda capella conligua com porta franca ao pu- blico e boas decorações, — retábulo de talha dourada com a imagem da padroeira, Nossa Senhora do Carmo, — e tecto apainelado com bastante obra de talha, dourada também, for- mando vãos quadrados, todos com pinturas religiosas sobre madeira, antigas e bem con- servadas. Tem esta povoação duas ruas (?) princi- paes— a da Fonte e a da Egreja. Banham esta freguezia 3 ribeiros — o do Gallego, o do Valle de Gavinho e o do Preto, —passam a 2 kilometros as ribeiras da Mu- xagata e a de Cortieô— e o Mondego 4 kilo- metros ao sul. Producções dominantes— ce- reaes, vinho e azeite. Era natural d'esta freguezia o valente ma- jor Joaquim José Pedroso, que muito se dis- tinguiu no cerco do Porto em 1832 a 1833, merecendo a honra de ser condecorado pelo próprio imperador, o sr. D. Pedro IV, no campo da batalha. Está sobranceiro a esta freguezia o monte do Crasto, que pelo nome que ainda con- serva e pela sua posição, muito defensável para os tempos d'armas brancas, se suppõe ter sido fortificado em outras eras. Do alto d'elle se gosa um vasto e muito interessante panorama sobre a bacia hydro- graphica do Mondego. D'ali se descobre gran-' de parte dos concelhos de Celorico da Beira, Cêa e Gouvéa, Linhares, Folgosinho, Figuei- ró da Serra, Sampaio, Nabais, Nabainhos, Mello, a linha da Beira, a estrada de Vizeu á Guarda, o Mondego e grande extensão do antemural da Serra da Estrella, na parte que olha para o norte. Ha finalmente n'esta freguezia uma escola offlcial d'instrucção primaria elementar para o sexo masculino e uma sepultura aberta na rocha, ao poente da povoação, junto da quinta da família Pedrosos. VILLA CHà DE BACIOSA ou DA BAR- CIOSA— freguezia do concelho e comarca de Miranda do Douro, districto e diocese de Bragança, na província de Traz-os-Montes. VIL Abbadia, — orago S. Christovam, — fogos 204,— almas 825 (comprehendendo as duas freguezias annexas). Em 1768 já era abbadia do padroado real, —contando apenas 93 fogos e rendendo réis 500^000, somma importante n'aquelle tempo e n'aquelles sitios. Antes da creação da comarca de Miranda, pertenceu à do Mogadouro. Comprehende 3 povoações — Villa Chã, [séde da paroehia, — Fonte d' Aldeia e Frei- \ xiosa, que já foram freguezias independen- tes, mas ha muito se acham annexadas a ; esta de Villa Chã da Barciosa. A de Fonte d'Aldeia também outr'ora es- | teve unida algum tempo á freguezia de Picote, : e por seu turno esta á de Sendim, todas d'este concelho. Freguezias limitrophes — Palaçoulo, Se- ! nhora^do Monte das Duas Egrejas, Picote e Sendim. Dista 12 kilometros de Miranda, para S.O. —55 de Bragança para S. E. — 80 da linha férrea do Douro (estação da Barca d'Alva, que é a mais próxima)— e 2 da margem di- reita do Douro, que aqui corre fundo por en- tre medonha penedia escarpada, bem como desde o alto d'este concelho de Miranda, desde o ponto em que fórma a raia ou linha | divisória entre Portugal e Hespanha, até á : Barca d' Alva e, com pequenas excepções, até o Porto ; — são, porém, as suas margens le- vemente accidentadas do alto do concelho de | Miranda para cima, emquanto não toca em I Portugal. Atravessa esta freguezia a estrada real a macadam, n.° 9. de Miranda a Celorico da Beira, pelo Pocinho, Foscôa e Marialva, mas infelizmente a sua construcção ainda se acha muito atrazada na província de Traz-os-Mon- tes, onde tão precisa era. Apenas tem alguns ' kilometros construídos a partir de Miranda? i emquanto que na margem esquerda do Dou- 1 ro, desde Celorieo da Beira até o Pocinho, se acha quasi concluída. Apenas lhe falta um pequeno lanço entre Marialva e Foscôa. As 3 melhores propriedades ou quintas d'esta paroehia hoje são — a dos herdeiros de Manuel Paulo, de Fonte d' Aldeia — a dos VIL 687 herdeiros de Fructuoso Antão e a de Do- mingos Martins, do Prado de Gatão. Tem esta freguezia 3 egrejas, — uma em Villa Chã, outra em Fonte d'Aldeia, outra na Freixiosa A 1.% que é a matriz actual, tem 20 me- tros de comprimento, 10 de largura e 8 de altura, 5 altares, capella-mór de construcção mais moderna, boa sacristia e grande cam- panário com 2 sinos e 4 sineiras. A 2.a é mais pequena do que a 1." — tem 3 altares, pequena -sacristia e um pequeno campaná- rio com 2 sinos. A 3.a é ainda mais pequena do que a 2.a, mas de construcção igualmente antiga — e tem como ella 3 altares, sacristia e campanário com 2 sinos. Foram estas duas egrejas as matrizes das duas parochias ex- tinctas, annexadas a Villa Chã da Barciosa. Ha no limite da extincta paroehia de Fonte d' Aldeia uma capella da Santissima Trin- dade; é muito antiga,— tem de comprimento 15 metros, 5 de largura e 6 d'altura— e to- dos os annos festa, romagem e grande feira, sempre policiada por um destacamento de tropa, vinda de Bragança, por ser uma das feiras mais importantes da província. A capella está em um pittoresco monte povoado de sovereiros, distante da Freixiosa cerca de 1 kilometro. O melhor edifício*' particular de toda esta freguezia é a casa, a que chamam das Fami- liares, bastante espaçosa, mas sem brazão. Foi da família Moraes e hoje é de Antonio Delgado. N'ella houve um sargento-mór, Ma- nuel Antonio de Moraes, que teve dois ir- mãos cónegos, José Francisco e Paulo Mi- guel. Este ultimo foi deão e governador do bispado de Bragança. Foi também natural d'esta freguezia um monteiro mór. Posto que esta paroehia tenha o nome de Villa, nunca foi villa. As ruas principaes de Villa Chã são a do Bairro daEgreja, Bairro do Carvalho e Bairro , de Baixo. Banha esta freguezia pelo lado norte um i ribeiro que desagua no Douro— e pelo lado i E. o mesmo Douro, movendo o dicto ribeiro 688 VIL 20 moinhos de pão — e o Douro 3 azenhas, nos limites d'esta paroehia. Ha também um lagar d'azeite na Freixiosa. Tem esta freguezia cemitério e uma aula offleial d'instrucção primaria elementar para o sexo masculino. Producções dominantes— vinho bom para mesa, centeio, trigo, serôdio, batatas, azeite e lã, pois também cria algum gado lanígero. A industria principal d'esta paroehia — in- dustria muito importante — é a criação de gado vaccum da celebre raça mirandeza, por justos títulos muito estimada em toda esta provinda. Os bois d'esta raça são escuros, muito cor- polentos, muito valentes e dóceis, com ar- mação pequena e magnitícos para todo o trabalho. Por vezes se encontram nas feiras de Traz- os-Montes exemplares soberbos, chegando a vender-se a junta por 60 a 70 libras — ou 270 a 315 mil réis da nossa moeda! - . . Ha n'esta freguezia lavrador que tem 30 vacas para creaçãot. . . VILLA CHà DE CANGUEIROS-freguezia do concelho de Mondim da Beira, comarca d'Armamar, districto de Vizeu, diocese de Lamego, na província da Beira Alta. Curato— fogos 90,— almas 381,-orago S. Sebastião. O Portugal Sacro e Profano não menciona esta freguezia e mal pode suppor-se que ao tempo (1768). estivesse annexada a outra, porque todas as freguezias limitrophes de- moram a grande distancia, mettendo-se de permeio montes desertos e muito ásperos no inverno. Menos pôde suppor-se que ao tempo j ainda não existisse, pois é povoação muito • antiga e tanto que teve foral, dado pelo mos- teiro das Salzedas no armo de 1295, foral que Franklin não menciona. N'elle se diz, entre outras coisas, que os moradores desta povoação de Villa Chã não pagariam caimas, salvo aromem morto, e rouso, e lixo em boca. Docvdas Salzedas. A Historia Ecclesiastica da Cidade e Bis- pado de Lamego, escripta na 2.a melada do sec. XVIII, diz que este curato rendia com o pé d'altar 50$000 réis,— contava 85 fogos VIL e 221 habitantes — e era apresentado pek abbade do mosteiro das Salzedas, que pre tendia ter n'esta paroehia jurisdicção ordina ria, não sendo porém reconhecida pelo bispe de Lamego. Esta paroehia é formada por uma povoa- ção uniea de aspecto pobre e humilde, si- tuada em terreno alto, agreste e frio, mas pouco íngreme e com formosos campos e la- meiros, nas abas das serras de Santa Helena, e Almofala. As suas freguezias limitrophes são Granja Nova, Cimbres, Passô, Cever e Sar- zedo. Dista 6 kilometros de Mondim da Beira para E. N. E.— 11 d'Armamar para S. — 13 de Lamego para S. E. — 35 de Vizeu e 27 da^ estação da Regoa, na linha férrea do Douro. Passa a 5 kilometros d'esta freguezia a es- trada real a macadam da Regoa a Celorico* da Beira, por Lamego e Trancoso. A egreja matriz é bastante antiga e po- bre. Tem altar-mór e 3 lateraes, um de Nossa Senhora do Rosario, outro do Espirito Santo] e outro do Senhor da Misericórdia — e nanai povoação 3 capellas publicas— uma de Santa Antonio, que foi a primeira matriz, — outra! de S. Pedro — e outra de S. Mamede, todas! abertas ao culto e bem conservadas. Banha parte d'esta freguezia o rio Galhosa J que atravessa as freguezias da Granja Nova e Salzedas, — desagua no rio Barosa entre Salzedas e Gouviães, na distancia de 5 kilo- metros, e move em todo o seu pe*rcurso 7 moinhos de cereaes e um dazeite. As producções principies d'èsta paroehia são milho, centeio, trigo, cevada, feijões, ba- tatas, hervagens e castanhas. Também cria algum gado lanígero e vac- cum. Tem uma escola offleial d'instrueção pri- maria elementar mixta para os dous sexos. No dia 5 de maio de 1861 pairou «ma me- donha trovoada sobre esta freguezia e, quan- do de manhã se tocavam os sinos, chamando ■ os fieis para a missa da Ascenção do Senhor, cahiu na torre da egreja matriz um raio que destroçou a cúpula, fendeu a abobada ema- VIL VIL 689 ou instantaneamente tres rapazes que esta- cara tocando os sinos, deixando mais dous irá niisero estado e um incólume; — partiu jrande quantidade de telha no telhado da >greja, e, descendo ao interior desta, despe- iaçou a porta principal e a pia do Baptismo» lascou a porta travessa e, correndo ao longo da parede, deslocou muita cal, foi ao altar do Espirito Santo, onde deixou apenas leves vestígios da sua vertiginosa carreira e, che- gando ao arco cruzeiro, penetrou no chão e sumiu-se, deixando a egreja toda cheia de fumo e a povoação tranzida de susto e ba- nhada em lagrimas! Por fortuna a egreja se achava inda erma de povo, aliás seriam mais numerosas as vi- ctimas. VILLA. CHà e LARIM— titulo de dous con- celhos exlinctos que outr'ora pertenceram á f comarca de Barcellos,— depois á de Pico de Regalados — e por ultimo se fundiram no actual concelho e comarca de Villa Verde, districto e diocese de Braga, na província do Minho. Para evitarmos repetições veja-se Larim, vol. 4.° pag. §4, col. i.a — e Villa Verde — villa, freguezia e séde do concelho e da co- marca do seu nome. VILLA CHà DO MARÃO — freguezia do I concelho e comarca d' Amarante, districto e diocese do Porto, na província do Douro. Abbadia,— fogos 237,— almas 913— orago Santo Estevam. Em 1706 contava apenas 80 fogos — e 99 em 1768, sendo o seu paroeho abbade da apresentação da mitra e tendo de rendimento 700$G00 réisl. .. Foi do extincto concelho de Gestaçô, co- marca de Penafiel; — até 1882 pertencia ao arcebispado de Braga— e teve algum tempo como annexa a freguezia de S. Martinho de Carneiro, d'este mesmo concelho ^Ama- rante. Comprehende as aldeias seguintes:— Villa ; Chã, séde da parochia, Barreiro, Paço, Egreja e Pedra, Rua Nova, Ribas, Ribeiro, Ribeira, Novios, Boa Vista, Real, Cadafaz e Motta;— os casaes do Outeiro, Real, Ribeiro da Aze- nha, Marãozinho (isolados) Uveira Branca, Regadinhas, Souto, Burgo, Casaria, Tapada dos Mouros, Val do Caez (isolado) — e, as quintas de Lama, pertencente a José Pessoa Alão de Moraes.— Sandrigo, de João Teixeira Mendes, — Paço, de D. Joaquina Emilia Pe- reira Peixoto, — Lage, de Antonio José Xa- vier Ferreira,— Santa Eutália, de Francisco José da Motta — Burgo, de Manuel Gomes Pereira Pinheiro — e a do Rio, que foi do conde de Villa Real. Freguezias limitrophes— Santo Isidoro de Sanche, a E— S. Salvador de Lufrei, a S. e O— e a N. os rios Ollo e Tâmega. O logar de Villa Chã de Marão demora na antiga estrada de Amarante para Ermello e dista 1 kilometro da margem esquerda do rio 01!o,— 5 d'Amarante para N. E. — 20 da estação de Villa Meã, no caminho de ferro do Douro— e 71 do Porto. Passa n'esta freguezia a estrada distric.al n.° 12, d'Amarante a Fridão e deve através- sal-a também a estrada municipal, em pro- jecto, d'Araarante ás pedreiras calcareas de Sobrido, na serra do Marão. A egreja matriz data de 1600;— é um tem- plo decente, mas simples— com altar-mór e 4 lateraes. A freguezia não tem capellas publicas, nas somente duas particulares,— uma de S. Ben- to, na povoação de Ribas, — outra de Santo Antonio, na quinta do Rio. As producções principaes d'esta parochia são— milho, vinho verde e azeite. Banham-na os rios Tâmega e Ollo, que desagua no Tâmega (margem esquerda) no sitio de Varões, limite d'esta parochia. Tem uma escola official dMnstrucção pri- maria elementar para o sexo masculino. Esta parochia é muito antiga, nomeada- mente a aldeia da Motta, meieira com a fre- guezia de Lufrei. Na dieta povoação teve uma quinta im- portante Mem Gondar, nobre eavalleiro as- turiaoo que veiu para Portugal com o conde D. Henrique, pae do nosso primeiro rei, D. Affonso Henriques. Estabeleceu-se na fre- guezia de Gondar, d'este concelho d'Ama- rante, onde fundou o seu solar, que deu o nome áquella freguezia, e seus descendentes 690 VIL VIL tomaram da mencionada quinta o appellido de Mottas. .0 primeiro que se acha com este appel- lido é Ruy Gomes de Gondar da Motta, no tempo de D. Affonso II, porque fixou a sua residência n'esta quinta da Motta e n'ella teve o seu solar. Para evitarmos repetições, veja-se o ar- tigo Mota ou Motta, vol. 5.° pag. 563, col. I a — e Gondar, vol. 3.° pag. 301, col. l.a e 2.a Entre as pessoas notáveis que esta paro- chia produziu nos tempos modernos, avul- tam quatro grandes patriotas, bem dignos de que os recommendemos á veneração da posteridade : Francisco Xavier Ferreira de Sousa Ga- vião Pessoa distinguiu-se pelas armas e pela dignidade com que exerceu diversos cargos públicos. Na segunda invasão franeeza elle com o seu filho José Ferreira de Sousa Gavião Pes- soa, mancebo ainda imberbe, de 16 ánnos de idade, não podendo conter a sua indignação contra os invasores, alarmou os povos d'este concelho d'Amarante e dos concelhos limi- trophes, foi o primeiro a levantar o brado da revolta contra os malditos corsos e a ac- clamar a soberania do príncipe regente, de- pois rei, D. João VI. — Á frente de milhares d'homens que acudiram ao chamamento, — dirigiu-se ao juiz de fóra e obrigou-o a to- mar o estandarte da villa d' Amarante e a incorporar-se na procissão cívico -religiosa que organisou no intuito de determinar o povo a tomar as armas em defeza da pátria, levantando-o do torpor em que jazia. Mais tarde, quando o paiz se determinou a sacudir o vergonhoso domínio estrangeiro., foi um poderoso auxiliar do valente general Silveira, marquez de Chaves e conde d'Ama- rante, na heróica defeza d'esta villa, como juiz de fóra e vereador mais velho, forne- cendo-lhe não só munições de guerra e de bocca para o seu exercito, mas também com- batentes, aliciando muitos á sua custa, col- locando-se denodadamente á frente d'elles e batendo-se como um heroe! Antonio Cerqueira de Moura Coutinho, ma- jor de cavallaria n.° 6 (Dragões de Chaves) e seu irmão, o padre Francisco Cerqueira Moniz Coelho de Magalhães, não menos ;se distinguiram por essa oceasião, nomeada- mente o ultimo, animando e alarmando os povos, espiando o inimigo, levando ordens a toda a parte, expondo a todo o momento a vida em defeza da pátria e dando repetidas' provas de grande coragem, illustração e ati- lamento em tão medonha conjunctural Terminarei consignando um facto muito honroso para esta freguezia. Tal foi a heroi- cidade dos seus habitantes, que os francezes não se atreveram a passar além dos limites! d'ella. Ainda hoje se denomina Valle dos Fran- cezes o ponto em que fizeram alto e foram obrigados a retroceder. VILLA CHà DA MONTANHA. V. Villa Chã, freguezia do concelho e comarca de Alijó. VILLA CHà DE POYARES — freguezia ex- tincta no bispado de Coimbra, orago S. Mi- guel. Em 1768, segundo se lê no Portugal Sa- cro e Profano, era curato da apresentação da Universidade— rendia 401000 réis— con- tava 112 fogos— e distava de Coimbra 3 lé- guas. O Flaviense também a menciona e lhe dá 200 fogos, mas não a encontramos na Cho- rographia Portugueza, nem na Chorographia Moderna, nem no Diccionario d'Almeida, nem: na Chorographia de Lima, nem nos Censos de 1864 e 1878, nem no Mappa das Dioceses, nem no Districto de Coimbra pelo sr. dr. Secco. Suppomos que era a povoação de Villa Chã, que deu o nome á ribeira de Villa Chã no concelho de Poyares— aldeia mencionada na Chorographia Moderna, como pertencente ás duas freguezias de S. Miguel e Santo An- dré de Poyares, sendo esta ultima hoje a séde do concelho de Poyares, no districto e diocese de Coimbra; estranhamos porém que o sr. J. M. Baptista, mencionando na sua Chorographia Moderna a dieta povoação,^ não lhe addicionasse a nota de freguezia extincta e annexa, como addicionou a todas as povoações que fôram séde3 de parochia e perderam a sua autonomia. VIL VIL 691 Veja-se Poiares n'este diccionario, vol. 7.° pag. 114— e Villa Chã de Poyares no supple- mento. VILLA CHà DA RIBEIRA-freguezia ex- tincta na diocese de Bragança. O Portugal Sacro e Profano diz que em 1768 era curato da apresentação do abbade de Villar Secco (então concelho de Miranda e hoje de Vi- mioso)-que tinha como orago S. Lourenço —rendia 3o$000 réis, afora o pó d'altar— e contava 31 fogos. O Flaviense diz que era da comarca do Mogadouro e contava 98 fogos, no seu tem- po; — a Chorographia Moderna menciona-a como simples povoação pertencente á fre- guezia de Uva, no concelho de jVimioso, actualmente — e a Chorographia Portugueza diz que em 1706 era parochia annexa á de S. Pedro da Silva!... V. Silva, freguezia de Traz-os-Montes, vol. 9.° pag. 36o, col. l.a— e Uva n'este 10.° vol. pag. 23, col. 2.a VILLA CHà DE S A— freguezia do conce- lho, comarca, districto e diocese de Vizeu, na província da Beira Alta. Vigairaria,— orago S. João Baptista,— fo- gos 187,— almas 760. Em 1708 era curato da apresentação do bispo e do cabido da Sé de Vizeu — e em 1768 era curato da apresentação do bispo, —contava apenas 94 fogos— e rendia para o cura a bagatella de 6:000 réis, afora o pé d'altar. Esta freguezia é formada por uma povoa ção única, tendo apenas fóra d'ella o casal de Soutulho e a quinta dos Lagares. É banhada por uma ribeira que desagua na margem esquerda do rio VAsnes, con fluente do Dão e este do Mondego. A povoação de Villa Chã é uma aldeia grande e bonita com bons edifícios, algumas casas nobres e uma elegante e vistosa egreja matriz, bem tractaaa e muito vantaj jsamen- te situada a cavalleiro da powação, domi- nando-a toda e os seus mimosos e férteis ar- rabaldes. Tem uma boa torre a meio da fron- taria, — um bom adro para o qual se sobe por amplas escadas de granito— e á entrada d'estafc um grande cruzeiro de pedra. As suas producções dominantes são— vi- nho em quantidade e do melhor da Beira, milho, feijões e castanhas. Ha também n'esta freguezia muitos pi- nheiros mansos, alguns de grande porte. Não tem serras nem baldios. Todo o seu chão é productivo e muito bem cultivado. Dista de Vizeu 8 kilometros para S. O.— e passa ao poente d esta freguezia a estrada real a macadam de Vizeu para Tondella e Mealhada. VILLA DO CONDE— freguezia, vi 11a e séde do concelho e da comarca do seu nome, dis- tricto do Porto, arcebispado de Braga, pro- víncia do Douro. Priorado -orago S. João Baptista— 4:963 almas em 1:135 fogos (comprehendendo a sua annexa Formariz). Em 1706 era vigairaria da apresentação da abbadessa do mosteiro de Sanda Clara d'esta villa, quando o vigário não renuncias- se,—contava 900 fogos-e rendia 200*000 réis para o parocho. Em 1768 era priorado da mesma apre- sentação, - contava 1:078 fogos - e rendia 500*000 réis. Está muito vantajosamente situada na margem direita do rio Ave em terreno vis- toso, alegre e pittoresco, distando da beira- mar cerca de 500 metros para leste,— 3 ki- lometros da Povoa de Varzim para S. — 25 do Porto para N. O. — e 54 de Braga para S. O. pela linha férrea do Porto à Povoa de Varzim e Famalicão, seguindo depois pela linha férrea do Minho até á estação de Nine e d'alli pelo ramal até Braga. Tem estação própria na linha férrea do Porto á Povoa e Famalicão, que passa a leste da villa, e boas estradas a macadam para o Porto, Povoa de Varzim, Bareellos, Espo- sende, e diversos pontos do concelho, quasi todas 'servidas por diligencias, e a de Villa do Conde á Povoa de Varzim por uma linha férrea americana, cuja exploração se inau- gurou no dia 22 de outubro de 1874 l. Villa do Conde é povoação muito antiga. Suppõe-se que os romanos aqui tiveram um i V. n'este 10.° vol. o art. Vias Férreas, pag. 484, col. l.a 692 VIL VJL castro no sitio em que hoje se vê o convento de Santa Clara e que peios annos de 1093- 1112 o conde D. Henrique a doara ao conde D. Mendo Paes Rofinho, ou Rufino, tomando esta povoação desde essa epocha o titulo de Villa do Conde. Alguém duvida da existên- cia de tal castro e da doação feita a D. Men- do, tronco dos Azevedos, mas todos concor- dam em que D. Sancho I aqui fez um palá- cio « o doou á sua favorita, D. Maria Paes Ribeira, a celebre Ribeirinha de quem tanto faliam as chronicas e lendas e que foi uma das mulheres mais formosas do seu tempo. O Padre Antonio Carvalho da Costa na sua Chorographia Porlugueza disse que D. Ma- ria Paes Ribeira foi amante não de D. San- cho I, mas de D. Diniz. O mesmo se lá no Diccionario Chorographico de J. A. d'Almei- da por haver copiado a Chorographia Portu- gueza—e o mesmo se encontra na Chorogra- phia Moderna do sr. J. M. Raptista p.or ha- ver copiado o Diccionario Chorographico de J. A. d'Almeida— e nas Villas e Cidades do sr. I. de Vilhena Rarbosa,— mas Alexandre Herculano, a nossa primeira auctoridade n'estes assumptos, fallando de D. Sancho I, diz*: «Era o concubinato vicio commum naquelle tempo, commum nos príncipes como entre os nobres e o clero; e a historia conservou o nome de duas amantes do rei de Portugal (D. Sancho I) D. Maria Ayres de Fornellos e D. Maria Paes Ribeira. Foi filho d'aquella Martim Sanches que tão im- portante papel fez no meio das ultimas dis- córdias de Affonso II com Leão: da outra teve cinco filhos, um dos quaes, Rodrigo San- ches, também pertence á historia. D'estes que mencionamos, e dos outros, cujos no mes deixamos na sua tranquilla obscurida- de, descende mais de uma nobre familia da Hespauha. » E em uma nota manda ver ácer- ca d'e*ie ponto a Mon. Lusit. L. 12 e. 21 2 e L. 14 c. 24,—o Testamento de D. Sancho I, ibid. App. escr. III, e os antigos Nobiliários.' 1 Hist. de Portug. tomo 2." pag. 86, infine. Ah se diz que D. Maria Paes Ribeira teve de D. Sancho 6 filhos-D. Theresa San- ches, D. Constança Sanches, Gil Sanches Ro- drigo Sanches, íSuuo Sanches e Dona Maior É pois incontroversa a existência d'esta povoação no reinado de D. Sancho 1,-1185 a 1211. Ha n'esta villa tres obras monumentaes, o convento de freiras de Santa Clara, — o aqueducto do mesmo convénio — e a egreja matriz. É também muito importante o caes, que se prolonga pela margem direita do Ave desde a ponte de madeira, proximidades do grande convento, até o mar, — e não menos importante e digna de menção era a ponte de granito sobre o Ave, mandada fazer pelo benemérito corregedor D. Francisco d'Al- mada, no ultimo século, mas que infeliz- mente desabou no dia li de janeiro de 1821. O grande convento foi fundado por D. Af- fonSo Sanches, filho natural d'el-rei D. Diniz, e por sua mulher D. Theresa Martius, filha de D. João Affonso Tello de Menezes, conde de Rarcellos, senhor d'Albuquerque e Villa do Conde. Lançou-lhe a primeira pedra no anno de 1318 e, depois de concluído, o en- tregou ás religiosas franciscanas de Santa Clara, doando-ihes ainda na sua vida mui- tos bens e por sua morte e de sua mulher deixou-lhes o senhorio d'esta villa e dou- tras terras, com avultadas rendas. Lograram as freiras este senhorio muito tempo, mas el rei D. Duarte começou a con- testar-lhes tão grandes privilégios e rega- lias;—D. João III as desempossou d'elles, em 1537, dando este senhorio ao infante D. Duarte, seu irmão,— e pelo casamento de D. Catharina, filha d'este infante, com D. João I, sexto duque de Rragança, passou este se- nhorio para a real casa de Rragança. O convento"de Santa Clara e o seu famoso aqueducto, diz o sr. Ignacio de Vilhena Rar- bosa1, são dous monumentos grandiosos, que avultando gigantescamente sobre todas as construccões da povoação, dão á Villa do Conde um aspecto nobre e particular. Ergue-se senhorilmente em sitio um pouco elevado e sobranceiro á villa. A primeira fa- brica de D. Affonso Sanches conservou-se com algumas leves modificações até o século 1 Villas e Cidades... livro 3.° pag. 150. VIL VIL 693 passado, mas, acbando-se então era minas, foi mister proceder-se a uma reedifieação complda. E tão avultadas eram ainda as suas rendas, apesar do muito que haviam diminuído com a perda dos direitos senho- riaes da viila, que a nova fabrica, verdadei- ramente sumptuosa, foi Jevantada á custa da ordem. Não chegou a concluir-se, mas ainda assim é um dos mais vastos mosteiros que ha no reino, e quanto á regularidade, bellesa e magestade da sua architectura (diz o sr. Vi- lhena Barbosa) é muito superior aos melho- res de Lisboa e a lodos os que conhecemos no paiz. A froataria principal está voltada para o sul e era digna de um palácio real. Com- põe-se de tres andares com dezesete gran- des janellas em cada um e divide-se em cinco corpos por duplicadas pilastras. O do centro é coroado por um frontão, ornado no tym- pano com um baixo relevo, e no vértice com uma estatua colossal representando uma mu- lher com uma cruz na mão, montada em um elephanle. Nos acroterios tem quatro gran- des, vasos ou pyras por decoração superior, — outros quatro vasos eguaes nas extremi- dades de cada um dos corpos— e a meio de todos os grupos de vasos um castello em baixo relevo. A egreja é boa, posto que pequena;— tem formosos tectos de madeira em cume, um bello púlpito de pau santo, um órgão com liada caixa, alfaias de muita riqueza e pri- mor e no corpo da egreja, do lado do evan- gelho, uma sumptuosa capella de archite- ctura manoelina, onde jazem os fundadores d'este convento em dous magníficos mauzo- leus, do lado da epistola, tendo em frente outros dous mauzoleus mais pequenos, onde jazem (segundo se suppõe) dous filhos seus. Com o corpo da egreja se prolongam os dous vastos e lindíssimos coros, alto e baixo, havendo n'este ultimo um outro mauzoleu, em que jaz D. Brites Pereira d'Alyim, filha do condestavel D. Nuno Alvares Pereira, pri- meira mulher do conde de Barcellos, D. Af- fonso, que foi também depois o primeiro du- ' que de Bragança., Falleceu a dieta senhora em Chaves, onde foi sepultada, bem como o seu marido, no mosteiro de S. Francisco, mas depois a tras- ladaram para Villa do Conde. Este convento foi riquíssimo e chegou a ter 120 religiosas professas. Com a perda dos seus direitos senhoriaes e por ultimo com a extineção dos dízimos, em 1834, as suas ren- das baixaram lastimosamente, comtudo ain- da tem podido provêr á conservação da sua grande casa e da pequena eommunidade. Conta hoje apenas 5 religiosas professas, mas, comprehendendo as meninas do coro, as senhoras recolhidas e as creadas, ainda alberga um pessoal numeroso e sustenta e ampara muitas famílias pobres, que não ces- sam de pedir ao ceu a conservação d'este convento. São estes também os nossos ardentes vo- tos. Depois do grande aqueducto dos Arcos das Aguas Livres, em Lisboa, é o d'este con- vento o primeiro de Portugal muito supe- rior ao de Coimbra e mesmo aos d'Evora e Elvas, que já vimos. Tem de extensão mais de 5 kilometros e contava 999 arcos, todos de solido granito, quazi lodos symetricos, prolongando-se em columna cerrada e quasí em linha recta desde o convento até à raiz da montanha que fecha o horisonte ao norte. Alem d'este grande convento de freiras, teve a ordem de S. Francisco outro convento de frades n'esta villa. Era muito mais pequeno,— foi extincto em 1834 — e n'elle se acha installado o Azylo da Ordem Terceira de S. Francisco, á qual pertence. Foi este hospício ou pequeno mosteiro fundado em 1522. O pequeno convento dos frades de S. Fran- cisco estava a leste do grande convento das freiras e contíguo á Ordem Terceira. Tiveram também os frades carmelitas um Hospicio a O. d'esta villa, com uma pequena egreja e uma cerca mimosa e muito fértil. Foi também extincto em 1834 e n'elle fune- cionam hoje diversas repartições publicas, — o tribunal judicial, a conservatória, admi- * Foi feito á custa das freiras sob a direc- ção do architecto italiano Filipe Terzio. 694 VIL VIL nistração do concelho, escrivania da fazen- da, etc. A cerca é hoje um largo publico, de- nominado Largo da Alfandega, revestido de elegantes prédios. A egreja é administrada pela confraria de Nossa Senhora do Carmo. Tem urna só nave,— altar mór e 2 lateraes. A egreja matriz é um templo vasto de tres naves e um dos mais perfeitos exemplares d'architectura manoelina que se encontram ao norte do nosso paiz. Não custava hoje menos de 80 a 100 con- tos de reis, talvez. É toda de bella cantaria de granito, com uma soberba frontaria muito ornamentada, e coroam as paredes em toda a sua dimensão duas ordens d'ameias correspondentes ás pa- redes que formam as suas tres naves. Interiormente tem capella-mór, duas late- raes formando a cruz latina, — grande nu- mero d'altares com boas decorações de ta- lha dourada recentemente restaurados, — duas ordens de arcaria de granito em que assentam as tres naves,— e sobre o guarda- vento um bom côro com grandes cadeiras d'espaldar, pois também foi collegiada, ere- cta em 1518. Tem a villa outros muitos templos, taes são os seguintes : A capella de S. Thiago, a primeira matriz d'esta villa, veneranda pela sua remota an- tiguidade, ereeta no bairro velho com a mesma denominação de S. Thiago também. Foi e3ta capêllinha restaurada e accres- centada em 1857 a 1858 e com tão pouco critério que despedaçaram uma pedra, em que se achava gravada a inscripção seguinte: SAC ~T SACR T DIV T JAC ~ APP T MAI ~ EREC — OLIM "7 TEMP T" AZVREI ~ PRIM T EDIF — IN T AC . PART "7PT CASTR ~ — HODIE ~ RCUP T RBLIG — ZELO — DEV T PIE — ET T VOT ~ D T Mendo ~T BOFINHO T CONDECÍUS ~T ET T~ DOM. ~ HUI T~ TER ~7~ ANNO T KRIS ~~7 DOM . M. C. C G. XIV. iE$ta capella é consagrada a S. Thiago Apostolo Maior; erigida n' outro tempo pelos Templários d' Azurara, foi a primeira edifi- cada n'esta parte do povo de Castro. — Hoje restaurada pelo religiosíssimo zêlo, devoção, I piedade e voto de D. Mendo Bofinho, conde e senhor d'este território. No anno de Christo Nosso Senhor, de 1314. Foi esta inscripção copiada e traduzida pelo benemérito sr. padre Thiago Cesar de Figueiredo Mendes Antas e por elle oíTere- cida ao meu antecessor, de saudosa memo- ria, o sr. Pinho Leal, com a carta seguinte: Ex.me Snr. «Esta capella foi accrescentada em 1857 a 1858, á custa d'alguns devotos, e, quando apeavam a frontaria, copiei essa inscripção da pedra em que se achava e que o* pedrei- ros partiram para metterem em outro logar, picando-a e despedaçando a coroa de conde que a encimava, em alto relevo. A minha curiosidade salvou o que remelto por copia; e pela leitura d'alguns livros tirei es^a in- terpretação, que subrqetto ao juizo de V. Ex.a «Villa do Conde 15 de janeiro de 1883. «Padre Thiago Cesar de Figueiredo Men- des Antas.» Bem haja o meu íllustrado collega,— bem haja! As outras capellas de Villa do Conde são a de Nossa Senhora da Guia ou de S. Ju- lião, na boca da Barra, lado norte, também muito antiga e muito interessante, cercada por uma plataforma e alguns casebres que foram a primeira obra de defesa da barxa, muito antes de se construir o pequeno forte contíguo e o Castello de que adiante fallare- mos. Tem esta capêllinha o tecto apainelado com pinturas a oleo, que alguém attribue a el-rei D. Duarte, e foi ella oratório dos fun- dadores do grande convento. Exteriormente tem um pequeno farol de- nominado da Senhora da Guia. Capella de S. Roque,— também muito an- tiga. Suppõe-se ter sido fundada por oeca- sião de uma grande peste que assolou esta villa no tempo em que se fez também o an- tigo cemitério que ainda hoje se nota junto da capella de S. Thiago. . Capella de Nossa Senhora do Soccorro, muito antiga também. VIL VIL 695 Foi fundada por Gaspar Manuel, caval- leiro do habito de Christo e piloto-mór da carreira da índia. É de fórma quadrada, coberta por um zimbório liso redondo .e assenta em uma pla- taforma com vistas esplendidas, dominando o Ave que a banha pelo sul, todo o caes, o seu vasto campo e o estaleiro, a villa, o grande convento, Azurara, o Castello e grande extensão do occeano. É um dos. mais interessantes e concorri- dos miradouros de Villa do Conde. Capella de Santo Amaro, também antiga. Olha para o poente e se ergue na extremi- dade norte da pequena cordilheira que cinge a leste a villa. Tem festa e feira, hoje pouco importante, no dia do seu orago — 15 de janeiro,— mas ainda no século passado a feira durava 3 dias e 8 em tempos anteriores. Capella de Santa Catharina—blha. para o poente, — ergue-se sobre uma rocha pouco elevada no extremo norte da villa, a oeste da estrada da Povoa de Varzim, na direcção do mar. Tem do lado sul uma porta lateral com galilé cercada de assentos e d'alli se go- zam amplas vistas sobre a terra e o mar. É administrada pelo povo e também muito antiga. Não tem festa nem irmandade própria. Capella de Santa Lusia. — É um dos tem- plos de mais regular construcção e dos mais modernos da villa, mas estando todos muito limpos e bem tractados, este infelizmente se acha em completo abandono 1 É toda de bella cantaria com boa distri- buição de ornatos, tem um frontispício ele- gante e interiormente tres altares e um car- neiro, pois era cabeça de um morgado, in- stituído por Martim Vaz de Villas Boas. Capella de S. Bento— não é muito antiga e foi também cabeça de um morgado insti- tuído por Mandel Barbosa, natural de Villa do Conde. Capella do Espirito Santo— está em frente da egreja da Misericórdia e foi também ca- beça de um morgado, instituído pelo abbade de Ballasar. Não tem confraria e é zelada pelos visi- nhos. Capella de S. Sebastião. — Era bastante antiga e foi sempre administrada pela ca- mará, que a mandou demolir em 1859, para o alinhamento e construcção da nova estra- da a macadam d'esta villa á Povoa de Var- zim, mudando-a para o cemitério publico, onde se acha. Estava na boca da rua de S. Sebastião, que tomou o nome da vetusta capella e sup- põe-se que era tão antiga como a de S. Ro- que. Capella do Senhor da Agonia, — fronteira aos paços do concelho. É bastante antiga e foi cabeça d'um mor- gado instituído por um ascendente do dr. Eusébio da Novoa Sarmento, medico resi- dente no Porto pelos fins do século passado, e já então tinha confraria própria. Ha também n'esta villa mais tres egrejas — a da Misericórdia, a dos Terceiros de S. Francisco e a de Nossa Senhora da Lapa. A egreja da Misericórdia foi fundada, bem como a irmandade que a representa, em 1525, no local onde existia desde tempos muito anteriores a capella do Anjo. É um templo espaçoso, singelo mas ele- gante, de uma só nave com as paredes in- teriormente forradas d'azulejo, coro sobre o guarda-vento, altar-mór e 4 lateraes, um de Nossa Senhora da Piedade, outro do Se- nhor dos Passos, outro do Senhor Ecce Homo e outro do Bom Pastor. Toda a esculptura dos retábulos é sim- ples, mas decente — e a egreja está muito limpa e bem conservada. Tem contigua a casa das sessões da mesa ou do despacho, coeva da egreja, concluida porém mais tarde. Na frente da egreja ha um pequeno adro com um grande cruzeiro de granito — e a poucos passos de distancia do lado N. O. se ergue, o hospital da Misericórdia, fundado em 1634 por Diogo Pereira e sua mulher Filippa Nunez, naturaes de Ponte Vedra, na Gallisa, e por elles dotado com "a somma de 444$000 réis de juro. Da frente d'este hospital e da egreja da Misericórdia vai hoje em linha recta até á beiramar uma ampla rua, denominada de 696 VIL Bento de Freitas, recentemente construída para serviço da nova praia de banhos, tendo a dieta "rua na sua extremidade oeste, junto da praia, dous bellos renques de casas pa- rallelas destinadas para os banhistas e fei- tas por uma Companhia Edificadora, for- mada ad iioc, esperando que a concorrência dos banhistas a indemnisaria de toda a des- peza, o que infelizmente não se deu até hoje; não obstante a companhia ainda não perdeu as esperanças de realizar o desideratum. A egreja dos Terceiros de S. Francisco — ergue se a poucos metros de distancia do grande convento de Santa Clara, para o nor- te, — é bastante antiga e pòuco espaçosa,— tem uma linda portada, estylo renascença— e d'este templo sae todos os annos a procis- são de einza com muitos andores, muitos anjos, e muitos irmãos terceiros. É absolutamente a primeira procissão da villa e do concelho, muito concorrida pelos fieis das circumvi^inhanças, nomeadamente da Povoa de Varzim e do Porto, depois que se fez a linha férrea do Porto á Povoa e Fa- malicão, estabelecendo sempre vários com- boyos a preços reduzidos e sempre regor- gitando de fieis e forasteiros n'aquelle dia para verem tão apparatosa procissão. Egreja de Nossa Senhora da Lapa— con- struída no próprio local onde esteve a an- tiquíssima capella de S. Bartholomeu, na extremidade N. E. da villa, ao lado norte da estrada municipal a macadam que da villa conduz á freguezia de Ferreiro, mas que deve proseguir até Villa Nova de Famalicão. E um templo espaçoso e elegante com duas torres na frenie, muito bem situado em alta e vistosa planície e com uma ampla e formosa avenida que lhe dá ingresso. Olha para o poente; — tem do lado norte casas para o sacristão e na retaguarda um pe- queno cemitério. Temos no nosso paiz centos de egrejas pa- roehiaes muito inferiores a esta. Foi sempre do povo e da administração publica e data a sua ultima reconstrucção do 3." quartel do século XVIII. A barra é estreita e só permitte entrada a navios de pequena lotação. Deíende-a um VIL forte, denominado Castello, com cinco ba- luartes, principiado no século XVI por or- dem de D. Duarte, duque de Guimarães, fi- lho do infante D. Duarte e neto d'el-rei D. Manuel. Fez o risco e dirigiu a obra Filippe Ter- zo, ar chi tecto italiano que esteve ao serviço de Filippe II de Hespanha, pelo que alguns escriptores attribuem a este soberano a edi- ficação d'aquelle forte. Pelos annos de 1624, pertencendo já en- tão o senhorio d'esta villa á casa de Bra- gança, mandou o duque D. Theodosio II continuar as obras da fortaleza que vieram a concluir-se durante as guerras da restau- ração do reino. Um operário que trabalhava nas dietas obras achou alli, no anno de 1636, uma bella saphira que vendeu ao cónego Belchior Maio. Este vendeu-a na cidade do Porto por vinte e cinco mil réis a um estrangeiro que a levou a Paris, onde dizem que a vendera por setenta mil crusados!.. . Na mesma occasião appareceram mais al- gumas saphiras, mas todas de menos valor. Antes da fundação d'este castello havia para defesa da barra apenas uma plataforma com 4 peças, junto da capella de Nossa Se- nhora da Guia, já por nós mencionada. Villa do Conde é povoação muito farta e saudável. Os seus habitantes pela maior parte se empregam no commercio e nas pescarias e, antes da lastimosa decadência da nossa marinha mercante, muitos se empregavam também na construcção do grande numero d'embarcações que pejavam o seu estaleiro, hoje quasi sempre nu! Também é muito importante ainda hoje n'esta villa a industria das formosas rendas de bilros, em que se empregam centenares de mulheres desde a idade de cinco annos, o que lhes dá uma certa delicadeza e dis- tineção de maneiras, mesmo ás filhas do povo. t Villa do Conde, Vianna do Castello e Pe- niche são as tres povoações do norte do nosso paiz em que se fabricara em maior escala as dietas rendas, sendo porém as de Peniche muito superiores absolutamente a VIL VIL 697 todas as de Portugal era mimo, variedade e perfeição. Em Villa do Conde e Vianna apenas fa- zem fitas de renda, de 2 centímetros a 2 de- cimetros de largura e do preço de 100 a i$500 réis o metro, — emquanto que em Pe- niche fazem com bilros por vezes fitas de meio metro de largura até o preço de tres libras (13£50O réis) por metro corrente. E, além das fitas, fazem lambem lenços, pu'- nhos, golas, almofadas, travesseiriuhas ^co- bertas para guarda-soes de senhora, chailes de fio de seda no valor de 200 a 300$000 réis cada um e toalhas para altares com as imagens dos santos a que se destinam, de- senhadas e executadas a bilros, — trabalho admirável e difflcillimo, que faz o espanto de nacionaes e estrangeiros2!. . . As producções principaes dos arredores d'esta villa são trigo, centeio, milho, cebo- las, vinho verde ou de enforcado, fructas e hortaliça. Tem uma feira annual, a de Santo Amaro, no dia 15 de janeiro, e 4 mensaes, nos dias 3, 12, 20 e 27 de cada mez, — todas muito concorridas e muito abundantes, nomeada- mente de gado novino, cereaes, louça branca e amarella nacional, artigos de tenda, apres- tes de lavoura e peixe secco. N'ellas se ostenta o typo sympathico e vi- goroso das lavradeiras do Minho, carrega- das de saias, saiotes e cordões d'ouro cora pequenos chapéus de panno enfeitados com espelhos, fitas, pennas de cores e flores ar- tificiaes, — graudes lenços de seda e algodão com ramagem de cores vivas ou brancos de cambraia, bordados a retalho, e pequenas chinelas ponteagudas, de couro ou de ver- niz. Entre o castello e a capella de Nossa Se- nhora da Guia se vê na praia uma pyramide que commemora a chegada da esquadra do 1 Tenho eu uma com as minhas inieiaes, toda feita com bilros e linha de Guimarães. E' muito linda, mas custou-me 13$500 réis!. . . 2 V. Peniche n'este diccionario e no sup- plemento. st. D. Pedro IV, duque de Bragança, no dia 8 de julho de 1832, e o desembarque de Bernardo de Sá Nogueira, depois marquez de Sá da Bandeira, enviado pelo imperador, como parlamentario ao brigadeiro realista José Cardoso que se achava a pequena dis- tancia com a sua brigada, convidando o para se unir aos defensores da liberdade e do throno de D. Maria II,— convite que aquelle brigadeiro recusou altivamente, mas, em vir- tude de instrucções superiores, longe de se oppôr ao desembarque, marchou sobre o Porto, deixando a praia livre. O monumento ou obelisco é uma das duas pyramides que se erguiam á entrada da ave- nida da grande ponte de pedra, mandada fazer por D. Francisco d'Almada sobre o Ave e que desabou no dia 11 de janeiro de 1821, como já dissémos. A outra pyramide lá se conservou até o mez de julho d'este corrente anno, data em que a camará man- dou apeal-a e demolir a avenida que se pro- longava do poente a nascente na margem direita do Ave, quando tractava da construc- ção e nivelamento da nova estrada que da villa conduz á estação da linha férrea. A pyramide ou monumento erguido á bei- ra-mar é de granito, tem quatro faces, e 5.m,50 d'a!tura, desde o chão até á cúspide, que era encimada por uma corôa real, tam- bém de granito, mas ha annos, uma faisca eléctrica despedaçou-a com a extremidade superior da pyramide, arrojando os frag- mentos a distancia. Assim se conserva o . pobre monumen- to! . . . Levantou-se este padrão por iniciativa de Antonio José d*Avila (depois duque d\Avila e Bolama) sendo governador civil do Porto, e por iniciativa sua se ergueu também ou- tro padrão análogo na praia de Pampelido ou do Mindello, onde desembarcou o exer- cito libertador, no mesmo dia 8 de julho de 1832, um pouco ao sul de Villa do Conde K A passagem sobre o Ave, entre esta villa e a margem opposta é feita por uma ponte i V. Mindello, vol. 5 0 pag. 235, col. I.1 e Lavra, vol. 4.° pag. 59, col. 2.a 698 VIL VIL de madeira que se construiu depois que des- abou a grande ponte de pedra. Anterior- mente á construccão da grande ponte era feita em uma barca que crusava entre o caes das lavandeiras, contíguo á velha capellinha de S. Thiago — e a entrada sul da ponte actual de madeira. Cortava o Ave em aDgulo obliquo, porque ainda ao tempo não existia o grande caes que formou o campo da feira, enxugando com o aterro um braço do Ave que se es- tendia para o norte, na direcção da estrada actual da Povoa de Varzim, até ás proximi- dades da Capella de Santo Amaro. Ainda em 1860 vivia na rua de S. Sebas- tião d'esta villa o mestre pedreiro que lan- çou a primeira pedra na obra do caes. Era appellidado o Mansinho e falleceu contando mais de noventa e tres annos de idade. Também ainda hoje existem n'esta villa mulheres appellidadas as barqueiras por descenderem da ultima familia que trouxe arrendada a velha barca da passagem mui- tos annos. Junto do caes das lavandeiras ou do lagedo onde abicava a dieta barca do lado da villa, estava um nicho com a imagem do|Redem- ptor, denominado nicho do Senhor das Pau- tas, porque nas costas d'aquelle nicho cos- tumavam afixar-se as pautas com os preços e regulamentos da passagem. Quando se fez a ponte actual de madeira transferiu se o mencionado nicho para a avenida ou entrada norte d'ella, e conserva ainda hoje (1884) bem vizivel a inscripção seguinte que prova o que levamos exposto: Taxa da passage • Cada p.a M.° Real Besta may or HO real BESTA MEN OR M.° REAL OS DONOS DELLAS NA DA NEM OS M.res DESTA VILLA SOB AS PE NAS DO FO" RAL 1634 Esta villa teve foral dado por D. Diniz em Lisboa a 10 de fevereiro de 1296. Liv. lide Doações do Sr. Rei D. Diniz f. 119, v. col. l.a— e D. Manuel lhe deu foral novo em Lis- boa também, no dia 10 de setembro de 1516. Liv. de Foraes Novos do Minho, f. 14, v. col. l.a Foi esta villa muito estimada e conside- rada por D. Manuel, como provam o foral que lhe deu, a soberba egreja matriz com que a ornou e os paços do concelho que ainda hoje existem e conservam a esphera armilar e a cruz da ordem de Christo, si- gnaes que se vêem em lodos os edifícios mandados fazer pelo rei venturoso. Esta villa teve sempre muita nobreza e desde remotas eras produziu muitas pessoas notáveis. Poderíamos citar uma extensa lista des- sas pessoas, mas, como este^artigo já vai longo, no supplemento a daremos, bem como outras noticias que prendem com ella e que agora omittimos. Por decreto de 23 de maio de 1867 foi an- nexada a esta villa a velha parochia de For- mam, cujo orago é S. Pedro Apostolo, Em 1768 era abbadia da apresentação do abbade de Touguinhó, contava 14 fogos e rendia 30$000 réis. V. Formariz, vol. 3.° pag. 215, col. l.a Tem este concelho : Superfície em hectares 12:775 População — fogos 5:426 t —almas 23:660 Freguezias 31 Prédios inscriptos na matriz 21:748 Nas antigas cortes d'esta villa tinha as- sento no banco oitavo— e o seu brasão der- mas é uma nau á véla em mar azul. A freguezia de Formariz, hoje annexa á de Villa do Conde, está situada ao norte do rio Ave e ao norte da villa, distante d'esta cerca de 800 metros, 50 da margem direita do Ave, cerca de 1 kilometro da freguezia de Touguinha e 100 a 200 metros da fre- guezia da Retorta, mettendo se de permeio o Ave. VIL VIL 699 No chão de Formariz se edificou na mar- gem direita do Ave uma grande fabrica de fiação e tecidos pela companhia denominada —Industrial e agrícola portuense. Formou-se esta companhia em i de junho de 1875 e no mez de julho do mesmo armo deu principio ás obras, conservando as aze- nhas para moagem que alli existiam e exis- tem. O seu capital é de trezentos contos. A fabrica é movida pelo Ave. A dieta com- panhia comprou todo o passal da extincta parochia e destinou a casa da residência para habitação dos seus operários. Junto do convento de Santa Clara tinham as freiras um grande açude com um grupo d 'azenhas para moagem de cereaes, mas ha annos o dr. Faria, de Villa do Conde, com- prou as dietas azenhas e lhes addicionou, para servir no tempo da estiagem, uma ma- china a vapor e moinhos correspondentes. VILLA CORTEZ DA ESTRADA— ou Villa Cortez da Serra — freguezia do concelho e comarca de Gouvéa, districto e diocese da Guarda, província da Beira Baixa. Orago Nossa Senhora da Conceição,— fo- gos 160,— almas 674. É priorado. Em 1768 pertencia ao bispado de Coim- bra, — contava 91 fogos, — rendia 16Q$000 réis — e era da apresentação dos condes de Mello. Para se distinguir da parochia de Villa Cortez do Mondego, d'esta mesma diocese, denomina-se Villa Cortez da Estrada^ por que demora na estrada real de Celorieo da Beira para Coimbra, pela ponte da Mwxella e Oliveira do Hospital,— ou Villa Cortez da Serra por estar a pequena distancia do pen- dente N. O. da serra da Estrella. Algumas chorographias, entre ellaso Dic- cionario abreviado de J. A. d'Almeida, dão- lhe como «orago Nossa Senhora da Expecta- ção, mas o Portugal Sacro e Profano, os Cen- sos de 1864 e de 1878 e o Mappa das Dio- ceses, publicado em 1882, dão-lhecomo orago Nossa Senhora da Conceição. A Chorographia Moderna diz que esta pa- rochia pertenceu ao concelho e termo de Li- nhares, mas que extincto este concelho por decreto de 24 d'outubro de 1855, passou para o de Gouvéa. Isto não é absolutamente exacto. A povoação de Villa Cortez, séde d'esta parochia e a única que a constitue, posto que é uma povoação compacta, dividia-se d'um modo curioso em differentes grupos ou bairros — um pertencente ao termo da ex- tincta villa de Linhares,— outro ao termo da extincta villa de Folgosinho — e outro ao termo da villa de Gouvéa. Ainda hoje (1884) rfesta povoação se distiguem aquelles 3 gru- pos de casas, bem como os seus habitantes, dizendo-se: — estes são do termo de Gouvéa, — aquelles são do termo de Folgosinho. No termo de Linhares já se não falia. As suas freguezias limitrophes são — Fi- gueiró da Serra, a 4 kilometros de distan- cia,—Fí/ia Ruiva, a 2:500, — Villa Franca da Serra, a 4,— a villa de Cabra, a 5, met- tendo-se de permeio o valle d'Arinte,— Na- baes, Nabainlws e Mello, a 4 kilometros, — Folgosinho a 6 — e Freixo da Serra a 4. Dista de Gouvéa 9 kilometros para N. E. — da estação de Gouvéa ou da de Fornos d' Algodres, na linha da Beira Alta, 7 kilo- metros,—6 da margem esquerda do Monde- go,— 41 da Guarda para O. pela estrada a macadam.— 63 pela linha férrea (estação de Fornos d'Algodres) — 152 da cidade da Fi- gueira (pela linha férrea, estação de Gou- Vêa)_207 do Porto— e 332 de Lisboa. Esta freguezia é pouco saudável por estar em planície funda, no sopé da serra da Es- trella e na margem direita de uma grande ribeira, formada pelas de Mello e do Freixo que fazem juneção na grande ponte de pe- dra da estrada a macadam de Celorico a Coimbra,— estrada que toca n'esta povoação, do lado sul, e a separa da sua egreja matriz, correndo de leste a oeste. As dietas ribeiras, por occasião das chu- vas e do desgêlo da grande serra próxima, avolumam d'um modo espantoso com a grande quantidade d'agua que se despenha da serra em torrentes e inundam parte da povoação e da campina marginal, causando por vezes prejuízos consideráveis e compro- ' mettendo a salubridade publica. 700 VIL Tem havido aqui epidemias devastadoras, matando famílias iateiras e deixando casas deshabitadas! . . . A egreja parochial é um templo espaçoso e elegante, muito vantajosamente situado a cavalleiro da estrada a macadam e da po- voação, em sitio relativamente alto, alegre e vistoso. Foi mandada fazer nos fins do ultimo sé- culo ou princípios d'este pelos condes de Mello, donatários d'esta parochia e que apre- sentavam o seu prior. Tem altar-mór com um bello retábulo de talha dourada e tres lateraes, — côro sobre o tíuarda-vento, torre com 4 sineiras, muito elegante e bem acabada, cemitério em volta de toda a egreja, — ampla escadaria que dá entrada para o cemitério — e outra d'este para a porta principal da egreja. Circumdam o cemitério ciprestes e olivei- ras—e ha na egreja duas irmandades — uma do Santíssimo, que é a fabriqueira,— e outra do Senhor das Almas. No centro da povoação ha uma capella de S. Bartholomeu, que foi a velha matriz e teve festa própria e grande feira, em*outros tem- pos, no dia de S. Bartholomeu, 24 d'agosto. Ha n'esta parochia um edifício brasonado, antigo, pertencente á família Mendonças, de Freches, no concelho de Trancoso ; entre os não brasonados os que mais avultam hoje , são os seguintes:— um de Joaquim Tavares Ferreira, pae de 3 presbyteros, pendo dous formados em direito, — outro de Francisco Maria, de Sandornil,— e outro dos herdeiros de Ruy d'Almeida, que foi negociante e dei- xou boa fortuna. Este ultimo é o melhor e mais moderno. Além das ribeiras já mencionadas e que, depois de se fundirem em uma só, desaguam no Mondego, junto da povoação, antiga villa de Cábra, banha esta freguezia o ribeiro do Ollo, cerca do 500 metros ao norte e pouco importante. Na grande ribeira ha duas pontes de pe- dra,— urna mesmo na povoação de Villa Cor- tez,— outra akun3 metros a montante, feita pelas obras publicas na estrada real a ma- cadam— e dous pontões também na povoa- ção para serventia do pequeno bairro que foi e ainda hoje se chama termo de Folgo- sinho. Ha também na grande ribeira 3 moinhos de pão, i lagar d'azeíte, i fabrica de fiação de seda, que foi de Ruy d'Almeida, — e ou- tra de queimar vinho, pertencente a Joa- quim Tavares Ferreira. Houve também aqui n'outros tempos um bom estabelecimento de tinturaria, a que o povo chamava e chama o Tinte. D'elle res- tam hoje [apenas uns grandes casarões e grandes fornalhas, tudo. em ruínas. Esta parochia nunca foi villa, mas gosou de todos os privilégios das villas de Gouvêa, Folgosinho e Linhares a cujos termos per- tencia, como já dissémos. D'ellas se fallou já n'esle diccionario e se fallará mais deti- damente no sttpplemento. Ha no limite d'esta parochia um pequeno morro denominado Castelejo, que se suppõe ter sido atalaia em tempos remotos, — e nelle uma cavidade denominada capella dos moiros. Tem esta freguezia uma aula offieial de instrucção primaria elementar para o sexo masculino. As suas producções principaes são — mi- lho, feijões, balatas, vinho e azeite. Exporta todos estes artigos em quantidade. Também produz muita hortaliça, com que abastece os mercados de Gouvêa,— muito queijo que vende para o Porto e Lisboa, onde é bera conhecido por queijo da serra da Estrella, —centeio para consumo e lã, pois cria bas- tante gado lanígero. Como passava n'esta freguezia a antiga estrada militar, que é, com pequenas varian- tes, a mesma estrada' nova a macadam, sof- freu muito esta povoação com os Movimentos de tropa, principalmente na guerra penin- sular, quando o exercito francez, eomman- dado por Massena, retirava das linhas de Torres Vedras pela ponte da Murcella e Ce- lorico da Beira para a Hespanha. Occuparam litteralmente esta povoação durante a passagem de todo o exercito e aqui tiveram um hospital de sangue na casa dos VIL VIL 701 Sequeiras Corte-Reaes, pagando-lhes gene- rosamente incendiando-a, bem como grande parte d'esta povoação, quando se retiraram. A tradição local ainda conserva muitas recordações d'aquelle tempo e entre ellas a lenda seguinte : Em certo recontro que os francezes tive- ram com o exercito aDglo-luso na Carrapi- chana, um soldado da cavallaria franceza recebeu tal golpe no pescoço que lh'o cor- tou, ficando a eabeça pendente sobre as cos- tas—e, partindo o cavallo á desfilada sem governo, só parou junto d'esta povoação, trazendo na sella o cavalleiro decapita- do!... A freguezia da Carrapichana está também na mesma estrada de Celorico, que atravessa Villa Cortez, mas distante cerca de 4 kilo- metros para leste. Diz também a tradição local que no sitio da Coutada, pequeno cabeço nos limites d'esta paroehia, houvera em tempos remo- tos um vulcão ou olho marinho, de tal or- dem que levou d'envolta um espaçoso tracto de terra com arvoredo, inclusivamente um castanheiro, indo parar tudo na ribeira pró- xima, a distancia de 200 a 300 metros. Assim o affirma a tradição local, mas quem não acreditar não pecca. Ao rev. sr. José Nunes Morgado, digno prior d'esta freguezia, agradeço os aponta- mentos que se dignou enviar-me. VILLA CORTEZ DO MONDEGO — fregue- zia do concelho, comarca, districto e diocese da Guarda, na província da Beira Baixa. Priorado. Orago S. Sebastião, — fogos 91, — almas 365. Em 1708 contava 67 fogos, segundo se lê na Chorographia Portuguesa; — o Portugal* Sacro e Profano em 1768 deu-lhe 62 fogos e 100$000 réis de rendimento, — e J. A. d' Al- meida em 1866 deu-lhe 185 fogos, o quefoi erro typographico por certo. Suppomos que o benemérito auctor do Diccionario choro- graphico abreviado escreveu— 85. O seu prior era collado e da apresentação da coroa em 1768, mas até 1758 foi da apre- sentação dos marquezes de Gouvêa, condes de Portalegre e por ultimo, para sua des- graça, também duques d' Aveiro, tornando-se volume x os fidalgos mais ricos e poderosos que Por- tugal teve no ultimo século. Tudo perderam com a pró- pria vida— e não só os duques d'Aveiro, marquezes de Gou- vêa, mas os marquezes de Tá- vora, condes d'Athouguia e muitos dos seus familiares, no dia 13 de janeiro de 1759, em seguida ao attentado contra D. José I, na noute de 3 de setem- bro de 1758. V. Chão Salgado, vol. 2.° pag. 271, col. 1." e seg. Os marquezes de Gouvêa foram senhores e donatários das villas de Gouvêa, Vallezim, Villa Cova a Coelheira, Celorico, etc. etc. e por isso apresentavam o prior d'esta fregue- zia de Villa Cortez do Mondego; porque per- tencia ao termo de Celorico. V. Gouvêa n'este diccionario (vol. 3." pag. 312, col. 2.a) e no supplemento, onde am- pliarei consideravelmente aquelle artigo. O padre Carvalho diz que o orago d'esta paroehia de Villa Cortez era S. Domingos em 1708,— e o mesmo orago lhe deu D. Luiz Caetano de Lima em 1736, — mas o Port. Sacro e Prof. em 1768 e todas as ehorogra- phias e publicações officiaes posteriores lhe deram como orago S. Sebastião. Esta paroehia é formada por uma única povoação— Villa Cortez — situada a 1 kilo- metro da margem esquerda do Mondego, a 11 da Guarda para N. N. O. — e a 8 de Ce- lorico para E, S. E. Comprehende as quintas da Banha e In- sua—e os moinhos da Videira, Lage, Entre Aguas e Lagarteira. As suas producções dominantes são vinho, azeite e cereaes. VILLA COVA— freguezia do concelho e co- marca de Fafe, districto e diocese de Braga, na província do Minho. Abbadia— orago S. Bartholomeu,— fogos 110,— almas 481. Em 1706 já era abhadia do padroado real pertencente á grande comarca de Guima- rães, contava apenas 40 fogos e estava unida 45 702 VIL VIL ao arcediagado de Guimarães, que tinha o titulo de Villa Cova;— em 1736 pertencia á mesma comarca de Guimarães, — já contava 89 fogos e e 225 habitantes, — em 1768 era também abbadia do padroado real, — contava 94 fogos e rendia 450$000 réis;— nos prin- cípios d'este século pertenceu ao concelho e julgado de Celorico de Basto, comarca de Fafe;— em 1840 pertencia ao concelho e co- marca de Guimarães — e, por decreto de 31 de dezembro de 1853, passou para o conce- lho e comarca de Fafe. Segundo se lê na Chorographia Moderna, o logar de Villa Cova, Assento ou Egreja está situado na margem direita do rio Vi- zella, do qual dista 1 kilometro para N. O. — e 7 de Fafe para o N.— 17 de Guimarães, 73 do Porto e 410 de Lisboa. Comprehende mais esta freguezia os loga- res ou povoações de Vallado, Lameira, Pas- sos, Cotelhe, Outeiro, Toutiço, Casaes, Pa- dinho, Crujeira, Valdelhe, Lamas, Bairro, Moure, Castanheira, Sancha, Rio, Loureiro, Fornello, Portella, Boa Vista, Calçada, Car- valhal, Quinta Má, Portellinba, Aidro eLata. Atravessa esta freguezia a estrada distri- ctal a macadam de Guimarães para Celorico de Basto, passando a meio da villa de Fafe e da povoação da Lameira, que está em si- tio alto, alegre e vistoso, mas muito frio no inverno. As suas producções dominantes são— vi- nho verde, cereaes e lã, pois também cria gado lanígero. Nasceu n'esta freguezia, nos princípios d'este século, o famigerado salteador e as- sassino Manuel Joaquim Lopes Queijo, sa- pateiro, 'que fixou a sua residência na fre- guezia d'Arnoia, concelho de Celorico de Basto. Foi preso e julgado por arrombamento e roubo feito na casa e quinta de Manuel Joa- quim da Motta, — por assassinar o dito Ma- nuel Joaquim da Motta,— por ferir e roubar Manuel Matheus, — por assassinar Antonio Teixeira Tendeiro,— por usar d'armas defe- sas—e por extorquir dinheiro a differentes pessoas com armas e ameaças. Em audien.ia geral, de 6 de junho de 1838, no julgado de Celorico de Basto, pre- sidida pelo juiz de direito da comarca de Fafe, foi condemnado á pena de morte na forca, que para isso deveria erguer-se na praça da villa de Freixieiro, sendo- lhe em seguida cortada a cabeça e suspensa alli mesmo em um poste. O reu appellou, e por accordão da Relação do Porto, com data de 15 de fevereiro de 1839, foi confirmada a sentença da l.a iostan- cia. Interpoz ainda recurso de revista, que lhe foi negado por accordão do supremo tri- bunal de 18 de novembro do mesmo anno: — e por portaria de 11 de junho de 1840 se communieou ao presidente da relação do Porto que S. M. ouvido o conselho de minis- tros, houve por bem que a sentença se cum- prisse. Foi justiçado em 11 de julho de 1840 na villa de Freixieiro. (Cartório do escrivão Silva Pereira). No supplemento a este diceionario dare- mos no artigo Fvaixieiro circumstanciada noticia d'este infeliz, extrahida por nós dos próprios autos. Foi e^te o 4.° dos últimos (16) indivíduos justiçados por crimes communs ao norte do nosso paiz, depois de 1834. Yeja-se este vol. 10.° pag. 604 e seg. VILLA COVA— freguezia do concelho, co- marca e distrieto de Villa Real, diocese de Braga, província de Traz-os-Montes. Reitoria. Orago S. Thiago Apostolo,— fo- gos 107,— almas 470. Em 1706 contava apenas 54 fogos e era da apresentação dos frades Jerónimos do convento de Belém, mas em 1768 já contava 62 fogos e era vigairaria da mesma apresen- tação dos Jeronymos, que davam ao pobre parodio apenas 19$000 réis e o pé d'altar. Foi uma das muitas parochias que for- mavam o termo da antiga comarca de Villa Real. Em 1840 pertencia ao concelho de Er- mêllo, de que já se fallou no vol. 3.° pag. 45, coL 2 a — concelho extineto pelo decreto de 31 de dezembro de 1853, passando em se- guida para o de Villa Real. É hoje parochia independente, mas já es- teve annexa á freguezia de Quinta, com a qual confina pelo sul,— com a de Bardelhas VIL VIL 703 pelo norte,— com a de Villa Marim pelo nas- cente — e com a de Campanhã, do concelho de Mondim de Basto, pelo poente. Está situado o logar de Villa Cova, séde d'esta freguezia, ao norte da estrada real de Villa Real para Amarante, pela Campeã e Padornello,— estrada hoje ampla, suave, ma- cadàmisada e das mais bem traçadas que tem o nosso paiz, emquamo que a estrada velha foi uma das mais concorridas, mais, desabridas e medonhas! O antigo traçado seguia pelo alto da serra, desde a Campeã até Ovelha do Marão, atra- vessando muitos kilometros com tanta altura de neve, durante mezes, no inverno, que ali pereceram muitos viandantes, almocreves e correios, pois foi até o meiado d'este século a estrada principal e mais seguida do Porto e do Miuho para Traz-os-Montes. Suppõe-se até que a freguezia de Ovelha do Marão, em que tocava a velha estrada, principiou por uma espécie de albergaria para abrigo dos desgraçados viandantes e que pelos serviços, bemfeitorias ou benefa- ctorias que lhes prestava em tão ermas e desabridas paragens (recorda-nos o convento de S. Bernardo, nos Alpes) os nossos pri- meiros reis lhe deram o titulo e privilégios especiaes de beetria,— titulo e privilégios de que se ufanam apenas 10 povoações em todo o nosso paiz! . . -1 / O novo traçado não entra, como o antigo, na povoação da Campeã; passa a cavalleiro d'ella, pelo sul, e desce logo em ziguezagues suavíssimos pelo primeiro valle abaixo, fu- gindo da serra do Marão, que atravessa ra- pidamente, deixando a grande distancia a humilde parochia e beetria da Ovelha. A antiga estrada era uma medonha se- quencia de barrancos e precipícios — em quanto que a nova estrada, feita approxima- damente em 1860 a 1870, é ampla e suave e foi servida por boas diligencias, que traba- lharam entre o Porto e Villa Real até que se 1 V. Ovelha do Marão— vol. 6.° pag. 371, col. 2.a— Villa Marim, freguezia do concelho de Mezãofrio, n'este diccionano — e Beetria no supplemento. inaugurou a linha férrea do Douro, acabando com aquellas diligencias e com as que desde 1857 trabalhavam (por vezes 3 ao mesmo tempo) entre o Porto e a Regoa, por Pena- fiel, Casaes, Amarante, Quintella, Mezãofrio e Rede K As diligencias, galeras e carros mattos acabaram com as liteiras, arrieiros e almo- creves;—os caminhos de ferro vão acabando com as diligencias— e, por seu turno, outro systema de viação aeabará com os caminhos de ferro. • Le monde marche !... Esta freguezia de Villa Cova dista de Villa Real 10 kilometros para O. N. 0. — 38 da linha férrea do Douro (estação da Regoa)— 142 do Porto— e 479 de Lisboa. O seu clima é frio e áspero;— as suas pro- ducções dominantes são cereaes, batatas a lã, pois cria bastante gado lanígero. Em dezembro de 1881 foi concedida por tempo illimitado a Maximiliano Schereck a propriedade de uma mina de chumbo, si- tuada no Valle'de Cíeio (?) n'esta freguezia. VILLA COVA e BANHO— freguezia do con- celho e comarca de Barcelos, distrieto e dio- cese de Braga, na província do Minho. Reitoria;— oragos Santa Maria e o Salva- dor,—fogos 300, — almas 1:291, — compre- hende a freguezia de Villa Cova, propria- mente dieta, e a de Salvador do Banho, sua annexa desde antes de 1840, da qual já se fallou no vol. 1." pag. 316, col. 2.a (Vide). Esta freguezia de Villa Cova em 1706 con- tava 200 fogos;— tinha por orago Santa Ma- ria,—era commenda da ordem de Christo e reitoria da apresentação da mitra, rendendo 1 Em todo o nosso paiz não ha nem houve caminho para diligencias peior do que era este! Desde Amarante até o alto de Quintella (15 kil.) — e desde a Rede até o dicto alto (outros 15 kil.) ha declives de 10 a 12 por cento, pelo que as diligencias na subida eram morosamente arrastadas por 2 juntas de bois — e na descida largavam os bois e fugiam sempre em carreira vertiginosa, desde Quin- tella até á Rede e Amarante, quando nao fi- cavam despedaçadas pelo caminho, o que succedeu muitas vezes! . . . 704 VIL VIL para o parodio 140$000 réis — e 6001000 réis para o commendador. O Portugal Sacro e Profano, publicado era 1768, diz que esla paroehia tinha como orago Nossa Senhora da Expectação,— rendia réis 150$000 e contava 173 fogos. Está situado o logar de Villa Cova 3 kilo- metros ao norte da estrada real de Espo- sende á villa de Barcellos, da qual dista 9 kilometros para 0. N. O.— 4 da margem do Cavado para N.— 10 da beiramar (foz do Ca- vado) para E.— 28 de Braga (pela linha fér- rea) para 0.— 60 do Porto e 388 de Lisboa- Passa a N. E. a estrada rêal a macadam do Porto a Valença por Barcellos e Vianna do Castello, — bem como a linha férrea do Minho. As suas producções dominantes são— vi- nho de enforcado, cereaes, e madeiras, que exporta em quantidade. Além da povoação de Villa Cova, séde da egreja matriz, comprehende esta freguezia as povoações de Samo, Xale, Mereces, Ou- teiro, Portella e Banho. Nos montes de Mereces tem uma das suas nascentes o pequeno rio Agro do Banho e outra nos montes da freguezia deS. Cláudio. É pobre no verão, mas no inverno, com as chuvas, torna- se caudaloso, trasborda e inun- da os campos marginaes. Na sua maior ex- tensão é plácido, mas em alguns sitios, por ter margens fragosas e ásperas, a sua cor- rente ó muito precipitada. Cria trutas, escallos, eiroses e panchorcas — e desagua na margem direita do Cavado i, onde chamam o Riogrande da Barca do Lago, um pouco a jusante do vau do Rio Grandv, limite da freguezia, de Géneses. 1 J. A. d'Almeida disse que desagua no Lima. Foi lapso. E, fallando*da freguezia do Banho, annexa hoje a esta de Villa Cova, disse que «tem uma ponte de pedra de dez arcos sobre o Vouga.* Confundiu a freguezia do Banho, na mar- gem direita do Cavado, com a extincta e an- tiquíssima villa do Banho, onde brotam as celebres aguas thermaes de S. Pedro do Sul, na margem esquerda do Vouga. Solatium est miseris sócios haberel. . . Esta freguezia de Villa Cova foi mosteiro de freiras benedictinas, em tempos muito remotos, e n'elle foi abbadessa no reinado de D. Diniz uma filha de Paio de Moles Cor- rêa, segundo se lê na Chorographia Portu- gueza, mas nem a Benedictina Lusitana, nem a Historia Ecclesiastica dos Arcebispos de Braga fazem menção de tal convento. Extincto o dicto convento passou esta fre guezia a ser comraenda da ordem de Christo e reitoria da mitra. Freguezias limitrophes — Perelhal, Gé- neses, Palme e Feitos, Palmeira do Faro e Villar do Monte. Templos— a egreja matriz actual,— a ma- triz velha em ruinas, — a capella publica de S. Braz — e as particulares, de S. João, no ca- sal dos Curvos, e a de Nossa Senhora, de Luiz dos Santos Portella. Em tempos remotos existiu também no monte de S. Mamede uma capella dedicada ao santo d'este nome. Edifícios brasonados — a casa nobre (em ruinas) na quinta da Espinheira, da viscon- dessa d' Azevedo. Industria local— azenhas para moagem de cereaes e uma fabrica de serrar madeira, movidas por agua. Escolas— uma ofíicial de instrueção pri- maria para o sexo masculino. VILLA COVA DE CARROS— freguezia do concelho e comarca de Paredes, districto e diocese do Porto, na província do Douro. Abbadia,— orago S. João Evangelista,— fo- gos 70— almas 295. Em 1706 já era abbadia da apresentação do mosteiro de Cêtte, com reserva, contava 66 fogos, rendia 200$000 réis e pertencia á beetria de Louredo, julgado d'Aguiar de Sousa, na antiga comarca do Porto. Em 1768 era da apresentação alternativa do Papa, da mitra e do collegio dos eremi- tas de Santo Agostinho (gracianos) de Coim- bra. Pertenceu á comarca de Penafiel até 1875, data em que se creou a comarca de Pare- des. Comprehende as aldeias seguintes : — Egreja, Cruz, Outeiro, Cavada, Cimo de Villa, Villa Meã, Corujeira, Granja, Gran- VIL VIL 705 jão, Seixo, Olho do Mouro, Cavadinha, Ri- beiro, Fermentões e as quintas ou casaes de Cima de Villa, de D. Custodia Maria de Je- sus, Ribeiro, de Luiz Coelho Leal, Granjão, de Antonio Guimarães, de Penafiel, e Fer- mentões, de D. Margarida Maria da Torre, de Braga. Freguezias limitrophes— Besteiros a E.— S. Romão de Mouriz a S. — Baltar a O. — e Vandoma a N. Dista de Paredes (séde do concelho e da comarca) 5 kilometros— 10 de Penafiel— 40 do Porto e 377 de Lisboa. Actualmente não entra n'esta freguezia es- trada alguma a macadam; deve porém atra- vessal-a uma estrada districtal, já estudada, que partindo da de Paredes a Paços de Fer- reira (do sitio do Barro Branco) a deve li- gar com a que está em construcção de Cêtte (estação do caminho de ferro do Douro) a Mouriz. As estradas a macadam que mais se ap- proximam hoje d'esta paroehia são a real, n.° 33, do Porto á Regoa, que toca em Mou- riz, — e a districtal, de Paredes a Paços de Ferreira, que toca em uma das extremida- des d'esta freguezia. Passa também a 5 kilometros de distan- cia o caminho de ferro do Douro, que tem uma estação em Paredes. O templo único d'esta paroehia é a sua egreja matriz, templo muito antigo, muito pobre e singelo, mal decorado e qua_si em ruínas, principalmente a capella-mór, tanto que o parocho já não consente que se façam n'ella festividades, mesmo porque não tem throno para exposição do Santíssimo. Ac- cresce ainda a circumstaneia de que está em sitio fundo, (a cova de que tomou o no- me) abafado e muito húmido. Total — uma vergonha e vergonha flagrante, porque, se a freguezia é pequena, tem bons proprietários e nem um parochiano mendigo. Além d'isso esta abbadia ainda hoje, mesmo depois da extineção dos dízimos, é uma das primeiras e mais ricas do bispado do Porto. Rende cerca de 900$000 réis e pôde con- siderar-se um beneficio simples, sem encar- gos ou serviço algum, porque, attenta a sua diminuta população — apenas 70 fogos — é trivial decorrer um anno inteiro sem haver n'ella 1 óbito — e por vezes em 2 e 3 annos seguidos não ha n'ella 1 casamento?! . . . O pé d'altar é pobríssimo, mas tem bons passaes, em parte já vendidos em hasta pu- blica, por ordem do governo, mas averbado o seu producto em inscripções, na forma da lei, ao3 abbades, que recebem os juros cor- respondentes ás dietas inscripções, — tendo além d'isso casa de residência muito decente com uma boa horta coutigua, etc. Houve n'esta egreja uma confraria ou ir- mandade, cuja fundação ignoramos, mas que datava de séculos e deçahiu ou se dissolveu em 1850. Tinha por padroeira Nossa Senhora da Batalha e todos os annos lhe fazia-pom- posa festa cora grande romagem. Tudo aca- bou, excepto a romagem. N'esta paroehia não ha feiras nem mer- cados, pelo que es seus habitantes procuram as feiras de Paredes (dias 1 e 18 de cada mez) —a de Baltar (dia 16) também mensal, a— dos Chãos, freguezia de Bitarães (dia 8) — e as do Cô, Freamunde e Penafiel, todas muito próximas. Não tem edifícios brasonados ousem bra- sões, dignos de especial menção, nem vestí- gios d'algum convento, posto que o Diccio- nario Chorographico de J. A. d' Almeida diz que houve aqui um mosteiro de freiras be- nedictinas! Julgamos ser lapso, pois não o encontramos mencionado em ehorographia alguma, nem no Catalogo dos Bispos do Porto, nem no Âlmanach Ecclesiastice d'esta dio- cese, nem na Benedictina Lusitana. Também nunca foi villa, mas teve diver- sos foraes, que eram os mesmos do extincto concelho ^Aguiar de Sousa, nos quaes se fazia menção d'esta paroehia como uma das que formavam aquelle termo. Foram os dictos foraes concedidos — um por D. Affonso III, em 1269,— outro por D. João I, em 1411— e outro por D. Manuel, em 1513. Provam os dictos foraes que esta pequena povoação data, pelo menos, dos principlos da nossa monarchia. 706 VIL VIL Veja-se Aguiar de Sousa, tomo 1.° pag. 39, col. 2.* Nasce nos montes d'esta freguezia um re- gato que atravessa a de Mouriz e desagua a 6 kilometros de distancia no rio Sousajunlo da estação de Cêtte, caminho de ferro do Douro- Produeções dominantes — milho, centeio' feijões, painço, linho e vinho verde enfor- cado e péssimo. Tem desde 1879 uma aula offieial de in- strucção primaria elementar para o sexo masculino. Nesta parochia não ha vestígios de forti- ficações, mas encontram-se, aliás muito im- portantes ainda, em um monte próximo, de- nominado Montanha do Muro, pertencente á freguezia de Vandoma, de que já se fallou n'este volume a pag. 199, col. l.a Alli se vêem ainda os alicerces d'um largo muro que cinge toda a explanada e cumiada do dicto monte e que defendeu e abrigou uma cidade ou povoação antiquissima. V. Vandoma, logar citado. VILLA COVA A COELHEIRA — freguezia do com-elho e comarca deCeia, districto e dio- cese da Guarda, na província da Beira Baixa. Curato, — fogos 119, — almas 520. Orago S. Mamede. Em 1708 era villa e sede de concelho da. provedoria e comarca da Guarda e do bis- pado de Coimbra; — tinha 2 juizes ordiná- rios, 3 vereadores, um procurador do con- celho, um escrivão da camará, um juiz dos orpbãos, um tabellião de notas, um alcaide e uma companhia de ordenanças, — contava ISO fogos, tinha 3 capellas publicas e era abundante de pão, vinho, frutas, gado e coe- lhos, d'onde tomou o appellido, segundo se lê na Çhorographia Portugueza. Foi dos marquezes de Gouveia, condes de Portalegre e por ultimo também duques de Aveiro, mas em seguida á medonha catas- trophe que. levou ao cadafalso no dia 13 de janeiro de 1759 aquelles duques, bem como os marquezes de Távora e os condes d'Athou- guia, sendo lhes sequestrados todos os seus bens, passou para a corôa1. 1 Vide Chão Salgadj), vol. 2.° pag. 27 í, col. l.a e seg. Em 1768 era curato da apresentação do reitor de Ceia, — pertencia ao bispado de Coimbra — contava 97 fogos e rendia para o cura 6$000 réis, além do pé d'altar. Em 1840 pertencia ao concelho de San- domil, extincto pelos decretos de 10 de fe- vereiro de 1846 e 24 d'outubro de 1855, pe- los quaes passou para o concelho e comarca de Ceia, — e, em virtude da nova circum- scripção diocesana, realisada em 1882, pas- sou da diocese de Coimbra para a da Guarda. Comprehende uma povoação única, Villa Cova, séde da freguezia, e os casaes de An- ciães, da Fraga, do Joguinho, dos Niombos, dos Valles, de Miguel Gil e do Val da Trave. As suas freguezias limitrophes são— Val- lezim,— S. Romão de Ceia,— Sandomil e Tor- rozello. Dista 6 kilometros de Ceia para S. 0., — 45 da Guarda, — 20 da estação de Nellas, na linha da Beira Alta, — 138 da cidade da Fi- gueira,—193 do Porto— e 318 de Lisboa. Teve foral dado por D. Manuel em Lisboa no dia 21 de julho de 1514, — diz a Çhoro- graphia Portugueza, ou no dia 12 do dicto mez e anno, segundo se lê em Franklim. Lin. de Foraes Novos da Beira,Q. 44, col. 2.» Veja-se na Gav. 6, Maço 1.° o n.° 239, onde se menciona este foral. A egreja matriz é ura templo venerando pela sua muita antiguidade. Tem a porta principal em ogiva, altar mór, 2 lateraes e baptistério em mau estado, apesar das re- parações que n'elle se fizeram em 1876, por oeeasião da visita do benemérito bispo-eonde de Coimbra, o ex.mo e rev.mo sr. D. Manuel Corrêa de Basto Pina, incansável em visitar a sua diocese. A egreja está fóra da povoação, 60 metros ao sul, e junto d'ella o cemitério da paro- chia, mandado construir em 1831, como se lê em uma inscripção gravada entre aporta lateral é a da sacristia da mesma egreja. Á entrada dò adro se ergue uma laia so- berba, de magestoso porte e grande altura. No seu género é um dos mais formosos exem- plares que se encontram em todo o nosso paiz. VIL VIL 707 Tem 4 metros de circumferencia no tron- co?!... Na egreja matriz se celebram as missas conventuaes, no? dias sanctifieados; as ou- tras, nos dias de semana, eelebram-se em uma capella que ha no meio da povoação,— capella publica muito antiga, onde, para maior commodidade, se conserva o Santís- simo Sacramento. Foi reparada em 1862, mas apezar d'isso demanda obras urgente- mente, pois ameaça esboroar-se com o peso dos séculos. Tem um campanário com dous sinos e relógio, comprado em 1875 a expen- sas do povo. Ao norte e contigua á povoação, existe ou- tra capella; também publica e muito antiga, com a invocação de S. Pedro e também muito arruinada. Tem altar-mór, dous lateraes, uma irmandade com o titulo do orago e es- tatutos approvados ha mais de 400 annosl... Conta actualmente 50 confrades e celebra todos os annos um anniversario com jubileu e muitas indulgências pelas almas dos ir- mãos falleeidos. Ha também instituída n'esla capella a con- fraria do Santíssimo Sacramento, adminis- trada por tres mordomos, que todos os ân- uos, no 1.° domiogo dp mez de janeiro, man- dam celebrar uma festa, para a qual ajunta de parochia, desde tempo immemorial, dá 6:000 réis e o povo varias esmolas em di- nheiro e em géneros. É denominada as ja- neiras. Os apontamentos que se dignou enviar-me o digno administrador d'este concelho não faltam da 3,a capella mencionada na Choro- graphia Portugueza. Provavelmente já não existe. No centro d'esta povoação se ergue um vasto e formoso edifício de architectura mo- derna, denominado as obras *. Foi mandado construir no 2.° quartel d'este século pelo 1 Assim se denomina também o palácio da viscondessa de Vallongo, na villa de Geia, mandado fazer pelo 2.° bispo de Pinhel, D. José Pinto de Mendonça Arraes. V. Pinhel e Cê a. dr. José Pinto Fontes, lente de prima na nossa Universidade, e é hoje da ex.raa sr.» D. Maria Pinto Clementina de Mello, sobrinha do fundador. Possue também a mesma sr.a outra casa muito notável pelas suas tradições históri- cas e remotissima antiguidade— é o paço e a cadeia d'este extincto concelho. Em frente dos dictos paços se vê também ainda hoje o velho pelourinho que os habi- tantes d'esta povoação (honra lhes seja!) con- servam como padrão dos seus antigos foros. Esta povoação tem apenas uma rua e tres largos— o da Pr aça, onde se ergue o vetusto pelourinho,— o da Fonte— e o do Rocio. Cerca de 300 metros ao sul d'esta povoa- ção corre o Alva, que vem da serra da Es- trella e, depois de receber como tributarias as ribeiras da Caniça e de Vallezim, banha os férteis, campos d'esta povoação de Villa Cova, os de Sandomil e Penalva d' Alva, atra- vessa a histórica ponte da Murcella, onde as águias francezas foram bem feridas, e des- agua no Mondego, um pouco a jusante da Raiva, tendo nos limite?, d'esta parochia uma antiquissima ponte de granito com 2 arcos ogivaes, ligada a esta povoação por uma bella calçada, feita em 1872. Tem esta freguezia no Alva 10 rodas de moinhos de moer pão, que fornecem fari- nha para esta parochia e para as de Tor- rozello, S. Thiago de Ceia e outras muito mais distantes. Uma das coisas mais notáveis que ha n'esta freguezia e que muito depõe a favor da íl- lustração e bom critério dos seus habitantes é o grande açude ou levada que rega e fér- tilisa os seus montes e campos, duplicando ou triplicando o valor que tinham anterior- mente e que prova o grande partido que ou- tras muitas parochias do nosso paiz podiam e deviam tirar dos rios que o cruzam em differentes direcções. O dicto açude parte do Alva, do sitio dos Pisões Velhos, junto da ponte de Jogaes, — tem de percurso mais de 5 kilometros — foi construído em 1815 — e custou 3:2001000 réis, summa importante n'aquelle tempo, no- meadamente para estes povos sertanejos. 708 VIL VIL Tem um procurador, um conservador e um -repartidor, sendo este ultimo de eleição popular e encarregado da distribuição das aguas no verão, por todos os proprietários d'esta parochia, desde o dia de S. Pedro, data em que é sempre eleito, até o dia 8 de outu- bro de cada anno. Que lindíssima instituição! Que exemplo tão digno de imitar-se!. . As producções principaes d'esta parochia são — milho, feijões, centeio, batatas, casta- nhas, algum vinho, azeite, fructa abundante, variada e saborosa, lã e bom queijo da Serra da Estrella, pois também cria muito gado lanígero. Entre as pessoas notáveis que esta paro- chia produziu n este século, são dignos de menção — o dr. José Pinto Fontes, lente da Universidade, — seu irmão Joaquim Pinto Fontes, capitão de mar e guerra,— os ca- pitães de infanteria Antonio Joaquim Botto Machado e Manuel José Ferreira— e o cirur- gião-mór do regimento de Castello de Vide, Francisco de Brito Freire, — todos já falle- cidos. Cerca de 1:500 metros a N. O. da povoa- ção de Villa Cova ha jazigos de estanho» ainda por explorar. Esta freguezia está em um enorme covão, formado por elevadas montanhas, ante-mu- ral da grande serra da Estrella, que o cir- cumdam a leste e sul e das quaes muito na- turalmente lhe proveiu o nome de Cova, as- sim como lhe provém a amenidade relativa do seu clima e a fertilidade dos seus cam- pos. Junto da povoação, para N. E. ha um grande fojo, denominado barroca. Não se pôde atravessar com um tiro de pedra, — tem de profundidade cerca de 40 metros— e 1 Na freguezia de Alvarenga, hoje do con- celho e comarca d Arouca, ha também um açude muito similhante e muito notável, mas não tem a organisação d'este. V. Alvarenga n'este diccionario e no sup- plemento, onde ampliaremos consideravel- mente aquelle artigo e daremos noticia do mencionado açude. faz eriçar os cabellos a quem d'elle se apro- ximai. . . Esta freguezia não tem aula alguma offi- cial, nem sequer d'instrucção primaria ele- mentar. O seu ultimo professor foi o vene- rando padre Antonio Lobo Pinto Monteiro, fallecido em 1860 com 73 annos de idade e 43 de serviçol . . . Cerca de 200 metros a N. E. da povoação appareeem claros vestígios d'antigas con- strucções, entre elles muitos tijolos de grande espessura. N'esta freguezia não ha, como em outras das abas da serra da Estrella, fabricas de lanifícios, regularmente montadas. Tem so- mente um pisão e alguns obr adores parti- culares para buréis e saragoças. VILLA COVA A COELHEIRA —freguezia do antigo concelho de Fragoas, hoje Villa Nova do Paiva, comarca de Castro d'Ayre, districto de Vizeu, bispado de Lamego, pro- víncia da Beira Alta. Abbadia,— orago S. João Baptista,— fogos 418,— almas 1690— segundo rezam os apon- tamentos que se dignou enviar-me o seu rev. paroeho, mas o censo de 1878 deU-lhe 352 fogos e 1:284 habitantes. A differença é considerável! . . . Em 1708 contava 300 fogos e eravigaira- ria da apresentação do commendador da or- dem de Malta, pois tinha aqui esta ordem uma commenda que comprehendia também a freguezia do Touro e era orçada em réis i : 200^000 de rendimento.— pagava deres- ponsão 88|800 réis— e de pensão magistral 94$000 réis. Responsão, portuguez anti- go, significava contribuição, subsidio, cóta, fintã, tributo e toda a qualidade de desembol- so que se fazia por obrigação e com que o vassallo, emphi- teuta ou colono respondia ao soberano ou directo senhorio. E dem em cada amo 2:500 libras de Responsom ao con- vento. Doe. de Thomar, de 1321. A Historia Ecclesiastica da cidade e bis- pado de Lamego deu-lhe, pelos annos de VIL VIL 709 1720, apenas 167 fogos e 634 habitantes— e o Portugal Sacro e Profano deu-lhe em 1768 apenas 180 fogos e 300$000 réis de rendi- mento. Custa-nos pois a crer que em 1708, segundo diz a Chorographia Portugueza, ti- vesse 300 fogos t Comprehende 5 aldeias e quintas (—diz o seu rev. abbade nos apontamentos que so dignou enviar-me) e não as menciona. A Chorographia Moderna menciona apenas as quintas de Carvalha, Mieiras e Malhada. As suas freguezias limitrophes são — Pen- diihe, Touro, Fragoas, Villa Nova do Paiva1, e o próprio rio Paiva. Dista 10 kilometros da nova séde do con- celho (a tal freguezia das Barrellas, chris- mada em Villa Nova do Paiva) para N. O., —15 de Castro d'Ayre para E. S. E.,— 25 de Lamego e de Vizeu — 141 do Porto — e 478 de Lisboa. Não tem estrada alguma a macadam; deve porém passar perto a districtal de Vizeu a Lamego, em via de construcção. A linha férrea mais próxima é a do Douro (estação da Regoa) da qual dista 37 kilome- tros. A egreja matriz é um templo pequeno e singelo, mas bem conservado. Tem altar- mór e 2 lateraes, — um de S. João Baptista, outro do Senhor do Calvário. ' Foi antigamente villa, pertencente á co- marca e provedoria de Lamego; nada porém resta da casa da camará, da cadeia e do pe- lourinho, por lerem sido vendidos — diz o meu informador. Banha esta freguezia um ribeiro que des- agua na margem direita do Paiva a 3 kilo- metros de distancia. Tem uma ponte e al- guns moinhos que moem pão. Producções dominantes — milho, trigo, centeio, batatas e lã, pois também cria al- gum gado lanígero e vaccum. 1 Esta freguezia denominou-se sempre Barrellas, mas, quando em 1883 foi arvo- rada em séde do conceiho de Fragoas, foi - lhe dado ao mesmo tempo o nome de Villa Nova do Paiva, por ser mais bonito. Também produz algum vinho de enforca- do, muito verde e péssimo ! . . . Foi natural d'esta freguezia o barão de Villa Cova, Joãcr Antonio d'AImeida. Tem uma aula official de instrucção pri- maria elementar para o sexo masculino. Teve n'esta paroehia uma quinta o rege- dor das justiças, Ayres Pinto de Mendonça Coutinho, do qual passou a seu filho Manuel de Mendonça Cardoso Figueira d'A-zevedo — d'este a seu neto Ayres Pinto de Mendonça e d'este a uma sua bisneta, que a vendeu. A povoação de Villa Cova está em terreno alto;— o seu clima é áspero e frio; — as suas casas são de humilde aspecto e quasi todas cobertas de colmo e lageas. É cercada por altas serras, a que no verão lançam fogo para afugentarem os lobos e te- rem melhores pastagens para o gado no anno seguinte. No meio da villa ha um pequeno largo, onde está a egreja matriz com a sua galilé na frente e guardas de pedra que servem de assentos, tendo do lado da epistola um cam- panário com dous sinos. Passa n'esta povoação a antiga e escabrosa estrada de Vizeu para Lamego por Côtta (Sanguinhedo) Sobrado de Paiva, Villa Cova a Coelheira, Tarouca e Britiande. Ha n'esta freguezia bastantes sorveiras, que dão' sorvas, espécie de peras bravas, grande mimo para os pobres serranos, — e sovereiros, de que fazem muito carvão, bem como de urze, arbusto espontâneo e muito abundante nos montes d'este concelho. É o fabrico do carvão a principal indus- tria d'esta paroehia e costumam ir vendel-o á cidade de Lamego, distante 25 kilometros, em carros tirados por vaccas, — o de sobro para as brazeiras— e o de urze para os fer- reiros. N'esta freguezia e nas limitrophes, tanto os homens como as mulheres costumam ves- tir-se de burel muito áspero e grosseiro, de que fazem capotes que, pela sua singeleza e barateza, formam a antithese dos denomina- dos em Traz-os -Montes honras de Miranda. 03 de Miranda, também de burel, mas muito mais grosso e mais caro, são uma es- 710 VIL VIL pecie de gabões com bandas, bolsos e capuz luxuosamente bordados a retalho, custando por vezes muito mais o feitio do que a pró- pria peça — emquanto qu£ os capotes dos serranos d'esta freguezia de Villa Cova e das litnitrophes são do burel mais barato e singelos quanto possível, — sem bolsos, nem forro, nem ornato algum. Reduzem-se a uma espécie de pano de guarda-chuvasem arma- ção, terminando a parte superior em um pe- queno capuz collado na cabeça nua, d'onde muito desgraciosamente pendem, como de um cabide 1 Os homens usam calças e calções do mesmo burel e no inverno costumam revestir a ex- tremidade inferior com polainas grosseiras do mesmo estofo ou de junco fendido e en- trançado como o das caroças ou palhoças, muito usadas também pela gente do campo na Beira, no Minho^ em Traz-os-montes para abrigo da chuva, sendo Penafiel a po- voação do nosso paiz em que mais aperfei- çoada se acha aquella industria. Dá- se com as palhoças o mesmo que se dá com os capotes de burel. Os de Miranda, sendo bem feitos, custam 20 a 30 mil réis,— emquanto que os do con- celho de Fragoas custam 2 a 3 mil réis. As- sim as taes palhoças na Beira e em outros pontos do nosso paiz custam 2 a 3 tostões e em Penafiel chegam a custar 2 a 3 mil réis, — mas são verdadeiras obras cTarte, e to- das as outras singelíssimas. Voltando á freguezia de Villa Cova, — as mulheres usam também saias de burel e meias de lã sem pés sobre as tibias, para as não ferir a aspereza do burel das saias; — e tanto 03 homens como as mulheres calçam tamancos muito grossos, ferrados com enor- mes pregos forjados ad hoc e revestidos na frente com uma chapa (biqueira) de ferro, forjada ad hoc também. Formam igualmente os taes tamancos uma perfeita antithese com os de Penafiel,— aquelles grosseiros, lisos, pesados e ferra- dos como aríetes, — estes muitos leves, ele- gantes., bordados e ornamentados com todo o luxo, hoje imitados perfeitamente pelos artistas de Braga e do Porto, ondetêem lar- go consumo. VILLA COVA DO COVELLO— freguezia do concelho de Penalva do Castello, comarca de Fornos d'Algodres, districto e diocesse de Viseu, na província da Beira Alta. Curato — fogos ioO,— almas 612. Orago Nossa Senhora da Expectação ou da Esperança, como diz o seu rev. parocho. Em 1768 contava apenas 91 fogos,— era da apresentação do abbade do Castello de Penalva e rendia 40iS000 réis para o cura, incluindo o pé d'altar. Esta parochia é formada por uma povoa- ção única; apenas tem fóra d'ella o casal do Rio Carapito. Demora na margem esquerda do rio Dão, do qual dista 3 kilometros para S. E.— 10 de Penalva, séde do concelho para leste, — outros 10 de Fornos d' Algodres, séde da co- marca, para N. -O.,— 13 da estação de For- nos, na linha da Beira Alia,— 40 de Viseu. —221 do Porto— e 3i6 de Lisboa. É banhada pelo rio Carapito que passa a distancia de 1 kilometro ao sul e desagua na margem esquerda do rio Dão, a distancia de 3, bem como este ná margem direita do Mondego. Em 1708 era do mesmo concelho de Pe- nalva do Castello, mas da comarca de Vi- seu, provedoria da Guarda — e antes da creação da comarca de Fornos d' Algodres pertenceu á comarca de Mangualde. As suas freguezias limitrophes são — Cas- tello de Penalva, Mareco e Antas. A egreja parochial é de modestas propor- ções, mas decente e bm\ conservada. Tem apenas uma capella publica da in- vocação de Santo Antonio. Producções dominantes— milho, centeio, batatas, vinho e castanhas. Tem uma escola de instiucção primaria elementar para o sexo masculino. Ha n'esta freguezia uma industria impor- tante, privativa d'ellá e única,— é o fabrico de variados artigos de fêno, barça 1 ou bar- 1 No Grande Diccionario Portuguez, de Fr. Domingos Vieira se encontra o seguinte: 'Barça, s. f. O mesmo que Brasa ou Bal- sa; espécie de palham com que se forram VIL VIL 711 cejo, a que dão o nome de. b racejo,— uma espécie d'herva com que fazem esteiras para forrar templos e salas,— capachos, ceiras para azenhas ou moinhos d'azeite, ceirões para cavalgaduras, capas ou cobertas para garrafões e garrafas, etc. Sào estes artigos exportados em grande quantidade para vários pontos d'esta provín- cia e da de Traz-os-Montes e mesmo para o Porto, Coimbra e Lisboa. Na dieta industria se oceupam quasi to- dos os habitantes d'esta parochia no inverno e mesmo no verão, em todo o tempo que lhes sobra dos trabalhos da agricultura. Representa a dieta industria muitos con- tos de réis e não ha nas circumvisinhanças outra povoação que a explore. VILLA COVA DA LIXA— freguezia do con- celho e comarca de Felgueiras, districto e diocese do Porto, na província do Douro. . Reitoria,— orago S. Salvador, — fogos 320 —almas 1:303. Em 1706 pertencia ao concelho de Fel- gueiras e á comarca e provedoria de Gui- marães, arcebispado de Braga; — tinl\a 120 fogos ;— era reitoria da apresentação dos ar- cebispos e commenda da ordem deChristo;— rendia para o parocho 120$000 réis e para o commendador 750$000 réis. Em 1768 contava 250 fogos e rendia réis 150^000 para o parocho. Também foi algum ttmpo apresentada al- ternativamente pelo papa, pelo rei e pelos arcebispos. Em virtude da ultima cireumscripção diocesana passou para a diocese do Porto, desde 14 de setembro de 1882, — e, antes da creação da comarca de Felgueiras, pertencia ao concelho e comarca de Guimarães. Gomprehende as povoações ou aldeias se- guintes .-—Monte, Quebrada, Assento, Quin- tella, Souto, Boa Vista, Espenca, Tojal, Ca- os vasos de vidro. Capa de vimes, própria para louça. Citado por Fr. Marcos de Lis- boa, Fernão M. Pinto, Couto e Franco Bar- reto. tBarceiro, s. m. Que faz Barças ou cestos de vime que envolvem garrafões ou quaes- quer outros vasos de vidro, para que não quebrem. » sarias, Ferreira, Traz-Cova, Picoto, Campo, Campo da Presa, Barreiros, Passos, Costa, Campello, Arraido, Eira Vedra e Lixa, se- gundo se lê nos apontamentos que se dignou enviar-me o digno administrador do conce- lho, mas a Chorographia Moderna diz que pertence a esta parochia apenas metade da povoação da Lixa, quasi contigua á egreja. Compreheade também os casaes de La- mas, Gondariz, Assento, Ribeira, Padraços, Loureiro, e Sabariz— e as quintas ou habi- tações isoladas de Torre, Villa, Lordello, Padroucellos, Logarinho, Quinta, Estrada e Teixeira. As suas freguezias limilrophes são— Cara- mos, Borba de Godim, Refontoura, Macieira da Lixa, Santão, Figueiró, Freixo e Ayrães. Dista 7 kilometros de Margaride, séde do concelho,— 14 da estação de Cahide, na li- nha férrea do Douro,— 61 do Porto— e 398 de Lisboa. Atravessam esta freguezia a estrada dis- trictal a macadam, n.° 27, de Ponte do Lima á Regoa, e a real d'Amarante ao Porto. A egreja matriz é um templo modesto, mas decente, edificado em 1719 e muito bem tractado. Ha n'esta freguezia tres capellas publicas —uma da Senhora do Desterro, outra de Santo Antonio e outra de S. Roque,— e uma particular, na Casa da Torre, — todas bem conservadas e. a matriz e a capella de Santo Antonio muito asseadas. As festas principaes que hoje se celebram n'esta parochia são a do Santíssimo Sacra- mento, na egreja matriz.— e a de Nossa Se- nhora do Desterro na capella da sua invoca- ção, na l.a segunda feira de setembro com arraial, romaria e grande feira, — a mais im- portante do concelho. Ha também n'esta freguezia 2 feiras men- saes na povoação da Lixa, uma na l.a se- gunda feira de cada mez, outra no dia 18— e todas as semanas dous mercados de ce- reaes, também muito importantes, nas ter- ças e sextas feiras, na mesma povoação da Lixa. Ha n 'esta freguezia um edifício brasona- do. É a Casa da Torre, pertencente ao ba- 712 VIL VIL rão da Torre de Villa Cova da Lixa, Anto- nio de Magalhães Menezes e Lencastre. No supplemento a este artigo daremos a genealogia de s. ex.a A rua principal d'esta parochia é a estra- da-rua da Lixa. Tem mais de 500 metros de comprimento e um largo espaçoso. Produeções dominantes — milho, centeio* feijões, batatas e vinho verde. Em 3 d'abril de 1834 feriu-se aqui, no monte de Nossa Senhora da Victoria, uma batalha importante, entre as tropas liberaes sob o cominando do general Torres e as tropas realistas eommandadas pelo general José Cardoso, retirando estas com grandes perdas. Tem esta parochia uma eschola offlcial de instrueção primaria elementar para o sexo feminino— e uma casa de pasto, ou hospe- daria, na povoação da Lixa, denominada Hospedaria da Franqueira. Houve n'esta freguezia, em tempos muito remotos, um convento de freiras benedieti- nas, que passou a ser commenda da ordem de Christo; 1 ignora-se porem a data da sua fundação e extincção. A Benedictina Lusitana (Livro 2.° cap. 3.° pag. 90) apenas diz o seguinte : «Já que estamos nos contornos d'Ama- rante, não sayamos d'elles sem primeiro fa- zermos menção de dous Mosteyros de Mon- jas Bentas, que n'aquellas partes florecerão, dos quaes melhor sabemos o fim que tive- ram, do que o principio que a devoção dos fieis lhes deu. «O primeiro foi o do Salvador ou de Santo André de Villa Cova, posto perto do de To- lões, 2 de que temos tratado no capitulo an- tecedente. As religiosas d'elle viveram em grande observância, e santidade, e a prova d'isto é chamarem -se vulgarmente padri- 1 D. João V a deu ao marquez de Penal- va em duas vidas. 2 Santo André de Tellões, freguezia do concelho d'Amarante. Em todo o nosso paiz não ha freguezia al- guma denominada Tolões. nhãs da terra, porquanto os moradores, e visinhos d'ellas, nas preces e orações d'a- quellas religiosas achavão o remédio certo de seus trabalhos, e da necessidade que ti- nhão de sol ou chuva. «Que o dito mosteiro fosse de S. Bento, consta dos Registros antigos de Braga. De prezente he commenda, com suas annexas,» O convento de Tellões foi duplex (de fra- des e freiras)— primeiramente da ordem be- nedictina e depois de cónegos regrantes (cruzios). V. Tellões, vol. 9.° pag. 533, col. 1.» VILLA COVA DA MORREIRA — freguezia do concelho, comarca, distrieto e diocese de Braga. V. Morreíra, vol. 5.° pag. 550, col. l.« on- de se descreveu esta freguezia. VILLA COVA DO PERRINHO — fregue- zia do concelho de Macieira de Cambra, co- marca d'01iveira d' Azeméis, distrieto d'A- veiro, diocese do Porto, na província do Douro. Priorado. Orago S. João Baptista,— fogos 51,— almas 212. Em 1708, segundo se lê na Chorographia Portugueza, pertencia ao termo da villa da Bemposta, comarca de Esgueira, tendo o ti- tulo de Villa Cova do Portinho, era curato annexo á freguezia de Macieira de Cambra e contava 200 fogos, o que nos parece erro de cifra. Talvez quizesse dizer 20 fogos, pois ainda hoje conta apenas 51 — e n'aquelle tempo era uma freguezia tão pouco impor- tante que estava annexada a outra. O Por- tugal Sacro e Profano nem a mencionai . . . Também já esteve annexada á freguezia de S. Salvador de Roge e pertenceu á comar- ca d' Arouca. Em 1882, data da nova cireumscripção diocesana, pertencia ao bispado d'Aveiro. Comprehende ires povoações, quasi jun- tas,—Fundo d'Altleia, Meio do Logar e Cimo do Logar. Fregueziaslimitrophes— Villa Chã, no nas- cente, — Macieira de Cambra, ao norte,— Chave e Carregosa, ao poente. Dista 5 kilometros de Macieira de Cam- bra, séde do concelho,— 18 de Oliveira d'Aze- VIL méis— 37 d'Aveiro— 39 do Porto— 310 de Lisboa— e 29 da estação d'Ovar, que é a mais próxima, na linha férrea do norte. As distancias com relação ao Porto e Aveiro são contadas pela estrada real de Oliveira d'Azemeis ao Porto e pela dis- trictal de Aveiro a Oliveira d'Azemeis. Emquanto a templos tem apenas a egreja paroehial, bastante antiga, mas pequena, sin- gela e pobre. Banha esta freguezia um ribeiro que corre de N. a S. e desagua no rio Trancoso, na freguezia de villa Chã, Não tem fabricas nem pontes, mas move alguns moinhos. Producções dominantes— cereaes e vinho verde. Também cria algum gado laginero nas serras ou montes denominados do Perrinho, que nada offerecem de notável. Ao sr. dr. José Gome3 d'Almeida, digno administrador do concelho de Cambra, agra- deço os apontamentos que se dignou enviar- me, por intermédio do sr. governador civil d'Aveiro, a pedido do sr. visconde de Gue- des Teixeira, digno governador civil d'este districto do Porto. VILLA COVA DE SUB-AVÓ— freguezia e villa extincta dò concelho e comarca d'Ar- ganil, districto e diocese de Coimbra, na pro- víncia do Douro. Priorado. Orago— Nossa Senhora da Natividade,— fogos 314,— almas 1380. Em 1708, segundo se lê na Chorographia Portugueza, era villa e concelho da comarca de Viseu, provedoria da Guarda e priorado cora 250 fogos, 1 pertencente á diocese de Coimbra, cujos bispos eram donatários d'es« te concelho, por ser parte integrante do con- dado d' Arganil. Veja-se esta palavra no vol. l.° pag. 238— M— col. 2.a Tinha esta villa 1 juiz ordinário, 2 verea- 1 O Portugal Sacro e Profano, eseripto 60 annos depois (1768) da-lhe apenas 195 fo- gos t .. . Diz mais— que era da apresentação da mitra e que rendia trezentos mil réis. VIL 713 dores, 1 procurador do concelho, 1 escrivão da camará, 3 do judicial, notas e órfãos e urna companhia de ordenanças. Como recordação do tempo em que foi villa e séde de concelho, ainda conserva na praça o seu antigo pelourinho. A casa da camará e da cadeia foi vendida e é boje pro- priedade particular, pertencente a Antonio Maria Madeira. Esta parochia em 1840 pertencia ao con- celho de Coja, extincto pelo decreto de 31 de dezembro de 1853, pelo qual passou para o de Arganil. Está nas faldas da Serra da Estrella, na sua pendente N. O., a juzante da extincta e antiquíssima villa e cone"elhod'Avô, pelo que se denominou Villa Cova de Sub-Avô, para se distinguir das muitas freguezias que ha no nosso paiz, denominadas Villa Cova. Não sabemos se teve foral, posto que Fran- klin menciona um, dado por D. Manuel, em 22 de setembro de 1544, a Villa Cova, da província da Beira. Tanto pode referir-se a esta como a outra qualquer das villas que ao tempo existiam na província da Beira com o mesmo nome de Villa Cova, e só pela lei- tura do dicto foral poderá resolver-se a ques- tão. Encontra-se elle na Torre do Tombo, no Liv. de Foraes Novos da Beira, fl. 44, col. 2.a Veja-se na Gav. 6, Maço t.° o n.° 239, on- de menciona o dicto foral. Esta freguezia comprehende as aldeias ou povoações seguintes:— Vinhó, Barril e Villa Cova, séde da egreja matriz;— os casaes de S. João e da Ladeira — e as quintas de — Fon- te Espinho, Candosa, Figueira do Ouriço, Casal, S. Miguel, Joaninho ou Dejouninho, e Ortigal. As suas freguezias limitrophes são— Avô a N. E.— Coja a S. O. Villa Pouca da Beira a N.— e Cerdeira a S. Está na margem esquerda do Alva, d'onde dista cerca de 200 metros,— 18 kilometros d'Arganil, 25 da linha férrea da Beira, 44 de Coimbra,— 163 do Porto— e 262 de Lisboa. É atravessada por uma estrada a maca- dam em via de construeção e passa a distan- cia de 7 kilometros a estrada real de Coim- 714 VIL « bra á Guarda, pela ponte da Murcella, Gal- lises e Celorico da Beira. Tem dous magnificcs templos na villa— a egreja matriz e a do extincto convento dos capuchos, hoje da Misericórdia— 2 capellas publicas— a capella (antiga egreja) da Mise- ricórdia com a casa do despacho e a de S. Miguel. Fóra da villa tem as capella3 seguin- tes:—na povoação do Barril 3 publicas e 1 particular, pertencente a José Freire de Car- valho,— i publica em Vinhó,— outra publica no casal de S. João, e outra, também publica no sitio de S* João d'Alqueidão. Total— 2 egrejas, 8 capellas publicas e i particular, todas bem conservadas e bem tractadas. ' A capella d'Alqueidão foi em tempos re- motos a egreja matriz, como assevera una- nime a tradição local. Ainda hoje aprezenta vestígios de ter sido mais ampla. Ha n'esta parochia duas festas com grande romagem— a de S. João d'Alqueidão, no dia 24 de junho— e a Santo Antão, em Vinhó, na segunda feira immediata ao domingo de Paschoa. Tem ires edifícios brasonados,- -um do conde da Guarda, residente em Lisboa— ou- tro do digno, par do reino Miguel Osorio Ca- bral, residente na Quinta das Lagrimas, em Coimbra, — e outro que foi de Francisco de Brito da Costa, hoje pertencente a Antonio Mendes Ferrão d'esta villa. Dos edifícios não brasonados os que mais avultam hoje n'esta parochia são os seguin- tes:—o convento, pertencente ao dr. Ale- xandre Cupertino Castello Branco,— a Casa da Praça, pertencente ao mesmo senhor, — a do rev. Esequiel de Moura Velloso,— a do rev. José Nunes d'01iveira— e a de José Freire de Carvalho Lopo d'Albuquerque, no Barril. Houve n'esta parochia um convento de frades antoninos (capuchos) com cerca e malta. Foi exlincto em 1834; — pertence, co- mo já dissemos, ao dr. Alexandre Cupertino — e está bem conservado. A egreja foi dada pelo governo á Misericórdia e está muito bem tractada e bem conservada também. Esta villa é atravessada por um ribeiro confluente do Alva, que vem da Serra da VIL Estrella e desagua no Mondego um pouco a jusante do porto da Raiva, tendo junlo d'es- ta villa uma soberba ponte de pedra (grani- to) com quatro arcos. Atravessa lambem a povoação de Vinhó e o casal de S. João, d'esla freguezia, uma ribeira que desagua lambem no Alva em Coja, a distancia de 5 kilometros. Ha n'esta freguezia dous lagares ou moi- nhos para moer azeitona e fabricar azeite, — e oito moinhos ou azenhas no Alva para moer cereaes. Producções dominantes — milho, trigo, centeio, feijões, vinho, castanhas, azeite, e fructas variadas, muito saborosas, nomeada- mente melões. Posto que está contigua ao Alva, não tem fabricas de lanifícios, sendo para lamentar que até hoje (1884) não seguisse o exemplo de tantas outras freguezias das abas da Ser- ra da Estrella, nomeadamente da Covilhã, Gouvêa e Cea. A sua única industria reduz-se ao fabrico de canastras, feitas de vergas, castanheiro, que exporta em grande quantidade para to- do o districto. Entre as pessoas notáveis que esta paro- chia tem produzido, avulta o desembarga- dor Luiz da Costa Faria que, depois de vol- tar da índia onde foi governador, mandou edificar á sua custa o convento d'esta yilla, —deu para a reedificação da egreja matriz, alem de muitas madeiras, seiscentos mil réis em dinheiro;— instituiu na matriz a irman- dade das Almas (hoje incorporada na da Mi- sericórdia)—dotando-a com um conto e seis- centos mil réis em dinheiro e com ricos pa- ramentos e damascos de seda da índia— e instituiu um morgado em Oliveira do Con- de, impondo ao seu administrador o ónus de dar á dieta irmandade a quantia de quarenta mil réis annualmente,— ónus que foi religio- samente cumprido até á extineção dos vín- culos. Falleeeu n'esta villa tão benemérito cida- dão, no dia 24 d'abril de 1730. D'elle se po- de dizer, sem lisonja : Semper honor, nomenque tuum laudesque manebunt / . . . VIL VIL 715 Foi também natural (Testa freguezia o rev. bacharel formado em cânones, Silvestre Freire de Faria e Costa, vigário geral d'A- veiro e depois muitos annos advogado n'esta villa. Juntou grande fortuna em dinheiro, mas todo lhe foi roubado por differentes no ul- timo quartel da vida. Também cabe a esta parochia a honra de ser a terra natal do conselheiro José Cuper- tino da Fonseca e Brito, juiz de fóra, corre- gedor, desembargador honorário, secretario geral do governo civil de Coimbra e depu- tado ás cortes constituintes de 1826. Tem esta freguezia uma escola official do instrucção primaria elementar para o sexo masculino e uma irmandade de Misericórdia muito antiga que, apesar de haver perdido grande parte das suas rendas d'outrora, ainda presta relevantes serviços á pobreza. N'esta fregupzia, bem como em todo este concelho e nos limitrophes, praticaram mui; tas violências e extorsões, pelo meiado d'este século, os celebres assassinos e salteadores Caca, e Brandões, de Midões, que foram o terror d'estes povos, muitos annos. Incen- diaram muitas casas e roubaram e mataram muitas pessoas, mas íalis viía — finis Uai. . . O Caca foi queimado vivo com um bando dos seus em um lagar, pelo povo enfurecido e que tentava prendel os. Dos últimos Bran- dões,— Joãoe Antonio— o 1.° foi degredado perpetuamente para a Africa e ali assassi- nado,—o 2 o vive homisiado, ha muitos an- nos, coberto de vergonha e de remorsos e tremendo com a lembrança de que o espera a mesma sorte do irmão !. . VILLA COVA DE VEZ D'AVIZ— freguezia do concelho e comarea de Penafiel, districto e diocese do Porto, na província do Douro. Abbadía,— orago S. Romão,— fogos 135, — almas 542. Em 1706 pertencia ao termo da honra e beetria de Gallegos, comarca, provedoria e diocese do Porto,— era da apresentação da 1 Veja-se n'este vol. 10.° o art. Vide, fre- guezia do concelho de Céa, pag. 652, col. 2." — e os artigos citados na respectiva nota. mitra tendo sido anteriormente da apresen- tação da casa da Calçada, (Peixotos) — ren- dia 2SOJ0OO réis e contava apenas 72 fogos. Em 1768 era outra vez da apresentação da casa dos Peixotos,— rendia 450$000 réis — e contava 82 fogos. Ern 1614 era da apresentação do collegio d'Evora,— depois passou para a Universida- de,— e em 1820 era alternativa da Universi- dade e dos Peixotos de Guimarães. Comprehende as aldeias ou povoações se- guintes:—Paço, Quintella, Cruzes, Senhora, Ribella, Roubins, Pinheiro, Riba Boa, Ven- tozella, Corcovido, Outeiro, Outeiral, Barral Campo o Áspero. Não tem quintas ou casaes que mereçam especial menção. Freguezias limitrophes— Perozello, Duas Egrejas, Villa Boa de Quires, Aragão e Lu- zim. A povoação de Villa Cova está na margem direita do Tâmega, do qual dista cerca de 4 kilometros,— 9 de Penafiel,— 11 da linha fér- rea do Douro (estação de Penafiel)— 50 do Porto— e 387 de Lisboa. Atravessa esfa freguezia ma estrada mu- nicipal a macadam de Penafiel pela aldeia de Perafita, da parochia de Duas Egrejas, — Ribaçaes, aldeia da freguezia de Abragão, — Villa Boa do Bispo e Feira Nova, onde eu • tronca na estrada districtal de Basto a En- tre os Rios ou Santa Clara do Torrão, na margem direita do Douro, passando esta ul- tima estrada em Amarante e no Marco de Canavezes. Além da egreja matriz, que é um vasto templo e muito bem conservado, tem uma capella particular em Riba Boa, que foi ca- beça de um morgado dos Sou3as Lopes,— e uma capella publica, de Nossa Senhora do Rosario, anterior a 1500, mas por vezes re- edificada, conservando um precioso retábulo de talha dourada antiga. É administrada por uma irmandade própria,— tem lusida festa annual no mez d'agosto— e missa nos do- mingos e dias santos, em cumprimento d'um legado de José da Silva Leão, capitalista na- tural d'esta parochia, tendo emigrado para o império do Brasil, onde adquiriu boa for- tuna. 716 VIL VIL Os edifícios principaes d'esta parochia são a casa de Villa Flor, brasonada e que per- tenceu á família Pereiras Meneses, de Ca- banellas,— e a casa do Áspero (antigamente Cadeade) onde viveu o abbade d'esta fregue- zia Domingos Borralho, por alma de quem ainda boje se resam no fim da missa con- ventual 5 Padre Nossos em cumprimento de uma verba testamentária, na qual assim o recommendou, deixando aos abbades 60 li- tros de cereaes para aquelle serviço. Esta freguezia tomou o nome do local on- de se acha a matriz, pois é uma grande co va, cercada a leste pelos montes do Porlêllo, — a oeste pelos montes da Lagoa e da Er- mida— e ao norte pelos montes de Perafita, e dos Castellos, tendo horisonte aberto e com largas vistas unicamente do lado sul, para alem do Tâmega e do Douro. Diz se que os franceses, por oecasião da guerra peninsular, estiveram em Abragão e marcharam para o norte por esta freguezia de Villa Cova, mas que, apenas defrontaram com a grande cova e se viram cercados de montes por todos os lados, mudaram imme- diatamente de rumo ! . . . No monte da Ermida se encontram restos de antiga povoação e de velhas fortificações, a que o vulgo chama horta dos mouros. Também no monte dos Castellos ha gros- sos muros e claros vestígios de antiquíssi- mas obras de defesa, as quaes deram o no- me ao dieto monte. Nasce n'esta freguezia o ribeiro dos moi- nhos ou dos pedreiros, que move muitos moi- nhos de cereaes, no inverno, e desagua na margem direita do Tâmega, a 4 kilometros de distancia, no sitio da Rainha. Producções principaes — milho grosso, azeite, centeio, feijões, vinho verde de infe- rior qualidade e fructa. Em outros tempos também produziu muitas castanhas. Tem uma eschola official de instrucção primaria elementar para o sexo feminino e outra para o sexo masculino na próxima po- voação de Ríbaçaes da freguezia d'Abragão. Entre as pessoas notáveis que esta paro- chia tem produzido merecem especial men- ção—o rev. Manuel Joaquim de Sousa Mo- reira, abbade de Britello, em Celorico de Basto, homem de grande valimento,— o pa- dre Francisco Paula Mendes, jornalista dis- tincto, — seu irmão José Anastácio Mendes, litterato e bom latinista— e José da Silva Leão, capitalista e muito esmoler l. É abbade actual d'esta freguezia o rev. João Pinto da Motta, da freguezia d'Avessa- das, concelho do Marco de Canavezes. To- mou posse em fevereiro do corrente anno de 1884. Foi abbade anterior o rev. Joaquim da Cu- nha Coelho Barbosa Brandão, da casa da Maragoça, freguezia de Val Pedre, concelho de Penafiel, fallecido a 20 de janeiro de 1883 — e que succedeu ao abbade Bento Pereira de Menezes Solto Maior, da casa de Caba- nellas. Ha n'esta freguezia um bom cemitério pa- rochial. Foi benzido e inaugurado com gran- de pompa nos princípios de outubro de 1883, assistindo ao acto religioso (durante o qual tocou a banda de Villa Boa do Bispo) alem de muitos ecclesiastieos e parochianos, os srs. drs. Soares de Moura, administrador do concelho e Adriano de Sequeira, sub-delega- do de saúde. Na mesma oecasião foi exumado o ca- dáver de Antonio Soares da Silva Mattos e trasladado para um jazigo de família, erecto no mesmo cemitério, sendo o cadáver do dito sr. Silva Mattos o primeiro que ali se sepultou. Esta parochia é muito antiga. D. Paio Petriz e sua mulher D. Godo ha- viam dado a oitava parte d'ella ao mosteiro de Paço de Sousa e tendo-se alienado, o prior D. Diogo a recuperou de Diogo Gratiz e 1 Falleceu solteiro no Porto, em julho de 1876 e, apesar de ter ainda viva a mãe, que herdou duas terças partes da sua grande for- tuna, deixou legados no valor de muitos contos de réis em favor d'esta parochia e de differentes ordens, amigos, parentes e indi- gentes. No supplemento a este artigo daremos um extracto do testamento de tão benemérito ci- dadão. VIL VIL 717 Diogo Furtuniz, a 28 de setembro da era de i 1145, que corresponde ao anno de 1107, co- roo consta das cartas de cedência feitas por elles lio sobredicto mez e anno. Das mesmas cartas se vê também que n'aquelle tempo eram oragos d'esta fregue- zia o apostolo S. Filippe, S. Romão e S. Mar- cello, pois ali se diz : ...de Ecclesia Sanctorum Martyrum Fi- lipi Apostoli, Romani, et Marselli, quorum aula sita est in Villa Cova, subtus monte Pe- trafixa, et monte Batial, discurrente ribulo Tamice território Portugalensis Ecclesiae.. . «Da egreja dos santos martyres S. Filipe apostolo, S. Romão e S. Marcello, cuja ma- triz está Da povoação de Villa Cova, na raiz do monte de Petrafixa (Perafita) e do monte Bacial (?) junto do rio Tâmega, na diocese do Porto.» Esta parochia nunca foi villa nem teve fo ral próprio, mas gosou de todos os privile gios, exempções e regalias da honra e beelria de Gallegos, em cujo termo se achava, bem como dos privilégios coneedidos a Penafiel no foral de D. Manuel, com data de 1 de ju nho de 1519, pois no dicto foral claramente se diz que comprebende esta freguezia de Villa Cova e todas as outras que ao tempo pertenciam ao termo de Penafiel. Veja-se o processo para este foral na Gav 20, Maço 12, n.° 19. Penafiel teve também foral velho, dado pelo conde D. Henrique e confirmado por seu filho, o nosso primeiro rei, D. Affonso Henriques ». É o foral de D. Manuel dividido em 30 títulos, pertencendo a esta freguezia o n 18, no qual se diz que ao tempo compre hendia 17 casaes e pagaria para a coroa os direitos seguintes : Bragal— (varas) Cabritos Cacifos 64 V 3 7 i V. Descripção Histórica e Topographica de Penafiel por Antonio d' Almeida, pag. 20, publicada em 1830 na Historia e Memorias da Academia Real das Sciencias, tomo v parte II. volume x Capões ° Carne (costas) - 8 Carneiros 2 */« Centeio (cacifos) • • • 4 Vs evada (cacifos) 10 Espadoas 2 Gallinhas • 16 Maravidiz (moeda) */i Meado (milho e centeio) alqueires.. . . 56 72 Miunça V* V3 Ovos 70 Pão V* Pretos (moeda) • 86 Reaes (moeda) • 51 Vinho 13 V* Outras freguezias d'este reguengo paga- vam tombem mel, marrã, patos, trigo, linho, botinas, feijões, manteiga, calaças, peixotas, etc. Veja-se a Memoria citada, pag. 21 a 25— e no supplemento a este diccionario o artigo Penafiel. VILLA DIANTEIRA— aldeia. V. Dianteira n'este diccionario e Villa Dianteira no supplemento. / VILLA DA EGREJA— villa e freguezia, se- de do concelho e da comarca de Sattam, dis- tricto e diocese de Viseu, na província da Beira Alta. Vigairaria,— orago Nossa Senhora da Gra- ça—fogos 447,— almas 1:905. Em 1708 era vigairaria do padroado real e commenda da ordem de Christo— contava 276 fogos e o vigário apresentava o curato de S. Pedro de Mioma, freguezia de 126 fo- gos, que com a de Villa da Egreja consti- tuíam o antiquíssimo concelho de Sattam, comarca de Viseu e provedoria da Guarda. Comprehendia o dicto concelho apenas 402 fogos e tinha 2 juizes ordinários, 3 vereado- res, 1 procurador do concelho, 1 escrivão da camará, 1 juiz dos órfãos com seu escrivão, 2 do judicial e notas, 1 alcaide, 2 compa- nhias de ordenanças e 1 capitão mór, a quem obedecia lambem o extincto concelho de Gulfar, onde havia outra companhia de or- denanças. Em 1736, segundo se lê na Chorographia de Lima, contava esta parochia 297 fogos e 46 718 VIL VIL 972 habitantes— e o concelho de Sattam, 744 fogos e 1:506 habitantes, pertencendo á fre- guezia de Mioma (D. Luiz Caetano de Lima dá-lhe o nome de Meimoa) 180 fogos e 534 habitantes. Em 1768 contava esta freguezia de Villa da Egreja 312 fogos,— era vigairaria do pa- droado real— e rendia para o vigário réis 1000000. Alem da povoação de Villa da Egreja, se- de da parochia e da matriz, comprehende as aldeias de Sarrazella, Cruz, Tojal, Samorim, Paço, Villa Cova, Pedrosas, Pedrosinha,Mu- xós, Contigem, Avellosa, Concão, Lameira, Cigarrai, Villa d'Alem— e as quintas e ca- saes da Granja, Pereiro, Lavandeira, Prado, Porto Largo, Val da Lebre, Pontào, Fonte Arcada, Gandra, Val da Zebra e Calha Bem, todos pouco importantes. As suas freguezias limitrophes são— Mio- ma, Barreiros, S. Miguel de Villa Boa, S. Pe- dro de France, Queiriga e Ferreira d'Aves. Esiá na margem esquerda do Vouga e na direita do Sattam, distando do Vouga cerca de 7 kilometros para S.— 8 do Sattam, con- fluente do rio Dão, para N. O.— 20 de Viseu para E. N. E. — 22 da estação de Mangualde, a mais próxima, na linha da Beira Alta— e, por esta linha e pela do Norte, 130 da Fi- gueira,—206 do Porto— e 229 de Lisboa. Passa n'esta freguezia a estrada districtal a macadam de Viseu a Lamego. A egreja matriz que, se attendermos ao titulo d'esta parochia, Villa da Egreja, de- via ser uma obra monumental, é um templo singelo, pobre, maltratado e em ruinasl Tem mais os templos seguintes :— na po- voação do Tojal a capella do Espirito Santo, publica, e a egreja do extincto convento de Freiras dominicas,— em Muxós a capella de Santo Amaro,— a de S. Saturnino na aldeia de Pedrosas,— a de S. Sebastião na Villa da Egreja,— todas publicas,— e em Contigem uma capella particular, de Nossa Senhora do Desterro,— todas ordinárias, mas abertas ao culto. A do Espirito Santo está em local muito interessante e pittoresco e tem festa com ro- magem, bem como a de S. Sebastião. O único edifício brasonado d'esta paro- chia são os novos paços do concelho; mas o brasão não é o do concelho— é o da famí- lia a quem foi comprada a dieta casa, apro- ximadamente em 1876, pouco depois da creação d'esta comarca. Ali funeciona o tribunal e se acham ins- talladas quasi todas as repartições publicas do concelho e da comarca, vivendo ainda no mesmo prédio a familia do seu ultimo pos- suidor, -Antonio Miguel de Carvalho, na parte que reservou, quando o vendeu á ca- mará. Ainda existem os velhos paços e a cadeia do concelho,— edifício humilde, hoje habita- do pelo carcereiro. O pelourinho já desappareceu. A villa é uma povoação pequena. Reduz- se a um largo ou praça e tres ruas insigni- ficantes, mas datam de tempo immemorial, tanto esta povoação como esta villa e este concelho, pois já o conde D. Henrique e sua mulher D. Theresa, paes do nosso primeiro rei D. Affonso Henriques, lhe deram foral em 9 de maio de 1111, conflrmado em San- tarém por D. Affonso II, em 31 de janeiro de 1218. D. Sancho II lhe deu outro foral, estando na cidade da Guarda, em 10 de ju- lho, de 1240— e D. Manuel lhe deu foral no- vo em Lisboa, com data de 6 de maio de 1514. Para evitarmos repetições, veja-se com re- lação á historia d'este antiquíssimo conce- lho o artigo Saíam, ou Sattam, vol, 9.° pag. 64, col. 1.» Ali se mencionam as 12 freguezias que hoje constituem este concelho; note-se po- rem que d'aquellas 12 freguezias a de Aguas Boas e a de Forles estão hoje annexadas ci- vilmente á de Ferreira d'Aves,— e as de De- cermillo, Silva de Baixo e Villa Longa es- tão egualmente annexadas á de Romãs. Pelo ultimo recenseamento de 1878 com- prehendia este concelho : Fogos 2:958 Almas 12:767 Superfície em hectares 22:995 Prédios inscriptos na matriz 10:917 VIL Banham esta freguezia os rios Vouga e Sattam, confluente do rio Dão, no qual des- agua perto de Alcafache— e os ribeiros de Muxós, Tabolado, Pedrosas e da Villa, que desaguam no batiam. Producçoes dominantes— -centeio, trigo, milho, batatas, vinho de mesa, hervagens, hortaliça, gado e caça. Tem uma escola official de instrucção pri- maria elementar do sexo feminino e outra do sexo masculino, prestes a transformar- se em escola complementar. No sitio denominado Santos ídolos (?) ter- mo d'esta parochia, se encontram ruinas de velhas fortificações e de antiquíssimo po- voado, o que alguém attribue á occupação do povo — rei. Ali teem apparecido em differentes datas vários artigos de cerâmica e de ferro e cobre bem como algumas moedas romanas. No povo do Tojal houve minas e fornos de cal, hoje em abandono— e um convento de fre'iras dominicas, fundado em 1640, segun- do se lè no Mappa de Portugal, de- João Ba- ptista de Castro, ou em 1630, segundo se lê na Chorographia Portugue&a; mas a chroni- ca da ordem diz que este convento de Nossa Senhora da Oliva foi fundado pelo rev. dr. Feliciano de Oliva e Sousa, tendo alcançado licença do bispo de Viseu, D. Bernardino de Senna, em 7 de julho de 1632 — alvará de Filipe IV de Hespanha e III de Portugal, em 15 de maio de 1638,— e breve apostólico da Santidade de Urbano VIII, em 27 de maio de 1640 1. Inauguraram-se as obras com grande pompa no dia 6 d'abril de 1633 e com gran- de pompa n'elle deram entrada em 8 de se- tembro de 1640 as primeiras religiosas, que foram 11,— duas chamadas do convento de Corpus Chrkti, do Porto, (Villa Nova de Gaya) para fundadoras e directoras da nova communidade, uma com o titulo de Prio- resa e outra com o de subprioresa,— mais 3 i Historia de S. Domingos por fr. Luiz de Sousa, continuada por fr. Lucas de Santa Catharina, Parte IV, vol. V, cap. 35, pag. < g.da 3.» edição. VIL 719 irmãs e 6 sobrinhas do benemérito funda* dor, ainda noviças. Foi este convento do Tojal o 1.° que teve a ordem dominica na província da Beira, e por isso fr. Lucas de Santa Catharina, lhe prestou toda a attenção e lhe dedicou doua largos e muito interessantes capítulos, que extractaremos no supplemento a este diccio- nario. Vamos fechar este artigo consignando algumas noticias que o rev. vigário d'esta parochia se dignou enviar-nos com relação ao mencionado convento, relativas á sua ex- tincção e ao que d'elle resta na actualidade. .Este convento foi extincto por falta de meios e de pessoal, approximadamente em 1830. Não chegou pois a completar 200 an- nos de existência. Na data da sua extincção contava apenas 1 religiosa professa, já muito velhinha, e 5 seculares. A pobre senhora professa foi recolhida no mosteiro benediclino de Ferreira d'Aves l, também d'este concelho, onde, passado pou- co tempo, falleceu. O edifício do convento nunca foi muito es- paçoso nem muito notável. O breve pontifício de Urbano VIII apenas auctorisava a reclusão de 33 religiosas; — outro breve posterior auctorisou a reclusão de mais 7, mas não ha memoria de que a communidade preenchesse em tempo algum o numero de 40 religiosas professas. Extincto o convento, passou para os pró- prios nacionaes, achando-se a egreja em per- feito estado de conservação e o edifício do convento muito velho e deteriorado, mas não em ruinas e ainda muito habitável. Pas- sado algum tempo o governo vendeu 03 ma- teriaes do edifício a differentes, que o de- moliram para aproveitarem a pedra e as madeiras;— depois vendeu ao grande pro- prietário José Antonio da Silva, de Aguiar da Beira, a cerca, o chão que havia sido oc- cupado pelo convento, o mirante e a casa da hospedaria, o que tudo hoje está em tercei- i V. Ferreira d' Aves, vol, 3.° pag. 171, col. 2 a— e a Benedictina Lusitana, vol. 2.° pag. 240, col. i.» e seg. 720 VIL VIL ro possuidor e é propriedade do sr. dr. João Paes d'Almeida Leitão, aqui residente. O mi- rante, de que apenas reslavam as paredes, foi restaurado e unido á casa de habitação do seu proprietário, que restaurou também a casa da hospedaria e tem a cerca perfei- tamente agricultada, constituindo o todo uma das primeiras vivendas d'esla parochia e d'este concelho. No mirante A egreja foi cedida pelo governo á povoa- ção do Tojal e ainda existe, mas muito de- teriorada, o que é para sentir, pois era um lindo templo. Ainda conserva o altar-mór e os dous la- teraes com' soberbos retábulos de preciosa talha dourada e as paredes todas lateral- mente revestidas de bom azulejo. Nos últimos tempos faziam aqui as reli- giosas tres grandes festividades— uma a Nos3a Senhora da Oliva, a padroeira do con- vento,—outra a S. Domingos, o patriarcha da ordem,— e as endoenças ou festas pró- prias da semana santa. A egreja não tem brasões d*armas; consta porém que existiram em difíerentes capellas no interior do convento, o que tudo foi des- truído pelos vândalos d'este século das lu- ses ! . . . Salvemos as inscripções que ainda restam: Na verga da porta que dá entrada para a veneranda egreja se lê a seguinte : Dedicado a Nossa Senhora da Oliva a 6 d Abril de 1633. Na capella mór, em uma lapide sepul- chral : S. do Dotor Feliciano de Oliva e Sousa fundador DESTA CASA. Fal.° A 2 DE Fever.0 de 1656. No forro da capella mór : Esta obra de trebuna e forros mandov fazer; o Abbade de Reris Feliciano de Oliva E: Souza Cabral. Annq 1744. Esta obra mandov FAZER A M.e M.a DE Xp.lO BAP.ta PRIORESSA DESTE MOS- TEIRO DE N N. SS.a da Oliva Ano de 1694. Note-se que muitas lettras das 4 inscri- pções supra estão incluídas umas nas outras como ao tempo se usava. Agradeço ao meu illustrado collega os apontamentos que se dignou enviar-me, la- mentando que a sua modéstia me não deixe consignar aqui o seu nome. VILLA FACAIA— freguezia do concelho e comarca de Pedrogam Grande, districto de Leiria, bispado de Coimbra, na província da Extremadura. Curato. Orago Santa Catharina d'Alexan- dria, Virgem e Martyr,— fogos 350,-aIma* 1:565. O padre Carvalho deu-lhe o titulo de Villa Faquay, mencionando as freguezias que no seu tempo constituíam o concelho de Pedro- gam Grande, da comarca de Thomar, e sim- plesmente indicou em globo a população do concelho. D. Luiz Caetano de Lima nem sequer mencionou lai parochia! O Port. Sacro e Profano apenas diz que em Í768 era um curato da apresentação do cabido da sé de Coimbra, rendendo^ 24$000 réis e contando 189 fogos." Em 1852 contava 295 fogos,— e o Diccio- nario d'Almeida deu-lhe 307 em 1866. O chão d'esta freguezia é bastante pedre- goso e muito accidentado, principalmente o de Villa Facaia, séde da parochia, pequena al- / deia de 40 fogos, aspecto triste e pouco sau- dável. Comprehende mais 16 aldeias,-6 a ju- sante da matriz: Pé da Lomba, Cume, La- meira Cimeira, Lameira Fundeira, Ramalho e Aldeia dos Freires ou das Freiras;— e 10> a montante: Gravito, Salaborda ou Sellabor- da Velha, Salaborda ou Sellaborda Nova, Campello, Rabilgordo, Valle de Nogueira Casal d'Alem, Pubraes, Alagôa, Várzea,— as VIL VIL 721 ^easaes de Moleiros e Pinheiro de Bollin— e a quinta ou habitação isolada, de Sabrosa. As suas freguesias limitrophes são— Gra- ça a S.— Campello e Castanheira de Pera a N.— Pedrogam Grande a S. E. — e Figueiró dos Vinhos a S. O. A povoação de Villa Facaia, séde da pa- rochia., está na margem direita da grande ribeira de Pera, da qual dista 4 kilometros, —8 de Pedrogam Grande,— 10 da margem direita do rio Zêzere, no qual desagua a ri- beira de Pêra,— 24 d'Alvaiazere, séde do ar- cyprestado,— 42 de Coimbra— e 60 de Lei- ria. , A egreja paroehial é um templo soffrível, forrado de madeira, aproximadamente em 1880. Tem altar mór com retábulo e throno de talha e uma linda imagem da padroeira Santa Catharioa, imagem feita em Braga- Tem mais 2 altares lateraes com decorações modestas. Ha n'esta freguezia as capellas seguintes, todas publicas— Senhor do Calvário, em Villa Facaia, — Santo Antouio, em Sellaborda No- va,—Senhora do Resgate, em Aldeia dos Freires ou das Freiras — e Senhora da Pie- dade, na povoação do Ramalho. Tem esta parochia uma confraria maior, muito antiga e com bastante rendimento ain- da,—e 8 menores, ou simples devoções; a maior é a do Santíssimo, — as menores- são a de Santo Antonio de Sellaborda Nova, Santo Antonio da Egreja, Saota Catharina (pa- droeira) S. Caetano,— S. José,— Senhor do Calvário,— Senhora do Resgate— e Senhora da Piedade. As festas principaes que hoje aqui se ce- lebram são as do Santíssimo Sacramento Santo Antonio da Egreja, Santo Antonio de Sellaborda Nova, S. Sebastião, Senhora da Piedade e Santa Catharina, no dia 25 de no- vembro, com romaria e feira. Segundo se lê no Santuário Marianno (vol. 4.° pag. 667) a capellinha de Nossa Se- nhora da Piedade era em 1712 já bastante antiga e particular, pertencente a uma quin- ta do sargento mór Luiz da Vide de Andra- de, suppondo se ter sido feita pelos ascen- dentes do dicto sargento mor. A imagem da Senhora era de pedra, reprezentando-a com o seu amado filho morto nos braços, medin- do a imagem da Senhora 5 palmos e 6 a do Senhor. Era alvo de grande devoção, mas não tinha festa em dia determinado. Esta parochia não tem passal, mas a resi- dência é soffrivel. Recebe o parocho 801000 réis de derrama em dinheiro, mais cerca de tres moios de pão de ementas 1 e de cada fogo uma quarta pela missa dos sabbados. Tem alem d'isso de cada baptisado uma gallinha, dada pelos paes da creança, e 120 réis dados por cada um dos padrinhos que também, por costume antiquíssimo, lhe dão a competente bucha (diz o meu informador) servida no logar des- tinado junto da sacristia. D'aqui vem talvez a locução — do povo, usada mesmo nas pro- víncias do norte, — pagar a bu- cha. Também o parocho recebe dos casamen- tos 240 róis pela missa dos noivos, mais 120 réis de cada um dos padrinhos e a compe- tente bucha, dada pelos padrinhos e convi- dados e servida também no local próprio, contíguo á sacristia. Por oeca3ião da dieta bucha costumam concorrer ao beberete os visinhos, compa- dres e amigos dos noivos (diz ainda o meu informador) caprichando em levar as deno- minadas amostras (grande variedade) de vi- nhos afazendo muitas vezes com que os con- vivas joguem o sôeo e apanhem a sua pi- teira.» Note-se que a producção do- minante d'esta parochia é vi- nho e que os seus habitantes são turbulentos e de génio capri- choso e irascivel, tanto os ho- mens, como as mulheres, algu- mas das quaes chegaram a conquistar uma' certa celebri- dade no crime, matando os fi- lhos, envenenando os maridos e batendo nas suas próprias mães? t. . . * V. Amenta, vol. l.° pag. 199, col. l-a 722 VIL VIL «A sáde da comarca foi subtrahida ainda ha pouco tempo (diz o meu informador) de Figueiró dos Vinhos para Pedrogam por ar- tes de berliques e berloques, com bastante pre- juiso do publico.» Ha n'esta freguezia uma eschola ofíicial de instrucção primaria elementar, creada em 1870, mas foi provida apenas em 5 de abril de 1873, sendo regida, aliás muito di- gnamente, desde aquella data até 1879, pelo fev. Albino Simoes Cardoso Dias, então pa- rocho eneommendado aqui também x. Esta freguezia, a 'cm do vinho, sua pro- ducção dominante, produz também cereaes, fructas, batatas, azeite e lã, pois cria algum gado lanígero nos seus amplos montados, mas nada exporta (diz o meu informador) pelo que é pobre. Não tem nem d'ella se approxi ma estrada alguma a macadam e, quanto a linhas fér- reas, a mais próxima è a do norte, distando 44 kilometros da estação de Coimbra e pouco menos da de Pombal. A confraria do Santíssimo acompanha e suffraga todos os irmãos que fallecem; mas, se o fallecido não fôr confrade e quizerem que ella o acompanhe, teem de dar-lhe uma gratificação,— ordinariamente 1 #200 réis ou uma oliveira. VILLA DA FEIRA. V. Feira, villa, n'este diccionario e no supplemento. VILLA FERNANDO— freguezia do conce- lho e comarca d'Elvas, districto de Portale- gre, arcebispado d'Evora, província do Alem- tejo. Priorado,— fogos 127,— almas 492,— orago Nossa Senhora da Conceição. Em 1708 era villa,— contava 80 fogos,— todos lavradores,— pertencia á casa de Bra- gança e á comarca e ouvidoria de Villa Vi- çosa—e tinha uma capella de S. Romão, da qual hoje nem vestígios restam. Em 1768 (segundo se lê no Port. S. e Pro- fano) contava apenas 30 fogos, —era priora- 1 É natural a freguezia da Bemfeita, con- celho d'Arganil, e primo do illustrado pro- fessor e poeta, dr. José Simões Dias. do da apresentação da casa de Bragança— e rendia 200$000 réis. Atè 1882, data da nova circumscripção dio- cesana, pertenceu ao bispado d'Elvas, hoje extincto. Freguezias limitrophes— Santa Eulália a N.— Villa Boim a S.— S. Vicente de Fóra a E.— Terrugem e Santo Aleixo a O. Comprehende, alem da povoação de Villa Fernando, séde da parochia e villa extincta» os montes (casaes) seguintes:— S.Romão, Ca- sas velhas, Paço, Carrão, Chaminé, Alcara- pinha, Defesa, Serranos, Serranicos, Alco- baça, Velhinhos, Barrocal, Villa Fernando e Pegaxa, — a quinta das Casas Velhas e cinco hortas K A maior parte d'estes montes são herdades. Pertencem á sereníssima casa de Bragança as de Villa Fernando e Barrocal— e as de Serranos ou Serrões e Velhinhos ao digno par do reino Carlos Eugénio d'Almeida. Esta freguezia está situada ao norte da es- trada d'Elvas a Extremoz, pela freguezia da Orada, distando da dieta estrada 4 kilome- tros,—15 d'Elvas para N. O..— 35 de Porta- legre para S.— 50 d'Evora para N. E— 15 da estação de Santa Eulália, na linha fér- rea de leste, — 261 de Lisboa — e 384 do Porto. Em toda esta freguezia apenas ha 2 kilo- metros d'estrada a macadam, da estação de Santa Eulália até á herdade, hoje Colónia ou Eschola Agrícola de Villa Fernando. Este priorado está hoje ecclesiasticamente unido ao de Barbacena, por ser muito sen- sível a falta de presbyteros e não ter paro- cho próprio. O prior de Barbacena, em virtude de au- ctorisação especial do seu prelado, depois de dizer a missa conventual aos seus freguezes nos domingos e dias santos, vae celebrar 2.* missa na egreja parochial de Villa Fer- nando. 1 No supplemento a este diccionario, arti" go Aldeia, explicaremos o que ao sul do nosso paiz, nomeadamente na província do Alemtejo, se entende por montes, herdades, quintas e hortas. VIL VIL 723 Por egual motivo se dá hoje também o mesmo facto nas dioceses ao norte do nosso paiz, nomeadamente na de La- mego. Alguns presby teros se acham ali encarregados de duas e por vezes tres parochias, celebran- do também dua3 e por vezes tres missas conventuaes nos domingos e dias santos, — uma em cada freguezia a seu cargo. Deus vele pela sua egreja e ponha cobro a semelhante ano - maiia. Em quanto a templos ha hoje n'esta paro- chia apenas a egreja matriz, que nada tem de notável e se acha em grande abandono, ameaçando eahir em ruinas. Também não tem edifícios que mereçam especial menção, exceptuando as novas con- strucções na Colónia Agrícola. Nada resta dos antigos paços do concelho nem da cadeia e do pelourinho d'esta villa. Suppõe-se que estiveram no chão hoje oc- cupado pelo monte de Villa Fernando. As festas principaes que hoje aqui se ce- lebram são as de S. Pedro, Senhora do Ro- sario e Senhora da Conceição, a padroeira, a 8 de dezembro. A povoação de Villa Fernando, séde da parochia, tem sete pequenas ruas, sendo a de Elvas a principal. Banham esta freguezia um regato e a ri- beira de Villa Fernando, que passa junto do monte assim denominado e d'elle tomou o nome. Tanto esta ribeira como aquelle regato são atravessados pela nova estrada a maca- dam da colónia agrícola para a estação de Santa Eulália, tendo uma bella ponte de pe- dra de 2 arcos sobre a dieta ribeira e ou- tra sobre o regato. Desaguam no rio Caia e este no Guadiana. Banham também esta freguezia outros ri- beiros e regatos menos importantes. Tem duas minas de cobre hoje abandona- das. Producções dominantes — trigo, centeio, cevada, aveia, favas, feijões e mel, pois cria bastantes colmeias. Tem algumas serras pouco importantes, sendo apenas digna de especial menção a da Atalaia dos Sapateiros, cujo nome ainda ho- je faz eriçar os cabellos, pois muito tempo foi povoada e dominada por salteadores e assassinos. N'este concelho fazia pendant com o pi- nheiral d'Azambuja e com a serra da Fal- perra ! . . • Tem esta freguezia uma escola offlcial mixta de instrueção primaria elementar— e a Colónia ou Escola agrícola de reforma, com uma estação telegraphica e um observatório. A casa de Bragança obteve o senhorio d'esta villa por compra que fez a sr.a D. Ca- tharina, mulher do duque D. João I, dando por ella o juro que tinha na alfandega das Almadravas, no Algarve. Ao digno prior de Barbacena, o rev. Joa- quim Francisco Celestino Mouquioho, agra- deço os apontamentos que se dignou enviar- me para a descrípção d'esta parochia. Esta Colónia ou Escola Agrícola de Refor- ma foi instituída pelo nosso governo para u"ella recolher e educar, nomeadamente nos misteres da agricultura, os vadios e presos por culpas leves. Na escolha do local deu-se a preferencia á provincia do Alemtejo, por ser entre todas as do nosso paiz aquella em que a agricul- tura se acha em maior abandono e mais ne- cessita de protecção e estimulo. A dieta Escola é um verdadeiro Seminá- rio d' Agricultores, que deve prestar muito relevantes serviços áquella provincia e a to- do o nosso paiz— e foi montada na grande herdade de Villa Fernando, por ser uma propriedade vastíssima e comprehender ter- reno que se presta a todas as culturas. Esta grande herdade pertence (como já dissemos) á sereníssima casa de Bragança e foi arrendada pelo governo por um praso suficientemente largo para n'ella se pode- rem fazer as muitas construcções e modi- ficações que demanda um estabelecimento d'aquella ordem,— construcções a que se deu principio em janeiro de 1884 e que vão 724 VIL VIL já muito adiantadas, mas que por certo Dão se nltimarão tão cedo, pois são vastas, va- riadíssimas e uão devem custar meãos de 200 a 300 contos de réis?!.. . N'esta data (janeiro de 1885) está cons- truído um lago de mil metros cúbicos, onde já corre a agua das nascentes do chafariz próximo á estrada de Barbacena, elevada por um moinho de vento americano— e está em construcção um chafariz para o publico, junto da aldeia da Conceição. Também já se fez a estrada a macadam com duas boas pontes de pedra, até á esta- ção de Sanla Eulália— preparou-se o terre- no, encheram-se todos os cavoucos e as al- venarias vão a 1 metro e mais de altura fora do chão para as cazernas dos colonos, edifícios escolares, armazéns, lavanderia, ct- zinhas, refeitórios, enfermaria, etc.,— e vae dar-se começo ás edificações para casa do director, secretaria, instrucção militar, egre- ja, rezidencia do capellão, mais casernas para os colonos, estação telegrapho-postal e observatório, pois estas duas ultimas repar- tições tstão provisoriamente montadas em casas de madeira. Também já se acham montados dois ob- servatórios agrícolas, um no ponto mais alto da Colónia, outro no viveiro das plantas, na baixa, junto do monte, onde estão actual- mente a secretaria das obras e casas dal- guns empregados. Também já se fez o desmonte para as edi- ficações da Granja, ao norte da estrada de Barbacena, fronteira á Colónia— e tem-se re- gularisado a directriz dos ribeiros que ba- nhara a grande herdade de Villa Fernando, aberto valias e feito outros melhoramentos n'aquella vasta propriedade. As grandes plantações d'arvoredo, princi- piadas em 1882, em volta das edificações e do monte da Colónia, estão esplendidas e, alem de aformosearem o local, teem benefi- ciado muito a athmosphéra e favorecido a salubridade publica. Finalmente a próxima aldeia da Concei- ção tem prosperado bastante com a vida que recebe da Colónia, já pela convivência com ■os muitos empregados e operários que se ocupam n'ella, já pelo commercio de co- ) ■ w^mm$m mestiveis e d'oulros géneros, já pelo traba- lho que os jornaleiros n'ella encontram e en- contrarão por muito tempo. VILLA FERNANDO— freguezia do conce- lho, comarca, districto e diocese da Guarda, na província da Beira Baixa. Vigairaria,— fogos 237— almas 1:020,— orago Nossa Senhora da Conceição. Em 1708 era da apresentação do thezou- reiro mór da sé da Guarda e tinha SOO fo- gos—segundo se lé na Chorographia Portu- gueza. O Portugal S. e Profano, em 1768, ou 60 annos depois, deu-lhe 406 fogos e 150,8000 réis de rendimento— o Flaviense, em 1852, deu-lhe apenas 71 fogos— A Estatística Pa- rochial, em 1862, ou passados apenas 10 an- nos, deu-lhe 234 fogos e 978 habitantes,— Almeida, em 1866, deu-lhe 228 fogos— e o ultimo censo deu-lhe 237 fogos, em 1878. É espantosa e parece incrível tão grande oscillação na população d'esta parochia e nós não podemos dar a razão d'ella, porque, in- felizmente, havendo estado por vezes na Guarda, nunca estivemos em Villa Fernando nem até hoje recebemos d'ali apontamentos alguns. Dá nos porém alguma luz a Ckoro- graphia Moderna do sr. José Maria Baptista, pois no vol. 3.° pag. 741, citando o Diccio- nario Geographico Manuscripto (collecção dos relatórios dos parochos existente no Ar- chivo Nacional, referida ao anno de 1758) diz que esta parochia n'aquelle tempo com- prehendia cinco (aliás seis) pequenos conce- lhos:— Villa Fernando (o principal) com as quintas do Monte Carreto, do Meio e de Ci- ma,— Albardo (hoje freguezia independente) com a quinta de João Dias, — Villa Mendo, hoje uma simples aldeia d'esta parochia de Villa Fernando,— Adão, hoje freguezia inde- pendente também, — Pousa Folies, hoje tal- vez a freguezia de Pousa- Folies do Bispo, no concelho do Sabugal, — e Roto, hoje outra simples aldeia d'esta parochia de Villa Fer- nando. É possível e até prova vel que a Ckorogra- phia Portugueza e o Portugal Sacro e Pro- fano conglobassem no titulo de Villa Fer- nando a população á'aquelles seis concelhos, VIL VJL 725 dous dos quaes são hoje simples aldeias e os quatro restantes paroehias independentes, ; com a população total de 674 fogos e 2:764 ; habitantes, segundo o ultimo recenseamento. Sendo porem esta parochia séde de seis concelhos, parece que devia também ser villa, ter foral e senhorio próprio, mas nem Fran- klim nem chorographia alguma dizem tal!..- O padre Carvalho em 1708, indicando to- das as villas, paroehias e concelhos da co- marca da Guarda, apenas a menciona como simples parochia entre as do termo d'aquella cidade (vol. 2.° pag. 348)— e D. Luiz Caeta- no de Lima em 1736 (Geographia Histórica, tomo IF, pag. 128) fallando da comarca e correição da Guarda, diz que se compunha de uma cidade, um couto e trinta villas que. menciona, mas não encontramos entre ellas Villa Fernando nem algum dos outros cinco concelhos indicados em 1758 no Diccionario Geographico Manuscriplo. Valha-nos Deus ! A povoação de Villa Fernando está em planície, na estrada da Guarda para Villar Maior, 1 kilometro ao sul da margem direi- ta da ribeira de Noeime, confluente do rio Côa;— dista da Guarda 12 kilometros para E. S. E.— e 18 da margem esquerda do rio Côa, para oeste. Comprehende mais esta freguezia as al- deias de Villa Mendo, Roto, Vai de Carros, Pombaes e Cravella;— os easaes do Carreto e do Cimeiro— e as quintas do Meio, de Ci- ma, de João Dias, Corte e Moinho. As suas freguezias limitrophes são— Ca- sal da Cinza a N.— Adão a S.— Panoias a N. O.— e Albardo a N. E. ProducçÕes dominantes — cereaes e lã, pois cria bastante gado lanígero. D'esta freguezia tomou o nome de Villa Fernando uma das estações do caminho de ferro da Beira Alta. É a 24.a (apeadouro) partindo da Figuei- ra para Villar Formoso e Salamanca. Dista 218 kilometros da cidade da Figueira e 35 de Villar Formoso, ainda hoje, (15 de ja- neiro de 1885) a estação terminus da men- cionada linha, na fronteira de Portugal; bre- vemente porem se inaugurará a exploração até Salamanca, talvez antes de chegarmos ao artigo Villar Formoso. VILLA FLOR— palácio e quiuta extra- muros da cidade de Guimarães, na circum- scripção da freguezia de Urgeses, sub-urba- na e em contacto com a cidade. V. Urgeses vol. 10.° pag. 17, col. 2." Este palácio e quinta formam uma das roais pitforescas e interessantes vivendas de Guimarães e da formosa província do Mi- nho. Pertenceram a Thadeu Luiz Antonio Lo- pes de Carvalho Fonseca e Camões, fun- dador do palácio e da maior parte da quin- ta, 7.° senhor dos coutos d'Abbadim e Ne- grellos e dos morgados da Camoeira, em Aviz, Carvalhos, em Alemquer, Landim, Torneiros e Monte Longo, padroeiro das res- pectivas egrejas, cavalleiro professo da or- dem de Christo, familiar do Santo Officio, académico supra numerário da Academia real de Historia portugueza, da dos Infecun- dos e da Arcádia, em Roma, patrono da Academia Vimaranense e um dos homens mais illustrados do seu tempo. Na Academia Real tinha o nome de Tagomello Coriteo; —imprimiu e compoz em par- te o Guimarães Agradecido (2 vol.) e deixou manuscriptas as Memorias e eclesiásticas, secu- lares e genealógicas da Villa de Guimarães. Nasceu em 21 de fevereiro de 1692. O palácio e quinta de Villa Flor, por morte de Thadeu Luiz, passaram a uma sua filha e depois a uma neta, a qual casou com Antonio José d'Almeida e Mello, 2.° viscon- i de de Villa Nova de Souto d'El-reÍ, cujos fi- lhos veaderam as dietas propriedades a sua , prima, D. Maria Leonor de Sousa Peixoto de [ Carvalho, senhora do morgado de Puusada I em S. Pedro d'Azurem;— esta as vendeu em . 1829 a Lourenço cVArcoehela, que por sua . morte as doou ao seu sobrinho Nicolau, con- . de d Arrochela. D'este passaram a sua filha 726 VIL D. Leonor cTArrochela e d'esta a seu irmão Heitor d'Arroehe!a que em 1881 as vendeu por 39:800000 réis a Antonio de Moura Soa- res Velloso, capitalista, sócio, director e ge- rente da Companhia do caminho de ferro de Bougado a Guimarães, casado com uma filha do visconde de Godim. Tem a mencionada linha férrea a sua es- tação terminus derrtro da quinta de Villa Flor, a poucos metros de distancia do palá- cio, em terreno que o sr. Antonio de Moura Soares Velloso vendeu á companhia por 19:000*000 de réis. O palácio, posto que ainda se acha incom- pleto, é um dos melhores de Guimarães. Oc- cupa um planalto vistoso, muito pittoresco e (segundo resa a tradição local) foi fundado por um vioe-rei da índia, deportado para aqui; mas o meu íllustrado collega, João Go- mes d'01iveira Guimarães, reitor de S. Vi- cente de Mascotellos, diz que vira um in-Jo- lio manuscripto, que foi da casa de Thadeu Luiz A. L. C. F. C— casa e manuscripto ho- je pertencentes ao dr. Motta Prego,— e que no dicto in-folio se lê que o fundador do pa- lácio em questão fôra, como já dissemos, o mencionado Thadeu Luiz. Tem este palácio hoje as armas dos Arro- chelas (Vieiras) seus últimos possuidores, em substituição das de Thadeu Luiz (Car- valhos) que ainda hoje lá se veem quebra- das e dispersas em fragmentos pelo3 recan- tos dos jardins! . . . Neste palácio se hospedou a familia real na sua vizita ás províncias do norte— em 1852. SS. MM. a rainha, a sr." D. Maria II e el- rei o sr. D. Fernando, o príncipe D. Pedro (o santo e chorado rei sr. D. Pedro V)— e o infante D. Luiz (hoje S. M. el-rei o sr. D. Luiz I) entraram em Villa Flor no dia 15 de maio d'aquelle anno e ali se conservaram até ao dia 17, ás 4 6 meia horas da' manhã, dando SS. MM. e A A. beijamão no d:'a 16, para o que se improvisou um throno na sala nobre do palácio,— e foram convidados por SS. MM. para o jantar d'esse mesmo dia os titulares e as auctoridades de Guimarães. Neste palácio se realisaram também no I VIL ultimo anno (1884) duas festas memoráveis e esplendidas,— a abertura da exploração da linha férrea, no dia 14 d'abril,— e & Exposi- ção Industrial de Guimarães, pomposamente inaugurada no dia 15 de junho e encerrada no dia 26 de julho do mesmo anno. Com relação a esta linha férrea veja-se n'este volume 10.° o artigo Vias Férreas, pag. 473, col. 2.*— e com relação ás dietas festas vejam-se os jornaes do tempo, nomea- damente o Commercio Portuguez e o Com- mercio do Porto— e o Relatório da dieta Ex- posição, publicado no mesmo anno. Projectam-se no momento duas amplas avenidas,— com 24 a 30 metros de largura— da estação de Villa Flor ao centro da cida- de de Guimarães, — uma em direcção ao Campo da Feira, outra em direcção ao Tou- ral. No supplemenlo a este diccionario darei mais desenvolvimento aos differentes tópi- cos d'este artigo, aproveitando os interes- santes apontamentos que se dignou enviar- me o meu íllustrado collega, João Gomes de Oliveira Guimarães, pelo que mais uma vez lhe beijo as mãos agradecido. VILLA FLOR— villa e freguezia extincta, hoje simples povoação de 2o fogos e 84 ha- bitantes, pertencente á freguezia de S. Thia- go da Amieira, concelho de Gavião, comarca de Nisa, districto e bispado de Portalegre na província do Alemtejo *. Em 1708 era villa e freguezia da comarca de Portalegre,— contava 80 fogos— tinha por seu orago S. Bartholomeu Apostolo (como Villa Flor de Traz-os-Montes) egreja paro- chial e duas capellas publicas— e era com- menda da ordem de Christo e titulo de con- dado. Em 1768 era villa e freguezia do bispado de Portalegre e da apresentação d'el-rei pelo tribunal da Mesa da Consciência,— contava V. n'este diccionario Amieira, a penúl- tima, vol. 1.° pag. 200. Amieira foi villa fortificada e teve foral dado por D. MaDuel em 15 de novembro de 1512, posto que Franklim o não menciona. No supplemenlo a este diccionario dare- mos mais desenvolvimento ao art. Amieira bem como a este de Villa Flor. VIL apenas 38 fogos-e rendia para o parocho 96 alqueires de trigo, 6 almudes de vinho e 20^000 réis em dinheiro, afora o pé d'altar. Dista i kilometro da villa da Amieira para E.— 2 da ribeira de Figueiró para S.— 3 da margem esquerda do Tejo,— 19 de Gavião, séde do concelho, para E. N. E.— 10 de Ni- sa para O— 25 da estação do Peso, na linha férrea de Caceres —229 de Lisboa— e 352 do Porto. Tern diligencia diária entre Nisa e a esta- ção do Peso. Esta freguezia de Villa Flor acha-se an- nexa á de S. Thiago d' Amieira desde 1836 para os effeitos civis— e desde 1856 para to- dos os effeitos. Em 1834 ainda era villa e séde de conce- lho. As suas producções dominantes são— tri- go, centeio, milho, vinho, gado e caça. Esta Villa Flor foi sempre uma povoação insignificante, mas muito notável por ser ti- tulo do condado instituído por D. Affonso VI em 23 de junho de 1661 na pessoa de D. Sancho Manuel, general das províncias da Beira e do Alemtejo e um dos maiores vul- tos na guerra da independência ou dos 27 annos, em seguida á memorável revolução de 1 de dezembro de 1640. Foi D. Sancho Manuel o 1.° conde e 1.° donatário de Villa Flor, graça que D. Af- fonso Vf lhe conferiu como galardão da he- roicidade com que se portou na batalha e Victoria das Linhas VElvas (14 de janeiro de 1659) sendo governador d'aquella praça, quando D. Luiz d'Haro a sitiou com um po- deroso exercito castelhano, para ficar com- pletamente derrotado, sendo tido como pri- meiro general da Hespanha n'aquelle tem- po I . . • Para evitarmos repetições, veja-se no vol. 3.° o art. Elvas, pag. 18, col. 2. 8 Na batalha das Linhas d'Elvas o exercito portuguez foi commandado pelo conde de Cantanhede, D. Antonio Luiz de Menezes, feito marquez de Marialva em 11 de junho de 1661. D. Sancho Manuel, já conde e donatário de Villa Flor e general em chefe do nosso exer- VIL 727 cito, derrotou os hespanhoes commandados por D. João d'Austria, na celebre batalha do Ameixial, no dia 8 de junho de 1663 l. Era D. Sancho Manuel de sangue nobilís- simo, descendente do iufante D. Manuel, de quem tomou o appellido, filho do rei de Cas- tella D. Fernando, o santo, e de sua mulher a rainha D. Brites; mas á nobreza do sangue soube juntar, como poucos, a nobresa do ca- racter e dos grandes feitos. Foi conde e donatário de Villa Flor, do concelho d'estado e da guerra, commenda- dor das commendas de S. Nicolau de Celo- rico de Basto, de Santo Adrião de Penafiel e de Santa Maria do Marmeleiro, governa- dor da cidade do Porto, da Torre de Belém e da praça d'Elvas e por ultimo nomeado vice-rei do Brazil. Falleceu coberto d'honras e de gloria no dia 3 de fevereiro de 1677. Foi 2.e conde de Villa Flor D. Chrystovam Manuel— 3.° conde D. Martim de Sousa e Menezes Manuel— 4.° D. Luiz Manuel de Sousa e Menezes— 5.° (me parece) D. Joa- quim Manuel de Sousa e Menezes —6.° D. Antonio do Populo Manuel de Sousa e Me- nezes Severim de Noronha— e 7.° e ultimo conde de Villa Flor, por successão na nobi- líssima casa dos Manoeis, como todos os ou- tros 6 condes d'este titulo,— D. Antonio José de Sousa Manuel e Menezes Severim de No- ronha—um dos vultos mais proeminentes da accidentada historia de Portugal, n'este século. Não nos sentimos com força para escre- ver a sua biographia, nem ella cabe nas es- treitas columnas d'este diccionario. Indica- remos apenas muito ligeiramente alguns tó- picos : Foi s. ex.» l.° marquez e 7.° conde de Villa Flor, 1.° duque da Terceira, 9.° copei- ro-mór e gentil-homem da camará de S. M., condestavel temporário, par do reino, con- selheiro, ministro e secretario d'estado ho- norário, grã cruz das ordens da Torre e És- pada, S. Bento d'Aviz e de Nossa Senhora i V. Ameixial, vol 1.° pag. 195, eol. 1." 728 VIL da Coneeição de Villa Viçosa, das de S. Fer- nando era Hespanha, de Ernesto Pio, da Sa- xonia, e de Leopoldo, da Bélgica, commen- dador da de Christo, condecorado cora a cruz douro da guerra peninsular por 6 cam- panhas e com a medalha de cominando em batalha por S. M. Catholica,— com a da de Victoria— governador da Torre de S. Vi- cente de Belém, presidente do supremo con- celho de justiça militar, marechal do exer- cito, ete. Entrou no serviço militar em 1803, no re- gimento de cavallaria n.° 4 e, sendo alferes no mesmo corpo, passou a ajudante d'or- dens do general visconde de Souzel, em 1808; foi em 1813 ajudante do marechal Be- resford com o posto de capitão; fez todas as campanhas da guerra peninsular e passou ao Brazil em 1816. Em 1817 voltou com uma expedição ao Brazil, commandando um regi- mento da divisão dos Voluntaiios Leaes e n'esse mesmo anno foi nomeado governador e capitão general do Pará. Estando nomeado em dezembro de 1820 governador e capitão general da Bahia, voltou com el-rei D. João VI para a Europa em 1821. Foi ajudante da pessoa do infante, com- mandante em chefe do exercito em 1823 e então enviado a Hespanha a comprimentar S. A. R. o duque d'ADgouleme;— foi gover- nador das armas do Alemtejo em 1826 e, pouco depois, commandaute de uma divisão' á frente da qual combateu os absolutistas n'aquella província e nas do norte, ganhan- do as victorias de Coruche da Beira, Ponte do Prado e Ponte da Barca, obrigando-os a refugiar-se em Hespanha, onde foram des- armados. Foi' governador das armas do Porto, des- de 25 de agosto de 1827 até fevereiro de 1828. Tendo-se mostrado affecto ás idéas libe- raes, emigrou para o extrangeiro em março d'esse mesmo anno e voltou ao Porto em ju- nho do anno seguinte para auxiliar os mo- vimentos constitucionaes. A celebre alçada que levou ao patíbulo os 10 marttjres da liberdade, o exautorou e pri- i vou de todas as honras, privilégios e digni- j VIL dades, por sentença de 21 d'agosto de 1829, e o condemnou a ser com baraço e pregão conduzido~pelas ruas publicas do Porto até á Praça Nova e a morrer abj, de morte na- tural de garrote, e depois de lhe ser dece- pada a cabeça, seria pregada em um poste na estrada de Mathosinhos (onde tinha des- embarcado) ficando exposta até que o tem- po a consumisse;— o corpo e o cadafalso se- riam reduzidos a cinzas e lançadas ao mar para que d'elle e da sua memoria não hou- vesse mais noticia. Accrescenta ainda a famosa sentença — confiscação e perdimento de todos os seus bens 1 . . . Valeu-lhe o ter emigrado e achar-se au- zente. Na mesma sentença e nas mesmas penas eram comprehendidos o marquez de Pal- mella, os condes de Sampaio e das Taipas, —João Carlos de Saldanha de Oliveira e Da- un, depois duque de Saldanha,— o barão de Rendufe,— o marechal de Campo Francisco de Paula d'Azeredo, depois 1.° conde de Sa- modães,— Thomaz Pinto Saavedra, tenente de cavallaria, tio paterno do meu bom am go José Augusto Pinto da Cunha Saavedra de Provezende, no alto -Douro, e outros mui- tos, que não foram justiçados, por haverem emigrado a tempo. Veja-se o art. Porto, vol. 7.» pag. 328, col. 2.» até pag. 336. Sendo capitão general da Ilha Terceira, era 1829, repeliu na Villa da Praia a expedição mandada de Lisboa pelo sr. D. Miguel con- tra ella. Em 1830 foi membro da regência e commandanie das tropas liberaes na mesma ilha; em 1831 reslaurou do poder absoluto as outras ilhas dos Açores;— em 8 de julho de 1832, sendo commandante em chefe do exercito libertador, desembarcou nas praias do Mindello com o sr. D. Pedro IV e ga- nhou nome e gloria no cerco do Porto. No fim d'aquelle anno foi dispensado do com- inando que o sr. D. Pedro tomou a si e, no- meado 1.° ajudante d'ordens do mesmo se- nhor, continuou na defesa do Porto até 21 de junho de 1883, data em que partiu como general da expedição ao Algarve. Desem- barcou era Cacella e, atravessando o Algar- VIL ve e o Alemtejo cora uma marcha rápida e atrevida, chegou a Cacilhas, onde bateu e derrotou a 23 de julho de 188'i a divisão do feroz general Telles Jordão, quatro vezes maior do que a sua, deixando morto no cam- po o dicto Telles Jordão e entrando trium- phante em Lisboa no dia seguinte. Foi depois encarregado de diversos com- mandos na defesa das linhas de Lisboa; ca- pitaneou por vezes as tropas d'observação a Santarém — e, sendo finalmente escolhido por S. M. Imperial para commandante de uma divisão expedicionária ao norte, sahiu ão Porto a 5 d'abril de 1834. Depois de haver percorrido e libertado todo o Minho, Traz- os-Montes e B jira, ganhou na Exlremadura, a 16 de maio do mesmo anno, a decisiva ba- talha da Asseiceira,— passou ao Alemtejo e concluiu a campanha no dia 27 do mesmo mez e anno com a completa submissão do inimigo, estipulada na convenção d'Evora Monte. Foi nomeado conselheiro de estado em 1833,— ministro da guerra em 1835,— e pre- sidente do conselho de ministros em 1836. Nasceu a 18 de março de 1792 — succe- deu no titulo de conde de Villa Flor e na casa de seu pae no dia 6 de março de 1795 — e falleceu no dia 26 cVabril de 1860, con- tando 68 annos de edade. Casou duas vezes, mas não deixou suc- ces-são. Para a sua genealogia e outras minuden- cias biographieas veja-se a Chorogruphia Porlugueza, tomo 2.° cap. 6.° pag. 566 e seg. — as Memorias Históricas e Genealógicas dos Grandes de Portugal, pag. 623 a 631,— a Re- zenha das Famílias Ululares do Reino de Portugal, (Lisboa, 1838), pag. 235 a 238,— o Diário Mercantil de 26 de abril de 1860— e o Universo Piltoresco. As armas dos condes de Villa Flor eram as seguinles : escudo esquartelado, no pri- meiro as dos Sousas, esquartelado das qui- nas de Portugal e armas de Leão,— no se- gundo as dos Manoeis, também esquartelado; no primeiro de vermelho um coto d'aguia com uma mão, segurando uma espada guar- VIL 729 necida d'ouro,— no segundo um leão de pur- pura armado em campo de prata. No meia do brasão o escudo dos Menezes, tendo em campo d'ouro o annel. Tinha a principio a coroa de conde,— depois a de marquez— e por ultimo a de duque. A pobre villa de Villa Flor, titulo d'estes nobres condes-, nunca teve armas próprias nem foral. Esta pequena povoação é muito antiga, pois nas Memorias de Nisa se encontra o se- guinte: «Como os templários foram os que libertaram as margens do Tejo e n'ellas ar- voraram o pendão de D. AfTonso, também fo- ram d'estes as primícias que lhes deu. Se- gundo Manuel Severim de Faria, na3 suas Noticias de Portugal, as primeiras que elles houveram foram Thomar, Alpalhão, Nisa, Villa Flor e Montalvão. Passa no antigo termo d'esta parochia ex-~ tincta a . ribeira de Figueiró, que nasce entre Alpalhão e Castello da condição de mandar dizer todos os annos, no dia da festa do pa- droeiro S. Vicente (22 de janeiro) oito mis- sas resadas com dois responsos no fim de cada uma,— e por ultimo uma missa canta- da pelas almas dos instituidores, o que a junta de parochia, como fabriqueira e pos- suidora dos dictos bens, ainda actualmente cumpre, dando mil réis de esmola por cada uma das missas resadas. As festas principaes que hoje aqui se ce- lebram são a do padroeiro S. Vicente e as do Sautissimo Sacramento e Santo Antonio. Alem da egreja matriz, ha n'esta parochia tres capellas particulares e uma publica. O edifício mais* notável d'esta parochia é a casa de Jeronymo Henriques da Cunha, posto não seja brasonada. Este senhor é grande proprietário e muito progressista— e, como o penúltimo parocho Eduardo Cabral, fosse muito regenerador, travou-se entre os dois tal desintelligencia, que durou annos! A freguezia divictíu-se em dois grupos de fanáticos e praticaram-se os maiores excessos, desordens e persegui- ções entre uns e outros. volume x Esta freguezia não tem estrada alguma a macadam. As que mais se approximam d'ella são a de Mangualde a Celorico, que passa na distancia de 4 kilometros ao norte, pela margem direita do Mondego— e a de Coim- bra pela ponte da Murcella a Celorico tam- bém, que passa ao sul, na distancia de seis kilometros. Ha n'esta freguezia um penhasco impo- nente, denominado mazorro,—e duas aulas officiaes deinstrucção primaria elementar — uma para o sexo masculino e outra para o sexo feminino. Producções dominantes — milho, trigo, centeio, vinho, batatas, frueta e Ian, pois também. cria gado lanígero. Ao rev. prior d'esta freguezia agradeço os apontamentos que se dignou enviar-me. VILLA FRANCA DE XIRA — villa e fre- guezia, sede do concelho e da comarca do seu nome, distrieto e diocese (patriareha- do) de Lisboa, na província da Extrema- dura Urago S. Vicente Martyr,— fogos 1:1 20, —almas 4:9C0. Priorado. Rodrigo Mendes da Silva deu-lhe 400 fo- gos, em 1675,— o padre Carvalho 900, em 1712, — João Baptista de Castro 9o0,*cm 1758 —Paulo Dias de Nisa 387, em 1768,— o Flaviense 1:017, em 1852,— J. A. d Almei- da 1:116, em 1866— e o censo de 1878 deu- lhe 1:041 fogos e 4:204 habitantes. Esta risonha e populosa villa, sem contes- tação hoje uma das mais importantes da Extremadura e de todo o nosso paiz, está 1 Desde já peço desculpa dos lapsos e omissões, porque nunca visitei Villa Fran- ca de Xira. Apenas a tenho visto a vola^oi- sean da linha férrea muitas vezes, desde 1858, data em que, vivendo em Lamego, fui pela primeira vez a Lisboa, achando-se ainda ao tempo aberta á circulação a linha férrea do norte apenas até o Carregado. Peço também desde já a todos quántos conheçam esta importante villa— nomeada- mente aos seus illustrados habitantes— me indiquem os lapsos e omissões para os re- parar no supplemenlo. 48 750 VIL VIL muito vantajosamente situada a 38 gr. e 57 m. de longitude e 9 gr. e 20 m. de latitude *, em mimosa e fértil planície, no clássico Ri- ba-Tejo, na margem direita do rio d'este no- me, dominando as afamadas Lezírias, que se estendem desde a Ponte da Herva, junto de Alhandra, até á Bocca do Vau, defronte da Azambuja, sendo limitadas a S. e E. pelo rio de Samora Corrêa e a N. e O. pelo Te- jo, medindo ao todo cerca de 68 milhas quadradas e produzindo approximadamen* te milhão e meio de litros de cereaes, alem de crearem muito gado bovino e ca- vallar. Tem uma só freguezia, cujo prior é vigá- rio da vara. Pertenceu á comarca de Tor- res Vedras; foi do padroado real e commen- da da ordem de Christo, da casa dos mar- quezes d'Arronches; e em 1768 o seu paro- cho era vigário da apresentação^do padroa- do real e recebia quatro moios e meio de trigo, uma pipa de vinho, cinco cântaros d'azeite e oitenta e cinco mil réis em di- nheiro, afóra o pé d'altar. Dista de Alhandra 5 kilometros, 6 do car- regado, 16 da Azambuja, 31 de Lisboa, 44 de Santarém, 306 do Porto, 351 de Braga e 436 de Valença do Minho. Comprehende além da villa a povoação de A dos Bispos, — os casaes de Prilhão da Matta, Conde, Baposa, Carvalheira, Manuel Luiz, Fonte de Baixo, José de Pinho ou do Fidalgo, José da Casa, João Francisco, Ma- nuel Bamos, Manuel Alves ou do Tivoli, Pe- dra, Santo Amaro, Bemedios, Novo da Es- trada, Novo do Prilhão, Palyart, Prilhão da Estrada e Boa Vista ;--as quintas de Paraíso Sevadeiro, Torres, Santa Catharina, Borra- cho, Salgado, Fonte, Prilhão da Matta, Des- terro, Bom Betiro, Pinheiro ou do Palyart, Farrobo, Secta e Bairro;— as vinhas de José Maria Ogando, Cerquinha, Corrieiro, Torn- eada, Bolonha, Caracol de Cima, Baeta, Bar- reteira, Santa Sophia, Lameiros, Boa Vista, Corvo, Marromeiro, Bom Proveito, Bolhão, Leal, Torre, Torrinha, S. João, Fonseca, 1 Mappa de Portugal de J. B. de Castro. Provella, Monte Gordo, Serralheira, Ginja, Baeello de Pontével, Barrada, Barrão, Con- feiteira, Pedra Furada— e os moinhos d' Al- berto Affonso e da Boa Vista? ! . . . Nole-se que além dos elegantes palacetes alvos de neve, que abundam na villa, cer- cados de formosos jardins, quasi todos os casaes, quintas e vinhas que mencionámos teem vastos edifícios para os caseiros e jor- naleiros, armazéns e mais dependências e alguns também casas nobres em que vivem temporária ou permanentemente os seus proprietários. Todo este magestoso e esplendido conjun- cto fórma o que se chama Villa Franca de Xira— ou Villa Franca dos mattos e silvedos —porque a palavra xira no portuguez an- tigo eira vem do arábico xara e significa mata, brenha, logar cheio de silvas e mata- gaes. «Á direita do Tejo, e cinco legpas de Lis- boa (diz\Fr. Joaquim de Santa Bosa de Vi- terbo no seu Elucidário) havia uma dilatada eira ou mata, que el rei D. Sancho I doou a D. Baulino, e outros flamengos no anno de 1200 para ali se estabelecerem, e com as maiores franquia?. Parece não fizeram largos progressos, e que havendo roteado alguma pequena parte, a dimittiram á corôa, pois no de 1206 o mesmo rei fez doação da sua villa de Villa Franca de Cira (que hoje dizem Xira) a D. Fruilla, ou Froilhe Her- miges, pelos muitos serviços que lhe tinha feito.» No anno de 1228 a mesma sr." D. Froi- lhe doou esta sua Villa Franca de Cira, então simples quinta, quinta ou casal, e ou- tros muitos bens que ppssuia em Portugal, Leão e Castella aos templários, pelos ser- viços que tinha recebido e esperava re- ceber d'elles. (Doe. de Thomar) E nos Concílios de Hespanha por Aguirre (to- mo 3.° fl. 168) em uma escriptura do mosteiro d'el Pino se lê o seguinte, que prova claramente ser então eira synoni- mo de mata:— Et concluide per illa se- mita antiqua . . . usque Cira de Lupos — ou em vulgar: E vae pela estrada ve- VIL VIL 751 lha... até á povoação de Cera ou Mata de Lobos i. Ignoramos quando e por quem foi primi- tivamente fundada esta povoação. O que sa- bemos é que, em virtude das guerras d'ex- terminio que assolaram e despovoaram a península, já na lucta entre os seus antigos habitantes e os phmicios. gregos, cartagi- nezes e romanos, ja entre estes e os bárba- ros do norte, já entre os godos e árabes e entre os árabes e portuguezes, ella se achava deserta e convertida em montes e silvedos, quando D. Alfonso Henriques tomou Lisboa aos mouros em H47, com o auxilio dos cru- sados de diversas nações. A prova está em que na distribuição que D. Alfonso Henriques fez das terras circum- visinhas de Lisboa pelos crusados que o ajudaram na conquista, dando esta villaaos soldados inglezes, a denominou Xira, Cira, Cera ou monte inculto, nome que os ingle- zes substituíram pelo de Cornwalia, por se- rem oriundos de Curnwall, na Inglaterra. Prevaleceu, porem, o de Xira, porque» os inglezes pouco tempo a oceuparam e mal arrotearam as suas brenhas, — e o de Villa Franca em rasão dos muitos privilégios e franquias qne os nossos reis lhe concede- ram. Foi-lhe dado o seu primeiro foral por D. Fruilla ou Froylhe Ermiges, em novembro de 1212. Maço 3 de Foraes antigos, n.08 12 e 13; — Gaveta 7, Maço 11, n.° 7— e Livro de Mes- trados, fl. 70, v. col. 1." N'este foral, entre outras coisas, se lê : Huum petintal, e dous spetaleiros, e dous ploeiros, mando que hajam foro de Cava- leiro. Petintal era carpinteiro da Ribeira, cala- 1 V. Cira no Elucidário de Viterbo. D. Froilhe H, Pinhel, Almeida, e ainda nos re- cordamos com dó da pobre villa 1 O seu chão éde agradável aspecto e pres- tava-se admiravelmente para a cultura da vinha, de olival e cereaes, mas está qúasi todo inculto, porque é quasi todo foreiro á grande Mordomia de Trancoso, o que torna a propriedade immovel e converte os seus habitantes em simples colonos ou servos de gleba cujas habitações revelam a pobresa dos seus inquilinos. São todas muito humildes e estão todas muito negras e arruinadas. Ainda conserva a sua antiga egreja ma- triz aberta ao culto, mas pobre, pobríssima — euma capella, também muito antiga, muito humilde e prestes a desabar ! No termo d'esta pobre villa vimos boas oliveiras, plantadas em terreno baldio, mas pertencentes a extranh os,— -bem como uma bella quinta, recentemente plantada de vi- des e oliveiras, mas pertencente a um cava- lheiro de Trancoso. O parodio de Villa Garcia celebra nos domingos e dias sanctificados missa nas duas povoações alternadamente,— dous dias na de Villa Garcia e um na do Freixial, sua annexa. Teem as duas povoações apenas uma es- cola official dMnstrucção primaria elemen- tar para o sexo masculino, desde 1883. Producções dominantes— em Villa Gar- cia bom vinho de meza, cereaes, castanhas e azeite— no Freixial pouco vinho, pouco azei- te e cereaes que mal chegam para as rendas, foros e juros que os seus habitantes são obrigados a pagar. É uma das povoações mais pobres da pro- víncia ! V. Freixial, vol. 3.° pag. 231, col. l.a Freguezias limitrophes,— Povoa do Con- celho, Povoa d'El-rei, Falachos, Cotimos e Cogulla, sendo esta ultima freguezia hoje a mais rica e mais endinheirada de todo o con- celho de Trancoso. Ao meu bom amigo, o sr. Miguel Antonio volume x d'Almeida Crespo, cavalheiro respeitabilis- simo e um dos primeiros proprietários da Cogulla, agradeço os apontamentos que se dignou enviar-me. VILLA GATEIRA ou VIL GATEIRA— al- deia da freguezia de Várzea de Santarém. V. vol. 10.° pag. 233, col. 2.a e seg. Dista 8:200 metros de Santarém, para o norte— está em uma pequena elevação, — conta 51 fogos com 220 almas— e tem, como já dissemos, uma capella de Santo Antonio. Suppõe-se que esta capella foi edificada em 1623, pois tinha esta data gravada sobre a porta. Como ameaçasse ruína, foi restau- rada a expensas dos habitantes d'esta paro- chia, por iniciativa do seu prior encommen- dado, o rev. e benemérito padre Antonio de ■ Carvalho. Ficou lindíssima e um pouco mais ampla do que a capella antiga. Tem hoje 10,m8 de comprimento, 4,m5 de largura— e eôro assente sobre duas colura- nas de pedra, contíguo á porta de entrada. Principiaram as obras nos fins d'abril de 1880, sendo no dia 25 d'aquelle mez remo- vida em procissão a imagem do padroeiro para a egreja matriz, onde se conservou atè o dia 14 d'agosto do mesmo anno, data em que a nova capella se concluiu' e foi solemne- mente benzida e de novo aberta ao culto, do que tudo se lavrou auto do theor seguinte : iAos 14 dias do mez d'agosto do anno do nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de 1880, pelas seis horas da tarde, o rev.0 padre Antonio de Carvalho, prior encom- mendado da freguezia de N. S, da Concei- ção da Várzea, concelho de Santarém, ben- zeu solemnemente, por se achar com a de- cência devida, a capella de Santo Antonio de Villa Gateira, conforme o ritual romano, com auctorisação do Eminentíssimo Patriarcha, na presença da junta de parochia e da ir- mandade do SantissimojjSacramento da mes- ma freguezia.» D'este auto se mandou uma copia para a camará eeclesiastica. Concluída a cerémonia, se trasladou pro- cessionalmente a imagem de Santo Antonio da egreja matriz para o seu altar;— em se- 49 766 VIL VIL guida subiu ao púlpito o rev. Manuel de Car- valho, que em uma breve mas commovente pratica, avivou a devoção dos fieis para com o padroeiro da nova capella e agradeceu a efficaz cooperação de todos para a rápida conclusão das obras. O tridue continuou nos dias 15 e 16 com missas cantadas e sermões, — musica de egreja e d'arraial pela banda de Rio Maior, — e na tarde dos dois últimos dias as celebres cavalhadas, enlevo dos povos d'estes sitios. N'esta aldeia houve ouira capdla dedica- da a S. Francisco. Foi profanada pelas hor- das francezas do general Massena, em 1810, e assim se conserva ainda. Na distancia de 50 metros d'esta aldeia para o nascente demora a quinta do Freixo, de José Augusto Galaxe, onde actualmente vive seu irmão Antonio Galaxe, afamado Ca- valleiro. Tinha também esta quinta outra capella, que foi igualmente profanada pelos france- zes em 1810, e assim se conserva também ainda. Cerca de 100 metros ao norte d'esta al- deia está a quinta da Narciso, pertencente á viuva de Antonio da Costa Rebello, que foi um dos maiores proprietários de Santa- rém,—e cerca de 1:200 melros ao sul d'esta mesma povoação demora a quinta da Laran- jeira, confinando com a mimosa e formosa quinta de S. Martinho, encantadora vivenda e habitação de sr. Paulo Maria da Costa Bar- ros, cavalheiro estimabilissimo e dono des- tas uhimas'duas importantes propriedades. Na quinta de S. Martinho ha lambem uma eapella de Nossa Senhora do Amparo, que os francezes profanaram em 1810. Banha esta quinta o rio de Perofilho que move alguns moinhos e rega formosas vár- zeas. Junto de uma d'estas esteve a velha egreja matriz, que tomou d'ella o home, bem como esta freguezia da Várzea. Houve aqui um devoto do deus Bacho (diz. a tradição) que costumava embriagar- se com agua-pé, pelo que o denominavam Vil-Gateira, ou vil bebedeira,— e d'elle to- xnou asta povoação o nome de Villa Goteira. Pôde ser, pois com agua-pé costumavam embriagar-se também os trabalhadores nas quintas do Alto-Douro, antes do phyloxera as aniquilar; mas suppomos que esta povoa- ção tomaria o nome de Gateira dos galos montezes ou teixugos que em outros tem- pos talvez abundassem n'estes sitios, como dos mesmos gatos provieram os nomes de muitas freguezias, aldeias e casaes do nosso paiz. Com o próprio nome de Gato temos nós 2 aldeias, 4 casaes, 3 quintas e um monte; —com o nome de Gata—i aldeia, 2 herda- des e 2 sitios"; — com o nome de Gatos 1 al- deia, 1 casal, 1 quinta e 1 sitio;— como nome de Gatas 1 casal ;— com o nome de Gatão 1 fre#gúezia, 6 aldeias e 2 casaes;— com o nome de Gatões 1 freguezia e 2 al- deias;—com o nome de Gateira 11 aldeias e 1 quinta;— com o nome de Gateiras 1 al- deia, 1 casal e 1 sitio— e com o mesmo nome de Villa Gateira 1 sitio na parochia de Li- tem, concelho de Leiria. Julgamos, pois, que o nome de Gateira provem dos gatos, corno dos coelhos provie- ram os nomes das terras do nosso paiz de- nominadas Coelho, Coelha, Coelhal,Coelheiro, Coelheiros, Coelheirinha, Coelhoso, Coelhosar ctc. Lembramo-uoe ainda de duas parochias denominadas Villa Cova a Coelheira, — uma no concelho de Fragoas e outra no concelho de Ceia. Deseulpem-nos a diversão. VILLA DA IGREJA— V. Villa da Egreja, freguezia do concelho de Sattam. VILLA JUS× freguezia do concelho de Mezãofrio, comarca da Regoa, districto de Villa Beal, diocese de Lamego, província de Traz-os-Montes. Reitoria. Orago S. Martinho Bispo, — fogos 127 —almas 410. Em 1623, segundo se lê no Catalogo dos Bispos do Porto, contava 115 habitantes, — em 1687, segundo se lê nas Constituições ào bispo D. João de Sousa, contava 27 fogos com 116 habitantes, e em 1768, segundo se lê no Portug. S. e Profano, contava 50 fogos e rendia 12$000 réis, afora o pé d'altar. Até 1836 foi curato annexo á abbadia de VIL VIL 767 S. Pedro da Teixeira— e já era 1623 era da | mesma apresentação. Administrativamente pertenceu ao antigo concelho de Santa Marília de Penaguião, co- marca de Lamego— e até 1882, data da ultima circumscripção diocesana, pertenceu ecele- siastieamente ao bispado do Porto. * A população d'esta freguezia está disse- minada pelas aldeias seguintes -.—Villa Jusã, S. Martinho, séde da parochia, Mattos, Cima do Douro, Bernardo de Cima, Registro, Monie, S. Fr. Gil, Ponte Henrique e Fundo de Villa. Comprehende também as quintas do Ber- nardo de Cima, da familia Rangeis, do Porto, Quelhas, da familia Mesquitas, de Mezãofrio, Quarlehões, da familia do barão Fornellos, —Souto Maior, que foi do fallecido Antonio Augusto d'Almeida e Castro e é hoje do seu herdeiro Carlos Negrão, a de Antonio Ma- nuel Pinto d'Abreu, e á da Ferreira, da fa- milia Xavier. Fundo de Villa não é povoação ou aldeia independente e autónoma como as outras; — é parte integrante da villa de Mezãofrio; comprehendendo as casas da sua extremida- de sul e que ficam em plano mais bajxo, na pendente sobre o Douro, formando o fundo da villa, seguindo-se a pequena distancia e na mesma pendente a aldeia de Villa Jusã, assim denominada por estar a jusante de Mezãofrio. 2 Comprehende, pois, Mezãofrio uma parte d'esta parochia de Villa Jusã, além das duas Pela nova circumscripção diocesana o bispado de Lamego ficou limitado a leste pela ribeira de Maçoeime e rio Côa — e a oeste pelo rio Paiva, passando para o bispa- do do Porto as freguezias que. o de Lamego tinha na margem esquerda d'este rio, nos concelhos d'Arouca e Castello de Paiva, mas em compensação recebeu na margem direita do Douro, onde nada tinha, os concelhos de Mezãofrio, Regoa, Santa Martha de Pena- guião, Alijó e Murça, com o total de 71 fre- guezias, comprehendendo também 2 no con- elho de Villa Real. 2 V. Jussã, vol. 3.° pag. 430, — Pereira Jusã, vol. 6.° pag. 685 — e Vicente de Perei- ra (S.) vol. 10. pag. 562. parochias de S. Nicolau e Santa Christina formando um amalgama insupportavel ! As 3 freguezias deviam formar uma só — e os concelhos de Baião e de Mezãofrio uma comarca, tendo por séde esta villa. No supplemento trataremos a questão. Freguezias limitrophes— Barqueiros, S. Ni- colau, Santa. Christina e o rio Douro, ao sul. A povoação de S. Martinho, * séde d'esta parochia de Villa Jusã, dista de Mesãofrio 1 kilometro, para S.— i í/2 da margem direita do Douro, para N.— 3 da estação da Rede, na linha férrea do Douro, para N. O., — 12 da Regoa pela estação da Rede, 94 do Porto peia estação do Bernardo— e 490 de Lisboa. Esta povoação é antiquíssima, pois com- prehende a aldeia da Ponte Henrique sobre o rio Teixeira, que a banha a N. O.— ponte de que hoje só resta o nome, mas que, se- gundo se suppoe, foi mandada fazer por D. Affonso Henriques, htm como se attribuem ao mesmo rei e a sua mulher a rainha D. Mafalda, a egreja matriz da parochia de S. Nicolau e a celebre Ponte do Piar sobre o Douro, na parochia de Barqueiros, junto d'esta de Villa Jusã. Foi esta parochia também sempre parte integrante de Mesãofrio e por consequência da behetria d'este nome, uma das poucas que houve em Portugal e que era cabeça das behetrias de Villa Marim, parochia sua limitrophe, — e da de Cidadelhe, limitrophe de Villa Marim. Veja-se Mesãofrio, vol. 5.° pag. 196,— Ci- dadelhe, (a 2.a) vol. 2.° pag. 399— Villa Ma- rim n'este diccionario e Behetria no supple- mento. Entretanto, quem quizer estudar a a questão das nossas behetrias leia no tomo l.a das Memorias de Litteratura Portugueza, pag. 98 a 257, a excellente Memoria de José Anastácio de Figueiredo, que é o trabalho mais completo que possuímos sobre o as- sumpto. i Não se confunda a povoação de S. Mar- tinho com a de Villa Jusã. São duas povoa- ções distinctas. A egreja matriz e a casa da residência parochial estão na primeira. 768 VIL VIL Falia repetidas vezes (Testas 3 behetrias, citando documentos muito interessantes. As behetrias, povoações excepcionalmente honradas e privilegiadas, principiaram em tempos muito remotos por simples estala- gens, montadas em sitios ermos sobre as es- tradas publicas e, por serem muito úteis aos transeuntes, os nossos reis lhes concederam privilégios extraordinários. Esta de Mezàofrio e Villa Jusã estava en- tão em sitio ermo, também na importantíssi- ma estrada de Entre o Douro e Miuho para a Beira, por Penafiel, Canaveses e Bayão — e por Amarante, Quintella e Padrões 1 da Teixeira até Mezàofrio e Villa Jusã, seguindo depois para as antiquíssimas cidades deCi- dadelhe e Panoias, em Traz os Montes, pela ponte Cavalar, sobre o rio Sermanha, — e para Lamego, Caria, etc, na Beira, atraves- sando o Douro na barca do Molledo, depois barca do Por Deus. Destruidas Cidadelhe e Panoias e as vias militares romanas, a estrada mais seguida da província d'Entre o Douro e Miuho para a Beira era por Canaveses e Bayão até Me- zãofrio ; atravessando depois o* Douro na barca do Molledo, seguia pelas encostas da freguezia da Penajoia até Santiaguinho, nas abas do monte do Poio—e d'ali por Acues para Lamego, etc. Também se suppõe que nos princípios da nossa monarchia a dieta estrada passava o Douro na celebre ponte do Piar, de que já se fallou nos arligos Barrô, Barqueiros, e Mezãofrio, e que estava entre a freguezia de Barqueiros, junto d'esla de Villa Jusã, e a freguezia fronteira— Barrô,— na margem es- querda do Douro. Ainda ali se veem restos authenticos dos grandes pilares da dita ponte, que foi a pri- meira que houve sobre o rio Douro. Alem dos logares citados, veja-se o que 1 Este sitio tomou o nome de Padrões dos marcos milliarios que se erguiam na estra- da romana que por alli passava para Cida- delhe, Panoias, Lamego, Caria, etc. Vide Ci- dadelhe, a 2.a d'esta ponte disse Buy Fernandes em 1532 na Descrrpção do terreno em volta de Lame- go duas legoas, descripção que se acha nos Inéditos de Historia Poríugueza, tomo 5.° pag. 546 a 613— e n'ella, a pag. 563 e 564, os interessantíssimos tópicos relativos á pon- te, sob os títulos Piares do Douro, e Menja frio. Bem quizeramos dal-os na sua integra, mas a necessidade de aligeirar e resumir nos força a passar adiante. Esta freguezia desce até ao Douro e acom- panha-o pela margem direita desde a quinta de Villa Verde a leste, pertencente á paro- chia de Santa Christina, até á casa do Re. gistro, a oeste, limite d'esta parochia de Villa Jusã e da 'de Barqueiros, comprehendendo cerca de 1 kilometro da linha férrea. Toca também n'esta freguezia a estrada a macadam da Begoa ao Porto, que é plana desde a Begoa até á Bede, mas muito Íngreme desde a Bede até o alto de Quintella, na ex- tensão approximada de 15 kilometros, bem como desde Amarante até o mesmo alto, na extensão de 10 a 12 kilometros, pelo que as diligencias eram arrastadas desde Amarante e da Bede até Quintella por duas juntas de bois, — a passo de lesma e com muda a meio caminho— ficando os pobres bois sempre co- bertos de suor, porque a estrada tem decli- ves de 12 a 15 por cento ! Na descida de Quintella até Amarante e até á Bede as diligencias largavam os bois, atrelavam os cavallos e fugiam em carreira vertiginosa por aquellas medonhas ladeiras abaixo, vencendo em uma hora o espaço que na subida consumia 4 a 5 e a paciência dos passageiros I. . . Nunca se viu em Portugal caminho peor para diligencias e tão concorrido até á inau- guração da linha férrea do Douro. Muito tempo trabalharam na dieta estrada simultaneamente tres diligencias diárias— e muitos foram os- tombos, contusões e feri* mentos, mas não nos consta que alguém pe- recesse, emquanto que nas viagens pelo Douro, antes de se montarem as diligencias, pereceram milhares de pessoas I . . . Só em um naufrágio do barco da carreira VIL VIL 769 junto das Caldas de Aregos, approximada- mente em i85'0, morreram afogadas 30 a 40 pessoas— e muito posteriormente mais de 30 no naufrágio d'outro barco de carreira en- tre Pinhão e a Regoa, em uma véspera de natal*! !..• Aquella medonha estrada foi feita nos fins do ultimo século pela Companhia dos Vinhos —não para diligencias, mas para liteiras, que eram o melhor transporte n'aquelle tem- po. E para que os nobres 1 empregados da Companhia tivessem onde pousar commoda- mente entre Penafiel e a Regoa, desviou a estrada para Amarante, abandonando o tra- çado seguido alé aquella data— e muito mais suave_por Canaveses e Baião,— traçado que os nossos engenheiros indicaram como pre- ferível a todos os respeitos para a estrada a roacadam; mas, como a estrada feita pela Companhia já tivesse bastante largura 2, o governo provisoriamente a mandou reparar e inacadamisar, emquanto não construía a estrada por Canaveses e Baião,— obra muito mais morosa e muito mais dispendiosa. É a estrada real, n.° 34, de Penafiel á Barca d'Alva. Ainda hoje (188o) vae nafaltura da esta- ção de Mosteiro; tem de atravessar a parte restante do concelho de Baião e depois esta freguezia de Villa Jusã e a de Santa Chris- tina até á povoação da Rede, onde entronca na parte já construída da mesma estrada n.° 34, da Rede até á Pesqueira. Principiava então a febre das diligencias ao norte do nosso paiz, pelo que, apenas vi- ram a estrada da Companhia macadamiza- da, logo se organisou, approximadamente em 1858, uma em preza de diligencias para a explorar— e pouco depois outra e outra I 1 O alto e numeroso pessoal da poderosa Companhia, desde o seu provedor até os pro- vadores, era quasi todo consiituido por fi- lhos d' algo ! . . . Era assombrosa a série de banquetes de centos de talheres que dava na sua grande easa da Regoa a todos os lavradores do Douro indistinctamenle, nos dias destinados para a compra dos vinhos. 2 Com relação ás nossas estradas antigas era uma estrada esplendida ! . . Muitas vezes fiz a viagem entre a Regoa e o Porto nas taes diligencias e em barcos, pelo Douro, vendo a morte a cada instante. Horresco referens ! . . . Atravessava e atravessa ainda hoje esta freguezia a velha estrada do Porto e Mezão- frio ao fundo da povoação da Rede e que seguia para Lamego e Beira pela barca do Por Deus. Na Regoa, hoje a villa mais formosa do Douro, nem se fallava antes da Companhia dos Vinhos ali estabelecer a sua grande casa e os seus grandes armazéns, nem havia da Rede para ella estrada alguma alem da de Sirga, que foi sempre um medonho carreiro de cabras no verão, pois no inverno a cada passo o Douro a cobre e desapparece ! . . . Os templos d'esta parochia reduzem-se á egreja matriz e a 3 capellas. A egreja é muito pequena, muito velha e pobre, e foi construída com a pedra dou- tra egreja antiquíssima, ou do mosteiro ou hospício que (segundo resa a tradição lo- cal) existiu n'esta parochia, cerca Ce 150 metros ao nascente da matriz, no chão (hoje campo e vinhas; onde esteve a eira da quinta que foi do reitor de S. Nicolau, da fimilia Tovar— bens que passaram para a familia Fornellos e d'esta para estranhos,— mesmo em frente e no mesmo nível do convento de freiras franciscanas (hoje collegio de meni- nas) que estava na margem opposta do Dou- ro, na freguezia de Barrô. No dicto local teem apparecido e conti- nuam a appareeer muitas pedras em esqua- dria. _ Ao passo que a pobre egreja matriz, com o abandono em que jaz, vae perdendo o re- boco, vé-se entre a alvenaria das paredes pedras em esquadria e fragmentos de colu- mnas, claros vestígios de construcção mais antiga e mais importante. Interiormente tem altar mór e dois late- raes com retábulos de talha muito antiga, formando painéis com pinturas a oleo sobre- madeira, mas nota-se também que os tre& retábulos pertenceram a outro templo mais espaçoso e que foram cereeados e violenta- 770 VIL VIL mente adaptados ao pequeno e mesquinho templo em que se acham. O retábulo do altar mór é formado por tres painéis, representando o do centro Nossa Senhora,— o do lado do Evangelho S. Martinho, o padroeiro— e o do lado da Epistola um frade a cavallo, com a cruz em uma mão e uma espada na outra, partindo a capa para dar a um pobre. As capellas são— uma de S. José, de An- tonio Manuel Pinto dAbreu e outra de S. Vicente Ferreira, na quinta da Ferreira, de Antonio Xavier Pinto, ambas particulares e em mau estado— e uma de S. Silvestre, pu- blica, no monte de S. Silvestre. Houve também n'esta freguezia mais tres capellas,— uma de S. Fr. Gil, publica, na povoação d'este nome,— outra, de Nossa Senhora da Conceição, na quinta da Quelha, da família Mesquitas,— e outra, da invocação de S. Bernardo, na quinta do Bernardo de Cima, que foi cortada pela linha férrea, fi- cando a dieta capella ao sul e junto da dieta linha, do lado do Douro. Ambas eram parti- culares;—a l.a já desappareceu e a 2.* está em ruinas 1. Esta parochia não tem cemitério. Os enter- ramentos fazem-se no adro da egreja matriz. Tem tres edifícios brasonados,— a casa de Antonio Manuel Pinto dAbreu, sobre o largo onde se suppoe que esteve antigamente o pelourinho, na aldeia de Villa Jusã— a de Carlos Negrão, em Fundo de Villa— e a do Registro, que foi da extincta Companhia dos Viuhos, tendo esta, ultima casa por brasão as armas reaes portuguezas. Pela organisação despótica da Companhia dos vinhos, creada pelo marquez de Pombal em 1756, 2, foi a região vinícola do Alto- * A capella de S. Vicente Ferrer ou Fer* reira deu o nome á quinta da Ferreira — assim como as quintas, o sitio e a barca do Bernardo tomaram o nome da antiquíssima capella de S. Bernardo — e a capella de S. Frei Gil deu o nome á povoação assim de- nominada. 2 Veja-ãe o art. Victoria, vol. 10.° pae. 597 a (50 i. Douro (Cima-Corgo e Baixo Corgo) dividida em dois lotes,— um de vinhos de feitoria, ou de embarque (os superiores) destinados para exportação, — outro de vinhos de ramo, destinados para queima e consumo no Porto e seus arrabaldes, onde a Companhia tiaha também o exclusivo das tavernas. O 1.° lote acompanhava as margens do Douro e dos seus affluentes desde esta fre- guezia de Villa Jusã e da de Barqueiros até os confins do concelho d' Alijó, na margem direita— e desde as freguezias de Barro e da Penajoia até os confins do concelho da Pes- queira, na margem esquerda. O 2.° lote acompanhava o 1.°, comprehen- dendo uma certa faxa de terreno immedia- tamente superior, sendo ambos divididos por grandes marcos de pedra, muitos dos quaes ainda hoje existem, o que deu causa a -sérios desgostos, porque por vezes ficaram divididas propriedades compactas do mesmo dono e era crime horrendo í, fulminado com graves penas, o passar uvas ou vinho de um lote para outro. Os dois mencionados lotes comprehen- diam— no todo ou em parte— 48 freguezias na margem direita do Douro, sendo as pri- meiras, para quem vae do Porto, esta de\ Villa Jusã, Barqueiros, S. Nicolau e Santa Christioa. Todas 4 formavam a raia ou ex- tremidade O. d'aquella região priveligiada, ao norte do Douro. Na margem sul, ou esquerda, eram aquel- las freguezias em numero de 22, formando a extremidade oeste as de Barro e Penajoia, fronteiras a Villa Jusã, pois a barca do Ber- nardo, que atravessa aqui o Douro, toca na margem direita nas extremidades S. O. de Villa Jusã e S. E. de Barqueiros, — e na margem esquerda nas extremidades N. O. da Penajoia e N. E. de Barrô. Villa Jusã olha para o sul. O seu clima é saudável e temperado,— as suas producções dominantes são vinho maduro, bem conhe- cido por vinho do Porto, milho e fructas va- riadas e muito saborosas, como todas as do 1 Logar citado, vol. 10.° pag. 598, col. 2.» VIL VIL 771 Douro,— e o seu chão é mimoso e muito fér- til. Basta dizer-se que faz parte da aben- çoada região por justos títulos denominada coração do Douro, eomprehendida no vasto triangulo formado por Lamego, Villa Real e Mezãofrio, tendo por coroa e centro a for. mosa villa da Regoa. Não se encontra em todo o nosso paiz— e difjicilmente se encontrará nos panes extran- geiros—um tracto de terreno de eguaes di- mensões tão fértil, tão mimoso, tão povoado tão lindo e de tanto valor como é este 1 Queremos-lhe muito e conhecemol-o de perto, porque tivemos a ventura de nascer n'elle, mas não nos cega o amor da terra natal. Appellamos francamente para o teste- munho de quem saiba o que é o coração do Douro e já o visitasse desde abril até no- vembro. Jaz na egreja matriz d'esta parochia João Pereira Soares d'Albergaría, filho bastardo de Manuel Soares d'Albergaria, fidalgo dis- tincto, mas muito excêntrico e algo mas. . . que viveu nas suas casas da Ribeira da Re- de, tendo vínculos e outras casas importan- tes em Aveiro, Oliveira do* Conde, Sinfães, Midões, Resende e Villa da Feira. O tal sr. João Pereira foi muito tempo o açoute e terror d'eates sitio3. Valente, desordeiro e chefe de uma qua- drilha de malfeitores, praticou muitos ex- cessos e crimes de toda a ordem, mas talis vita, finis ita I. . . Foi preso e fuzilado no Fundo de Villa, povoação d'esta parochia, por uma força de caçadores n.° 3, mandada para esse fim ex- pressamente de Villa Real, no 2.° quartel d'este século. Esta parochia de Villa Jusã e as outras duas que com ella formam a villa de Me- zãofrio, pelo facto de estarem na importante estrada militar do Minho e do Porto para a Regoa e para as províncias da Beira e Traz-os-Montes, e por formarem a maior povoação que se encontrava no espaço de trinta e tantos kilometros desde Amarante até a Regoa, soffreram sempre muito em tempos de guerra e mesmo de paz com o»s repetidos movimentos de tropa e coraduie- ções de presos, desde as epochas mais remo- tas até á inauguração da linha férrea do Douro. Ainda n'este século foram cruamente açoutadas durante a guerra da península e as guerras civis posteriores. Em junho de 1808, por exemplo, chegou aqui p sanguinário Loison com a sua divi- são, em marcha de Almeida sobre o Porto, que ao tempo já se havia sublevado contra os invasores, bem como Amarante e as pro- víncias do Minho e Traz-os-Montes. Tentan- do seguir para o Porto, foi surprehendido por grande numero de populares armados que lhe interceptaram á passagem nos Pa- drões da Teixeira e pelos que, descendo de Villa Real, se dispunham a mettel-o entre dois fogos. Retirou precipitadamente sobre Lamego, talando e saqueando as terras que deixava apoz de si, matando muitas pes- soas indefesas e incendiando varias casas, a principiar por esta parochia e pelas de Me- zãofrio, onde reduziu a cinzas a egreja dos franciscanos, o hospital da Misericórdia, etc. Batido pelos valentes transmontanos, pas- sou o Douro na Regoa e chegou a Lamego na tarde do dia 21 do dito mez de junho, marchando na manhã do dia immediato para Vizeu com tal precipitação que deixou no paço episcopal de Lamego parte da sua ba- gagem e dos roubos feitos n'esta freguezia de Villa Jusã e em outras d'este concelho de Mezãofrio e do da Regoa. Entre a dita bagagem se encontraram as peças de prata seguintes :— 13 castiçaes, 2 serpentinas grandes, 2 escrivaninhas, 3 ba- cias de mãos e 2 jarros, 6 dúzias de garfos, facas e colheres, 4 clarins, 2 grandes cru- zes processionaes, 1 imagem de Christo, 2 vasos sagrados, uma rica banqueta d'altar com SI peças, 6 grandes salvas, 7 púcaros e 13 bacios *, sendo 6 de cadeira, grandes, — tudo de prata e com o peso totai de 462 i Extracto fiel do inventario, feito por or- I dem do nosso governo, em fevereiro» de I 1809. 772 VIL VIL marcos e 6 onças,— além de uma caixa for- rada de marroquim, contendo 13 peças de louça da índia. Vejam que salteador?!. . . Esta parochia tem na villa de Mezãofrio, de que é parte integrante, muitos mercados e feiras, escolas officiaes para ambos os se- xos, um theatro, casa de Mizerieordia com hospital, muitos estabelecimentos commer- cia.es, etc. É também mimosa de peixe do Douro e do mar, principalmente depois da inaugu- ração da liaha férrea. Foi baptisado n'esta freguezia o sr. José Caetano de Carvalho, residente no Porto, cavalheiro estimabilissimo, dono das quintas da Gafaria e de Villa Nova, na freguezia de Santa Christina— e da de Freixieiro, na de Barqueiros, todas d'este concelho de Mezao-- frio. É s. ex.a irmão do sr. Antonio Caetano de Carvalho, nosso viee-consul em Angra dos Reis, província do Rio de Janeiro, no Bra- zil. A Chorographia Portugueza não menciona esta parochia, nem as de S. Nicolau e Santa Christina de Mezãofrio, nem a de Villa Ma- rim, todas d'este concelho, sendo aliás muito importantes 'e muito antigas. Foi lapso da impressão, talvez. Consta porem que esta parochia de Villa JusãM antigamente villa e n'ella ha ainda memoria do seu ultimo pe- lourinho. Dizem que estava no pequeno lar- go que ainda hoje se vê na aldeia de Villa Jusã, cerca de 1 kilomelro a oeste daegreja matriz. Dizem mais- que era de madeira, e que foi roubado uma noite pdas auc.toridades e pelo povo de Santa Manha de Penaguião!... O facto hoje não é muito fácil de explicar, pois Santa Martha de Penaguião dista d'esta freguezia cerca de 20 kilometros para N. E ; mas é possível que o facto se désse, porque outr'ora chegava até aqui o concelho de Pe- naguião e comprehendia, como já dissémos, esta parochia de Villa Jusã. Da cade;5 e dos paços do concelho não ha memoria alguma nem nos consta que tivesse foral próprio, alem dos da villa dè Mezão- frio, de que é parte interessante. Foi natural d'esta paroimia Fr. Antonio da Annunciação, agostinho descalço (grillo) re- ligioso de muita illustração e virtudes. Professou no seu convento do Porto (hoje seminário diocesano) no dia 26 de janeiro de 1804. Foi também natural d'esta parochia Fr. José da Ave Maria, religioso da mesma or- dem e que professou no convento do Monte Olivete ou do Grillo, em Lisboa, no dia 9 de abril de 18C4. Foi dr. de capello em theologia pela Uni- versidade de Coimbra, e padre mestre na sua religião, muito considerado pelos seus vastos conhecimentos. Por alvará da rainha D. Maria 1, com data de IS de fevereiro de 1791, se mandou con- cluir a ponte d' Alvarenga, sobre o rio Pai- va, no concelho d'Arouca, principiada pelo benemérito bispo de Lamego. Importaram as obras em 3: 300^000 réis que, em virtude do mesmo alvará, foram derramadas pelas comarcas da Villa da Feira e de Lamego. Pagou a l.a 1:000#000 réis— e a 2.a 1:300^000 réis, que foram divididos por todos os concelhos d'aquella vasta, pro- vedoria, pertencendo a este de Mezãofrio 46$000 réis, dos quaes esta parochia de Villa Jusã pagou também a sua quota. Mal imaginarão hoje os munícipes de Me- zãofrio que também contribuíram para a construcção do celebre ponte ^Alvaren- ga? !... VILLA DE LEDRA— parochia extincta no concelho e comarca de Mirandella, província de Traz-os-Montes. V. Fornos de Ledra, vol. 3.° pag 219, col. 1. a— e Guide, no mesmo vol. pag. 346, col. 2. ". VILLA LONGA— freguezia do concelho e comarca de Saltam, districto e diocese de Vizeu, na Beira Alta. Curato. Fogos 68, — almas 296, — orago Nossa Senhora da Graça. Em 1768 já era curato da apresentação do vigário da freguezia das Romans, á qual VIL hoje está civilmente annexa,— rendia para o pobre cura 6$000 réis, além do pé d'altar, e contava 38 fogos. Além da povoação de Villa Longa, séde da parochia, situada em um valle, que é um souto de castanheiros por onde corre a ri- beira de Coja, uma das nascentes do rio Dão, comprehende esta freguezia as quintas do Seixo, Pégo d'Urso, Buraco e Malcata. Freguezias limitrophes— Dornellas, Corti- çada, Romans, Cesures e Silvã. Segundo se lê no Diccionario Geographico Manuscripto (collecção dos relatórios dos : parochos, existente no Archivo Nacional, re- ferida ao anno de 1758) esta freguezia es- tava no termo da villa de Douro Calvo, hoje ; simples aldeia da freguezia de Romans. Produeções dominantes— vinho, cereaes, batatas e castanhas. Dista de Villa da Egreja, séde do conce- lho, 15 kilometros para E. N. E.— 32 de Vi- zeu,— e 28 da estação de Mangualde, que ó a mais próxima, na linha férrea da Beira Alta. Tem uma ponte e duas estradas a maca- ; dam, todas estas obras em via de construc- ção;-a ponte é sobre o rio Coja, que desa- gua no Dão a 18 kilometros de distancia, e dá movimento a 2 pisões e uma azetíha nos limites d'esta parochia das estradas a ma- j cadam uma parle de Castendo e deve pas- i sar a 2 kilometros de Villa Longa,— a outra j deve passar a egual distaneia e parte de Vi- ; zeu. Os seus templos reduzem-se á egreja ma- triz e a uma capella de S. Thiago,— templos : muito singelos, sem coisa alguma que me- reça especial menção. V. Romans, vol. 8.° pag. 224 col. 2.a VILLA MAIOR — freguezia do concelho e comarca da Feira, dislricto d'Aveiro, dio- [ cese do Porto, na província do Douro. Abbadia. Orago S. Mamede,— fogos 170> — almas 695. Em 1708 era reitoria da apresentação da Companhia de Jesus— e contava 100 fogos. Em 1768 era do padroado real,— contava 113 fogos— e rendia para o seu reitor réis 2000000. VIL 773 Também foi algum tempo da apresenta- ção da Universidade. Freguezias limitrophes — Canedo a E. — Gião e Lobão a S.— Sanguedo e rio Vima, que as divide, a O.— e Sandim, a N.— todas do concelho da Feira, exceptuando a ultima que pertence ao de Villa Nova de Gaya. Comprehende as aldeias seguintes: Lobel, Cedofeita, Boa Vista, Padrão, Serrão, Tojal, Quintão, Gaeta, Redondo, Estrada, Pombal, Passaes, Moinho, Lavandeira, Rubina, Car- valho, Valle, Salgueiro, Moliceiro, Cal, Bar- reiro e Cimo d'Aldeía. Ha n'esta parochia três quintas importan- tes :— uma no logar de Quintão, pertencente aos condes d'Alcaçovas, senhores de grande parte d'esta parochia e d'algumas limitro- phes;—a do Serrão, que é pequena, mas muito embellesada e muito bem traetada, pertencente ao negociante e capitalista do Pará, benemérito filho d'esta parochia, Ber- nardo Ferreira d'01iveira,—e ade Gaeta, que a oeste confina com o rio Uima. É grande e importante;— n'ella ha muitos moinhos de cereaes e uma excellente ponte de granito feita em 1884. Pertence ao abastado proprietário d'eáta freguezia, Joaquim de Fontes. Demora esta freguezia na margem es- querda do Douro, do qual dista 6 kilome- tros para S. O— 15 de Villa da Feira para N. N. E.-e 16 do Porto para S. E. Passam nas freguezias de Lobão é Gião, ao sul d'esta e suas limitrophes, a estrada districtal d'Ovar a Carvoeiro e a municipal d'Arouf*a á praia de Espinho, ambas em construcção e que devem crusar na aldeia da 'Corga, freguezia de Lobão ;— e ha em projecto outra estrada municipal de Milhei- ros a entroncar na de Avintes a Sandim e que deve atravessar de sul a norte esta fre- guezia de Villa Maior. A egreja matriz é pequena, mas bem tra- etada e bem conservada. Tem cinco altares e tres d'estes boas de- corações de talha antiga dourada. N'ella se fazem varias festas, sobresaindo a do Espi- rito Santo, que é a mais pomposa e attrahe 774 VIL VIL muitos habitantes dos povos circumvisi- nhos. Nesta freguezia não ha feiras, mas tem uma muito importante e mensal no dia 7, na povoação do Mosteiro, da freguezia de Canedo, sua limitrophe. Neila se fazem va- liosas transacções em pannos de lã e de li- nho, leDços, bois, etc. Ha n'esta parochia dous edifícios notáveis, —um antiquíssimo brasonado e em ruínas, pertencente aos nobres condes d'Alcaçovas> que ali passavam parte dó anno. Teve lam- bem contigua boa e grande capella, da qual já nem restam vestígios! Esta casa e a quinta que a rodeia eram priviligiadas e o couto dos mancebos apura- dos para o serviço militar, pois ali não en- travam as justiças nem os podiam ir pren- der. O outro edifício demora no largo da al- deia do Serrão;— foi feito pelo commenda- dor José Pinto de Fontes— e pertence hoje ao abastado capitalista Bernardo Ferreira d'Oliveira, que o restaurou e embellesou. É uma linda vivenda. Em frente d'esta casa, no dicto largo do Serrão, se faz um bom mercado nos domin- gos e dias santos— e outro na aldeia do Pa- drão, das 7 ás li horas da manhã. Banham §sta parochia o rio Vima, a oeste, que corre de sul a norte e desagua na mar- gem esquerda do Douro, em Crestuma, a 7 kilometros de distancia,— e um ribeiro que desagua no rio Uima, na aldeia de Gaçamor, freguezia de Sandim. Producções dorniuantes — cereaes e madei- ras de pinho, que exporta em grande quan- tidade. Também produz alguma cortiça.e al- gum vinho, muito verde, e cria bastante ga- do bovino para serviço da lavonra e para embarque, depois de gordo. Comprehende esta freguezia grande parte do monte de Gaeta, com vastos pinheiraes e pastagens para o gado lanígero e vaccum, sendo também abuudanto em óptimo gra- nito. Ha também n'esta parochia uma aula of- ticial de instrucção primaria elementar para o sexo masculino, desde tempos remotos, e uma hospedaria no logar do Padrão, cuja es- pecialidade são caldos de gallinha e frangos guisados. Foi presa no Porto, no dia 25 de abril de 1884, Maria Moreira, de 56 annos de edade, natural d'esta parochia e moradora na rua das Eirinha^, por exercer a profissão de bruxa ou feiticeira, deitando cartas, prepa- rando certas drogas e usando d'oulras artes ejusdem fusfuris, para extorquir dinheiro aos papalvos, que, mesmo no Porto, ainda acreditam em bruxas! . . . A policia aprehendeu na casa da dieta intrujona uma pequena porção de terra embrulhada em um papel, que (segundo ella disse) era do cemitério do Prado do Re- pouso,— uma bolsa com diversas sementes —um vidro com oleo, etc. Eram os ingredientes das nigromancias que a levaram á cadeia. A pequena distancia da egreja matriz d'esta parochia ha uma nascente d'aguas férreas medicinaes, de que muitos doentes fazem uso. VILLA MAIOR— freguezia do concelho de S. Pedro do Sul, comarca dó Vouzella, dis- tricto e diocese de Vizeu, na província da Beira Alta. Abbadia. Orago Nossa Senhora da Purifi- cação,—fogos 264— habitantes 1:156. Em 1768 era abbadia do padroado real, —contava 168 fogos— e rendia 205$000 réis Estava no antigo termo de Lafões, mas não conseguimos lobrigal-a na Çhorographia Portugueza, nem nos nossos mappas. Freguezias limitrophes— S. Pedro do Sul» séde do concelho,— Sul,— Pinho,— S. Felix— e Figueiredo d'Alva. Dista 5 kilometros de S. Pedro do Sul,- - 13 de Vouzella,— 15 de Castro d'Ayre— 26 de Vizeu— 73 da estação de Estarreja, na li- nha férrea do norte,— 122 do Porto— e 361 de Lisboa. Comprehende as aldeias seguintes : — Cobertinha, Goja, Peso, Valle, Sendas, Joa- zim, Outeiro, Estercada, Castello— e as quin- tas ou casaes de Salgueiroso, Amarante, Pe- draes, Ribeira, Dardão, Estrada, Fontainhas VIL VIL 775 Pousadouros, Ucharia, Agua Fria, e Mal Pensa. Os templos (Testa freguezia reduzem-se á sua egreja parochial e a duas capellas. Producrões dominantes — cereaes e vinho. Tem uma aula offieial de instrucção pri- maria elementar. A isto se circunscrevera os apontamen- tos que se digpou enviar- me o seu rev. pa- rocho, terminando por dizer que esta fre- guezia nada cfferece de notável e que nunca foi villa. Não sabemos pois se o foral dado a Villa Maior por D. Affonso III, em Lisboa, a 7 d'abril de 1257 e mencionado por Fran- klin, se refere a está ou a outra freguezia ou povoação do mesmo nome. Veja-se o L. I de Doações do Sr. Rei D. Affonso III fl. 20, col. 2* in médio. Nós nunca visitámos esta parochia, mas passámos por ella muitas vezes, desde 1851 até 1856, quando frequentávamos a Univer sidade, porque de Lamego para Coimbra o camiuho então mais curto e mais seguido era por Castro d'Ayre, S. Pedro do Sul, Vou- zella e Sardão,— total 21 léguas de caminho diabólico (segundo a craveira d'aquelles tem- pos) principalmente desde Lamego até Cas- tro d'Ayre, atravez da serra do Mezio— e desde Vouzella até o Sardão, atravez da serra das Talhadas e da de Rompe Cilhas ! . . • De Castro d'Ayre a S. Pedro do Sul con- tavam-se 3 léguas,— duas muito rasoaveis, de Castro d'Ayre á villa d'Alva e de Cober- tinha (aldeia d'esta parochia de Villa Maior) a S. Pedro do Sul; mas a intermédia— d'Alva a Cobertinha— era rival da celebre legoa da Povoa, — uma legoa interminável, insuppor- tavel, immensal E poucos tiveram occasião de a medir e saborear, como eu e o meu bom patrício e sempre amigo, dr. Antonio Rodrigues Pinto, actualmente juiz de direito em Siufães, e n'aquelle tempo (1854) meu contemporâneo na Universidade. Em seguida á grande desordem que houve em Coimbra no carnaval de 1854, a 28 de fevereiro, 1 depois da marcha da Academia 1 V Lamego no supplemento—e os Apon- até Thomar, recolhemos a Coimbra e, como o governo (entre outras muitas coisas) nos concedesse férias de 30 dias, — ferias que de- pois prolongou até o flm das de Paschoa, — resolvemos ir ver as nossas famílias. Fieis ao programma da celebre thomara- dat 1 partimos a pè de Coimbra para os For- nos; alugámos ali gericos até á Mealhada e proseguimos a pé para Avelans do Caminho, onde pernoiíámos. De Avelans fomos em ge- ricos para o Sardão e alugámos ali dois gar- ranos para S. Pedro do Sul, onde chegámos pelas 11 horas da manhã, tendo percorrido bons 60 kilometros, porque o meu garrano não tinha outra andadura além do passo or- dinário, muito moroso e galope bravio. Atra- vessei, pois, a galupe (?!...)■ a serra de Rompe Cilhas e a das Talhadas. Quizemos alugar cavalgaduras em S. Pe- dro do Sul, mas não as encontrámos e por isso resolvemos ir a pê para Cobertinha, es- perando encontral as ali, roas debalde as procurámos também. Como ainda o sol fosse alto e ali não hou- vesse hospedarias, fomos a pé para Alva, povoação já nossa conhecida e muito mais importante. Surprehendeu-nos a noite a meio da mal- dita legoa, sobreviodo chuva glacial e uma escuridão medonha! Levávamos percorridos talvez 70 kilome- tros desde Avelans,— iamos já moído* como salada e não podíamos dar um passo; mas o terreno era completamente deserto e só em Alva poderíamos encootrar abrigo. Fa- zendo pois ex tripis coraçonem, esforçámo- nos por transpor aquelle húmido, escabroso e negro deserto, mas succumbimos muitas vezes e— só depois de esgotadas as ultimas forças— chegámos a Alva moidissimos, sua- dos e encharcados em agua e lama! Batemos a muitas portas, mar, nenhuma lamentos para a Historia Contemporânea pelo sr. Joaquim Martins de Carvalho, pag. 241 a 248. i Note se que não me Aliei na Liga Aca- démica, associação secreta, muito similhante a Carbonária, formada pelos estudantes meus contemporâneos, em seguida a grande ! desordem. 776 VIL VIL se nos abriu; apenas nos indicaram a casa do regedor, como a única em que podería- mos pernoitar. Depois de muitos tombos, chegamos á di- eta casa, nossa ultima esperança; fallou-nos uma mulher dizendo que não nos podia re- ceber, porque estava o seu marido auzente- E fechou immediatamente a porta. Não se imagina o nosso desapontamento e a tristesa que de nós se apoderou, vendo- nos sem esperanças de encontrarmos abrigo — post tot tantosque labores?! . . . Sijntámo-nos nos degraus do pateo, ex- postos á chuva e ao vento, tiritando com frio, silenciosos e chorando a nossa desgraça, convencidos de que, antes de amanhecer, ali morreríamos, porque a noite estava chuvosa e glacial e nos era absolutamente impossível transpormos a grande légua que ainda nos separava de Castro d'Ayre. N'aquella tristíssima e angustiosa situação passámos uma hora talvez, chorando encos- tados um ao outro, até que de repente su- biu as eseadas um homem com um varapau na mão. Defrontando com os dois vultos, disse em voz de Estentor : — Qmrn está ahi? — Somos dois pobres estudantes que vão de Coimbra para Lamego (respondemos nós com as lagrimas nos olhos). Vimos já hoje de Avelans do Caminho e pedíamos por es- mola abrigo para esta noite 1 . . . Recebeu-nos o santo homem prompta- mente. Exposemos-lhe a nossa desgraça; — pedimos-lhe que nos mandasse matar uma gallinha e nos désse agua quente para ba- nharmos os pés, que nós tudo pagaríamos. Annuiu a tudo o bom do homem;— appa- receram logo muitas raparigas da terra que vinham (na fórma do costume) fazer serão para a mesma sala onde estávamos; canta- ram e palestraram— e nós comemos, pales- trámos e cantámos também; passámos o resto da noite em um palheiro enxuto— e de manhã seguimos a pè para Castro d'Ayre, onde alugámos cavalgaduras que nos leva- ram até ás nossas casas, nos arrabaldes de Lamego. Que viagem a nossa— e que extensa nos I pareceu a maldita légua d' Alba a Coberti- nhatt... Horresco referens ! 1 Desculpem-nos o desabafo e a digressão. Passa hoje n'esta freguezia de Vitta Maior e nas mesmas povoações d 'Alva e Cobertinha uma estrada districtal a macadam, servida por boas diligencias, de Lamego a Vizeu— e anda em constrrn-ção outra, mnito mais curta, de Lamego a Vizeu também, por Mon- dim da Beira, Barreias 2 e Fragoas. Muito temos progredido desde aquella da- ta, no artigo viação ! Ainda eu frequentava a Universidade quando em Coimbra se estabeleceu i i." es- tação telegraphica e ali chegou pela 1." vez a mala-posta, vinda do Carregado, em 1855 ou 1856. VILLA MAIOR — quinta pertencente á fre- guezia de Cabeça Roa, concelho e comarca de Moncorvo, em Traz os-Montes. Comprehende também a dieta parochia as aldeias de Cabanas de Baixo e Foz do Sabor ou Torrão de Murça, na margem direita da Foz do Sabor e da ribeira da Villariça, na sua confluência com o Douro, — ficando-lhe em frente, na margem esquerda da foz do Sabor e da mesma ribeira da Villariça, na sua confluência com o Douro também, a po- voação do Rego da Barca. O sr. João Maria Baptista, na sua Choro- graphia Moderna, foliando d'esta parochia diz que deveria denominar se Cabeçj e não Cabeça, por estar pei to de um grande pe- nhasco, na serra que vae do Sabor 10 Tua, atravez do concelho de Carrazeda d'Anciães, formando a região denominada Tem Fria, em contraposição á Terra Quente, sua limi- trophe a N. O. comprehendendo o concelho 1 Os roteiros daquelle tempo mareavam de Avelans do Caminho até Alva 12 léguas, que correspondiam seguramente a 18d'hoje — ou a 90 kilometros, dos quaes no memo- rável dia transposemos talvez 15 a pé, 20 em gericos e 55 nos garra nos, em marcha bravial . . . Contava eu então 21 annos e frequentava o 4.° theologico. Bom tempo era esse ! . . . 2 Hoje Villa Nova do Paiva. VIL VJL 77? de Murça e parte dos de Alijó e Mirandella, na margem direita do Tua. Diz mais que por antithese lhe deram o titulo de Bôa, «pois eu (continua s. ex.a) que por ali an- dei mais do que me convinha (acompanhan- do o marechal duque de Terceira em 1837) nunca vi nada peior !.. . Em verdade a pendente d'esta parochia para leste, sobre a ribeira da Villariça, é muito escabrosa — e mais ainda a pendente sul, sobre a margem direita do Douro, como tivemos occasião de notar em outubro de 1883, quando visitámos a província de Traz- os-Montes, subindo pela Regoa até Verim} regressando a Chaves,— passando d'ali para Bragança por Carrazedo de Montenegro, Franco e Mirandella, — volvendo a Mirandel- la e seguindo por Villa Flor para Moncorvo^ d'onde descemos á Foz do Sabor e seguimos em um barco pelo Douro até á estação de Tua, deixando á nossa direita as medonhas e Íngremes ladeiras de Cabeça Boa e atra- vessando todas as cachoeiras do Douro desde o Sabor até o Tua, nomeadamente a escura e medonha garganta do Cachão da Valleira, onde perdeu a vida o barão de Forster Sensi in fronte meo se arripiare cabei- los1^'.... Na dieta parochia de Cabeça Boa está, como dissemos, a quinta de Villa Maior, da qual tomou o titulo o 1.° visconde de Villa Maior, Luiz Cláudio d'01iveira Pimentel, pae do 2.° visconde do mesmo titulo— Julio Má- ximo d'01iveira Pimentel, que foi um dos homens mais illustrados e mais notáveis d'este século— sócio da Academia Real das Sciencias, commendador da ordem de Nossa Senhora da Conceição de Villa Viçosa, ca- valleiro da Torre Espada e da Legião de Honra, condecorado com o habito d'Aviz, lente da Eschola Polytechnica de Lisboa, di- rector do nosso Instituto Agrícola, fundador e director da fabrica de productos chimicos da Povoa, fidalgo da casa real, bacharel for- mado em mathemalhica pela Universidade 1 Veja-se n'este 10.° vol. e no art. Vias Férreas a pag. 488, col. i.a e seg. de Coimbra, major graduado de infanteria» deputado ás cones em varias legislaturas, vereador e presidente da Camara Municipal de Lisboa, membro de varias associações seientificas e por ultimo reitor da Universi- dade de Coimbra, onde falleceu no dia 20 de outubro de 1884, tendo nascido em Mon- corvo, no dia 11 de outubro de 1809. Foi s. ex.° um caracter nobilíssimo e uma das maiores íllusirações contemporâneas auctor do Douro Illustrado e d'outras mui- tas obras, das quaes Innocencio Francisco da Silva no seu Diccionario Bibliographico registrou em 18(50 a bagatella de 33 1 . . . Era s. ex.a neio paterno de João Carlos d'01iveira Pimentel, capitão-mór de Mon- corvo que, por alvará de 1 de setembro de 1807, foi auctorisado a formar, como for- mou, uma companhia por acções para tor- nar o rio Douro navtgavel desde o Cachão da Valleira até á Barca d1 Alva, obra de grande utilidade e que em 1811 já se achava concluída, apesar das contrariedades pro- venientes da guerra da península l. Foi seu tio paterno o general Claudino, que desempenhou um papel notável nas lu- ctas entre os constitucionaes e realistas no 2.° quartel d'este século, fallecendo nas ca- deias da Relação do Porto, depois de preso pelos realistas junto da actual estação do Molledo, quando em um barco descia pelo Douro, de Moncorvo para o Porto. Julio Máximo d'Oliveira Pimentel, 2.° vis- conde de Villa Maior, casou em 18 de julho de 1839 com a ex.ma sr.a D. Sophia de Roure Auffdiener, senhora muito illustrada e au- ctora de varias publicações também, hoje (1885) viuva, da qual teve filhos que vivem com sua mãe em Lisboa. Teve também muitos irmãos, todos já fallecidos, exceptuando um, rezidente em Braga. Não podemos ser mais extensos; mas quem desejar mais amplas noticias de Julio Máximo d'Oliveira Pimentel, 2.° visconde de Villa Maior, leia as duasinteressantes biogra- phias de s. ex.a— uma publicada pelo sr. 1 Douro Illustrado, pag. 104. 778 VIL VIL Latino Coelho na Revista Contemporânea de Portugal e Brazil (tomo 2.° pag. 439 a 455 — e 559 a 570-e vol. 3.° pag. 11 a 17)— a outra publicada pelo sr. dr. Antonio Candi- do no ultimo Annuario da nossa Universi- dade, relativo ao anno de 1884-1885. Para as suas obras consulte-se o Diccio- nario Bibliographico de Innocencio Fran- cisco da Silva. VILLA MARIM— freguezia do concelho de Mezãofrio, comarea da Regoa, districto de Villa Real, diocese de Lamego, província de Traz-os-Montes. Abbadiâ. Orago S. Mamede, — fogos 469, habitantes 1:749, segundo o ultimo recen- seamento. Etn 1532 contava apenas"80 fogos e era da apresentação da ordem de Christo ». Em 1768 era reitoria da apresentação do prelado do Porto, contava 220 fogos e ren- dia para o parocho 200£000 réis. Também foi algum tempo da apresentação do Papa. Esta freguezia (bem como todas as d'e.«te concelho e parte das do concelho da Regoa) pertenceu ao bispado do Porto até 1882, data da ultima circumscripção diocesana. Comprehende as aldeias ou povoações se- guintes:— Ventozellas, Miradouro, Egreja, Donsemil ou D. Somil, Paço, Venda Nova, Pereira, Martyr, Villa Cova, Ladoeiro, ou Lodoeiro, Reimonde de Cima, Reimonde de Baixo, Outeiro de Cima, Outeiro de Baixo, Reduida, Santiago, Rede, (parte, sendo a outra parte de Santa Christina), Villa Pou- ca, Ponte Cavallar 2,, Pousafolles, Gran- jão de Baixo, Salgueiro, Salgueiral, Moi- 1 Na mesma data Cidadelhe, freguezia li- mitrophe, contava 20 fogos, Santa Maria d' Oliveira outros 20, Fontes 25, o Peso da Regoa 60 e Mezãofrio 200, comprehendendo as 3 freguezias de S. Mieolau, i-anta Christina e Villa Jusã— e talvez as de Barqueiros, Tre- zouras, Frende e Loivos da Ribeira. V. Inéditos de Hist. Portugueza, tomo 5.° pag. 550 e 583. 2 Esta aldeia está junto da Ponte "Caval- lar, a N. E. de Cidadelhe e tem casas per- tencentes a 3 parochias— Cidadelhe, Cediel- los e Villa Marimll.. . nhos, Serradouro, Val de Ferreiros, Fonte» Ribeiro, Mosteiro, Boa Vista e Corredou- ra; — os sítios de Fonte Condessa, Cama- tonga, Morganhos, S. Lourenço, Azenha, Valcovo, Serro, Paredes, Vigaria, Moledo, Fraguinhas, S. Thiago (sitio e azenhas), Barea, Lombo, Sermanha, Reimonde de Baixo, Ermeiro, Guarita, Casal, Capelleda, Barreiro e Santo Antonio; — as quintas do Paço, hoje de Mauuel de Queiroz e Vascon- cellos, — S." Lourenço, de João Baptista de Figueiredo, negociante, natural d'esta paro- chia, mas residente em Lisboa, — Reimonde de Cima, que foi da família Sequeiras e é hoje da família Victorinos, d'esta paroehia,— Rei- monde de Baixo, da família Alpoim,— Molledo, que foi do general miguelista José Cardoso, d'Armamar, — Bebereira, assim denominada por ter junto das casas nobres e da estrada real, que da Regoa conduz ao Porto, uma bebereira gigantesca, magestosa, — Casal que foi de Miguel Peixoto e é hoje de seus filhos e herdeiros, — Salgueiral, da família Azevedos,— Villa Cova, Mochinhos, etc. Freguezias limitrophes — Santa Christina de Mezãjfrio a S. O.— Santa Maria d'Oliveira e Cidadelhe a N. E.— Sediellos a N.— rio Douro a S. — e Penajoia além do Douro. A séde da paroehia dista 3 kilometros da estação (apeadeiro) da Rede, na linha fér- rea do Douro,— 4 de Mezãofrio,— 13 da Re- goa—24 de Lamego, pela estação da Regoa, —51 de Villa Real de Traz-os-Montes, peia mesma estação,— 98 do Porto— e 435 de Lis- boa. Tem esta freguezia uma estrada munici- pal a macadam para a villa de Mezãofrio, séde do concelho,— estrada que deve seguir até Santa Martha de Penaguião, a N. E. Passam também n'esta freguezia, pela sua extremidade sul, a estrada real a macadam do Porto á Regoa, da qual já se faltou em Villa Jihã, e a linha férrea do Douro, desde a povoação da Rede, a S. O., até a do Gran- jão de Baixo, a S. E.— tendo na Rede um apeadeiro d'este nome, o apeadeiro de mais movimento nas linhas do Mmho e Douro e que por isso ha muito devera ter sido ele- vado á cathegoria de estação, com tarifa pro- VIL pria. Serve todo o concelho de Mezãofrio e grande parte da populosa freguezia da Pena- joia, na margem esquerda do Douro. Tem esta parochia os templos seguintes : —a egreja matriz, muito antiga e bastante arruinada, com uma capella e uma confra- ria das Almas, 4 altares e boas decorações de talha antiga.— e a egreja de S Caetano, mais moderna, mais solida, mais central e já aberta ao culto, mas incompleta ainda ; —as capellas de S. Sebastião, Santo Anto- nio e Senhora do Rosario, todas publicas— e 6 particulares, a de S. João Baptista, com um bom retábulo de talha dourada e lindas imagens, pertencente á quinta e casa do Salgueiral, da família Azevedos,— a de Nossa Senhora da Ajuda, pertencente á família Queiroz— a da quinta de Reimonde, da fa- mília Victorino», — a de S. Lourenço, na quinta d'este nome,— outra na quinta da Bebereira,—e a de Santa Luzia, que esteve na povoação de Villa Pouca e hoje está con- tigua ao palacete do visconde do Granjão, na aldeia d'este nome, e tem festa annual com romagem, no dia sanctificado mais pró- ximo ao dia da padroeira. Teve mais na povoação do Outeiro a ca- pella de S. Francisco, publica, já demolida e transformada em casa de habitação,— e na quinta do Molledo uma capella particular, que foi demolida para passagem da linha férrea do Douro. Ha n'esta freguezia duas famílias muito nobres e muito antigas— a dos Azevedos, do Salgueiral, e a dos Peixotos Pinto Coelhos. A i.» conta entre os seus ascendentes aqui naseidos o dr. João Alberto da Silva Azeve- do, que foi juiz de fóra em Lamego, ouvi- dor em Barcellos e uma das victimas do marquez de Pombal, e D. Fr. Alberto da Silva Vasconcellos, arcebispo de Goa, onde falleceu em 1675. Da nobre familia Peixotos, da quinta do Casal, é hoje represeniaote D. Francisco Peixoto Pinto Coelho Pereira da Silva de Sousa e Mello da Veiga Cabral, um dos muitos descendentes e representantes de Egas Moniz, aio de D. Affonso Henriques. VIL 779 Entre os seus nobres ascendentes conta s. ex.a os senhores de Felgueiras e Vieira, Travanca, Fermedo, Cabeceiras de Basto^ ete. É o sr. D. Francisco Peixoto primo do sr. D. Antouio Peixoto Pinto Coelho Padilha Seixas Harcourt, entre os quaes se pleilêa uma grande demanda, iniciada por seus avós ha quarenta e tantos annas (?(...) e que versa sobre um certo lote de bens, com- prehendendo a quinta do Cedro, a mais mi- mosa e mais fértil da encantadora bacia de Jogueiros, na Regoa— e a quinta de Caloi- lhe, outro prédio soberbo também, nos ar- rabaldes de Lamego. Pouco mais hoje resta da grande casa dos Peixotos Pinto Coelhos, — tão grande que chegou a ter um desembargador privativo com um escrivão e ura cartório privativos também ? ! . . . Para evitarmos repetições, veja-se Fel- gueiras, vol. 3.° pag. 162, col. I.»— Fermedo, no mesmo vol. pag. 164, col. Travanca, voi. 9.° pag. 731, col. í,« e seg. — Vieira n'este vol. 10.° e no supplemento—e Lamego no supplemento também. Aproveitando o ensejo de fallarmos d'esta nobilíssima familia, faremos uma rectifica- ção : O sr. D. Antonio Peixoto Pinto Coelho Pa- dilha tem (do seu consorcio com a 9r." D. Bertha) dois filhos e uma filha, e não duas filhas e um filho, como se disse por lápsb no artigo Travanca. A mencionada filha, por nome D. Bertha, não se acha em estabelecimento algum de caridade, como no mesmo artigo se lê, mas na companhia de sua tia paterna, a ex."» sr.a D. Maria da Madre de Deus Peixoto Coelho Padilha, rezidente em Lisboa. Em nome do meu antecessor, peço des- culpa dos lapsos. Hoje os edifícios mais notáveis d'esta pa- rochia são os seguintes:— a casa do Paço, com brasão d'armas, outr'ora da familia AI- poins e hoje propriedade de Manuel de Queiroz e Vasconcellos,— a do Miradouro, também brasonada, que foi da familia Miran- das e é hoje de Antonio Victorino de Quei- 780 VIL VIL roz,— a de Reimonde de Baixo também bra- sonada, pertencente a D. Liarolina d' Azevedo Alpoim,— a do visconde do Granjão, na al- deia d'este nome, com as armas da família, —a da Egreja, de Manuel d'Almeida Couti- nho—e a da Pereira, de José Victorino de Queiroz, bons edifícios, mas sem brasões. Também é digna de especial menção a casa de S. Thiago, na Rede, que foi de Manuel Soares d'Albergaria e é hoje do barão de Fornellos. Banha esta freguezia o Douro, desde a al- deia do Granjão de Baixo, a S. E. perten- cente a esta parochia, até á povoação da Re- de, a S. O., pertencente á parochia de Santa Christhia de Mezãofrio e a esta de Villa Ma- rim, como logo explicaremos. Banham também esta parochia o ribeiro da Réde, o de Reimonde e outros e o rio Sermanha, que nasce nas abas da serra do Marão, corre de norte a sul por entre as freguezias de Cidadelhe e de Villa Marim, á direita, e as de Moura Morta, Santa Maria de Oliveira e parte da de Villa Marim, á es- querda,—e desagua na margem direita do Douro, precisamente no ponto da Sermanha formado por elle, (V. no art. Pontos do Dou- ro o n.° 24)— passando por baixo do grande viaducto da Sermanha, na linha do Douro e dividindo na sua confluência á aldeia do Granjão de Baixo, na margem esquerda, da de Villa Pouca, na sua margem direita,— ambas pertencentes a Villa Marim. Veja-se o art. Sermanha, vol. 9.° pag. 155? e note- se que este rio não nasce nem toca na serra de Santa Christina nem na fregue- zia de Fontellas, como Adisse por lapso o meu antecessor. A circumscripção d'esta parochia é uma das mais curiosas que se encontram no nos- so paiz. Achande-se Villa Marim entre Mezãofrio e Cidadelhe, quasi na mesma altitude e a igual distancia da margem direita do Douro (cerca de3kilomelros) emumalarga zona de terreno, cortado a leste pelo rio Sermanha, a oeste pelo rio Teixeira e ao sul pelo Dou- ro, nas faldas da serra do Marão que se er- gue ao norte, podiam e deviam dividir pro porcionalmente entre si aquella zona, res- peitando como linhas divisórias os tres rios — dando'a Cidadelhe, que é a freguezia mais próxima do Sermanha.. a margem direita do rio d'este nome, e a Mezãofrio a esquerda do Teixeira, — dividindo proporcionalmente en- tre si a margem direita do Douro; mas que suecede ? A villa de Mezãofrio foi caprichosamente dividida pelas suas tres paroehias. Descendo pela estrada-rua central, deram as casas e o terreno do lado direito (aliás muito limitado) á freguezia de S. Nicolau até á margem esquerda do rio Teixeira ;— as casas e o terreno do lado esquerdo á pa- rochia de Santa Christina, prolongando-a escandalosamente para E. S. e 0., na exten- são de bons 3 kilometros, até á margem do Douro, comprehendendo a maior parte da aldeia da Rêde, que está a jusante de Villa Marim e que devia pertencer toda a esta pa- rochia. 1 Deram o fundo da Villa de Mezãofrio á parochia de Villa Jusã, prolongando-a até o Douro— e suspenderam Cidadelhe a meia encosta, não a deixando tocar no Douro, mas somente no Sermanha. Villa Marim, partindo da sua extremidade O., desce para o sul sobre a caprichosa faxa de terreno pertencente á parochia de Santa Christina, até á povoação da Réde, — ali toca na margem do Douro e segue para leste, acompanhando-o com uma estreita faxa de terreno até á margem direita do Sermanha comprehendendo a povoação de Villa Pou- 1 É formada a separação pelo ribeiro que vem de Fonte-Condessa e desagua no Douro, cortando de N. a S. a povoação da Rêde. Ficaram pois pertencendo a Santa Chris- tina as terras e casas da margem direita do dicto ribeiro, e a Villa Marim as da margem esquerda, taes são as casas e azenhas de S. Thiago, a casa que foi de Bernardo Teixei- ra, hoje de José Pinto Leite— e a estação da Rêde, na linha do Douro. Fica assim em parte rectificado o que se disse no art. Rêde, vol. 8.° pag. 78, col. 1.» VIL VIL 781 ca, 1 a jusante e próxima de Cidadelhe, não permittindo a esta freguezia tocar no Dou- ro. Para maior escândalo Villa Marim passa 0 Sermanha e vae buscar á margem esquer- da d'este rio a pequena aldeia do Granjão de Baixo, somente, 2— aldeia que devia per- tencer á freguezia d'01iveira, na qual está encravada, pois (exceptuando a dieta povoa- rão) pertence á freguezia d'01iveira todo o terreno da margem esquerda do rio Serma- nha, desde Moura Morta, a N., até á margem direita do Douro, a S.^ acompanhando este rio para teste, na extensão approximada de 1 kilometro, até um pequeno ribeiro que ha na povoação das Caldas do Molledo e que divide o concelho de Mezãofrio do da Begoa e a parochia de Fontellas da de Oliveira, pertencendo a esta ultima todo o estabeleci- mento dos banhos e os quartéis da margem direita do dito ribeiro— e á de Fontellas to- das as casas da margem esquerda do ribei- rinho 3. 1 A casa e quinta do Jayme, n'esta povoa- ção, pertenceu á freguezia de Cidadelhe, cuja matriz está cerca de 1 kilometro a mon,- tante, emquanto que a de Villa Marim dista mais de 3 ? ! . . 2 O Granjão de Cima comprehende ape- nas uma casa, cerca de 1 kilometro a mon- tante do Granjão de Baixo, e pertence á fre- guezia de Oliveira I . . . 3 Chamamos a attenção dos-leitores para o .que levamos exposto, que não se encontra em chorograplua alguma e que serve para rectificar muitos lapsos em que teem cahido outros auctores, faltando das Caldas do Mo- ledo, incluzivamente o rheu benemérito an- tecessor, por não as conhecerem tão bem, como nós, pois nascemos quasi em frente d'ellas, na pequena povoação da Curvaceira, freguezia da Penajoia, á qual pertence tam- bém a povoação do Molledo, que deu o no- me a estas Caldas. Não se confundam, pois, as Caldas do Mol- ledo, que estão na freguezia de Oliveira, con- celho de Mezãofrio, e na de Fontellas, con- celho e comarca da Begoa, na margem di- reita do Douro, província de Traz os-Montes. — com a povoação do Molledo, de que toma- ram o nome e que está cerca de 2 kilome- tros a O. na margem esquerda do Douro, freguezia da Penajoia, concelho e comarca de Lamego, província da Beira Alta. Vejam-se os artigos— Corvaceira, Fontel- las, Molledo (aldeia) Penajoia e Rede, n'este dicciouario e no supplemento. volume x * Note-se também que passa pelo meio do Granjão de Baixo, freguezia de Villa Marim, a estrada publica e única de Oliveira á foz do Sermanha e ás Caldas do Molledo, cujos banhos e parte dos quartéis são da dieta pa- rochia de Oliveira, como já dissemos. Só quem ali tenha estado muitas vezes, como nós, poderá comprehender semelhante amalgama ! O rio Sermanha devia ser a linha divisó- ria dos concelhos da Begoa e de Mezãofrio — e não o pequeno e microscópico ribeiro das Caldas,— passando para o concelho da Begoa a freguezia de Oliveira;— e o mesmo Sermanha devia dividir a parochia de Oli- veira da de Cidadelhe, com exclusão da de Villa Marim, pois a de Cidadelhe deveria descer até o Douro e comprehender na mar- gem d'este rio um espaço approximadamente egual ao que tem a O. da sua matriz, até á fronteira da parochia de Villa Marim. Esta freguezia tem a fórma d'um ~j prolongando disparatadamente a sua haste inferior e horizontal pela margem direita do Douro até além do Sermanha, servindo-lhe de remate a leste a pequena aldeia do Gran- jão, escandalosamente roubada á freguezia de Oliveira, suspendendo na mesma haste a freguezia de Cidadelhe, para que não toque no Douro. Esta parochia pela sua extensão e popu- lação, pela amenidade e salubridade do seu clima, pela fertilidade do seu terreno, todo comprehendido no coração do Douro, 1 e pela variedade e quantidade das suas producções, é sem contestação uma das parochias mais importantes do nosso paiz. Produz muitos eereaes, batatas, azeite e fructa variadíssima da mais saborosa do Douro, nomeadamente laranjas, pois com- prehende parte da fertilissima e mimosíssi- ma Ribeira da Rede, que faz pendant com a Ribeira dos Fornos, outro chão extrema- 1 Vide Villa Jusã. 80 782 VIL VIL mente mimoso e fértil na margem opposta (esquerda) do Douro, pertencente á grande freguezia da Penajoia,— e com as ribeiras de Jogueiros, na Regoa, e da Villariça, junto de Moncorvo,— todas formadas e adubadas pe- los gordos nateiros que as cheias do Douro n'ellas depositam, sendo as producções do- minantes d'esta da Rede— vinho de feitoria e laranjas. As laranjas da Rede constituem uma es- pecialidade distincta. Foram sempre das mais afamadas do Douro, rivaes das de S. Mamede de Riba-Tua, que são talvez as me- lhores de todo o nosso paiz; mas a produc- ção dominante d'esta parochia é o vinho de ramo ou de consumo, Da parte alta,— e de feitoria, na parte baixa, 1 pois comprehende cerca de 3 kilometros ao longo da margem direita do Douro, desde a Rede até o Gran- jão, produzindo ao todo talvez mais de £:500 pipas de vinho, ainda hoje, o que no Douro é muito. Para se formar idéa da importância d'esta freguezia, note-se que já em 1532,— contan- do apecas 60 fogos, como já dissemos,— pro- duzia 900 almudes d'azeite,— 12:000 alquei- res de pão,— 15 000 alqueires de castanhas, — e 15:000 almudes de vinho,— segundo se lé na conscienciosa Descripção do terreno em volta de Lamego duas léguas, escripta pelo cónego terceuario Ruy Fernandez e publi- cada pela Academia Real das Seiencias no tomo V dos Inéditos da Historia Portugue- za, pag. 546 a 613. Imagine-se a riqueza d'aquelles 60 fogos!... E note-se que aquella avaliação foi feita pela dizimaria, sempre inferior ao rendi- mento das propriedades. Os dízimos d'esta parochia pertenciam en- tão á ordem de Christo. Além de ser sempre esta parochia muito 1 V. Villa Jusã. Os terrenos mais próximos das margens do Douro são os mais abrigados, mais mi- mosos e que. produzem os vinhos superio- res. D'aqui vem o dizer-se— e com rasão— que o melhor vinho do Douyo é o que ouve ranger a espadella. V. Douro Illustrado, pag. 45. considerada pela sua riqueza, mais conside- rada era ainda pelos seus extraordinários privilégios, pois não só foi villa, honra e con- celho com justiças próprias, comprehendida nos foraes de Mezãofrio, mas lambem behe- tria— povoação excepcionalmente honrada e privilegiada. Tivemos em Portugal muitos coutos, vil- las e honras com grandes privilégios, mas behelrias muito pou<-as;— apenas as 16 se- guintes:—esta parochia e as de Mezãofrio e Cidadelhe, suas limitrophes, — Britiande, Várzea da Serra, Mezio, Campo Bem Feito, na Beira Alta, juuto de Lamego,— Amarante e Ovelha, a S. O. do Marão,— e Canaveses, Thuías, Gallegos, Louredo, Goutigem, Paços de Gaiolo e Santo Isidoro, nas comarcas de Penafiel e Canaveses. Para não alongarmos demasiadamente es- te artigo, veja-se o que sobre o assumpto já dissemos no artigo Villa Jusã — e Behetria no supplemento. Datam de eras remotas as behetrias em Portugal e na Hespanha. Principiaram por simples estalagens montadas nas estradas publicas e, pela sua grande utilidade para os viandantes, os reis as cercaram de gran- des privilégios. Esta de Villa Marim, bem eomo as de Mezãofrio e Cidad lhe, estavam na estrada, aliás importantíssima desde o tempo da oc- cupação romana, de Entre o Douro e Minho para Penaguião e Panoias, pela ponte Caval- lar—e para Lamego, Caria, Trancoso, Ala- fões, Vizeu, etc, na Beira Alta (V. Cidade- lhe, a 2.8)— aíravessando o Douro na barca do Molledo ou do Por Deus —ou na do Car- valho,—ou na da Regoa,— ou na celebre ponte do Piar, de que já se fallou em Villa Jusã,— se é que chegou a concluir-se. Segundo sé lê nas Memorias sobre os fo- raes, por Franklim, o foral novo de Mezão- frio, dado por D. M;muel em 27 de novem- bro de 1513, confirmando e ampliando o de D. Alfonso Henriques, comprehende também esta parochia de Villa Marim. Nós acres- centaremos—í a de Cidadelhe, pois temos VIL VIL 783 sobre a nossa banca de estudo o dicto foral, que a fl. 6 diz : — «Cidadelha pagua os foros que antigua- mente pagou, sem nisso haver mais emno- vação.. . e na homrra de Villa Marim se recadará por direito real o gaado do vento segundo nossa ordenaçam. «Outrosim ba hi uma quinta no limite da dita homrra e Julgado, a que chamam Mi- radouro, com certos easaes decrarados no tombo do dito Julgado de Villa Marim, a qual é própria do senhor que fôr da dita terra e recebe delia os direitos e foros, a que são obrigados os caseiros, em virtude dos prasos ou aforamentos. . . » Entre os vistos do dicto foral se encon- tram 4 muito curiosos relativos á mencio- nada quinta. No 1.°, com data de 21 d'agost» de 1743> disse o corregedor Proença :— «Acho mais que El Rei tem.huma Quinta, chamada do Miradouro, na Honra de Villa Marim, de que havia Tombo e vários prasos, de que colhe alguma renda o Almoxarife de Villa Rial, mas não consta o que he. Também acho que tem huns foros em Cidadelhe, mas não se me dá noticia d'isto, para o que ordeno aos Juises e Vereadores façam dilg.a por tu- do, p.a na pr." Corr ,m se arrecadarem. . . » No seu visto de 1744 mandou o mesmo corregedor Proença que os juizes e vereado- res satisfizessem áquelle provimento, sob pena de 6$000, etc, etc. No de '1745 disse o mesmo corregedor:— «Não se me deu cumprimento aos provimen- tos supra, por tanto hey aos Juizes do aimo passado por incursos na pena dos 6$000 réis, e mando que o Escrivão os torne a in- timar aos Juises d'este anno na fórma refe- rida, tudo debaixo das mesmas penas.» Trovejava o olympo, mas rapidamente se- renou, pois logo em seguida, com data de 14 de novembro do mesmo anno, disse o mesmo corregedor Proença : — «Visto os jui- zes estarem auzentes e não lhe ser intimado o provimento senão em novembro, por on- de não podem dar comprimento ao 1.° e 2.° provimento, os absolvo da condemnação im- posta, etc.» E não mais fallou em semelhante coi- sa?!... Lembramo-nos da phrase attribuida aos corregedores, quando viam escacear os pre- zentes e queriam encher o estômago, as co- pas, capoeiras e algibeiras — Toca a mover a vara! — pois apenas se annunciava correi- ção, ferviam os prezentes e brindes de toda a ordem. Vem isto a propósito dos aprumos e do zêlo do tal sr. Proença com relação ao des- caminho dos fóros e direitos reaes, para de prompto em um dado momento reconside- rar e indultar os juizes, e vereadores, com o fútil pretexto de que estiveram auzentes*! \... Como pôde crer-se que estivessem auzen- tes desde 21 de agosto de 1743, data do 1.° despacho, até novembro de 1745? Valha-nos a Senhora do Monte do Car- mo! Era pois reguengo a tal quinta do Mira- douro, que ainda hoje existe com o mesmo nome e, — graças ao zêlo e dignidade dos cor- regedores Proença e quejandos— ficou livre e allodial 1 . . . Temos encontrado em differentes foraes centos de vistos dos taes corregedores ape- nas com o titulo, dala e assignatura, o que prova que aquelles magistrados nada viam alem da colheita e da comezaina, pois tam- bém nos consta que as aposentadorias eram uma verdadeira praga para os povos! E, quando iam alem do sacramental visto, a desconsideração era certa. No mesmo foral d'esta villa e da de Me- zãofrio, por exemplo, mandou em 1819 o corregedor Pimentel que se traduzisse mme- diatamente para boa lettra o foral, para que podesse ser de todos lido; 1 mas em 1828 ainda se não havia copiado, pelo que no visto do corregedor Tavares, em correição d'aquella data, se lê : «Deve ser copiado em boa letra este Foral. Cuide disso os Srs. Ve- 1 É escripto em portuguez, mas em cara- cteres góticos, com illuminuras, e compre- hende 10 folhas de pergaminho, mais 2 com o indice no principio e 2 no fim com os vis- tos dos corregedores, desde 1583 até 1831. 784 VIL VIL readores alé á fulura correição, sub pena de se mandar copiar á sua custa (sic). » Agora a nota cómica : Em 1829 o corregedor, vendo ainda o fo- ral por traduzir, com manifesto desprezo das terminantes ordens dos seus collegas, desde 1819, lavrou o chistoso visto seguinte : Não se copie este Foral para que não se escarne- cão mais os Provimentos das Correições. Zu- zarte. Obedeceram os illustres vereadores, pois só em 1866— ou 47 annos depois do 1.° pro- vimento— foi o dicto foral traduzido pelo sr. Kerubino Lagoa, cartorário da Santa Casa da Misericórdia do Porto. Banham esta freguezia o Douro a S. e o Sermanha a S> E. O Douro tem nos limites d'esta parochia os pontos (rápidos, galeiras ou cachoeiras) do Conde e da Sermanha. V. Pontos do Douro, n.os 23 e 24. O do Conde tomou o nome dos condes de Marialva, antigos alcaides móres de Lamego» porque no dicto ponto cobravam certos di- reitos;—o da Sermanha tomou o nome d'este rio, em cuja embocadura se acha e que o formou com a grande quantidade de pedras que tem despejado sobre o Douro, bem como o ribeiro da Curvaceira e o rio Corgo for. maram os pontos, a que deram os seus no- mes. O ponto da Sermanha também podia de- nominar-se Ponto do Frade, porque muitos annos, até 1834, foi uma das quintas mais rendosas de um frade da Penajóia, bem co- nhecido por Fr. Bernardo do Molledo,— um dos homens mais valentes e mais temidos n'aquella grande freguezia e em todo o con- celho de Lamego, no 2.° quartel d'este século. Não sabemos bem porque bulias todos os barcos que subiam o dito ponto eram obri- gados a dar-lhe 480 réis por cada sirga que lançassem a terra, pois só com os bois do dito frade podiam ser guindados n'aquelle ponto. E, sendo os marinheiros rabellos de pelle diabi, nomeadamente os afamados va- lentões de Barqueiros e de Porto Manso, to- dos se curvavam á despótica imposição do fradinho e pagavam pontualmente!. . . Morava elle na povoação do Codorneiro (uma das muitas da Penajóia) junto da do Molledo e do dicto ponto, e deixou boa for- tuna, hoje de um seu 2.° sobrinho, Antonio Rodrigues França, que habita a mesma casa do tio, a melhor d'aquella povoação e que avulta a meio dVHa, distinguindo-se perfei- tamente do Douro, d'es!a parochia de "Villa Marim e do mencionado ponto, por ter um espaçoso mirante envidraçado. Tem esta parochia uma fabrica de quei- mar vinho e duas azenhas na Rede, movidas por agua, — outras duas mais distantes, mo- vidas por gado — e no Sermanha um bom estabelecimento de moagem de pão. Tem na foz do (Sern?anha também uma grande ponte de pedra de um só arco, na estrada real da Regoa ao Porto i-eo gran- de viaducto da Sermanha, uma das primei- ras obras d'arte na linha férrea do Douro. V. Sermanha. A jusante do ponto da Sermanha e a mon- tante do do Conde crusa entre esta freguezia e a da Penajóia a celebre barca do Molledo ou do Por Deus, que tomou o nome da antiga povoação do Molledo, na margem sul, — po- voação que deu o nome ás Caldas do Molle- do e á quinta do Molledo, uma das muitas d'esta parochia, por estar em frente d'a- quella povoação, na margem norte (direita) do Douro. Ha n'esta parochia, na vinha e montes da Capelleda, junto da egreja de S. Caetano (lado norte) uma mina de estanho, registra- da e principiada a explorar na segunda me- tade d'este século por Miguel Peixoto, de so- ciedade com alguns capitalistas de Lisboa. O minério era de excellente qualidade, 1 Esta ponte foi mandada fazer pela Com- panhia dos Vinhos, quando fez a estrada do Porto á Regoa. V. Villa Jusã. Anteriormente havia, um pouco a mon- tante d'esta, outra ponte para communica- ção entre os povos das duas margens d'este rio Era também de pedra e ainda lá se vê, sendo denominada ponte velha. VIL VIL 785 mas os filões descobertos muito frouxos, pelo que suspenderam a lavra. N'ella se encontraram vestígios de remota exploração— galerias, pratos de estanho, pi- caretas, etc. Entre esta parochia e a de Cidadelhe, sua limitrophe, ha um morro, denominado Cas- tello dos Mouros, onde se vêem ainda hoje ruinas consideráveis de um castello anti- quíssimo, cuja fundação se attribue aos ro- manos. Ali se teem encontrado muitas medalhas romanas, de cobre, prata e ouro. Uma de ouro, de Cesar Augusto, encontrada depois do meiado d'este seçulo, tinha de valor réis 4$ 100, avaliada pelo preço corrente do nosso ouro. Outra, encontrada também pelo mesmo tempo, e também de ouro, tinha no anverso a efígie de uma mulher e no reverso a efí- gie d'outra mulher,, e pelo preço corrente do nosso ouro em barra valia 800 réis. Alguém diz que n'este morro esteve no templo dos romanos uma cidade ou povoa- ção muito importante, com os restos da qual se formou a freguezia e povoação de Cida- delhe, muito próxima. V. Cidadelhe, a segunda. Ao norte d'esta freguezia se ergue impo- nente a serra do Marão, notável pela sua al- titude, tendo sobranceiras a esta parochia e á de Cediellos as medonhas Fragas da Er- mida—um dos maiores despenhadeiros que se encontram era Portugal I D'ali se gosa um panorama vastíssimo so- bre a baeia hydrographica do Douro e so- bre as províncias da Beira e Traz-os-Mon- tes, ficando aos pés do observador desenha- do o abysmo com as mais vivas cores do bello horrível. Deslumbra o assistir do alto d'aquelle pe- nhasco ao nascer do sol. Existe ali, no ponto mais elevado,— Cabe- ço da Lousa,— um pequeno poço, aberto pela natureza na rocha, com alguns litros d'ex- cellente agua potável, que não trasborda nem secca. «Mais de uma vez a saboreámos pela aba do nosso chapéu»— diz o meu in- formador. A serra do Marão, ao norte, e a do Monte do Muro, ao sul, abrigam e defendem das intempéries o Alto Douro e contribuem para a excellencia das suas producções, nomea- damente do vinho, como se lê no Douro II- lustrado, pag. 28 e 29. A povoação da Rêde foi na primeira me- tade d'este século a vergonha e o açoute d'esta freguezia e de todo este concelho. Era um covil d'assassinos e salteadores que tinham por valhacouto a casa de Ma- nuel Soares d'Albergaria, mas com a morte d'este e do seu filho bastardo João Pereira, fuzilado em Mezãofrio, aquelles meliantes mudaram de rumo. V. Villa Jusã n'este diccionario— e Rede no'supplemento. Na aldeia do Granjão ha duas pessoas no- táveis—o visconde d'aquelle titulo e o vene- rando e benemérito cirurgião Joaquim José de Sousa. Antonio Botelho Teixeira, 1.° barão do Granjão por mercê de 7 de maio de 1867, e 1.° visconde do mesmo titulo por mercê de 28 d'abril de 1879, nasceu no Granjão de Cima, parochia de Santa Maria d'01iveira, nos princípios d'este século, e foi capitão do exercito realista do sr.D. Miguel, que o con- decorou com a sua real efflgie. Depois da convenção d'Evora Monte, re- colheu-se a sua casa, abraçou o partido li- beral—e ha bons trinta annos é presidente da camará de Mezãofrio, sem interrupçãofl..- Casou em Fornos d'Algodres com a ex.n,a sr.a D. Carlota d'Albuquerque Pimentel e Vasconeellos, já fallecida, senhora muito vir- tuosa. D'este consorcio houveram uma filha única, D. Amélia Teixeira Botelho d'Albu- querque, senhora virtuosíssima também? hoje casada com o dr. José Abranches Ho- mem da Costa Brandão, antigo deputado ás cortes e cavalheiro de muito merecimento» natural do concelho de Ceia, districto da Guarda. O sr. visconde do Granjão ainda vive n'esta data e teve um irmão, que falleceu ha poucos annos, dr. José Botelho Teixeira, ex- cellente pessoa, advogado distincto e muitos 786 VIL tos annos juiz de direito substituto na Be- goa. Joaquim José de Sousa, filho natural de uma mulher de Villa Pouca, povoação d'esta freguezia de Villa Marim, nasceu na villa de Moimenta da Beira, em agosto de 1804. Protegido por um abbade de Cidadelhe, formou-se em cirurgia na Escola do Porto, matriculando-se em 1825 e terminando com distincção a formatura em 1830. Passou em viagem de instrucção pelo nosso paiz o anno de 1831, que foi um vul- cão de revoluções I . . . Em princípios de 1832 foi nomeado pelo sr. D. Miguel cirurgião ajudante do regi- mento de infanteria n.° 19, de Cascaes. Sitiado o Porto pelas tropas do sr. D. Mi- guel, prestou Joaquim de Sousa relevantes serviços nos hospitaes de sangue que se im- provisaram em volta d'aquella cidade para os sitiantes e sitiados prisioneiros, nomea- damente no hospital que se creou no con- vento da Formiga, no qual só no dia de S. Miguel de 1832 entraram cerca de 1:000 sol- dados feridos. Desgraçados tempos ! . . . Em 1833 foi despachado cirurgião mór para o regimento d'artilheria de Faro;— em. abril de 1834 passou com a mesma patente para cavallaria n>° 8— e, em seguida á con- venção d'Evora Monte (27 de maio d'aquelle mesmo auno) deixou a carreira militar, que tão auspiciosa lhe sorria, e recolheu-se a sua casa. Becebeu convite para servir no exercito liberal com a mesma patente de cirurgião mór (contava elle então 30 annosl . . .) mas não acceitou, sustentando inabalável até hoje as suas crenças realistas,— sempre respeita- do e muito considerado por todos, incluindo os próprios liberaes,— porque foi sempre um cavalheiro a toda a prova e exerceu sempre a clinica particular com grande proficiência muito zelo e muito desinteresse nos conce- lhos de Mezãofrio, Begoa e Lamego, nomea- damente na freguezia da Penajoia. Fixou a sua rezidencia no Granjão de Baixo, onde lem vivido e vive ainda, mas já VIL completamente inutilisado com o peso dos seus 81 annos! Poucos cirurgiões ruraes terão trabalhado tanto e deixarão de si tão abençoada memo- ria!.. . Falleceu no dia 9 de abril de 1882 na sua quinta do Casal, n'esta freguezia, o sr. Mi- guel Peixoto Pinto Coelho de Sá Carneiro, pae do sr. D. Francisco Peixoto Pinto Coe- lho Pereira da Silva de Sousa e Mello da Veiga Cabral. Chamava-se Miguel, por ser afilhado do sr. D. Miguel I, que no baptismo se fez re- prezentar pelo marquez de Bellas. O finado era filho de Anselmo de Andrade de Sá Carneiro e de sua esposa D. Maria Hen- riqueta Peixoto Pinto Coelho Pereira da Silva de Sousa e Mello,— neto pela parte paterna do general Antonio José Baptista Sotto-Maior de Sá Carneiro e Castro, e pela parte materna de Francisco Peixoto Pinto Coelho Pereira da Silva, ultimo senhor donatário de Felguei- ras, Vieira e Fremedo, legitimo descendente e representante do famoso Egas Moniz. Nascera Miguel Peixoto em Lisboa, no dia 19 de julho de 1831. Em volta de Lamego ha muitas povoações cujos nomes terminam em im, taes são La- lim, Lazarim, Ferreirim, Magustim, Mondim, Gojim, Goujoim, Sendim, Sedavim, Cantim, Contim, Gondim, Penim, Almeirim, etc. Todas estas povoações foram restauradas pelo benemérito emir ou rei mouro de La- mego, Zadam-lben-Huim, de quem por gra- tidão tomaram e ainda hoje conservam o appellido. Talvez que do mesmo regulo tomassem também a desinência im esta parochia de Villa Marim, a de S. José de Godim, junto da Begoa, e a povoação de Nostim da fregue- zia de Moura Morta, visinha de Villa Marim, pois todas estas povoações estão a pequena distancia de Lamego, embora na margem direita do Douro, e é possível que no tempo da occupação árabe pertencessem ao reino de Lamego, assim como posteriormente per- tenceram á provedoria da mesma cidade e agora pertencem áquella diocese. VIL VIL 787 Esta parochia soffreu muito em 1808 com os excessos de toda a ordem, praticados pelo sanguinário general francez Loison, n'este concelho de Mezãofrio e no da Regoa. V. Villa Jusã. Tem duas aulas officiaes dt instrucção primaria elementar para os dois sexos— e na villa de Mezãofrio, séde do concelho e sua limitrophe, tem muitas feiras e mercados importantes, muitas lojas de commercio bera sortidas, um theatro, ura hospital da Mise- ricórdia, pharmacias, etc. Os primeiros proprietários) d'esta fregue- zia na actualidade são — Manuel d'Almeida Coutinho, Victorino de Queiroz e o viscon- de do Granjão. Aos meus illustrados collegas, os rev.os Antonio Corrêa da Silva e Abilio Pereira Dias, agradeço os apontamentos que se di- gnaram enviar- me. VILLA MARIM — freguezia do concelho, comarca e districto de Villa Real, arcebis- pado de Braga, província de Traz-os-Mon- tes. Vigairaria. Orago Santa Marinha —fogos 303,— habitantes 1:260. Em 1706 contava 135 fogos,— era da apre- sentação dos jeronymos de Belém— e per- tencia ã comarca, ouvidoria e corregedoria de Villa Real, provedoria de Lamego. Em 1768 era da mesma apresentação,— contava 194 fogos— e rendia para o seu vi- gário 40$000 réis. Comprehende as povoações ou aldeias!' se- guintes: Villa Marim, Ramadas, Gallegos. Quintella, Amai, Outeiro, Barroca, Muas ou Meças, Agares, Pombal e Refontoura;— os casaes ou quintas de Cabril, Fojo, Covello e Veiga ;— a casa, habitação isolada, dos Ma- chados—e os sitios da Marinheira e Cou- cieiro. Freguezias limitrophes — Mondrões a S. O. — Borbella a N, E.— Villa Real a S. E— e Villa Cova a 0. Dista de Villa Real 3 kilometros para N. O.— 30 da Regoa —134 do Porto— e 471 de Lisboa. Producções dominantes— cereaes, casta- nhas, batatas, melancias, maçãs e vinho muito áspero. No século xiv D. Martinho d'01iveira, quarto do nome, natural d'Evora, annexou ao convento benedictino de Pombeiro esta parochia de Villa Marim, e as de Santa Ma- ria de Canedo, em terras de Basto, S. Miguel de Vargiella, S. Diniz de Villa Real de Traz- os-Montes, S. Martinho de Penacova, Santa Maria de Bobadella, S. Fins de Torno, S. João de Cavez, S. Salvador de Moure, S Mamede de Villa Verde, S. Martinho d'Armil e Val de Bouro, segundo se le na Benedictina Lu- zitana, L. 2.* pag. 72, col. 1.* ê — Esta parochia é muito antiga e muito con- siderada pois já no tempo do nosso primeiro rei D. Affonso Henriques era honra;— per- tencia como tal a Mem- Guedes— e d'elle pas- sou por varonia, durante séculos, aos Gue- des Alcoforados, descendentes de Mem Gue- des. Tomaram o appellido Alcoforados depois que Diogo Guedes, 3.° neto de Mem Guedes, casou com D. Goldora Goldares Alcoforado. Caetano Guedes Alcoforado foi o 17.° neto d'aquelle avoengo e teve uma irmã, D. Ma- gdalena Máxima Souto e Medeiros, que ca- sou em Provezende com José Botelho ^Aze- vedo Cão, fidalgo distincto, capitão mor do Couto de Provezende, morgado e descen- dente do celebre Diogo Cão, descobridor do Congo. Do consorcio com D. Magdalena teve José Botelho uma filha única e herdeira, D. Qui- téria Liberata Souto Maior d' Azevedo Cão, que casou com Affonso Botelho de S. Payo e Sousa, morgado de Passos, junto de Sa- brosa, descendente de Affonso Botelho, o velho, primeiro alcaide-mór de Villa Real de Traz-os-Montes, por graça d'el-rei D. Diniz. Por esta fórma os vínculos de Passos e Provezende se reuniram em uma só família, que pelo lado materno procedia dos Guedes Alcoforados, senhores da honra de Villa Ma- rim, concelho de Villa Real, desde o princi- pio da nossa monarchia. Estas casas e estes vínculos foram em nos- 788 VIL VIL sos dias representados pelo notável campeão das medidas restrictivas do Douro, deputado ás cortes em differentes legislaturas, Affonso Botelho de S. Payo e Sousa, > mas não re- presentava a casa de Villa Marim. Apenas tinha o sangue d'ella. Ha n'esta freguezia, na povoação de Quirt- tella, uma torre antiquíssima, acastellada e ameiada, com o aspecto da Torre da Marca, hoje dos Terenas, no Porto. Antes da funda- ção de Villa Real de Traz-os-Montes já exis- tia a mencionada torre de Villa Marim— e em 1721 era senhor dYlla o conde de Vimioso. Ignoramos a quem pertence na actualida- de e quem íoi o seu fundador. Ao meu illustrado cyreneu e bom amigo, o ex.mo sr. José Augusto Pinto da Cunha Saavedra, de Provezende, agradeço os apon- tamentos que se dignou enviar-me. Com relação a esta parochia diz J. A. de Almeida : «No logar de Agares está a ermida de S. Torquatò, aonde concorriam muitos romei- ros. Aqui junto ha memoria de um castello demolido, com uma cova no meio, entulha- da de pedras lavradas, e com o seu recinto de muralhas por fóra, de que se vê ainda hoje parte, e que dizem ser obra dos mou- ros. Mais perto do mesmo sitio vê-se uma cova em terra de salão, d'onde, affirmão al- gumas pessoas, se tiràra um caixão com muitas peças d'ouro.» Foi natural d'esta parochia Fr. Seraphim da Conceição, carmelita descalço. Nasceu a 6 de janeiro de 1734 e falleceu a 6 de fevereiro de 1814. Passou a maior parte da sua vida em Braga, onde, pela sua illustração e virtudes, foi bem acceito-aos arcebispos D. Gaspar, D. Fr. Caetano Bran- dão e D. José da Costa Torres, de quem foi confessor. Esci eveu varias obras, indicadas por In- nocencio Francisco da Silva. No supplemento a este diccionario — se V. Sabrosa e Provezende. Deus nos der vida e forças e elle estiver ainda a nosso cargo— desenvolveremos con- sideravelmente este artigo. VILLA MARTIM— hoje Martim, freguezia do concelho e comarca de Barcellos, da qual já se fallou no vol. 5.° pag. 100,' col. Ia E' povdfcção muito antiga, pois d'ella faz menção o livro Fidei dizendo que estava nas faldas do monte Baseio (ou Bastucio) e que ali tivera certas propriedades Anagildo,— propriedades que vendeu a Guthierre Love- sende e a sua mulher D. Aragunta, no anno de 1024. Comprehende hoje esta parochia as al- deias ou povoações seguintes: Martim, séde da parochia, Venda, Pousada, Pomares, Ri- quinha, Lousa, Caldellas, Logar d'Alem, Ta- pada, Poi tella e Carcará. A aldeia de Martim, outr'ora Villa Mar- tim, ó atravessada pela estrada real a maca- dam de Braga para Barcellos e demora na margem esquerda do rio Cavado, do- qual dista 3 kilometros,— 10 da villa de Barcellos —62 do Porto— e 399 de Lisboa. VILLA DE MATTOS — V. Vil de Mattos, n'este vol. 10.° pag. 661. VILLA ME× freguezia, couvento e couto extinctos no concelho de Sinfães. V. Escamarão e Souzello. Note-se que o coucelho de Paiva, de que se fallou nos logares citado?, já não é do bispado de Lamego. Desde 1882, data da ul- tima circumscripção diocesana, ficou per- tencendo ao bispado do Porto, bem como to- do o concelho dArouca, exceptuando unica- mente a freguezia d'Alvarenga, por estar na margem direita do rio Paiva, linha divisória adoptada para extrema dos bispados do Porto e de La mego, como já se disse em Villa Jusã. VILLA ME× freguezia do concelho de Villa Nova da Cerveira, comarca de Valença do Minho, districto de Viauna do Castello, diocese de Braga, província do Minho. Reitoria. Orago S. Paio,— fogos 102 —ha- bitantes 404, comprehendendo a povoação de Chamosinlws que lhe.foi aonexada admi- nistrativamente, mas que para os effeitos es- pirituaes pertencia e pertence á parochia de S. Pedro da Torrre. VIL VIL 789 Esta freguezia é formada pela povoação do seu nome, em cujo centro está a egreja ma- triz, e pela de Montorros, que apenas tem 3 fogos. A aldeia de Chamosinhos em tempos mais remotos esteve annexa á freguezia de Santa Maria da Silva, d'este mesmo concelho de Valença, mas depois, por eontracto feito com o convento de Uia, em Galliza, padroeiro da dieta parochía da Silva, passou para a de S. Pedro da Torre, mediante o pagamento de 80 alqueires de pão por anno ao convento de Oia. Em 1706 denominava-se esta freguezia Villa Meão,— contava 40 fogos— e era vigai- raria da apresentação da collegiada de Va- lença. Em 1768 era da mesma apresentação— contava 65 fogos— e rendia para o seu vigá- rio 301000 réis. Demora na margem esquerda do Minho, do qual dista 2 kilometros para S. E.,— 5 de Villa Nova da Cerveira e de Valença— 35 de Vianna do Castello,— 70 de Braga,— 116 do Porto— e 453 de Lisboa. Os campos de Villa Meã foram cortados ao sul pela estrada real de Caminha a Va- lença,—e ao norte pela linha férrea do Mi- nho, cuja estação mais próxima é a de S. Pedro da Torre, a distancia de 3 kilome- tros. Producções dominantes — cereaes, — vinho verde e hervagens. Também é mimosa de peixe do mar e do Minho, nomeadamente de salmões, sáveis, e lampreias. Esta parochia já esteve algum tempo an- nexada á de Campos, sua limitrophe, mas hoje ó freguezia independente, com parocho próprio. V. Campos, vol. 2.° pag. 75, col. l.a A Villa Meã, a que se referem as Inquiri- ções de D. Affonso III, no termo de Vianna, e a troca feita com D. Gil, bispo de Tuy, era um logar da freguezia d'A(fife, concelho de Vianna do Castello. V. Afife, in fine. VILLA ME× quinta antiquíssima junto de Prime, no termo de Vizeu,em 1207, data em que D. Sancho 1 a doou a Martinho Sal- vador, como se lê em Viterbo no artigo Ca- lumpnia, e como nós já dissemos também no art. Prime. Suppomos que a tal quinta de Villa Meã, mudou de nome, pois no concelho de Vizeu não conhecemos quinta ou povoação assim denominada, alem da povoação de Villa Meã na parochia de Povolide, distante de Frago- sella cerca de 10 kilometros, para N. E.— em quanto que Prime é hoje uma das aldeias da parochia de Fragosella. As outras povoa- ções d'esta parochia são— Fragosella de Ci- ma, Fragosella de Baixo, Sarnadinha, Tapa- do, Espadanai e Granja. A Chorographia Moderna não menciona quinta alguma pertencente á esta parochia. E possível que outr'ora se denominasse Vil- la Meã alguma das mencionadas aldeias. V. Prime, Fragosella e Povolide. VILLA MEà DE BAIXO * —aldeia da fre- guezia de Real, concelho d'Amarante. V. Real, vol. 8.°, pag. 63, col. 2.* Comprehende mais esta freguezia as al- deias de Real, Outeiro, Ribeira, Rubim, Sal- gueiras, Salvador, Souto, Cruz do Souto, Par- dieiros, Aldeia, Aldeia Nova, Aldeia Velha, Pias, Eirado, Bemfica, Ponte da Pedra, Mon- te, Moinhos, Outeiro, Fundo de Villa, Terça, Eira, Fonte de Cima, Penedo, Santa Comba Rua, Adega Velha, Agro Maior, Salgueiri- jihos, Feitoria, Casas Novas, Assento, Mon- tinchol, Cotovial e differentes casaes e quin- tas. Passa junto da aldeia de Villa Meã de Baixo a linha férrea do Douro, que tem ali a sua 10 a estação a contar do Porto, deno- minada Villa Meã. * Ha na dieta aldeia uma importante indus- tria de mortalhas de palha de milho para ci- garros, que são exportadas para o Brazil, nomeadamente para o Rio de Janeiro, em grande quantidade, — e temos ao norte do nosso paiz outras muitas terras que explo- i Villa Meã de Cima, aldeia próxima, per- tence á freguezia d'Athaide, também do con- celho dAmarante. 790 VIL VIL ram a mesma industria, nos concelhos de Amarante, Lousada, Sinfães, ete. São no Rio de Janeiro actualmente conhe- cidas 50 marcas differentes de palha portu- gueza, que representam outras tantas casas expedidoras. As ditas mortalhas foram a principio en- fiadas da ilha de S. Miguel (Açores) mas acabou ali esta industria por ser a palha to- da mais grossa e não poder competir com a palha do nosso continente. Para se avaliar a importância d'esta in- dustria, note-se que só uma casa do Rio de Janeiro costuma ter em deposito palha no valor de 20 a 30 contos de réis fracos?!. . . A palha poriugueza é ali conhecida por palha especial e fina, de 1.» e 2.» qualidade — e vendida em pacotes de 500 mortalhas cada um, regulando actualmente o milheiro de 2.a por 800 réis,— o de J.« por 10000 rs. — e o da especial por 10300 a 10500 réis fracos. O governo brazileiro a principio cobrava na alfandega 200 réis por kilo ; — hoje cobra 10500 réis— e o consumo tem subido em dobro nos últimos annos. Ha no Rio de Janeiro fortunas feitas só cora este artigo. A palha de milho, portugueza é a melhor que se conheee para as mortalhas dos ci- garros. Lamentamos que na maior parte do nosso paiz ainda hoje se ignore esta parti- cularidade e o grande partido que podiam tirar d'ella, como tiram esta aldeia de Villa Meã e algumas outras do Minho e da Reira, nomeadamente de Sinfães. Esta aldeia de Villa Meã foi a séde do an- tiquíssimo concelho de Santa Cruz de Riba- Tamega, extincto por decreto de 24 d'outu- bro de 1855, pelo qual passou para o de Amarante. Ainda ali se vé a casa da camará e da ca- deia, bem como o pelourinho. Era pois uma povoação importante, em quanto foi séde do concelho; extincto este, decahiu bastante, mas hoje, depois da con- strucção da linha férrea do Douro, que lhe peu estação própria, Villa Meã recobrou no- I va vida e rapidamente ultrapassou a impor- tância que perdeu. Alem da estação e das suas dependências, já tem muitas casas novas, differentes esta- belecimentos commerciaes, dois hotéis como nunca teve, etc. 1 VILLA MEà DE BORNE£— aldeia da fre- guezia d'este nome, junto das Pedras Salga- das, no concelho de Villa Pouca d' Aguiar, província de Traz-os- Montes. V. Bornes e Pedras Salgadas. A freguezia de S. Martinho de Bornes comprehende as aldeias seguintes -.—Villa Meã, Rebordechão, Lago Bom, Tinhella de Cima, Tinhella de Baixo, Valhegas e Lagoa todas muito antigas,— e a das Pedras Sal- gadas, muito moderna, mas hoje a mais no- tável e mais importante, formada pela bene- mérita companhia exploradora das aguas alcalino-gazosas-sodicas,bem conhecidas em Portugal e nos paizes extrangeiros como aguas das Pedras Salgadas, rivaes das de Vichi, em França, das de Verim, em Hes- panha, e das de Vidago e Bensaude, n'esta mesma província de Traz-os-Montes. O dia 9 de setembro de 1884 foi altamente lisongeiro para esta povoação de Villa Meã. Achando-se nas Pedras Salgadas el-rei o sr. D. Fernando com a sua esposa actual, a sr.a condessa d'Edla, e com seu filho o sr. Infante D. Augusto, fazendo uso das aguas alcalino-gazosas, — para fugirem á monoto- nia e para respirarem a pulmões cheios o ar puro do campo, não cessavam de passear pelas cercanias d'aquelle estabelecimento balnear. Um dia espraiavam-se pelos montes caçando,— outro dia alongavam o passeio até ás margens dos rios mais próximos, en- tretendo-se com a pesca,— outro dia foram nos seus trens até Villa Pouca d'Aguiar; — visitaram lambem o Vidago e Chaves— e no mencionado dia 9 offereceram um pic-nic aos hospedes do Grande Hotel, onde a famí- lia real se achava hospedada também. 1 Dão-lhe também muita vida 2 boas es- tradas a macadain, que partem da estação para o concelho d'Amarante, servidas por diligencias. VIL VIL 791 Realisou se a festa em um do3 sitios mais pittorescos das visiohanças das Pedras Sal- gadas—um souto de castanheiros na aldeia de que nos oecupamos. Teve a honra de ser um dos convidados o sr. dr. Manuel Maria Rodrigues, ao tempo também ali a banhos, chronista e redactor do Commercio do Porto, para o qual enviou no dia immediato uma interessante corres- pondência da qual extractamos o seguin- te : Pedras Salgadas 10 de setembro de 1884. «Ficarão memoráveis no espirito de to- dos os que tivemos a honra de ser convida- dos para o pic-nic realisado hontem pela fa- mília real, as impressões agradabilíssimas que nos proporcionou aqueila festa, já pda magnificência com que foi disposta, já pela occasião que tivemos de conhecer, melhor do que nunca, o trato delicado e captivante de el-rei o senhor D. Fernando e de sua es- posa a senhora condessa d'Edla, do infante o senhor D. Augusto e ainda da3 pessoas que n'esta localidade formam a sua pequena e despretenciosa corte. Estas qualidades excel lentes, que são tra- dieionaes na família realportugueza,só bem se apreciam quando, como hontem, nos en- contramos par a par com os seus membros, sentindo o magnetismo suave das altenções com que nos penhorae das amabilidades com que nos confunde. — Aqui somos todos iguaes— disse el-rei. E effectivamente, ao vór-se a convivência franca e desprendida que durante a tarde rei. nou entre todos os convivas, ninguém julga- ria que entre nós, simples cidadãos, estava por exemplo, o pai do chefe do Estado, um monarcha, emfim, que por mais de uma vez tem presidido aos destinos d'esta pátria, que jâ de ha muito é também a sua, se não por nascimento, comtudo pelos laços da familia que o prendera a um torrão, pequeno em di- mensões, é verdade, mas grande nos feitos gloriosos que ennobrecem as paginas bri- lhantes da sua velha historia. El-rei e suafamilia pareciam sentir-se bem n'este grupo, que apesar da liberdade que lhe era dada pelo exemplo do mais amável convívio, se via apenas embaraçado por ve- zes em não poder testemunhar-lhes bem cla- ramente o reconhecimento de que estava possuído perante uma affabilidade tão lhana como expontânea. Nós, os hospedes do Grande Hotel, estáva- mos já habituados ao trato familiar e atten- cioso de el-rei, de sua esposa e filho, pelas conversações a cada passo travadas entre tão elevados personagens e nós, mas todos esses requintes de cortezia e de fina edueaeão du- plicaram na festa de hontem. O dia apresentou-se perfeitamente adequa- do á diversão que se effeetuava. porque até o calor dardejante do sol tornava mais ap- petecida a sombra que projectava no sitio a ramagem frondosa dos castanheiros. Os snrs. Ferreira de Almeida, Mendes de Araujo e eu preparamos o terreno e dispo- zemos o local para a mais commoda perma- nência n'elle. Desbravou-se o chão, collocouse um tol- de para interceptar algum raio solar mais indiscreto, disposeram-se as ramagens e as bandeiras e procurou-se emfim dar ao sitio um aspecto festivo e uma disposição aprazí- vel. A's quatro horas da tarde estávamos ali to- dos os hospedes convidados. Pouco depois chegaram os régios personagens, que foram recebidos por nós, próximo do souto desti- nado ao banquete; ao mesmo tempo estron- deavam os foguetes e a musica 1 executava o hymno d'el-rei. O povo que se juntára, attrahido pelos si- gnaes da festa, collocára-se a distancia e sau- dava respeitosamente S. M. e a sua familia. Emquanto se tratava dos preparativos, o senhor D. Fernando, a senhora condessa e o senhor infante faziam as honras do campo com a máxima urbanidade e cortezia, já con- versando com todos os convidados, já dis- pensando as maiores altenções ás senhoras, i Era a banda marcial do regimento d'in- fanteria n.° 13, que esteve nas Pedras Sal- gadas, emquanto ali se conservou a familia real. 792 VIL VIL que a senhora condessa tinha chamádo para junto de si. Estendida a branca toalha no chão, no cen- tro da qual se destacava um modesto centro das pobres flores que trabalhosamente con- seguíramos reunir, alfombrado o chão com um macio tapete de fetos sobre os quaes se estenderam os chailes e as mantas de via- gem, el-rei deu ordem para que nos sentás- semos e procurássemos os lugares que me- lhor nos approuvesse sem distincções de ca- thegorias, e cada um se acommodou perfei- tamente, dando-se principio ao pic-nic. «Eram quasi cinco horas e a (arde princi piava a tornar-se amena. Collocados em uma eminência, a nossa vista dominava um for- moso panorama emoldurado ao fundo pelas curvas das serras, cuja cadeia parecia pro- longar-se infinitamente, contrastando o ne- grume das suas massas graoitivas com o vi- ço dos valles que lhes contornavam a base. A refeição correu animadíssima, por en- tre os dietos alegres e as conservações pra- senteiras de uma sociedade composta na ap- parencia e na sua totalidade de amigos ve- lhos, tal era a cordialidade com que a todos tratava a familia real. Do serviço o máximo elogio que se pode fazer delie é declarar simplesmente que era da casa dei rei. Ao champagne, S. M. congratulou- se por ver alli reunidas pessoas cuja companhia summamente disse ser-lhe agradável pelo prazer que duplamente lhe tinham dado com aaceeitação do seu convite, e brindou por to- das ellas, agradecendo a participação que ha- viam tomado n'aquella festa sern pretensões. Respondeu em nome d'estes o sr. dr. Na- varro de Paiva (procurador régio na Relação do Porto), saudando o rei e a familia real. Em seguida brindou também a S. M. el-rei o sr. D. Luiz I. O sr. Ferreira de Almeida, deputado ás cortes, brindou pela rainha a senhora D. Ma- ria Pia e depois pelo senhor infante D. Au- gusto. O sr. Mendes Araujo, como filho do Porto, relembrando a memoria de D. Pedro IV, brin- dou pelos seus descendentes. O sr. Navarro de Paiva brindou pela se- nhora condessa d'Edla. El-rei D. Fernando por ultimo saudou to- das as presentes. Entardecia já, quando nos dispozemos a regresar ao hotel. Deu -se antes um pequeno passeio, durante o qual a senhora condessa afagava com carinho verdadeiramente ma- ternal as creancinhas do povo, e depois diri- gimo-nos a pé, pela povoação de Villa Meã até á estrada onde estavam os trens, erguen- do-se durante o percurso calorosos vivas a el-rei, ao senhor infante e á senhora con- dessa. A familia real pôz de novo á disposição dos convidados um dos breacks e uma outra carruagem, e pouco depois seguíamos para o hotel, á porta do qual nos despedimos de el rei e de sua familia, exprimindo-lhes o nosso agradecimento pela distíncçâo com que nos penhorara, e as gratas impressões que em nós permanecerão indeléveis pelas atten- ções de que fôramos objecto.» Terminado o banquete, a senhora condes- sa d'Edia mandou dar ao povo, que se acha- va reunido a pequena distancia, tudo o que sobrouequeera muito, inclusivamente cham- pagne e outros vinhos generosos. Foi uma rasia completa, — a nota mais alegre da funeção 1 Os criados a custo salvaram a louça e os talheres, porque o povo cuidava de metter tudo no estômago— e, se não interviessem os policias civis que acompanharam a familia real, não sabemos o que succederia ! . . . Conclusão :— Graças ao sr. D. Fernando, á sr." condessa d'Edia e ao sr. infante D. Au- gusto, é hoje o pittoresco souto de Villa Meã uma das estancias mais salientes e de mais gratas recordações nos arredores das Pedras Salgadas. VILLA MEà DO BURGO— (hoje simples- mente Burgo)— aldeia da freguezia de S. Salvador do Burgo, concelho e comarca de Arouca, districto d'Aveiro, hoje diocese do Porto na província do Douro. Até 1882, data da ultima circumscripção diocesana, pertenceu esta freguezia ao bis- VIL pado de Lamego, mas pela nova circurnscri- pção passou para o bir-pado do Porto com todas as do concelho d' Arouca, exceptuando a d'Alvarenga, por estar ua margem direita do rio Paiva, que ficou sendo por este lado a linha divisória dos bispados do Porto e de Lamego. Também passaram para o bispado do Porto todas as freguezias do concelho de Paiva, que eram do bispado de Lamego. V. Burgo, vol i.« pag. 505, col. I.'— Sal- vador do Burgo, vol. 8.° pag. 360— e Lamego no supplemento. Esta aldeia de Villa Meã do Burgo, hoje simplesmente Burgo, é antiquíssima e já foi villa e sede de conce lho com justiças pró- prias, casa de camará, pelourinho e cadeia, mas nunca foi freguezia. Era uma das povoações que constituíam e constituem a freguezia ainda hoje, denomi- nada S. Salvador do Burgo, porque foi sem- pre seu padroeiro S. Salvador até os fins do ultimo século, data. em que o substituíram pelo Santíssimo Sacramento. Alem das povoações mencionadas no ar- tigo Salvador do Burgo, comprehende esta parochia as seguintes:— Forcada, Lourosa, Figueiredo, Romariz d'Alem, Romariz d'A- quem, Vessada, Villa Meã do Burgo, ou sim- plesmente Rurgo, Ponte do Rurgo, Alhavai- te, Monte Calvo, Povos e Morta 1 e a quinta da Torrena, aldeia de Lourosa ou Leirosa dos Campos. IN"esta quinta houve (não sabemos se ha ainda hoje) uma torre antiquíssima, da qual partia uma estrada subterrânea para as fal- das do monte, onde estava ou está a dieta torre. Esta parochia do Rurgo é muito antiga, tanto que alguém pretende que a sua egreja matriz (S. Salvador) foi a l.a que houve em todo este valle d'Arouca; inclinamo-nos po- rem a crer que a 1.» foi a de Urro. O abbade era aprezentado pela abbadessa 1 A Chorographia Moderna àiz—Possos e Manta. Foi lapso. VIL 793 do real mosteiro d' Arouca. Recebia elle a terça dos dízimos, das sanjoaneiras e do ren- dimento do passal, afóra o pé d'altar;— as outras duas partes eram das freiras, dona- tárias d'esta freguezia e de todas as outras d'este concelho e que, além dos dízimos, ti- nham aqui muitos foros. Rendiam os dízimos, sanjoaneiras e pas- sal 42011000 réis, pertencendo ao parocho 140$000 réis-e ás freiras 2800000 réis. O chão d'esta parochia é fertilissimo, ame- no, saudável e de formoso aspecto, pois é parte integrante do valle d'Arouea, um dos mais formosos tractos de terreno que se en- contram em todo o nosso paiz. Passa pelo meio d'esta parochia o rio!i4r- da, que banha e fertilisa os seus vastos cam- pos e recebe aqui, como tributários, diver- sos ribeiros, entre elles um que nasce no sitio da Forcada e desagua na povoação da Pimenta. Y. Arda. A maior parte d'esta freguezia era do termo e couto d'Arouca ; a parte restante formava o antiquíssimo concelho de Villa Meã do Burgo que, apesar da sua diminuta população, tinha juiz ordinário e vereado- res próprios; mas, como as freiras d'Arouca fossem donatárias d'elle, os escrivães d'este concelho eram os do couto d'Arouca, pelo que nos dois concelhos se faziam as audiên- cias em dias diííerentes. A extincta e antiquíssima villa do Rurgo, outr'ora Villa Meã do Burgo, compõe-se ape- nas de uma estreita e tortuosa rua, que era â antiga estrada d' Arouca para Oliveira de Azeméis, na qual, por influencias politicas, metteram ou antes entalaram a nova e lin- díssima estrada actual a maeadam, feita em substituição d'aquella. Todas as suas casas são de humilde appa- rencia e revelam muita antiguidade, sobre- saindo entre ellas a que foi do capitão-mór Vaz Pinto e que hoje é do seu herdeiro e re- presentante Veríssimo Albino Teixeira Vaz Pinto, o primeiro proprietário d'esta fregue- zia e um dos primeiros d'este concelho. E3ta casa é bastante espaçosa, irregular e 794 VJL VIL muito antiga, mas revela muito maior anti- guidade ainda um appenso, já sem tecto e que foi talvez o núcleo d'esta casa e o solar d'esta família. Facêa o dicto appenso com a mesma es- trada rua;— tem apenas duas portas e duas janellas— e a meio d'estas uma lapide com uma inseripção muito gasta e quasi inintel- ligivel. Estando nós ali em 1883 com os nossos bons amigos, os srs. Tito de Noronha, enge- nheiro, escripior publico e sócio correspon- dente da Academia Real. das Seiencias,— e dr. Manuel de Barros Nobre, então delegado do procurador régio n'esta comarca d'Arou- ca e hoje (1885) juiz de direito nos Açores, — a custo podemos ler o seguinte : Fern. Vaz Pinto Fil. Estevan Vaz Pinto mort. Africa magn virt... Régis Sebastian. . . . Selerum comes factus Anno Di. 5 8 4. Eu mesmo a copiei atentamente, mas não me responsabiliso por ella, porque os cara- cteres estavam muito gastos e tanto que não me foi possível decifrar alguns. Parece que diz: Fernão Vaz Pinto, filho de Estevam Vaz Pinto, morreu na Africa e foi um valente militar no reinado de D. Sebastião A data 584 (anno de 1584) refere-se tal- vez ao anuo em que ali puseram a lapide, pois o reinado de D. Sebastião terminou em 1578. Em 1584 já Filippe II de Hespanha, o de- mónio do meio dia, dominava Portugal. A pequena, distancia d'esta casa e do mes- mo lado (norte) da rua, se lê na padieira da porta d'outra casa muito mais humilde, esta inseripção O P.e Antonio Aranha. Jesus Maria José. 1 6 7 9. Em frente d"esta ultima casa, do outro la- do (sul) da mesmar ua, se vê uma casa no- va, simples, poueq^espaçosa, mas elegante* pertencente aos fidalgos de Paço de Sousa que possuem aqui um bom casal. Tem a dieta casa um brasão esquartelado: — no 1.° 3 flores de liz,— no 2.° uma cruz aberta, em campo vermelho: — assim os con- trários—e por timbre a mesma cruz e duas flores de liz. Pretende alguém que a primitiva villa d' Arouca foi esta aldeia de Villa Meã do Burgo, o que não acreditamos, porque Arou- ca já existia do tempo dos romanos e foi uma povoação florescente no tempo dos go- dos. Na doação que o conde D. Henrique fez em 1102 de Jesus Christo, a Echa Martins, ultimo rei mouro de Lamego, menciona-se Arouca e outras povoações adjacentes, mas não se falia n'esta de Villa Meã ou do Bur- go. Com certeza já então existia, mas era uma aldeia de pouca importância. Quero dizer com isto que o Burgo (na mi- nha humilde opinião) não foi a velha Arau- ca, Aruca ou Ai aduela dos romanos,— nem como villa tem a antiguidade de Arouca. No artigo próprio já dissemos que Arouca teve foral velho, dado por D. AÍTonso I em abril de 1151 e que D. Manuel lhe deu foral novo em 20 de dezembro de 1513 — e não nos consta que esta Villa Meã tivesse foral velho nem novo. Franklim menciona um foral dado a Villa Meã, aldeia, por D. Affonso III, em Lisboa, a 12 de julho de 1255. Maço 9 de Forcres Antigos, n.° 8. fl. 18, v. —Liv. 3 de Doações do sr. rei D. Alfonso 111, fl. 10, col. is — Liv. 2.° de Doações do mesmo Sr. Rei, fl. 55, in médio— e Liv. de Foraes antigos- de Leitura Nova, fl. 146, col. 1* Não diz porem Franklim qual a parochia, coneelho ou província da tal aldeia de Villa Meã, — e, havendo em Portugal tantas aldeias com o nome de Villa Meã, só pela leitura do foral pôde saber-se a qual das dietas aldeias pertence ;— suppomos porem não ser a esta, porque em Arouca não ha memoria alguma de semelhante foral. E mesmo que elle fosse VIL VIL 795 dado a esta Villa Meã, isso provava que Villa Meã ainda era 1255 era uma simples aldeia, o que eu não nego. O que sustento é que a villa de Arouca é povoação muito mais an- tiga e foi sempre mais importante do que a villa do Burgo. Talvez que o Burgo já fosse aldeia antes d'Arouea ser villa, mas isso Dão prova que a primitiva Arouca fosse a aldeia do Burgo, como alguém pretende. É inegável que esta aldeia de Villa Meã do Burgo data de tempos muito remotos. Sabemos que na era 958 de Cesar (920 de Jesus Christo) eram senhores do valle de Arouca D. Ansur 1 Godsteiz e sua mulher D. Eleva, que reedificaram e ampliaram o convento d'Arouca, doando-o com muitas rendas e senhorios ao abbade Hermigildo, por escriptura feita a 12 d'abril da era 999 de Cesar, ou 961 de Je-us Christo, na qual escriptura se declara que os doadores viviam em Villa Meã do Burgo. Não sabemos quando esta aldeia, foi feita villa— nem quando deixou de ser coneelho independente. O que sabemos é que foi de- molida em 1804, para passagem da nova es- trada a maeadand, a sua casa da camará e da cadei». Já não tinha tecto, nem portas, nem janelias e era um edifício pequeno e modesto, mas construído de granito e muito solido ainda. Como padrão dos seus antigos foros ainda conserva o seu velho pelourinho, que se vé junto de uma capella, a N. E. da villa. Cerca de 300 metros a S. O. do Burgo se vê também junto da 'nova estrada, do lado sul, a capella de Santo Antonio e contíguo a ella um arco, a que o vulgo erradamente chama moimento da Bainha Santa. É um arco de granito de architectura musarabe, sem inscripção alguma e com uns toscos relevos, — obra muito antiga. 1 D.Ansur era lambem senhor— e senhor de baraço e cutelo! !. . .—da cidade ou co- marca d'Anegia, a cujo termo Arouca per- tencia n'aquelle tempo V. Areja n'este diccionaric— e em Viterbo a palavra Cutelo. A tradição diz que foi feito para n'elle descançar o féretro da rainha Santa, quando veiu de Castella—e que por essa occasião se construíram outros muitos arcos semelhan- tes desde Castella até aqui, sendo dois d'el- les, o do Marmoiral e o que se vé á entrada da quinta da Boa Vista, em Sobrado de Paiva. Isto é um disparate dos muitos que abun- dam nas nossas lendas; 1. °— Porque o monumento do Marmoiral é o tumulo de D. Souzino Alvares. V. Bugefa e Marmoiral; 2. °— Porque a sepultura que está junto do portão da Boa Vista é evidentemente o ja- zigo d'um guerreiro (não de uma senhora) como revelam as espadas que n'elle se veem esculpidas: 3. °— Porque Santa M;ifalda não morreu em Castella, mas sim no convento d'Arouca, onde professou e rezidiu durante 70 annos, approximadamente, no que lodos os chro- nistas e historiadores concordam. O monumento de Santo Antonio do Burgo é incontestavelmente um mausoléu d'algu- ma pessoa notável,— talvez d'algum nobre guerreiro que fallecesse ha batalha ferida aqui pelo conde D. Henrique e por Egas Moniz contra o ultimo rei mouro de La- mego. Poderia também ser o tumulo de D. An- sur, depois transferido para o convento de Arouca,— ou de algum seu ascendente— ou de outro qualquer caválleiró d'estes sitios. Está ainda, bem conservado, posto que não ha memoria da data em que dVHe tiraram o ataúde com os ossos da pessoa que ali ja- zia. Note-se finalmente que este monumento estava alguns metros mais ao norte; mas, quando se fez a nova estrada a macadam, por causa do alinhamento, removeram no (approximadamente em 1864) para o ponto onde hoje se vé, ao- sul da dieta estrada e contíguo a ella, — sem a mínima alteração ou mutilação, — graças ao engenheiro quesuper- intendeu na transferencia. A rainha Santa Mafalda concedeu aos lha- 796 VIL VIL bitantes d'este concelho de Villa Meã do Burgo o privilegio de não serem obrigados a ir ás montarias nem aos clamores ou pre- ces que se faziam na quaresma em differen- tes freguezias d'este valle. A mesma rainha no seu testamento man- dou que se désse annualmente a 12 viuvas d'este concelho do Burgo 12 medidas de pão 12 de vinho e 500 réis em dinheiro, a cada uma, o que ha muitos annos se não cum- pre. Veja-se o artigo Arouca, onde se fazem muitas referencias a esta Villa Meã do Bur- go—e para a sua etimologia leia-se o artigo Burgo, vol. l.° pag. 507, col. 2.a in-fine. VILLA MEÃO ou VILLA ME× freguezia extincta no concelho, comarca e diocese de Bragança, província de Traz-os-Montes. Tinha como orago Santa Olaya ou Santa Eulália,— era curato da apresentação do rei- tor da freguezia de Rabal— e commenda. Em 1706 contava 40 fogos;— em 1768 con- tava 41— e rendia para o seu cura 8$000 réis além do pé d'altar. Desde muito se annexou á freguezia de Babai. Vide. Esta freguezia de Rabal demora na pro- víncia de Traz-os-Montes (concelho, comar- ca, districto e diocese de Bragança) e não na do Douro, como se disse por lapso no artigo próprio. Conta hoje 102 fogos e 426 habitantes. Em 1706 estava dividida por 4 commen- das, a que chamavam quartos, rendendo ca- da um cerca de 50$000 réis,— total 200^000 réis, dos quaes os eommendadores davam ao reitor d'esta freguezia 42$000 réis. Tinha também annexa a commenda de Villa Meão, que rendia 130$000 réis— e a de Grademil que rendia 50$000 réis. Ambas mm curatos. Era pois esta parochia de Rabal (com as suas duas annexas) património de 3 paro- cbos e de 6 eommendadores?!. . . Ditosos tempos 1 . VILLA MENDE— aldeia da freguezia de Ferreira, concelho e comarca de Coura, pro- víncia do Minho. V. Ferreira, vol. 3.° pag. 170, col. 1." I Esta parochia de Ferreira comprehende a3 povoações seguintes -.—Villa Mende, Fer- | reira, Valle, Venade, Quintão, Cascalhai, Portella, Morini/Cruz, Centteira, Quingustos, Barrocas, Villares, Veiga, Fijó, Penedo e Tourem. A povoação de Villa Mende, notável por muitos titulos, está na vertente meridional do monte de S. Silvestre, na margem direita do rio Coura, d'onde dista cerca de 1:500 metros. Demora uo valle de Ferreira, ba- nhado por um ribeiro d'este nome. Antigamente esta parochia de Ferreira pertenceu á comarca de Valença, como se disse no artigo próprio, mas em 1874 passou para a de Coura. Na mencionada aldeia de Villa Mende è muito digna de menção a antiquíssima Casa do Paço, que por alliança passou para a fa- mília Champalimaud, a qual ainda hoje a possue. Junto da dieta Casa do Paço existia desde tempos muito remotos a celebre Torre de Ferreira ou de Villa Mende. Foi demolida ha muitos annos, talvez nos fins do século xvir ou nos principios do xvm, e com a sua pedra se edificou a capella de Nossa Senhora dos Remédios, como consta da inscripção seguinte,' que se vê no fron- tispício d'ella : Ex turri Ferreira olim EST DIMENSA SACELLUM STRUXIT SED LAPSO CONDIT IPSA MODO É tradição que fora senhor da dieta torre, e nascera na dieta Casa do Paço D. Antonio Mendes de Carvalho, 1.° bispo d'Elvas. Assim o asseveram também alguns dos seus biographos; outros porem dizem que nasceu na casa. de Boi a Monte, em Forma- riz, parochia d'este mesmo concelho de Cou- ra, limitrophe da de Ferreira, para leste e muito próxima. Parece porem fóra de du- vida que foram senhores da Casa do Paço e Torre de Villa Mende, solar dos Mendes, os paes do benemérito bispo D. Antonio Men- des. VIL VIL 797 Pouco mais de seis annos haviam decor- rido depois que tomara posse da sua dioce- se, quando se perdeu na Africa el-rei D. Se- bastião com os 18:000 portuguezes que o acompanharam, ficando captivos cerca de 16:000. Tractando-se logo do resgate, o santo bispo D. António Mendes — á custa dos maio- res sacrifícios— resgatou todos os que perten- ciam ao seu bispado, no que empregou to- das as rendas da diocese, ficando reduzido ao estrictamente necessário para a sua parca e modesta subsistência ! . . . Mandou também fazer o paço episcopal e viveu sempre com grande parcimonia. Era só generoso para com a pobreza e tanto que, sendo ainda parocho de S. Miguel de Rebor- dosa, concelho de Paredes, no bispado do Porto, 1 chegou a passar privações com a sua generosidade para cora os pobresinhos. Sendo ainda ali parocho, foi um dos pri- meiros que adoptaram os livros do registro parochial para os nascimentos, casamentos e óbitos, pouco depois que o infante D. Affon- so, arcebispo d'Evora e de Lisboa e abbade d'Alcobaça, filho d'el-rei D. Manuel, creou o mencionado registro. Falleceu D. Antonio Mendes em Elvas com opinião de santidade, no dia 9 de janeiro de 1591 e jazeu muitos annos em sepultura raza na capella mór da sua sé (hoje exlin cta) até que fazendo-se de novo a dieta ca pella e achando-se o seu corpo incorrupto, o bispo D. Antonio de Mattos e Noronha o coílocou em tumulo alto na mesma capella, do lado do Evangelho, com a inscripção se- guinte : Sepultura de D. Antonio Mendes de Carvalho, primei bo bispo d'esta cidade e bispado d'elvas. . Deus o tenha em bom logar 1 . . . Ao ex.mo sr. dr. Luiz de Figueiredo da Guerra, illustrado filho de Vianna, agradeço os apontamentos que se dignou enviar-me. VILLA MENDO — aldeia da freguezia de 1 Foi ali parocho durante 14 annos. VOLUME x Abrunhosa Velha, concelho e comarca de Mangualde, districto e diocese de Vizeu, pro- víncia da Beira Alta. V. Abrunhosa- A-Velha, vol 1.° pag. 23. Esta freguezia tem hoje 270 fogos com 1891 habitantes (em 1708 contava apenas 176 fogos) e comprehende unicamente duas aldeias ou povoações— Abrunhosa Velha, sé- de da parochia, e Villa Mendo,— alem dos casaes seguintes:— Manteiro, Covello, Abru- nhal, Pedrogo, Feiteira, Pisão, Senhora dos Verdes, Poço Mourão, Fojo, Eiras e Pousada — e as quintas da Retorta, Boa Vista, Cabral, Caducas, Boehinhas e Carregal. No século xviii as duas povoações de Villa Mendo e Abrunhosa Velha foram desmem- bradas do antigo concelho de Tavares e ar- voradas em concelho próprio com o titulo de Villa Nova de Abrunhosa Velha, por es- tar a séde do concelho em Abrunhosa Ve- lha. Foram senhores donatários d'este conce- lho os Paes de Mangualde, hoje condes da Anadia. Na aldeia de Villa Mendo ha uma casa nobre, muito importante. É a do visconde de Villa Mendo, que tomou «festa aldeia o titulo,— Antonio de Gouveia Osorio, irmão do dr. José de Gouveia Os. rio, digníssimo juiz de direito no Fundão, e de, Manuel de Gouveia Osorio, tenente coronel de engenhei- ros, actualmente inspector d Engenharia na 2.a divisão militar, com r^ side-m-ia em Vizeu — e do dr. Francisco Au^usio de Gouveia Osorio, juiz de direito na cidade de Bra- gança. O visconde de Villa Mendo, Antonio de Gouveia Osorio, ainda s Iteiro, nasceu na casa de Villa Mendo em 1826. Foram seus paes Manuel de Gouveia Osoi io e D. Maria Máxima de Gouveia Osorio, >ua sobrinha, d'este, filha do dr. José de Gouveia Osorio, desembargador da Relação e Casa do Porto, procurador da coroa e à> pu ado ás cortes de 1820. É o dicto visconde ba harel formado em direito com distineção e actualmente conse- lheiro do supremo tribu« ai rta. Carvalho não a menciona, ma-* em vez d'ella menciona uma ermida de S. Pedro, que não encontro nos meus apontamen- tos. Ha hoje n'esta paroehia apenas uma ro- maria, na dominga in Albis,—ê a de Santa Agueda, a que o povo chama festa e roma- ria do leite, porque todos os "lavradores, desde eras remotas, costumam offereeer a Santa Agueda n'aquelle dia o leite dos seus rebanhos, que è vendido aos romeiros á porta da ermida de S. Neutel. Foi outr'ora muito concorrida psta roma- gem (suppomos ser a mencionada na Cho- rographia Portugueza, como romaria de S. i Diz também a Chorographia Portugueza que esta ermida distava um quarto de légua da villa. Esse quarto de légua da boje cerca de 3 kilometros ! . . . 806 VIL VIL Neutel) mas hoje vae em pronunciada deca- dência. Houve também n'esta villa antigamente uma feira a 3 d'outubro, mas cessou ha muitos annos. A Chorographia Moderna do sr. João Ma- ria Baptista, copiando o Diccionario abre- viado de J. A. d'Almeida, menciona como existente ainda a dieta feira e diz que dura 3 dias. Foi lapso. Os edifícios mais notáveis d'esta parochia na actualidade, são a egreja matriz pela sua vastidão e elegância— e a capellinha de S. Neutel pela sua antiguidade e pela sua ar- chitectura em estylo gothico florido. Esta villa nunca foi fortificada, mas tem a pequena distancia um morro, denominado Castello. Não se veem ali hoje vestígios alguns de obras de defesa, mas é possível que as ti- vesse em outros tempos. Esta villa ainda conserva os paços do seu extincto concelho. N'elles funeciona uma es- chola official de instrucção primaria elemen- tar para o sexo masculino. Também esta parochia tem outra eschola official de instrucção primaria para o sexo feminino. Conserva também ainda a sua antiga ca- deia. O pelourinho foi derrubado em certa nou- te e d'elle resta hoje apenas o pedestal, mas removido para um canto do largo onde se erguia e pompeou durante séculos. Tem esta villa um largo, a que dão o no- me de Rocio da Fonte, sem embellesamento algum,— e 2 praças, nova e velha, ambas muito acanhadas e sem embellesamento al- gum também. As suas ruas principaes hoje são as se- guintes:—rua Nova, rua d' Évora, rua da Praça, rua Grande e rua dos Lagares. Ha n'est,a freguezia hoje em exploração duas minas de ferro,— uma na herdade dos Ayres e outra na do Zambujal, ambas ex- ploradas pelo cidadão inglez — Thomaz Jorge Elliatte. Alem d'estás, ha n'esta freguezia outras, mas simplesmente registradas. Em 21 d'ag09to de 1877, por exemplo, re- gistrou na camará d'Alvito uma de ferro e outros metaes, M. Gonçalves d*Azevedo Ca- ruço, que descobriu na herdade dos Albar- deiros,—e em outubro de l§8i, José Duarte Alves pediu ao governo o diploma de desco- bridor legal d'outra mina de ferro no sitio do Monte do Conde. •Ha nos limites d'esta parochia dois serros denominados Outeirões das Barras, cober- tos de espesso matto, coito e viveiro de ja- valis, pelo que ali se fazem grandes caçadas, tendo el-rei assistido a algumas d'ellas. A única associação de beneficência que ha hoje aqui, depois da extineção da Misericór- dia d'esta villa e do seu hospital, é a junta de parochia. Em cumprimento de differen- tes legados e com o subsidio que recebe da camará de Beja, como senhora dos bens da extincta Misericórdia, tem a seu cargo soc- correr os pobres com medicamentos e die- tas. Nada mais resta do antigo hospital e da Misericórdia d'esta villa, extinctos e trans- formados em património da Casa Pia de Beja, Ha finalmente n'esta villa uma estalagem insignificante e única na Praça Nova. Em julho de 1874 falleceu n'esta villa, de fome e de miséria, um professor que deixou avultada fortuna á junta de parochia. Encontrou-se grande porção de dinheiro nos forros de um immundo collete que tra- zia sempre vestido e com o qual morreu. Na freguezia de Távora, concelho de Ta- boaço, districto de Vizeu, onde já fomos pa- rocho, de 1861 a 1863, conhecemos nós ou- tro professor que podia fazer pendant com este. Chamava-se padre Sebastião,— vixeu sem- pre só em uma casa immunda, envolto em andrajos e lateralmente coberto de bichos* sendo proprietário e pertencente a uma das primeiras famílias da localidade. Falleceu velhíssimo e por sua morte os herdeiros encontraram boa somma em lu- zentes peças de ouro, escondidas pelos re- cantos do immundo albergue,— alem das que lhe haviam roubado. VIL Deus lhe perdoe ! Segundo se lê nas correcções e addicções ao tomo II do Mappa de Portugal de João Baptista de Castro, houve também n'esta pa- rochia uma egreja de Santa Agueda, erecta no próprio local onde em tempos muito re- motos existiu um templo de Diana, como affirmou e communicou a J. B. de Castro o rev. Fr. Francisco d'01iveira, baseado em uma inscripção que ali encontrou e que fez collocar em 1761 no frontispício da nova casa do despacho da Misericórdia da mesma villa. Não sabemos se ainda lá se encontra. Este Fr. Francisco d'01iveira, frade do- minico, natural de Beja, homem muito illus- trado e profundo investigador, é muito nosso conhecido, e d'elle fallaremos detidamente no supplemento a este diccionario, quando chegarmos aos artigos Beja e Cubà. No Códice n.° 104 da Bibliotheca Munici- pal Portuense se encontram os tres manu- scriptos seguintes, todos muito interessantes: 1. ° — Diálogos de Chrístovão Rabello de Macedo, escriptos em 1625 e que tratam das antiguidades de Beja. A pedido nosso foram publicados, ha an- nos, em folhetins no Bejense, com o titulo de Peregrinos de Beja. 2. °— Memorias da Villa do Alemtejo. Não teem data nem nome do auctor; mas julgo serem escriptas pelo mesmo Fr. Fran- cisco d'01iveira e d'ellas fiz um extracto que offereci ao meu antecessor e bom amigo Pi- nho Leal, para o artigo Vianna do Alemtejo. Veja-se este vol. 10.° pag 322, col. 2.a e se- guintes. 3. °—» Memorias Históricas que do Logar de Cuba escreve no anno de 1742 Fr. Fran- cisco de Oliveira, da ordem dos Pregado- res.» D'este ultimo trabalho existe no archivo da camará de Cuba hoje uma copia tirada por mim em 1883, a pedido do sr. dr. José dos Santos Pegas Cabrita, benemérito filho da mesma villa de Cuba. A villa de que nos occupamos denomi- VIL 807 nou-se Villa Nova da Baronia por fazer parte do grande senhorio dos barões d' Alvito. Veja-se esta ultima palavra no vol. i.° pag. 180, col. 2.* e seguintes. Também esta parochia se denominou Vil- la Nona d? Alvito, por ser fundada depois da de Alvito; comtudo, jã existia no século XIV, pois no foral velho, dado por D. Diniz a Vianna do Alemtejo em 1313, lhe assignou por termo Alvito, Villa Nova d' Alvito, Villa Ruiva e Malcabron. V. Vianna do Alemtejo n'este vol. 10.° pag. 322, col. 2.a, e particularmente a pagina 323 col. 1." infine e seguintes. É mesmo anterior ao século XIV, pois lhe deu o primeiro foral o provincial da ordem da Trindade pelo foral de Santarém, por Carta, de 18 d'agosto de 1280. Maço II de foraes antigos n.° 2 e 3. D. Manuel lhe deu também foral novo em Lisboa, no dia 20 de novembro de 1516. Liv. de Foraes Novos do Alemtejo, fl. 100 v. col. í.\ No artigo Alvito se fez menção do con- vento de Mujadarem ou Mongedarem (mon- ges d" além) convento benedietino do tempo dos godos, destruído pelos árabes e depois reedificado e dado aos franciscanos com o titulo de Nossa Senhora dos Martyres, em memoria dos monges n'elle martyrisados pelos mouros. 1 Alguém diz que o velho convento de Mongedarem foi fundado por Santo Eleu- tério (outros pretendem que o seu funda- dor foi S. Lauteno, monge francez) ab, bade do convento benedietino de S. Marcos junto á cidade de Espoleto, na Itália, funda- dor de vários conventos da mesma ordem na Hespanha. Pelo menos é fóra de duvida que Santo Eleutério viveu e depois teve culto no convento de Mongedarem e que em uma das invasões dos mouros alguns fieis esconderam as imagens que ali se venera- 1 O convento de Mongedarem era um dos que obedeciam ao de S. Cucufate, pelo que o prelado d'este se intitulava Abbade dos Ab- bades. V. Villa de Frades. 808 VIL VIL vam, entre ellas a de Santo Eleutério e a de Nossa Senhora dos Ares. Esta ultima, passados séculos, appareeeu no termo da villa de Vianna de Alemtejo, no local onde lhe erigiram e ainda hoje se vê o sanetu^rio da Senhora dos Ares ou d' Ay- res, de qu> já se fez menção n'este vol. 10.° pag. 330, col. i.a e seguintes. Por ser aquella imagem muito querida dos povos d<> Alemtejo lhe dedicaram outras ermidas; e d 'estas e da dieta imagem toma- ram e conservam o nome vários sitios e her- dades d'esia freguezia de Villa Nova da Ba- ronia, já indicados supra. A imagem de Santo Eleutério appareeeu no termo d'esta parochia, precisamente no local ondo lhe erigiram e se vê ainda hoje a capelhtiha de S. Neutel, na povoação d'es- te nome, ambas também já mencionadas, pois o vulgo com o andar dos tempos fez de Eleutério Neutel— como de Cypriano Cibrão — de Eduardo Duarte, — de Jacob Jaco, Jac- ques, Yago e Thiago,—áe Eulália Olaia e Ovaia,— de Juliano Julião e Gião, — de Isi- doro Isidro e Cidro, — de synagoga esnoga, — e de Magdal na Madanella, como ainda hoje teima em d* nominar uma freguezia do con- celho de Villa Nova de Gaya, etc. Com relayão ao convento de Mongedarem e á capellinha de, S. Neutel ou Eleutério è muito digno de lêr-se o artigo publicado na Benedictina Luzitana, vol. l.° pag. 448 e se- guintes. VILLA NOVA DA BARQUINHA— villa, fre- guezia e séde de concelho, dístricto de San- tarém, província da Extremadura. V. Barquinha, vol, 1.° pag. 337, col. 2." Aproveitando o ensejo, faremos algumas rectificações e addições ao mencionado ar- tigo : Tem hoje esta parochia 235 fogos e 980 habitantes — e já não pertence á comarca de Torres Novas, mas á da Gollegã. Este concelho comprehende 4 freguezias, —tem de superfície em hectares 6:771,— fo- gos (pelo ultimo recenseamento de 1878) 871, —habitantes 3:675,— prédios inscriptos na matriz 3:017. A villa tem por brasão d'armas um escu- do bipartido (em palia) orlado interiormen- te na parte inferior com duas palmas cru- sadas, atadas com uma fita azul e a legenda Villa Nova da Barquinha 1836. No quartel da direita um barco á véla— e no da es- querda uma oliveira, tendo no chão de cada lado uma infusa preta,— tudo em cam- po branco. Freguezias limitrophes— Atalaia, Tancos, Asseiceira, S. Thiago de Torres Novas, Nos- sa Senhora da Conceição da Gollegã e Santa Maria do Pinheiro Grande, da Chamusca. Partem d'esta parochia para Santarém a estrada districtal n.° 75 e para Coimbra a estrada real n.° 51. A l.a está em via de construcção d'aqui para Abrantes. A estação da Barquinha dista cerca de 400 metros d'esta vilJa. Os templos d'esta parochia reduzem-se á sua egreja matriz, da invocação de Santo Antonio, recentemente construída, ainda em obras no interior,— e a uma capella de Nossa Senhora, muito antiga e já bastante arrui- nada, com um retábulo de talha de muito merecimento. Tem esta villa uma feira annual no dia do seu padroeiro Santo Antonio, 13 de junho. Abunda em artigos commerciaes, madeiras de pinho e de castanho para construcçoes e vazilhame, coiros de boi e de bezerro cor- tidos, etc. A rua principal d'esta villa é a da Barca; — tem um largo, o do Caes Novo— um jar- dim publico, denominado Jardim da 3.» sec- ção das obras do Tejo, — uma Alameda, no largo das Amoreiras— e uma praça com o nome de Praça do Commercio. Esta villa é banhada pelo Tejo, que tem aqui um bom caes para serviço dos muitos barcos que se empregam na navegação en- tre esta villa e Lisboa, a jusante — e entre esta villa e a de Alcantara (hespanhola) a montante— e portos intermediários. Também crusa sobre o Tejo uma barca de passagem entre o dicto caes, na margem di- reita do rio, e a povoação da Carregueira, VIL VIL 809 do eoncelho da Chamusca, na margem es- querda, atravessando também os ribeiro^ do Valle e do Arôz que passam n'aquella po- voação e desaguam no Tejo. As producçoes dominantes d'esta parochia são azeite e cereaes. Esta villa soffreu muito em 1875 com a grande cheia do Tejo, que foi a maior d'este século ao sul do nosso paiz 1 e que inun- dou dois terços da povoação muitos dias, chegando a derrubar alguns prédios. Tem uma eschola offlcial de instrucção primaria elementar e complementar para o sexo masculino e outra elementar para o sexo feminino,— e uma hospedaria de Ma- nuel Nunes da Silva, na Praça do Commer- cio. N'esta villa e nos seus arrabaldes lêem apparecido differentes moedas romanas e outras velharias. Esta parochia foi ereada por decreto de 2 de maio de 1838. Anteriormente era uma simples povoação da freguezia da Atalaya— e foi arvorada em sede de concelho por de- creto de 2 de julho de 1839, fuodindo-se n'este concelho os d'Atalaya, Tancos e Paio Peite. Esta villa é um centro commercial muito importante, principalmente djs artigos ma- deiras de differentes qualidades e cortiça, que exporta para Lisboa e outros pontos em grande quantidade, pelo rio e pela via férrea. Decahiu bastante com a inauguração da linha férrea, mas volveu de novo á vida e hoje o seu estado é prospero e florescente. VILLA NOVA DO CASAL— freguezia do concelho e comarca de Gouveia, districto e diocese da Guarda. V. Casal, vol. 2.° pag. 142,— Tazem (a l.a) vol. 9.° pag. 521— e Villa Nova de Tazem, n'este 10.° vol. VILLA NOVA DA CERVEIRA— villa, fre- guezia e séde do concelho do seu nome, co- marca de Valença, districto de Vianna do Castello, arcebispado de Braga, na província do Minho. 1 Ao norte a cheia maior d'este século foi a de 1860. Abbadia. Orago S. Cypriano, outr'ora S. Cibrão, í— fogos 356,— habitantes 1:440. Em 1706 contava 250 fogos,— era da co- marca de Vianna, — tinha muita nobresa e voto em cortes, com assento no banco 17, —juiz de fóra por creação de Filippe IV, em 1622 (anteriormente tinha 2 juizes, um nobre e outro plebeu)— 3 vereadores, 1 pro- curador do concelho, i escrivão da camará, 1 juiz dos órfãos com seu escrivão, 1 juiz da alfandega e outro da dizima, aprezenta- dos pela casa de Bragança, 1 es rivão das cizas, 3 escrivães do judicial e notas, 1 con- tador, 1 distribuidor, 1 inquiridor e 1 mei- rinho, todos de nomeação regia— e 1 alcaide apresentado pelo visconde de Ponte de Li- ma, Alcaide mór d'esta villa, que apresen- tava também o parocho. Tinha no concelho 4 companhias de orde- nanças, servindo de capitão-mór a camará, na ausência do alcaide-mór,— e na villa e praça 3 companhias de infanteria paga. Em 1768 era abbadia da me*ma apresen- tação,—rendia para o parocho 160#000 réis — e contava 212 fogos. Comprehende alem da villa as povoações seguintes: — Cortes, 1 Feira do Gado, Veigas, Prado e Outeiro da Forca e outras mais pe- quenas. Esta villa demora na margem esquerda do rio Minho, 15 kilometros a S. O. da Praça de Valença, 34 a N. N. E. de Vianna, séde do districto, 91 de Braga (pela via férrea) 116 do Porto e 452 de Lisboa. O concelho tem : 8 048 21 736 Fogos (pelo ultimo recenseamento). 3 041 10 446 15 S. Cypriano na villa, ficando-lhe a N. E. Lobêlhe, Roboreda, Campos e Villa Meã; —a S. O. Loivo e Gondarem, todas estas 1 V. n'este diccionario os artigos Cibraão vol. 2.° pag. 298, coi. 1.»— e Cortes, no mes-- mo vol. pag. 391, col. 1." Veja-se também o art. Cibraão no Eluci- dário de Viterbo. 810 VIL VIL confinando com o Minho ;— Sôppo, Covas, Mentrestido e Gondar a S.;— Nogueira, Cor- nes, Candemil e Sapardos, a L. O concelho é na maior parte accidentado e montanhoso— e se estende peias fraldas do elevado monte de S. Paio. A villa está em um sitio muito agradável e pittoresco sobranceira ao Minho ; atraves- sa-a a estrada-real n.° 23 (como dissemos a pag. 456 d'este volume) que vem de Vianna e Caminha, e segne para Valença e Melgaço pela margem esquerda do Minho. Entra aquella estrada no concelho de Villa Nova da Cerveira, no começo da freguezia de Gondarem, — atravessa as freguezias de Loivo, Cerveira, Lobelhe, Reboreda, Campos e Villa Meã, todas d'este concelho — e conti- nua atravez do concelho de Valença. Alem d'esta estrada, corta também este concelho na mesma direcção e seguindo o mesmo traçado a linha férrea do Minho, que passa na villa entre o caes e a capella.de S. Sebastião e tem a sua estação a 500 metros da villa. A camará projecta construir duas estra- das municipaes cujos estudos já se acham feitos— uma ligando esla villa com a fregue- zia de Covas, passando nas freguezias de Loivo, Gondarem, e Sôppo;— a outra, par- tindo de Lovêlhe, onde entronca na estrada real n.° 23, corta as freguezias de Roboreda, Candemil, Gondar e Mentestido e vae até S. Martinho de Coura, no concelho d'este nome. A egreja matriz era um templo muito an- tigo, de uma só nave e com um excellente retábulo, também antigo de talha dourada. Um furioso vendaval derrubou parte d'este edifício na manhã de 2 de janeiro de 1877, poupando apenas a capella mor; aeha-se porem já reconstruída com 3 naves e 2 tor- res ainda incompletas, por falta de meios. Ha lambem na villa a egreja da Miseri- córdia dentro da eidadella, junto ao hospi- tal da Santa Casa— e as capellas de Nossa 1 Para evitarmos repetições, veja-se o ar- íigo Cortes, vol. 2.° pag. 391 col. 1.» Senhora da Ajuda, á entrada do Castello,— de S. Sebastião, junto ao cáes, com um bom retábulo antigo,— e a do Anjo da Guarda, todas publicas,— e 4 particulares:— a de S. Gonçalo, com boa obra de talha, pertencente a José Augusto Pereira Pinto Maldonado, — a de S. Pedro de Rates,— & de S. Roque, e a de Santo Antonio de Lourido, na quinta e casa do mesmo nome, pertencente hoje a Francisco Pereira Sanches de Castro l. Tem esta villa duas feiras mensaes muito importantes, nos dias 3 e 16. São das me- lhores do Alto Minho. O Castello mandado fazer por D. Diniz, ainda se conserva, mas já em ruinas, bem como as suas Velhas torres, exceptuando a denominada dos Mouros, que foi demolida ha annos para alargamento da rua do Ar- rabalde. As torres e muros da praça ainda se conservam em pé, mas os quartéis estão em misero estado^ Dentro do Castello se levantam— a egreja da Misericórdia, os paços do concelho e a cadeia da villa, em más condições. Foi esta villa praça de guerra, cercada por muros e fossos, mandados fazer em 1660 por ordem do governador das armas d'esta província, D. Diogo de Lima, 9.° visconde de Villa Nova da Cerveira. Por carta de lei de 22 de março de 1875 foi a camará d'esta villa auctorisada para apear aquelles muros desde as portas de Vianna até á da Campa- nha, comprehendendo o lanço que circum- dava a villa pelo sul, para que a povoação podesse estender-se para aquelle lado, des- afrontando a rua do Arrabalde e aprovei- tando-se o local para a feira e passeio pu- blico. A parte restante dos muros está em poder de particulares. No apno de 1321, no dia 1.° d'outubro, foi dado a esta villa foral por D. Diniz, seu fundador. Veja-se o Liv. IV de Doações do sr. Rei 1 Carvalho menciona tambem uma capella de Nossa Senhora da Encarnação e outra do Espirito Santo, alem das 7 mencionadas su- pra. VIL VIL 811 D. Diniz, fl. 91, v. eol. 2.»— Gaveta 15, Maço 3, n.° 12— e o Liv. III dos bens dos próprios d'El-Rei, fl. 164. D. Manuel lhe deu foral novo em Lisboa, no dia 20 d'outubro de 1512. Liv. de Foraes Novos de Traz-os-Montes, fl. 21, eol. l.a Veja-se também a Minuta para este foral na Gaveta 20, Maço H, n.° 23. O foral de D. Diniz lhe concedeu muitos privilégios, — couto para 7 criminosos, feira franca em S. Paio, isenção de direitos para tudo o que importasse da Galliza ou expor- tasse para ali, eleição livre dos vereadores e juiz ordinário, terça dos dizimos para con- servação do castello, etc. No «alto do monte de S. Paio, nos limites d'esta villa, houve um convento de religio- sos franciscanos, instituído por fr. Gonçalo Marinho nos fins do século xiv. Está hoje em ruínas e pertence aos herdeiros de Ma- nuel José de Faria Pereira. Tem a villa duas aulas officiaes de ins- trueção primaria elementar para os dois se- xos—e uma associação de soccorros mútuos denominada Montepio Cerveirense de Nossa Senhora da Boa Nova, com estatutos appjo- vados em 1876. Ha n'este concelho uma mina de carvão de pedra, chumbo e outros mineraes, sim- plesmente registada. O melhor edifício da villa é a casa que foi da nobre família Castros, do Covo, hoje re- presentada pelo conde de Côvo. Ergue-se aquelle edifício no Terreiro da villa;— conserva ainda o brasão dos seus antigos senhores, mas hoje pertence a José Augusto Pereira Pinto Maldonado, filho do fallecido dr. José Narciso Barbosa Pereira Pinto. Da freguezia de Gondarem, d'este conce- lho, eram naturaes Manuel Marinho Falcão, ministro da justiça no tempo d'el-rei D, João VI,— e o desembargador João Manuel Guer- reiro d'Amorim, conselheiro da fazenda, n'aquella mesma época. Lembramo-nos de um litterato distincto e homem de grao.de virtude natural de Villa Nova da Cerveira e citado por lnnocencio, Fr. Bernardo de S. Miguel, monge de Cister, companheiro de Fr. Antonio das Chagas nas missões d'este varão apostólico. Nasceu pelos annos de 1634 n'esta villa e falleeeu em 1697 nq convento d'Alcobaça. Escreveu o Espelho da rasão, amor acer- tado. . . Lisboa, 1690, 8." de 388 pag. O auctor hombrea com os mais cultos da sua época, mas, como o seu livro não anda no Catalogo da Academia, não gosa de es- timação alguma e corre por baixo preço!... Citaremos ainda dois grandes litteratos que, posto não fossem filhos d'esta villa, d'ella foram arcediagos : Francisco Ferreira Barreto, presby- tero secular e dr. em theologia. Nasceu em Lisboa em 1554,— falleeeu em 1610— e escreveu e publicou vários sermões muito estimados ainda hoje., 2.° — Francisco Vellasco de Gouveia, — dr. e lente de cânones na Universidade de Coim- bra, arcediago de Villa Nova da Cerveira e desembargador dos liggravos na Casa da Supplicacão, natural de Lisboa, onde falle- eeu em 1659, contando cerca de 80 annos de edade. É auctor de varias ebras de muita mere- cimento, indicadas por lnnocencio. Ha n'esta freguezia e n'este concelho mui- tas quintas importantes. Indiquemos as principaes: 1. a— A de Lobêlhe, na freguezia d'este no- me. Foi dos jesuitas e pertenceu a um hos- pício que estes padres ali tiveram ;— hoje é .dos filhos de João Antonio da Rocha Pe- reira. V. Lobêlhe, vol. 4.° pag. 432— e Sôpo vol. 9.° pag. 424 e 425, onde já se fallou d'esta rica propriedade. 2. a— Agua Branca, n'aquella mesma fre- guezia. Pertence hoje a Luiz de Caldas Oso- res Sottomaior. 3. *— Penafiel, na freguezia de Reboreda, solar dos Reboredas, com uma torre brazo- nada. Foi da família Pereira da Cunha, de Vian- na, que a emprasou ao seu actual possui- dor Francisco Pereira Sanches de Castro. 812 VIL V. Reborêda, vol. 8.° pag. 68. 4.»— A Quinta, assim denominada, na fre- guezia de Covas, propriedade dos Pittas, de Caminha, hoje muito dignamente reprezen- tados pelo sr. João Filippe Menezes Pitta. 5*—Louceira na freguezia de Gondarem? com casas e capella brasonadas, pertencente a Francisco de Sousa Cadaval. V. Gondarem, vol. 3.° pag. 301. 6. *— Da Torre, na freguezia de Loivo. É brasonada; — pertenceu a uma illustre famí- lia hoje extincta,— e é actualmente de João Manuel Pereira dos Santos. V. Loivo, vol. 4.° pag. 434, col. 1." 7. '— Das Laranjeiras, mesmo na villa. É brazonada e pertence a D. Rosa Josefa Pereira da Cunha e Castro. As armas d'esta villa são um veado ou cervo da sua côr, em campo verde susten- tando o veado nas pontas um escudo com as quinas portuguezas, sem os castellos. Estas armas alludem ao primitivo local d'esta villa, denominado Cervaria, por ser então deserto e abundarem n'elle veados. Segundo esta- opinião Villa Nova da Cer- veira quer dizer Villa Nova da Cervaria ou dos veados;— outros porem se inclinam a crer que o titulo de Cerveira lhe: provem do seu primeiro senhor, João Nunes de Cer- veira, que teve o seu solar por aquelles sí- tios, no tempo de D. Sancho II. Os que se inclinam a esta ultima opinião, escrevem Villa Nova de Cerveira e não Villa Nova da Cerveira, como nós escrevemos e geralmen- te e oficialmente se escreve. São questões de pouca monta. Ha n'esta villa um Club ou Assembléa para distracção dos seus sócios. O forte de Lobêlhe, ou do Azevedo, é ainda do estado e tem alguma importância estra- tégica. No dia 25" de setembro do 1643 vieram os hespanhoes atacar Villa Nova da Cerveira, mas foram repellidos pelos portuguezes, ca- pitaneados por Manuel de Sousa d'Abreu. Defronte d'esta villa e3tá em terreno hes- panhol, na margem direita do Minho, © forte da Barca de Goyão, que fazia pendant com as fortificações portuguezas da margem op- VIL posta, como a praça de Tuy se oppunha á nossa de Valença, a de Monte Rei á nossa de Chaves, a da Conceição á nossa d'Almei- da, a de Radajoz á nossa d'Elvas, a de Aya- monte á nossa de Castro Marim, etc. Em 25 de novembro de 1876 pesou sobre este concelho, nomeadamente sobre a fre- guezia de Covas, um medonho vendaval, cau- sando prejuízos enormes, como já dissemos no vol. 9.° art. Seixas, pag. 84, col. 2.»— vol. 8.° art. Riba d' Ancora, pag. 168, col. 1.» — e n'este vol. 10.° art. Venade, pag. 276, col 2.* Por carta de D. Alfonso V, passada em Touro, a 4 de março de 1476, foi feito vis- conde de Villa Nova da Cerveira D. Leonel de Lima, fidalgo de boa linhagem, alcaide mór de Ponte de Lima, senhor da villa dos Arcos de Val de Vez e d'outras muitas terras. Era filho 2.° de Fernão Eannes de Lima (fidalgo a quem D. João I doou Val de Vez e outras terras) e de sua mulher D. Theresa da Silva, filha de João Gomes da Silva, al- feres mór do reino. D. Leonel de Lima foi o 1.° visconde que houve em Portugal, pelo que os seus des- cendentes com orgulho se intitulavam Pri- meiros viscondes de Portugal. Casou com D. Filippá da Cunha e foi seu 3.° neto o 5 ° visconde de Villa Nova da Cer- veira, D. Francisco de Lima, no qual termi- nou a varonia de tão illustre família, porque tendo casado com D. Brites de Alcaçova, fi- lha do 1.° conde da Idanha, succedeu-lhes sua filha D. Ignez de Lima, que casou com Luiz de Brito e Nogueira, senhor dos mor- gados de Santo Estevam de Reja e S. Lou- renço de Lisboa, entrando por este casa- mento na casa dos primeiros viscondes a varonia dos Rritos. Seu filho D. Lourenço de Lima Rrito e Nogueira recusou o titulo de conde, para não se perder a memoria de terem sido os seus ascendentes os primeiros viscondes de Portu- gal; foi-lhe porem concedida por carta de 19 de dezembro de 1623 a prerogativa de •grandeza, de que usam os nossos condes. Casou D. Lourenço de Lima com D. Luiza VIL VIL 813 de Távora e tiveram muitos filhos, dos quaes o primogénito foi o i.° conde dos Arcos. O 6.° filho, D. Diogo de Lima, succedeu no vis- condado de Villa Nova da Cerveira e casou com D. Joanna de Vasconcellos e Menezes, senhora de Mafra e Soalhães. Conservou-se em seus descendentes a va- ronia dos Britos atè que sua bisneta D. Ma- ria Xavier de Lima e Hohenloe adveiu ao viscondado, desposando em 1720 Thomaz da Silva Telles, filho do 2.° marquez ^Alegre- te, entrando assim na casa dos primeiros vis- condes outra varonia, a dos Telles da Silva. Foi seu filho e herdeiro D. Thomaz Xa- vier de Lima Nogueira Vasconeellos Telles da Silva, que ao titulo de visconde de Villa Nova da Cerveira juntou o de marquez de Ponte de Lima, por carta de 17 de dezem- bro de 1790. Foi um do3 homens mais notáveis do seu tempo: secretario d'estado dos negócios do reino e da fazenda, da junta do commercio, presidente da Academia Real das Sciencias, etc, e casou com D. Eugenia Maria Josefa de Bragança, filha dos 4.0S marquezes ^Ale- grete, seus parentes. Acha-se alliada também esta illustre ge- ração aos marquezes de Nisa, Abrantes e Castello Melhor— e aos condes de Ficalho e Óbidos, etc. Seu filho D. Lourenço foi o 1.° conde de Mafra e o primogénito, D. Thomaz Xavier de Lima Nogueira e Vasconcellos Telles da Silva, foi visconde de Villa Nova da Cer- veira, não chegando a ser agraciado com o marquezado de Ponte de Lima, por fallecer antes de seu pae. Casou em 1777 com D. Maria José d'Assis Mascarenhas, filha dos 3.0S condes d'Obidos, de quem teve uma fi- lha, e um filho que foi D. Thomaz José Xavier de Lima Vascon- cellos Brito Nogueira Telles da Silva, vis- conde de Villa Nova da Cerveira e marquez de Ponte de Lima, por successão a seu avô, sendo assim o 2.° marquez d'este titulo. Casou em 1804 com D. Helena José d'As- sis Mascarenhas, filha dos 4.08 condes d'Obi- dos e d'este consorcio nasceram os filhos seguintes : volume x • — D. José Maria Xavier de Lima e Vas- concellos Brito e Nogueira Telles da. Silva, que nasceu em 1807 e falleceu sem geração em dezembro de 1877. Foi elle o 17.° e ultimo' visconde de Villa Nova da Cerveira, 3.° marquez e alcaide-imór de Ponte de Lima, V. vol. 7.° pag. 176 e 183. Soldado valente e de animo generoso, viu desabar a sua grande fortuna, soíTrendo atoi- camente os incommodos da pobreza, despre- zando honras e empregos. Aqui terminamos a genea- logia dos viscondes de Villa Nova da Cerveira. — D. Maria Xavier, fallecida também sem geração. — D. João Xavier de Lima. Falleceu em 1878, sem geração tam- bém. — D. Anna Xavier de Lima. Foi a ultima vergontea de tão nobre fa- mília e falleceu em Lisboa, no dia 3 de fe- vereiro do corrente anno (1885) também sem geração. — D. Helena Luiza Xavier de Lima, mar- queza de Castello Melhor pelo seu casamento com o 4.° marquez Antonio de Vasconcellos e Sousa Camara Caminha Faro e Veiga. D'estes é filha a actual marqueza de Castello Melhor D. Helena do Santíssimo Sacramento Maria Josefa Francisca d' Assis Anna de Vas- concellos de Sousa Ximenes, hoje viuva de D. Manuel Maria Ximenes d' Azevedo, de quem teve filhos, vivendo porem actualmente um só,— D. Helena do Santíssimo Sacramen- to, nascida em 1871. De D. Helena Luiza Xavier de Lima e de D. Antonio de Vasconcellos, 4.08 marquezes de Castello Melhor, nasceram 4 filhos dos quaes somente 2 deixaram successão. — D. Helena do Santíssimo Sacramento, 6.a marqueza de Castello Melhor em 1879, por fallecimento de João de Vasconcellos, seu irmão e 5.° marquez, sendo já viuva de D. Manuel Ximenes, de quem teve os filhos seguintes : £>2 814 VIL VIL — D. Helena do Santíssimo Sacramento, mencionada su- pra, nascida em 1871 ; — D. Miguel e — D. Antonio, fallecidos de tenra idade. — D. João de Vasconcellos, nascido em 1841, já mencionado. Foi 5.° marquez de Castello Melhor e fal- leceu em Lisboa no dia 11 de janeiro de 1878, perfilhando no seu testamento — D. Maria da Puresa, que nasceu a 28 de abril de 1877. Do exposto se vê que a casa dos primei- ros viscondes cahiu na de Castello Melhor e se acha representada, como esta, pela filha de D. João de Vasconcellos, D. Maria da Pu- reza, e por sua tia paterna D. Helena do Santíssimo Sacramento, actual marqueza de Castello Melhor. Os viscondes de Villa Nova da Cerveira não eram senhores da villa que, por alvará de D. João II, foi sempre da coroa;— tiveram somente d'ella o titulo e o padroado da egreja mairiz. As prodacções principaes d'esta paroehia e d'este concelho são— milho, trigo, centeio, feijões, hortaliças, castanhas, fructas, her- vagens, vinho verde, exeellente mel e muito liDho, do melhor da província. Também criam muito gado de differentes espécies e teem abundância de caça grossa e miúda e de peixe do Minho e do mar, principalmente de salmões, sáveis e lam- preias, constituindo os salmões uma especia- lidade distincta e um rendoso artigo de- portação, pois vão d'aqui em grande quanti- dade para todo o nosso paiz e para a Hes- panha. Para se formar idéa da importância d'este artigo, veja-se o que sobre o assumpto já dissemos no vol. 9.° pag. 84, col. 1.» e 2.* A maré chega até esta villa e ainda passa um pouco acima d'ella. Falleceu ha poucos annos em S. Pedro da Torre o venerando Diniz Ferraz d'Araujo> abbade d'aquellafreguezia,mas natural d'es- ta, onde nasceu em 1790! Contava pois mais de 90 annos de idade. Era muito caritativo;— perdeu completa- mente a vista alguns annos antes de fallecer, mas vivia resignado com a sua sorte e mes- mo apparentemente satisfeito, costumando dizer sorrindo que por sua morte não have- ria demandas por causa da herança. Dava tudo aos pobres. V. S. Pedro da Torre, vol. 9.° pag. 12, col. 2.» Também já falleceu (em ja- neiro do corrente anno) o rev. dr. José Gomes Martins, cóne- go e chanceller em Braga, de quem se fallou n'aquelle arti- go e que foi meu condiscípulo na Universidade e sempre muito meu amigo. Era considerado por pessoas competentíssimas o primeiro theologo de Portugal?!. . . Deus o tenha na gloria. Em tempos muito remotos houve no termo de Villa Nova da Cerveira 2 conven- tos de freiras da ordem de S. Bento, ha muito ' extinctos, unindo-se as suas rendas ao de SanfAnna de Vianna do Castello. Referimo-nos aos conventos de Santa Ma- ria de Valbôa, e Santa Marinha de Loivo. O 1.° estava junto do rio Minho e d'elle parece fallar o conde D. Pedro no seu Nobi- liário, tit. 58, fallando dos Silvas, pois faz menção de Soeiro Gonçalves, filho de Gon- çalo Pires, de Belmir (antigo couto no ar- cebispado de Braga) um dos cavalleiros que se acharam com el-rei D. Fernando, o santo, no cerco de Sevilha pelos annos de Christo 1248,— e diz que Soeiro Gonçalves teve uma filha, por nome D. Urraca Soares, que foi abbadessa de Valbôa. É mais terminante o Registro de Valença, pois n'elle se lê que no anno do Senhor 1444 Ignez Barbosa foi confirmada abbadessa do mosteiro de Santa Maria de Valbôa, da or- dem de S. Bento. Benedict. Lusit. vol. 2.° pag. 97. VIL VIL 815 O 2." convento estava na freguezia de Loivo e parece que a primitiva egreja ma- triz d'esta parochia foi a mesma das frei- ras. D'este antiquíssimo eonvento diz o citado Registro de Valença : «Em novembro do anno do Senhor 1487, na cidade do Porto, dentro nos Paços Epis- copaes, onde pouza o sr. Bispo de Ceuta D. Justo Balduíno, confirmou em Abbadeça do Mosteiro de S. Marinha de Loivo da ordem de S. Bento a Brites de Sousa. . .» V. no art. Valença do Minho, a col. l.a da pag. 117, n'este vol. 10.°— no vol. 4.° pag. 434, col. l.a o art. Loivo— e a Benedict. Lu- zit. no logar citado. Parece que o convento de Santa Maria de Valbôa esteve na freguezia de Villa Meã, solar antigo dos Valbôas, da qual foi trans- ferido para a de Loivo, ambas d'este conce- lho de Villa Nova da Cerveira— e que no principio do século xvi foi unido ao de SanfAnna, de Vianna. Deixaram então es- tas religiosas o habito de S. Francisco e to- maram o benedictino. V. vol. 2.° pag. 75. col. 2.a e vol. 10.° pag. 441 e 442. O concelho de Villa Nova da Cerveira es- tava comprehendido no condado d'entre o Minho e Lima, segundo a divisão feita no século xi por D. Fernando o Magno, rei de Leão e Castella. V. Romarigães. Ao ex.m0 sr. dr. Luiz de Figueiredo da Guerra, illustrado filho de Vianna, agradeço os apontamentos que se dignou enviar-me. VILLA NOVA DE CONSTANCIA-ou sim- plesmente Constância— outr'ora e ainda hoje Punhete, — villa, freguezia e séde de conce- lho, comarca d' Abrantes, districto de San- tarém, bispado de Portalegre, província da Extremadura. Orago S. Julião. Priorado. V. Constância, vol. 2.° pag. 380, col. l.a onde já se fallou d'esta parochia e por isso apenas accrescentaremos o seguinte : Esta villa demora em um local muito pit- toresco, alegre e vistoso, precisamente na confluência do Zêzere com o Tejo, na mar- gem direita d'este e na esquerda d'aquelle, na estrada real d'Abrantes para Santarém, 2 kilometros ao norte e montante da linha férrea de leste, da estação da Praia e da ponte sobre o Tejo, do qual se descobre perfeita- mente a villa toda e nós a vimos já por ve- zes, afastando-nos d'ella sempre com sau- dade e com vivo desejo de a visitarmos ex- pressamente. A villa reveste parte da encosta, mas desce até á praia, onde tem um caes importante, de muito movimento ainda hoje e maior ainda antes da construcção da linha férrea. A parte baixa d'está formosa e alegre villa soffreu sempre muito com as inundações por occasião das cheias dos dois grandes rios que a banham. Tornaram-se triste- mente memoráveis n'esta villa e nas mar- gens do Tejo as inundações de 1872 e de 1876, pois foi esta ultima a maior ao sul do nosso paiz n'este século, emquanto que ao norte do nosso paiz as aguas attingiram muito maior altura em dezembro de 1860. Em uma das cheias a agua chegou a en- trar na egreja matriz d'esta villa, pelo que se removeu o Santíssimo Sacramento em uma bateira. Comprehende alem da villa as povoações de Santa Barbara, Santo Antonio, Charneca, e Moinho de Vento:— as quintas de S. Vi- cente, Santa Barbara, Cruz, Trombeiro, S. João, Areias, Alegria e Lameira ;— as habi- tações isoladas de Horta do Zêzere, Val Es- curo, Almegue, Larião, Escorrega, Pinhal, Couto, Pedras da Quinta ; — e os sitios de Preanes, Pinhal e Capareira. Carvalho menciona a quinta de Santa Bar- bara, nome que tomou de uma capella da mesma invocação, e diz que era n'esse tempo (1708) do desembargador João Pinheiro. Menciona também uma ermida de Santo An- tonio d' Entre as Vinhas, ao sul do Tejo, tal- vez na povoação actual de Santo Antonio, e diz que a imagem do padroeiro da tal ca- pella foi a 2." feita em Portugal— e de peder- neira—imagem de grande devoção e roma- 816 VIL VIL rias, tanto que o ermitão era nomeado ou apresentado pela camará da villa. Menciona também Carvalho as ermidas de Sant'Anna, S. Pedro, S. João e a egreja de Nossa Senhora dos Martyres, ao tempo ainda incompleta e situada na chã de um monte com alegre e dilatada vista para todas as partes. Também teve e não sabemos se ainda hoje tem casa de Mizericordia e hospital. Desde 1882, data da ultima circumscri- pção diocesana, é do bispado de Portalegre. Em 1708 contava 350 fogos, mas pelo ul- timo recenseamento (1878) contava 305 fo- gos e 1:187 habitantes. Não sabemos o mo- tivo porque baixou tanto a sua popula- ção 1 .. . Tem este concelho ainda hoje apenas 3 freguezias — Constância ou Villa Nova de Constância, — Mont'Alvo e Santa Margarida da Coutada,— fogos (total) 724,— habitantes 2:912,— superfície em hectares 8:304,— pré- dios inscriptos na matriz 2:250. Diz M. Leitão d'Andrade (Miscellanea, dia- logo XIX pag. 574) que esta villa foi deno- minada pelos romanos Pugna-Tegi e que o dicto nome com o tempo perdêra a ultima syllaba ficando Pugnate, depois Punhête. Diz o mesmo Leitão d'Andrade que el-rei D. Sebastião a fez villa a pedido de Simão Gomes, o sapateiro santo, natural do Mar- meleiro, junto a Thomar, referindo-se ao que se lê na vida do dito Simão Gomes, pelo padre Manuel da Veiga; mas Carvalho diz que aquelle soberano a fez villa em attenção aos serviços que lhe prestaram 40 homens filhos d'ella, acompanhando-o com seus cria- dos e cavallos, quando em 1574 foi pela pri- meira vez á Africa, como consta de uma provisão do mesmo rei que se conserva no cartório da camará. Entre as pessoas notáveis de que esta villa foi berço, merecem especial menção as se- guintes : —Bartholomeu dos Martyres Dias e Sou- sa—ão concelho de S. Magestade, commen- dador das ordens de Christo e de Nossa Se- nhora da Conceição de Villa Viçosa, caval- leiro da Torre e Espada e de S. Máauricio e S. Lazaro da Sardenha, official maiiior gra- duado da secretaria do ministério ddos ne- gócios ecclesiasticos e de justiça, deeputado ás cortes em varias legislaturas, etc. Viveu no 2.° e 3.° quartel d'este í século, mas ignoramos a data do seu nascimnento e fallecimento. Publicou uma Memoria sobre a alllocução do S.m0 Padre Pio IX no Consistório í Secreto de 17 de Fevereiro de 1851. Lisboa,, 1851, 8.° gr. de 24 pag. — Fr. Damazo da Apresentação, frrancis- cano da província de Santo Antonio ee n'ella por duas vezes Custodio, exercendo ainterior e posteriormente outros cargos de dlislinc- ção. Nasceu n'esta villa em 1577 e fallecceu em Lisboa em 1642. É auctor da Obrigação do Frade mtenor... 1.* edição 1627, por Antonio Alvaress,— 2.a por Pedro Ferreira, Lisboa, 1727. D'esta obra diz o diccionario de Ininocen- cio : «É estimada entre os livros astceticos pela correcção e propriedade da lingcoagem, com estylo adequado aos assumptos cde que tracta.» VILLA NOVA DA ERRA— villa e frregue- zia do concelho de Coruche, comairca de Benavente, districto de Santarém. Orrago S. Matheus. Priorado. Até 1882, data da ultima circumscrripção diocesana, pertenceu ao patriarchado, — mas desde 1882 pertence ao arcebispado de Évora. Em 1708 contava 200 fogos — e pelo mltimo recenseamento apenas 160 com 621 habi- tantes. Baixou consideravelmente a sua ptopula- ção, talvez por causa das epidemias qute teem pesado sobre ella, provenientes da suai agua potável, que é péssima, e da má visinihança dos brejos e pmes que tem nas margeens da ribeira da Ena, que lhe dá o nome e fer- tilisa os seus \astos campos, mas que torna o seu clima pouco saudável. Tem feira amuai na 1.» oitava da Pas- choa. Gaspar Barreiros diz que esta povoação foi a antiga Aritium Praetorium dos ffoma- VIL VIL 817 nos, 1 indicada no Itinerário d' Antonino Pio, \ entre Lisboa e Merida. Alem da villa comprehende os casaes se- guintes :— Mourão, Alegrete, Retiro, Fari- nheira, Paul, Moinho do Lagar, Acipreste, Corredoura, Juncal, Feixe, Concelhos, Bar- rancosas, Biea3, Cortiçada, Cascalheira, Mon- tinho da Vinha, Horta do Telheiro, Marate- ca da Pereira, Val Vidro, Val Mosteiro, Var- je ou Várzea d'Agua, Catarroeira, Moinho do Couto, Moinho do Alves, Pé da Erra e as quintas de Montinho, Barbas e Maia. V. Erra, voi. 3.° pag. 48, col. 2.a VILLA. NOVA DE FAMALICÃO — villa, freguezia e séde do concelho e da comarca do seu nome, districto e diocese de Braga, província do Minho. Abbadia. Orago Santo Adrião— fogos 460, —habitantes 1:915. Em 1706 contava apenas 100 fogos — era abbadia da apresentação da mitra,— rendia para o seu parocho 200#000 réis,— tinha como orago Santa Maria Magdalena— per- tencia á grande comarca de Barcellos,— era séde do julgado de Vermoim,— tinha um simples juiz pedaneo (anteriormente era or- dinário) que julgava sem appellação até á somma de 400 réis, eleito pelo povo sob a presidência do ouvidor de Barcellos; — um escrivão sem notas, — um almotacé, — um meirinho,— feira franca de lo em 15 dias, e uma d'anno, de bestas e gados, no dia de S. Miguel, 29 de setembro. Era 1768 era abbadia da mesma apresen- tação;—tinha também como orago Santa Ma- ria Magdalena;— rendia para o seu parocho 240$000 réis— e contava 156 fogos. Em 1852, segundo se lê no Flaviense, já contava 284 fogos ;— em 1878 o ultimo re- censeamento deu-lhe 386 fogos e 1:793 ha- bitantes;—hoje (1885) segundo os nossos * V. Noticias archeologicas de Portugal pelo dr. Emilio Hubner, pag 96, natraduc- ção da Academia— e o interessante, mas muito cego e conciso trabalho do dr. Levy Ma-^ ria Jordão — Porlugalliae Inscriptiones Ro- >manas, pag. 360, col 2.a e pag. 144, onde sob o n.° 320 se encontra uma inscripção enorme, relativa á velha cidade Aritium. apontamentos, conta, como já dissemos, 460 fogos e 1:915 habitantes— e a sua popula- ção tende a ir muito mais longe, porque o estado actual d'esta formosa villa é prospero e florescente ; ha porem quem diga que a linha férrea a prejudicou. É certo que, antes da construcção da linha férrea lhe dava muita vida o extraordinário movimento de viandantes, diligencias, car- ros e trens do toda a ordem que, noite e dia» cruzavam incessantemente na rua central, a rua Formosa, por onde passava a impor- tantíssima estrada real do Porto para Bra- ga, — para toda a província do Minho — e para a Galliza. Antes da construcção da linha férrea ha- via mais movimento na dieta estrada-rua em um raez do que agora em um anno. Situada em ampla, mas vistosa, mimosa e fértil planície, embora um pouco funda, cer- cada de bellos campos orlados d'arvoredo e sempre cobertos de luxuriosa vegetação como toda a província do Minho, tão justa- mente denominada— jardim de Portugal — o seu chão era completamente despovoado e deserto quando el rei D. Sancho I, o povoa- dor, tentado pela belleza e amplidão do sitio e pela sua vantajosa situação no meio da província do Minho entre ás cidades do Porto e Braga e cortado por uma estrada importantíssima desde o tempo dos romanos, se determinou a povoal-o. Com esse intuito, no anno XX do sen rei- nado, no dia 1 de julho de 1205, deu foral 1 aos que haviam de povoar o seu reguengo de Villa Nova de Famalicão, segundo se lê em Viterbo, na palavra Feira. Entre outras graças e privilégios conce- i Que nós saibamos, foi este o £.° e mico foral d'esta villa, mencionado por fr. Joa- quim de Santa Rosa de Viterbo. Estranha- mos que D. Manuel lhe não desse foral novo e que Franklin nem faça menção do de D. Sancho I. . O seu foral novo, (se foral pôde dizer-se) foi-lhe dado pela rainha, a sr.a D. Maria II, em 22 de julho de 1841, elevando-a á cathe- goria de villa — ou permittindo-lhe que se chamasse Villa Nova de Famalicão, nome de que sempre usára 1 . . . 818 VIL VIL deu D. Sancho aos futuros povoadores d'este seu reguengo uma feira quinzenal aos do- mingos e a mesma taxa das portagens que pagavam os de S. Pedro de Rates, etc, pois no dicto foral se lé o seguinte : Mando etiam, ut faciatis feiram in Domi- nicodie, de XV in XVdiebus, et detis Porta- gium, quomodo dant in S. Petro de Jiatis. Et om,nes, qui venerint ad illam feiram quid- quid ibi fecerint de Calumpnia in illo die, non sint pignorati, vel retenti. Livro dos Foraes velhos. Em vulgar é o seguinte • «E mando que façaes ahi feira aos domin- gos, de 15 em 15 dias, e que pagueis de portagem o mesmo que se paga em S. Pedro de Rates. E todos os que vierem á dieta feira não poderão ser presos n'aquelle dia por qualquer crime que n'ellacommettam.» D'este grande privilegio ou franquia lhe proveiu o nome de feira franca. Em vista não só d'aquelles privilégios e franquias, mas da belleza do local e da sua vantajosa situação topographica, parece que a população ali devia desinvolver-se rapi- damente ; mas não suceedeu assim, pois, se- gundo dizem o padre Carvalho na Chorogra- phia Portugueza, (vol. l.°, pag. 324)— o sr. Ignacio de Vilhena Barbosa no Archivo Pit- toresco (vol. 4.° pag. 298)— e o meu illustra- do e mallogrado collega Domingos Joaquim Pereira, abbade do Louro, na sua interes- sante Memoria Histórica de Barcellos, Bar- cellinhos e Villa Nova de Famalicão (pag. 211) esta villa era ainda um ermo despovoa- do, quando em 1298 a 1578 um vendeiro, por nome Famelião, aqui montou uma ven- da, que foi a l.a casa e o 1.° estabelecimento do dicto logar e por consequência o núcleo d'esta formosa villa que da mencionada ven- da, denominada Venda Nova de Famelião, tomou o nome de Villa Nova de Famalicão. Diz ainda o abbade do Louro que em vez de Famalicão deve escrever-se Famelicão, porque o nome do tal vendeiro, 1.° povoa- dor d'esta villa, era Famelião e não Fama- Hão. Também se lê Famelião no citado artigo do sr. Ignacio de Vilhena Barbosa e na Cho- rographia Portugueza; mas eu (salvo ) o res- peito devido a tão illustrados auctore^es) es- creverei Famalicão pelas consideraçòòes se- guintes : 1. "— Porque, se houvéssemos de seteguir o rigor etymologico, deveríamos dizer r Villa Nova de Famelião, pois o pretendido f funda- dor ou povoador era (dizem) Famelião o e não Famelicão ; 2. a— Porque vemos dar geralmente e e ofi- cialmente o nome de Famalicão, não o só a esta villa, mas a outras muitas povooações do nosso paiz. 3. a— Porque duvido da existência < do tal vendeiro e do facto a que se allude, pobis não vejo citar outra auctoridade alem da ddo pa- dre Carvalho, que para mim não faz f461m,9 Avenidas — Da estação de Fama- licão ao Vinhal 943m,0 Avenidas— Da estacão de Nine a Isabelinha lkii,284ra,0 Esta comarca de Villa Nova de Famalicão foi creada por lei de 21 de maio de 1835, sendo as suas íreguezias desannexadas do concelho de Barcellos. A l.a sessão da ca- mará teve logar no dia 28 de setembro d'a- quelle mesmo anno. A sua estação lelegraphica foi creada em 20 de janeiro de 1862. O banco hypothecario tinha mutuados n'este concelho 2:768 contos de réis, em 1884. Os tres maiores proprietários d'esta villa na actualidade são os seguintes :— barão da Trovisqueira, José de Castro e José d'Aze. vedo Menezes Cardozo Barreto. Os tres maiores proprietários d'este con- celho na actualidade são estes:— João Car- neiro d' Araujo Telles, José Augusto de Car- valho e Sá e Francisco Ignacio d'Aguiar Pi- menta Carneiro. VOLUME X Ao ex.m0 sr. José d'Azevedo Meneses Car- doso Barreto, da nobre casa do Vinhal, agra- deço os apontamentos que se dignou en- viar-me. VILLA NOVA DE FOSCOA-villa, fregue- zia e séde de concelho e comarca, districto da Guarda, diocese de Lamego, província da Beira Baixa. Abbadia. Orago Nossa Senhora do Pranto, —fogos 806 —habitantes 3:210. * Em 1708 contava 60 fogos dentro dos mu- ros do seu castello e 500 nos arrabaldes, — era abbadia do padroado real,— tinha casa de misericórdia, hospital e 9 ermidas,— fei- ras a 8 de maio e 29 de setembro,— 1 ouvi- dor, 2 juizes ordinários, 1 dos órfãos com seu escrivão, 2 vereadores, 1 procurador do concelho, 1 escrivão da camará, 2 tabelliães, 2 cfhnotacés, 1 capitão-mór, 1 sargento-mór com 2 companhias de ordenanças e 1 com- panhia de auxiliares que obedecia á praça d'Almeida. Era dos condes de Villa Nova de Porti- mão, dos quaes adiante fallaremos. Em 1768 era também abbadia do padroa- do real;— contava 581 fogos—e rendia para o seu parocho 300$000 réis. A Historia Ecclesiastica da cidade e bis- pado de Lamego, eseripta 1103 fins do ul- timo século por D. Joaquim dAzevedo, cóne- go regrante de Santo Agostinho e abbade re- servatório de Sedavim, 2 publicada em 1877, dedicou um bello artigo a Villa Nova de Foscôâ e lhe deu 862 fogos com 3:268 ha- bitantes e 600$000 réis de rendimento. Esta villa demora na altitude de 439 me- tros sobre o nivel do mar, em um amplo, vistoso e alegre planalto, na margem esquer- da do rio Côa, do qual dista 3 kilometros para 0.— 5 da foz do Côa (da qual tomou o nome) e da margem esquerda do Douro, para S. O.— 9 da barca e da estação do Po- cinho, pela estrada nova, para S. E.— 22 de 1 O seu movimento paroehial no ultimo anno foi o seguinte : baptisados 145, — casa- mentos 17, — óbitos 169?!... 2 V. Villa Nova d' Ourem. 53 830 VIL VIL Moncorvo, pela barca do Pocinho, para S. O.,— 24 da Bárea d'Alva, para E. 0,-70 da Guarda— 81 de Lamego, pela linha férrea do Douro— 173 do Porto— e 510 de Lis- boa. Esta parochia é formada pela villa do seu nome, povoação compacta e única. Não com- prehende aldeias, mas somente 75 fogos na Veiga, junto da barca e da estação do Pocinho, onde tem duas tavernas e vários casaes e quintas, entre as quaes avulta a do Reguengo, hoje a l.a d'esta parochia ed'este concelho, pela sua extrema fertilidade e grande producção de vinho. Adiante lhe da- remos o logar d'honra que merece. No formoso e mimoso local da Veiga, (em- bora bastante doentio) deve desenvolver-se um povoado importante logo que se ultime a linha férrea do Douro e se abra a estação do Pocinho, commum á grande villa de Mon- corvo e a Villa Nova de Foscôa. Esta villa tem estação própria e mais pró- xima na foz do Côa, mas deve convergir na- turalmente sobre a do Pocinho por estar a N. O. 10 kilometros a jusante da de Foscôa e por consequência 10 kilometros mais pró- xima do Porto, centro dos maiores interes- ses d'esta villa,— por ter para ella já cons- truída uma bella estrada a macadam— e por haver ali uma barca de passagem sobre o Douro, que a liga a Moncorvo e á provincia de Traz-os-Montes. Deve procurar a estação da Foz do Côa unicamente quando tenha interesses a leste sobre a Barca d'Alva, Freganeda e Sala- manca. N'este concelho de Villa Nova de Foscôa ha hoje as estradas seguintes a macadam : 1.°— Real, de Celorico da Beira a Mon- corvo e Mirandella, tocando em Villa Nova de Foscôa, lado 0. e na estação do Pocinho, atravessando o Douro na barca d'aquelle nome. Já se acha toda construída, exceptuando alguns kilometros entre Foscôa e Langroiva e entre Moncorvo e barca do Pocinho. De Moncorvo deve seguir também para a cidade de Miranda, mas n'esta parte com- plementar tem apenas alguns kilometros construídos junto de Miranda. É uma. estrada de grande alcance estra- tégico e de muito interesse para as provín- cias da Beira e Traz-os-Montes — e deve dar extraordinário movimento á estação do Po- cinho. 2. " — Também real de Villa Nova de Fos- côa para a Pesqueira, medindo cerca de 16 kilometros. Está em via de construcção e é a conti- nuação da estrada real n.° 34, do Porto á Barca d'Alva. 3. a—Districlal, entre a freguezia d'Almen- dra e a de Castello melhor, na extensão de 5 kilometros, em via de construcção. 4. a— Municipal, entre a freguezia de Frei- xo de Numão e a da Touça, na extensão de 4 kilometros, em via de construcção tam" bem. 5. * — Municipal também, entre a freguezia de Sedavim e a da Horta, na extensão de 5 a. 6 kilometros. Em estudos. Passa também n'esta freguezia pela sua extremidade N.— N. E.— N. O.— e O.— a li- nha férrea do Douro, comprehendendo na area desta parochia cerca de 15 kilometros de via corrente com as seguintes obras d'arte : 1. a — Tunncl do Salgueiral, na pendente O. do Monte Meão, baldio d'esta parochia. Ex- tensão 60 metros. 2. a— Tunnel do Monte Meão,— atravessa de O. a E. o monte d'este nome e tem de ex- tensão 730 metros. 3. *— Tunnel da Veiga, no sitio d'este no- me. Tem de extensão 90 metros. 4. a — Viaducto do Pocinho, — com 3 tranos^ —2 de 28 melros e 1 de 35,— total 81 me- tros d'extensão. Sobrestructura metálica da fabrica de Eclessin (Bélgica). 5. a— Estação do Pocinho— de 2.* classe, com a extensão total de 104K,,20,— 1 kilo- metro a montante do viaducto do Pocicho. 6. " — Viaducto de Caniviães,—3 arcos eom o raio de 7m,5— e a extensão total de 64a,20. 7. "— Estação de Foscôa, de 4.a classe, na margem esquerda do Côa. VIL VIL 831 E' destinada para entroncamento da liga- ção do caminho de ferro do Douro com o da Beira Alta, em projecto. 8.» — Viaãucto do Côa, sobre o rio d'este nome, nos limites d'esta freguezia e da de Castello Melhor. Tem este viaducto 2 vãos de 28 metros e 1 de 35,— extensão total 104ra,2 —e sobre- structura metálica da fabrica Br aine-le- Con- te, da Bélgica também. V. n'este volume o artigo Vias Férreas, de pag. 467 a 502— e particularmente as pagi- nas 475 e 476, onde descrevemos todas as obras d'arte da linha férrea do Douro na parte que se acha em construcção desde Tua até Fuente de Santo Estevão, entroncamento na linha da Beira Alta, da Figueira a Sala- manca, terminus da linha do Douro. Freguezias limitrophes:— Muxagata ao sul —Santo Amaro a N. O.— a leste o rio Côa — e o Douro a N— N. E— e N. O. . Esta freguezia tem uma area muito ex- tensa, x De leste a oeste, seguindo da Foz do^Côa pela margem esquerda do Douro, deve me- dir cerca de 20 kilometros d'extensão, por causa das grandes sinuosidades que o Douro aqui descreve ;— e de norte a sul deve ter metade d'aquella extensão, approximada- mente. Está comprehendido no seu termo, a N. O. o monte Meão, quasi todo baldio, logra- douro commum d'esta parochia e um dos seus grandes mananciaes de riqueza, pois n'elle apascenta muitos gados e colhe muito pão e lenha. Note-se que nas freguezias de ambas as margens do Côa hoje ha grande falta de com- bustível. Poucos são 03 proprietários que teem le- nha sufficiente para todo o anno ;— o povo vae buscal-a {roubal-a) a grandes distancias; —queima inclusivamente os excrementos dos bois,—e cosinha e aquece os fornos com pa- lha ti... Para augmentarem a cultura dos cereaes de pragana, destruíram os mattos e lavra- ram os montes todos. O resultado é — não terem lenha para queimar,— nem madeira para construcções, — nem matto para estru- me. Volvendo ao monte Meão, diremos que é granítico e bastante espaçoso. Mede talvez mais de 5 kilometros quadrados e tem pe- nhascos horrorosos, fojos e despenhadeiros medonhos que os próprios caçadores da lo- calidade não podem transpor sem guia, mas comprehende também muito terreno chão, arável e fértil. É cercado pelo Douro a N. — E. e O— Ali houve uma importante povoação fortificada no tempo dos romanos. Ali se veem ainda hoje ruinas de largos muros, edifícios e fontes, principalmente on- de chamam o Castello Velho,— sitio muito defensável para os tempos d'armas brancas; — e ali se tem encontrado muita pedra de esquadria, muitas moedas romanas e varias inscripções. Não se sabe ao certo quando se fundou nem quando se extinguiu tal povoação, mas lodos concordam que foi o gérmen e o nú- cleo d'esta Villa Nova de Foscôa. Suppõe-se com todo o fundamento que, destruído o povoado do Monte Meão, os ha- bitantes que sobreviveram se dispersaram pelos recantos vizinhos, formando difleren- tes povoações mais pequenas na Veiga, no Paço, no Azinhate, etc. Na Veiga, ainda lá se vê a capella anti- quíssima de Nossa Senhora da Veiga, que alguém diz fôra parochial, pois ainda nos fins do ultimo século pagava a censuariaâo cabido de Lamego, como as outras egrejas matrizes;— e a pequena distancia d"ella se teem encontrado em escavações ruinas de edifícios e sepulturas antiquíssimas soterra- das. Em uma d'ellas, segundo se lê na Histo* ria Ecclesiastica de Lamego, se encontrou um esqueleto mui grande, inteiro, e uma es- tatua de jaspe branco, que parecia de mu- lher. Aecrescenta a mesma Historia— que «por ser o logar doentio e acometido por tropa de faccinorosos.» fugiram os seus moradores para o planalto onde se fundou o castello e a villa nova actual. 832 VIL VIL Também ha memoria de casas no sitio do Paço ou do Relento, cerca de 1:200 metros a leste da villa, onde ainda hoje se veem os res- tos da ermida ou egreja de S. Vicente, que foi outr'ora parochial também,,— e no sitio do Azinhate, junto da capella de Nossa Senhora do Amparo, — bem como junto da antiquís- sima capella de Nossa Senhora da Concei- ção, que foi do chantre de Lamego e tam- bém matriz, em cujo adro se encontram sepul.uras. Suppõe-se que todas estas e ou- tras aldeias que existiram no termo d'esta parochia se despovoaram por serem abertas e estirem expostas a serem roubadas pelos salteadores e saqueadas em tempos de guer- ra; *— que os seus habitantes foram procurar abrigo no castello— e que, attrahidos pelas vantagens que lhes offereeiam o castello e os seus ires amplos foraes, bem eomo pela bel- lesa co local, em breve se desenvolveu ali uma povoação importante, que por isso mes- mo se denominou Villa Nova. Também dizem que, antes da fundação do castelo, as aldeias que n'elle se concentra- ram ooedeciam ã cidade de Numancia, hoje Numão, simples parochia d'este concelho, que, cu fosse ou deixasse de ser a Numan- cia dos romanos, foi com toda a certeza po- voação antiquíssima muito importante e muito bem fortificada, distante cerca de 20 kilometros de Villa Nova de Foscôa, para oeste. V. Numão, vol. 6.° pag. 178— e a Hist. Eccl. de Lamego, pag. 175. É portanto muito antigo o povoado de Villa Nova de Foscôa, pois antes de se fixar no ponto onde hoje se vê, esteve no Monte Meão e depois andou disperso por differen- tes sitios do termo da villa actual. Que nós saibamos teve esta villa os 3 fo- raes seguintes : 1 Note-se que até os princípios do século xiv o reino de Leão confinava com o rio Côa. Foi el-rei D. Diniz que tomou aos leo- j nezes tudo o que hoje è de Portugal desde o Côa até o Agueda, pela margem esquerda | do Douro. V. vol. 7.° pag. 66. 1. °— Dado por D. Diniz em Portalegre, a 21 de maio de 1299. Liv. IV de Doações do Sr. Rei D. Diniz, fl. 13, v. col. 2.a in-fine. 2. °— Dado pelo mesmo rei em Lisboa, no dia 24 de julho de 1314. Maço 8 de Foraes antigos, n.° 18. 3. °— Dado por D. Manuel em Lisboa, no dia 16 de junho de 1514. Liv. de Foraes Novos da Beira fl. 126, col. 1." D. Diniz fundou e povoou Foscôa, dando- lhe 2 foraes; — depois D. João J a elevou á categoria de villa— e por ultimo D. Manuel mandou edificar a egreja parochial. É por isso que na frente da egreja e no pelourinho se veem flores de liz, emblema de D. João I— e a esphera armillar, emblema d'el-rei D. Manuel. O castello não foi mandado fazer por D. Diniz. Foi feito muito mais tarde, talvez nos fins do século xv, pelos habitantes da nova villa, á sua própria custa. Quando rebentou a lucta entre o nosso rei D. Alfonso V e os reis de Castella,— lu- cta que durou desde 1473 até 1479— ainda o castello não havia sido feito, pelo que D. Affonso V, para determinar os habitantes de Villa Nova a construil-o, lhes offereceu o privilegio de não pagarem direitos d'alcai- daria, como não pagava o castello de Freixo de Espada á Cinta; mas nem assim então se resolveram. Parece-nos ser isto o que se deprehende da Monarchia Luzitana, parte V, cap. 3.°fl 181, col. 2.» O terreno em volta da villa é plano e de agradável aspecto, mas muito árido e muito falto d'arvoredo. Apenas de longe em longe se veem algu- mas oliveiras e amendoeiras e junto da po- voação algumas hortas. São aqui também raros os vinhedos. O chão é fértil e produz bastante trigo, centeio e cevada, mas, como não o estrumam, necessita de folga e é semeado á folha, — exceptuando o terreno próximo da villa que, por ser mais chão e receber alguns adubos, é semeado todos os annos. VIL VIL 833 Tem a villa 2 feiras antiquíssimas, já in- dicadas na Chorographia Portugueza,—\xma. no dia 8 de maio,— outra no dia 29 de se- tembro,— denominadas feiras de S. Miguel, e se fazem no campo do mesmo nome, ou da lagoa. Também já teve mercado diário impor- tante de quanto produziam as terras da co- marca (então era Trancoso e antecedente- mente foi Pinhel) sendo contínuos os carre- tões de pão, vinho, castanhas, melões, cere- jas, uvas e outras fructas no tempo, — diz a Hist. Eccl. de Lamego. Fazia-se o dicto mercado na Praça, mas suspendeu-se ha muito. Não sabemos quando nem porque; foi po- rem restabelecido depois que principiou no termo d'esta parochia a construeção da li- nha férrea do Douro. É outra vez diário— e de 15 em 15 dias mais importante. As obras da linha férrea teem dado muito dinheiro e muito movimento a esta villa. N'ella se abastecem de differentes géneros milhares d'operarios; n'ella rezidem alguns engenheiros, empreiteiros e vários emprega- dos—e n'ella montou um francez outro ho- tel, além do que a villa já tinha. Também os empreiteiros aqui montaram um hospital provisório, pois infelizmente a santa casa da Misericórdia d'esta villa se ex- tinguiu, ha muito, bem como o seu hospi- tal, que esteve na rua do mesmo nome, en- tre o Campo do Tabolado e a egreja ma- triz. O fertilissimo chão da Veiga foi quasi to- do reguengo, propriedade particular dos nos- sos reis;— depois passou para o município, que costumava arrendal-o por 300 a 400 mil réis annualmente ;— por ultimo foi vendido em hasta publica e comprado por D. Antó- nia Rachel Ferreira, viuva do capitão-mór d'esta villa i. É hoje d'esta senhora e do seu filho Único Augusto Lopes Pereira da Silva, residente no Porto, hoje o primeiro proprie- tário d'esta villa, pois não só é dono da 1 Foi o ultimo e chamava-se Francisco Antonio Lopes Cardoso. quinta do Reguengo, hoje a i> d'este conce- lho, mas d'outras muitas. Tem a quinta do Reguengo hoje uma boa casa d/habitação, grande armazém e lagares soberbos, d'onde vae o vinho encanado para os toneis, tudo nas melhores condições, sen- do a planta para todas estas obras feita pelo engenheiro Joaquim Maria Fragoso, de Coim- bra, casado em Villa Nova de Foscôa. Esta quinta do Reguengo, em quanto foi do município, apenas produzia cereaes, mas o seu actual possuidor a plantou toda de vi- nha e produz cada milheiro de vides baixas 3 a 4 pipas de vinho, como na ribeira da Villariça, que é o chão mais fértil de Portu- gal. V. Villariça. Comprehende a formosa quinta do Re- guengo pouco mais de 30 milheiros de vides baixas, e produziu no ultimo anno 155 pipas de vinho ! . . . Foi comprada por seis contos de réis em 1876;— metade do Reguengo pertencia ao município e a outra metade ao passal do parocho d'esta freguezia. A camará de Villa Nova de Foscôa ainda possue na fértil várzea da Veiga alguns chãos na margem do Douro e que o rio eobre e aduba nas cheias. Costuma arrendal-os e produzem admiravelmente milho, trigo, fei- jões, abóboras, melões e melancias. Colhe também esta parochia muitos me- lões e melancias em outros pontos do seu termo, nas hortas dos arrabaldes da villa » nas da Flor da Rosa, sendo todos os seus meloaes de seccadal—e os melões e melan- cias da Flor da Rosa saborosíssimos, — tal- vez os melhores de Portugal ;— mas os que abundam nas feiras e nos mercados da villa vão da grande ribeira da Villariça, da fre- guezia da Muxagata e da quinta da Veiga termo de Langroiva, excellente propriedade do conde de Tavarede. Ha n'esta villa 5 industrias principaes: — a dos carretões e vendilhões de diversos gé- neros,— as do fabrico de cordas, calçado e carros para bois— e a da preparação do su- magre. 834 VIL VIL As cordoarias (Testa villa foram muito im- portantes no tempo do marquez de Pombal, pois este ministro, para libertar o nosso paiz das grandes sommas que pagava aos paizes estrangeiros, nomeadamente á Rússia, pelas cordas para a nossa marinha de guerra e mercante, vendo que o fértil torrão da Vil- lariça, distante d'esta villa apenas 12 kilo- metros, produzia bello cânhamo, creou no Porto, em Moncorvo e aqui grandes cordoa- rias. Veja-se n'este volume o artigo Victoria, freguezia do Porto, nomeadamente a pagina 594. Gosam de justa fama os carros que aqui se construem. Denominam-se carros de va- ras e são feitos de negrilho {ulmus campes- tris). Para evitarmos repetições veja-se o mesmo artigo Victoria, pag. 595, col. 2.a Houve aqui outr'ora importantes cor- tumes de couros. Fizeram-se fortunas com aquella industria, mas desappareceu, ha muito. É porém ainda importante aqui uma industria congénere,— a dos fabricantes de calçado e de couros para arreios de caval- gaduras e apeiro dos bois. Da preparação do sumagre faltaremos adiante. Esta villa em 1708, como já dissemos, per- tencia á comarca de Pinhel;— passou depois para a de Trancoso; — em seguida para a da Mêda;— extincta esta, 1 passou para a da Pesqueira;— desde 1854 (me parece) foi ele- vada á cathegoria de séde de comarca pro- 1 A comarca de Mêda foi restaurada em 1872 (me parece) á custa d'esta de Foscôa, da qual recebeu as 8 freguezias seguintes : — Barreira, Carvalhal, Coriscada, Gateira, Marialva, Pae Penella, Rabaçal e Valle de Ladrões. Quasi todas lamentam ainda hoje a des- membração, porque o município da Mêda é pobríssimo— em quanto que este de Foscôa é um dos mais ricos da Beira, pelo que as contribuições municipaes são muito mais violentas na Mêda. Deus perdoe ao fallecido Antonio Homem da Silveira Sampaio e Mello, do Rabaçal, que foi quem promoveu a creação da comarca da Mêda, para ter a séde mais próxima da sua rica e muito nobre casa. pria, formada pelo seu concelho somente, com 25 freguezias; mas hoje, depois da crea- ção da comarca da Mêda, que lhe roubou as 8 freguezias já mencionadas, comprehende apenas as 17 seguintes :— Cedovim, ou Se- davim, Chãs, Custoias, Freixo de Numão, Horta, MoZj Murça, Muxagata, Numão, Santa Comba, Santo Amaro, Sebadelhe, Seixas, Touça e Villa Nova de Foscôa, — todas estas do bispado de Lamego,— e Almendra e Cas- tello Melhor, do bispado da Guarda, com o total de 3:168 fogos e 12:631 habitantes, se- gundo o ultimo recenseamento. .Aquellas duas freguezias de Almendra e Castello Melhor pertencem ao bispado da Guarda, porque estão na margem direita do rio Côa, pois desde 1882, data da ultima cir- cumscripção diocesana, o Côa e a ribeira de Maçoeime, sua confluente, formam por este lado a linha divisória entre os bispados de Lamego e da Guarda. Pertencem pois á diocese da Guarda to- das as freguezias da margem direita do Cóa e da ribeira de Maçoeime até á raia da Hes- panha, — freguezias qué outr'ora pertence- ram á diocese de Caliabria,— depois á de Cidade Rodrigo,— em seguida á de Lamego — e por ultimo á de Pinhel, creada em 1770 e extincta em 1882. V. Caliabria e Pinhel. Esta villa é a povoação compacta mais populosa que se encontra era toda a margem esquerda do Douro desde o mar até á Hes- panha, exceptuando unicamente Lamego e Villa Nova de Gaya. Tem bons edifícios e bons proprietários, muito commereio, ruas bem calçadas, em- bora estreitas, um espaçoso campo, indus- trias differentes, feiras importantes, um lindo cemitério, hotéis rasoaveis, etc, mas tem dois grandes contras: — muita falta d' agua e dlarvoredo. Como está em um planalto, cujo subsolo é schisto e só a grande distancia se erguem elevações superiores, a villa, sendo tão po- pulosa, não tem uma única fonte de bica, mas somente poços e charcos, sendo quasi toda a agua d'elles salobra. VIL VIL 835 A sua agua polavel reduz-se quasi exclu- sivamente á do charco ou poço coberto, de- nominado Fonte Nova, contíguo á capelliuha de S. Pedro, a leste da villa,— fonte que nos annos mais áridos sécca e obriga a popula- ção a ir dessedentar-se na fonte da Flor da Rosa, ou de S. Bibre, distante 2 a 3 kilome- tros para oeste, ao sul do caminho da Pes- queira e da Mêda. Também não tem agua para rega, exce- ptuando a d'alguns poços, que exlrahe com difflculdade e por isso no verão a villa é de uma aridez extrema! . . . Não tem bosques, ribeiros, alamedas, ma- tas, soutos, pinheiraes nem pomares e, como a producção dominante dos seus arrabaldes é o trigo, colhido este, fica o rastolho, como succede no Alemtejo e em volta de Madrid, vomitando fogo durante o rigor da estia- gem. Tem muitos bois para carretos e serviço da lavoura e muito gado azinino e muar para transportes e serviço da lavoura tam- bém;—todo o gado porem bebe quasi exclu- sivamente agua de uma lagoa que por abso- luta necessidade formaram no Campo da Feira, aproveitando a depressão d'umazona de schisto que se inclina para N. E. e cons- truindo d'esse lado um muro para represa das aguas pluviaes que ali se conservam todo o anno batidas pelo sol, estagnadas, es- verdeadas e podres, formando um terrível foco d'infecção ! Na dieta lagoa, cuja altura máxima é de 2m,50, entram e se banham e bebem os bois, os porcos, as cavalgaduras e todos os outros animaes K A sua agua é tão limpa ou ião im- munda, que só os animaes da villa, criados cora ella, a bebem. Os de povoações extra- nhas — nem lhe tocam! E é a lagoa, este grande foco d'infecção, a providencia da villa. pois quando sécca, o que succede muitos annos no fim do verão, veem-se na necessidade de ir buscar em pi- pas agua ao Douro, distante 5 a 6 kilome- tros, para entreterem a existência dos seus 1 Ali se banham e nadam também no ve- rão centenares de creanças da villa? I . . . gados— e quando a estiagem se prolonga emi- gram com elles para as margens do Douro. Se d'outra qualquer forma podessem abas- tecer a villa d'agua, a primeira coisa que deviam fazer e que por certo fariam, era arrasar a lagoa, porque é um viveiro de se- zões,— um manancial de peste ! . . . Os templos d'esta villa e seu termo redu- zern-se hoje á sua egreja matriz,— a 8 capei- las publicas — e a i particular. A egreja matriz é um templo dos maiores e melhores da província, mandado edificar por el-rei D. Manuel. Tem uuiabella frontaria com um rico por- tal em estylo gothico florido, encimada por um campanário com tres sineiras e dois grandes sinos;— a meio um óculo, ou espelho liso;— 2 escudos com as armas reaes portu- guezas (o chagas e 7 castellos)— no centro dos 2 escudos a imagem da Virgem com o filho morto nos braços, representando a Se- nhora do Pranto, que é a padroeira;— aos lados 2-espheras annillares, uma com a cruz da ordem de Christo, emblema d'el-rei D. Manuel, outra com uma flor de liz— e no cunhal, do lado da epistola, a inscripção se- guinte : Esta obra se fez no anno de 1757, sendo Abb.° d'esta igreja Anto- nio Esteves Pereira. D'este conjuncto se vé que este templo foi fundado por el-rei D. Manuel— e restaurado e ampliado em 1757. Interiormente tem tres naves, firmadas so- bre 6 columnas de granito, redondas e lisas, — capella-mór com um soberbo retábulo de talha dourada e boas pinturas antigas no tecto e nas paredes,— côro espaçoso sobre o guarda-vento— no corpo da egreja 2 alta- res lateraes de boa talha antiga e 2 aos la- dos do arco cruzeiro com decorações de ta- lha moderna, mais barata,— tecto liso de ma- deira com larga e vistosa pintura; no centro a imagem da padroeira, aos lados muitas fi- guras bíblicas com muitos versículos da bí- blia também, e ao fundo, perto do coro e no 836 VIL VIL mesmo tecto, o retrato do abbade que pro- moveu a restauração e ampliação d'este tem- plo, como dizem as legendas que tem aos la- dos: Esta obra foi feita no anno de 1767 Sendo Abb.8 d'esta I- greja Antonio Esteves Pereira. E por baixo do retrato esfoutra : Ubi sunt duo, vel tres congregat! in nomine meo, ibi sum in médio eorum. eucles, cap. 25. Tem um só púlpito de granito com 8 fa- ces, pintado e encostado a uma das colu- mnas que sustentam as naves, do lado do evangelho— e entre as sepulturas que ainda se veem no interior do templo avulta uma com a inscripção seguinte : S.a DE GONÇALO DE Moraes e Castro, Abb.» que foi n'esta igreja. Falleceu a 22 d'Agosto de 168 5. Tem boa sachristia com ampla credencia e ricas decorações de talha dourada— e te- cto de madeira bem trabalhado e bem pin- tado, com orDamentacão de talha dourada também. Teve também esta egreja preciosas alfaias de prata sendo algumas do tempo d'el-rei D. Manuel; mas todas foram roubadas pelos francezes nos princípios d'este século, por occasião da guerra peninsular. Concluiremos este tópico dizendo que esta . magestosa egreja foi mandada fazer por el- rei D. Manuel e ampliada pelo benemérito abbade Antonio Esteves Pereira em 1757, accrescentando lhe em toda a sua extensão 3m,40 por banda;— o mesmo abbade a man- dou cobrir, forrar e pintar em 1767;— hoje mede ialeriormente 13m,74 de largura e 36m,15 de comprimento,— e os seus abbades foram sempre tão considerados que usam de murça e annel, como os cónegos, desde tem- pos muito remotos. As capellas que hoje existam n'esta paro- chia são as seguintes : 1. » — Senhora da Veiga, no sitio d'esíe no- me, junto do Douro e da barca e estação do Pocinho, bem tractada e bem conservada, posto que muito antiga, pois já o padre Car- valho a mencionou, dizendo que a ella con- corriam muitos concelhos em procissão na 2.» feira depois da dominga in Albis. Outr'ora foi matriz de uma das povoações que se concentraram na villa actual — e ainda hoje tem festa e grande romagem no dia 8 de setembro na sua capella, feita com as es- molas dos devotos por uma commissão no- meada pela junta de parochia. Costumam também os lavradores fazer-lhe grande festividade na egreja matriz, com procissão, 2. *— S. Sebastião, também muito antiga e bem conservada, cerca de 400 metros ao norte do cemitério, á direita da estrada no- va do Pocinho. Tem festa feita pelos sapateiros. 3. "— Santo Antonio, hoje dentro do cemi- tério da villa, a O- do Campo da Feira e muito bem tractada. Tem altar mór e dois lateraes— e festa an- nual, feita pelos cordoeiros, com procissão — e até 1865 (approximadamente) tanto no dia d'esta festividade como das outras da villa costumavam correr touros, ereados no Monte Meão. í.*— Senhora da Conceição, muito antiga e em mau estado, dentro da villa, no largo do seu nome, que é povoado quasi exclusi- vamente pelos cordoeiros e n'elle fazem as cordas. Esta capella, como já dissemos, foi matriz d'um pequeno curato do chantre de Lamego, annexo á egreja (abbadia) de Numão, que era do mesmo chantre. 5.a — Senhora do Amparo, do Azinhate ou Azinhaga, no sitio d'Éte nome, cerca de 1 kilometro a O. da villa. Revela muita antiguidade e está hoje em abandono, mas já teve grande festa, feita pe- los almocreves \. A Hist. Eccl. de Lame^pag. 193, in fine, VIL VIL 837 $.a— Santa Barbara, também antiga e mal- j tratada, a leste da villa, distante cerca de 400 metros. A esta imagem costumavam pe- dir bom tempo, pelo que a sua festa era feita pelos cavadores, com procissão, corrida de touros, etc. 7." — Senhora da Aldeia Nova, junto do castello, para S. O. --muito antiga e mal tractada. Ha muito que não tem festa própria. Ape- nas ali os estudantes festejavam Santa Luzia. 8 «— S. Pedro, também muito antiga e já em ruinas e profanada, mas ainda com por- tas e tecto. Está a leste da villa, junto da Fonte Nova, o poço coberto que abastece toda a villa d'agoa potável. A pobre ermida olha para N. e tem ca- pella-mór, que parece ter sido a primitiva capella, — um pequeno arco de granito de volta inteira com as quinas quebradas e or- namentação simples — e tem ainda no seu velho retábulo duas lindas columnas de ta- lha antiga com aves e uvas. Teve festa feita pelos moleiros. Este sitio, posto seja arrabalde, é um dos mais frequentados da villa pela proximidade da fonte, sobre a qual toda a grande povoa- ção converge em motu constante e fieira in- terminável. Quando visitámos esta villa em 1 de se- tembro de 1881, vindo da Serra da Ertrella, onde passámos muito agradavelmente oito dias (de 4 a 12 d'agosto) com a Expedição Scienlifica, visitámos também esta fonte. Era ao cahir da tarde e— tendo crusado todo o nosso paiz em differentes direcções e tendo alargado também um pouco mais os nossos passeios até Madrid e Paris, — não nos recordamos de ter visto em tão pequeno es- paço de tempo tanta gente em fonte alguma I Todas as 8 capellas mencionadas são pu- blicas e ha ainda n'esta villa uma outra. deu a esta capella o titulo de Nossa Senhora do Pranto. Foi lapso, porque a imagem da padroeira representa a Virgem com o Me- nino Jesus ao collo—e não com o Senhor morto no regaço, como se vê na matriz. 9, a— De Santa Quitéria, particular, mas com porta franca ao publico, na rua de Santa Quitéria, contigua a um bom prédio que foi de Jacinto Lopes Tavares, de Carnicães, do concelho de Trancoso, e é hoje dos seus her- deiros, que possuem aqui um bom casal. Era lindíssima: — tem ainda bons azulejos e um rico frontal de talha antiga dourada, — mas está em completo abandono. Também houve n'esta villa mais 4 capei- las publicas; eram as seguintes: 10. a— S. Vicente, a leste da villa, no sitio do Paço ou do Relento. Em tempos muito remotos foi egreja ma- triz, não sabemos de que parochia. H.a— S. Miguel, a S. O. do campo a que deu o nome, hoje Campo da Feira, ou da Lagoa, na rua denominada também de S. Mi- guel. Achando-se em ruinas, foi demolida na 2.a metade d'este século para alinhamento da dieta rua, hoje a l.a da villa. Tinha galilé ou alpendre e contíguos vá- rios cobertos para os feirantes. A sua festa era feita pelos habitantes da villa, exlra-muros do castello 12. " — Senhora da Encarnação. Não ha memoria d'ella. 13. " — Senhora da Expectação. Também já se perdeu a memoria d'ella, mas a Hist. Eccl. de Lamego, escripta nos fins do ultimo século, a mencionou, bem como a antecedente. Também suppomos que houve n'esta villa uma egreja da Misericórdia com seu hospi- tal, na rua ainda hoje denominada do Hos- pital, pertencentes á antiquíssima irmandade da Misericórdia, — corporação extincta ha muitos annos e da qual não restam docu- mentos alguns I Depois da egreja matriz, o primeiro edifí- cio publico d'esta villa hoje é o seu tribunal, um dos melhores do distrieto. Foi principiado em 1857 e ultimado em 1 Os habitantes do bairro do castello m- tra-muros, faziam a festa á imagem de Nossa Senhora do Castello, que estava e está em um nicho sobre a porta voltada a S. 0. 838 VIL VIL 1868. Ergue-se â N. da Praça, no próprio sitio cnde estiveram os velhos paços do con- celho. Tem ao rez de cltaussé um pavimento onde ftstá a cadeia, com 6 grandes janeilas, além do espaçoso portão d'entrada;— no an- dar nobre outras 6 grandes janeilas de frente com uma porta rasgada e uma varanda ao centro— e no topo as armas reaes portugue- zas com as quinas e 7 castellos. Tem janei- las nas outras tres faces,— muito pé direito, — bastante fundo — e accommoda em boas condições o tribunal, recebedoria, paços do concelho, conservatória e todas as outras re- partições publicas da villa. Em frente está na mesma praça o velho pelourinho restaurado e muito bem conser- vado. É uma grande columna de granito qua- drada, tendo a meio ornamentação de cor- das era relevo e no topo quatro pirâmides e uma esphera armillar, com a cruz da ordem de Christo e flores de liz, emblemas de D. Manuel e de D. João I, aos quaes esta povoa- ção, como já dissemos, deve a sua egreja pa- rochial e a cathegoria de villa. Visitámos também o antigo bairro do Cas- tello, núcleo da villa e que se ergue em um pequeno morro a meio d'ella, formado por differentes ruas muito estreitas, que foram o bairro dos judeus, todas povoadas, e con- servando ainda alguns lanços dos velhos mu- ros. Também subimos ao alto da velha Torre do relógio, hoje restaurada, caiada e bem conservada. Tem um bom relógio novo com um sino— e termina em um eirado, que é o mais bello miradouro da villa. D'elle se gosa um largo horisonte, embora muito irregular, e um interessante panorama, posto que bastante agreste. D'ali e só d"ali se descobre toda a villa e seus arrabaldes;— a leste as capellinhas de S. Pedro e Santa Barbara e mais ao longe as Freichedas;— ao norte, além do Douro e já na província de Traz-os-Montes, a egreja d'Ur- ros e as freguezias do Prêdo e Assureira ; — a N. O. o Monie Meão e a freguezia da Lousa, lá ao longe, na margem direita do Douro, e mais ao perto a capellinha de Santo i Amaro;— na villa, ao poente, o tribunal, a I egreja matriz, o Campo da Feira, a lagôa, o cemitério, as capellinhas de S. Sebastião e Santo Antonio e a várzea da Flor da Rosa; — e para o sul grande extensão da Beira Baixa, avultando ao longe em todos os qua- drantes montes agrestes. As festividades religiosas principaes que hoje aqui se celebram são as de endoenças, a de Corpus Christi e a da Senhora da Vei- ga, no dia 8 de setembro, feita na matriz, além da que se faz na sua capella com ro- magem. N'esta villa e n'este concelho não ha me- moria de convento algum. Tem a villa os largos seguintes:— do Ta- bolado, onde se fazem os mercados, da Con- ceição, junto da capella d'este nome, a Praça em frente do tribunal,— e o Campo de S. Mi- guel ou da Feira, o mais espaçoso de todos, cercado a leste pela villa, a norte pelas ata- fonas do surnagre, a sul pela rua de S. Mi- guel com bons edifícios, entre os quaes hoje avulta a escola feita com o subsidio do con- de de Ferreira, e a poente pelo cemitério, ficando a meio do dicto campo a lagoa. O cemitério está no mais bonito e inte- ressante local da villa, dominando-a quasi toda, bem como o vasto Campo da Feira, que lhe fica a jusante— e a montante a nova es- trada do Pocinho, que tem aqui um formoso lanço em linha horizontal, caminhando de sul a norte e offerecendo um agradável pas- seio. Parece um jardim publico e em jardim devéra transíormar-se, removendo-se o ce- mitério para outro ponto um pouco mais distante, pois está em intimo contacto com a pestilenta lagôa e com a villa, envenenando a athmosphera e compromettendo a salubri- dade publica. Chamamos para este tópico a attenção dos illustres camaristas, pois sabemos que pro- jectam fazer um jardim publico, ao lado sul do cemitério e contiguo a ellel. . . Banham esta freguezia o Côa ao nascente, —ao norte o Douro— e ao poente o ribeiro VIL VIL 839 âo Valle, que tem a sua origem no monte Angrão, entre Villa Nova de Foscôa e a fre- guezia de Santo Amaro, e desagua no Douro? na Veiga, junto da barca e da es.tação do Pocinho. Pelo leito Xeste ribeiro {credite posteri l) seguia a antiga estrada militar de Traz-os- Montes pela barca do Poeioho para Villa Nova de Foscôa e para a provineia da Beira» sendo intranzitavel, medonha e perigosíssima no inverno, pois por vezes a agua attingia grande altura e se despenhava em caudalosa' torrente, levando d'envolta para o Douro tudo quanto encontrava diante de si,— não só no inverno, mas mesmo no verão e na primavera por occasião de trovoadas. Ali pereceram muitas pessoas ;— mas na maior parte do verão aquelle ribeiro sécca e a dieta estrada é encantadora, porque o valle que atravessa é fundo, por extremo fértil, todo povoado de amendoeiras e suma- graes nas encostas e de oliveiras na parte baixa,— oliveiras como grandes castanhei- ros,—magestosas, admiráveis, immensas,— as maiores de todo o nosso paiz',—e grandes faias e negrilhos ensombram e cobrem lit- teralmente grande extensão da dieta estrada, transformando-a em um bosque frondoso, suavíssimo, verdadeiro oásis no meio das candentes margens do Alto Douro, no ve- rão. Para se formar idéa do porte e magestade das dietas oliveiras, note-se que uma só ainda no ultimo anno produziu 40 alqueires d'aseitona\ Está no sitio de Mariannes e pertence á família Carvalho, d'esta villa. No fundo da Costa, um pouco a montante. d'aquella, se veem 4 oliveiras que são tal- vez as maiores do termo. Quatro homens diffleilmente varejam cada uma d'ellas era um dia de trabalho. São todas de um só pé; mas junto d'ellas ha uma formada por tres pés, que as supplanta. Foi vendida, ainda ha pouco, por dose libras— ou 5'jJOOO réis!— e ha por ali muitas de 8 a 10 libras de pre- ço?!... É digna de especial menção também uma oliveira que existe no Valle, pertencente a Antonio Mallavado. É formada por tres pés, —custou 501000 réis— e tem produzido em um só anno sessenta rasas d'azeitona, de 17 litros e meio cada uma ! . . . Também no termo d'esta parochia se en- contram oliveiras admiráveis em outros si- tio?,—no Saião, Patões, Valverde, Valle do Abbade e nas olgas 1 da Veiga, junto da barca e da estação do Pocinho e da famosa quinta do Reguengo. Aberta á exploração alinhado Douro, de Tua até á Barca d'Alva, com alguns minu- tos de demora na estação do Pocinho, todos podem vêr e admirar tão magestosas olivei- ras e convencer-se de que não é fantasia, mas realidade, o que levamos exposto. Fugindo da ribeira para a serra, mencio- naremos outra especialidade de ordem muito diversa no termo d'esta parochia, mas não menos admirável. É uma pedreira de schisto, duro como aço, que ha no Monte do Poio, cerca de 4 kilo- metros a S. E. da villa, d'onde se extrahem pedras de todas as grossuras e dimensões á vontade dos montantes, 2— umas estreitas e delgadas, de que fazem balaustres para, varanda?, esteios, etc.,— outras de enormes proporções, até 8 e mais metros de compri- mento e 1 metro e mais de largura, de que fazem tanques, lagares e inclusivamente pon- tes de uma só pedra, sendo por vezes neces- sárias 7 e 8 juntas de bois para as arrasta- rem! No ribeiro do Valle, por exemplo, ha uma ponte bastante espaçosa, cujo taboleiro é for- mado por uma só das dietas pedras, deno- 1 Assim se denominam aqui e na ribeira da Villariça as courellas ou sortes das cam- pinas fundas e próximas do Douro. 2 Montantes, pelo menos ao norte do nosso paiz, são os trabalhadores que habitualmente se oceupam em extrahir a pedra das pe- dreiras, segundo as instrueções e medidas que recebem dos mestres das obras;— appa- relhadores ou canteiros são os que depois trabalham e affeiçoam a pedra;— assentantes os que por ultimo collocam e assentam a pe- dra nos edifícios. Os assentantes são sempre os mestres ou contra-mestres' e os officiaes de maior con- fiança. 840 VIL VIL minadas louzas. Tem iro,20 de largura— e 8 de comprimento I Podem também ver-se e admirar-se as enormes pranchas da dieta pedra com que a camará mandou forrar as paredes e os te- ctos das prisões no edifício dos novos paços do concelho. Ficaram as dietas prisões seguríssimas e à prova de fogo, como se fossem couraça- das. Em muitos pontos das margens do Allo Douro, onde predomina o schisto ou louzi- nho, por vezes se encontram pedreiras d'on- de se extrahe pedra magnifica para cons- trucções, como pode ver-se nos muros de supporte da linha férrea e da estrada mar- ginal, e em algumas pontes d'esta estrada, nomeadamente na da foz de Mil Lobos ou do rio Temi Lúpus, entre a Folgosa e Bagauste, na margem esquerda do Douro,— ponte de um só arco de grande abertura e grande al- tura, feito do tal schisto. Também quasi todos os lagares do Alto Douro são feitos com tampos do mesmo schisto, alguns dos quaes medem 6 a 7 me- tros de comprimento sobre um metro de lar- gura e 18 a 20 centímetros d'espessura, como podem ver-se na quinta do Ferrão, da nobre familia Pessanhas, junto da estação d'aquelle nome na linha férrea do Douro, extrahidos em Donello, aldeia da freguezia de Covas;— mas todas as pedreiras d'aqiielle schisto são muito differentes. Não se conhece em todo o Douro outra pedreira igual a esta de Foscôa— ou da Fra- ga do Poio. As producções principaes d'esta parochia são:— trigo, centeio, cevada, vinho, azeite,, lã, caça miúda, melões, melancias, amêndoas e sumagre. Outr'ora em ambas as margens do Alto Douro havia muitos sumagraes, que consti- tuíam uma industria e um ramo de negocio importantes, mas, depois que o marquez de Pombal creou a grande Companhia dos Vi- nhos, (veja-se o artigo Victoria) desenvolve- ram-se espantosamente os vinhedos nas duas margens do Douro e desappareceram quasi todos os sumagraes. Apenas aqui se conserva ainda aquella industria, mas bastante de- cahida com o descrédito proveniente das contrafacções, pns costumam addiccionarao pó do sumagre a poeira que no verão aqui abunda nas estradas publicas e que, por ser proveniente do schisto, tem a mesma côr do pó do sumagre, sendo muito mais barata e muito mais pesada;— mas é tolice, porque os compradores já estão prevenidos e sabem dar-lhe o devido desconto no preço. Andam pois os vendedores do sumagre carregados com terra sem proveito algum! Prevaleceu aqui a industria da prepara- ção do sumagre por 3 rasões,— já porque a demareação feita nos terrenos das margens do Douro pela Companhia dos Vinhos não passava dos concelhos d'Alijó e da Pesquei- ra,—já porque os vastos montes e ladeiras do termo d'esta parochia produziram sempre muito sumagre espontaneamente,— já por- que o sumagre do termo d'esta villa foi sem- pre de 1* qualidade. É o melhor d'ambas as margens do Douro, pelo que ainda hoje— apesar das contrafacções— é o que encontra venda mais fácil e obtém melhor preço. Além dos sumagraes espontâneos que abundam no monte Meão, baldio, e nas la- deiras incultas, por entre o fragoedo, ha aqui muitos sumagraes plantados de estaca nas ladeiras mais pobres de húmus e que se não prestam a outra cultura. Plantam-nos à enxada muito superficial- mente e cavam-no3 também muito superfi- cialmente apenas de dois em dois annos, mas é tão vivaz a planta, que se conserva em boas condições de producção tempo in- definido I Fazem a colheita com o maior desamor também. Quando a planta attinge o seu maior de- senvolvimento, cortam-lhe todas as hastes, deixando-lhe apenas as raises que, decorri- dos annos, formam uma grande cêpa, á su- perfície da terra. Conduzem aquella ramagem para o Cam- po da Feira;— estendem n 'a ali ao sol sobre a terra,— depois de mirrada é batida por maagoaes ali mesmo, — e d'ali a levam VIL VIL 841 para as atafonas, onde é raoida e redusida a pó. As atafonas são actualmente 4 e estão to- das no mesmo Campo da Feira, lado norte, montadas em humildes casas térreas. São formadas, como os nossos antigos la- gares d'azeite, por um pio ou tanque circu- lar, tendo a meio uma trave, firmada per- pendicularmente, e presa a ella por um eixo uma grande roda de pedra, que tem cerca de 3 metros de diâmetro e 3 a 4 deeimetros de grossura;— trabalha perpendicularmente também e é movida por uma junta de bois, em rasão da falta d'agua para motor. Cada pio tem uma roda somente. No verão ultima-se cada piada em um dia, por estar o sumagre ressequido, mas no inverno demanda cada piada dois a tres dias de moagem. Costumam dar no verão pela moagem de cada piada 1^600 réis,— sendo 1$000 réis para aluguel da atafona e 600 réis para o dono do gado. Quando ali estivemos em 1881 regulava o preço de cada arroba do dicto sumagre por 500 réis, mas ha ali memoria de se ter ven- dido a 1$200 réis, antes de se generalisar a contrafacção. No ultimo anno (1884) a ceifa do suma- gre produsiu 154 piadas de 60 arrobas e re- gulou por 600 réis o preço de cada arroba. Apurou pois esta villa em sumagre 5:544 $000 réis !. . . Costumam exportal-o para Alverca e para o Porto, e é gasto nas tinturarias e nos cor- tumes. Outr'ora consumia-se também muito aqui na villa nas fabricas de cortumes que houve n'ella, como já dissemos. Além das 4 atafonas do sumagre ha hoje n'esta freguezia, na margem esquerda do Côa, 4 moinhos para moerem pão, com 16 rodas;— no Douro 6 azenhas com 15 rodas, para moerem pão também— e na villa 6 moi- nhos para azeitona, movidos por bois. Apesar da grande falta d'arvoredo e de agua — e da má visiuhança da lagoa e do ce- mitério, o clima de Foscôa não é insalubre, por estar a villa em sitio alto e muito lava- do dos ares. Na Hist. Eccl. de Lamego se lé* textual- mente o seguinte : «É Villa Nova mui saudável, sem obstar a intemperança do ar, por extremo frio de inverno, sem lenha,— e no verío ardente com excesso, sem aguas, fructas ou horta- liças, aiuda que de tudo abunda por lhe vir cada dia de fóra. Os naturaes costumam chegar a velhice muito avançada; alguns passam de cem anuo*. Um existe em 1794 que militou na guerra da liga, e acompa- nhou o exercito que entrou em Madrid. As queixas mais frequentes são rheumatismos, paralysias, apoplexias, flatos hypocondricos, carbúnculos, pleurises, e sezões pernicio- sas (?). Os estrangeiros que se vem aqui es- tabelecer teem pouca saúde e duração.» O clima não é muito insalubre, mas aqui teem pesado com força varias epidemias, nomeadamente o cólera em 1855. Grassou desde março até o fim d'agosto d'aquelle anno, fez centenares de victimas, não se podendo hoje saber ao certo o nu- mero, porque se não lavrou registro algum do obituário. O que se sabe é que foi uma mortandade medonha, sendo poucos os vi- vos para enterrarem os mortos! . . . Dias houve em que os enterramentos fo- ram feitos por mulheres, sem acompanha- mento algum religioso, pois o parocho d'en- tão, Caetano Esteves de Mattos, fugiu covar- demente para a villa de Trancoso.— Morre- riam todos os cholericos sem os soccorros espiriluaes se não fora o intrépido sacerdo- te, hoje aqui abbade, Antonio Augusto d'Al- meida, que se tornou por essa occasião be- nemérito, indo promptameule, com risco da própria vida, a toda a parte, noute e dia, ministrar os sacramentos aos empestados e distribuir-lhes palavras de conforto e soc- corros de toda a ordem. Também muito honrosamente se distin- guiu em tão negra conjuuclura o digno ad- ministrador d'este concelho, FernaDdo dos Santos Sequeira, que se conservou como um heroe no seu posto, não se poupando aos maiores sacrifícios para valer aos seus admi- nistrados. 842 VIL VIL É o digno abbade Antonio Augusto d' Al- meida irmão do rev. José Maria d'Almeida, distincto orador e digno abbade também de Freixo de Numão, tendo sido anteriormente abbade nas freguezias de Távora e de Santa Eulália de Arouca, n'esta diocese de La- mego. N'esta villa viveu outr'ora grande numero de judeus que a tornaram rica e florescente com o seu génio económico, laborioso e in- dustrial. Soffreu muito com a impolitica e barbara extincção d'elles, bera como Villa Flor de Traz-os-Montes, Moncorvo, Gouveia da Beira Baixa, Covilhã, etc. Veja-se este vol. 10.° pag. 732, col. l.a Expulsos os judeus em 1496 e sendo de- pois os restantes concentrados em judiarias ou bairros próprios, aos d'esta villa se lhes marcou o pequeno bairro do castelío e ainda hoje sobre os habitantes d'aquelle bairro pesa o labéu dc judeus, posto que, depois de extracta a odiosa distineção entre christãos velhos e christãos novos, passaram a viver onde muito bem lhes approuve; e hoje os ha- bitantes d'esta villa são todos catholicos sem distineção alguma, e sinceramente religiosos, como provam os muitos templos já mencio- nados e as festividades que n'elles se cele- bram. A propósito da religião e piedade dos vil- lanovenses, diz José Antonio d'Almeida: «Em tempo de grandes séceas, e quando as searas pedem agua, recorrem os habitan- tes de Foz-Côa, por meio de preces, á Vir- gem Nossa Senhora para que fertilise seus campos, mandando a desejada chuva. Raras são as vezes que a Mãe de Deus lhes não acode. Quando isto, porem, acontece, não tendo mais a quem dirigisse, juntam-se nove donzellas, que é essencial se chamem Marias, vão em procissão a distancia de meio quarto de légua, a um sitio chamado La- meira d,'Azinhate, 1 e ali voltam de baixo para cima uma grande pia de pedra, que pesará 30 arrobas, se não mais, regressando 1 Local da capella n.° 5, de Nossa Senhora do Azinhate ou da Azinhaga, — Nossa Se- j nhora do Amparo. j depois para casa á espera da chuva. N'e3ta operação é preciso a maior parte das vezes serem as nove donzellas auxiliadas por bra- ços viris, pois que suas forças não são suf- fleientes para voltar aquella massa enorme.» Isto ainda hoje se pratica. Também por oceasião das grandes estia- gens costumara conduzir em procissão pelas ruas da villa a imagem do Senhor dos Pas- sos;—outras vezes vão buscar em procissão de penitencia á margem do Douro a ima- gem de Nossa Senhora da Veiga, — collo- cam-na no altar mór da egreja matriz,— fa- zem-lhe preces, — ali a conservam até termi- nar a estiagem— e depois a levam outra vez em procissão para a capella. Esta villa é muito hospitaleira e obse- quiadora para com os estranhos, mas quem fixar n'ella domicilio necessita de viver cora muita prudência e muito critério para se li- vrar de trabalhos, porque, desde tempos re- motos, esteve sempre dividida em partidos exaltados que á' mais leve provocação se não poupam a hostilidades de toda a ordem, — vinganças, perseguições, pancadas, facadas, tiros, incêndios e mortes! E, como a villa é compacta e muito populosa— e por vezes tem estado dividida em dois bandos de fa- náticos políticos armados,— nas suas pró- prias ruas se teem ferido grandes desordens, —batalhas sangrentas que a teem coberto de sangue, de cinzas e de vergonhas I Sem evocarmos reminiscências muito lon- gínquas, poderíamos citar grandes excessos, incêndios e mortes, praticados ainda n'este século por oceasião das luctas civis, nomea- damente durante a revolução da Junta do Porto (1846 a 1847) que obrigaram algumas das principaes famílias d'esta villa a expa- triar-se e abandonal-a até, hoje, fixando a sua residência no Porto, Lisboa, Moncorvo, Pi- nhel e n'outras localidades, para salvarem a vida e o resto dos seus haveres, com o que muito soffreu esta povoação. Algumas das suas primeiras casas foram reduzidas a cinzas em 1847 com toda a sua mobília, géneros e valores importantes— e outras se acham ainda desertas, taes são as da numerosa e abastada familia Campos, do. VIL VIL 843 Barào de Villa Nova de Foscôa. Em uma d'ellas, na rua de S. Miguel, talvez ainda hoje o 1.° edifício particular da villa, se acha montado um hotel 1 . . . Em poucas povoações do nosso paiz se terão praticado lautos excessos, — provenien- tes uns da odiosa distincção entre christãos velhos e christãos novos, ou pelo menos aco- bertados com ella ;— outros provenientes da exaltação partidária; — outros provocados pelo facciosismo e prepotência de certas au- ctoridades, nomeadamente dos escrivães da fazenda, um dos quaes, não ha muito, de- terminou o povo a um levantamento em massa e a incendiar todos os papeis da re- cebedoria e da repartição da fazenda,— sal- vando-se como por milagre o dicto escrivão de ser trucidado e talvez queimado com el- lest... Nos excessos praticados durante as ulti- mas guerras civis desempenharam o pri- meiro papel ÁDtonio Joaquim Marçal e Ma- nuel Marçal, irmãos do general de brigada João Antonio Marçal. Capitaneando uma numerosa guerrilha ou antes quadrilha de ladrões e assassinos*, ma- taram e roubaram ou mandaram matar e roubar muitas pessoas e incendiaram mui- tas casas n'esta villa e fóra d'ella. Só nas freguezias de S.Martinho de Mouros e de S. Pedro de Paus, concelho de Rezen- de, saquearam a povoação toda e incendia- ram trese das primeiras casas, 1 mas por seu turno lhes incendiaram também as d'elles e ambos foram barbaramente mortos a tiro, como feras 2. 1 V. Paus, vol. 6.° pag. 509. col. 2.a e seg. Pessoa de todo o credito nos asseverou que a tal guerrilha ou quadrilha dos Mar- çaes, só em um dia de marcha, desde Villa Nova de Foscôa até Ranhados, freguezia dis- tante de Foscôa cerca de 2o kilometros para S. O. assassinou barbaramente desenove pai- sanos, sendo o ultimo um pobre pastor que encontraram junto de Ranhados 1 . . . 2 Antonio Joaquim Marçal nasceu n'esta villa em 1803 e foi barbaramente assassina- do em 11 de janeiro de 18o 1 no sitio do Farfão, freguezia da Lousa, concelho de Moncorvo. Talis vita — finis Uai. . . Os Marçaes de Foscôa, fizeram pendant com os Brandões de NidÕes—e foram como elles o açoute e terror da Beira muitos an- nos ! 1 Para se formar idéa do que esta pobre villa tem soffrido com as dissenções e per- seguições politicas e religiosas não necessi- tamos de remontar-nos á cruel, impolitica e barbara expulsão dos judeus, ordenada por D. Manuel, nem á ominosa occupação Filip- pina. Basta que nos circumscrevamos a este século e recordemos alguns factos. Horresco refferens t 1. °— Em 1808 os christãcs velhos, fanati- sados e dirigidos pelo abbade José Maria Leite, cahiram em massa sobre os christãos novos, apodados de jacobinos ou parciaes dos francezes, — espancaram e trucidaram barbaramente a muitos,— homens e mulhe- res, velhos e creanças. — e lhes saquearam e arrasaram as casas. Por seu turno os chris- tãos velhos, auctores do massacre, foram de- pois severamente punidos e massacrados pela justiça. Muitos entulharam as cadeias e n'etlas pereceram;— outros se homisiarame passaram os maiores trabalhos escondidos pelas brenhas e montes;— outros foram de- gradados para a Africa; — outros jaseram nas prisões até 1820 e n'essa data foram amnistiados por influencia do generoso li- beral e patriota Joaquim Ferreira Soares de Moura, de quem logo fallaremos. 2. ° — Em 1828 e nos annos seguintes cs partidários do sr. D. Miguel perseguiram Manuel Antonio Marçal nasceu em 1819 e foi assassinado pelo seu parente, Rodrigo Balsemão, no dia 18 de. maio de 1861, na Venda do Valle, freguezia de Mouronho, con- celho de Taboa. 0 general, irmão dos antecedentes, João Antonio Marçal, nasceu em 1808 e falleceu a 27 de fevereiro de 1878, em Angra do He- roísmo. 1 V. Midões, Oliveira do Hospital, Taboa, Várzea de Meruje, Várzea da Candosa, Vi- de, freguezia do concelho de Ceia — e La Vendetta ou O Saldo de Contas, por Arsênio de Chatenay, pseudonymo de Antonio da Cunha, de Várzea de Trevões. 844 VIL VIL cruelmente os liberaes;— culparam e pren- deram nada menos de 102 homens e mulhe- res — e houve por es3a occasião muitos espancamento?, ferimentos e mortes, con- fiscações de bens e insultos e excessos de toda a ordem. 3. ° — Em 1834 e nos annos seguintes, por seu turno os liberaes exerceram cruel vin- dicta sobre os realistas, havendo por essa occasião também muitos espancamentos, fe- rimentos, incêndios e mortes, tornando-se i tristemente celebre entre os perseguidores dos realistas João Antonio Tronfe, por al- cunha o Parola, que fez, ou pelo menos se jactava de haver feito, vinte e oito assassi- natos? I. . . Morreu miseravelmente. 4. °--Em 1837 a 1840 os liberaes em guer- ra uns contra os outros praticaram também muitos excessos e mortes. Por essa occasião as forças do conde do Bomfim saquearam pela l.a vez a casa de Antonio Marçal, uma das mais importantes da villa. 5. °— Em 1846 e 1847 reappareceram as mesmas luctas enlre os liberaes. Dividiu-se a villa em dois partidos e formaram-se e ar- maram-se dois batalhões, — um cartista, commandado por Antonio Marçal, que abra- çou a causa da rainha, a sr.a D. Maria II,— outro setembrista ou patuleia, que seguia a causa popular, ou da junta do Porlo. Em 24 de dezembro de 1846 as forças do Marçal entrando n'esta villa saquearem e destruíram tudo quanto encontraram nas casas dos seus adversários, 1 tendo estes res- peitado sempre as dos cartistas; mas não se fizeram esperar as represálias. No primeiro ensejo as forças da junta por seu turno saquearem as dos cartistas e in- cendiaram as de Manuel Marçal e de An- 1 Entre as casas que saquearam e des- truíram merecem especial menção tres for- mosos palacetes dos srs. Joaquim de Cam- pos Henriques, José de, Campos Henriques e Manuel de Campos Henriques. Estes tres cavalheiros tiveram de mudar a sua rezi- dencia, — o 1.° para a cidade do Porto, onde falleceu,— os dois últimos para a cidade de Pinhel, onde falleceram também. tonio Marçal, que perdeu no incêndio som- mas importantes, pois além da mobília fica- ram redusidos a cinzas uns bahus que havia escondido em ura falso, cheios de pratas e d'outras preciosidades. Também por essa occasião lhes tomaram muito gado e queimaram todos os papeis da camará, municipal, da administração do concelho e d'outras repartições publicas. 6. °— Em 185o até os elementos se conspi- raram contra esta villa, pois durante mezes o cholera morbus a devastou cruelmente, fazendo centenares de victimas!. . . 7. °— Em 1863, havendo o escrivão da fa- zenda Vicente Augusto d' Araujo Camisão, 1 elevado escandalosamente o rendimento col- lectavel das matríses, o povo se levantou em massa e reduziu a cinzas tudo quanto encontrou na repartição da fazenda e na re- cebedoria do concelho, seguindo-se a puni- ção, que foi severa I . . . 8. °— Em 1876 manifestaram-se a deshoras da noute vários incêndios em propriedades urbanas, attribuidos a vinganças partidárias provenientes de umas eleições muito renhi- das. Mas lancemos um veu sobre tão negro su- dário, que a missão de historiador nos obri- gou a descobrir e, em contraposição, consi- gnemos também aqui os nomes de alguns dos muitos cidadãos beneméritos que Villa Nova de Foscôa tem produsido desde os tempos mais remotos até hoje. Nos fins do ultimo século a Hist. Eccl. de Lamego, mencionou os seguintes : —Guilherme Cardoso de Campos, fidalgo cavalleiro e coronel d'infanteria. Militou com distincção nas guerras da Liga e foi gover- nador do Castello do Alfaiates. — Veríssimo Cardoso de Campos, fidalgo cavalleiro professo da ordem de S. Bento d'Aviz, commendador de Meimoa e capitão- mór d'esta villa. — Antonio Cardoso de Campos, — Er. João Guilherme e — Fr. Bento Cardoso, mestres jubilados na 1 Falleceu em 1884 na Guarda, sendo ali delegado do thezouro. VIL VIL 845 ordem de S. Domingos, e todos ires irmãos de Veríssimo Cardoso de Campos. —Guilherme Cardoso, fidalgo cavalleiro de S. Bento d'Aviz, alferes da cavallaria d'Almeida e commendador de Meimoa, —Antonio Cardoso, também alferes de ca- vallaria, e — João Cardoso, capitão-mór d'esta villa, todos tres irmãos e filhos de —Veríssimo Cardoso, com o fôro de fi- dalgo, desde o 6.° avô. —Padre Manuel d'Azevedo, abbade de Al- deia Rica. Falleceu n'esta villa contando 92 annos de idade! — Francisco José d'Azevedo e seu filho, —Luiz José d'Azevedo, foram ambos sar- gentos-môres d'esta villa, á qual fizeram grandes bens. — João Rodrigues de Vaseoncellos Bravo, capitão de cavallaria. Por suas heróicas ac- ções nas guerras de 170o e 1712 conquis- tou o appellido de Bravo. — Manuel Rodrigues de Vaseoncellos, ir- mão do antecedente, foi capitão de cavalla- ria nas mesmas guerras e valente militar também. — Pedro de Seixas, cavalleiro professo na ordem de Christo, teve o fôro de fidalgo e foi capitão mór d'esta villa. — Balthasar Mendes de Seixas, alcaide-mor d'esta villa, foi armado cavalleiro em Africa e proprietário de muitos officios públicos. — Simeão de Seixas, sargento-môr das caudelarias. —Manuel Ferreira de Seixas, sargento mór da Praça de Penamacor. —Sebastião de Seixas, governador da praça de Castello Rodrigo. —Fr. Gabriel da Trindade e Seixas, D. abbade na ordem de Cister. — Dr. Fr. Felisberto de Seixas, provin- cial dos gracianos. Foi doutor em theologia pela Universida- de de Coimbra; viveu como prior no con- vento dos gracianos, em Lamego, e ali foi mestre de moral e philosophia e examinador synodal. — Joaquim Manuel de Seixas, cavalleiro professo na Ordem de Christo e juiz de fóra em Serro Frio. volume x —Manuel de Campos Ferreira Saraiva, sargento-mór e governador da praça de Sal- vaterra da Baia. — Luiz Domingos Nozes, distincto juris- consulto. —Gabriel Ferreira, capitão d'infanteria d'Almeida. — Jaeyntho Lopes Tavares, mestre de campo d'auxiliares. — Isidoro Saraiva, cavalleiro de conhecida nobreza, distincto pelo seu nascimento e vir- tudes. —Padre Manuel Lopes, abbade de S. Ro- mão. —Padre João Saraiva, abbade de Pene- dono. —Padre Francisco d'Almeida, abbade de Tropêço. —Padre José d'Almeida, reitor de Leomil. —Padre João Antonio de Moura, abbade de Espinhosete, bispado de Bragança. —Fr. Manuel dos Anjos e Moura, da or- dem dos Pregadores, leitor em Vianna. — Bartholomeu Luiz Ferreira, sargento- mór de ordenanças, pae do grande patriota José Joaquim Ferreira de Moura. —Padre Luiz Bernardo Botelho, abbade d'esta villa nos fins do ultimo século, pes- soa de muita illustração e virtudes, e que foi o informador de D. Joaquim d' Azevedo, auctor da Historia que vamos extractando l. Mencionaremos ainda 3 beneméritos filhos de Foscôa, nascidos no ultimo século. São os seguintes : 1.°— José Joaquim Ferreira de Moura. Nasceu em 1776 e falleceu no dia 27 de junho de 1829, no sitio de Palhavã, fregue- zia de S. Sebastião da Pedreira, no patriar- chado. Era filho de Bartholomeu Luiz Ferreira, pharmaceutico, proprietário e sargento-mór d'ordenanças, e de D. Margarida de Moura. Formou-se em direito na Universidade de Coimbra, nos princípios d'este século,— -e foi juiz de fóra em Aldeia Gallega do Ribatejo, tomando posse em 1804. Por occasião da 1 Para a genealogia de D. Joaquim d^Aze vedo, V. Villa Nova d'Ourem. 54 846 VIL VIL primeira invasão franceza o general Junot o incumbiu de trasladar pára portuguez o Código Napoleão, pelo que se tornou sus- peito de jacobinismo e esteve alguns annos fóra do quadro da magistratura, retirando- se para a sua terra natal, onde entretanto exerceu a advocacia. Consta que por esse tempo escrevera e publicara anonyma uma interessante Alle- gação ou Memoria jurídica em defesa de seu pae, que fôra accusado d'um crime gravís- simo,—condemnado nas instancias inferio- res—e por ultimo declarado innoeente. Em 1820 jà estava outra vez em exercício no quadro da magistratura, servindo o lo- gar de juiz de fóra em Pinhel. Liberal decidido, abraçou com enthusias- mo as idéas politicas proclamadas no Porto em 24 d'agosto de 1820, e em janeiro de 1821 tomou assento no congresso consti- tuinte, como deputado eleito pela província da Beira. Ligado intimamente a Manuel Fernandes Thomaz, foi com elle redactor do jorual O Independente, e tomou parte activa e muito saliente nos trabalhos d'aquellas côrtes, em que foi membro e varias vezes presidente das commissões mais importantes. 1 A popularidade, de que se mostrára tão sequioso, não o abandonou, pois nas côrtes immediatas de 1822 foi simultaneamente re- eleito pelos círculos de Trancoso Coimbra, Castello Branco e Aveiro. Em junho de 1823 emigrou para a Ingla- terra e ali se conservou até 1826, data da proclamação da Carta Constitucional. Regressando ao seu paiz, dedieou-se nova- mente á profissão de advogado em Lisboa^ até que uma pertinaz hydropisia o levou á sepultura em 1829. Além de varias obras anonymas, sabe-se que escreveu e publicou as seguintes : 1 Galeria dos deputados... pag. 238 a 258— e Revelações... por J. M. Xavier de Araujo, pag. 81. Nas camarás distinguiu-se pelos seus vas- tos conhecimentos de sciencias sociaes, es- pecialmente sobre o regimen parlamentar francez. Reflexões criticas sobre a administração da justiça em Inglaterra . . . 2.» edição, Lis- boa, 1836. 4.° de 180 pag. Abolição da Companhia do Alto Douro. . . Londres, 1826, — l.a edição anonyma. Da mesma obra se publicou 2.a edição posthu- ma, em Londres também, no anno de 1832. Suppõe-se que foram escriptas por elle também, mas publicadas se mnome d'auctor, as obras seguintes : Diccionario d' algibeira politico e moral . . . Madrid (sem data) 12.° de 120 pag. O Catavento. . . Paris, 1826, 8.° gr. de 54 O Bota-fóra do Catavento, ou a Cabeça de bacalhau fresco, burletla em dois actos... Lisboa, 1827. Alguém lhe attribuiu também as Cartas politicas de Americus. Para as mais circumstancias relativas a estas obras leia-se o Diccionario bibliogra- phico de Innoconcio Francisco da Silva. José Joaquim Ferreira de Moura casou com uma senhora muito illustrada e de gran- de prestigio também,— D. Maria Perpetua Lobo de Moura, e tiveram os filhos seguin- tes: A. — João Antonio Lobo de Moura, viscon- de de Moura, fallecido em S. Petersburgo^ capital do jmperio da Rússia, em 1868, on- de era nosso embaixador, tendo ali casado com a condessa Anna Aproxina (?), hoje condessa de Moura, irmã da princesa Bol- grousU (?) esposa morganática do Czar Ale- xandre II. B. — Eduardo Lobo de Moura, artistamuito distincto, considerado o primeiro pintor ca- ricaturista do mundo 1 . . . Ainda hoje (1885) vive perto de Londres, contando cerca de 70 annos de idade. C— D. Maria Barbara Lobo de Moura. Ca- sou com Julio Antonio de Luna e Vascon- cellos, medico-cirurgico pela escola do Por- to, já fallecido, e tiveram— Julio Antonio Luna de Moura, cavalheiro de muito mere- cimento, bacharel formado em direito e ad- vogado em Villa Nova de Foscôa, onde re- zide e é prezidente da camará municipal. D.— Augusto Lobo de Moura, fallecido em VIL VIL 847 Caritiba (?) no Brazil, onde era magis- trado. José Joaquim Ferreira de Moura teve vá- rios irmãos. Para não fatigarmos os leito- res, mencionaremos apenas um, — João An- tonio Ferreira de Moura, que foi conselheiro de estado, deputado ás cortes, governador civil do Porto e d'outros districtos, e 1.° ba- rão do Mogadouro. Falleceu no Porto e deixou uma única fi- lha,—D. Anna Isabel Maria de Moura Pe- gado e Oliveira, actual baronesa do Moga- douro, casada com o barão do mesmo titulo, —Antonio Saraiva d' Albuquerque e Vilhena, rezidentes na freguezia das Freixedas, con- celho e comarca de Pinhel, tendo uma filha casada com seu primo, o dr. Julio Antonio de Luna e Moura, supra mencionado. Dos tres beneméritos filhos de Villa Nova de Foscôa, nascidos nos fins do ultimo sé- culo, já mencionamos um, Joaquim Ferreira Soares de Moura; mencionemos agora os outros dois: 2.°— Joaquim José de Campos Abreu e Le- mos. Nasceu n'esta villa em 1780 e, se não oe- cupou altos cargos públicos, teve uma vida interessante, cortada de peripécias;— foi ho- mem muito illustrado — e deixou de si boa memoria. Provido por concurso em 1809 na cadeira de grammatica latina da Villa de Freixo de Numão, hoje uma das freguezias d'este con- celho de Villa Nova de Foscôa, deixou o di- clo emprego e o de eserivão da camará da mesma Villa de Freixo para entrar na.re- partição do commissariado do exercito, na qual serviu até o fim da campanha peninsu- lar, merecendo ser condecorado com a me- dalha respectiva. Terminada a guerra, continuou ao ser- viço da mesma repartição— primeiramente em Elvas e depois em Lisboa, desempe- nhando diversas commissões tanto no tem- po de paz, como no das guerras civis. Desde 1828 se alistou sob as bandeiras do sr. D. Miguel, cujo exercito acompanhou até que a convenção d'Evora Monte (26 de maio de 1834) o obrigou a regressar á sua casa de Freixo de Numão, onde permaneceu al- gum tempo, occupando se exclusivamente nos negócios domésticos. Instado por alguns amigos e pela falta de meios, abriu uma aula de grammatica la- tina—primeiramente na freguezia d'Outeiro de Gatos (hoje concelho da Mêda)— depois na villa de Trancoso— e por ultimo na do Fundão, leccionando em todas estas locali- dades numerosos discípulos que muito apro- veitaram com as lições de tão sábio mestre. Exerceu no Fundão alguns cargos muni- cipaes— e em 1851 foi nomeado escrivão da fazenda d'aquelle concelho, cargo que parece ainda servia em 1857. Ignoramos a data e a localidade do seu fallecimento, mas sabemos que falleceu con- tando mais de 75 annos de idade e que es- creveu e publicou as obras seguintes: Grammatica elementar da lingua latina... Lisboa, 1822, cuja edição foi de 1:500 exem- plares e promptamente se esgotou. O desaggravo da Grammatica... Lisboa, 1820,— publicação anonyma. Sustentação do desaggravo da Gramma- tica. . . Lisboa, 1822. Para as outras circumstancias d'estas obras, veja -se o Diccionario Bibliogr. de ln- nocencio. 3.° — Francisco Antonio de Campos, l* barão de Villa Nova de Foscôa, commenda- dor da ordem de Nossa Senhora da Concei- ção de Villa Viçosa, bacharel formado em direito pela Universidade de Coimbra, de- putado ás cortes de 1823, 1834 e 1835, mi- nistro e secretario d'estado dos negócios da fazenda em 1835, par do Reino etc. Nasceu n'esta villa em 1 de dezembro de 1780 (ignoramos a data do seu fallecimento) e foram seus paes Luiz de Campos Henri- ques e D. Angelica Mendes da Silva. Deixou grande fortuna;— foi homem muito illustrado,— e escreveu e publicou as obras seguintes : Relatório do Ministro e secretario distado dos Negócios da Fazenda . . . Lisboa, 1836. A lingua portugueza é filha da latin a . . . Lisboa, 1843; publicação anonyma. 848 VIL VIL Burro d'Ouro d'Apuleio, traduzido em portuguez, Lisboa, 1847,— publicação ano- nyma também. São também seus vários artigos philolo- gicos, publicados com a assignatura— Y— em vários números do jornal O Pantologo, a pag. 28, 46, 86, 103, IH, 120, 121, 146 e 171. O barão de Villa Nova de Foscôa falleceu sem successão, pelo que instituiu universaes herdeiros da sua grande casa os seus dois sobrinhos seguintes : — José Caetano de Campos e — Joaquim de Campos Henriques, ambos conselheiros formados em direito, e magis- trados distinctos, juizes aposentados do su- premo tribunal de justiça,— ambos ainda vi- vos e rezidentes em Lisboa. Para evitarmos repetições, veja-se o ar- tigo Pinhel no vol. 7.°— nomeadamente a pa- gina 97, col. 1.» 1 Esta nobre família Campos teve e não sa- bemos se tem ainda um ramo na freguezia de Freixo de Numão, d'este concelho. Fez parte d'aquelle ramo e parte muito distincta Manuel d'Almeida Campos, natu- ral d'aquella freguezia, medico-cirurgião pela Escola Medico Cirúrgica de Lisboa, ca- sado cora D. Joanna Maria Rosa de Campos, natural de Lisboa, onde viveu e teve uma filha, D. Maria José Augusta Campos de Gusmão. Casou esta senhora com Francisco Anto- nio Rodrigues de Gusmão, bacharel formado em medicina pela Universidade de Coimbra, sócio correspondente da Academia Real das Sciencias de Lisboa, etc, um dos nossos mais distinctos eseriptores contemporâneos, natural de Tondella e já viuvo de D. Efigê- nia Victoria Ralbina Pereira Pinto Maciel, natural de Faro. Do seu primeiro consorcio não teve fi- 1 O barão de Villa Nova de Foscoa é hoje muito dignamente representado n'esta villa pelo seu 2.° sobrinho Eduardo de Campos Henrique?, pessoa de muito merecimento e commendador da ordem de Nossa Senhora da Conceição de Villa Viçosa. lhos o sr. dr. Francisco Antonio Rodrigues de Gusmão, mas do 2.°, teve os seguintes : 1. °— Francisco Antonio Rodrigues de Gus- mão Júnior, formado em philosophia pela Universidade de Coimbra ; 2. °— Maria Francisca Campos de Gusmão; 3. °— Manuel d'Almeida Crmpos de Gus- mão ; 4. °— D. Maria José Campos de Gusmão ; 5. °— D. Maria Joaquina Campos de Gus- mão. O sr. dr. Francisco Antonio Rodrigues de Gusmão (pae) nasceu na aldeia do Carva- lhal, termo da villa de Tondella, no dia 6 de janeiro de 1815. V. Tondella no supplemento a este diccio- nario, onde completaremos a biographia de s. ex.a Entretanto pode consulíar-se o Dicciona- rio Bibliogmphico de Innocencio Francisco da Silva, que lhe dedicou um bello artigo e mencionou nada menos de 27 obras suas, publicadas até 1859. Posto que natural da Villa de Monção, mencionaremos também aqui um escriptor distinctissimo, Padre João Salgado d'Araujo, porque foi abbade d'esta villa e ri'ella viveu muitos annos. E' o auctor da obra seguinte : Successos militares das armas portugue- zas... com a geographia das provindas e nobreza d'ellas. Lisboa 1644. Parece que não publicou outras obras em portuguez, mas, seguindo a moda do seu tempo, escreveu e publicou em castelhano as seis indicadas por Innocencio e deixou manuscriptas diversas obras importantes, mencionadas na Bibliotheca Luzitana. Foi zelosíssimo portuguez e douto escri- ptor—segundo a auetorisada opinião de D. Francisco Manuel de Mello. Entre os senhores d'esta villa conta-se Vasco Fernandes Coutindo, 1.° conde de Ma- . rialva, o qual se achou na jornada dos in- fantes a Tangere, em 1437. Foi um dos homens mais ricos e mais no- táveis do seu tempo, 5.° marechal meirinho- mór do reino, valido de D. João I, D. Duarte VIL VIL 849 e D. AfTonso V, senhor d'esta villa e do3 coutos d'Armamar e Leomil, bem como de Numão, Marialva, Ferreiros de Tendaes, etc. Em 1708 eram senhores d'esta villa os condes de Villa Nova de Portimão, hoje muito dignamente representados pelo sr. D. João de Lencastre e Távora, que por linha hereditária de seus maiores devia ser 9.° marquez de Fontes, 7.° marquez d' Abrantes, 10.° conde de Figueiró, 13.° conde de Sor- telha, etc, mas renunciou todos estes títulos, por não querer renunciar as idéas legitirnis- tas de seus paes e avós. Nasceu em 28 de dezembro de 1864 e ca- sou em 16 d'abril de 1885 com a ex.ma sr.a D. Maria Carlota de Sá Pereira e Menezes, que nasceu em 4 de março de 1864, sendo filha da marqueza de Oldoini e neta dos. vis- condes da Torre dé Moncorvo. V. Portimão e Abrantes n'este diccionario e no supplemento — e a Memoria histórica, genealógica e biographica da Casa d' Abran- tes, publicada no Porto em 1883 pelo sr. José Augusto Carneiro, gerente liquidatário do ramo da casa d'Abrantes no concelho de Villa Nova de Gaya. Os marquezes d'Abrantes também possuí- ram um morgado em Villa Nova de Foscôa. No ultimo anno económico pagou este concelho : Contribuição predial 6:994$049 Contribuição industrial 2:438$707 Sumptuária e renda de casas.. 8iO$594 Decima de juros 630$000 Conta actualmente este concelho 16 ba- charéis formados, filhos seus, sendo nalu- raes da freguezia de Villa Nova de Foscôa (ou Fozcôa, como muito bem quizerem) os 10 seguintes :— 1.° Julio Antonio Luna de Moura, 2.° José Luiz Moutinho d' Andrade» 3.° Eduardo de Andrade, 4.° Luiz José Fer- reira Margarido, 5.° Alfredo Antonio d'Al- meida, 6.° Antonio Joaquim Margarido Pa- checo, 7,° José Joaquim Cavalheiro, 8.° Adria- no de Sousa Cavalheiro, 9.° Antonio Augusto d'Almeida Silvano e 10.° Ramiro Leal. O 1.° é prezidente da camará e advogado; —o 2.° é também advogado n'este auditó- rio;— o 3.° vive das suas rendas:— o 4.° é recebedor d'este concelho;— o 5.° é advogado no Porto;— o 6.° é juiz de direito;— o 7.° é 1.° official no ministério da marinha, tendo sido delegado em Lisboa e governador civil na Guarda ; — o 8.° é medico e eirurgião aju- dante do exercito;— o 9.° é escriptor publico e jornalista; — o 10.° é professor d'instrueção primaria complementar em Sernancelhe. Conta este concelho também actualmente 25 presbyteros, sendo filhos de Villa No- va 16. Poucas villas do nosso paiz contarão na actualidade tan- tos presbyteros. Dos 40 maiores contribuintes d'este con- celho hoje, pertencem a Villa Nova os 11 se- guintes:—Padre José Maria d'Almeida, Dr. Julio Antonio Luna de Moura, Commenda- dor Eduardo de Campos Henriques, Antonio Joaquim Ferreira, Cypriano Antonio Sarai- va, Padre José Joaquim Pereira de Sousa, José Julio Ferreira Margarido, José Pedro Saraiva, Joaquim Manuel de Sousa, José Marçal Chiote e João Antonio Martinho de Andrade. Os actuaes vereadores d'este concelho são: — Dr. Julio Antonio de Luna e Moura, pre- sidente,—João Antonio Moutinho de Andra- de, Julio Ferreira Margarido, José Costa, Manuel Joaquim d'Albuquerque, Augusto Aranda, José de Campos e José Felisberto de Vasconcellos. Os 3 maiores proprietários de Villa Nova de Foscôa na actualidade são— D. Antónia Rachel Pereira, o comnendador Eduardo de Campos Henriques e Antonio Joaquim Fer- reira. A estação do Pocinho dista da barca d'este nome apenas 35 metros para leste. Concluiremos este longo artigo retirando qualquer palavra ou phrase que possa me- lindrar alguém. VILLA NOVA DE FREIXIEIRO-ou sim- plesmente Freixieiro— ou Villa de Freixieiro — ou Villa de Freixieiro de Basto— ou Villa de Basto— ou Villa Nova de Basto— ou Villa de Celorico de Basto— aldeia e villa da fre- 850 VIL VIL guezia de Britello, hoje séde do concelho e comarca de Celorico de Basto, no districto e diocese de Braga. V. Freixieiro, vol. 3.° pag. 231, col. 2.» — e Celorico de Basto, vol. 2.° pag. 233, col. l.a Na freguezia de Britello, sobre uma gran- de e ferlil veiga e junto do pequeno rio de Freixieiro, confluente do Tâmega, está hoje situada a Villa de Basto, que antigamente se chamou Villa Nova de Basto e vulgar- mente Villa Nova de Freixieiro, prevales- cendo o nome de Villa de Basto, vulgar- mente Villa de Celorico de Baste, séde do concelho e comarca d'este nome, para se distinguir da Villa de Mondim de Basto e da de Cabeceiras de Basto, sédes d'estes julga- dos e concelhos, que por varias vezes per- tenceram á comarca de Celorico de Basto. Chamou- se Villa Nova porque a sua fun- dação n'este sitio é relativamente moderna, pois a antiga e primeira séde do concelho de Celorico de Basto, denominada Villa de Bas- to, era na freguezia d'Arnoia, junto do an- tigo castello de Celorico de Basto— e, por provisão d'el-rei D. João V, com data de 21 d'abnl de 1719, foi mudada para o sitio actual, tomando o nome de Freixieiro, por- que foi fundada ao norte e em continuação da antiga aldeia de Freixieiro, pertencente á freguezia de Britello, — junto do rio de- nominado Frexieiro também. Logo que os habitantes do concelho de Celorico de Basto obtiveram provisão para a mudança da sua séde, principiaram ali as obras publicas da Sova villa, taes foram o pelourinho, os paços do concelho, a cadeia, o tribunal, residência dos ministros e uma capella ;— depois fizeram uma ponte sobre o rio Freixieiro— e em seguida se edificaram algumas casas particulares; mas a popula- ção pouco se desenvolveu, porque o local è de pouco movimento e tem só a vida pró- pria da séde de um concelho grande e rico e de uma comarca importante. Quando se fundou a villa n'este sitio, re- partiram-se chãos por varias familias do concelho com o fim de as determinar a fa- zerem casas aqui, mas pouco partido o se ti- rou d'esta medida. O melhor edifício particular situadtdo na nova villa e habitado por uma familiilia no- bre, foi a casa mandada fazer pelo prpae do dr. José Bernardo Ferreira de Castro, t, 1 pes- soa muito considerada n'este concelho o e que teve os filhos seguintes: — Dr. Joaquim de Castro Pinto de AAthai- de, corregedor de Bragança ; — Dr. Francisco Pinto Coelho de Cadastro, juiz de fóra em Penalva, depois auditotor em Traz-os-Montes e no Porto, corregedolor em Beja e do eivei na corte, desembargadedor da relação do Porto, fazendo o logar na ca?asa da supplicação, e ajudante do intendente p geral dá policia. Foi este magistrado demittutido de desembargador, com muitos outros, enem sa- tisfação ao governo de Luiz Philippe, quiuando em 1831 uma esquadra franceza invaradiu a barra de Lisboa. Desde então ficou o dedoutor Francisco Pinto Coelho de Castro vivivendo em Lisboa e deixou filhos, entre outr tros o dr. José Pinto Coelho d'Athaide e Castro. o, que foi o ultimo juiz de fóra de Lamego,-», — e o dr. Carlos Zeferino Pinto Coelho, advorogado distinctissimo em Lisboa e um dos pririmei- ros jurisconsultos de Portugal n'este seseculo. Foram também filhos do dr. José Bern-nardo Ferreira de Castro os dois presbyteroros se- guintes : —José Pinto Coelho de Castro, conegigo se- cular do Evangelista, muitos annos i lente proprietário de theologia moral no semmina- rio de Lamego, e — Manuel Pinto Coelho de Castro, tammbem cónego secular do Evangelista e benefieficiado da egreja de Tendaes, no mesmo bispacado. Desde os tempos mais longínquos s este concelho de Celorico de Basto produziuiu ho- 1 Uma tia paterna d'este dr. José Berernar- do casou na casa da Soalheira, fregiguezia d'Arnoia, com Manuel de Moura Coutiitinho, senhor da dieta casa. D'este Manuelel de Moura Coutinho é bisneto o rev. Placidolo Au- gusto de Moura e Vasconcello?, conegígo da Sé de Lamego e vice-reitor do SemÍEinario d'aquella diocese desde 1858 até hoje. VIL VIL 851 raens distinctissimos nas virtudes, nas ar- mas e nas leltras. Em uma época não muito remota contava o desembargo do paço nada menos de qua- tro filhos seus— e cora rasão se jacta de ter sido um dos berços dos nossos réis. Cortam hoje este concelho as seguintes estradas a maeadam : 1. a_De Guimarães e Fafe para Freixieiro, Cabeceiras de Basto e Villa Pouca d'Aguiar. Concluída e servida por diligencias. 2. a_Da estação de Cahide, na linha fér- rea do Douro, para Freixieiro e Traz-os- Montes. Também já concluída e servida por dili- gencias. 3. "— Da estação de Villa Mean, na mesma linha do Douro, para Freixieiro. Está concluída na parte que toca ao con- celho d' Amarante e ao districto do Porto. Como rectificação ao artigo Celorico de Basto, nas terras comprehendidas no foral de D. Manuel —em vez de Cacerelhe leia-se Cacerilhe, — em vez de Gotom leia-se Gatom — e em vez de Santa Tregoa leia-se Santa Tecla. A comarca de Celorico de Basto é hoje formada pelo concelho do seu nome e pelo de Mondim de Basto. O concelho de Cabeceiras de Basto forma hoje comarca própria, Na villa de Freixieiro, séde do concelho e comarca de Celorico de Basto, foi justiçado em li de julho de 1840 o celebre Manuel Joaquim Lopes Quijo, auctor de muitos roubos e assassinatos. V. Freixieiro no supplemento a este díc- cionario, onde daremos larga noticia d'este infeliz, como promettemos no artigo Victo- ria, a paginas 607, col. l.a d'este volume. Para esta execução se erigiu uma forca de madeira, que depois reduziram a cinzas. Na Villa Velha do Castello, antiga séde d'este concelho, a forca era de pedra e permanente, e ainda ha pouco lá se viam as duas gran- des pedras em que se armava. Os habitantes d'este concelho pediram a transferencia da séde por estar a Villa Ve- lha junto do antigo castello, que ainda lá existe em ruinas, em local agreste e frio. Quizeram mudai- a para a povoação de Outeiro Coelhos, da mesma freguezia d'Ar- noia, junto da nobre casa do Telho ; mas opposeram se os senhores d'esta casa, por não quererem visinhança tão incommoda e por vezes sanguinária;— e, valendo-se de um seu tio, então desembargador do paço, con- seguiram afastal-a para o logar de Frei- xieiro. V. Telho. Hoje (maio de 1885) este concelho de Ce- lorico de Basto comprehende : Superfície em hectares. 14:436 Prédios inseriptos na matriz 16:460 Freguezias 22 Fogos 5:330 Habitantes ••• 21:600 O concelho de Mondim de Basto (vide vol. 5.° pag. 400, col. l.a) comprehende hoje : Superfície em hectares 24:528 Prédios inseriptos na matriz 1:372 Freguezias 9 Fogos i'-86i Habitantes 7:546 Total da população d'esta comarca de Ce- lorico de Basto : Freguezias 31 Fogos 7:191 Habitantes 29:146 VILLA NOVA DE GAIA. V. Gaia n'este diccionario e no supple- mento. VILLA NOVA DOS INFANTES— ou sim- ples mente ín/aníes— (não Infant as)— fregue- zia do concelho e comarca de Guimarães, districto e diocese de Braga, província do Minho. Orago Santa Maria ou Nossa Senhora da Assumpção;— fogos (segundo o ultimo re- censeamento) 102 —habitantes 403. Beitoria. Em 1706 era vigairaria da mesma co- marca de Guimarães e da apresentação do 852 VIL VIL convento de Pombeiro;— contava 70 fogos— e rendia 280*000 réis. Em 1768 era reitoria da apresentação do abbade do convento de Santo Tbyrso,— con- tava 78 fogos— e rendia para o seu parocho 20*000 réis, além do pé d'altar,— segundo se lê no Port. S. e Profano, sob o titulo Villa Nova dos Infantes; — e porque o meu benemérito antecessor não a procurou sob este titulo, julgou que não fez menção d'ella o Port. S. e Profano. V. Infantas n'este diccionario, onde muito ligeiramente já se fallou d 'esta freguezia. Segundo se lê na Chorographia Moderna, comprehende as aldeias seguintes: Egreja, Renda, Assento, Boa Vista, Crujeiras, Bem Viver, Forte, Soutinho, Pupa, Bouça da Pupa, Pedreira das Boucinhas, Covo Novo, Covo Velho, Retorta, Retortinha, Barreiro, Fervença, Fojo, Roferla, Paço, Vinha, Ca- breira, Casas Novas, Serviçaria, Temporei- ra, Bouça, Boucinhas, Sebello, Santa Sara, 'Freixieiro, Balloral (ou Ballarda?) Redolho, Devesa, Sardoal, Quinteiros, Pinheiral, Cas- tanheira, Fonte, Eidos, Arieiro, Quinhões, Casal, Souto, Souto do Casal, Porta, Outeiro, Pouzadouro, Carreiro, Levada, Leira, Ribei- ra, Ferraz, Outeirinho e Rezidencia. Total— 84 aldeias com 102 fogos ! . . . Valha-nos a Senhora do Monte do Car- mo I Com certeza são aldeias de mais; mas in- felizmente não temos para este artigo apon- tamentos próprios e por isso as não pode- mos reduzir aos seus justos termos. Ahi ficam pois as 84 aldeias sob a res- ponsabilidade do sr. João Maria Baptista. Agora outra questão : O Padre Carvalho em 1706 (desculpem -me os seus apologistas) sendo aliás uma illus- tração superior, fallaildo d'esta freguezia deu-lhe o titulo de Villa Nova das Infantas -—«nome que tomou (diz elle) de alli se cria- rem as irmãs dei Rey D. Affonso Henriques quando tinhão sua Corte em Guimaraens.» Chorogr. Port. vol. l.° pag. 109. Não obstante o exposto, D. Antonio Cae- tano de Lima em 1736 {Geogr. Histórica, vol. 2.° pag. 493) denominou esta freguezia Willa Nova dos Infantes. O mesmo titulo lhe deu em 1768 Paaulo Dias de Nisa no Port. Sacro e Prof.,—)bem como o Flaviense em 1882 e José Antconio d'Almeida em 1866— «por aqui se creairem os irmãos de D. Affonso Henriques» — diz elle ; mas, apoiados na Chorographia Poirtu- gueza, outros muitos chorographos optairam pelo- titulo de Villa Nova das Infantass. O meu antecessor e com elle o sr. João Miaria Baptista, denominaram-na simplesmente* In- fantas—e assim a denominam o Censoi de 1878, o mappa das Dioceses, em 1882,,— e outras publicações offieiaes. O sr. João Maria Baptista (Chorogr apphia Moderna, vol. 2.°, pag. 484) insurge-se> até contra os que dão a esta parochia o tittulo dos Infantes. « A E. P. {Estatística Parochial) e D>. C. (Diccionario Chorographico d'Almeida) di- zem que o chamar-se esta freguezia Willa Nova dos Infantes é por ali terem sido area- dos os irmàos de D. Affonso Henriques; eirro manifesto (diz o sr. João Maria Baptista) ppois declara Carv.0 e o confirma o D. G. M. (fflic- cionario gecgraphico manuscripto) que alli se crearam as infantas D. Sancha, D. Urracsa e D. Thereza, irmãs de D. Sancho I, filhos i de D. Affonso Henriques.» Em erro manifesto, porem, laboram (dles- culpem-nos s. ex.as) todos quantos deraom e dão a esta parochia o titulo das Infanttas, pois deve denominar-se VHla Nova dos ãn- f antes, como vamos demonstrar : Segundo se lê na Historia de Portugal de Alexandre Herculano (vol. 2.° pag. 86) e na Monarchia Luzitana (Parte IV, fl. 33, v.) D. Sancho í teve de D. Maria Ayres de Fcor- nellos dois filhos naturaes, Martim Sanclhes e D. Urraca Sanches. D'estes dris infantes— e não das irmoãs nem irmãos de D. Affonso Henriques— ntem das irmãs de D. Sancho I — tomou esta ppa- rochia o titulo, porque a estes dois infanttes a doou D. Sincho I e n'ella foram creadcos. No testamento de D. Sancho (Monarclàia Lusitana, Parte IV, fl. 290, v.) se lê o sse- guinte : i. ..Et istae sunt haereãitates qmas VIL VIL 853 dedi filiis meis quos habeo de Donna Maria Arias, Villa Nova, ete.» Em vulgar' diz esta verba do testamento de D. Sancho I o seguinte :— « . . .E estas são as herdades que dei aos meus filhos que te- nho de D. Maria Ayres,— Villa Nova, etc.» E em seguida na mesma verba menciona os nomes dos ditos dous filhos,— D. Martim Sanches e D. Urraca Sanches, dizendo que déra mais áquelle oito mil morabitinos e a esta sete mil, da torre de Belver. Viveram os ditos dois infantes n'esta Villa Nova e depois a venderam, como se lê na Benediciina Luzitana (vol. 2.° pag. 32) pois fallando do Mosteiro de Santo Thyrso e do abbade D. Silvestre, que governou pelos an- nos de 1225, n'ella textualmente se lê o se- guinte:—«Em tempo d'este Prelado vende- ram ao Mosteiro aquelles dois irmãos Dom Mariym Sanches, e Donna Urraca Sanches, filhos ambos do dito Rey D. Sancho, e de Donna Maria Ayres de Fornelo, venderão como digo Gulains e Villa Nova dos Infan- tes (que fica entre Guimaraens, e Pom- beyro, terras que seu pay lhes tinha dado). E D. Urraca, como mais pia, e devota, dei- xou liberalmente ao Mosteyro certa vinha e casaes alem do couto de Villa Nova, que ven- deu. A qual venda o nosso Papa Gregorio IX aucterisou, e confirmou. Tinha este couto de Villa Nova eivei, e crime, como diz el Rey D. João de Boa Memoria em hua demarca- ção, que d'elle mandou fazer.» Julgo pois ter provado exuberantemente que esta freguezia foi propriedade, vivenda e couto dos infantes D. Martim Sanches e D. Urraca Sanches, filhos de D. Sancho I— e que, em attençào a elles, se denominou e deve denominar Villa Nova dos Infantes, ou simplesmente Infantes— e não Infantas, ou Villa Nova das Infantas. Demora esta freguezia na margem direita do rio Vizella, do qual dista a sua egreja parochial apenas meio kilometro,— 2 da es- trada real de Guimarães a Fafe, para S. — e 6 de Guimarães para E. S. E. Junto da egreja matriz d'esta parochia ha- | via em 1379 (não sabemos se haverá hoje ainda) uma fonte denominada Onega, se- gundo diz Viterbo, pois sob a palavra Coomha se lê no Elucidário o seguinte : — Por coomha havia El-Rei daver huuma taça dauga de huuma fonte, que está a par da Igrejd de Villa Nova (das Infantes, que he em terra de Sá, riba de Visella) que chamam, fonte d' Onega, e hum carneiro. Doe. de Santo Thyrso de 1379. Aquella pena da taça d'agua recorda-nos uma outra muito semelhante : Desde tempo immemorial houve gran- des questões, desordens, ferimentos, mortes e demandas entre a villa de Manteigas, ao sul da Serra da Estrella, e.a villa de Gou- veia, ao norte, por causa dos montados e pastagens. Foi uma d'essas demandas jul- gada, ha muito, em favor da Villa de Gou- veia, impondo o juiz á camará, de Manteigas a pena de ir incorporada no dia de S. João, depois de soar a meia noite da véspera, á fonte de S. Pedro da mesma villa, colher um copo d'agua e mandai -o com 240 réis á camará de Gouveia todos os annos, devendo fazer se a entrega no mesmo dia, antes de nascer o sol, — o que ainda hoje se cum- pre! V. no supplemento Gouveia e Manteigas, povoações muito nossas conhecidas. Notem que as duas villas distam uma da outra mais de 15 kilometros de serra e são muito abundantes d"agua ! Sobre esta freguezia dos Infantes pesou no dia 7 de agosto de 1884 uma trovoada me- donha, O Commercio de Guimarães descre- veu-a nos termos seguintes : «Após uma fortíssima descarga eléctrica, cahíram duas faíscas no antigo solar das Curugeiras, que hoje pertence ao sr. An- drade, tenente de infanteria, matando uma d'ellas uma pobre mulher, que tinha ido le- var pão áquella casa. Em uma sala estava a esposa do sr. An- drade com um filhinho e a padeira, que, to- mada de susto, pedira para se demorar. Como as descargas eléctricas se succediam violentamente umas após outras, a esposa do sr. Andrade foi buscar um livro para orar, 854 VIL VIL ficando na sala a creancinha e a infeliz mu- lher. N'esta oecasião, uma faisca cahiu em uma cornija da casa, desceu, e, entrando por uma janella, fulminou a padeira, lambendo- Ihe umas contas de ouro, que trazia ao pes- coço, passando em seguida para a região lombar, aonde lhe abriu profundos sulcos na massa muscular. N'este momento chegou a esposa do sr. Andrade, que á vista d'aquelle horroroso espectáculo gritou por seu marido, que en- tão descansava. O sr. Andrade appareceu immediatamente, e tratou de apagar o in- cêndio, que já lavrava nas roupas da des- venturada mulher. A creancinha escapou milagrosamente d'este incidente, não rece- bendo contusão alguma.» VILLA NOVA DE LANHESES— V. Lanhe- ses, vol. 4.° pag. 47, col. 2.a VILLA NOVA DE MIL FONTES— villa ex- tincta e freguezia do concelho e comarca de Odemira, dislricto e bispado de Beja no baixo-Alemtejo. Orago Nossa Senhora da Graça. Fogos (pelo ultimo censo) 165, — habitantes 659 ; mas hoje tem 172 fogos e 703 habitantes. Priorado. Em 1708, segundo se lê na Chorographia Portugueza, esta parochia era villa, séde do concelho do seu nome, formado por ella e pela do Cercal, hoje do concelho de S. Thiago de Cacem, — e contavam ambas (não esta só como se lê na Chorographia Moderna) 400 fogos. Era da comarca do Campo d'Ourique, arcebispado d'Evora, e commenda da ordem de S. Thiago;— tinha prior e um beneficiado, freires da mesma ordem,— casa de Miseri- córdia com seu hospital,— uma ermida de S. Sebastião, outra de Nossa Senhora da Cella, outra de S. Bernardino de Senna— e um castello com 12 peças d'artilheria. For- mavam o seu governo civil 2 juizes ordiná- rios, 3 vereadores, 1 procurador do conce- lho, 1 escrivão da camará, 1 juiz dos órfãos, 2 tabelliães do judicial e notas e 1 alcaide. Tinha finalmente duas companhias d'orde- nanças na villa e uma no seu termo, ou na freguezia do Cercal. Em 1736, segundo se lê na Geogr. Hist. de Lima (tomo 2.° pag. 692) contava estaa fre- guezia 83 fogos com 275 habitantes— e ) a do Cercal 183 fogos com 852 habitantes, seendo o total da população d'este concelho de ; Villa Nova de Mil Fontes 266 fogos e 1:127 alilmas. Parece-nos pois incrível que em 1708, oou28 annos antes, contasse 400 fogos, comao diz Carvalho. Em 1768, segundo se lê no Port. S. e i Prof. era priorado da apresentação d'el-rei i pelo tribunal da Mesa da Consciência,— reendia para o seu prior 3 moios de trigo^ 2 dde ce- vada e 15$000 réis em dinheiro, aforai o pé d'altar— e contava apenas 48 fogos 1 Em 32 annos a sua população baiiixou» pois, de 83 fogos a 48;— hoje porém cconta, como já disemos, 172 fogos. Segundo se lê na Chorographia Modderna, comprehende esta parochia, além da villlla, os montes ou casaes seguintes:— Eira dda Pe- dra, Aivadas, Poço, Furna do Poço, Azzenha Feteira, Pousadas, Queimado, Zambujijeiro. Parreira, Casa Nova, Godins, Brejo, , Boa Vista, Adail, Soudo, Alpendrada, Moinhho da Cella, Porto da Mó, Agoinha, Cascalhheira, Casa Velha, Moinho do Barranco, Moinhho da Asneira, Gama, Bate Pé, Galeado, Amaeiral, Freixial, Pereira, Laranjeira, Lameira, , Bru- nheiras— e os sitios de Vidigal, Barrranco, Val de Porcas e Cella, cada um com 2 ccasas. As suas herdades principaes hoje sãoo a do Sôdo, pertencente a Antonio Felix da ( Cruz, —a de Alpendurada, pertencente ao c conde do Bracial,— a das Pousadas, pertencennte ao dr. José Maria d'Andrade— e a de DeWivado, pertencente a Brissos José. Freguezias limitrophes : Sines, Cerceai, S. Luiz e Odemira. Demora esta villa no extremo occiddental do Baixo-Alemtejo e na costa do maar, em terreno plano e. arenoso, cerca de 30 ) kilo- metros ao sul do cabo de Sines e 15 ao ) norte do cabo Sardão, na margem direita e rna foz do rio Mira, que é navegável para embbarca- çòes de cabotagem até á villa e parochhia de Odemira, séde do seu actual concelhho, do qual dista 26 kilometros pelo rio e 118 por terra. VIL VIL 855 É limitada esta freguezia ao norte pela pe- quena ribeira dos Vidigaes,— ao poente pelo oceano,— ao sul pelo rio Mira— e ao nascente pela cordilheira de montanhas que nascendo junto d'Alcacer morre em Odemira, corren- do parallela ao mar. Esta parochia desde tempos muito anti- gos formava com a do Cercal o concelho de Villa Nova de Mil Fontes, extincto por de- creto de 24 d'outubro de 1855, pelo qual passou para o de Odemira, cujos concelhos limitrophes são Aljesur e Monchique, no Al- garve, ao sul,— S. Thiago de Cacem, na Ex- tremadura, ao norte— e Aljustrel e Ourique, no Alemtejo, a E. N. E. Dista actualmente 55 kilometros da linha férrea do sul (estação de Casevel) mas, logo que se abra á circulação o complemento d'esta linha, hoje em construcção, de Case- vel a Faro, deve ter n'ella estação muito mais próxima. Os templos d'esta parochia hoje reduzem- se á sua egreja matriz e a duas capellas pu- blicas. A matriz é muito antiga e de modesta fa- brica, e demanda urgente restauração. Sup- põe se que data do reinado de D. João III (1521-1557) e se acha bastante arruinada. As duas capellas são as seguintes:— S. Se- bastião, na extremidade norte da villa— e Nossa Senhora da Cella (hoje com a invoca- ção de Santo Antonio) cerca de 8 kilome- tros para N. E.— entre altos serros, mas em sitio pittoresco e muito aprazível. Suppõe- se que junto d'ella viveram em tempos re- motos alguns monges em eommunidade. Da antiga capella de S. Bernardino de Senna já nem restam vestígios, — bem como da de Santo Isidoro que, segundo diz Car- valho, estava em sitio altissimo, do qual se avistava Lisboa. Segundo se lê no Agiologio Lusitano, (vol. 3.° pag. 327 e 333) é muito interessante a historia da mencionada capella de S. Ber- nardino: Pertenceu á ordem dos frades menores franciscanos da província do Algarve um religioso de nome Bernardino, que era um modelo de virtudes. Sendo conventual de Xabregas, conmi- modava-o o bulício da côrte, pelo que pas- sou para o seu convento de Odemira, um dos mais solitários da ordem e, desejando ainda vida mais austera e penitente, foi ha- bitar uma gruta que descobriu junto de Villa Nova de Mil Fontes, onde vivia como perfeito anachoreta, completamente separa- do do mundo. Foi muito sentida em Lisboa a sua ausên- cia, nomeadamente pelo regedor das justiças Diogo da Silva, de quem era confessor, pelo que, aproximando-se a quaresma, Diogo da Silva rogou ao provincial da ordem que o chamasse a Lisboa para se desobrigar com elle. Escreveu-lhe logo o provincial chaman- do-o, e o pobre anachoreta, dócil á voz do seu superior, embarcou na 1.» caravella que de Villa Nova de Mil Fontes partiu para Lisboa e que naufragou na viagem, pere- cendo o santo anachoreta. O facto determi- nou os habitantes de Villa Nova de Mil Fon- tes a erigir na gruta que o santo monge ha- bitara uma capella dedicada a S. Bernardino de Senna, já então canonisado, e lhe fizeram muitos annos pomposa festa com especial commemoração do santo anachoreta, Fr. Bernardino, cuja morte teve logar pelos an- nos de 1533. Foi Villa Nova de Mil Fontes um dos pri- meiros concelhos de Portugal, dando-lhe essa primasia D. Alfonso III quando, expul- sos os mouros de todo o Alemtejo, começou a cuidar da administração do reino. Foi. esta villa tomada aos mouros pelo bispo de Lisboa D. Soeiro, com ajuda dos ca- valleiros de certa crusada. Alguém diz que D. Alfonso III lhe deu foral, mas Franklim não o menciona ; ape- nas sabemos que D. Manuel lhe deu fo- ral novo em Lisboa, no dia 20 d'agosto de 1512. Liv. de Foraes Novos do Alemtejo, fl. 42, v. col. 2." Desde os princípios do século xvi (não sa- bemos se por disposição expressa no foral de D. Manuel, se por algum alvará posterior) esta villa e a de Sines pagavam annualmente da dizima do pescado quatrocentos mil réis 856 VIL VIL ao immortal descobridor da índia, D. Vasco j da Gama. Também já por aquelle tempo e até o j principio do século xvm, esta villa teve casa de Misericórdia e hospital, o que tudo re- I vella a sua importância; começou porem a I sua decadência muitos annos antes com os repetidos assaltos dos piratas argelinos, por estar junto da costa. No principio do reinado de D. João II, por exemplo, saltaram os mouros em terra e sa- quearam e incendiaram esta villa, deixan- do-a quasi deserta. Foi uma verdadeira razzial Para a defender e amparar, o mesmo rei lhe concedeu o privilegio de conto para 50 homisiados, permittindo-lhes o viverem li- vremente na villa e seu termo, com a condi- ção de a ajudarem a rebater as investidas dos mouros, — o que foi de grande alcance, porque os prineipaes moradores da villa ti- nham abandonado as suas casas e procurado domicilio mais seguro longe da costa. Lar- gos annos porem continuou a soffrer insul- tos dos corsários, não tão repetidos, mas ainda mais audaciosos. No fim da ominosa occupação filippina, pelos annos de 1638, tres barcos argelinos, acobertados pelos rochedos da praia do sul, poderam sem serem vistos ancorar, já de noite, detraz da Pedra da Atalaya. D'ali marchou muito astutamente um d'elles para o Canal, dois kilometros ao norte da villa, ficando os outros escondidos na Atalaya. Ao romper da manhã desembarcaram os mouros que tinham ido para o Canal, e des- truíram e saquearam um casal próximo, cujos alicerces ainda hoje lá se veem. Cor- reram logo em tropel em soceorro do dicto casal os moradores da villa e, aproveitando- se da bem calculada ausência dos seus ha- bitantes mais validos, de repente foi inves- tida e saqueada pelas guarnições dos outros dois barcos argelinos, levando captivos mui- tos dos seus habitantes que não poderam fugir, entre elles o prior d'esta parochia, pois indo já a distancia volveu árectaguar- da com o fim de retirar da egreja o SaDtis- simo Sacramento e salval-o de profanação. Cahindo em poder dos mouros, foi !ev,vado captivo para Argel, d'onde annos depoois o resgatou D. João IV. Este mesmo rei, condoído de tantos i des- gostos, mandou fazer um castello paraa de- fesa d'esta villa, — castello hoje ena ruinnas, e o guarneceu com 6 peças d'artilheria e ( duas companhias de soldados, obrigando ?alem d'isso os moradores da villa e do seuteermo a irem apresentar-se ao governador, logo que ouvissem o signal de rebate, quee era um tiro de peça e o toque do sino do ) eas- tello. Tinha este uma ponte levadiça, foossos, barbacan, paiol, capella,acommodaçõesppara a guarnição, etc. Quando el-rei D. Manuel deu foral a i esta villa, chamava- se ella MU FonUs; D. . Ma- nuel lhe deu o titulo de Villa Nova, taalvez pelo facto de a repovoar,— e desde entãão se denomina Villa Nova de MU Fontes,— nnome que alguns auctores julgam muito bemfaapro- priado, nomeadâmente o sr. João Mariaa Ba- ptista na sua Chorographia Moderna, pois fallando d'esta villa diz o seguinte: «De aguas é tão abundante que deve o seu nnome ás muitas fontes que brotam na villa e \ seus arredores.» Saibam porém os leitores que ri estai villa não ha uma única fonte ! Toda a sua aagua se reduz á de tres poços ! Não é pois da agua que brota na villa % que lhe provem o nome de Villa de MU Fonntes, mas dos muitos arroios que nas suas i visi- nhanças, ao longo da costa, se dirigenm da terra para o mar, sendo magnifica e até í me- dicinal a agua de muitos d'elles: mas o j meu illustrado amigo, commendador e dr. i Abel da Silva Ribeiro, que possue aqui propprie- dades e que tem feito largos estudos e | pro- fundas investigações com relação a esta a pa- rochia, diz o seguinte : «Supponho que o nome de Mil Fo'ontes provem do de mellis fons, com que oss ro- manos designavam todo o terreno que i cir- cumdava aquella povoação, por ser ahbun- dantissimo de mel de superior qualidadde em rasão das plantas aromáticas de que eraa ex- trahido.- Ainda hoje o mel d'aquelles stsitios é muito estimado pelo seu delicado sabbor.» VIL VIL 857 Em um livro das actas da extincta ca- mará d'esta villa, relativo ao armo de 170o, se acha uma postura curiosíssima: — a pena de cincoenta réis imposta a toda a mulher que tivesse má língua e discutisse no soa- lheiro as vidas alheias!. . . Esta parochia de Mil Fontes foi uma das primeiras terras da península que ouviram os vagidos da infância do homem. As excavações que em diversos pontos d'esta freguezia mandou fazer, ha annos, o sr. dr. Abel da Silva Ribeiro, provaram evi- dentemente que o homem prehistorico aqui viveu e aqui esboçou a sua primitiva eivili- sação. Aqui encontrou s. ex.a numerosos macha- dos e outros muitos instrumentos de pedra polida, de cobre e de bronze, que mandou para o Muzeu Archeologico de Lisboa — e maior e mais abundante seria a colheita, se se continuasse e alargasse a exploração. O mesmo benemérito archeologo aqui en- controu parte d'uma piroga, feita (se suppõe) do tronco de um roble cavado por meio de fogo e de golpes de machado de pedra,— es- boço imperfeitíssimo, embrião primordial das nossas embarcações, dos nossos grandes paquetes e dos nossos temíveis couraçados — ad majorem humanitatis gloriam I Foi encontrado este primoroso espécimen archeologico enterrado no lodo, a quatro metros de profundidade. Willemain e Brué (Etienne Robert) dizem que a Villa Nova de Mil Fontes fôra dado pelos romanos o nome de Porlus Annibalis, mas o sr. dr. Levy Maria Jordão, nas suas Portugaliae Inseri ptiones Romanae, pag. lví — e outros muitos auctores, sustentam que o Portus Annibalis é villa Nova de Portimão. Quer, porem, fosse ou não fosse o Porlus Annibalis, foi com certeza esta villa muito anterior a oceupação romana, como se in- fere dos mencionados espécimens prehisto- ricos. Também não duvidamos de que foi oceu- pada pelos cartagineses, porque nas explo- rações feitas pelo sr. dr. Abel da Silva Ri- beiro, em um promontoriosinho ao norte da entrada da barra, se encontraram differentes utensílios usados por elles,— louça, arpões, anzoes, pregos de cobre e alicerces dos tan- ques em que faziam a salga do peixe. De uma passagem de Strabão parece con- cluir se também que algumas vezes se abri- gou na barra de Mil Fontes a armada de Annibal,— e Hamílcar no seu Périplo falia d'este posto como muito vantajoso para se- gurança dos navios acossados pelos ventos de oeste e sul. Da oceupação de Mil Fontes pelos celtas, phenicios e grego?, etc, não são raras as provas,— e da oceupação romana abundan- tíssimas. Aqui deixaram não só utensílios, moedas e sepulturas, mas palavras da sua própria linguagem, que ainda hoje subsis- tem. Villa Nova de Mil Fontes é hoje uma das mais pequenas e humildes parochias do con- celho de Odemira, não porque o terreno, apesar de areiento, deixe de remunerar o agricultor, mas porque a indolência dos po- vos do littoral aceresce a falta de braços e de recursos de toda a ordem, nomeada- mente de boas vias de communicaeão. As suas producções dominantes são— trigo de excellente qualidade, principalmente o tremez,— milho, feijão, arroz e fructas ma- gnificas, merecendo especial menção os fi- gos, melancias e melões. É tambern mimosa de hortaliça e de pei- xe, tanto do rio como do mar. Como prova do muito que esta villa deve ao sr. dr. e commendador Abel da Silva Ri- beiro, citaremos ainda dois factos importan- tes : 1. °— Uma pequena quinta modelo que s. ex.a aqui possue e que pode considerar-se uma eschola agrícola, tal é o mimo, excel- lencia e variedade das suas producções. 2. ° — Os ensaios sobre piscicultura que em um dos pontos da costa s. ex.a já fez por duas vezes em 4 espécies de peixes d'agua salgada 1 com óptimo resultado, o que prova 1 As 4 espécies de peixes foram: — labrax ta % 858 VIL que, se em Portugal a piscicultura fôra con- venientemente dirigida e auxiliada pelos po- deres públicos, podíamos ter uma alimenta- ção sadia, barata e abundante e não neces- sitávamos de importar, como importamos, peixe sec.co no valor approximado de dois mil contos por anno ! . . . Seria para desejar que o nosso governo? seguindo o exemplo dos Estados Unidos da America, prestasse a devida attenção á pis- cicultura, aproveitando o exemplo dado pelo sr. dr. Abel da Silva Ribeiro. Agora mesmo tive a honra de receber de s. ex.a uma carta sobre o assumpto. É tão interessante que não posso resistir á tenta- ção de transcrever o tópico seguinte : «Foram os primeiros ensaios feitos em Portugal— e creio que na Europa— em es- pécies d'agua salgada;— muito imperfeitos e sem luz alguma que me guiasse, pois que os trabalhos especiaes apenas tractam de piscicultura das espécies d'agua doce, mas, apesar de ser uma coisa inteiramente nova para mim e de adoptar um methodo muito imperfeito,— o resultado excedeu a minha expectativa. Foi grandioso, magnifico,— d'aquelles que aniquilam o espirito do ho- mem, fazendo-o curvar até o pó e confessar a existência de Deus, se antes o não conhe- cia! Felizmente eu não precisava d'essa pro- va, e por isso, ao ver tão esplendido suces- so, tal foi o meu enthusiasmo e a minha con- fusão, que chorei ! . . . «Apenas houve uma perda d'ovos de 4 a 5 por cento, que não fecundaram. Decorri- das algumas semanas estiveram dois ho- mens deitando ao mar baldes e baldes— não d'agua, mas litteralmente de peixes, durante dois dias 1 Já a esse tempo os pequeninos peixes podiam fugir á voracidade dos maio- res; e tanto foi a abundância d'elles que, passados mais de oito annos, ainda hoje n'aquelle sitio se encontra prodigiosa quan- tidade de peixe, pois, sendo de espécies es- tacionarias, se tem conservado por ali. lúpus (roballo) — chrysophys aurata (dou- rada)— mugil cephahis (tainha)— e sobavul- garis (linguado). VIL «Ha dois annos mandei eu ali fazer r uma pescaria, cercando uma pequena bahiaia ou recanto do rio, junto ao mar; isto na o occa- sião de maré cheia; e, na vasante, colhehemos mais de quarenta arrobas de peixel «Fiz mais dois ensaios com a mesmma fe- licidade, pelo que fiquei verdadeirammente fanático pela piscicultura. Empreguei ;i altas diligencias para que fosse convertido ei em lei o projecto que o meu mallogrado amigígo dr. Pires de Lima apresentou na camará s sobre o assumpto. Desejava ir para Aveiro en-nsaiar em grande o meu methodo e, como mene ali- mentava o fogo sagrado da experienciaia e do enthusiasmo, creio que alguma cousa fi faria. Era uma industria nova no aperfefeiçoa- mento da qual eu empenharia o meu p pouco saber, mas toda a actividade e a exubtberan- cia de vida com que a natureza me d(dotou. Nada, porém, consegui; e n'um excesssso de indignação, lancei ao fogo todos os mmanu- seriptos que já tinha sobre piscicultura a e que me custaram dias e dias de grande ti traba- lho,—fadigas do corpo, zangas, motejejos da multidão ignara — e por fim o despreseso de quem tinha obrigação de olhar mais s séria- mente pelo futuro de Portugal. «Tudo destrui — e, desenganado aindídapor outra tentativa para que o governo aprprovei- tâsse a minha boa vontade e a minhma de- dicação em pró da archeologia, — ababando- nei aquellas duas especialidades e hojoje de- dico-me aos meus doentes e. . . a culultivar batatas e couves !» É infelizmente assim que em Portutugal se ] aproveitam as dedicações e os talentosos e se premeia o estudo, o trabalho e o desintereresseí Não temos a honra de conhecer pesessoal- mente o sr. commendador Abel da Silvlva Ri- beiro, mas sabemos que, alem de serer for- mado pela Eschola Medico-Cirurgicica do] Porto e um clinico de primeira plamna,— é uma illustração superior, um archeieologo dístincto, um cavalheiro estiroadissimoio e um patriota benemérito, dotado de grandele acti- vidade e energia. Mal avisado andou,u, pois o governo não aproveitando tão raroro con- juncto de dotes. VIL VJL 859 Para a biographia de s. ex.a e de seu ir- mão Francisco da Silva Ribeiro, digníssimo director das obras publicas na Guarda, ha muitos annos, veja-se o artigo Pinheiro da Bemposta, vol. 7.° pag. 5o,~- e na pag. 2.a do Diário Popular de 26 de setembro de 1883, o bello artigo datado de Villa Nova de Mil Fontes, todo dedicado ao sr. dr. Abel da Silva Ribeiro e ás nobilíssimas qualidades que o distinguem. Esta villa, desde que foi tomada aos mou- ros, pertenceu á ordem de S. Thiago e tinha aqui ella uma boa commenda, que andou muitos annos na casa do marquez das Minas. A freguezia do Cercal, hoje autónoma, foi um curato annexo a esta parochia de Mil Fontes. Os parochos de uma e outra eram freires da ordem de S. Thiago, apresentados por ella e pagos pelo rendimento da dieta commenda. Cerca de 12 kilometros ao norte d'esta villa e a pequena distancia da costa se vé no oceano a Ilha do Pecegueiro, que os phe- nicios denominavam Petamia, como diz João de Marianne nas suas Antiguidades de Res- panha. Ali se encontram ainda actualmente ves- tígios de remota oceupação. A barra de Mil Fontes está hoje muito obstruída pelas areias que o vento norte e as chuvas teem arrastado para ella dos Mê- does da Eira da Pedra e da Rocha dos Pre- tos; mas não ha muito era accessivel a na- vios d'alto bordo. Ainda em 1828 deu entrada e sahida á fragata de guerra inglesa Terros, capitão Hoop, com agua aberta em viagem para a índia, e a um brigue que a rebocou para Lisboa,— isto em maré vasia d'aguas vivasl Dentro do rio foi concertada a fragata e sahiu depois com a mesma facilidade com que entrou. Este facto mostra que podiam e deviam aproveitar-se as magnificas condições da barra e da bacia que fórma o rio, para abrigo das embarcações acossadas pelo vento dos quadrantes sul e oeste; mas infelizmente em Portugal a politica absorve todas as atten- ções dos nossos governantes e não lhes so- bra tempo para mais nada. Diremos ainda que nos últimos annos esta barra, não obstante o seu completo aban- dono da parte dos nossos governos, parece ter melhorado um pouco, pois a ella teem vindo alguns navios carregar minério das minas de S. Luiz. Nos velhos paços do concelho funeciona hoje uma esehola ofíicial de instrucção pri- maria elementar para o sexo masculino. VILLA NOVA DE MONSARROS-villa e parochia do concelho e comarca da Anadia. V. Monsarros. No Echo de Portugal, de 29 de março de 1883, se lé o seguinte : •Em 25 de fevereiro de 1847, estando em Villa Nova de Monsarros o tenente coronel do batalhão movei da Bairrada, que seguia o partido da patuleia ou da Junta do Porto, Joaquim Rodrigues de Campos, juiz da l.a vara de Lisboa, cunhado de João Rebelloda Costa Cabral, compadre da Rainha a Se- nhora D. Maria II, foi surprehe-ndido por uma força de Saldanha, cartista ou que se- guia o partido da rainha. A força estava aquartelada, e quando os piquetes foram surprehendidos e, aos pri- meiros tiros, Campos sahiu do quartel des- armado, a ver o que aquillo era, logo um piquete de eavallaria com soldados de infan- teria o feriram ; correndo elle a fugir, di- zendo que não o matassem que se entregava, a nada attenderam. Já atordoado com as cutiladas, que a principio aparava nos bra- ços, cahiu n'um poço, e d'ahi os soldados o tiraram já morto e o despojaram de tudo, que não era pouco, pois tinha comsigo bom dinheiro. Eneontraram-lhe na algibeira uma carta do cunhado João Rebello, em que lbe dizia que a rainha lhe perdoava, se elle se apre- sentasse. Deixaram-no nú. A força popular retirou-se para a serra e os cobardes não a perseguiram, mas entra- J ram na povoação, mataram o regedor, rou- baram e fizeram liberalissimas cousas, pelas quaes o justo governo da rainha os conde- corou. 860 VIL VIL Com o tenente coronel Campos foram mor- tos mais dois officiaes e oito soldados, que não poderam resistir; tal foi a surpresa, con- duzida por um scelerado da Mealhada, cha- mado Facadas, que já tinha estado degreda- do, e que depois, em 1870, voltou a degredo perpetuo por ler assassinado barbaramente junto á portaria sul do Bussaco o velho me- dico de Cacemes.» Viu-se depois no Diário do Governo que os assassinos d'estes infelizes foram conde- corados por tão heróico feito. Ao capitão de infanteria n.° 4 Jeronymo Alves Guedes, foi concedido um grau da or- dem da Torre Espada ;— e foram nomeados cavalleiros da ordem de Christo— João José da Gama Lobo, alferes do mesmo regimento de infanteria n.° 4,— Manuel João Baptista, picador e alferes de cavallaria n.° 8— e Vi- ctorino Cesar da Silveira, commandante dos j guias e alferes do mesmo regimento de ca- vallaria n.° 8. «Este foi o assassino de Campos» diz o citado periódico. Com rasão se orgulha esta villa de contar entre os seus priores um distincto escriptor publico e deputado ás cortes de 1822 a 1823, —o rev. dr. Manuel Dias de Sousa. No supplemento ao artigo Sobradello da Goma ou Souto de Sobradello, concelho da Povoa de Lanhoso, sua terra natal, ciaremos mais larga noticia de tão illustrado patriota; —entretanto veja- se o Diccionario Biblio- graphico de Innocencio Francisco da Silva e o Conimbricense de 13 e 20 de junho de 1885. VILLA NOVA DO MONTE— sitio notável no concelho de Chaves, junto da ribeira de S. Thiago, que suppomos ser a Ribeira d' Oura, de que já se fallou em Oura e Vi- dago. Ali existiu uma grande cidade romana, de que ainda se conservavam importantes vestígios em 1734, segundo se lê nas Me- morias do Arcebispado de Braga por D. Je- ronymo Contador d'Argote, vol. 2.° pag. 495. «Em Villa Nova do Monte, limite da ri- beira de Santiago, a quatro léguas de Cha- ves (diz Argote) existem as ruínas de e uma populosa Cidade, porque ao que se vê, 3, pas- sava de tres mil passos a sua circumvalalação; tem muralha e contra-muralha, comm seu fosso entre huma e outra. D'estas ruininas a outras, que íicão no Lugar de Lama dtde Ou- riço, corre huma corda de montanhihas, e nesta em diversos sitios se vem humaias ca- sas, ou cavernas nobaixo da montanhiha, al- gumas obradas em penhascos de tal 1 sorte que parte parece producção da nalurereza, e parte do artificio; outras são compostatas de argamaça, e rochedos: não são muito p gran- des. A grandeza da povoação basta parara in- dicio de ser obra romana. As grutas, cou ca- vernas abertas, e fabricadas entre os peienhas- cos bem poderiam servir ou a algumaia su- perstição, ou de abriga aos que trabalhlhavão nas minas, posto que não acho menção lo exis- tião alli vestígios d'ellas.» i Já estivemos em Vidago, Chaves e V Verim, mas não tivemos occasião de visitar a aquel- las ruínas, pelo que nada. podemos acaccres- centar ao que diz Argote. VILLA NOVA DE MUHIA-V. Muhiaia, vol. 5.» pag. 585, col. 1." e seg. VILLA NOVA D'0UREM— villa, fregsguezia e séde do concelho e da comarca do seseu no- me, no districto de Santarém, patriartrchado de Lisboa, província da Extremadura.a. Orago Nossa Senhora da Piedade, fogos 540,— habitantes 2:395. Priorado. Comprehende as aldeias seguintes: Villa Nova d' Ourem (anteriormente Ald.ei,eia da Cruz) séde da parochia, do concelhmo e da comarca,— Pinheiro, Alqueidão, Valltlle-tra- vesso, Lourinha, Louçã, VillÕes, Grórespos, Pimenteira, Pinigardos, Corredoura, , Cari- dade e Carregal;— os casaes de Millilheira, Marnoto, Gagos e Casalinho,— e varias ts quin- tas. Parochias limitrophes:— Ourem, Ce^eissa e Olival. Esta comarca de Villa Nova d' C Ourem comprehende apenas o concelho do iseseu no- me com as 9 freguezias seguintes: Ceissssa, Es- pite, Fátima, Formigaes, Freixianda,, Ç Olival, Ourem, Rio de Couros e Villa Nova d'(OiOurem VIL VIL 861 População total (segundo o recenseamento de 1878): Fogos 4:640 Habitantes 19983 Superfície em hectares 46:757 Prédios inscriptos na matriz 38:200 Concelhos limitrophes : — Torres Novas, Thomar, Ferreira do Zêzere, Alvaiázere, Pombal, Leiria, Batalha e Porto de Moz. Producções dominantes d'este concelho e d'esta freguezia— vinho, azeite, cereaes, ma- deira de pinho, fructa, mel, gado, caça e lã. O antigo concelho d1 Ourem é o mesmo concelho que actualmente se denomina Villa Nova tf Ourem. Mudou apenas de nome e de séde, pelo que, para evitarmos repetições, veja-se o artigo Ourem com relação á histo- ria, antiguidade, etymologia, privilégios, fo- raes, transformação e outras particularida- des d'este concelho. Aqui trataremos da fre- guezia de Villa Novad'Ourem, fazendo ape- nas algumas referencias ao concelho. Desde os tempos mais remotos se escolhe- ram para séde das grandes povoações os morros e píncaros, por serem menos acces- siveis e mais defensáveis ;— e, porque este recanto da península hispânica, verdadeiro jardim á beira mar plantado, foi desde os tempos prehistoricos theatro incessante de guerras, quasi todos os seus morros e pín- caros foram habitados e fortificados. Muitas d'essas povoações e fortificações desappare- ceram e d'ellas apenas restam vestígios na historia, nos escombros ou nos seus nomes, — e d'outras nem os mais ténues vestígios restam ; mas na província da Extremadura ainda se conservam bastantes, taes são Lis- boa, Leiria, Santarém, Palmella, Almada, Cintra, Torres Vedras, Torres Novas, Tho- mar, Peniche, Porto de Moz e Ourem. Estava Ourem na mais feliz situação para os tempos de guerra d'armas brancas, pois coroava um alto píncaro de forma cónica, dominando o fértil valle do seu nome e grande parte da Extremadura. Por isso ali se levantou um castello tão importante que volume x o próprio imperador de Marrocos, Miramo- lim, o respeitou, quando marchava sobre Santarém com ura poderoso exercito. Foi também respeitado por D. João I de Cas- tella, quando invadiu Portugal com o grande exercito que foi completamente desbaratado em Aljubarrota. Attrahidos pela valentia dos seus muros, pelos grandes privilégios dos seus foraes e pelos privilégios ainda maiores dos seus po- derosos senhores, nomeadamente dos con- des d'Ourem, marquezes de Valença, duques de Bragança, de Barcellos e de Villa Viçosa ou da sereníssima e poderosíssima casa de Bragança, que foi sempre um estado no es- tado e que teve desde a batalha d' Aljubar- rota o senhorio d'Ourem, ali se concentrou e desenvolveu um povoado importante,— po- voado que augmentou com a creação da in- signe e real collegiada do seu nome, rival das de Cedofeita, Guimarães e Barcellos e que chegou a ter mais de cem mil cruzados de renda, que equivaliam talvez a duzentos mil cruzados da nossa moeda actual ! ■ . . Em 1712 contava a freguezia e villa d'Ou- rem a bagatella de 930 fogos com 3:136 ha- bitantes,—muita nobresa e muita riquesa, — uma sumptuosa egreja da collegiada e 18 capellas publicas. Além d'isso estavam an- nexas á poderosa collegiada as 4 grandes freguezias de Ceissa, Freixianda, Fátima e Olival, com 1820 fogos e 7:300 habitantes, das quaes recebia os dízimos. Representava pois e paroehiava por vigários seus a colle- giada cinco freguezias, contando ao todo cerca de 2:800 fogos e 11:000 habitantes. Era a villa também cabeça de comarca e de ouvidoria, cujo ouvidor entrava por cor- reição nas villas de Porto de Moz, Avellar, Chão de Couce, Aguda, Pousa Flores e Ma- çãs de D. Maria. Era pois Ourem uma villa muito impor- tante e muito considerada ainda nos princí- pios d'este século, mas soffreu muito com o terramoto de 1755, que desmoronou quasi to- dos os seus edifícios, incluindo a sumptuosa egreja da collegiada,— e soflreu não menos com a guerra da península, nomeadamente em quanto o exercito de Massena se conser- 55 862 VIL VIL vou em frente das linhas de Torres Vedras, desde novembro de 1810 até março de 1811. Não só foi saqueada, mas incendiada to- da, exceptuando unicamente vinte e tantas casas ! Soffreu também muito com as guerras ci- vis posteriores,— com a desmembração d'esta parochia— e mais ainda com a extincção dos dízimos e da sua collegiada,— tanto que no 2.° quartel d'este século, depois d'uma lucta titânica, mas inglória, passou pelo vexame de se ver afrontada e supplantada pela po- voação de Aldeia da Cruz, para a qual foi transferida a séde do concelho e da comarca d'Ourem,— passando de senhora á condição de escrava e vendo crescer a herva nas suas ruas, cahirem por terra as suas lendas, os seus edifícios e as suas muralhas, fugirem os seus habitantes espavoridos em frente de tanta desolação e ser a sua rival, a obscura Aldeia da Crus, elevada á cathegoria de villa e de séde do concelho e da comarca com o titulo de Villa Nova d'Ourem 1 . . . * As coisas passaram-se assim : Quando em 11 d'agosto de 1385 el-rei D. João I e o condestavel D. Nuno Alvares Pe- reira marchavam de Thomar contra os cas- telhanos e se dispunham a dar-lhes batalha (a de Aljubarrota) estiveram na villa dou- rem e havia por esse tempo no sopé do mon- te, onde se levantava aquella villa com o seu alteroso Castello, uma pequena povoação de- nominada Pédêlla, no caminho de Thomar, Leiria, Santarém e Torres Novas para a villa d'Ourem. Dada a famosa batalha no dia 14 d'agosto de 1385 e derrotados completamente os cas- 1 Succedeu a Ourem o mesmo que á villa de Castello Rodrigo, na Beira Baixa, pois sendo ainda nos fins do ultimo século uma villa e uma praça de guerra importante e muito priveligiada, hoje está quasi deserta (terá 40 fogos ! . . .) e é cabeça do concelho e da comarca Figueira de Castello Rodrigo, povoação que se ergueu ao sopé da nobre villa e que principiou por uns humildes al- pendres levantados em volta do campo em que se faziam as grandes feiras, concedidas pelos nossos primeiros réis áquella villa e praça de guerra. telhanos, volveu D. Nuno Alvares Pereieira no dia seguinte a estas paragens para cummprir certos votos,— e, chegando a Pédêlla, i, onde (segundo se suppòe) descançou em umaia hu- milde estalagem que ali havia, soube )e que na batalha perecêra o seu irmão D. P Pedro Alvares Pereira, mestre da ordem de 0 Cala- trava, que fazia parte do exercito castelblhano, e junto da mesma povoação, no sitio do o Car- valhal, em um grande souto de carvairalhos, mandou erigir, em memoria do falleleeido, uma cruz de pedra, da qual a dieta popovoa- ção com o decorrer do tempo tomou o d nome de Aldeia d'ao Pé da Cruz— depois AiAldeia da Cruz. Ali se conservou a dieta cruz muitosos an- nos, até que desabou com o perpassarar dos séculos; mas o benemérito dr. Joaquimm Go- mes Vieira Gaio, a quem este concelhcho, do qual foi administrador e prezidente dída ca- mará, muito deve, a mandou restaurarar. Collocou se a nova cruz em outubroro de 1857, cinco metros ao nascente do local d onde esteve a antiga— e é da mesma pedra a com que foi feito o convento da Batalha. Tem uma peanha de cantaria de ô-V^SS— e a haste, braços e carapeta medem d'alaltura 14m,04. Sendo o local muito aprazível e corortado por estradas importantes, com o tempnpo se desenvolveu consideravelmente a popululação e tanto que por occasião do terremototo de 1755 para ali fugiram os cónegos da ia real collegiada e grande parte dos habitantetes da villa d'Ourem, muitos dos quaes ali fíxaxaram a sua residência e não mais volveram p para a villa, mesmo porque ali se faziam os b mer- cados e feiras, que davam ao local muitata im- portância, e porque, tendo acabado ha m muito as guerras com os mouros e castelhatianos, cessara a necessidade de procurarem abibrigo nos muros do Castello e de subirem a erempi- nada encosta. Tanto perdeu Ourem com o terremmoto, como lucrou a Aldeia da Cruz. D. José I mandou restaurar alguns e* edifí- cios da villa, mas a maior parte não masais se ergueu,— era quanto que a Aldeia da C'tCruz, alem de pouco soffrer com o terremoto o por VIL VIL 863 estar na campina, viu augmentar espantosa- mente os seus edifícios, a sua riqueza e a sua população. Em 1810 os soldados de Massena assola- ram toda a Extremadura, nomeadamente a Villa d'Ourem, que foi saqueada e reduzida a cinzas, e não pouparam a Aldeia da Cruz; mas Ourem, anteriormente já pobre e mais falta de recursos, não pôde restabelecer-se, em quanto que a Aldeia da Cruz de prompto se restabeleceu, ficando a valer muito mais do que a vilia, posto que fosse uma simples povoação rural da parochia d'ella, pelo que os seus habitantes se lembraram de seguir o exemplo da freguezia de Ceissa, que ha muito se havia arvorado em parochia inde- pendente da collegiada, e tractaram de pro- mover a sua independência também. Com este intuito requereram em 1824 ao governo a sua desmembração da freguezia da collegiada e a creação d'uma nova fre- guezia formada por differentes aldeias, 1 tendo por séde a da Cruz, onde já havia uma capella com 3 altares,— Senhora da Pie- dade (no altar mór) Santíssimo Sacramento e S. Sebastião, — todos 3 com irmandades próprias, — Santíssimo permanente— e dois capellães pagos pelo povo, para lhes dizerem missa aos domingos e dias santos e lhes mi- nistrarem os sacramentos,— capella em que já havia funeeionado o próprio cabido da collegiada cerca de oito mezes, em seguida ao terramoto de 1755. Na sua petição declaravam os supplican- tes que se obrigavam por uma escriptura, já feita e lavrada nas notas do tabellião Joa- quim Maria da Costa, em 20 de dezembro de 1823, a pagar ao novo parocho, e que nada i Penigardos, Castello, Aldeia dos Ala- mos, Peras Ruivas, Carregal, tyespos, Vil- lòes, Val Travesso, Mattos, Lourinha, Louçã, Pinheiro, Motta da Vide, Alquidão, Pimen- teira, Fonte de Cathariua, S. Gens, Carida- de, Milheira, Marnota e Aldeia da Cruz, com o total de 1:200 pessoas de 7 annos para cima, ficando o priorado da villa com 1:405 almas, numero superior ao que se pretendia desannexar. pediam á collegiada d'0urem, com a condi- ção de que o parocho seria nomeado por el- les e confirmado pelo seu bispo diocesano (o de Leiria). Mandou o governo ouvir o dicto prelado, que informou favoravelmente, lembrando o alvitre de que ao novo parocho se désse para côngrua uma das conezias da collegiada & o titulo de conego-vigario, ficando os suppli- cantes obrigados somente á despeza da fa- brica da nova erecta. Mandou em seguida o governo ouvir a junta da sereníssima Casa de Bragança, por ser donatária da villa e da comarca d'Ou- rem — e por seu turno a junta (em maio de 1825) mandou ouvir o desembargador e pro- curador da fazenda, o qual dfsse que infor- masse o corregedor da comarca h Informou elle dizendo entre outras coisas — que achava justíssima a pretensão dos supplicantes;— que a povoação de Aldeia da Cruz era grande e muito bem situada ;— que n'ella já rezidiam, havia muitos annos, todas as auctoridades da villa;— que a dieta aldeia contava ao tempo 826 habitantes;— que jul- gava muito acceitavel o alvitre do prelado; — que a povoação era rica e tanto que foi a primeira que se restabeleceu depois da in- vasão franceza;— que algumas das aldeias indicadas para a nova erecta, nomeadamente a de Peras Ruivas, se oppunham, mas que isso pouco importava, porque bastavam a Aldeia da Cruz e os casaes próximos para constituírem uma grande freguezia, e que o único motivo da opposição d'algumas das mencionadas aldeias eram as intrigas mano- bradas pelo cabido para ter maior numero de subordinados, etc. Em 12 de setembro do mesmo anno diri- giu o cabido á junta da casa de Bragança uma representação contra a nova erecta, di- zendo entre outras coisas— que não era o bem espiritual que movia os interessados na i Francisco Fernando d' Almeida Madeira, magistrado digníssimo. Com as suas informações muito contri- buiu para que a desannexação vingasse.. 864 VIL VIL desannexação, mas o indiscreto capricho de augmentar a dieta aldeia com a ruina da Villa e de defraudar os dízimos. Deu-se vista de tudo ao desembargador e procurador da fazenda, o qual mandou que informasse de novo o corregedor. Este não só confirmou, mas ampliou a sua primeira informação. Eatre outras coisas disse— que na impor- tante povoação de Aldeia da Cruz a popu- lação augmentava sensivelmente, como elle próprio tinha notado no decurso de 13 an- nos, e que a da villa baixava e tendia a desapparecer por não poder prestar commo- didades algumas aos seus hahitantes e menos alliciar os defóra ;— que não se tornando susceptível de conservação e menos de au- gmento, ella por si, sem industria humana ou caso fortuito, havia de fatalmente desap- parecer, o que já teria acontecido ha muito, se os* membros da collegiada não fossem obrigados a rezidir n'ella para satisfazerem ao coro, como elles próprios confessavam ; —que os recorrentes argumentavam com a pobresa da Aldeia da Cruz e dos logares annexos, mas que estes eram os que traba- lhavam e os sustentavam;~que a mesma tropa, devendo pelo seu itinerário aquarte- lasse na villa, deixava a opulência d'ella pela pobresa da Aldeia, por não haver ali mais do que os membros da collegiada, os recorrentes, pois que o resto, pela sua po- bresa, era nada, bastaudo dizer-se que na villa não encontrava uma só pessoa para ser carcereiro! «e que seria dos mesmos membros da collegiada, se não fossem os moradores da Aldeia? São totalmente appa- rentes e imaginarias as rasões expendi- das. . .— Taes expressões tornam-se injurio- sas a uma povoação que é a principal do termo, onde rezidem as auctoridades, pro- fessores e mais empregados públicos,— po- voação tal que no culto divino e festividades he digna de ser imitada e não só no termo, mas em toda a comarca. . . » Terminou dizendo— que julgava justíssima a creação da nova erecta e que a opposição do cabido era toda caprichosa e de emulação. Em 18 d'agosto de 1826 se deu vista ao desembargador e procurador da fazendda, o qual optou pela creação da nova erectta e pelo alvitre do prelado leiriense : — quae se désse ao parocho para sua côngrua susttten- tação um dos canonicatos da collegiada. . Concordou a junta da sereníssima Casaa de Bragança, em consulta de 22 de setembbro, — e em 9 d'outubro do mesmo anno > de 1826 a sr.» D. Isabel Maria, infanta regeente por fallecimento d'el-rei D. João VI, ressol- veu a questão nos termos seguintes : iCoomo parece, devendo-se verificar a desannexaoção . . . quando vagar o primeiro canonicato} da Insigne Collegiada, visto conslar-me qque actualmente tod^s estão prehenchidos.» Em vista d'este despacho requereramn a S. A. os habitantes de Aldeia da Cruz < di- rendo — que podia demorar-se muito a > va- gatura do canonicato e que, desejando) se tornasse de prompto effectiva a creação • da nova erecta, pediam lhes d^sse para paroccho o rev. Domingos Antonio d'Almeida, do ( di- cto logar, que havia muitos annos era cca- pellão dos supplicantes e lhes administraava os sacramentos com todo o zelo, tendo siddo já antes da invasão franceza parocho da ccol- legiada alguns annos, e da freguezia de FFa- tima,— e que elles supplicantes lhe satisbfa- riam a côngrua, em quanto se não déssee a vaga do canonicato. Em 23 de janeiro de 1827 mandou S. . A. ouvir a junta da Casa de Bragança, a quaal, em harmonia com o parecer do procuraddor da fazenda, respondeu— que se verificassee a desannexação só quando vagasse o canonni- cato, como fora resolvido por S. A. emi 9 d'outubro de 1826; mas, em quanto se prro- cessava esta consulta, requereu a S. A. o ppa- dre Domingos pedindo se fizesse de promppto a desannexação e a nomeação d'elle suppbli- cante para parocho da nova erecta, que eblle se obrigava a servir gratuitamente até vaggar o primeiro canonicato na collegiada, desati- nado para edngrua da nova erecta. Sendo ouvido de novo o desembargaddor da fazenda, opinou porque se esperasse peela vagatura do canonicato, mas a junta da Caasa da Bragança, em consulta de 15 de junho ede 1327, disse que julgava não haver inconvure- niente em que S. A. deferisse o requerri- VIL VIL 865 mento do supplicante, pelo que S. A. deferiu nos termos seguintes : «Como parece. Pala- cio da Ajuda, 9 de janeiro de 1828. I. R. (Infanta regente, D. Isabel Maria) *. As grandes complicações que se deram na alta politica do nosso paiz procrastinaram algum tempo a erecção d'esta parochia; mas por decreto de 29 d'agosto de 1829, datado do palácio de Queluz, foi o padre Domingos Antonio d'Almeida apresentado pelo sr. D. Miguel na egreja de Nossa Senhora da Pie- dade d'Aldeia da Cruz, dando-se-lhe para côngrua o canonicato que vagou na colle- giada pelo fallecimento do cónego Manuel José Ribeiro, segundo a resolução de 9 d'ou- tubro de 1826; não chegou porem a tomar posse, porque surgiram logo contra elle de- nuncias e intrigas que determinaram o go- verno do sr. D. Miguel a mandar prender o dicto padre Domingos e a anuullar aquelle decreto por outro com data de 22 d'outu- bro do mesmo anno. Por decreto de 29 de março de 1831 foi nomeado conego-parocho da nova erecta Fr. Antonio de S. Boaventura, da ordem de S. Francisco, da província de Portugal, mestre de theologia e professor jubilado no real es- tabelecimento dos estudos do Bairro Alto, em Lisboa; mas, extinctos os dízimos em 1834, abaudonou a freguezia, cuja côngrua era o canonicato, e retirou-se para a sua terra natal, onde falleceu pouco tempo der- pois. Também ao mesmo anno de 1834 a colle- giada soffreu um duro golpe com a extinc- ção dos dízimos que constituíam o melhor das suas rendas. Alem d'isso os foreiros também se recusaram a pagar os fóros e a collegiada não se atreveu a demandal-os, por lhe faltarem os documentos precisos, pelo que ficou pobríssima e sem rendas al- gumas ! E, para complemento da sua des- graça, quasi todos os couegos, sendo taxa- dos de miguelistas, foram suspensos e no- meado um extranho, — o padre Joaquim Mendes dAzevedo,— prior d'ella encomuien- 1 Extracto fiel do archivo da Casa de Bra- gança. dado, com o titulo de vigário da vara, exis- tindo ainda alguns cónegos não suspensos, mas que nunca mais voltaram,^ coro,-— e assim terminou a insigne e real collegiada $ Ourem l. . . O antigo prior foi reintegrado em 1836; mas já ao tempo o dr. João de Deus Antu- nes Pinto, bacharel formado em cânones , prior de S. Thomé de Lisboa e governador temporal do bispado de Leiria, por S. M. I. o duque de Bragança, e vigário capitular pelo rev. cabido leiriense, havia em 29 de janeiro de 1836 dividido o bispado de Leiria em 4 districtos, sendo a capital de um d'el- les a nova freguezia de Aldeia da Cruz,—e nomeado vigário d'esta parochia e do seu districto o padre Domingos Antonio dAl- meida, pelo que a elle, em quanto foi vivo, ficou subordinado o velho prior da villa e da collegiada dOureml... Durou pois quasi dez annos a grande lu- cta entre os habitantes da Aldeia da Cruz e a collegiada, terminando do modo mais sur- prehendente e glorioso para aquella e mais triste e doloroso para esta, que pouco tempo sobreviveu a tão grande catastrophe ! Esta freguezia d' Aldeia da Cruz (hoje Villa Nova d' Ourem) conta pois os parochos se- guintes : l,o— Fr. Antonio de S. Boaventura, co- nego-vigario (1831-1834). 2,o — Domingos Antonio d' Almeida, vigá- rio, desde 1834 não sabemos até quando. Z.o—Marcellino d' Almeida Vieira Borges, (1850). Vigário. Í.«—Manutl Midões, (1851-1856). Vigário. 5. °— José Cypriano Borga, 1.° prior, (1856 1867). Permutou com o seguinte e é hoje prior de Bucellas, no concelho dos Olivaes, sendo natural de Villa Nova d'Ourem e presbytero de muito merecimento. 6. °— Domingos Antonio Alvares. 7. ° — Manuel Nogueira da Conceição. Não vão mais longe os meus apontamen- tos informes. A rainha D. Maria II, por alvará de ,23 de 866 VIL VIL setembro de 1841, elevou a povoação à' Al- deia da Cruz, que já então era cabeça do concelho d'Ourem, á cathegoria de villa com a denominação de Villa Nova dourem. «Usa esta villa as armas do concelho que é um brasão do principio da monarchia e commum a todo elle» — diz o Esboço histó- rico do concelho de Villa Nova d' Ourem, publicado em 1868 pelo benemérito filho d'esta villa, dr. José das Neves Gomes Ely- seu (pag. 1 14); mas parece-me isto uma cha- rada, pois não diz que brasão seja,— e no principio da sua Memoria dá em lytographia nada menos de 4 brasões d'Ourem, todos muito differentes ! O sr. Ignacio de Vilhena' Barbosa nas Ci- dades e Villas deu-lhe o brasão n.° 1 do dr. Elyseu, mas com a águia olhando para a di- reita io espectador, em quanto que a do brasão do dr. Elyseu olha para o lado op- posto;— e um excellente livro que temos ni- tidamente lytographado, com as armas das nossa< villas e cidades, mas sem data nem nome de auctor, dá a Ourem as mesmas ar* mas que lhe deram o sr. f . Vilhena Barbosa e Gomes Elyseu, no escudo n.° 1, mas com outra variante:— a águia tem as azas fecha- das,—volta as costas ao espectador— e olha para a esquerda d'elle. Veja-se n'este diccionario o artigo Ourem, vol. 6.° pag. 3£4, col. 2.a e pag 335, col. 2.» também, — e a citada Memoria do dr. Gomes Elyseu, pag. 45 e a nota da pag. 162, na qual diz que as armas do n.° 2 estão na casa da almotaçaria em Aldeia, da Cruz e são — um escudo com uma águia, tendo as azas abertas, voltada para o espectador e olhando para a esquerda d'elle. No alto do escudo, á direita do espectador, uma meia lua e á es- querda uma estrella. Não descrevemos os outros cinco (!) por- que são da villa velha e não queremos fati- gar os leitores. Outra bulha : A Memoria do dr. Elyseu diz que o orago d'esta parochia é Nossa Senhora da Mater- nidade;— o Couseiro de Leiria diz que é Nossa Senhora da Purificação;— as publica- ções officiaes dizem que é nossa Senhora da Piedade— e alguém já lhe deu como o orago também Nossa Senhora do Pé da Cruzuz. Vejam que embrogliol. . . Quando se creou esta freguezia, dfdeu-se- lhe o titulo de Nossa Senhora da Pifiedade, —o mesmo que já tinha a capella qique foi arvorada em matriz, pois era sua pa d rd roei ra, com irmandade e festa próprias, utnsna lin- díssima imagem de Nossa Senhora dida Pie- dade, que estava no altar-mór com o o seu amado filho morto no regaço, tendo a c. cabeça pendente sobre o braço direito da Vitfirgem. Algum tempo depois da creação d'esesta fre- guezia tentaram os seus parochianos d;dar-lhe como orago Nossa Senhora da Maternmidade, o que não se realisou legalmente, p> pois na collação dos seu3 priores continuou a a dar- se-lhe o titulo de Nossa Senhora da PiPiedade. Esta parochia era do bispado de 1 Leiria, mas desde 1882, data da ultima circurumscri-í pção diocesana, foi extincta a diocese d de Lei- ria e dividida pelo patriarchado e p pela de! Coimbra, passando para o patriararchado,| além d'outras, todas as freguezias s d'este concelho de Villa Nova d'Ourem. A construcção dos novos paços do o conce- lho, que são amplos e magestosos, i princi-j piou em 9 de junho de 1874— e no ananno se-j guinte se creou a comarca de Villa Ia Nova d'Ourem, de 3." classe, formada unicacamentei pelas 9 freguezias do §eu concelho. . Nos novos paços do concelho funccccionam; todas as 3uas repartições publicas— a a cama-j ra, o tribunal de justiça, a administraração do cencelho, a eserivania da fazenda, rececebedo- ria, correio e telegrapho, datando a o creação d'este de 13 d'agosto de 1881. Tem esta \illa um bom cemitério. FcFoi feito por uma commissão de parochianos, á, á custa d'elles e de vários subscriptores (honmralhes seja ! . . .) e, depois de concluído, enkntregue por elles á camará, que não despendeieu comj elle um real, mas não hesitou em arvrvoral-o em fonte de receita, creando pesadas ara a 1 V. Minde, serra,— e Minde, freguesia,— vol. 5.4 pag. 233. VIL VIL 877 de Coimbrão, ambas do concelho de Leiria. Em 2 de junho de 1856 collou-se n'esta Villa Nova d'Ourem, onde logo prestou relevantes serviços, pois sendo n'aquelle anno açoitada pelo cholera e não havendo na freguezia ou- tro padre,— elle não sò ministrou os sacra- mentos a todos os cholericos, mas confor- tou-os e por vezes lhes applicou os remédios que os facultativos indicavam, pelo que o administrador do concelho depois lhe deu um attestado honrosissimo. Em 1859 deu principio á nova egreja;— no dia 20 d'outubro benzeu a nova capella do Santissimo;— no fim d'aquelle anno col- lou-se em Alcabideche, no concelho de Cas- caes, permutando com o prior Domingos Antonio Alvares,— e em 1872 transferiu-se para a freguezia de Bucellas, concelho dos Olivaes, onde se collou em 13 de novembro do mesmo anno. Em 1877 foi na peregrinação portugueza a Roma;— visitou o sanctuario de Lourdes, —Marselha, Génova, Roma, Nápoles, Pom- peia, etc, e no dia i.° de junho d'aquelle mesmo anno já estava com os seus paro- chianos e lhes deu com grande pompa e extraordinária concorrência de fieis a benção papal, concedida por S. Santidade Pio IX. É ainda prior de Bucellas e prior dignís- simo. A estrada a macadam de Leiria a Thomar e que atravessa esta villa, forma uma am- pla estrada rua. Yindo de Thomar, denomi- nasse Rua Direita, desde a entrada da villa até á Praça;— Rua de Belfort, desde a Praça até á Fonte Nova,—e Rua dos Alamos, d'ali até á outra extremidade da villa. A freguezia d'Ourem, ou da villa velha d'Ourem, apesar da sua decadência, ainda hoje (segundo uma nota que se dignou en- viar-me o seu rev. prior) conta 880 fogos e 3:610 habitantes. O censo de 1878 deu-lhe 830 fogos e 3:432 habitantes. O seu movimento parochialno ultimo an- no, foi o seguinte:— nascimentos 137,— ca- samentos 25,— óbitos 59. VOLUME X Vé-se pois que a população da villa ve- lha não diminue, augmental. . . VILLA NOVA D'0UTIL -aldeia da fregue- zia ã' Outil, concelho e comarca de Canta- nhede. V. Outil, vol. 6.° pag. 362, col. 1.» Por provisão do desembargo do paço, com data de 17 de dezembro de 1574, se perniit- tiu que os moradores das freguezias de S. Martinho d' Arvore e de Outil, bem como os da aldeia de Villa Nova d'Outil, podessem cortar carne nos dictos logares pelo preço estipulado para Coimbra;— e por outra pro- visão da mesma procedência, com data de 10 de janeiro de 1777, se ordenou ao corre* gedor de Coimbra que fizesse conter na obe- diência ao mosteiro de Cellas (hoje, 1885, já extincto) os habitantes dos seus casaes nos districtos de Tobim, Feteira, Lobares, Figueiró do Campo, Eiras e Villa Nova oV Outil, obrigando-os a pagarem todos os direitos devidos ao mosteiro, na conformi- dade do foral e dos arbitramentos do cos- tume, procedendo contra os que assim o não cumprissem. VILLA NOVA DA PALHAÇA — freguezia do concelho e comarca d'Aveiro. V. Palhaça, vol. 6.° pag. 425. Desde 1882, data da ultima circumscri- pção diocesana, foi supprimido o bispado d'Aveiro e dividido pelos do Porto e de Coimbra, passando para este ultimo a fre- guesia da Palhaça, ou de Villa Nova da Pa- lhaça, com todas as do concelho d'Aveiro e as dos concelhos de Agueda, Anadia, Ílhavo, Oliveira do Bairro e Vagos. As freguezias restantes do districto e da diocese de Aveiro ficaram pertencendo á diocese do Porto. São as dos concelhos d' Arouca (exceptuando a d'Alvarenga) Albergaria Velha, Castello de Paiva, Estarreja, Feira, Oliveira d'Azemeis e 7 do de Macieira de Cambra. As duas res- tantes d'este ultimo concelho, bem como as do concelho de Sever do Vouga, pertencem ao bispado de Vizeu. Está portanto o districto d'Aveiro divi- dido pelos bispades de Coimbra, Lamego, Porto e Vizeu ! . * . VILLA NOVA DE PENALVA. V. SepulchroyTrancozêllo e Trancozellos. 878 VIL VILLA NOVA DE PORTIMÃO— villa, fre- guezia e séde de concelho e de comarca do districto e diocese de Faro, província do Algarve. V. Portimão n'este diccionario e no sup- plemento, onde desenvolverei consideravel- mente aquelle artigo com as notas colhidas por mim na localidade e com os interessan- tes apontamentos que se dignou enviar-me o muito illustrado e benemérito prior d'a quella formosa villa, o rev. sr. José Gonçal ves Vieira, a qupm mais uma vez reitéro os meus cordeaes agradecimentos, pedindo-lhe me desculpe o não dar agora, como bem desejava, o supplemento áquelle artigo, por- que circunstancias muito extranhas á mi- nha vontade me forçam a passar adiante. Agradeço também ao sr. José Augusto Carneiro o exemplar que se dignou offere- cer-me da sua interessante Memoria histó- rica, genealógica e biographica da casa de Abrantes ou dos antigos condes e senhores de Villa Nova de Portimão, hoje muito di- gnamente representados pelo sr. D. João Ma- ria da Piedade, José, Pedro, Paulo, Bento, Francisco de Assis e Xavier, Ignacio de Loyolla, Luiz Gonzaga, Antonio, Braz, Ber- nardo, Paulo Eremita, Veríssimo dos Santos Innocentes, Thomaz de Cantuaria, marquez d'Abrantes e de Fontes, conde de Penaguião, de Figueiró, de Sortelha e de Villa Nova de' Portimão, camareiro-mór e commendádor- mór na ordem d'Aviz, de sua casa, grande de Portugal e de Hespanha, etc, etc. VILLA NOVA DO PRÍNCIPE— V. Azem- ja, vol. 1.» pag. 291, col. 2.» VILLA NOVA DE PUSSOS— freguezia do concelho de Alvaiázere, districto de Leiria, na Extremadura. V. Pussos, vol. 7.° pag. 716, col. i.a VILLA NOVA DA RAINHA— freguezia do concelho d'Azambuja, comarca do Cartaxo, districto e diocese de Lisboa, província da Extremadura. Orago Santa Martha,— fogos 9 i,— habitan- tes 360. Priorado. Em 1712 era vigairaria da comarca de Alemquer, annexa á matriz de Santo Este- vam d'aqfuella villa,— e contava 70 fogos, os VIL quaes apresentavam o seu vigário, quês era collado. Em 1768 era curato da mesma apressen- tação;— rendia para o cura 80#000 réiss— e contava 105 fogos. Em 1840 perteucia esta parochia ao ccon- celho d'Alemquer, do qual passou parra o da Azambuja por decreto de outubro- de 1855. Comprehende esta freguezia os casaess do Loiro, d'El-Rei, de Val da Serpe, Vali de Mouro— e as quintas do Queimado, perten- cente a D. Catharina Rita Pereira,— dce S. Julião e do Caldas, pertencentes a João Giar- cez Palha d'Almeida,— Barracas pertencesnte á Companhia das Lezírias do Tejo e Sadoo,— e Arneiros, a José Rodrigues Duarte Mdon- teiro. A Chorographia Moderna menciona taam- bem as quintas do Novaes, da Mina e do Conde. A Chorographia Portugueza mencionaa o olival do Queimado,— uma grande quinta crha- mada Aldeia de Pegas, pertencente ao coimde de Castello Melhor,— e outra denominaada Quinta do Rei, que era de Antonio Perejira da Silva. Parochias limitrophes— Triana ou Nosssa Senhora da Assumpção d'Alemquer, a O.».— Azambuja, a E. N. E.— e o Tejo a E.— beem como a linha férrea do norte, da qual dissta cerca de 200 metros,— 6 kilometros d'Aleim- quer,— 7 da Azambuja— 18 do Cartaxo — 40 de Lisboa— e 297 do Porto. Passa n'esta freguezia a estrada reall a macadam de Lisboa ao Porto— e está apprro- vado o projecto de uma estrada districttal que deve atravessar esta parocbia tann- bem. Esta freguezia comprehende parte da (de S. Bartholomeu do Paul a" Ott a, que foi e?x- tineta, passando a outra parte para a frre- guezia do Espirito Santo de Otta, pertein- cente a este mesmo concelho d'Alemqueer. V. 0'lla, vol. 6.° pag. 304, col. 2.» — e Paul d'0'tta no mesmo vol. pag. 508, col. 11.» Entre a povoação de Villa Nova da Rainrha e o Tejo ha uma grande campina, e para o lado d'Alemquer outra com 5 kilometros rjde VIL VIL 879 comprimento e 2 a 3 de largura K São fér- teis e produzem muitos cereaes, mas por serem muito planas e em grande parte ala- gadiças, são um viveiro de sesões e de fe- bres paludosas que já extinguiram a popu- lação da freguezia de S. Bartholomeu do Paul d'0'tta e que açoutam cruelmente a d'esta. Diz J. A. d'Almeida que os romanos cha- maram a esta freguezia Pugna Tagi, corru- pto vocábulo Punhete. Foi lapso. Confundiu esta parochia com a de Villa Nova de Constância, ou Punhete. Também o sr. José Maria Baptista diz que ha n'esta parochia uma feira annual a 19 de março, 2 em quanto que os apontamentos que recebi do próprio administrador do con- celho dizem que não ha n'esta parochia feira alguma. Os templos d'esta freguezia hoje reduzem- se á sua egreja matriz, que é muito antiga, pois n'ella se recebeu o condestavel D. Nuno Alvares Pereira com D. Leonor d'Alvim. Era então Villa Nova da Bainha uma grande povoação e villa, á qual el-rei D. Fernando, segundo se lé na Chorographia Portugueza, deii foral (Franklim não o men- ciona) concedendo-lhe o privilegio de não pagar jugada nem oitavos;— mas os caste- lhanos a destruíram quando retiravam da batalha d'Aljubarrota. Suppõe-se que a pobre villa esteve no oli- val do Queimado. Apenas pouparam a egreja matriz e junto d'ella algumas casas. Foi tão completa a destruição, que na lo- calidade nem a memoria se conserva de tal villa! Banham esta parochia os rios d'Alemquer e de 0'tta, que desaguam no Tejo, a distan- cia de 1:500 metros da povoação de Villa Nova da Rainha, á saida da qual teem uma 1 Carvalho diz que só na campina do la- do d'Alemquer semeavam mais de cem moios de trigo, no seu tempo,— e que tinha esta várzea um provedor, que era o juiz de fóra, com seu escrivão e um meirinho próprios. 2 Almeida menciona ainda outra feira an- nual de 2 dias, a 28 de julho. ponte de pedra, na estrada do Carregado, e duas azenhas. Producções dominantes— cereaes, vinho e azeite. Também cria bastante gado. O cholera morbus fez aqui muitas victi- mas em 1833 e 1834. Esta freguezia comprehende os montes de S. Pedro, que nada offerecem de notável. Tem uma eschola offlcial de instrucção primaria elementar para o sexo masculino. Na interessante Memoria sobre estudos prehistoricos em Portugal, publicada pelo sr. Carlos Ribeiro em 1878 e por elle offe- recida á nossa Academia Real das Seiencias, se lé, a pag. 19, o seguinte : a Não ha muito que nas proximidades de Bellas, no meio das estações da epochaneo- lithiea, encontramos objectos de quartzite trabalhados, d'envolta com fragmentos de pedra polida; e estes quartzites, pelo seu as- pecto e forma não differem dos quartzites trabalhados por mão d'homem, que nós en- contrámos também nos terrenos terciários e quartenarios de Villa Nova da Rainha, Bar- quinha e Ponte de Sor.» Do exposto se deduz que o chão d'esta pa- rochia foi habitado nos tempos prehistoricos da pedra polida, bem como grande parte da bacia hydrographica do Tejo e do rio de Odemira. V. Villa Nova de Mil Fontes e a Memoria citada. VILLA NOVA DA RAINHA— freguezia do concelho de Santa Comba-Dão, comarca de Tondella, districto e diocese de Viseu, na Beira Alta. Orago o Santíssimo nome de Jesus.— Fo- gos 150,— habitantes 620. Curato. Em 1708 era curato da apresentação da prior de Santa Maria de Treixedo, hoje Nossa Senhora da Assumpção do Treixedo, no an- tiquíssimo concelho d'este nome, comarca de Vizeu,— e tinha o dicto curato 70 fogos com 206 pessoas maiores e quarenta e seis me- nores, segundo se lé na Chorographia Por- tugueza. Em 1768, segundo se lé no Port. S. e Pro- fano, era curato da mesma apresentação,,— 880 VIL VIL contava 65 fogos — e rendia para o cura 30$000 réis, afóra o pé d'altar. Hoje tanto Villa Nova da Rainha como Treixedo são fregqezias do concelho de Santa Comba-Dão. É muito antigo este povoado de Villa No- va da Rainha e o seu território, pelo me- nos parte d'elle, deve ser mimoso e fértil, porque é banhado por um ribeiro, confluente do rio Dão, e demora no abençoado territó- rio do Valle de Besteiros, que produz muito milho, muito vinho e grande quantidade de laranjas, das melhores do nosso paiz. V. Besteiros, valle, vol. l.° pag. 393, col. primeira. Em 1210 D. Sancho I doou esta Villa Nova da Bainha, do Valle dé Resteiros, a Fernão Nunes — e confirmou a doação o seu mor- domo D. Gonçalo Mendes. Doe. de Lorvão. Nada mais posso adiantar porque, tendo passado muitas vezes em Santa Comba-Dão, nunea visitei esta Villa Nova da Rainha e, apesar das minhas reiteradas instancias, nem o sr. administrador do concelho nem o rev. paroeho até hoje se dignaram mandar-me apontamentos alguns. Além d'isso por fata- lidade nenhum dos meus mappas indica esta parochia ; — o diccionario d'Almeida apenas a mencionou peio titulo, como todas as chorographia3 que me cercam,— e o sr. José Maria Baptista nada pôde adiantar lam- bem por se haver perdido o relatório do Diccionario Geographico Manuscripto,- exis- tente na Torre do Tombo ! . . . Apontamentos recebidos á ultima hora : Esta freguezia não comprehende aldeias nem quintas ou casaes dignos de menção. Parochias limitrophes : — Dardavaz, Mu- raz, Tonda e Treixedo:— as 3 primeiras per- tencem ao coneelho de Tondella— e a ultima ao de Santa Combadão. Dista da séde do concelho 12 kilometros; —da séde da comarca 7;— 2 da estrada real n.° 8 da Mealhada a Vizeu, por Santa Com- ba-Dão;—14 da estação de Santa Comba- Dão, que é a mais próxima na linha da Beira Alta;— 49 da Pampilhosa, entroncamento da ' linha da Beira Alta na do Norte; — 100)0 da cidade da Figueira;— 181 de Villar Forrrmo- so ;— 156 do Porto— e 280 de Lisboa.' O ribeiro que banha esta freguezia t tem uma pequena ponte, tres moinhos para a ce- reaes, um para azeitona, e desagua no o rio Dão a distancia de 10 kilometros. As producções principaes d'esta paroeochia são:— milho, vinho, azeite, feijões, fructetas, gado e caça. Nunca foi villa e não tem edifícios c que mereçam especial menção. Tem cemitério contíguo á egreja matatriz. Abundam n'esta parochia vendedeiras is de queijos e de pinhões. Não tem outra industria. Ha n'esta freguezia uma serra bastatante elevada, mas de pequenas dimensões, a Serra da Senhora da Esperança, — assim o de- nominada por ter uma Capella da mesma a in- vocação de Nossa Senhora, com festata e grande romagem no dia 5 d'agosto. Não ha n'esta freguezia outra capellála — nem escola alguma. Com vista aos illustres vereadores de Samnta Comba-Dão. A egreja matriz é um templo modesto. o. VILLA NOVA DE REGUENGOS ou P RE- GUENGOS DE MONSARAZ — ou simplples- mente Beguengos, villa, freguezia e sédeie do concelho d'este nome na comarca do I Re- dondo, província do Alemtejo. V. Beguengos, vol. 8.° pag. 115, col. 1. 2.a in-fine. VILLA NOVA DE SANDE — ou simplples- mente Sande, — freguezia do coneelho e o co- marca de Guimarães, orago Santa Mamria, paradistineção das outras freguezias de ScSan- de (mais tres) pertencentes ao mesmo cecon- eelho e comarca. V. Sande, vol. 8.° pag. 88, col. 2.a VILLA NOVA DE SEIRA.-.Assim se ( de- nominava antigamente a freguezia actual al de Ceira ou Seira, no concelho e comarca a de Coimbra. V. Ceira, vol. 2.° pag. 266, in fine. Ao que já alli dissemos d'esta paroiebehia, vamos acerescentar algumas noticias impipor- tantes : VIL VIL 881 No archivo da camará municipal de Coim- bra se encontra entre os Documentos avul- sos (em papel) o processo das vistorias que» a requerimento do juiz de Seira, fez a cama- rá de Coimbra nas tomadias dos baldios e rocio3 d'aquella parochia, comprehendendo —os autos da vistoria e demarcação de 3i de maio de 1640 e de 30 de maio de 1642, — o despacho de 21 de junho de 1642, que os julgou por sentença — e algumas petições, embargos e outros documentos e termos, re- lativos ás dietas vistorias. Termina com o despacho de 21 de feve- reiro de 1643, que despresou os embargos e mandou dar cumprimento á sentença de 1642. No mesmo archivo se encontra entre as Cartas originaes dos infantes uma do infante D. Pedro, duque de Coimbra, datada de 14 de maio de 1439, dirigida ao corregedor Mendo Affonso d'Antas, havendo por bem o mandar cumprir a carta d'el-rei, seu pae, confirmada por el-rei, seu irmão, que das serventias das pontes, fontes e calçadas não escusava os caseiros e lavradores do bispo, cabido., mosteiros, egrejas e fidalgos da ci- dade e termo, ordenando que pela mesma forma servissem aos giros no corregi mento do caminho de Ceira os homens e caseiros dos conventos de S. Jorge e de Semide, sem embargo da escusa que lhes concedêra,— ao de S. Jorge pela singular devoção do pae d'elle infante para com o dito mosteiro;— ao deSemide por ser pobre e n'elle jazerem do- nas, filhas d'algo. No mesmo archivo se encontra no Liv. II das Nomeações dos Ofjiciaes da Camara, uma ordem (original) da monteria-mór do reino, com data de 13 de novembro de 1794, pe- dindo á camará informações com relação ao officio do monteiro-mor de Ceira. No mesmo archivo, fl. 213, v. do 1.° Livro da Correia, que comprehende os regimen- tos e posturas da cidade de Coimbra, feitos em 1554, se encontra a postura da ordenan- ça da pasagem daa barqua de seyra — ou a tabeliã dos preços da passagem na dita bar- ca, in illo te mpore,— coisa, muito interessan- I te hoje para os amadores de curiosidades históricas. No mesmo archivo e no Livro III das Cor- reias se encontra a fl. 258, v. uma carta re- gia de 2 de maio de 1716, participando á camará de Coimbra o nascimento de um in- fante,— e era seguida uma provisão do de- sembargo do paço com data de 15 de julho do mesmo anno, declarando que á mesma camará competia a eleição do juiz da vinte- tena de Ceira. No mesmo archivo se encontra no tomo 3.° do Registo, a fl. 269, v. o regimento da barca da passsagem de Ceira, feito em 23 de maio de 1573, muito curioso também. No mesmo archivo se encontra no tomo 33 do Registo, fl. 44 e 45, uma carta de no- meação do monteiro-mór dos lobos e mais bichos em Ceira, Castello Viegas e outros logares, datada de 1644. No mesmo archivo se encontra a fl. 396 do tomo 60 do Registo uma provisão do de- sembargo do paço, com data de 7 de novem- bro de 1832, dando ao juiz do tombo do mor- gado de Ceira, da condessa da Ribeira Gran- de, jurisdieção privativa em todas as causas com os emphyteutas e rendeiros do dicto tombo. D'aqui se infere a importância do morga- do que os condes da Ribeira Grande tinham» — e não sabemos se tem ainda, — em Ceira. No mesmo archivo se encontram a fl. 65, v. e 71 do Registo da Correspondência (n.° 7) os officios e edictaes que precederam o afora mento de certos baldios em Ceira. No mesmo archivo, a fl. 389, v. do tomo I do Registo da Legislação, se encontra uma provisão do desembargo do paço, com data de 25 de junho de 1773, ordenando que os caseiros dos morgados que a condessa da Ri- beira Grande, D. Joanna Thomasia, tinha em Ceira e Sarnache, não podessem recolher os fructos das eiras e lagares sem prévio aviso do rendeiro. No mesmo archivo, a fl. 202 do tomo 2.* do Registo da Legislação, se encontra uma provisão do desembargo do paço, com data de 19 d'abril de 1788, concedendo a Thomaz Joaquim da Motta— em sua vida somente — 882 VIL VIL a administração da barca de passagem no Mondego, chamada barca de Ceira, que era da corôa. Finalmente no mesmo arehivo e no mes- mo Registo da Legislação, a fl. 19, v. do to- mo 4.° se encontra uma provisão do desem- bargo do paço, com data de 3 d'abril de 1807, estabelecendo nas freguezias de Almalaguezi Castello Viegas e Ceira, á custa dos sobejos das sisas d'ellas, o partido de 15011000 réis para um facultativo que curasse os habitan- tes dos dictos logares e os pobres, de graça- VILLA NOVA DO SEPULCHRO-ou Villa Nova de Penalva. V. Sepulchro,—Trancozello—e Trancozel- los. VILLA NOVA DE SOUTO D EL-REI— ou Arneiros,— freguezia do concelho, comarca e diocese de Lamego. V. Arneiros, tomo 1.°, onde já se fallou d'esta freguezia; mas no supplemento desen- volverei amplamente aquelle artigo, o que agora não posso fazer, por falta de espaço. VILLA NOVA DE TAZEM — freguezia do concelho e comarca de Gouveia, districto e dioeese da Guarda, província da Beira Baixa. Priorado. Fogos 550, — habitantes 2:310. Orago Nossa Senhora da Assumpção. Em 1768 era priorado do padroado real, —contava 2i7 fogos— e rendia 650$000 réis. O censo de 1878 deu-lhe 506 fogos e 2:068 habitantes. Comprehende as aldeias ou povoações se- guintes:— Villa Nova, séde da freguezia, com 360 fogos, — Tazem, com 130 e Paçoinhos, com 60. Comprehende também os moinhos do Cu- vo e da Fidalga,— e as quintas de Lagares, Regadas, Ribeira e Reguengo, todas pouco importantes, porque a propriedade se acha aqui muito dividida. Freguezias limitrophes:— Cativellos a N.— Rio Torto a E.,— Lagarinhos a sueste,— La- ges e Girabolhos a O. Villa Nova, séde da freguezia, dista da al- deia de Paçoinhos 500 metros; — da de Ta- zem 1:500; — 7 kilometros da margem es- querda do Mondego;— 12 de Gouveia; — 16 da estação de Mangualde (a mais próxima) na linha da Beira Alta;— 60 da Guarda, pela estrada a macadam, — 99 pela linha feErrea da Beira Alta;— 145 da Figueira; — 1999 do Porto— e 323 de Lisboa. Esta é uma das freguezias do nosso » paiz que tem tido mais nomes differentes e 3 que mais dores de cabeça tem causado aos i nos- sos chorographos para a discriminareem e classificarem, vendo-se todos perplexos e 3 sem poderem sahir do labyrintho. Notem : Nos fins do século xm denominavva-se Villa Nova de Riba-Mondego, por estar, ccomo já dissemos, na margem esquerda do Mon- dego, no termo de Folgosinho, pelo que também se denominou Villa Nova de Fol- gosinho. Era então uma simples herdade ou qquin- ta de D. Guilhelmo, que lhe deu o 1.° f foral na era de 1220, anno de 1182. V. Casal r oes- te diccionario e Exaveaduras em Viterbbo. Hoje mal se acredita que pertencessise ao termo de Folgosinho, porque estavilla ? anti- quíssima é hoje uma pobre e obscura fre- guezia do concelho de Gouveia, alcandonrada na Serra da Estrella, cerca de 20 kilomeetros a E. de Villa Nova de Tazem, e terá hoje 3 ape- nas metade da população d'esta poroochia- Alem d'isso entre ella e Villa Nova de Trazem mettem-se de permeio muitas parochias.s, al- gumas das quaes foram desde tempos re-emo- tos villas e concelhos também, taes são í Gou- veia, Mello e Cabra. Desde os princípios do século xvi ddeno- minou-se também Villa Nova do Casal, \ por- que pertenceu á antiga Commenda do CGasal que tinha por cabeça a aldeia do Casal, , cer- ca de 18 kilometros a S. O. hoje da parooehia de Travancinha, concelho de Ceia. D. Manuel deu foral em Lisboa, a 221 de fevereiro de 1514, á dieta Commenda doo Ca- sal e a esta freguezia de Villa Nova, poois a dieta commenda e o dicto foral comprefehen- diam as terras seguintes:— Casal, Cativeiellos, Lageosa, Pereiro, Povoa da Rainha, Sanmei- ce, Travancinha, Varzia do Fundo e } Villa Nova, hoje Villa Nova de Tazem. Livro de Foraes Novos da Beira, fl. 333, v. col. 2.» VIL VIL 883 Depois se denominou também Villa Nova ] do Casal, porque até 1834 esta paroehia fa- zia parte do julgado do Casal, pertencente ao .termo de Geia,— julgado que comprehendia entre outras povoações Tazem e Paçoinhos. Passou pois esta paroehia (não sabemos quando) do concelho de Folgosinho, cerca de 20 kilometros a N. E., para o de Ceia, cerca de 15 kilometros a S.,— e para o jul- gado do Casal, paroehia de Travancinha, cer- ca de 18 kilometros a S. O. mettendo-se de permeio varias freguezias ! . . . Deixando o julgado do Casal e passando para o concelho e comarca de -Gouveia, não mais se denominou Villa Nova do Casal, mas simplesmente Villa Nova e também Villa No- va de Tazem (ainda hoje e não sabemos des- de quando) — titulo que tomou da visinha povoação de Tazem, hoje simples aldeia d'es- ta paroehia, mas muito antiga e que já foi povoação mais importante e matriz d'esta fre- guezia de Villa Nova. Ali se encontram ainda hoje claros vestígios da velha egreja, no lo- cal da capella de S. João. Do exposto se vê que esta freguezia de Vil- la Nova ou Villa Nova de Tazem, no conce- lho de Gouveia, já se denominou Villa Nova de Riba-Mondego, — Villa Nova de Folgosi- nho, e Villa Nova do Casal, mas nunca se denominou Casal. Também nunca foi villa,mas teve doisfo- raes, como dissemos supra, — um dado por D. Guilhelmo, outro por D. Manuel. Até 1882, data da ultima circumscripção diocesana, pertenceu ao bispado de Coim- bra; mas desde aquella data passou com to- das as freguezias dos concelhos de Gouveia e de Ceia para o bispado da Guarda. Atravessa esta freguezia a estrada mu- nicipal de Ponte Pedrinha a Gativellos, cuja extensão é de 10 kilometros. Passam também a 5 kilometros d'esta fre- guezia—do lado sueste, a estrada real da bei- ra, de Coimbra a Celorico, pela margem es- querda do Mondego e ponte da Murcella sobre o Alva, e a igual distancia, pelo lado nordes- te, a estrada a macadam de Gouveia a Man- gualde, atravez do Monte Aljão, grande bal- dio de Gouveia, passando o Mondego na pon- te Palhez e tocando na estação dos Cuvos, ou de Mangualde. Demora esta freguezia em terreno relati- vamente fundo e quasi plano, ou suavemente ondulado, entre a margem esquerda do Mondego e a pendente N. O. da grande Ser- ra da Estrella, cujo antemural é imponen- te e surge a distancia de 10 kilometros d*es- ta paroehia, para S. E. A egreja matriz é um templo modesto e pouco espaçoso, relativamente á grande po- pulação d'esta paroehia,— a mais populosa e mais importante do concelho, depois da vil- la de Gouveia. Ha também n'esta paroehia as capellas se- guintes : S. Miguel, S. Bartholomeu, Santo Antonio e Senhora dos Milagres, em Villa No- va, todas publicas, exceptuando a ultima;— S. Cosme e S. Damião, capella também publi- ca, elegante e muito bem situada, em Paçoi- nhos,—e S. Sebastião e S. João, também pu- blicas, em Tazem,— tendo a de S. João festa e romagem no dia do seu orago, 24 de ju- nho. Nenhuma das outras festas que hoje aqui se fazem merece especial menção. Ha também n'esta paroehia muitos edifí- cios decentes, mas nenhum notável,— e uma feira em Villa Nova, nas quintas domingas de cada mez. Foi sempre povoação aberta, sem visos de fortificação alguma, por estar em planície ; — pelo contrario foram fortificadas muit\s das povoações que estão no próximo ante- mural da Serra da Estrella, taes são Celori- co, Linhares, Gouveia e Ceia. Também nunca teve convento algum. Os mais próximos eram o do Couto, de freiras franciscanas, em Nabainhos, — o de freiras franciscanas também, na freguezia de Vinhó, — o do Espirito Santo, de frades francisca- nos, junto da villa de Gouveia, para O. — e mesmo na villa o Collegio dos Jesuítas, de- pois convento das freiras franciscanas d' Al- meida,—em seguida quartel militar— e por ultimo rezidencia dos condes de Caria, com vistas esplendidas e uma bella cerca. Ha em Villa Nova uma linda rua,deno mi- íimj 884 VIL nada de Antonio Mendes, formada por um lanço de estrada municipal de Ponte Pedri- nha a Cativellos, que atravessou a povoação e lhe deu muito realce. Denominaram-na de Antonio Mendes por gratidão para com o pre- sidente da camará que mandou fazer a dieta estrada,— o commendador e dr. Antonio Men- des Duarte e Silva, de Gouveia, um dos pri- meiros proprietários e industriaes d'este concelho e que Já foi deputado ás cortes, secretario geral do governo civil da Guarda e Governador Civil do mesmo districto. Ha também na grande povoação de Villa Nova um bom largo, junto da matriz, deno- minado da Egreja. N'elle se fazem as fei- ras. Banha esta freguezia um ribeiro que di- vide a povoação de Villa Nova em dois bair- ros e desagua no Mondego, no sitio de Por- to de Rei, cerca de 8 kilometros ao poente de Villa Nova. Tem uma ponte, de um só ar- co, denominada do Castello, na estrada de Ponte Pedrinha a Cativellos. Producções principaes:— vinho, azeite, ce- reaes e fruetas,— predominando o vinho, que é o melhor do concelho e gosa de justa fa- ma na Beira, como vinho de pasto. No ultimo anno em que se procedeu ao ar- rolamento do vinho para o lançamento da contribuição denominada subsidio litterario, verificou-se que esta parochia produzia vin- te e quatro mil hectolitros— ou 60:000 almu- des, de 40 litros 1 Hoje produz menos, por causa das muitas doenças que affectam os vi- nhedos de todo o nosso paiz, posto que a phylloxera ainda aqui não chegou. Pôde compular-se a sua producção actual em 16:000 hectolitros,— ou 40:000 almudes. Quando em 1850 a 1860 o oidium assolou os vinhedos do Douro e a aguardente attin- giu preços fabulosos, montaram-se n'esta fre- guezia tres machinas de queimar vinho, que fabricaram grande quantidade de aguarden- te para o Porto e Begoa. Não tem nem nunca teve uma fabrica de lanifícios, como outras freguezias d'este con- celho, que actualmente conta vinte e seis das dietas fabricas, algumas das quaes tem da- do fortunas importantes, nomeadamente as VIL da opulenta casa Rainhas, de Gouveia, hoje avaliada em quatro centos contos de réis ! ! t Produz esta parochia muita fructa de boa qualidade, principalmente castanhas, cere- jas, figos, abrunhos, peras, maçãs, pecegos, melões, melancias e nesperas japonicas. La- ranja muito pouca e muito azeda, por cau- sa da vizinhança da grande serra e por fal- ta de ravinas ou quebradas fundas. Tem abundância de granito para construc- ções e de mattas de pinho para lenha e ma- deira. A propriedade aqui está muito dividida, bem agricultada e é toda pertencente aos habitantes da parochia, muitos dos quaes possuem largos chãos fóra d'ella, pelo que esta parochia ó uma das mais ricas e prospe- ras da Beiral Os seus habitantes são muito religiosos, muito tractaveis, bem morigerados, respei- tadores das pessoas que consideram princi- paes, laboriosos e agenciadores. Costumam concorrer em grande numero ás feiras dos povos circumvisinhos, nas quaes vendem a retalho géneros de mercearia, fazendas bran- cas, vinho, etc. Com rasão se orgulha esta parochia de haver produzido bastantes homens notáveis. Mencionaremos apenas os seguintes : Francisco Henrique Toscano, ultimo ca- pitão-mór do Casal. Foi um cavalheiro respeitável e muito re- ligioso. Na egreja matriz se conservam ainda differentes alfaias dadas por elle. Pela sua bondade e cavalheirismo for- mava um verdadeiro contraste com o seu visinho e também capitão-mór, o tristemente celebre Jorge Botto, de Vinhó, que foi o açoite d'este concelho de Gouveia, muitos annos. No artigo Vinhó lhe daremos o logar de honra, que merecei Apesar de ser Francisco Henrique Tos- cano um cavalheiro d'extrema bondade, foi perseguido e roubado pela celebre quadrilha dos Brandões de Midões, 1 que foram a ver- 1 V. Midões, vol. 5.° pag. 211, col. VIL VIL 885 gonha da humanidade e o maior açoite das margens do Mondego e do Alva n'este sé- culo,—bem como os Marçaes de Villa Nova de Foseôa (Vide) nas margens do Alto Dou- ro I . . . O bom do F. H. Toscano seria victima dos Brandões, se o não defendessem os próprios liberaes, seus visinhos;— honra lhes seja ! O padre José Henrique Toscano, irmão d'aquelle eapitão-mór. Desempenhou muitos annos o cargo de vice-reitor do Seminário de Coimbra e foi elle quem salvou da rapacidade dos pseudo- liberaes de 1834 as riquezas d'aquelle esta- belecimento scientifico e religioso, como se aprazia em confessar o fallecido e virtuoso bispo-conde de Coimbra, depois cardeal-pa- triarcha de Lisboa, D. Manuel Bento Rodri- gues, sendo aliás tido como liberal, e o pa- dre Toscano como realista. Dr. Henrique do Couto, lente da faculdade de philosophia e director do Jardim Bota- nieo da Universidade muitos annos, pelo meado d'este século. Eugénio Accursio Ferreira, major de en- genheiros e director das obras publicas nas ilhas de S. Thomé e Príncipe, onde falleceu em 1881. O dr. Jeronymo Joaquim de Figueiredo* lente de medicina e pharmacia na Univer- sidade de Coimbra, sócio da Academia Real das Sciencias de Lisboa, etc, auctor da Flo- ra pharmaceutica, obra magistral n'aquelle tempo. Foi uma das victimas do cobarde morti- cínio que teve logar no dia 18 de março de 1828, junto de Condeixa Velha. V. vol. 2.° pag. 371. Nasceu na Muxagata, mas casou aqui,— aqui passava as ferias — e aqui nasceram os seus filhos seguintes : Oliveira do Hospital, vol. 6.° pag. 280, col. %.»—Taboa, vol. 9.° pag. 467, col. 2."— La Vendetta ou O Saldo de Contas, por Arsênio de Chatenay, Porto, 1880,— Várzea de Meruge vol. 10.° pag. 232, col. l.a— e nomeadamente Várzea da Candosa, vol. 10.° pag. 214 e se- guintes. O dr. Venâncio de Figueiredo, 1.° director geral dos telegraphos, logar que não chegou a exercer, porque a morte o surprehendeu. Albino Francisco de Figueiredo e Almeida, do concelho de S. Magestade, cavalleiro da Torre e Espada, coronel graduado do corpo de engenharia, bacharel formado em naa- thematica pela Universidade de Coimbra, lente da Eschola Polytechnica, deputado ás cortes em 1856, sócio da Academia Real das Sciencias de Lisboa, etc. Nasceu n'esta párochia no dia 4 d'oulu- bro de 1803 e morreu de um ataque apo- pletico em Lisboa, sendo deputado e ainda solteiro K Publicou as obras seguintes : Elementos de Arithmetica ... em 1828,— Projecto da reforma da Inslrucção Publica, em 1836, — Curso de Mechanica Racional, em 1839, etc. Antonio Joaquim de Figueiredo e Silva, bacharel formado em philosophia pela Uni- versidade de Coimbra, doutor em medicina pela Universidade de Montpellier, professor do Instituto Agrieola, Sócio e secretario per- petuo da l.a classe da Academia Real das Sciencias de Lisboa, etc. Achando-se em Wisbaden, na Allemanha, foi accomettido de um ataque de alienação mental e suicidou-se no dia 14 d'agosto de 1857. Foi homem muito illustrado e auctor de varias obras indicadas por Innoeencio. Para a sua biographia veja-se a Gazeta Medica de Lisboa, tomo VI, 1858, pag. 163 e seguintes. Padre Francisco Pires da Costa, presbí- tero da congregação de S. Camillo de Lel- lis, etc. Foi geral da sua ordem, orador distin- 1 Vive em Paranhos, concelho de Ceia, um sobrinho, — único representante d'esta família notável pela intelligencia e outras prendas. Pelo menos o Venâncio (diz o meu informador) fez parte da sociedade secreta dos Divodignos, à qual se attribuem as mor- tes perpetradas no Cartaxinho, em 18 de março de 18281... V. Condeixa Velha, logar citado. 886 VIL VIL ctissimo, preconisado, e não sabemos se elei- to, bispo durante o governo de D. Miguel, dignidade que não chegou a exercer, por- que a morte o surprehendeu. Foi homem muito virtuoso e de superior illustração, auctor do Novo Ministro dos en- fermos... Lisboa, 1815,— e do Opúsculo ca- nónico. . . em deíeza da doctrina do S. P. Bento XIV. . . Lisboa, 1817. Ainda hoje (1885) se conserva n'esta pa- roehia de Villa Nova de Tazem um exem- plar do Oriente, de José Agostinho de Ma- cedo, annotado pelo padre Francisco Pires da Costa. Cerca de 2 kilometros a N. O. da matriz d'esta parochia ha uma caverna, denomina- da Cova da Maria do Bento, pelo facto se- guinte : Haverá 45 annos desappareceu d'esta fre- guezia uma mulher, Maria do Bento. Decor- reram seis mezes sem haver d'ella noticia. Suspeitou-se que tivesse sido assassinada por um cunhado, de nome Simão, com quem andava mal avinda. A justiça procedeu a de- vassa e minuciosas indagações sem nada descobrir; mas passado meio anno soube-se que effectivamente a pobre mulher fôra as- sassinada pelo referido Simão, como reve- lou um criado d'este, por nome Antonio de Paula, que narrou o facto, dizendo que, de- pois de estrangulada, a lançaram na dieta caverna. Ali se encontrou o cadáver da infeliz, já em adiantada decomposição; — o assassino foi immediatamente preso— e em seguida julgado e condemnado a degredo perpetuo para a Africa occidental, onde falleceu. Ha n'esta freguezia tres escolas offleiaes de instrucção primaria elementar, — uma para o sexo masculino, outra para o femini- no, diurnas,— e outra nocturna, para adultos do sexo masculino. As do sexo masculino são pelo systema de João de Deus— e o resultado obtido tem si- do surprehendente! Ha em Villa Nova uma pequena estala- gem. Cerca de 500 metros ao nascente d'esta parochia se encontram ainda hoje claross ves- tígios d'uma povoação muito antiga, ttalvez romana, inclusivamente sepulturas aboertas na rocha ; não ha porém memoria de Uerem ali apparecido pedras com inscripções,, nem moedas ou medalhas. O clima d'esta parochia é benigno nGO ve- rão e áspero no inverno, sendo a temppera- tura sujeita a rápidas variações. Predominam aqui doenças agudas e cchro- nieas do apparelho respiratório— e temn ha- vido também aqui algumas epidemias dde fe- bre typhoide, mas benigna. O cemitério d'esta parochia está junfcto da egreja matriz e foi feito em 1793 á custta do benemérito prior— Manoel da Costa dTAn- drade Almeida,— que falleceu em 1854, , con- tando 100 annos de idade! Em 1834 as convulsões politicas obrriga- ram tão benemérito prior a deixar a freegue- zia, com grande pesar dos seus parochiaanos. Foi reintegrado em 1848 e continuou aa pa- rochiar até 1854, data em que falleceu.. Era natural d'Alpedrinha,— cantava muito bem — e tinha sido capellão— cantor na patiriar- chal. Esta freguezia é séde de um partido mu- nicipal, que foi provido pela primeira* vez em 1872 no actual facultativo, Joaquim IBor- ges Garcia de Campos, alumno da Escthola Medico-Cirurgica do Porto, cujo curso (con- cluiu em 1871. É s. ex.a natural d'esta freguezia, esava- lheiro de muito merecimento e de graande influencia n'este concelho; muito desiinte- ressado, muito dedicado pela pobresai— e hoje senhor da melhor fortuna d'esta fre- guezia e de uma das melhores d'este comee- lho,— pois casou em 28 de janeiro do (cor- rente anno com a ex.ma sr.a D. Maria ffian- dida d'Almeida Rainha, filha do fallecidoo in- dustrial, capitalista e grande proprietaario, Joaquim d'Almeida Rainha e de D. Cllara Rita d'Almeida Rainha, donos da opukenta casa Rainhas, de Gouveia, hoje a primeeira do districto da Guarda I . . . Tem a sr.» D. Maria Cândida apenas edois irmãos, ambos solteiros,— D. Maria Guilher- mina d'Almeida Rainha e Julio Cesar dVAl- VIL VIL 887 meida Rainha, bacharel formado em direito e licenciado (com o 6.° anno) em theologia pela Universidade de Coimbra, cavalheiro de superior illustração, que já foi o 1.° advo- gado d'esta comarca de Gouveia, em quanto quiz advogar, e deputado ás cortes em va- rias legislaturas. Esta freguezia foi muito rendosa no tem- po dos dízimos. Os seus priores eram pa- droeiros das freguezias de Lagarinhos e Ca- tivellos, cujos curas apresentavam. Ainda hoje rende mais de 400^000 réis, provenien- tes do pé d'altar, fóros e juro de inscripçòes. Tem além d'isso rezidencia,— um pequeno passal contiguo-100#000 réis de côngrua (derrama em dinheiro) para o parocho— e 40$000 réis para o coadjutor. O seu prior actual é o rev. Manuel Fer- nandes Toscano, filho d'esta parochia. Em 1811 os francezes do exercito de Mas- sena, quando retiravam de Torres Vedras pela ponte da Murcella, atravessaram e as- solaram esta freguezia e roubaram todas as pratas da egreja matriz, incluindo tres lâm- padas, cruzes processionaes, thuribulo8, va- sos, etc. Toda a população fugiu, apenas constou que os francezes se approximàvam, mas ainda poderam haver ás mãos o cirur- gião Thomé Lopes de Campos (avô materno do sr. dr. Joaquim Borges Garcia de Cam- pos) e o mataram. Também esta freguezia soffreu muito em 1810, quando por aqui estacionou o exer- cito anglo-luso, esperando o exercito fran- cez, pois n'esta freguezia acampou muito tempo uma divisão inglesa. Em 1826 estiveram também n'esta fregue- zia o batalhão académico e as milícias de Coimbra,— forças que faziam parte da divi- são do general Claudino. Os académicos ilhéus e brazileiros admi- raram muito um grande nevão que presen- ciaram,—phenomeno meteorológico extra- nho para elles. Dos vereadores actuaes d'este concelho pertencem dois a esta parochia,— Francisco Henrique Toscano, effectivo, e José Borges Garcia, substituto. Dos 40 maiores contribuintes pertewcem a esta parochia 8 :— dr. Fernando Henriques Toscano, filho do antigo eapitão-mór Fran- cisco Henriques Toscano,— dr. José d'Almeida Pedroso,— dr. Joaquim Borges Garcia de Campos,— Joaquim Pinto Tavares —Manuel d'Almeida Liz e Vasconcellos — Gaspar do Couto Almeida Valle —Joaquim Ferreira dos Santos— e Francisco Henriques Toscano. Um dos membros mais distinctos da res- peitável família Toscano, d'esta freguezia, é o sr. dr. Fernando Henriques Toscano, juiz de direito, actualmente em Cabeceiras de Basto. Nasceu n'esta freguezia em 1840;— foi ad- ministrador do concelho de Ceia —juiz ordi- nário em Oliveira do Hospital,— delegado do procurador régio em Alcácer do SaL Ceia e Fundão,— e juiz de direito na comar- ca de Santa Cruz (ilha da Madeira) -d'onde foi transferido para Cabeceiras de Basto. É um magistrado digníssimo. Também é natural d'esta freguezia o sr. dr. Gaspar Borges Garcia Pereira, bacharel formado em theologia e direito, administra- dor da casa da marquesa dé Monfalim e advogado, rezidente no Porto. São também naturaes d esta freguezia os 8 presbyteros seguintes :— Manuel Fernan- des Toscano, prior,— Joaquim Vaz dos San- tos, coadjutor,— José Garcia, José do Couto Martins, Gaspar José d'Oliveira, Antonio Ferreira d' Almeida, vigário actual de Cati- vellos, José Pinto Ferreira Marvão, de 81 annosde idade— e Francisco Pinto Ferreira Marvão, de 81 annos de idade também, tio do. antecedente. É também natural d'esta freguezia o sr. José d' Almeida, alferes da Guarda munici- pal do Porto. «Ha finalmente n'esta freguezia, no sitio chamado Pero Moleiro, (diz o meu informa- dor) um penedo enorme que, impulsionado sem grande esforço, faz doze a dezeseis os- cillaçoes.» Aqui temos pois nós mais ura dos raros penedos oscillantes que ainda existem na península t 888 VIL No supplemento a este diccionario,-- se Deus nos conservar a vida e elle estiver ainda a nosso cargo,— daremos circumstan- ciada noticia do tal Penedo oscillante; entre- tanto, para elle chamamos a attenção dos ar- cheologos. É-lhes fácil o visital-o. porque está na margem esquerda do Mondego, distante cerca de 16 kilometros da estação de Man- gualde (caminho de ferro da Beira)— e passa a quatro kilometros d'elle a estrada a ma- cadam da dieta estação para Gouveia, ser- vida por diligencias. Lembro ainda aos archeologos que tam- bém por essa occasião podem visitar um dolmen que se encontra, ainda perfeito e com mesa, servindo de choupana para abrigo de madeiras, na freguezia de Rio Torto, limi- trophe de Villa Nova de Tazem, a poucos metros de distancia da nova estrada da Bei- ra, ao norte d'ella e ao poente da ribeira de Rio Torto. Vê-se perfeitamente da estrada da Beira. O tal Penedo oscillante é de fórma cónica: —tem de circurnferencia máxima 15m,45 e de altura 3 metros. Assenta sobre outro pe- nedo, que se eleva do solo 60 centímetros; —a sua base é approximadamente espheri- ca— e a face superior é plana, mas ligeira- mente inclinada para o norte. O dicto penedo está em uma pequena planura, entre um pinheiral e uma vinha; — é de granito;— o seu volume deve medir approximadamente 30 metros cúbicos— e, apesar d'isso, uma só pessoa com pequeno impulso imprime-lhe 12 a 16 oseillações bem sensíveis I . . . Oscilla para todos os quadrantes— e mais . facilmente de norte a sul, ou vice- versa. Não é accessivel por nenhum dos lados. Dista do Mondego ou da Ponte Pulhez 8 kilometros— 3 da ribeira de Cativellos— e 1:500 metros da egreja matriz, para N. E. No sitio denominado Cafail, cerca de 500 metros ao norte do dicto penedo, ha vestí- gios de povoação antiquíssima. Ali se teem encontrado muitos tijolos de grande espes- sura e outras velharias,— e a pequena dis- tancia se vêem ainda algumas sepulturas VIL abertas na rocha, havendo lembrança dou- tras muitas. Sepulturas d'esta espécie são triviaes ain- da hoje no nosso paiz. N'este diccionario se faz menção de muitas— e muitas nós temos visto; mas nunca vimos tantas em tão pe- queno espaço como na freguezia de Moreira de Rei (concelho de Trancoso) junto da egreja matriz. Ainda hoje ali se contam mais de 50 de diversas dimensões e orientações, todas abertas em grandes penedos de gra- nito. V. Moreira de Rei n'este diccionario e no supplemento. Os dolmens são muito mais raros— e mais raros ainda os penedos oscillantesl . . . O dolmen indicado supra já foi (me pa- rece) reconhecido em 1881 pela secção ar- cheologica da Expedição identifica, que ex- plorou a serra da Estrella n'aquella data; —mas o penedo oscillante d'esta freguezia, ou de Pero Moleiro, jazeu sempre ignorado e desconhecido até hoje. .VILLA NOVA DA TELHA — freguezia do • concelho da Maia, comarca, districto e dio- I cese do Porto, na província do Douro. Reitoria. Orago Nossa Senhora da Expe- ) ctação — ou Santa Maria;— fogos 210,— al- mas 850. Em 1623, segundo se lê no Catalogo dos bispos do Porto, denominava-se simples- mente Villa Nova;— era, reitoria da apresen- tação do convento cruzio de Moreira— e CpDUva 162 habitantes. Em 1687, segundo se lê nas Constituições do bispo D. João de Sousa, denominava se Villa Nova da Telha,- e contava 58 fogos com 231 habitantes. Em 1706, segundo se lê na Chorographia Porlugueza, era vigairaria perpetua apre- sentada pelo prior do couvento de Moreira; —contava 60 fogos;— rendia para o vigário 130^000 rs.—e para o convento 220^000 rs. Em 1768, segundo se lê no Portugal S. e Profano, era priorado da apresentação do mesmo convento;— rendia 200^000 réis— e contava 67 fogos. Em 1857, segundo se lê no Almanach Eccl. do Porto, contava 185 fogos e 659 al- mas,—rendia 200#000 réis— e era seu rei- tor collado o rev. José Narciso Loureiro. VIL Finalmente o censo de 1878 deu-lhe 157 fogos e 710 habitantes. Comprehende as povoações seguintes : — — Villa Nova, ou Aldeia, a principal, Egre- ja, Quires, Cambados, Lagiellas, Ponte, Mon- te, Arrabalde, Prozella, ou Perozella e Villar do Senhor. Freguezias limitrophes:— Avelêda e Vil- lar do Pinheiro, a N.— Moreira a S. — Villar do Pinheiro a E.— e Perafita e Lavra a 0. Atravessam esta freguezia de sul a norte a estrada a macadam do Porto a Villa do Conde e a linha férrea (via reduzida) do Porto á Povoa de Varzim e Villa Nova de Famalicão. Tem esta linha na extremidade sul d'esta parochia a estação de Pedras Ru- j bras, distando d'ella a egreja matriz cerca de 1 kilometro,— 6 da séde do concelho (po- voação do Castello, na freguezia de Santa Maria de Avioso) — 12 do Porto — e 349 de Lisboa. A egreja paroehial é um templo humilde ; e pobre, mas muito antigo, bem como esta parochia, pois no seu archivo se encontram registradas duas doações feitas a esta egreja uma de 1353, — outra de 1355. Constava esta ; de tres maravedis velhos de prata lavrada, impostos em vários casaes e bens, com a obrigação dos abbades dizerem certas e de- terminadas missas. Das dietas doações se eonclue que esta pa- roquia é anterior ao século xiv — e que em 1355 era abbadia, — mas abbadia já annexa ao convento de Moreira, em virtude da re- nunciação que d'ella fez aos cónegos regran- \ tes o abbade e dr. Belchior Fernandes Vele- jo, que se recolheu ao dicto mosteiro no an- no de 1298, sendo bispo do Porto D. Sancho , Pires e prior de Moreira D. João Pires, seu ; sobrinho. Conservou porem esta parochia o titulo de abbadia até que o prior do convento de Moreira, D. Gregorio, por bulia do Papa Sixto V, datada de 30 d'agosto de 1586, uniu ao mosteiro os dízimos d'esta freguezia, pas- sando os seus parochos a intitular-se reito- res. O mosteiro tomou posse d'ella em 21 de junho de 1589. VIL 889 Em 1544 era abbade d'esta freguezia o rev. Domingos Fogaça, fidalgo da casa do infan- te D. Henrique e seu governador no arcebis- pado d'Evora. Tudo isto consta de um docu- mento interessantíssimo, cujo original se con- serva no archivo d'esta parochia. E' um Tombo dos bens, encargos e rendimentos d'ella, ordenado pelo dicto abbade e feito pelo tabellião Manuel Camello em 18 d'abril de 1544. Bem quizeramos dar aqui um longo ex- tracto de tão curioso documento, mas a ne- cessidade de aligeirar e resumir nos obriga a passar adiante. Indicaremos apenas muito summariamente um dos itens, em que se mencionam as diversas propriedades que ao tempo pertenciam a esta egreja, com as suas medições e confrontações: « Item. Maais numa bouça que se chama Cruz, que anda a pão, que está fóra da die- ta area; e levará de semeadura a terça que anda a pão. 1 que está cercada por vallo so- bre si, que tem em comprido cento e vinte varas de medir, de cinco palmos a vara, e parte do aguião (norte) com terras do mon- te que ha um outeiro e cerqua de Santo Alei- xo, e do vendaval (sul) com terras da dieta cerqua da dieta egreja, e do soão (leste) com a dieta cerqua, e do abrego 2 com a estrada publica que vai para o Portó e Villa de Con- de.» D'este item se infere que ao norte da die- ta bouça existiu uma capella de Santo Alei- xo com sua cerca, talvez restos d'antiga for- tificação, pois estava em um outeiro e junto d'uma estrada publica importante (a do Por- to para Villa de Conde). A dieta bouça é hoje denominada bouça do padrão, nome que parece revelar a pas- sagem d'«ma estrada romana por aquelles sitios — e a existência d'um marco milliar n'aquelle ponto. Nem da capella, nem da cerca ou fortifica- 1 Não diz quanto levava de semeadura. 2 O tabellião queria indicar o poente, mas claudicou, pois abrego nos séculos xv e xvi significava o mesmo que vendaval ou o sul. Veja-se em Viterbo — Aguião, Vendaval, Soão e Abrego. 890 VIL VIL ção, nem do marco existem hoje memorias ou vestígios alguns na localidade. Diz mais o dicto Tombo que o caseiro da- ria ao abbade 40 alqueires de trigo, 10 de centeio, 10 de milho, uma marrã e metade do vinho que as vinhas dessem cada anno> medido á bica do lagar, sem o abbade fazer com isso despesa alguma;— e tambemo Tom- bo menciona as doações que citámos supra. Depois que esta parochia deixou de ser abbadia^ teve entre outros reitores os seguin- tes;— D. Antonio de S. Thomaz d'Araujo Rangel, pelos annos de 1733,— Antonio Mon- teiro,—Manuel Moreira,— Antonio da Costa Villas Boas, — Antonio Gonçalves,— e Anto- nio José de Pinho, natural de S. Vicente de Pereira. Quando em 13 de setembro de 1772 o be- nemérito bispo do Porto D. Fr. Joào Raphael de Mendonça visitou estaegreja, era aqui rei- tor Manuel Vicente de Pinho, sobrinho do antecedente;— a este succedeu também um seu sobrinho, Antonio José Alvares de Pinho, — e a este o rvd.° José Narciso Loureiro, na- tural da freguezia de Rezende, bispado de Lamego. Parochiou esta freguezia 30 annos e falleceu a 5 de janeiro de 1864. Jaz no cemitério parochial sob uma la- pide com a inscripçào seguinte : FOSTE NO MUNDO ADORADO, UM MODELLO FOSTE AQUI; MAS DEUS TE QUIZ A SEU LADO, QUE RESTA ? CHORAR POR TI. Foi o bom padre Loureiro, de Rezende, o ultimo reitor collocado que teve esta paro- chia. Succedeu-lhe o rev. Francisco José da Silva Arozo, da freguezia d'Avelleda, encom- mendado, — e a este o rev. Joaquim Antu- nes d'Azevedo, de Villar do Pinheiro, digno parocho na actualidade, e também encom- mendado. O primeiro nome d'esta freguezia foi sim- plesmente Villa Nova ou Villa Nova da Maia, depois Villa Nova da Telha em razão da mui- ta telha que se fabricava aqui em differen- tes pontos e mesmo junto da matriz, como re- velam ainda hoje os nomes de vários sitios d'esta parochia, taes são — os de Campo da Telheira, Campo do Forno, Casa do Telhado, etc. D'aqui foi telha para o quartel de Santo Ovidio, do Porto. Para a egreja e convento de Leça do Balio foram também no anno de 1798 por uma vez 38 moios de telha— e por outra 29 carros, importando toda em 75:400 réis, segundo a conta assignada pelo mestre telheiro, Manuel José Pereira, de Villar do Paraiso; — ha muito, porem, que n'esta pa- rochia cessou o fabrico da telha. E' também para notar-se que, tendo havi- do aqui tantas fabricas de lelha, algumas no próprio passal, — e tendo ido d'aqui telha para o Porto e para as parochias interme- diarias e circumvisinhas, a residência paro- chial esteja ainda hoje coberta de colmo ?!.. Vem a propósito o dizer se: — em casa de ferreiro espeto de pau. O documento mais antigo que encontra- mos, em que se dá a esta parochia o titulo de Villa Nova da Telha, são as Constituições de D. João de Souza, impressas em 1690. O chão d'esta freguezia é plano, saudável e fértil. As suas producções principaes são milho, vinho de enforcado e hervagens, pois engorda e exporta muito gado bovino para a Inglaterra. Também teve grandes devesas de casta- nho, creadase destinadasexpressamente para arcos de pipas, — arcos ou vergas, que expor- tava em grande quantidade e no valor de muitos contos de réis para o Porto. Consti- tuía este ramo de negocio a sua principal ri- queza, mas hoje se acha muito decaído— já com a doença que desde o meado d'este sé- culo affectou os nossos castanheiros todos, — já com a substituição dos arcos de pau pelos de ferro. As devesas de castanho d'esta parochia ri- valisavam com os lindíssimos pomares de castanheiros da vi 11a e da serra de Monchi- que, no Algarve. Também, como já dissemos, foi aqui ou- trora muito importante a industria do fabri- co da telha,— industria hoje completamente extincta. VIL VIL 891 Atravessa e banha esta parochia o peque- no ribeiro Cambado, que rega os seus cam- pos e lameiros, e que lambem move alguns moinhos de cereaes, mas somente no inverno. São naturaes (Testa freguezia os srs. Joa- quim Dias de Souza Arozo, da grande casa de Quires, bacharel formado em direito e ta- bellião do concelho de Bouças, rezidente em Mathosinhos, — e Antonio Moreira do Couto, presidente da camará municipal da Maia, fa- cultativo muito distincto, residente na sua ca- sa de Villar do Senhor. Foi também natural d'esta parochia o abastado lavrador (proprie- tário) Antonio da Silva Salgueiro, muito co- nhecido e respeitado no Porto pelo seu no- bre caracter e pela sua avultada fortuna. É também natural d'esta freguezia e n'el- la rezidente Antonio Ferreira Moreira, bom esculptor. Foram feitos por elle dois altares da egreja parochial de Leça da Palmeira (os primeiros, entrando, parallellos um ao outro) — e foi também obra sua um dos altares da egreja matriz de Lavra. Em 1859 nasceu aqui uma creança do se- xo masculino que foi immediatamente en- terrada por se suppor que nasceu morta, ou para se occultar o seu nascimento. É certo que a pobre creança esteve enterrada algu- mas horas; — depois (não sabemos bem por- que motivo) desenterraram-na e, sendo en- contrada ainda com vida, baptisaram-na; — foi-lhe dado o nome de Manuel — e produziu um rapaz travesso e tão vigoroso que dava soco bravio (diz o meu informador) em to- dos os outros moços seus visinhos que lhe pozeram a alcunha de desenterrado e se di- vertiam com elle, charoando-o por esta alcu- nha. Embarcou ha annos para o Brazil e faz parte da grande colónia portugueza que po- voa aquelle império. Em 1834 appareceu n'esta freguezia e n'el- la fixou a sua residência um homem de má catadura, que se empregava no officio de ta- noeiroe que foi durante alguns annos o terror d'estes povos. Era valente e perverso, indigi- tado como salteador e assassino e capitão de uma quadrilha de ladrões que n'aquelle tem- po infestou este concelho. Deram-lhe a al- cunha de Casaca de Ferro, porque chamava ao dinheiro ferro (fégo, dizia elle)— e usava habitualmente de uma casaca enorme, cujos botões eram luzentes peças d'ouro de 7$500 réis, cada umalf . . . Ignoramos o verdadeiro nome, bem como a naturalidade e o fim do tal casa de ferro. Esta freguezia é pobre,— já pela decadên- cia do seu eommercio dos arcos e da sua in- dustria da telha, — já porque é muito pro- pensa a demandas e pleitos de toda ordem. As justiças do concelho e da comarca teem aqui um excellente património I . . . Não nos consta que esta parochia fosse em tempo algum villa; o que sabemos é que a sua povoação principal,— Villa Nova,— es- teve em tempos remotos um pouco mais para S. O. da egreja matriz actual, no sitio hoje denominado Cortinhas de Figueira. Al- guém se lembra ainda de ver ali uns par- dieiros ou restos do antigo povoado. Com a mudança da directriz da estrada publica, deixaram aquelle local e se transferiram para junto da nova estrada, levantando ca- sas de um e do outro lado d'ella. A egreja matriz também esteve um pouco mais para N. O. no sitio das antigas casas do caseiro do passal, onde teem apparecido sepulturas. Ao rev. sr. Joaquim Antunes Gonçalves, de Villar do Pinheiro, digno reitor actual d'esta freguezia de Villa Nova da Telha, agradeço os apontamentos que muito gene- rosa e espontaneamente me enviou. VILLA NOVA DE THUIAS-freguezia do concelho do Marco de Canaveses, districto e diocese do Porto. V. Thuias, vol. 9.° pag. 574, col. 1.» VILLA NOVA DE TURQUEL, hoje sim- plesmente Turquel, — villa e freguezia do concelho d'Alcobaça, districto de Leiria, pa- triarchado de Lisboa, na Extremadura. Ao que já dissemos d'esta parochia no ar- tigo Turquel, vol. 9.» pag. 760, acrescenta- remos o seguinte: Alem da celebre gruta da Casa da Moura, ha no termo d'esta freguezia a gruta que de- 892 VIL VIL nominam Cova do Cabeço da Ladra, umi ki- lometro ao norte da Cosa da Moura,— e a do Algar do Estreito, um kilometro ao poen- te da do Cabeço da Ladra. Em 1881 foram estas grutas cuidadosa- mente exploradas pelo illustre geólogo e an- thropologo Carlos Ribeiro, que mandou n'ellas proceder a consideráveis trabalhos de excavação e movimento de terra e en- controu na do Algar do Estreito muitas pre- ciosidades archeologico-pre-historicas, taes como — facas de silex,— machados, lanças, placas, amuletos e outros objectos de pedra polida,— estyletes e vários utensílios perfu- rantes de osso,— vasos d'argilla*de diversas formas e tamanhos,— pedaços de crystal,— ossadas humanas e muitos outros objectos que passaram a enriquecer as collecções da secção geológica da Direcção geral dos tra- balhos geodésicos. No artigo Turquel dissemos que foi dada a esta villa carta de povoação, na era de 1352 (1314 de J. Ch.) pelo real mosteiro d'Alcobaça. Por ser um documento muito interessante e curioso, daremos aqui alguns tópicos da dieta carta, traduzida do seu original latino que esteve no cartório do mesmo real mos- teiro, no livro VI dos Dourados, fl. l.a e se- guintes. a Em nome de Deus, Amen Nós, Fr. Pedro, abbade da congregação do Mosteiro d* Alcobaça. . . de commum consentimento e beneplácito nosso damos e concedemos umas certas nossas terras próprias no circuito da nossa Granja de Turquel, assim como se divide com os povos d'Evora, pela parte do norte, e pela parte do oriente pela balisa que vae para a Alagôa das Ovelhas, e d'ahi pela mesma balisa que vae para a Alagôa da Ereira e caminho publico que vem de Otta, como melhor se vê dos marcos ali mettidos; — d'ali á Cabeça Rasa;—e da Cabeça Rasa desce além de S. Bartholomeu e encaminha para a ribeira que vae direita a Marondás, até o termo d'Evora, excepto a sobredicta Granja de Turquel com sua vinha, com seus olivaes e com suas hortas e pomares e com suas mattas. . . E aquella parte de terra que fica á Granja está dividida e determinada pelo nosso celareiro, e demarcada pelos ses- meiros para todos os povos da nossa povoa- ção ou villa, a qual queremos que se chame — Villa Nova de Turquel,— e para os seus successores, os quaes nunca devem ser me- nos de quarenta, continua e pessoalmente residentes n'ella, para ser por elles possuída para sempre, com tal condição e pacto con- vém a saber: «Que todos elles e os seus vindouros nos paguem e aos nossos successores annual- mente a quarta parte de todo o pão e legu- mes que tiverem na eira, e do linho no ten- dal. Outro sim das vinhas que houverem de ser postas e dos olivaes. . . e de todos os fructos das arvores que tiverem ou planta- rem, nos dêem a quinta parte, assim como fazem os d'Evora. ... E da azeitona do oli- vedo que lhes damos, tanto elles como seus successores, metade em paz e salvo na ei- ra E tomarão para si as dietas nossas terras, fazendo ahi depois do sexto anno ca- sas, no tempo que lhes está assignado, mo- rando pessoal e continuamente na dieta Villa Nova pelos predietos seis annos «E não lhes seja licito emprasar, ou ven- der, ou doar, nem d'outro modo alienar as dietas nossas terras á Clérigo, Militar, Pa- gem d'armas, ou Religioso ou Serraceno, ou Judeu, nem a outro que nos não pague o nosso fôro. . . «Outro sim não devemos fazer outra po- voação, nem pôr outros agricultores entre a predicta nova povoação e a serra da Men- diga, excepto que o mestre de Turquel e os frades que ahi residem e guardam as ove- lhas e outros animaes nossos possam no so- bredicto terreno fazer suas casas, como lhes parecer conveniente. . . . «Feita em Alcobaça, no primeiro dia de agosto da era de 1352.» V. O Mosteiro d" Alcobaça, por M. Vieira Natividade, Coimbra, 1885, pag. 70 a 73, on- de se encontra a dieta carta na sua integra. VILLA NUNE — freguezia do concelho e comarca de Cabeceiras de «Basto, districto e diocese de Braga, província do Minho. Vigairaria. Fogos 70— habitantes 285. Orago Santo André, o Apostolo. VIL VIL 893 Em 1706 era vigairaria da apresentação do9 frades Jeronymos, de Coimbra; contava apenas 36 fogos;— pertencia ao mesmo con- celho de Cabeceiras de Basto— e á grande comarca de Guimarães. Em 1768 era vigairaria da mesma apre- sentação;—rendia para o vigário 40$000 rs. — e contava 55 fogos. Comprehende as aldeias seguintes, todas pequenas e pouco importantes:— Villa Nunef sede da parochia,— Gandra, Valle, Bouça, Casa Nova, Silva, Tojaes, Frontelheiro ou Forno Telheiro, Muro, Picoto, Val de Mos- teiro (?) Morouço de Cima, Morouço de Bai- xo, Outeiro, Boçada, Crujeira, Bouça da Crujeira, Simães, Carqueijal, Vinha da Can- cella, Rezidencia, Oleiros, e Mulher Mor- tal... Freguezias limitrophes:— Arco de Baúlhe, a N. — Canedo, a S. — Faia, ao poente — e Athey, ao nascente, além do Tâmega, no concelho de Mondim de Basto. Demora na margem direita do Tâmega, do qual dista (a egreja parochial) 2 kilome- tros, — 12 da séde do concelho e da comarca, —15 de Freixieiró, séde do concelho de Ce- lorico de Basto,— 42 de Guimarães, 50 das Caldas de Vizella,— 65 de Braga,— 98 do Porto (pela linha férrea de Guimarães)— e 135 de Lisboa. Até 12 de novembro de 1875, data da creação da comarca de Cabeceiras de Basto, Villa Nune pertencia ao concelho e julgado de Cabeceiras, comarca de Celorico de Basto. A egreja matriz é pequena, singela, po- bre e de pouco rendimento, — tanto assim que o vigário ó encommendado, — rezide na freguezia de Canedo,— e não se faz aqui festa alguma digna de menção. A mesma freguezia é também pequena e pobre — e abundante de larápios ou ralonei- ros. Producções dominantes: — vinho bom de mesa, bem conhecido por vinho de Basto, — eereaes e excellente fructa de pevide e ca- roço, inclusivamente laranjas, como em to- das as freguezias da margem direita do Tâ- mega. Também cria bastante gado bovino, mas volume x não tem vaccas. Compra os novilhos em Bar- roso. As quintas principaes d'esta parochia são tres : a de Oleiros, de Francisco Lopes Pe- reira do Lago,— a da Granja, do dr. Fran- cisco Teixeira Machado— e a da Crujeira, de D. Balbina Teixeira Machado. São estes também hoje os seus primeiros proprietários. Os seus melhores edifícios são a nobre casa da Granja, em Villa Nune, brazonada, — a de Oleiros— e a da Crujeira. Não ha n'esta freguezia estrada alguma a macadam. Procede-se no momento aos es- tudos de uma estrada districtal que, partin- do da real, n.° 32 (do Porto a Villa Pouca d'Aguiar) do Arco de Baúlhe, deve atraves- sar esta freguezia de Villa Nune em direc- ção a Fermil, e entronear n'esta aldeia com a estrada que a liga á séde do concelho e comarca de Celorico de Basto (a villa de Freixieiró). A estrada a macadam que hoje mais se approxima d'esta parochia é a real, n.° 32, indicada supra. Não tem aula alguma, nem sequer d'ins- trucção primaria elementar! Não admira pois que n'ella abundem larápios e rato- neiros, por falta de conveniente educação e de instrucção. Com vista aos illustres vereadores. Também n'esta freguezia não ha memoria de convento ou mosteiro algum, posto que uma das suas aldeias se denomina Val de Mosteiro. O Tâmega corre aqui fundo, por entre margens escabrosas, e por isso pouca utili- dade presta á agricultura; mas a parochia tem bastantes nascentes e arroios que ferti- lisam os seus campos e pomares. Na egreja matriz ha uma capella de S. José, digna de especial menção. Foi edificada em 1792 por Miguel Teixei- ra, da casa do Valle, d'esta parochia. Este Miguel Teixeira matou um seu visi- nho por questões sobre agua de rega;— em seguida fugiu para o Brazil, onde juntou boa fortuna;— depois mandou construir a dieta 57 894 VIL VIL eapella e concorreu para a fundação da con- fraria de S. José e Almas, que ainda hoje existe, com a pia intenção de que Deus lhe acceitaria estes actos em desconto do seu crime. Tem a mencionada confraria hoje o capi- tal de um conto e quatrocentos mil réis, mas deveria ser muito maior, se as administra- ções anteriores não fossem, como desgraça- damente teem sido, péssimas ( Na dieta eapella se acha gravada uma inscripçâo, commemorando o nome do fun- dador e o facto a que alludimos. Foi aqui paroeho durante 44 annos o rev. José Caetano Lourenço de Miranda, que fal- leceu no dia 4 de novembro de 1876, dei- xando de si uma memoria honrosissima. Viveu e morreu pobre, mas muito con- tente e satisfeito. Repartiu sempre todas as suas economias pelos necessitados sorrindo, nunca dizendo que era esmola, mas empréstimo, traduzindo em factos este formoso pensamento : — quem dá aos pobres empresta a Deus. Que nobresa de caracter ! Que santo mi- nistro do Senhor 1 Não havia uma única pessoa n'esta fre- guezía e nas circumvisinhas que o não co- nhecesse e o não adorasse. O seu funeral foi concorridissimo e alta- mente commovedor, não faltando um único dos seus freguezes a pranteal-o. Era a viva imagem do bom pastor. Por vezes se lhe offereceu ensejo de trans- ferir-se para outra egreja mais rendosa, mas nunca teve forças para separar-se dos seus queridos paroehianos. Deus o tenha em bom logar. No supplemento ao artigo Langroiva, pe- quena e pobre villa do concelho da Meda, distrieto da Guarda, apresentaremos também aos leitores um dos nossos decanos na vida parochial e paroeho digníssimo, virtuosís- simo e por extremo esmoler também,— an- cião venerando e venerado por todos, — o rev. dr. José Caetano Lopes Bandarra— que apesar de ser uma illustração, formado em direito e em theologia,^e podendo oceupar um dos mais altos postos na gerarchia eccle- siastiea, viveu sempre com a maior moodes- tia e singelesà;— é simples vigário ha pperto de 50 annos n'aquella pobre villa;— munca pretendeu outro beneficio melhor— e, salem de nunca receber um real de côngrua i nem de emolumentos dos seus parochianojs,— com elles e com a pobresa tem gasto a for- tuna que herdou dos seus maiores !. . . É um paroeho inimitável,— verdadeiroo as- sombro de abnegação e virtude 1 Dava honra aos tempos apostólicos ei aos séculos dourados do christianismo— e sseria hoje a gloria do episcopado portuguezz, se na distribuição das mitras se attenddesse unicamente ao mérito dos agraciados. VILLA PASCACIA— ou Villa Pascoal. . As- sim se denominou em tempos muito reemo- tos uma villa ou aldeia junto de Bragga e pertencente á freguezia de Santa Ollaya (Eulália). Confinava com Dume e Colina, seguindo as Inquirições d'el-rei D. Ordonho. Memorias de Argote, vol. 4.° pag. 359J. VILLA PLANA— ou Villa Chã, villa que estava junto do monte Marão. Já existia no tempo dos suevos, poiss foi mencionada na divisão feita por el-rei Tlheo- domiro e na bulia do papa Pascoal I. V. Villa Chã do Marão — e Argote, voi>l 4.° pag. 359. VILLA DA PONTE— freguezia do conceelho e comarca de Montalegre, distrieto de Willa Real, diocese de Braga, província de Trraz- os-Montes. Reitoria. Orago Santa Maria Magdale3na; —fogos 72,— habitantes 298. Em 1706 esta freguezia contava SO fogços e- estava annexa á de Santa Marinha de Ferrral. Em 1768 era curato da apresentaçãoo do abbade de Santa Marinha;— contava 485 fo- gos— e rendia 70$000 réis. O Mappa das dioceses deu-lhe 68 fogODS — e 422 habitantes; mas com certesa foi laipso, porque ninguém acredita que em 68 fogos haja tal cifra de habitantes. Comprehende apenas duas povoaçòess — Villa da Ponte, séde da parochia, — e ffius- tello, — ambas mencionadas na Chorograpohia Portugueza, — a 1." com 30 fogos — e ai 2.* com 20. VIL VIL 895 Freguezias limitrophes: — Pondras, a S. O —Alturas de Barroso, a S. E.— Negrões, a N. E.— e Fervidellas a N. 0. Desde 1840 até 1853 foi do julgado e con- celho de Ruivães, comarca de Montalegre, mas por decreto de 31 de dezembro de 1833 passou para o concelho de Montalegre. O seus templos reduzem-se á egreja ma- triz e a uma capella publica, da invocação de S. Mamede, na povoação de Bustello. Por provisão de 23 de junho de 1812 lhe foi concedida uma escola de instrucção pri- maria. Demora esta freguezia em um amplo valle, cortado a meio pelo rio Regavão (uma das nascentes do Cavado) que rega e fertilisa os seus campos, — move differentes moinhos— e é abundante de peixe miúdo. O seu solo é muito fértil— e as suas pro- ducções principaes são milho, feijões, cen- teio, batatas, linho e feno. Villa da Ponte, a séde da parochia, está na margem esquerda do Regavão J— e dista de Montalegre 22 kilomelros para O. S.— 18 de Ruivães,— 65 de Braga, pela estrada realn.0 28, de Braga a Chaves e que toca em Sala- monde e Ruivães;— 120 do Porto— e 457 de Lisboa. Um pouco ao norte da séde d'esta fregue- zia ha sobre o Regavão uma boa ponte de pe- dra, 2 que dá passagem para um ramal da estrada n.° 28 de Braga a Chaves e para a de Montalegre a Basto. Por esta freguezia passava uma via mili- tar romana de Braga a Chaves— e segue com pequenas variantes o mesmo traçado a nova estrada real a macadam, n.° 28, já construí- da desde Braga até Ruivães — e da Portella de Brunhedo até Chaves,— mas ainda em es- tudos desde Ruivães até á Portella de Bru- nhedo. Era natural d'esta parochia o bacharel Do- 1 Os mappas e a Chorographia Moderna dizem Rabagão; mas hoje na localidade to- dos dão a este rio o nome de Regavão. 2 D'esta ponte, ou talvez d'outra mais an- tiga, tomou esta parochia o nome de Villa da Ponte. mingos Martins Pereira, que foi advogado era Montalegre e falleceu nos fins do ultimo sé- culo. Também nasceu n'esta freguezia e na mes- ma povoação da Villa da Ponte, em 1859, o bacharel Domingos Gonçalves Pereira;— con- cluiu a sua formatura em direito na Univer- sidade de Coimbra, em 1879;— seguiu a ma- gistratura— e é actualmente delegado do pro- curador régio de Villa Pouca d' Aguiar. Ao meu illustrado collega o rev. sr. José dos Santos Moura, abbade de Caires, agra- deço os apontamentos que se dignou en- viar-me. VILLA DA PONTE— villa e freguezia do concelho de Sernancelhe, comarca de Moi- menta da Beira, districto de Vizeu, bispado de Lamego, na Beira Alta. V. Ponte, vol. 7.° pag. 160, col. 2.a in-fine onde já se fallou d'esta freguezia; aprovei- tando porém o ensejo, acerescentaremos o seguinte : Esta parochia é formada por uma .povoa- ção compacta e única. Não comprehende al- deias, mas somente alguns moinhos e as quintas de Feveros, Cárdia, Carvalhal e S. Roque. Freguezias limitrophes:— Cernancelhe ou Sernancelhe, séde do concelho, a S.— Frei- xinho a N.— Ferreirim de Fontearcada a E. — e Penso a O. Dista da séde do concelho 2 e meio kilo- melros,—14 de Moimenta da Beira, séde da comarca,— 55 de Viseu, séde do districto,— 45 de Lamego, séde do bispado— 57 da es- tação da Regoa, na linha do Douro,— 161 do Porto— e 498 de Lisboa. Tem para a Regoa, por Moimenta da Beira e Lamego, uma estrada real a macadám, que segue d'esta villa também para Tran- coso, Celorico da Beira e Guarda,— e desde 1883 já tem construídos também alguns ki- lometros de uma estrada districtal que, par- tindo da estrada real supra deve ir á esta- ção do Pinhão, na linha do Douro, pela villa de S. João da Pesqueira. Está construída apenas desde aquella es- trada real até Ferreirim, atravessando esta parochia de Villa da Ponte. 896 VIL Os antigos e humildes paços do concelho d'esta villa são hoje propriedade particular, mas em frente d'elles ainda se conserva o pelourinho. Os templos d'esta parochia reduzem-se á egreja matriz e duas capellas publicas,— além do formoso sanctuario de Nossa Se- nhora das Necessidades. A egreja é antiga, mas bem conservada, e tem interiormente uma capella particular. As duas capellas publicas estão á entrada da villa, vindo da ponte que lhe deu o no- me,—uma de S. Sebastião, a leste, antiga e com alpendre,— outra do Senhor dos Paços, a oeste e nova, á beira da estrada real e com luzida festa no 1.° domingo d'agosto. Em um alto, pittoresco e vistoso cabeço de granito que se ergue na margem esquer- da do Távora, fronteiro á villa e distante d'ella apenas 1:500 metros, demora o for- moso santuário. A ermida de Nossa Senhora das Necessi- dades.é ampla, elegante, bem tractada e de recente construcção;— tem um átrio espa- çoso de fórma quadrilonga, com parapeito e pyramides de granito;— e para o átrio se sobe por uma escadaria da mesma pedra, bem traçada em zig-zagues ou lacetes com pateos para descanço. Ao lado da ermida se ergue uma casa no- va, onde rezide o ermitão,— e a meio da di- eta casa uma torre com sinos, também nova. Tem 2 festas com grande romagem no dia 15 d'agosto e na 2.a feira depois da Paschoa, sendo numeroso o concurso de romeiros não só das circumvisinhanças, mas até da pro- víncia do Minho, podendo calcular-se o pro- ducto das offerendas em 80 a 100 mil réis por anno. Como o local é muito aprazível e muito aceessivel, por estar a poucos metros da es- trada real e da nova estrada districtal, mui- tas das famílias principaes circumvisinhas costumam vizital-o por mera distracção du- rante o anno. No artigo Ponte pôde ver-se a descripção das outras dependências d'este sanctuario. Tem a villa 2 edifícios brasonados— um í VIL pertencente aos herdeiros dft Sebastião de Gouveia Osorio— e outro pertencente ao dr. Luiz Cardoso de Lucena Araujo Coutinho. Ha também aqui um edifício relativamente notável, mais antigo e com capella, mas não brasonado. Pertenceu a José Joaquim d'Al- meida Leilão e é hoje da sua filha e herdei- ra, rezidente em Canas de Senhorim. Merece também especial menção, pela sua antiguidade e tradições a casa que foi de Salvador de Sousa Rebello, filho do dr. Bal- thazar d' Almeida Rebello e de D. Angela de Sousa, de Paredes da Beira. Salvador de Sousa Rebello, bacharel for- mado em direito pela Universidade de Coim- bra, foi por D. João V nomeado juiz de fóra das villas de Almodôvar e de Padrões, em novembro de 1723;— em 1737 ouvidor e pro- vedor de Faro— e mais tarde ouvidor da ca- pitania do Pará. Foi também provedor das obras, orphãos, capellas, hospitaes, confrarias e albergarias e contador das terças da cidade da Guarda, por alvará de 18 de julho de 1744,— e des- embargador da relação do Porto por alvará de 15 d'abril de 1750. Teve Salvador de Sousa duas filhas— D. Innocencia de Sousa Rebello e D. Thereza de Sousa Rebello. A l.a casou com Lourenço Carrilho Leitão de Castro e não teve suc- cessão;— a 2.» casou com João Bodrigues Ferreira de Sousa, capitão do regimento de milícias de Lamego, e teve 3 filhos— José de Sousa Rebello da Costa Azevedo, D. Ma- thilde e D. Joaquina. José de Sousa foi major do mesmo regi- mento de milícias de Lamego, condecorado com as medalhas da guerra peninsular, e casou com D. Margarida Augusta de Noro- »ha e Menezes, que ao tempo vivia na Villa da Ponte com o seu tio dr. Antonio da Cu- nha Noronha e Menezes, abbade d'esta villa e afamado jurisconsulto, pertencente á nobre família Noronhas, de S. Chrystovam de No- gueira, no concelho de Sinfães, hoje extin- cta. D. Margarida Augusta era irmã dos tres presbyteros seguintes : VIL VIL 897 i.o_padre Lourenço Antonio Pinto da Cunha, um dos 5 infelizes que foram cobar- demente assassinados em Viseu durante os excessos que enlutaram o nosso paiz na 2.» metade d'este século. 2. °— Padre Antonio da Cunha Noronha e Menezes, cavalleiro da ordem de Christo e reitor de Cabril, concelho de Castro d'Ayre. 3. °— Padre Francisco Pinto Correia de Noronha, que fez parte do corpo docente do extincto Collegio dos Nobres, em Lisboa. D. Margarida de Sousa deixou dois filhos —D. Maria José de Sousa Azevedo e Noro- nha e José de Sousa Rebello da Costa Sobral e Azevedo, cavalheiro muito obsequiador e muito tractavel. Casou com sua prima D. Henriqueta Augusta de Lemos Azevedo; da nobilíssima casa dos Azevedos de Paredes da Beira e da quinta do Ribeiro, irmã de Marianno de Lemos d'Azevedo Carvalho e Sousa, hoje residente em Villa Nova dou- rem,—cavalheiro respeitabilissimo pela sua graude fortuna, pelo seu nascimento e mais ainda pela nobreza do seu caracter. V. Pa- redes da Beira, vol. 6." pag. 487— e Villa Nova d' Ourem. José de Sousa e D. Henriqueta não tive- ram successão— e vivem na sua casa de Riodades, concelho de S. João da Pesqueira. Como reminiscência do tempo em que esta villa foi dos nobres condes da Ponte, ainda hoje aqui se vê o brasão d'elles em uma pa- rede contigua á velha casa da camará e em differentes marcos de pedra, de mais de um metro d'allura, indicando a linha divisória entre o antigo termo d'esta villa e das paro- chias do Penso e da Sarzeda. Tem esta villa a meio um largo, que de- nominam Praça, seis pequenas ruas calce- tadas—e uma boa ponte de granito sobre o Távora, com 3 olhaes e não quatro, como se disse no artigo Ponte. Banham esta freguezia o Távora, confluen- te do Douro,— e o regato de Medreiro, que passa ao sul da villa e desagua nó Távora, junto da ponte. Ha n'este ribeiro um pontão e 4 moinhos para cereaes. Ha na villa uma eschola official de ins- trucção primaria elementar para o sexo masculino — e alem do Távora, junto da ponte e da estrada real, uma pequena hos- pedaria ou casa de pasto. Esta villa, por estar em terreno plano, nunca foi fortificada. Também não consta que appareeessem n'ella ou no seu termo sepulturas abertas na rocha, nem moedas romanas, mas teemi-se encontrado em muitas das parochias cir- cumvisinhas. VILLA POUCA— aldeia da freguezia de Arnoia, concelho e comarca de Celorico de Basto, dislricto e diocese de Braga. V. Arnoia, vol. 1.° pag. 238, X. Ha n'esta aldeia de Villa Pouca excellen- tes aguas férreas, que ainda não estão de- vidamente exploradas e analysadas, mas já os povos vizinhos fazem uso d'ellas com grande vantagem, bebendo-as. Houve n'esta aldeia, em tempos muito re- motos, um cavalheiro importante, chamado Pedro Peres, segundo se lé na interessan- tíssima Descripção de Baste que o sr. D. José de Moura Coutinho, penúltimo bispo de Lamego, da nobre casa do Telhô (veja-se esta palavra) deixou manuscripla,bem como 18 livros in-folio sobre genealogias. É hoje possuidor d'estas preciosidades bi- bliographicas — e de toda a grande livraria da casa do Telhô — o sr. dr. Joaquim Ber- nardino Cardoso, da casa de Toiando, n'esta parochia, e hábil jurisconsulto. Comprehende mais esta freguezia d'ár- noia as aldeias seguintes:— Corredoura, Vil- lalba, Villa Verde, Castello, antiga séde do concelho de Basto,— Souto Maior, Chélo, Salmães, Carvalho Verde, Cima de Villa, Ferreiros, Cerqueda, terra natal de Coneti- lia Retezindes, que fez a primeira doação para a fundação do convento benedictino d'Arnoia,— Habaldo ou Arrabalde, uuteiro- Coelhos, Boucinha, Arnoia (Arnoia vetus) Senra, Lourido, Taipa, Cêgoa (antigamente Chega) Serrazinho, Cruz de Baixo, Cruz de Cima, Travassos, Travas3Ínho, Alcácer, Es- tribaria, Paço, antigo solar dos Mouras Cou- tinhos da casa do Telhô e d'outros Mouras, de Basto,— Lage, Tornadouro, onde está a ca- sa da Vista Alegre, que foi de Manuel José 898 VIL VIL de Vasconcellos e hoje é do seu filho, o rev. Plácido Augusto de Moura e Vasconcellos, cónego e vice-reitor do Seminário, em La- mego,—S. Jorge, Lama, Villar, com feira mensal no dia 30 de cada mez,— Torre, Le- vada, Fôjo, Santo Thyrso, Pombal, Padim, hoje cása de D. Josepha Alves Lopes, casada com Agostinho Alves da Cunha, possuidor do extineto convento e cerca dos frades de Arnoia — Figueira, Casinha, Temperas, Ca- bo, Souto, Pereira, Casal de Nino, Gandra, Levada, Mosteiro e Casa Nova. Comprehende também muitas casas e quintas importantes. Mencionaremos apenas as seguintes :—l.a Telhô, que foi dos Mou- ras Coutinhos e é hoje de D. Joaquina Re- bello Teixeira, natural da Veiga, freguezia da Cumieira, concelho de Santa Martha de Penaguião. A mesma senhora possue hoje também a grande quinta contigua á casa de Telhô por compra que fez á herdeira de D- Antónia de Moura Coutinho, ultima repre- sentante da nobre casa do Telho— herdeira que era também do Douro e parenta da sr.a D. Antónia. 2. a- Casal. Foi de José Pinto de Gondar e Motta e é hoje do seu parente Antonio de Sousa. 3. a— Casal de Nino. Pertence hoje ao dr. Francisco Teixeira da Motta. 4. " — Toiando. É hoje do dr.' Joaquim Bernardino Car- doso, já mencionado, possuidor da grande livraria da casa de Telhô e dos preciosos manuscriptos deixados pelo sr. D. José de Moura Coutinho. Sendo o sr. D. José ainda deão em Lame- go, em 1834, e vendo os excessos de toda a ordem, que assolavam o nosso paiz n'aquella data, recolheu-se á sua casa do Telhô, certo de que todos a respeitariam, como respeita- ram, e ali se conservou até 1842, data em que regressou a Lamego. Foi durante aquelles 8 annos que s. ex.a, aproveitando alguns trabalhos dos seus maiores, escreveu a Descripção do antigo concelho de Basto— e os 18 grandes fólios so- bre genealogias,— um dos mais importantes nobiliários que se escreveram em Portugal n'este século! Era s. ex.a um genealogista consummado e muito auctorisado— pelos seus vastos co- nhecimentos na especialidade,— pela nobre- sa proverbial do seu caracter— e pela sua alta posição como bispo, pelo que nos gran- des pleitos sobre sueeessão de vínculos os tribunaes superiores muitas vezes o consul- taram e regularam os accordãos pela opi- nião de s. ex.s 5. a— Bouça. Foi do dr. José Joaquim Teixeira da Motta e é hoje do seu filho Antonio Augusto Tei- xeira da Motta. 6. a— Casinha. De Joaquim Augusto de Moura e Vascon- cellos S 7.a— Taipa,— de Joaquim Alves Machado. í — ] Os melhores edifícios são os de Telhô, Toiando, Casal, Casal de Nino e dois pala- cetes na povoação de Arnoia, — um que foi de Francisco da Cunha Coutinho e é hoje do seu herdeiro Carlos Maria da Cunha Cou- tinho, de Santa Marinha do Zêzere, em Baião, — e outro que foi de José Joaquim Alves de Andrade e Vasconcellos e é hoje do seu genro Avelino Leite de Sampaio. São brasonados os do Telhô, do Casal, do Paço e de Santo Andou (Abdon) que foi dos Pintos Ribeiros e pertence hoje, por compra, ao dr. Joaquim Bernardino Cardoso, da casa de Toiando. As festas prineipaes que hoje se celebram n'esta parochia são as da Semana Santa,— S. João Baptista (o padroeiro) e Coração de Maria. Conta hoje esta parochia 482 fogos— e 1:960 habitantes. Suppòe-se que tomou o nome de Arnoias ou Arnoia de Arnaldo de Baião, seu funda- dor—e que anteriormente se chamava S. João do Ermo. Também se suppõe que esteve aqui no tempo da oecupação romana a cidade de Celiobriga, (hoje Celorico de Basto) á qual se refere uma inscripção encontrada em uma pedra da egreja de Santa Senhorinha de Ca- VIL VIL 899 beceiras de Basto, segundo se lê no tomo 1.° das Memorias d'Argote, pag. 317 a 319. A dieta inscripção é a seguinte : m p. caes J O. HÀDR. AN. PONT. M AUG. PYO FURNYUM APROC. V I T. A VEGETI. Segundo Argote, quer dizer : «Tito Valério Vegeeio, superintendente das calçadas, dedicou esta memoria ao im- perador Elío Adriano, pontifice máximo au- gusto pio. O dr. Hubner 1 dá esta mesma inscripção e outra encontrada nas ruinas do mosteiro de Santa Comba, na freguezia de S. Miguel de Refoios;— completou-as e disse que reve- lam positivamente a existência de uma po- voação municipal ou cidade romana por es- tes sitios. A 2.a inscripção citada pelo dr. Emilio Hubner é a mesma que se encontra sob o n.° 258, a paginas 115, no Portugalliae Ins- criptiones Romanae do dr. Levy Maria Jor- dão, mas com algumas variantes. Em nenhuma das citadas inscripções se encontra o titulo da cidade, a que se refe- rem, mas tanto Argote nas suas Memorias, como o dr. João de Barros nas suas Anti- guidades d'Entre Douro e Minho, dizem que era Celiobriga (hoje Celorico de Basto) a ca- pital dos povos celerinos, que por ali estan- ciaram. Ptolomeu na 2.a Taboa da Europa, eap. VI, a menciona na descripção da chan- cellaria de Braga, a 6 gr. e 43 m. de longi- tude—e 20 m. de latitude. Alguém diz que estava perto dos rios Ce- Ihe e Celinho, outr'ora denominados Celium e Celiolum, como se lô na doação de Muma- dona, segundo Estaço nas suas Antiguidades de Portugal: — Inter Celium et Celiolum. Finalmente, o Concilio Lucense menciona i Noticias Archeologicas de Portugal, pag. 80-81, na traducção da Academia. entre as parochias da diocese de Braga treâ denominadas Ceio, Celiolis Celiotão. «.Pre- sumo que alguma d'es-tas povoações era a antiga Celiobriga*— diz Argote. V. Celorico de Basto— e Villa Nova de Freixieiro. VILLA POUCA D'AGUIAR— villa, fregiue- zia, séde de concelho e de comarca, disitri- cto de Villa Real, diocese de Braga, provín- cia de Trazos-Montes. Reitoria. Orago o Salvador;— fogos 410 —habitan- tes 1:808. D. Antonio Caetano de Lima em 1736 deu- lhe 182 fogos e 612 habitantes;— o Portugal S. e Profano em 1768 deu-lhe 187 fogos;— Almeida em 1866 deu-lhe 347 fogos— e o ultimo recenseamento 397 fogos e 1804 ha- bitantes. Tem sido pois constante o augmento da sua população. Desde 1736 até hoje (1885) —ou nos últimos 149 ânuos, a sua popula- ção accusa um augmento de 228 fogos e 1:196 habitantes, — promettendo continuar na mesma progressão, porque o seu clima é saudável, posto que bastante frio no inverno. Aqui não ha pântanos, nem arrosaes, nem febres endémicas, como nos campos ^Avei- ro, de Coimbra e de Leiria;— pelo contrario, esta villa tem ar puro e excellente agua po- tável e para rega. Além d'isso está muito vantajosamente situada na importantíssima estrada real, n.° 5, da Regoa a Verim, por Villa Real de Traz-os-Montes, Villa Pouca, Pedras Salgadas, Vidago e Chaves —estrada servida por diligencias e que atravessa pelo centro, de sul a norte, a villa de que nos oc- cupamos, formando uma bella rua,— a do Cruzeiro, que é hoje a melhor da villa,— e o campo ou praça de Luiz de Camões. Tem já construída e explorada por dili- gencias também outra bella estrada real a macadám para o Porto, por Basto, — e em construcção mais 3 estradas a macadam :— uma districtal para Murça, atravessando as importantes freguezias de Jalles;— outra- real para Mirandella—e outra municipal para Boticas. Note- se que e3tá também projectada, ha muito, uma linha férrea que, partindo (da li- 900 VIL VIL uha do Douro, nas proximidades da estação da Regoa, deve ir até Chaves e Verim, pelos Valles do Corgo e do Tâmega, approximan- do-se de Villa Real de Traz-os-Montes e de Villa Pouca d'Aguiar,— bem como dos im- portantes estabelecimentos balneares das Pedras Salgadas e de Vidago *. Esta villa em 1706, segundo se lê na Cho- rographia Portugueza, era séde do antigo concelho d'Aguiar, que pertencia á grande comarca de Guimarães e contava 1:750 fo- gos em 12 freguezias:— a da villa, que era reitoria e commenda da ordem de Christo, — Tellões, Soutello, Santa Martha da Monta- nha, S. Martinho de Bornes, Vrea de Bor- nes, Valloura, Pensalvos, Affonsim, Parada de Monteiros, Bragado e Capelludos. O seu governo civil era formado por um juiz do eivei e crime, vereadores, procura- dor do concelho, um juiz dos orphãos com seu escrivão, um alcaide e um meirinho. Hoje este concelho comprehende mais 4 freguezias (além das 12 mencionadas) que são :— Alfarella de Jalles 2, Gouvães da Ser- ra, Tres Minas e Vrêa de Jalles. Total do concelho : Freguezias 16 Fogos (pelo ultimo recenseamento).. 3:603 Habitantes 16:055 Superfície em heetares 36:792 Prédios inscriptos na matriz 34:712 Pagou no ultimo anno económico : De contribuição predial. . . 6:795$845 réis. De renda de casas e sum- ptuária 717,0475 réis. De contribuição industrial. 1:010$370 » De decima de juros 889#094 » 1 Ha bem poucos dias, o conde de Villa Real, deputado ás cortes constituintes que estão funccionando n'esta data, apresentou na camará um projecto para a construcção d'esta linha do valle do Corgo. 2 Alfarella de Jalles, ainda hoje uma das freguezias mais importantes d'este concelho, foi villa e concelho próprio, formado pela freguezia do seu nome e pelas de Vrêa de Jalles e Trez Minas. Vide. I Comprehende também esta comarca o) con- celho de Ribeira de Pena, que tem ; Freguezias g Fogos (pelo ultimo recenseamento). 11:834 Habitantes 83:412 Superfície em hectares 133:414 Prédios inscriptos na matriz 66:730 Total d'esta comarca : Freguezias 22 Fogos 5kí37 Habitantes 24i:467 Superfície em hectares 50):206 Prédios inscriptos na matriz 411:442 Esta freguezia de Villa Pouca d'Agntiar comprehende a villa do seu nome corai as ruas do Cruzeiro, boje a melhor,— Dirceita, Toural, da Cadeia e o Campo de Luiz dei Ca- mões. Comprehende também no seu termo ass al- deias seguintes:— Cidadelha, S. Paio, Nfose- do, Guilhado e Freiria. A Chorographia IPor- tugueza menciona também as aldeiass de Falperra e Condalo—e a Chorographia Mo- derna acerescenta :— Mejota, Santo Anlomio, Quelho, Castanheiro Redondo, Quarto do Negro, 1 Cima da Rua,— os casaes" de Con- dado, Lavadouros e Silveiras— e 37 moimhos de eereaes movidos por agua, quasi trados habitados. Freguezias limitrophes :— Santa Mairtha da Montanha a O.— Tres Minas a lestce — Soutello do Valle ao sul,— Affonsim a Ní. O. e S. Martinho de Bornes a N. E. Concelhos limitrophes: — Boticas e Chaaves a N.— Villa Real e Sabrosa a S — Valle Pas- sos a N. E. -Murça a S. E.— e Ribeirai de Pena a O. Nós já estivemos n'esta villa (em setemibro de 1883) de passagem para as Pedras Sal- gadas, Vidago, Chaves, Verim, Carrazedo) de Montenegro, Mirandella, Bragança, Villa Flor, Villariça, Moncorvo, etc. Demorámo-nos em Villa Pouca d'Aguiiar 1 Castanheiro Redondo e Quarto do Nfe- gro são dois bairros da villa, sendo o piri- meiro muito maior do que o segundo. VIL VIL 901 apenas uma hora, mas impressionou-nos muito agradavelmente a sua excepcional to- pographia. Está entre duas montanhas, que correm parallellas de norte a sul e formam o ex- tenso e lmdo valle de Villa Pouca, que se prolonga na mesma direcção e parece ca- vado artificialmente como uma grande trin- cheira de i a 2 kilometros de largura e de 15 a 20 de comprimento, com suave declive a partir de Villa Pouca— tanto para o sul, ou para o lado de Villa Real,— como para o norte, ou para o lado das Pedras Salgadas, occupando a villa o centro do grande valle e precisamente o vértice do angulo das duas vertentes, uma das quaes, a do norte,— leva as aguas para o Tâmega,— e a do sul para o rio Corgo. O seu horisonte é limitado muito de perto ao poente pela serra da Falperra, que é um ramo da do Marão,— e a leste pela de San- donho, que é ura ramo da de Senabna ; mas tem amplas e formosas vistas tanto para o norte como para o sul sobre o grande valle de Villa Pouca *L Também a villa se descobre de grande distancia tanto na ida de Villa Real para Chaves, como na vinda de Chaves para Villa Real, porque o grande valle não tem curvas nem ravinas. Descreve duas grandes rectas, uma para o norte, outra para o sul — e vae sempre alargando ao passo que se afasta da villa. Não conhecemos outra povoação em taes condições topographicas. O maior contra é ser asperamente açoi- tada pelo vento dos quadrantes norte e sul, que vae encanado contra ella sem anteparo algum e a torna frigidissima no inverno. 1 A serra de Sandonho tem nas proximi- dades d'esta villa os montes do Facho e do Cabreiro — e prende com as serras de Bor- nes e Padrella, ambas a N. E. sendo todas tres ramificações da de Senabria, na Castella Velha. A da Falperra nas proximidades d'esta villa também é denominada Serra do Roxo. No monte do Facho se acceudiam de noite fachos para prevenir os povos circumvizi- nhos em tempos de guerra, antes da inven- ção dos telegraphos eléctricos. Dista das Pedras Salgadas 6 kilometros; —de Vidago 14;— de Chaves 35;— de Verim 50;— de Murça 25;— de Mirandella 40;— de Ribeira de Pena 18;— de Mondim de Basto 30;— de Villa Real, séde do districto, 28;— da estação da Regoa, a mais próxima na li- nha do Douro 55;— 67 de Lamego; — 159 do Porto— e 496 de Lisboa. Tem hoje esta parochia os templos se- guintes : 1. ° — Egreja matriz, fundada ou talvez re- construída em 1704. É um templo singelo, mas demora em si- tio alto e vistoso, na extremidade O. da rua da Cadeia e da villa, dominando-o toda.' A arehiteclura d'este templo é simples, mas elegante. A capella mór foi ha pouco accrescentada na altura e fizeram novo retábulo, que ainda não foi dourado. Tem altar-mór e 4 lateraes:— o 1.° do la- do do Evangelho è de Nossa Senhora da Conceição,— o 2.° de S. Pedro. Da parte da Epistola o 1.° é do Senhor Crucificado,— o 2.° da Santíssima Trindade e almas. A egreja carece de promptos reparos. Tem torre, mas todos os sinos estão partidos!. . . O cemitério está contíguo ao adro, para S. Tem um bom cruzeiro e alguns mauzo- leus. A casa da rezidencia parochial demora também junto do adro. É boa habitação e tem excellentes vistas sobre a villa e seus arredores. 2. °— Capella do Senhor, ou do Santíssimo Sacramento. ' É publica, — mais moderna e mais ele- gante do que a egreja matriz,— e está a pe- quena distancia d'ella. 3. ° — Capella de S. Domingos, também pu- blica. 4. ° — Capella de Nossa Senhora da Lapa, contigua á egreja matriz e communicando com ella. É particular e pertence á nobre familia Canavarros, hoje muito dignamente repre- sentada por Pedro de Sou?a Canavarro, de Santarém. 902 VIL VIL 5. °— Capella de Santo Antonio, também particular, pertencente á família dos viscon- des de Santa Martha. 6. °— Capella de S. Bento, também parti- cular, pertencente á família Taveiras. Todos estes templos estão situados na villa e abertos ao culto. 7. ° — Capella de Nossa Senhora da Concei- ção Apparecida. É particular;— pertence á família Fernan- des;—-tem festa com romagem no ultimo do- mingo de julho,,— e demora no alto do Monte do Facho, sobranceiro á villa do lado E.— foi fundada por José Joaquim Rodrigues Fer- nandes—e é hoje de sua filha D. Anna Ro- drigues Fernandes d' Almeida, casada com José Joaquim d'Almeida, escrivão de direito n'esta comarca. 8. °— Capella de Nossa Senhora da Lwz, na Falperra, a 0. da villa. 9. " — Capella de S. Sebastião, na aldeia de Cidadelha K 10. °— Capella de S. Jorge, na aldeia de Guilhado. 11. ° — Capella de Nossa Senhora da Saú- de, na mesma aldeia. 12. °— Capella de Nossa Senhora da Puri- ficação, também na mesma aldeia. 13. °— Capella de Santo Antonio, na aldeia de Freiria. 14. °— Capella de S. Sebastião, na aldeia de Nozedo. 15. °— S. Payo, na aldeia d'este nome. Estas ultimas 8 capellas todas são publi- cas e estão bem conservadas. As festas principaes que hoje aqui se ce- lebram são na villa a do Santíssimo Sacra- mento e a de S. Sebastião, — ambas no ele- gante e vasto templo denominado Capella do Senhor— e a festa e romagem de Nossa Se- nhora da Conceição Apparecida, no Monte do Facho, a pequena distancia da villa. Ha também n'este concelho duas romà- rias notáveis: — a de S. João do Extremo, na freguezia de Tellões,— e a de S. Pedro, na 1 Ha também na povoação de Cidadelha uma capella particular, com o titulo de Nossa Senhora da Conceição. aldeia de Parada do Corgo, freguezia dee Sou- tello do Valle. O nome próprio d'esta villa e d'este8 con- celho é Villa Pouca d' Aguiar, mas, i como esta villa e este concelho foram semprre im- portantes e tiveram sempre muita nolbreza, julgando esta uma affronta para a suai pro- sápia o titulo de Pouca, dado á sua . terra natal, substituiram-n'o por Villa d'Aiguiar da Pena ou Penha, ou simplesmente Villa d' Aguiar,— titulo que lhe deu a Chorrogra- phia Portugueza em 1706, por ser o> mais corrente n'aquella data; mas não podiaam ser mais injustos nem mais levianos os mobres filhos d'esta villa e d'este concelho. O velho e antiquíssimo titulo de PPouca, bem longe de affrontar ou apoucar estai villa, — exalça-a, enobrece-a e a recommendaa mais do que nenhum outro. Pouca não é o adjectivo portuguez viulgar, mas o nome da cidade romana Cauca,i, — ci- dade que existiu na península hispatnica e que foi a pátria do imperador Theodoosio I, o grande, que reinou pelos annos 3Í92 de Jesus Christo. Ninguém contesta a existência da cMdade Cauca nas Hespanhas; ha porem diveírgen- cia de opiniões com relação ao seu loccal. Os hespanhoes pretendem que foi a cida- de Itálica, que esteve a uma legoa de Covi- lhã;—outros dizem que esteve onde; hoje está a nossa villa de Coura, entre Brraga e Valença do Minho, e que o nome de CCoura é o mesmo da antiga Cauca, depois Comca e por ultimo Coura; 1 mas quem ler o Aigiolo- gio Lusitano (tomo 1.° pag. 172 a 173)) for- çosamente se ha-de inclinara crer que; a di- eta cidade romana Cauca esteve entre Cha- ves e Villa Real de Traz-os-Montes, con- 1 Portugaliae Inscriptiones Romanaie, In- dex geographiens, pag. LX. VIL VIL 903 verte em ou, como aurum em ouro,— auto- mnus em outono, etc. E também nada mais natural do que dizermos Villa Pouca em vez de Villa Couca, por ser Couca na lingua portugueza nome extranho e mais áspero do que Pouca. O mesmo nome de Cidadelha dado áquella aldeia pareça diminutivo de cidade e reve- lar a existência d'uma povoação importante e fortificada n'aquelle sitio, em tempos re- motos, como revelam outras muitas povoa- ções do nosso paiz, denominadas Cidadelhe; 1 não se confunda porem esta Cidadelhe com a de Mezãofrio, também n'esta província e que foi egualmente cidade romana fortifi- cada, pois segundo se lê no Portugalliae Inscriptiones do dr. Levy Maria Jordão, pag. 99, e no Elucidário de Viterbo, palavra Ca- ria, a Cidadelhe de Mezãofrio estava na via militar de Braga e Amarante para Lamego, Caria e Beira. É possível que a velha cidade romana Cauca não estivesse aqui; mas com certesa esteve no arcebispado de Braga e no antigo território da Galliza, hoje portuguez,— e não junto de Cevilha, como pretendem os nossos visinhos hespanhoes. Que a cidade romana Cauca nos pertence e com ella a gloria de ter sido Portugal o berço de Theodosio, o grande, afíirmam claramente Zózimo e Idacio, ambos contem- porâneos do dicto imperador, aos quaes se- guem Baronio e Spondano, bem como Bi- var in Dextrum e Sandoval in Idacium, etc. As palavras de Zózimo, fallando d'aquelle imperador, são : — Theodosius natus Cauca, Galhciae Oppidi. •Theodosio nasceu em Cauca, cidade da Galliza». As de Idacio, bispo de Lamego, são es- tas : — Theodosius, natione hispanus, de pro- vintia Galleciae, civitate Cauca. «Theodosio» hespanhol de nação, natural da cidade de Cauca, na província da Galliza». i V. Cidadelhe aldeia da freguezia de Bri- tello, concelho da Ponte da Barca,— Cidade- lhe, freguezia do concelho de Mezãofrio,— Cidadelhe, freguezia do concelho de Pinhel, — e Villa Jusã e Villa Marim, freguezias do concelho de Mezãofrio. Estava pois Cauca na província da Gal- liza, entre o Douro e o Minho, no arcebis- pado de Braga, — e não na província da Be- tica, hoje Andaluzia. V. Agiologio Luzitano, logar citado, onde o seu illustrado e muito auctorisado auctor sustenta e prova que a hodierna Villa Pouca d* Aguiar representa a velha cidade romana Cauca. Veja-se também n'este diccionario Cauca e Coura. A mesma opinião segue Bluteau. Tem esta villa duas feiras mensaes, nos dias 10 e 25,— dois mercados semanaes, nas segundas e quintas feiras, — uma praça fe- chada, em que se fazem as feiras e merca- dos,— e um largo, o Campo de Camões, no qual entroncam as estradas reaes a maca- dam do Porto a Mirandella e de Villa Real a Chaves. Producções dominantes d'esta freguezia e d'este concelho :— cereaes, feijões, batatas e castanhas. Também criam bastante gado e caça— e muitas colmeias, pelo que é importante n'este concelho a industria cerifera. Ha hoje n'esta parochia apenas minas de chumbo, simplesmente registradas; mas a industria mineira foi importantissima n'este concelho em eras remotas, talvez no tempo dos romanos e árabes, como revelam os gran- des poços, túneis, valias, galerias, aqueduc- tos, lagoas e montões enormes de pedra bri- tada que ainda hoje surprehendem e assom- bram na freguezia denominada Tres Minas . V. vol. 9.° pag. 741, col. 1.* e seg. — Mo- reira, aldeia da freguezia á'Alfarella de Sal- les, vol. 5.° pag. 542, col. l.a— Penedo d'Al- farella, vol. 6.° pag. 603, col. 2.a— Pedroso, aldeia, vol. 6.° pag. 546, col. l.a— e Tellões no supplemento. Dos artigos citados se vê que os romanos por aqui fizeram demorada rezidencia e obras e explorações importantíssimas, o que mais nos leva a crer na existência da cidade romana Cauca, depois Couca e por ultimo Pouca, no local de Cidadelhe d'esta fregue- zia de Villa Pouca d'Aguiar. 904 VIL VIL Também nos citados artigos se fez men- ção cToutra aldeia denominada Cidadelhe, pertencente á freguezia d'Alfarella de J al- ies, e que também revela ser Cidadelhe di- minutivo de cidade, pois junto d'ella se en- contram ainda hoje claros vestígios d'uma grande povoação romana fortificada. Note-se que a freguezia d'Alfarella de Jal- les é limilrophe da de Tres Minas, ambas d'este concelho — e que na aldeia de Cida- delhe, d'esta freguezia de Villa Pouca, teem apparecido, entre outras velharias, varias moedas romanas, sendo algumas do próprio imperador Theodosio I, segundo se lô no Agiologio Lusitano. Também juncto á dieta povoação de Ci- dadelhe e a montante d'ella, ha um sitio no- tável, denominado Regedoura, talvez modi- ficação de Rugidoura, porque um regato que desce da montanha ali cahe de grande al- tura e no inverno fórma uma magestosa cascata, cujo ruido se ouve a uma distancia considerável. Demora a dieta cascata approximadamente a um kilometro d'esta villa, para o norte, na serra da Falperra. A cavalleiro da dieta cas- cata, mesmo no curuto da serra que é quasi inaccessivel dos lados S. e E., — no ponto de- nominado Penedo sobre outro (talvez anta ou dolmen) existiu em tempos muito remotos um grande castello, do qual ainda hoje se veem fortes alicerces e uma parte dos mu- ros, ao lado norte do vértice da garganta que forma a cascata e quasi a prumo sobre a povoação de Cidadelhe pu Cidadelha. Deve também notar-se que nos arredores d'esta villa se teem encontrado em differen- tes pontos pedras de moinhos, tijolos de grande espessura, sepulturas abertas na ro- cha e fornos que, pela sua configuração, se suppõe terem servido para traetamento de metaes. Tudo isto se attribue aos romanos. Nos montes de Soutellinho do Amezio, fre- guezia de Tellões, cerca de 8 kilometros a S. O. d'esta villa, se veem muitas das taes sepulturas abertas a picão na rocha, — se- pulturas que ainda hoje abundam em outros muitos pontos do nosso paiz, nomeadamente em Moreira de Rei, freguezia do concelho de Trancoso. Ainda hoje ali se veem mais de 50, de di- versas dimensões, em um pequeno espaçol... V. Moreira de Rei no supplemento. Tem esta villa duas aulas officiaes d'ins- trucção primaria elementar para os dois se- xos,— varias hospedarias e casas de pasto, sobresahiado o Hotel Central de Gaspar Tei- xeira, na, rua Direita,— e um bom cemitério publico, dos mais antigos de Portugal, pois data de 1836. Está junto da egreja matriz, na extremi- dade oeste da villa e sobranceiro a ella. Tem esta villa também uma estacão tele- graphica de 3.a classe.— um theatro,— bons estabelecimentos commerciaes — e nagesto- sos paços do concelho, oude funecienam to- das as repartições publicas. O theatro é feito por acções e, depois de concluído, será um dos melhores da provín- cia. Principiou a sua construcção em 1877; — já despenderam com as obras cerca de réis 2:500$000;— está ainda longe da sua con- clusão, mas já n'elle representaram os nos- sos insignes actores Taborda e Antonio Pe- dro, e ultimamente a companhia dramática Soller e Taveira do Porto. Os novos paços do concelho são o melhor edifício publico da villa. Foram concluídos em 1880 e custaram lí>:000$000 de réis approximadamente. Os antigos paços servem de quartel ao destacamento estacionado n'esta villa e ain- da conservam as armas d'el-rei D. Manuel, com a eáphera armillar e a cruz da ordem de Christo. Na velha, insalubre e immunda cadeia ainda vivem os pobres presos. O pelourinho já desappareceu. Foi demo- lido, ha annos, e nada resta d'elle. Tem esta villa bons edifícios particulares. Mencionaremos apenas os seguintes : Brasonados i.° — Casa da Tapa. Pertenceu outr'ora a João Manuel de Sousa VIL VIL 905 Guedes — e é hoje de D. Lucinda de Sousa Guedes, casada com Luiz de Sousa Boma. 2. ° — Casa de Cimo da Rua. Pertenceu antigamente a José de Moura, de Quintella, concelho de Villa Real, e é hoje de D. Francisca de Moura. 3. ° — A casa de José Xavier Athay de Mello e Castro, hoje de seu filho do mesmo nome, 4. ° — Casa dos Canavarros. É hoje de Pedro de Sousa Canavarro, mo- rador em Santarém e nella nasceu o gene- ral Pedro de Sousa Canavarro. 5. ° — Casa do Visconde de Santa Martha. É hoje de Evandro de Sousa Torres, de Salhariz, e de DomiDgos José de Sousa Jú- nior, de Guimarães. 6. ° — Casa dos Taveiras. Foi de D. Antónia Viclorina Taveira e é hoje de Francisco Teixeira Coelho de Mi- randa, d'esta villa. 7. ° — A casa de Antonio de Sousa Guedes, na aldeia de Cidadelhe, d'esta parochia. Edifícios não brasonados 1. ° — O palacete de Henrique Manuel Fer- reira Botelho, no Campo de Luiz de Ca- mões. É moderno e muito elegante. 2. ° — A casa solar do dr. Francisco José Gomes de Carvalho, na rua do Cruzeiro. 3. ° — A casa de João José de Sousa Moraes, na rua Direita. Os tres maiores proprietários d'esta pa- rochia na actualidade são: — dr. Francisco José Gomes de Carvalho, — dr. Francisco Botelho Correia Machado— e Francisco Tei- xeira Coelho de Miranda. Os tres maiores proprietários d'este con- celho são:— dr. José Joaquim de Sousa Ma- chado, da freguezia de Bornes, — Manuel Ignacio Fernandes, da freguezia de Tellões — e José Joaquim de Sousa Maehado, da fre- guezia de Soutello do Valle. D'esta villa parte para o sul uma das nas- centes do rio Corgo, confluente do Douro, no qual desagua a montante da Begoa, de- pois de banhar Villa Beal de Tfaz-os-Mon- tes ;— e parte d'esta villa para o norte a ri- beira que forma a grande cascata da Rege- doura ou Rugidoura;— passa nas Pedras Sal- gadas;— toma depois o nome de Ribeira dos Avelames, na qual tem uma elegante e so-' berba ponte de quatro arcos de pedra a no- va estrada a macadam de Villa Pouca a Bo- ticas—e desagua na margem esquerda do Tâmega, a 18kilometros de distancia, entre as povoações de Monteiros e Parada de Mon- teiros, ambas d'este concelho/ São dignas de especial menção as impo- nentes ruinas de um grande castello que ainda hoje se vêem na Treguezia de Tellões, d'este concelho, distante cerca de lOkilome- tros d'esta villa para S. O.— castello que me- receu a Ignacio Pizarro de Moraes Sarmento a honra de ser cantado em formosos versos. O dicto castello é geralmente attribuido aos romanos e prova também a demorada permanência d'elles por estes sitios. Eslava ao poente da via militar de Chaves (Aguae Flaviae) para Panoias, Lamego e Ca- ria, pela cidade de Cauca, hoje Villa Pouca d' Aguiar,— e suppõe-se que era um dos pre- sídios, ou depósitos de tropa, para defesa da dieta estrada, que seguia com pequenas va- riantes o mesmo traçado da nova estrada actual a macadam de Chaves a Lamego, Moimenta da Beira e Trancoso. Na freguezia de Bornes, também d'este concelho, 5 kilometros ao norte de Villa Pouca d'Aguiar, falleceu em 1109 o bene- mérito arcebispo de Braga, S. Geraldo. Comprehende a dieta parochia differentes aldeias muito antigas e uma muito moderna, hoje a mais notável de todas, formada pelo estabelecimento balnear das Pedras Salga- das, que se ergue a oeste da grande cam- pina e da estrada real de Chaves, na encosta fronteira á povoação de Bornes. V. Pedras Salgadas, Bornes e Verea de Bornes, vol. 10, pag. 30*, col. l.a Entre as pessoas notáveis que esta villa tem produzido merecem especial menção— o visconde de Santa Martha, José de Sousa Sampaio, general miguelista, que militou na guerra de Montevideu e na lucta fratricida entre D. Miguel e D. Pedro —lucta que ter- 906 VIL VIL minou pela convenção cTEvora Monte no dia 26 de maio de 1834, * — e o rev. D. Domin- gos José de Sousa Magalhães, arcebispo de Mytilene, coadjutor e vigário geral do pa- triarchado, distincto pela sua illustração e virtudes. Nasceu no dia 2 de março de 1809, e fo- ram seus paes Leonardo Manuel de Sousa Magalhães e D. Anna Josepha da Costa. For- mou-se em direito em 1853. Dando indícios de alienação mental, foi suspenso das func- ções episcopaes e das de vigário geral pelo patriarcha D. Guilherme Henrique de Car- valho. Volvendo á casa paterna, ahi viveu em completa demência até o dia 19 de feve- reiro de 1872, data do seu fallecimento. No dia 21 do dicto mez se lhe fizeram exéquias solemnes e em seguida foi sepultado no ce- mitério d'esta villa. Sua irmã D. Rosa legou avultada quantia para se lhe erigir um mauzoleu, mas até hoje não se cumpriu tal disposição. Produziu também este concelho um ho- mem que se tornou tristemente notável na 2.a metade d'este século. Foi Luiz Antonio Alves, por alcunha o Negro, casado, carpin- teiro, filho de Ignacio Alves dos Santos e de Joanna Bernarda Pimenta, natural da fre- guezia de Capelludos e ali rezidente, — um dos homens mais preversos, de que resam os annaes do crime!. . . Aceusado de haver assassinado Manuel Antonio Alves, José Villela e Rodrigo Anto- nio Vaz, — de ter forçado e ferido Marianna Luiza, — de ter, juntamente com outros, rou- bado a casa do padre Amaro, de Villarinho de S. Bento e de haver concorrido para o arrombamento da cadeia de Chaves, foi pelo juiz de direito de Villa Pouca d'Aguiar con- demnado á morte de forca, em novembro de 1842. A relação do Porto confirmou a sentença por accordam de 21 d'agosto de 1843 e, re- correndo de revista, foi-lhe esta negada por accordam do supremo tribunal, em 15 de abril de 1844; mas, por decreto de 14deju- 1 Veja-se o art. Porto, vol. 7.° — de pag. 338 col. 1.» atépag. 365. lho de 1845, houve por bem sua magestade commuttar-Ihe a pena de morte na de exe- cutor d'alta justiça. (Cartório do escrivão Silva Pereira). Foi o ultimo carrasco que houve no nosso paiz, e falleceu na cadeia do Limoeiro, em Lisboa, já depois de estar abolida a pena de morte. Por occasião da guerra civil da Junta do Porto ou da Patuleia, foram na noite do dia 31 de janeiro de 1847 surprehendidas n'esta villa as forças populares do tonto general miguelista escocez, Reynaldo Macdonell, pe- las forças Géis ao governo da rainha, a sr.a D. Maria II, commandadas pelo general con- de de "Vinhaes, Simão Pessoa, sendo no dia seguinte aprisionado e covardemente assas- sinado o dicto Macdonell, juuto da aldeia de Sabroso, freguezia de Verêa de Bornes, d'este concelho, tendo a mesma sorte o seu aju- dante Ferreira Rangel, o Escrivão-fidalgo e miguelista, 1 irmão do poeta Ferreira Ran- gel, seu antípoda em politica, ou republicana radical. V. vol. 7.° art. Porto, pag. 366, in fine, e seguintes ;— Sabroso, vol. 8.° pag. 283, col. l.a e seguintes, — e Verêa de Bornes. Também é muito digno de lêr-se sobre o assumpto o interessante e chistoso livro Ma- ria da Fonte 2 recentemente publicado pelo nosso primeiro romancista e nosso primeiro escriptor publico, na actualidade, o exm0 sr- Camillo Castello Branco, hoje visconde de Corrêa Botelho. 1 Foram aprizionados e assassinados junto do tapado do Ervedeiro e da aldeia de S. Payo, pertencentes a esta freguezia de Villa Pouca d' Aguiar, na serra que d'esta villa corre para o norte,— e foram sepultados na capella de Santo Amaro da aldeia de Sabro- so, pertencente á freguezia de Verêa de Bor- nes. Foram pois assassinados n'esta freguezia de Vdla Pouca e sepultados na de Verêa de Bornes. Fica assim rectiGcado o que disse o meu benemérito antecessor no artigo Verêa de Bornes, col, l.a 2 Parte 3.a — o Miguelismo, — pag. 179 a 277. VIL VJL 907 Conta na actualidade este concelho onze bacharéis formados, filhos seus, cabendo a esta villa os seguintes : Dr. Leonardo de Sousa Magalhães, afamado jurisconsulto. 2.o — Dr. Francisco Botelho Correa Ma- chado, cavalheiro distincto e que por varias vezes tem sido juiz de direito substituto d'esta comarca. 3. °- -Dr. Henrique Manuel Ferreira Bote- lho, bacharel formado em medicina pela Universidade de Coimbra, rezidente em Villa Real, onde é professor do Lyceu e presidente da commissão executiva da junta geral do districto. É um dos filhos mais beneméritos d'esta villa, pois a elle deve todo o seu progresso actual. 4. °— Dr. Manuel Antonio de Sousa e Cos- ta, conservador privativo. 5. ° — Dr. Felippe de Sousa Magalhães, ir- mão do antecedente, juiz de direito na co- marca de Cintra. 6. ° — Dr. Domingos Botelho de Queiroz, cirurgião militar, hoje residente em Setúbal. 7. ° — Dr. Francisco José Gomes de Carva- lho, rico proprietário e cavalheiro de muito merecimento. 8. ° — Dr. Candido José d'Andrade, bacha- rel formado em medicina pela Universidade de Coimbra. É natural de Ribeira de Pena, mas domi- ciliado n'esta villa, ha muitos annos. O movimento parochial d'esla fregueziano ultimo anno (1884) foi o seguinte: — baptisa- dos 68,— casamentos 14, — óbitos 64. Este concelho de Villa Pouca a" Aguiar, outr'ora Aguiar da Pena, teve dois foraes velhos, um dado por D. Sancho I em 1206, —outro por D. Affonso liem 1220, — e foral novo dado por D. Manuel, em 1515. 1 Veja-se para este ultimo o Livro de Fo- raes Novos de Traz os Montes-, fl. 50, col. 1 Diz o meu illustrado collega de S. Mar- tinho de Bornes que esta villa teve também foral dado por D. Affonso Henriques e que d'elle faz menção o de D. Manuel. 1. » — e para os seus foraes velhos o Maço n.» 9, de Foraes antigos n.° 8, fl. 2, v. — Livro de Foraes antigos de Leitura Nova, fl, 105, col. 2. " — e o Livro 2.° de Doações do Sr. Bei D. Affonso III, fl. 17, v. in principio. Para o 2.° veja-se o Maço 9 de Foraes an' tigos, n.° 8, fl. 29, — o Livro de Foraes anti- gos de Leitura Nova, fl. 46, col. 2.a — e o Maço 12 dos mesmos foraes antigos, n.° 3, fl. 23, col. 2.a Veja-se também o documento de 4 de ju- lho de 1519 no Corpo Chronologico, Parte I, Maço 24, — e o documento 97. Veja-se finalmente o artigo Aguiar da Pena n'este diccionario, vol. l.° pag. 39. Esta comarca de Villa Pouca d'Aguiar é de 2.a classe e comprehende o concelho do seu nome e o de Ribeira da Pena, — alem do extincto concelho de Alfarella < es. N'esta parochia não ha doenças predomi- nantes. O seu clima, embora frio e áspero no inverno, é muito saudável. A cavalleiro da villa, na serra do lado E., ha uma pyramide geodésica marcando a al- titude de 776 metros sobre o nivel do mar; — em Affonsim ha outra, na altitude de 966 metros, — e em Bornes outra, na altitude de 1:315 metros. São os pontos mais altos doeste concelho. No concelho de Ribeira de Pena ha uma pyramide geodésica na altitude de 1:024 metros ; mas tem pontos muito mais baixos e amenos, formosas e férteis campinas nas proximidades do Tâmega. A egreja de S. Salvadar de Villa Pouca d'Aguiar foi uma rendosa commenda da ordem de Christo, dada por Filippe II, em 15 de maio de 1608, ao seu ministro e es- crivão da casa da índia, Luiz , de Figueiredo Falcão, natural de Pinhel, — homem , muito illustrado, muito religioso, muito trabalha- dor e ministro modelo. V. Pinhel, vol. 7.° pag. 84, col. 1." in fine e seguintes. O conselheiro Silvino Luiz Teixeira de Aguiar, barão d'Aguiar, e que foi deputado ás cortes em 1852, relator do supremo tri- bunal de justiça militar, etc, não era de 908 VIL VIL Villa Pouca d'Aguiar, mas da aldeia das Ca- sas Novas, freguezia de Bedondello, conce- lho e comarca de Chaves. Era um cavalheiro muito accessivel, muito estimável, muito prestadio e de muitas re- lações em Lisboa. Apenas se lhe apresentasse qualquer pre- tendente, recommendava-o logo com todo o interesse ao ministro, de quem dependesse o despacho, pelo que um dia lhe disse certo ministro das suas relações: — O' barão, desculpe, se não attender to- dos os seus afilhados, pois se os attendesse todos, não havia outro expediente pela mi- nha pasta. . —Eu peço, eu peço, disse o santo barão sorrindo, — porque tenho muito dó de todos os pretendentes, mas v. ex.a lá faça o que entender mais justo. Foi contemporâneo e amigo iotimo do sr. D. José de Moura Coutinho, penúltimo bispo de Lamego, — falleceu poucos annos antes d'este virtuoso prelado— e teve dois irmãos cónegos em Braga e um sobrinho que foi prior nas Caldas da Rainha. Em setembro do anno ultimo (1884) es- teve nas Pedras Salgadas S. M. el-rei o sr. D. Fernando, com sua esposa a sr.a condessa d'Edla, e o sr. infante D. Augusto, fazendo uso das aguas alcalino-gazosas d'aquelle im- portante estabelecimento thermal. Esteve também ali por essa occasião o sr. dr. Manuel Maria Rodrigues, illustrado re- dactor do Commercio do Porto, para o qual mandou urna serie interessante de corres- pondências diárias. Na de 15 do dicto mez se lia, entre outras cousas, o seguinte : «Quando a família real se dirigia para o hotel, acercou-se de el-rei um velho vete- rano, que lhe entregou um memorial implo- rando uma esmola. É contristador ver um d'esses soldados das luctas da liberdade, tendo por única re- compensa dos sacrifícios que fez pela pá- tria, a triste permissão apenas, de poder mendigar um pedaço de pão para matar a fome, emquanto que muita inutilidade bu- rocrática se banqueteia por ahi á custa de pingues aposentações. O veterano a que me refiro, e que habita nas proximidades de Villa Pouca á" Aguiar, é o sr. Joaquim Teixeira Diniz, ex-sargento da 2.a companhia do bravo batalhão Trans- montano, que praticou prodígios de valor durante o cêrco do Porto. Fugira com outros companheiros das pri- sões de Almeida, onde estivera encarcerado pelas suas opiniões liberaes, e alislára-se n'aquelle corpo. Terminada a guerra foi despachado es- crivão de direito de Montalegre, cargo de que o demittiu um juiz de triste memoria pelas suas prepotências e vinganças, e ago- ra vale-lhe o modesto trabalho de uma filha que o ampara. Hoje apresentou-se com a pobre farda que lhe fôra dada ha annos pela Associação Li- beral do Porto, ostentando a medalha de D. Pedro e de D. Maria, algarismo 2. Ha ires annos, o deputado do circulo apre- sentára em cortes uma petição para ser dada a reforma ao misero velho, mas a solicitação teve o mesmo destino que tèem obtido ou- tras idênticas. S. M. recebeu o memorial do misero ve- terano, mandou entregar-lhe um valioso do- nativo pecuniário e pediu-lhe para amanhã lhe enviar todos os documentos necessários, a fim de interceder pelo bem estar dos seus últimos annos de vida. Abençoada acção esta do bondoso rei.» Entre os muitos alcaides-mores do antigo Castello de Vilia Pouea d'Aguiar foi um d'el- les— Caetano Balthasar de Sousa Carvalho, senhor do reguengo d'Avinhão, F. C. R. e mestre de campo d'auxiliares. 1 Casou com sua prima D. Marianna de Carvalho e Me- nezes e teve: José Philippe de Sousa de Carvalho, tam- 1 Também foi alcaidemór d'esta villa Martim Teixeira de Macedo, senhor da Tei- xeira e ascendente de Gonçalo Chrystovam, morgado de S. Braz, em Villa Beal, e do Bomjardim, no Porto, etc. Martim Teixeira militou na índia, esteve na tomada d'Azamor e casou com D. Hele- na, filha de Francisco Machado "Velho, se- nhor d'Entre Homem e Cavado. VIL VIL 909 bem F. CR. capitão de cavallos, cavalleiro da ordem de Christo, senhor do reguengo d'Avinhão e também alcaide-mór d'esta villa. Casou com D. Maria das Neves Peixoto, descendente dos Peixotas Coelhos, senhores de Vieira, Felgueiras, Travanca, Fermedo, etc, etc, e teve— D. Mariana Rita, que casou com Pedro Pacheco Pereira Pamplona, F, C. R., commendador da ordem de Christo, al- caide-mór de Villa de Rei, senhor d' Aveloso e da casa dos Pachecos Pereiras, do Porto, segundo se lê em differentes nobiliários. Do exposto se vê que esta villa foi acas- tellada;— e a CI101 ographia Portugueza cla- ramente diz — tem hum Castello, que se não he temeroso para o respeito, he adjutorio pa- ra o credito de acastellada; — dizem-nos po- rem da localidade que hoje ali não ha Cas- tello algum nem memoria d'elle\ Eu também o não lobriguei. Tomariam os seus alcaides-móres o titulo do Castello de Tellões, cerca de 8 kilome- tros ao sul, mas no termo d'esta villa, — ou do castelo do alto da Regedoura e da aldeia de Cidadelhe, onde, segundo se suppõe, es- teve a cidade romana Cauca, núcleo d'esta villa e d'esia paroehia? 1 Também já lemos algures que a villa de Aguiar da Pena era differente de Villa Pouca d' Aguiar;— que Villa Pouca era uma sim- ples aldeia, quando Aguiar da Pena já tinha foraes; — mas que Villa Pouca prosperou com o tempo e è hoje villa e séde de conce- lho e de comarca, decahindo Aguiar da Pena e ficando reduzida á condição d'aldeial. . . V. Aguiar da Pena, vol. l.° pag. 39;— suppomos porem que Aguiar da Pena e Villa Pouca d' Aguiar foram sempre uma e a mes- 1 Nos apontamentos que á ultima hora se dignou enviar-me o meu illustrado collega Manuel Henriques da Silva Machado, reitor de S. Martinho de Bornes, diz que effectiva- mente n'esta villa não ha vestígios de forti- ficação alguma;— que teve alcaides mores n'ella residentes, mas que se referiam ao tal Castello de TH Iões, também denominado Cas- tello de Pontido, por estar junto de uma al- deia d'este nome, pertencente á freguezia de Tellões. VOLUME X ma povoação;— que a differença não passava do nome, — e que tomou o titulo de Penha ou Pena de um gigantesco fragão, denomi- nado Penha Aguda, que se encontra no Monte do Facho, a cavalleiro da nova estrada real d'esta villa para a de Mirandella. Aecrescentaremos ainda — que n'e?te con- celho não ha hoje aldeia alguma denomina- da Aguiar da Pena — nem numoria d'outra villa com tal nome, — e que do archivo da camará nada consta a tal respeito. Aos illustrados filhos de Villa Pouca de Aguiar compete pôr as coisas no são — e muito estimarei me avisem para reparar 03 lapsos no supplemento. Na elegante e vistosa capella do Santíssimo Sacramento ha uma irmandade d'esta invo- cação, fundada em 1877 com os fundos das irmandades de Nossa Senhora da Conceição e de S. Pedro, que estavam erectas na egreja parochial, mas que ao tempo se achavam era decadência. Tem a dieta cap 11a 3 alta- res e arco cruzeiro, e no átrio se -ergue so- bre quatro columnas uma bella torre, ond« está o relógio da villa. Foi reitor d'esta freguezia o rev. Antonio de Magalhães, natural de Vidago, instituidor do vinculo dos morgados d'aquel-la povoação e insigne bemfeitor do convento de S, Fran- cisco, de Chaves, pelo que a Chronica da Provinda da Soledade d'elle faz honrosa menção. Nos princípios d'este século foi capitão mór. d'esta villa Bento José Teixeira Vahia de Miranda, cavalleiro professo da ordem de Christo e F. C. R. natural de Villa Meã, fre- guezia de S. Martinho de Bornes. Era des- cendente de Gonçalo Vaz, que militou com distineção nas guerras do nosso rei D. João I contra D. João I de Castella. pelo que o dicto nosso rei lhe deu o foro de fidalgo, para elle e seus filhos, por carta passada em Santa- rém a 4 de setembro de 1423.— carta que el-rei D. Manuel confirmou. Esta nobilíssima família ainda conserva a sua casa solar em Villa Meã, muito digna- mente representada e habitada pelas ex.m." sr." D. Jpsepha dos Prazeres Carvalho Va- §8 910 VIL VIL hia e D. Carolina Teixeira Vahia, descen- dentes do esforçado capitão d'el-rei D. João I. Ao sr. Antonio Eugénio Rodrigues e ao meu illustrado collega de S. Martinho de Bornes agradeço os apontamentos que se dignaram enviar-me. VILLA POUCA DA BEIRA— villa extincta e freguezia do concelho de Oliveira do Hos- pital, comarca de Taboa, districto e diocese de Coimbra, na província do Douro. Curato. Fogos 160, habitantes 774,— se- gundo o ultimo recenseamento. Orago S. Se- bastião. Na Chorographia Portugueza, na Geogra- phia Histórica de Lima e no Port. S. e Pro- fano nem o titulo d'esta parochia se encon- tra! O Flaviense deu-lhe 126 fogos em 1852 — e J. A. d'Almeida 131 em 1866. Pertenceu á antiga comarca e provedoria da Guarda e á corregedoria de Viseu. Em 1840 pertencia ao concelho d'Avô, ex- tincto pelo decreto de 24 de outubro de 1855, pelo qual passou para o de Oliveira do Hos- pital. Também pertenceu ás comarcas de Arga- nil e de Midões. Outrora foi villa e conce- lho com justiças próprias, e teve casa de camará, cadeia e pelourinho, mas desappa- receram ha muito. Não nos consta que tivesse foral. Comprehende apenas duas aldeias — a de Villa Pouca, séde da freguezia, e a de Di- gneifeh, — o convento de freiras franciscanas do Desaggravo — o casal da Insua — e varias quintas, entre as quaes merece especial men- ção a quinta das Obras, pertencente a An- tonio Joaquim d'01iveira, d'esta freguezia. Parochias limitrophes: — Lourosa e Covas a N., — Avô, a S., — Nogueira e Santa Ovaia (Eulália) a E. — e Villa Cova a oeste. A povoação de Villa Pouca está na mar- gem direita do rio Alva, do qual dista 3 ki- lometros para N. O. — 1 para S. E. da estra- da real a raacadam, n.° 12, de Coimbra a Celorico da Beira, pela ponte da Murcella e Vendas de Gallises, para S. O.-- -8 de Oli- veira do Hospital,— 15 de Taboa,— 35 da es- tação de Santa Comba (a mais próxima) na linha férrea da Beira Alta, — 74 de Coimbra pela estrada real n.° 12, — 193 do Porto— e 292 de Lisboa. Passa na séde d'esta freguezia a estrada real n.° 46 de Tondella á Covilhã por Taboa, Candosa e Vendas de Gallises. Producções dominantes: — milho e outros cereaes, vinho, az,eit^, batatas, feijões e ex- cellente fructa, muito variada. Também cria algum gado lanígero. Tem os templos seguintes: — a egreja pa- rochial, pequena e humilde,— a egreja do convento, ampla, magestosa e muito bem tractada, — uma capella publica da invocação de S. Miguel,— e outra partieular, junto das casas de D. Maria do Ó Osorio Cabral. Consta que em tempos muito remotos existiu um convento no local onde hoje se vé a capella de S. Miguel. Não ha muito que ali se encontraram sepulturas de pedra an- tiquíssimas. O edifício mais notável d'esta parochia é o convento. Depois d'elle os que mais avul- tam são os seguintes: — a casa que foi de José d'Abreu Mascarenhas Castello Branco Brandão, hoje de D. Maria do Ó Osorio Ca- bral,— a que foi dos Chicorros, de Monforte hoje de Antonio Joaquim d'01iveira,— a de Cazimiro da Fonseca Gouveia, recentemente construída,— e na povoação de Digneifel a que pertenceu á família Madeiras, de La- gares, e que hoje pertence ao dr. Francisco Borges Mendes Cruz, morador na Bedinha. Villa Pouca tem dois largos- o da Praça e o do Cantinho, — e 4 ruas: — da Fonte, da Capella, do Infesto e do Outeiro. Banham esta freguezia os tres pequenos ribeiros da Cal, da Corga, e do Pombal, que desaguam a pequena distancia no Alva,— e tem na margem direita d'este rio dois moi- nhos para moer cereaes e um para moer azeitona. Esta freguezia soffreu bastante com a guerra peninsular e com as guerras civis posteriores. Imagine-se o que devia soffrer em 1814 quando o exercito franeez de Massena reti- rou das linhas de Torres Vedras pela ponte VIL VJL 911 da Murcella, atravez (Testa freguezia e d'este concelho e dos de Ceia e Gouveia até Celo- rico, seguindo, com pequenas variantes, a mesma estrada real n.° 12, supra indicada- Batido de perto pelo exercito anglo-luso e tendo soffrido um duro revez na passagem do Alva, saqueou e tractou com a maior des- humanidade todos estes povos, que por seu turno também não davam quartel aos mal- ditos corsos. Ainda hoje aqui se orgulham citando o nome de uma tal Michaela, filha d'esta pa- rochia, que por essa occasíão matou um sol- dado francez junto das Venda9 de Gallises. Durante a guerra civil de 1846 a 1847 travou-se aqui um tiroteio entre os filhos d'esta parochia e a guerrilha ou quadrilha dos Brandões de MidÕes, ficanda mortos José Nogueira e José Bernardo, ambos d'esta freguezia. Junte-se mais este florão á historia san- guinolenta d'aquelles heroes do crime l. Além da virago Michaela, produziu esta parochia outra mulher muito notável pela sua piedade e virtudes, — Genoveva do Espi- rito Santo, que viveu nos fins do ultimo sé- culo e princípios do século actual. Sendo uma pobre e analphabeta pastora, resolveu fundar um convento, — e tanto li- dou que percorreu grande parte do nosso paiz esmolando; foi ineluzivamente ao Rio de Janeiro duas vezes, quando ali se achavam D. João VI e a família real portugueza; mas teve a satisfação de ver o seu tão querido convento feito, com uma magestosa egreja e uma linda cerca. É o convento de freiras franciscanas do Desaggravo do Santíssimo Sacramento, ain- da hoje habitado e muito bem situado a leste e junto da povoação de Villa Pouca, em sitio alto, alegre e vistoso. O edifício ficou incompleto, mas tinha am- plidão bastante para numerosa communida- de,— segundo a regra austeríssima d'este piedoso instituto, que parece não pertencer i V. Villa Cova de Sub -Avô, iwfi,net—o ar- tigo Vide, freguezia do concelho de Ceia, — e os artigos citados na respectiva nota. a este século, mas aos tempos em que nos mosteiros tudo era penitencia, austeridade e santidade. N'este mosteiro as religiosas nunca tive- ram criada alguma, o que tornava o seu pessoal interno sempre restrieto,— emquanto que n'outros, nomeadamente no real mos- teiro d'Arouca, tinha cada religiosa 2 a 3 criadas, pelo que o numero d'estas chegou a ser de 200 a 300, quando o numero das nobres filhas de S. Bernardo era de 80 a 100. E ainda hoje havendo ali apenas 2 religio- sas professas, tem trinta e tantas criadas! Foi, e é ainda hoje um dos mosteiros mais ricos de Portugal,— emquanto que este de Villa Pouca viveu sempre de esmolas!... No de Arouca matavam todos os dias um boi para a communidade, — para a sua vasta e faustosa hospedaria — e para o grande nu- mero de pobres que sustentava,— emquanto que n'este de Villa Pouca as freiras come- ram sempre de magro. No de Arouca todas as religiosas eram obrigadas a levar um faqueiro de prata, um apparelho de chá de louça da índia, com duas dúzias de chávenas, colhêrinhas cor- respondentes, espumadeira, tenaz e uma salva, tudo de prata,— roupas brancas guar- necidas, luxuoso leito, etc. '—emquanto que n'este de Villa Pouca a pobresa foi sempre verdadeiramente franciscana e tanto que o leito das religiosas foi sempre uma tarima de taboas nuas, tendo por cabeceira um cepo com uma cavidade para poisarem a cabe- çal... Na Carta do benemérito bispo-conde de Coimbra ao seu cabido sobre a visita pasto- ral de 1875, se lé o seguinte : «No dia 24 fomos pernoitar á hospeda- ria do Convento do Desaggravo do SS. Sa- cramento de Villa Pouca da Beira, sendo ali esperado pelo clero, por muitos cavalheiros, pelas auctoridades locaes, e pela força d'um destacamento de infanteria estacionado em 1 V. Arouca n'este diecionario e no sup- plemento e o Conimbricense de 23 de junho de 1885. 912 VIL VIL Oliveira do Hospital; e n'aquelle logar nos demoramos bastantes dias, visitando a egreja do Convento e as das freguezias eireumvi- sinhas. «Em todo este tempo tivemos oceasião de observar e admirar a abnegação e a dedica- ção sublime e quasi sobrehumana, com que aquella dovota communidade, de quatro re- ligiosas professas e dezeseis pupillas, pre- enche cabalmente todas as obrigações do seu austerissimo e sancto Instituto: e não se comprehende nem se acredita hoje no século que estas senhoras, quasi todas velhas, e com quatro doentes e de todo impossibilitadas, levem a abnegação e a piedade a poncto de cumprirem com máximo rigor as obrigações todas do seu sancto Instituto. «Além do serviço do côro, que é muito pesado e a diííerentes horas do dia e da noi- te, e a que assistem todas, estão duas, que se revezam, constantemente de joelhos, de dia e de noite, em adoração ao SS. Sacra- mento. Cuidam dos diversos guisamentos e alfaias, empregadas no culto divino: en'esta parte é muito para admirar o aceio e boa ordem que manteem em tudo; o esmero das roupas brancas, todas de muito trabalho; o arranjo dos paramentos, alguns mui ricos e a maior parte concertados e preparados por ellas; as muitas flores artifieiaes que fazem e muito delicadas, para adornar a Egreja, que é um verdadeiro primor de aceio e de elegância. Além d'isto, carregam com todo o trabalho da enfermaria, da botica e da ro- da; cultivam e tractam um pequenino jar- dim ; fazem por si só o serviço da cosinha e do refeitório, porque nem podem nem lhes é permiltido ter creadas; cosem o pão e a broa para o convento e para a hospedaria, onde vivem o Padre confessor e os criados da lavoura; varrem e lavam as casas, que estão muito limpas e aceadas; e para todas estas cousas chega-lhes o tempo e a saudei «Para descançarem e se confortarem de tantos trabalhos, fadigas e vigílias, teem ape- nas, para habitação, uma casa em um paiz frio, exposta aos rigores do norte, húmida, muito velha, crivada de buracos, e sem con- forto de qualidade alguma, a não ser a en- fermaria;—para a alimentação, comida de magro todo o anno, jejum quasi sempre, e pão e agua para a ceia;— para vestuário, um habilo de burel sobre o corpo, atado na cinta com um cordão de S. Francisco, eum panno preto por cima da cabeça e da cara, tanto de verão como de inverno;— para dor- mida, uma pequena cella com uma grande cruz de madeira, algumas taboas nuas pos- tas sobre dois bancos, uma coberta de burel e um cepo com uma cavidade no meio, on- de reclinam a cabeça;— e para recreio e dis- tracção, a penitencia e o silencio contínuos! «E, por cima de tudo isto, é admirável a larga edade a que chegam, e a sancta ale- gria e satisfação sm que vivem; só porque as consola e anima o amor divino em que se abrazam, e porque não lhes corroem nem minam a vida as paixões, as contrariedades e os remorsos, que no século a tantas e a tantos dão morte prematura e atribulada! 1 «Assim, pois, n'estes tempos de frio egoís- mo, e quasi só de gozos e prazeres materiaes e de interesses mundanos, são summamente consoladores, enternecem e edificam tama- nhos prodígios de abnegação, de caridade e de heroismo, que só a religião sancta de Je- sus Christo é capaz de inspirar: e nós da- mos a Deus muitas graças por nos conceder a mercê de termos nas terras da Beira, que constituem a parte maior do nosso Bispado, um convento tão venerado pelos Fieis, e que é um verdadeiro modelo na perfeição da vi- da religiosa e na practica das virtudes enris- tas, cuja fragrância se derrama por todos aquelles contornos, com proveito assas co- nhecido para a conservação dos bons costu- mes, para o bem dos próximos e para sal- vação das almas. «Todas estas cousas referimos e expuze- mos nós ao ex.mo ministro dos negócios ec- clesiasticos, e tencionamos chamarem tempo opportuno a attenção de s. ex." para esta i Effectivamente não são raros n'este san- cto instituto os casos de longevidade. No dia 22 d'agosto de 1884, por exemplo aqui fal- leceu soror Maria de. Sant*Anna, contando 77 annos de edade e de religiosa professa 58 ! Era uma senhora virtuosíssima, natural da cidade da Guarda. VIL VIL 913 casa religiosa, que, embora um pouco mais remediada hoje, ainda vive de esmolas; e em tempo já chegou a taes apuros, que as reli- giosas, se alimentavam de leitugas e sara- magosl E o governo de Sua Magestade, que tem sido sempre benevolente e generoso para com todas as religiosas d'este Bispado 1 não ha de querer que as de Villa Pouca sof- fram outra vez tão duras privações; e certa- mente Deus Nosso Senhor não ha de tal per- mitúr, emquanto nós tivermos ou podermos haver, um boccado de pão para repartir com ellas.» As festas principaes que hoje se celebram na egreja d'este convento são a do Desag- gravo, de £5 a 18 de janeiro, (dura 3 dias) e em junho a do Coração de Jesus. Entre as pessoas notáveis que esta paro- chia produziu n'este século merece especial menção também José d'Abreu Mascarenhas Castello Branco Brandão. Beformou á sua custa a egreja matriz e a ornou com damascos, parameutos e outras alfaias, despendendo com ella, ao todo, mais de oito contos de réis ! . . . Sobre esta freguezia teem pesado trovoa- das medunhas e cahido muitas faíscas elé- ctricas. Ha poucos anoos uma matou 3 pes- soas e um rebanho de gado lanígero; — outra matou uma rapariga e gado também, — e em 1870, por occasião da festividade da Ascen- ção do Senhor, cahiu um raio na torre da 1 A benevolência e generosidade dos nos- sos goveroos para com as religiosas do bis- pado de Coimbra e dos outros nossos bispa- dos não tem limites. Os factos bem o pro- vam 1 . . . Ha muito que os nossos conventos de frei- ras foram condemnados a uma morte lenta e hoje se acham quasi todos extinctos. Só no 1.° semestre do corrente anno (estamos em julho de 1885) se fecharam e extinguiram 4: — o da Estrella, em Lisboa,— o de Santa Anna, em Coimbra, — o de Sá, em Aveiro— e o de Santa Monu-a, em Gôa. Desapparecem os conventos, maspullulam as casas de prostituição e de jogo, — os atheus materialistas e livres pensadores, — os com- munista«, nihilistas e anarchistas. Le monde marche ! . . . egreja do convento, abrindo larga brecha no zimbório e lascando a porta da mesma torre. Na quinta das Obras, de Antonio Joaquim d'Oliveira, teem apparecido varias moedas romanas. VILLA DE PUNHE— freguezia do conce- lho, comarca e districto de Vianna do Cas- tello, arcebispado de Braga. Beitoria. — Orago Santa Eulália, — fogos 385,— habitades 1:551. O meu benemérito antecessor já fallou d'esta parochia no titulo Punhe, vol. 7.° pag. 714, col. 2.a, mas tão summariamente que não podemos deixar de accrescentar o se- guinte : Demora Villa de Punhe, séde d'esta paro- chia, na estrada de Vianna para Braga, na margem esquerda do Lima, do qual dista 5 kilometros para S.— 8 de Vianna para SE . — e 30 de Braga para O. N. 0. Comprehende mais esta freguezia as al- deias de Milhões, Arques, Neves, Portella, Monte, Begos, Toupeira, Outrello, Chasquei* ra e Fonte de Algueira. Freguezias limitrophes: — Couto de Capa- reiros e Mujães, ao nascente,— Villa Fria e Alvarães ao poente,— Sub Portella e Villa Franca, ao norte,— e Fragoso, além do Nei- va, ao sul. Passa n'esta freguezia a estrada districtal n.° 4, de Vianna a Villa Verde— e a distan- cia de 300 metros ha na freguezia de Al- varães um apeadeiro, junto da estação de Barrozellas, no caminho de ferro do Minho. Banha esta freguezia um pequeno ribeiro, que nasce no monte de Boques. Producções dominantes: — milho, vinho, centeio, feijões, fructa e hervageos. É uma das freguezias mais importantes do concelho;— a sua população é muito la- boriosa e tem dado bons artistas e homens de génio enérgico e emprehendedor, entre os quaes se distinguiu n'este século Sebas- tião da Silva Neves, de quem já se fallou a pag. 425 d'este volume. Tomou o appellido da aldeia das Neves, onde nasceu e onde ha um grande souto de carvalhos, nos limite» de Mujães e Capareiros. 914 VIL VIL A egreja matriz denota reconstrucção do ultimo século. Ha também n'esta parochia as capellas se- guintes : 1. a— Nossa Senhora das Neves, que está na aldeia d'este nome, no dito souto de car- valhos, pertencente á família de José da Cu- nha do Rego Barreto Alpoim. Tem grande festa annual, no dia 15 de agosto. 2. *— S. Chrystovam, m soberba quiuta da Portella, de D. Jeronyma Theresa d'Alpoim e Silva, de quem logo fallaremos. 3. «_ Nossa Senhora do Çarmo, na quinta de Domingos da Rocha Brandão Portocar- reiro. 4. »— Senhor dos Afflictos, pertencente a Antonio José Barbosa. 5. *— Senhor do Bomfim, no caminho, em Arques. 6. *-- Senhor dos Passos, em frente da egreja matriz. Ha n'esta parochia 3 bellas quintas,— na aldeia de Arques a de Torquato d'Abreu Tei- xeira Soares, com um grande montado,— na aldeia das Neves a de José da Cunha do Rego Barreto Alpoim,— e a quinta da Portella, muito digna de especial menção. O vinculo d'esta casa foi instituído no an- no de 1710 por Chrystovam d'Alpoim da Silva, da casa de Villa Fria, casado com D. Maria da Rocha Bravo, o qual, por não dei- xar suceessão, nomeou suceessor do vinculo um seu parente, e por fallecimento d'este passou para a casa de Calvêllo. Chrystovam d'Alpoim falleceu em 1716. Quando tractámos de Villa Fria, a pag. 760 d'este volume, prumettemos faltar dos Alpoins d^aquella parochia e fazer uma re- ctificação ao que sob o titulo Paço de Villa Fria, se lê na iuteressante Noticia Biogra- phica das cidades, villas e casas illustres do Minho, publicada pelo rev. sr. dr. A. L. de Figueiredo. Os Alpoins de Villa Fria não são senho- res da casa de Merece, em Calvêllo, nem tão pouco esta freguezia demora no concelho de Penella, ha muitos annos extineto, mas sim no concelho de Ponte de Lima. A pag. 341 d'este volume dissemos: Alpoins Silvas t Senhores do Paço de Villa Fria, de que è actual senhor Jeronymo d' Alpoim da Silva e Menezes.» O outro ramo dos Alpoins, senhores de Merece, por alliança com os Begos, é repre- sentado pela sr.a D. Jeronyma Thereza d'Al- poim e Silva, senhora dos vínculos da Por- tella, Merece, Pousada e outros. São estes os dois ramos principaes e com representação nos vínculos. Jeronymo d'Alpoim (filho de João Martins d'Alpoim, o I o que se estabeleceu em Villa Fria) teve entre outros filhos : —Chrystovam d' Alpoim, 5.» avô do actual senhor do Paço de Villa Fria, e —Bernardo d' Alpoim da Silva, 6.° avô da sr." D. Jeronyma Thereza d'Alpoim e Silva. São, pois, dois ramos distinctos e separa- dos desde os fins do século xVi. Os Alpoins sueeederam nos morgados de Calvêllo em 1735, pelo casamento de Ber- nardo de Alpoim da Silva e Abreu, fidalgo da Casa Real, com D. Maria Caetana de Cas- tro, filha e herdeira de Pedro do Rego Bar- reto e Castro, senhor do morgado de Merece e capitão- mór do concelho de Albergaria de Penella. De Bernardo d' Alpoim e de D. Maria Cae- tana é bisneta e suceessora a virtuosa e il- lustre fidalga de Calvêllo. Ao meu bom amigo e benemérito Cyre- neu, o ex.,n0 sr. dr. Luiz de Figueiredo da Guerra, illustrado filho de Yianna, agradeço os apontamentos que se dignou enviar-me. Se eu em cada districto tivesse a fortuna de encontrar um Cyreneu assim— o diccio- nario valeria o dobro e me incommodaria bem menos ! . . . VILLA REAL— freguezia extincta no ex- tineto bispado d'Elvas. Orago Nossa Senhora da Assumpção. O parocho era capellão-cura da apresentação VIL VIL 915 da mitra— e tinha de rendimento 240 alquei- res de trigo e oitenta de cevada. Esta parochia distava d'Elvas tres léguas — e em 1768 contava 34 fogos,— segundo se lê no Portugal Sacro e Profano; mas foi ex- tincta e annexada não sabemos a qual, pois nenhuma chorographu a menciona, nem ha hoje em toda a província do Alemtejo po- voação alguma, pequena ou grande, com o nome de Villa Real. Aié o nome perdeu! VILLA REAL DE SANTO ANTONIO— Vil- la, freguezia e séde do concelho do seu nome, comarca de Tavira, diocese de Faro, provín- cia do Algarve. Priorado. Orago— Nossa Senhora da Encarnação,— fogos 954,— habitantes 4:255— pelo ultimo recenseamento; mas hoje (agosto de 1885) & sua população é a seguinte:— fogos na villa 982;— era Monte Gordo 270;— em dif- ferentes hortas (casaes e quintas?) 230;— na velha Casa da Audiência 3; — total 1:485 fo- gos e 6:140 habitantes. A Chorographia Portugneza, o Portugal S. e Profano e a Geographia Histórica de Lima não mencionam esta villa, porque da- ta, como logo diremos, de 1774; mas, se- gundo se lê na Chorographia do Algarve por João Baptista da Silva Lopes, contava ella 197 fogos em 1777;— em 1802— fogos 278, habitantes 1 :283; — em 1828— fogos 440,— ha- bitantes 1:720;— em 1835— fogos 440,— ha- bitantes 1:305;— em 1836— fogos 408,— ha- bitantes 1:401;— em 1837— fogos 358,— ha- bitantes 1:755, — casamentos 22, — nascimen- tos 84, — óbitos 44, — e em 1839 contava 355 fogos na villa e 58 na aldeia de Monte Gor- do—total 413 fogos. O Flaviense em 1852 deu-lhe os mesmos 413 fogos e Almeida 720 em 1866. Até á extracção dos dízimos a côngrua d'este priorado eram 360 alqueires de trigo, 180 de cevada, 82 alraudes de vinho e cin- coenta mil réis em dinheiro, pagos pela com- menda de Cacella, da ordem de S. Thiago, que comprehendia este concelho e parte do de Castro Marim, e andava arrendada por 1:600#000 réis, livres de decima. Recebia mais o prior 11$000 réis de um fôro — e pagava ao thesoureiro ou sacristão 24^000 réis. Em 1839 foi arbitrada a côngrua do prior d'esta villa em 270#000 réis, calculando-se o pó d'altar em 50#000 réis e dando-se-lhe o restante em derrama; e, como aquelle ar- bitramento ainda hoje vigora, recebe, ou deve receber o prior 220$000 réis em di- nheiro, afora o pé d'altHr, cujo rendimento pôde calcular-se em 200$000 réis; — total 450 a 5000000 réis. Esta parochia é formada pela villa do seu nome, por differentes hortas e pela aldeia ou povoação de Monte Gordo, habitada ex- clusivamente por pescadores e situada á beiramar, entre a foz do Guadiana e Ca- cella. Limitam Villa Real: ao norte Castro Ma- rim,— ao sul o Atlântico, — a leste o Gua- diana— e Cacella ao poente. O concelho é limitado ao norte pelo át Castro Marim, — ao poente pelo de Tavira, — ao sul pelo Atlântico — e a leste pelo Gua- diana. Comprehende : Superfície em hectares 10:987 Prédios inscriptos na matriz 1:920 Freguezias Villa Real e Cacella. . . 2 Fogos 2:139 Habitantes 8:595 Esta villa está situada em planície arenosa na extremidade S. E. do nosso paiz, sobre a margem direita do Guadiana e na confluên- cia d'este rio com o Atlântico, do qual dista 3 kilometros para o norte;— outros 3 de Ayamonte, villa fronteira da Andaluzia, para S. o.— 5 (em recta) da villa de Castro Ma- rim, para S. E. — 22 de Tavira, para K N. E.— 51 de Faro, para E. N. E. também,— 55 de Mértola, pelo Guadiana, para S. S. E. — 105 da estação de Beja, actualmente a mais próxima na linha férrea do sul, — epor esta linha férrea: — 195 kilometros d'Evora, —259 de Lisboa,— 596 do Porto,— 678 de Vianna do Castello— 701 de Caminha— 726 de Valença do Minho— e 160 do Cabo de S. Vicente para E. N. E. Os templos d'esta parochia reduzem-se a 2 — a egreja matriz que se ergue ao norte da 916 VIL VIL praça, na villa, — e a capella de Nossa Se- nhora das Dores na povoação de Monte Gordo. A egreja matriz é ura templo elegaDte, bera tractado e bem conservado, mas hoje muito pequeno para a população da villa. Foi mandado faze-r pelo marquez de Pom- bal em 1774 — e n'elle se celebram actual- mente com grande pompa duas festividades — a de Nos*a Senhora da Encarnação (pa- droeira)— e a de Nossa Senhora do Carmo, — além d'outras festas menos apparatosas. A capella de Nossa Senhora das Dores é mais antiga, — ^stá bastante arruinada — e n'ella se celebra com grande pompa e ex- traordinária concorrência de devotos a festa e romaria auDual da padroeira. A dieta capella serviu de matriz d'esta pa- rochia desde que ficou soterrada nas areias a egreja da extiucta povoação de Santo An- tonio d'Arenilha, até que se fundou a villa actual e a nova egreja da Senhora da En- carnação, para a qual passou a matriz em janeiro de 1775.— O seu primeiro prior foi o padre Jorge Arraes, por decreto de 1774. Ha n'esta villa mercado semanal aos do- mingos— e uma feira annual no dia 12 de outubro, a qual antigamente era franca e du- rava 3 dias. Banham esta parochia: — o Guadiana a leste, — o Atlântico ao sul — e ao norte, a 2 kilometros de distancia, o esteiro da Car- vasqueira, que atravessa as lezírias da Com- panhia Gvral Agrícola Financeira, — move um moinho de cereaes — e desagua no Gua- diana, em frente de Ayamonte. Todo o chão d'esta parochia é suavemente ondulado, arenoso, mas fértil, e poucos me- tros superior ao nivel do mar. No ponto mais alto tem uma pyramide geodésica, nas proximidades da villa, marcando apenas 41 metros de altitude. A villa está em terreno muito mais baixo — e mais baixo ainda é o terreno que lhe fica ao norte, para o lado de Castro Marim, — terreno espaçoso, em que outr'ora houve salinas, mas que, abando- nadas estas, ficou como sempre fôra — uma pateira, alagada e inculta, e um grande foco de infecção até 1875, data em que o governo cedeu aquelles terrenos alagadiços á Socie- dade Geral Agrícola Finan eira, que os be- neficiou e arroteou, transformando-os em uma das melhores e mais férteis campinas do Algarve,— com grande vantagem para a companhia,— para o thesouro,— para a hy- giene publica,— para esta villa— e para os povos circumvisinhos, pois na lavoura da grande campina se empregam muitos dos seus habitantes. Para se formar idéa do valor que attingi- ram aquelles sapaes, note-se que só de ce- vada teem produzido em alguns aunos mais de mil moios, ou 60:000 alqueires I... Tam- bém produzem trigo, melões, melancias e batatas. Com relação aos dictos sapaes disse o Jornal do Commercio, em janeiro de 1876, o seguinte : «É sabido que o governo fez concessão á Sociedade geral agrícola financeira de 400 hectares de terrenos salgadiços, situados perlo de Villa Real de Santo Antonio, com o fim de serem por ella aproveitados em be- neficio da agricultura do Algarve. Conta apenas mezes essa concessão e gra- ças ao impulso dado ás obras destinadas a melhoral-os, consta do officio dirigido pelo distincto engenheiro João Macário de Cas- tro, á administração da Sociedade geral, que a construcção dos diques em terra se acha completa e nas devidas condições, segundo o projecto que se mandou executar, satis- fazendo completamente ao fim a que é des- tinada, como se verificou tanto por occasião das marés de aguas vivas, como por occa- sião das chuvas que cairam em fins de no- vembro, e em 14 e 15 de dezembro do anno próximo passado. A plantação das marismas nos diques, necessária para a boa conservação d'estes, está quasi concluída. Á construcção das comportas nos dois es- teiros em que deviam ser construídas, falta apenas pôr o remate na do esteiro mais lar- go. O que resta concluir é mui pouco, e sem difficuldades de execução. D'este serviço fica encarregado o sr. Figueiredo, que desde to- VIL VIL 917 do o principio se tem desvelado em coope- rar para a feliz ultimação d'estes trabalhos. É este agrónomo a quem d'ora em diante fica incumbida a missão dos melhoramentos agrícolas oVesta importante propriedade, pertencente á Sociedade geral. Do estado agronómico dos terrenos dos dietos sapaes, podia bem inferir-se a priori que convenientemente beneficiados, seriam de natureza a retribuírem largamente os adiantamentos feitos em seu beneficio pela Sociedade Geral. Os resultados, porém, que estão em v?a de se obter, vão muito além das previsões. As sementeiras já executadas nos terrenos mais lavados apresentam ura aspecto soberbo, sendo para notar que esse facto se dá tanto com as cevadas, que se conformam particularmente com terrenos d'aquella natureza, mas mesmo com os tri- gos. «É inquestionável pois que a capacidade productiva d'aquelle solo será verdadeira- mente excepcional. Animada por estes primeiros ensaios, a Sociedade Geral fez executar immediata- mente o arroteamento completo de toda a superfície da propriedade, sendo o numero de juntas de bois que n'este momento andam ali empregadas na lavoura lOi; do que re- sultará a prompta conclusão dos primeiros trabalhos eulturaes. O serviço d'este gado, alem de ser excellehté, é de uma baratesa desconhecida em qualquer das nossas ou- tras províncias, pois que não excede o preço de 550 réis diários por junta. Este preço ba- rateia muito o custo da exploração, e pela facilidade que ha em o obter, dispensa a Sociedade geral do mais embaraçoso e do mais dispendioso dos encargos, o qual con- sistiria em possuir gado seu para trabalho. Só o saberá avaliar quem lida praticamente com estas coisas. Da promptidão com que a Sociedade Ge- ral executa os trabalhos da riqueza accu- mulada em um solo virgem de toda a cul- tura, e da economia e simplificação que de- verá resultar de uma boa administração, pode-se desde já concluir que o governo obrou acertadamente concedendo terrenos que nada produziam, e que a Sociedade Ge- ral fez um bom negocio solicitando a sua acquisição para os arrotear e benefieiar, contando com uma boa remuneração do em- prego dos seus capitaes.i Em novembro do anno seguinte (1877) dizia um outro jornal : «Emquanto que na Granja do Marquez os apparelhos de Fowler, pelo trabalho exe- cutado em condições as mais dilficeis do so- lo, deram resultados que justificam o feliz intuito com que o governo os adquiriu; nas vastas propriedades de Villa Real de. Santo Antonio, pertencentes á Sociedade geral agrí- cola e financeira, os resultados obtidos por apparelhos quasi idênticos do mesmo auctor, vão além de tudo quanto a espeetativa mais exigente poderia reclamar. Assim o confirmam as successivas com- muuicações sobre tão importante assumpto, confessando se todos verdadeirameate ma- ravilhados com tão admirável invento. A fama do successo jà começa a produ- zir os seus effeitos. Lavradores importantes do Alemtejo tem ido expressamente a Villa Real de Santo Antonio para observarem e presencearem de perto o trabalho dos appa- relhos; e todos, sem excepção, tem voltado admirados, e o que mais é, convencidos da enorme importância para os casos que a supportam, da cultura pelo vapor. Charruas grades e arroleadora, todos es- tes instrumentos teem feito rigorosamente o seu dever. Aferimos este pelas promessas do fabricante. Só um instrumento, o Cultivador» vae ainda muito além d'aquellas promessas. Composto de 9 dentes em forma de lança, rasga o solo a 12 centímetros de profundi- dade, descobrindo-a tão a eito, que, fossan- do-se a terra em sentido transversal, não se encontra a mais leve porção encruada. É co- mo se se executasse uma lavoura com 9 ara- dos nossos, dos mais perfeitos, ao mesmo tempo, com a differeaça de não deixarem raposas e correrem com velocidade dupla do que se fossem tirados por animaes. Tem este instrumento chegado a lavrar nas terras da Sociedade geral 15 hectares por dia de 10 horas de trabalho 1 Quer isto 918 VIL VIL dizer que tem feito n'um só dia o trabalho em que seriam necessárias 60 juntas de boisl» Graças pois ao governo e á Sociedade ge- ral agrícola e financeira pela transformação d'aquelles sapaes em uma granja modélo, a producção principal d'esta freguezia é ce- vada. Também produz outros cereaes, vinho, hortaliças e óptimas laranjas, tão doces em Dovembro como em outras terras do nosso paiz no mez de maio — e com a casca tão fina que mal se podem exportar ou condu- zir para distancia, porque ao mais leve cho- que se mogoam e estalam. Rivalisam com as de S. Mamede de Riba Tua, concelho d'Alijó, em Traz-os-Montes, junto da estação de Tua, na linha férrea do Douro, que são talvez as melhores do nosso paiz, posto que também gosam de justa fama as de Gouviuhas, da Rêde e d'ouiros pontos do Alto-Douro,— as de Amares e de Setú- bal,—as d'Evora, Elvas e Portalegre, no Alemtejo,— as de Coimbra e da Madeira— e as de Monchique, no Algarve também; mas, desde o meado d'este século, todos os nos- sos laranjaes adoeceram e causam dó! Os velhos, alguns formados por laranjeiras se- culares e de grande porte, desappareceram, — e os novos não resistem á doença nem se descobriu até hoje meio de os preservar. Aqui no Algarve costumam reconstituil-os por enxertia em estacas de cidrão, caiando depois os troncos e as hastes ou vergonteas mais grossas das laranjeiras; mas isso não obsta a que, passados alguns annos, mur- chem e sequem, como em todo o nosso paiz, o que é para lamentar porque, além de ser a laranjeira uma arvore lindíssima, prinei- palmeute quando está em flor 1, ou carre- 1 Que saudades eu tenho do pomar de la- ranjeiras, (hoje d'um meu irmão) conliguo á casa onde nasci, na margem esquerda do Douro,— em frente da estação das Caldas do Molledo ! Formava na minha infância um bosque cerrado, encantador viveiro de rouxinoos no verão e, quando estava todo florido,— o aro- ma suffocava, inebriava I V. Corvaceira, vol. 2.° pag. 406, col. l.a gada de pomos d'ouro,— a laranja era um rendoso artigo d'exportação, — tínhamos grandes laranjaes— e podíamos augmental-os espantosamente. Em Setúbal vimos nós um em reconsti- tuição, formado por 8:000 laranjeiras, ainda pequenas e muito novas, mas que em 1880 (segundo ali nos disseram) foi arrendado por oito contos de réis!. . . É o maior e mais lindo laranjal de todo o nosso paiz. Esta villa náo só è abundante e mimosa de peixe do Guadiana e do mar, mas o peixe constitue a sua principal riqueza, — nomea- damente a sardinha, a corvina e o atum. A sardinha quasi toda é colhida na praia da aldeia de Monte Gordo,— aldeia que vive exclusivamente d'aquella industria. Também n'esta villa se formaram nos últimos annos algumas armações que exploram com bom êxito a mesma pesca. O atum que, desde tempos muito remotos constitue uma das industrias mais rendosas do Algarve, é colhido em grandes armações próprias desde o Çabo de S. Vicente até o de Santa Maria, ao sul de Olhão. D'ali para leste não ha armações, porque o atum segue do dicto cabo em direcção a Gibraltar, onde vae desovar e fazer creação, afastando-se muito da costa de Portugal e da Hespanha desde o Cabo de Santa Maria até Gibraltar; mas os armadores o trazem a esta villa e aqui o vendem em grande quantidade, tanto para a Hespanha, nomeadamente para a villa de Ayamonte, como para gasto d'este concelho e d'outros do Algarve e do Alem- tejo,— e para abastecimento das 5 fabricas de conservas, aqui montadas, que, depois de preparado, o mandam para a Itália, em la- las e barris, — com grande lucro, pois cos- tumam comprai o aqui a 30 róis o kilo e vendel-o na Itália a 600 réis!. . . Nas dietas fabricas preparam atum, sar- dinha, sarda e outras variedades de peixe. Das 5 fabricas 2 são italianas, pertencentes aos srs. Parodi e Migoni,— e 3 nacionaes, pertencentes aos srs. Barreto, Tenório e Ra- mires. Cada uma d'ellas oceupa 20 a 30 ra- I pazes, 30 a 50 homens e 40 a 50 mulheres. VIL VIL 919 É Villa Real de Santo Antonio um dos empórios mais importautes do atum e tem na margem do Guadiana uma praça coberta quasi exclusivamente destinada para elle. Além das 5 fabricas de preparação do peixe, ha n'esta villa mais 4 de tecidos, sendo uma d'ellas movida a vapor. N'estas fabricas se fazem pannos de linho, riscados, toalhas, canhamaço, camisolas, meias, alpargatas, etc. Ha n'esta villa também duas aulas offi- ciaes de instrucção primaria elementar para os dois sexos, — um hospital em construcção denominado Marquez de Pombal,— um Mon- te-pio Artístico, — um Compromisso Maríti- mo,— um pequeno theatro, — um pharolim, — e ao norte da villa, na margem do Gua- diana, a bateria da Carrasqueira, que fórma com as de Cabeço, Monte Gordo, Ponta da Areia, Medo Alto e Pinho o 7.° grupo das nossas antigas fortalezas do Algarve, depen- dentes de Villa Real de Santo Antonio, que hoje teem apenas alguns veteranos. V. Algarve, vol. i.° pag. 126. Ha também n'esta villa um club, denomi- nado Sociedade recreativa de Villa Real de Santo Antonio, — uma Associação de Bombei- ros Voluntários, — dois hoieis,— differentes casas de pasto. — bons estabelecimentos eom- merciaes e para aprestes de navios,— phar- macias, — cafés,— varias agencias de bancos e companhias, etc. Também no momento (agosto de 1885) ha n'esta villa um lazareto, como parte inte- grante do cordão sanitário que o nosso go- verno estabeleceu no mez ultimo em volta de todo o nosso paiz, para ver se o preserva do cholera morbus, que está assolando a Hespanha, nomeadamente a Andaluzia K 1 O registo do cholera publicado pela Ga- ceta de 8 do corrente dava: em Madrid 20 casos e 10 óbitos, e em Aranjuez 50 casos e 39 óbitos. Das províncias dava: em Alicante 138 ca- sos e 67 óbitos; em Murcia 151 casos e 55 óbitos; em Valencia 822 casos e 411 óbitos; em Cuenca 11 casos e 2 óbitos; em Teruel 7 casos e 5 óbitos; em Saragosa 128 casos Deus defenda Portugal, como defendeu n° anno ultimo, pois tendo lambem o cholera feito muitas victimas. na França, não entrou no nosso paiz; — mas bem castigado foi já n'este século com aquella epidemia, em 1834 e 1855 a 1856. O mencionado lazareto estreou-s8 com 600 jornaleiros portuguezes que vinham das ceifas da Andaluzia. Para receber tão grande numero de qua- rentenários, foi mister addiecionar-ihe dif- ferentes barcos. Santo Antonio d^Arenilha, Monte Gordo e Villa Real de Santo Antonio Junto da foz do Guadiana, ao sul da ho- dierna Villa Real de Santo Antonio, existiu desde tempos muito remotos uma povoação denomiuada Villa de Santo Antonio d'Are- nilha, 1 que foi soterrada e aniquilada pelo mar e pelas areias— e talvez saqueada e in- cendiada pelos corsários, como outras mui- tas povoações da costa. Em 1837 mal se dis- tinguiam as minas d'ella, mas em 1673 ainda viviam pessoas que a outras de longa edade ouviram dizer que ainda a conhece- ram povoada 2. É certo que em 1750, sendo elevado ao throno D. José I, a margem portugueza do Guadiana, desde Castro Marim até o pontal da barra e a costa do Atlântico^ e desde a foz do Guadiana até á povoação de Monte Gor- do, cerca de 4 kilometros para O., estavam e 36 óbitos; em Cartagena 24 casos e 17 óbi- tos, e em Castellon 114 casos e 50 óbitos. Em 14 dias houve nas 8 províncias de Hespanba atacadas pelo cholera, 12:760 ca- sos e 5:947 mortes! 0 ponto mais flagellado é a província de Valencia, onde a media diária dos óbitos é de 323. Desgraçada Andaluzia I E note-se que ainda no ultimo anuo perdeu milhares de casas e muitos centos de vidas com os ter- remotos que a assolaram durante mezest... 1 «Entre Cacella e Castro Marim, na praia que faz entrada para a barra d'Aiamonte.» Chorog. do Algarve por Raptista Lopes, pag. 383. 2 Const. do Bispado e Catalogo dos Bispos do Algarve. 920 VIL VIL completamente desertas;— e que Monte Gor- do era uma aldeia de pescadores, formada por simples palheiros, cabanas ou palhoças (pequenas habitações cobertas de palha) como Espinho, ao norte d'Ovar, ainda no meiado d'este século; mas era também como Espinho, uma aldeia muito importante pela sua população, pelas suas pescarias, e pelo seu eommercio. «Antiga e de consideração era a pescaria n'este sitio,— segundo se lê na Chorographia do Algarve; já em 25 de setembro de 1433 el-rei D. Duarte havia doado ao infante D. Henrique a dizima nova d'ella K Estava em grande auge em 1711 a 1712, e tão rapida- mente prosperou com a concorrência de hespanhoes, portuguezes e francezes que em 1774 havia n'esta praia mais de cinco mil homens, afóra muitas mulheres, que em dif- ferentes ruas de cabanas oecupavam mais de huma legoa, desde a ponta da barra atè perlo do sitio, onde foi a antiga Cacella, e contava Dão menos de 100 barcos ou artes de arrastar.» Tão importante e rica fui na 1.» metade do século xvm a povoação de Monte Gordo, que a denominavam Monte d' Ouro ; mas o despótico e prepotente ministro de D. José a anniquilou para elevar a uma altura phan- tastica a sua tão querida Villa Real de Santo Antonio, como auniquilou todos 03 vinhedos do nosso paiz para exalçar o Douro. Em 1774, o marquez de Pombal, vendo deserto todo o chão desde a aldeia de Monte Gordo até Castro Marim, resolveu crear na margem do Guadiana, em frente da Anda- luzia, uma povoação imponente que sup- plantasse Ayamonte e infundisse respeito aos hespanhoes e a todos os extrangeiros que desembarcassem no Guadiana e pisassem a extremidade S. E. do nosso paiz. Com este louvável intuito mandou fun- dar no dieto anno Villa Real de Santo An- tonio, em alegre e vistosa situação, domi- nando Ayamonte e a lindíssima e ampla foz do Guadiana, na fronteira S. E. do nosso » Liv. 3 de Mist. fl. 215, v. na Torre do Tombo. paiz, á entrada do Algarve e como porta e coroa d'elle. Homem illustrado e arrojado, despido de preconceitos e amante do progresso, esco- lheu para a nova povoação um risco ele- gante e magestoso, á imitação do bairro baixo de Lisboa : Fronteria imponei.te, regular e symetri- ca, olhando com desdém para a Andaluzia e para o Guadiana;— ruas amplas, algumas de 30 metros de largura, todas perfeita- mente alinhadas e cor t uias eiu angulo re- cto por outras no mesmo estylo; — casas elegantes, todas symètrkíâs; — praças e lar- gos,— boa egreja matriz, soberbos paços do concelho, magestoso pelourinho, etc. E tal era o poder do grande ministro que, em cinco mezes, estava feita a villa actual,— a expen- sas do thesouro e de diversos particulares que elle convidou — ou antes obrigou — a construir ali rasas, — nomeadamente as ar- mações da pesca e os primeiros proprietá- rios e negociantes do Algarve, bem como os armadores principaes das nossas praças ma- rítimas e a poderosa Companhia da Agricul- tura e Vinhos do Alto Douro, que ali fez cinco casas e montou pescarias. 1 Não correspondeu porem o resultado aos intuitos do grande ministro. A edificação parou em menos da quarta parte do projecto, — por falta de habitantes, apesar das vantagens que o marquez lheof- ferecia, pois fundou na villa differentes as- sociações,— concedeu aos pescadores e ne- gociantes, que a fossem habitar, muitos pri- vilégios;—carregou de direitos a sardinha importada da Hespanha ;— elevou a nova villa a sede d« concelho;— estabeleceu n'ella uma alfandega regular e differentes fabricas e offlcios; — deu-lhe juiz de fóra e auctori- dades correspondentes; — protegeu a contra a invasão das areias, mandaudo semear em volta d'ella um grande pinheiral com mais de seis kilometros de circumferencia;— fez plantar muitas amoreiras no seu termo para creação do bicho da seda e exploração d'esta industria, etc, mas apesar de tanto bónus, a população não augmenlou I 1 V. vol. 7.° pag. 416, col. i.« VIL VIL 921 Vendo-se tão contrariado o marquez, lem- brou-se de transferir para a sua nova villa a grande população da aldeia de Monte Gor- do, e para isso obrigou os seus habitantes a levarem pari* a villa e a irem vender n'ella todo o pescado. Osjpohres homens, magoadissimos com a intimação, preferindo por muitas rasões os seus palheiros ao esplendor da villa, recu- saram-se a cumprir tal ordem; mas o mar- quez os compelliu e os castigou severamente chegando a mandar queimar as habitações dos recalcitrantes, pelo que muitos d'elles emigraram e foram estabelecer-se na Higue- rifa, pequeno porto hexpanhol da Andaluzia, que augmentou em população e riqueza, ao passo que a aldeia de Monte Gordo, sendo um monte d'ouro, fleou deserta ! . . . Perdemos aquelle gr ande empório de pes- carias e de riqueza — e a nova villa ficou em embrião e estacionaria por muito tempo. Ainda em 1837, Villa Real com toda a sua elegância e prosápia de villa nem sombra era da extincta povoação de Monte Gordo, povoada de choças. «Tamanho prejuízo cau- sou a má eleição do sitio para esta fatal edi- ficação!—diz João Baptista S. Lopes. A não ter sido desmanchado o ninho, que o ins- tincto e o interesse haviam construído em Monte Gordo, cabedaes sem conto nos teria fornecido esta povoação, deixando-a ficar no sitio escolhido por aquelles que por pra- tica entendião melhor de seus interesses, do que os theoricos de gabinete que, faltando- lhes aquella, estragão tudo em que tocão.» «Hoje em dia (1837)— continua Baptista Lopes — tem Villa Real dois hiates, e dois cahiques viageiros, ou lanchas de pesca de 5 a 6 toneladas, 17 chavegas com 500 ma- rítimos, tão desleixados dos seus próprios interesses, quanto cuidadosos e diligentes são òs seus visinhos de Aiamonte, — ainda que só na pesca se eropregão e poucos no campo. As mulheres trabalhão no preparo da sardinha para estivar, em obras de pal- ma, e em rendas de linha. «Está o porto d'esta villa sendo o segundo do Algarve, por causa da sua excellente bar- ra. No anno de 1836 entrarão n'elle 533 em- barcações, a saber: — 12 navios redondos, 17 hiates, 139 cahiques, 4 rascas, e 361 bar- cos de um pão só. Aquellas 17 chavegas bar- cos ou artes de arrastar, tem cada huma ou- tra barca chamada enviada, que tem a bordo outra rede e demais preparos para aprovei- tar alguma passagem de sardinha, quando as primeiras já tem o saco cheio, e por isso vem a ser 34. «A sardinha he aqui a pescaria de mais consideração. Salga-se e estiva-se toda, ex- trahindo-lhe o azeite pela prensa, e se ex- porta para os paizes estrangeiros. Para esta manipulação ha 8 fabricas, e 3 para osbar- rilinhos de enxovetas, que se exportam para a Itália. Dão-se pouco a outras pescarias que não seja a da sardinha na temporada; deixão que os hespanhoes aproveitem essa tal ou qual pescaria que no Guadiana po- dião fazer, principalmente das corvioas que n'elle entrão em abundância, e que os pes- cadores de Aiamonte apanhão com certas redes chamadas corvineiras. «Empregão-se nos mezes, em que não corre a sardinha, na pesca das famosas os- tras que ali ha perto, para a qual usão de hum triangulo de ferro com huma braça de lado, aos quaes está presa huma rede em fórma de saco e em cada um dos ângulos se prende huma corda: estas tres cordas, do comprimento de uma braça, com pouca dif- ferença, vém atar-se em oulra mais com- prida, que das lanchas deitão ao mar. Hum dos lados do triangulo, a que chamão rasto vae arrastando pelo fundo do mar, e arran- cando as ostras, que cahem no saco da re- de até se encher; — levantão então, e despe- jando-o, continuão a pesca *. «D'estas ostras fazem viveiros e, quando lhes parece occasião, as levão a vender por bom preço a Cadiz e Gibraltar. «Em Monte Gordo ha ao presente (refe- ria-se ao anno de 1837) 64 cabanas e 4 ca- sas. Talvez possa hir em augmento, visto que 1 Ainda hoje aqui no Guadiana se pescam muito boas ostras, nomeadamente junto de Ponta da Areia. 922 VIL VIL agora (1837) é livre a cada hum hir estabe- leeer-se e morar onde mais lhe convier; e a praia é mais asada para a pescaria, do que a vizinha de HespaDha. • Para suster d'algum modo os edifícios da nova villa, e em particular a frente de Aiamonte, a fim de que não se arruinem de todo, e até desabem, carece ella de hum mu- ro á margem do Guadiana, que, tendo co- mido as areias, já toca nas casas, começando a engoli-las. «O pinhal, tão formoso que era, etãoutil pelo interesse das madeiras, quanto por con- ter as areias, está (1837) todo perdido! Ape- nas existem huns cem pinheiros junto á casa da Audiência; 1 todos os demais foram ar- rancados. iDcumbe á camará fazer semear de novo aquelles areaes. . . Por aqui houve e se conservam ainda algumas amoreiras das que no tempo da fundação da villa fo- ram plantadas, mas dos bichos ninguém cuida ...» Esta villa e este concelho, pelo facto de demorarem em terreno baixo, arenoso e pla- no, não teem uma única fonte de bica, mas em qualquer ponto se encontra agua potá- vel e de excellente qualidade, por ser filtra- da pela areia. Basta fazer uma cova de 1 a 2 metros de profundidade para se encontrar, — e mettendo-lhe uma ou duas barricas está formado um poço ! Na \illa ha differentes, revestidos de pedra, para uso do publico. Como se vê do longo extracto que fizemos da Chorographia do Algarve, esta villa ainda em 1837 se conservava estacionaria; mas hoje tem bastante vida,— muito movimento no seu porto, — bons estabelecimentos com- 1 Assim se denomina um sitio, distante d'esta villa cerca de 5 kilometros para O. na estrada de Tavira. Consta que outr'ora ali, por ser um ponto central, costumavam as auctoridades ir fa- zer audiência e administrar a justiça aos povos circumvisinhos. — Cacella, Villa Real e Castro Marim, todos tres distantes da tal Casa da Audiência, que ainda existe, cerca de 5 kilometros. merciaes e de pescarias, — differentes fabri- cas, etc, pelo que o seu estado actial pôde dizer-se prospero e florescente. Em 1837 contava apenas 197 fogos, em quanto que em 1878 contava 954 e 4:255 habitantes, — e a sua população augTienta e com ella o numero de habitações e edifícios de toda a ordem. Deve a sua prosperidade e florescência a differentes causas. Occorrem nos as seguintes : 1. »— A paz octaviana que felizmente gosa- mos desde 1834. As pequenas revoluções civis posteriores foram momentâneas e de tão pouco alcance que nem o nome de revoluções merecem. A este longo período de paz se deve a nossa invejável tranquilidade e segurança. Ha muito que em todo o nosso paiz não ha uma quadrilha de salteadores nem me- moria d'um roubo feito com mão armada. Os tétricos nomes de Serra da Falperra e dos Pinheiraes da Azambuja parecem-nos hoje uma lenda. 2. a_o grande desenvolvimento que entre nós attingiram os meios de communicação de toda a ordem,— linhas férreas, estradas a macadam, telegraphos eléctricos, telepho- nes, diligencias, carreiras de vapores, etc, nomeadamente desde 1852, cabendo ao lindo reiuo do Algarve também o seu quinhão nos melhoramentos públicos, pois tem, ha muito, uma bella estrada a macadam, servida por diligencias, desde Villa Real até Lagos;— diligencia diária também de Mértola para Beja, na linha férrea do sul,— e uma linha férrea (parte já construída e parte em con- sti ucção) de Beja para Faro. Esta villa tem, ha muito, carreira diária de vapores pelo Guadiana para Mértola, pon- do-a em intimo contacto com todo o nosso paiz pelas linhas férreas do sul, sueste, nor- te, Douro, Minho, Beira, Guimarães, Povoa de Varzim, etc, todas ligadas entre si. Tem além d'isso outra carreira de vapo- res para Lisboa, ambas montadas, ha an- nos, por Alonso Gomes, grande proprietário, negociante e industrial estabelecido em Mér- tola, onde fez para sua habitação um lindo palacete, quasi todo de mármore conduzido de Lisboa nos seus vapores. VIL VIL 923 Também tocam n'esta villa os vapores de duas companhias (uma hespanhola, outra ingleza) que fazem carreira entre o Medi- terrâneo e a Inglaterra, tocando em Lisboa e nos portos principaes do Algarve,— Olhão, Tavira, Faro, Villa Nova de Portimão, etc. Quando em 1879 visitamos o Algarve, fi- zemos a viagem de Mértola para Villa Real no vapor Gomes II— e de Portimão para Lis- boa no vapor Gibraltar da companhia ingle- za. V. Vicente (S.) Gabo, n'este vol. 10.», pag. 504 e seg. 3. "— As fabricas de conservas aqui mon- tadas e que não só empregam numeroso pes- soal, mas compram peixe no valor de muitos contos de réis. Em 1880, por exemplo, compraram as di- etas fabricas 11:802 atuns e 2:962 atuarros por 50:287M0l réis;— e em 1879 haviam comprado 30:948 atuns e 2:637 atuarros por 47: 279^4 18 réis. Em um dos últimos annos exportaram as dietas fabricas 301:420kilogrammas de atum em escabeche, no valor de 83 contos de réis — e caleulou-se em 1:000 contos a receita só do peixe e do figo na província do Algarve. 4. "— O grande desenvolvimento que na 2.» metade d 'este século attingiram as Mi- nas de S. Domingos, no concelho de Mértola, hoje absolutamente as primeiras de Portu- gal, e que teem attrahido a este porto e ao de Pomarão, cerca de 40 kilometros a mon- tante de Villa Real, na margem esquerda do Guadiana, muitos navios de vela e de va- por, chegando a ver-se ancorados ali a um tempo 64 barcos de differentes lotações, só em serviço das grandes minas. Todos aquelles barcos locam n'esta villa, — n'ella fazem aguada— e deixam muito di- nheiro 1. . . V. Pomarão, vol. 7.° pag. 125, col. 1.» e seguintes. No anno ultimo contava esta villa 13 na- vios seus,— e com o movimento d'elles,— dos das carreiras portuguezas de vapores para Mértola e para Lisboa,— dos das outras mencionadas carreiras hespanhola e ingleza, —dos que trabalham para as grandes Minas de S. Domingos— e dos muitos barcos das pescarias é hoje o porto d'esta villa o pri- meiro do Algarve. Para isso contribuiu também o ser a sua barra funda e pouco perigosa— e o Guadiana sem baixios nem pedras e navegável para barcos de grande lotação até á villa de Mér- tola, distante 55 kilometros da costa,— indo as marés até montante da dieta villa,— em- quanto que todos os outros portos do Al- garve^se acham hoje muito soriados e quasi inutilisados. V. Lagos, Olhão, Portimão, Silves, Faro, Tavira e Algarve, n'este diccionario e no supplemento. Ao norte do nosso paiz a cheia maior que houve n'este século foi a de dezembro de 1860; mas ao sul foi muito maior a de de- zembro de 1876. O Guadiana subiu a uma altura de que não ha memoria. Em Hespanha destruiu as pontes de Me- rida e de Radajoz— datando a primeira do tempo dos romanos ; — em Mértola entrou no andar nobre dos paços do concelho, como prova uma inscripção que ali gravaram,— e de Mértola até o mar causou grandes pre- juisos, nomeadamente em Pomarão, onde arrasou todo o povoado que ali tinha feito a empreza das Minas de S. Domingos. No Diário da Manhã de 17 de dezembro d'aquelle anno se lê o seguinte: «Foi medonha a cheia do Guadiana. Al- coutim está quasi submergida, abatendo muitas casas. Ficou destruída a alfandega e muitas repartições publicas. O Pomarão quasi desappareceu. Na povoação das minas de S. Domingos, o palácio do sr. viseonde de Mason de S. Domingos ficou arrasado; alagadas as casas dos operários; e anniquila- da a estação telegraphica. As perdas da em- preza das minas sobem a um milhão de cru- zados 1... «Em Villa Real de Santo Antonio não fo- ram menores os desastres. Perdeu-se uma lancha de pesca morrendo oito homens; uma canoa morrendo um homem e dois rapa- zes; o vapor Tinto garrou; o patacho Doctor foi abandonado nos baixos da barra. 924 VIL VIL • Em Mértola houve grande inundação; a povoação hespauhola de S. Lucar desap- parereu! . . . » Por essa occasião disse um correspon- dente de Alcoutim para a Gazeta do Algarve: tO Tomarão desappareceu. Todas as ca- sas foram arrazadas, e nem se conhece o lo gar onde existiam. — Apenas ficaram algu- mas eollocadas no ponto mais elevado d'a- quella povoação.— Em Alcoutim houve per- das consideráveis; em S. Lucar, aldeia hes- panhola da margem esquerda do Guadiana, também grandes perdas.— Os campos d'Al- coutim esião debaixo d'agua, que entra den- tro da villa em muitas casas e quintaes. As carreiras do vapor foram interrompidas. Em Villa Real de Santo Antonio ha desgraças a lamentar.— Morreram 11 homens, 3 que fo- ram buscar uma madeira e viram-se perdi- dos na volta, e 8 que lhes. foram acudir. As ribeiras na serra correm caudalosas; e consta que tem morrido 2 ou 3 homens, e muitos outros tem escapado com grande difficulda- de e perigo. «Todas a9 repartições foram a terra. A al- fandega foi que soffrea mais, por que não se poude salvar um único papel e suppõe-se que não ficarão nem vestígios d'ella!. . -1» Desde Mértola até Castro Marim ambas as margens do Guadiana estavam orladas e re- vestidas de frondoso arvoredo, nomeada- mente figueiras e romanzeiras espontâneas, silvestres que, pendendo sobre o formoso rio, não só o embellesavam, mas davam abrigo aos barcos, tio verão, e aos marinheiros, passageiros e pescadores, que eram mimo- sos de frueta;— a cheia, porém, derribou e levou todo aquele frondoso e lindíssimo ar- voredo, deixando ambas as margens escal- vadas e nuas, como nós ás vimos em 1879, — e ainda assim nos recordamos d'ellas com saudade. Também nos recordamos ainda de um pittoresco morro que se ergue a jusante de Pomarão, na margem direita do Guadiana e a que deram com muita naturalidade o 1 Isto refrre-se a Alcoutim. Em Villa Real a grande cheia não subiu além das ma- rés dos equinócios. nome de Livraria \ pois é formado de schisto fendido em cortes horisontaes e per- pendiculares, semelhando uma enorme e ca- prichosa estante com livros. Quando se fundou esta villa, as cartas para irem a Lisboa e voltarem demandavam 14 dias; — 28 para irem e voltarem ao Porto; — 35 para irem e voltarem a Rraga, Lame- go, Moncorvo, Vianna do Minho, Almeida e Pinhel,— e 44 para irem e voltarem a Rra- gança, Miranda, Chaves, Monsão e Montale- gre, 2— emquanto que hoje vão aos pontos extremos do nosso paiz em menos tempo do que então gastavam só para irem a Lisboa. Note se também que n'aquelle tempo as cartas representavam as noticias mais sim- ples que hoje podem transmittir-se por te- legrammas e irem á Rússia, á índia ou ao Rrazil em menos de 24 horas 1 Tem esta villa estação telegraphica para os telegraphos terrestres e outra para os sub- marinos. A sua rua principal é a rua da Rainha — e á sua praça deram por gratidão o nome de Praça do Marquez de Pombal 3. N'ella se erguem ao norte a egreja ma- triz,—a oeste os paços do concelho, que são os da fundação da villa,— e no centro um pelourinho monumental, feito pelas empre- sas de pescarias em honra de D. José I, quando se fundou a villa. Tanto aqui, como em todas as povoações do littoral do Algarve, as mulheres fazem obras variadíssimas de palma e bellas ren- das de bilros. Esta ultima industria se exer- ce em todas as outras povoações do littoral do nosso paiz— e somente no littoral— até Caminha, sendo muito importante em Vian- 1 Na margem direita do rio de Silves, en- tre a cidade d'este nome e Portimão, se vê na base da encosta uma pequena gruta de- nominada Velha das castanhas! . .. Tomaria o nome d'alguma velha que ali costumasse vender castanhas aos marinhei- ros ? 2 Taboada Curiosa de João Antonio Gar- rido. 3 Também deram ao theatro o nome do mesmo marquez. VIL VIL 925 na do Castello e Villa do Conde e mais, muito mais ainda, em Peniche. As rendas de Peniche são incomparavel- mente superiores em mimo, perfeição e va- riedade. Os próprios estrangeiros, nomea- damente hespanhoes e francezes, as admi- ram, compram e vendem como suas!. . . Para evitarmos repetições, vejam-se os artigos Vianna do Castello, Villa do Conde e Peniche. O movimento do porto de Villa Real de Santo Antonio no ultimo anno (1884) foi o seguinte : Embarcações ENTRADAS Janeiro . 28 Fevereiro 44 Março 28 Abril 18 Maio 28 Junho 26 Julho . . . . • 33 Agosto 46 Setembro 53 Outubro 63 Novembro 84 Dezembro , * 59 Total 510 SAH1DAS Janeiro , 36 Fevereiro 29 Março 33 Abril 22 Maio 22 Junho 24 Julho 32 Agosto 38 Setembro 52 Outubro 64 Novembro 85 Dezembro * 67 Total 504 As barcas ou artes de pesca, pertencentes á aldeia de Monte Gordo, foram no dicto anno 11, empregando o pessoal de 227 ho- mens. As barcas ou artes de Villa Real foram 5, empregando 100 homens. Matricularam-se mais : De Cacella, 9 barcas com 144 homens,— de S. Bartholomeu, 1 barca com 22 homens. Além das barcas das artes, matrícularam- se em 1884 na capitania d'este porto os bar- cos seguintes : Para pesca 118, com o pessoal de 212 ho- mens;—para serviço fluvial (vapores, cahi- ques etc.) 129, com o pessoal de 257 ho- mens;— e para cabotagem (costeiros e de longo curso)— 17, com o pessoal de 162 ho- mens. O movimento da alfandega d'esta villa no anho de 1884 foi o seguinte: Navios de vela entrados, com carga . . 180 > > » » em lastro. . . 48 Vapores entrados, com carga 96 » i em lastro 68 Navios de vela sahidos, com carga. . . 203 » » » » em lastro — 81 Vapores sahidos, com carga 158 » » em lastro 3 Rendimento da alfandega 41:5170503 réis. » do pescado 13:9640748 » No anno económico de 1883 a 1884 pa- gou este concelho: De contribuição predial 3:4610920 » » industrial.... 2:1240142 d i de renda de casas e sumptuária 6130118 De contribuição de decima dé juros 382^482 Somma 6:5810662 Imposto do real d'agua 3:5580216 Sello de verba 8420850 Estampilhas de differentes taxas 1:0400420 Sellos de franquia e formulas postaes 1:2180090 Total 13:2410238 0 lazareto, de que já fizemos menção, foi montado ao sul da villa, a distancia de 1:500 metros. VOLUME X 59 926 VIL VIL Lançou-se a primeira pedra do hospital d'esta villa por occasião dos grandes feste- jos do primeiro centeeario do ínclito mar- quez de Pombal, a quem esta villa deve a sua fundação. E de passagem diremos que Baptista Lopes, o illustrado e benemérito auetor da Chorographia do Algarve, se hoje vivesse, não seria, como foi, tão severo em censurar o graude ministro de D. José I pela escolha do local para a fundação d'esta villa e pelo pequeno desenvolvimento que ella as- sumiu nos primeiros annos da sua existência. Ella paralysou, porque o marquez de Pom- bal a fundou em 1774, e em 1777, ou pas- sados apenas 3 annos, deixou o poder por fallecimento de D. José, e foi votado ao os- tracismo. Se elle se conservasse no poder mais al- guns annos, esta formosa villa seria hoje uma cidade ! Nos domingos ha n'esta villa mercado se- manal muito importante, ao qual concorrem muitos hespanhoes que vem abastecer-se de ovos, gallinhas, carne de porco, artigos de mercearia, etc. Só a verba empregada em ovos se eleva por vezes á cifra de um conto de réis!... Uma das especialidades d'este concelho é a areia para fabrico de vidros. Os hespa- nhoes a levam em grande quantidade para esse fim; no concelho não se aproveita nem ha fabricas próprias, por falta de combustí- vel. Os antigos fortes de Monte Gordo, Ponta da Areia, Medo Allo, Pinheiro e Carrasquei- ra, já mencionados, estão todos nos limites d'esta freguezia, mas desartilhados, sem guarnição e sem governador. Servem apenas de postos fiscaes. O movimento do telegrapho terrestre d'esta villa no anno de 1881 foi de 35:883 telegram- mas que renderam 1:799)3800 réis. Ha também n'esta villa estação do tele- grapho sub-marino, que liga a Europa e Lisboa com a America. Na ultima sessão das nossas cortes foi ap- provado o desvio de 2;000#000réis do fun- do da viação d'este concelho para a con- strucção de dois cemitérios. Concluiremos dizendo que, segundo nos informam, acaba de constituir-se em Lisboa e Londres uma companhia para explorar o privilegio de illuaiinar a gaz differentes ci- dades e villas de Portugal, e que já tem pro- postas para a illuminação d'esta villa e das cidades d'Evora e Faro. Do exposto se vê que é prospero o estado d'esta formosa villa e que tem diante de si o mais lisoDgeiro futuro. Ao seu illu*trado prior o rev. Antonio Máximo Callado, agradeço os apontamentos que se dignou enviar-me, pedindo lhe e a todos os seus paroihianos a fineza de me in- dicarem os lapsos para os reparar no sup- plemento. VILLA REAL DE TRAZ OS MONTES— ou Villa Real de Panoias, — ou simplesmente Villa Real, — villa e séde do concelho, da co- marca e do distrieto do seu nome, arcebis- pado de Braga, provinda de Traz-os-Montes} e capital ou corte da mesma província. É também ha muitos annos séde d'um vigário geral, nomeado pelos arcebispos de Braga e que superintende em muitas das freguezias que aquelle grande arcebispado tem n'esta província. Logo as indicaremos. A villa é formada por duas parochias: — S. Diniz, reitoria, orago S. Diniz,— fogos 450, —habitantes 1:910,— e S. Pedro, abbadia, orago S. Pedro,— população (comprehenden- do o regimento de iofanteria n.° 13, estacio- nando n'esta villa e n'esta parochia) — fogos 1:300— habitantes 4:196. População actual da villa : Parochias 2 Fogos 1:750 Habitantes1 6:106 População total do concelho segundo o ultimo recenseamento : Freguezias. . - 27 Fogos 8:132 Habitantes 33:625 i A cidade de Bragança, que alguém con- sidera capital d'esta província, contava em 1878— freguezias 2 —fogos 1:128,— habitan- I tes 5:495. VIL População (Teste districto Concelhos São os seguintes : 14 Concelhos Fo gos Habitantes .... , 10 4.000 10 í .'t 1 J 11.11/ Afi 40 0.Z40 00. *00 7 1:970 7:449 Mondim de Basto.. 9 1:814 7:298 35 4:402 19:985 9 1:447 6:282 10 3:971 16:712 Ribeira de Pena.. . 6 1:834 8:412 15 3:260 14:022 Santa Manha de Penaguião 10 2:840 10:846 33 6:388 27:213 Villa Pouca d'A- 16 3:603 16:055 Villa Real 27 8:lò2 33:625 Total 257 55:202 234:844 A província de Traz-os-Montes compre- hende, além d'este districto de Villa Real, o de Bragança com 12 concelhos e a popula- ção seguinte : Concelhos Freg. Fogos Habitantes Alfandega da Fé. . 21 2:004 9:408 50 6:304 27:725 Carrazeda d'An- 21 3:184 11:882 Freixo d'Espada á 6 1:693 6:501 Macedo de Cavai - 38 4:492 18:566 Miranda do Douro 15 2:408 9:788 39 4:834 20:031 34 3813 16:042 21 3:714 14:603 Villa Flor 19 2:440 9:902 14 2:556 10:445 37 4:543 20:724 Total 315 41:985 175:617 Total da população d'esta província Districtos VIL 927 Concelhos 26 Freguezias 563 Fogos 95:740 Habitantes 404:179 Divisão ecclesiastica Até 1545, data em que D. João III creou o bispado de Miranda, hoje com o titulo de Bragança e Miranda, por ter à séde em Bra- gança, quasi toda a província do Minho e toda a de Traz-os-Montes pertenciam eccle- siasticamente ao arcebispado de Braga, que era enorme e tinha vigários geraes em Mi- randa, Bragança, Moncorvo, Villa Real e Chaves. Creado o bispado de Miranda, separou-se ecclesiasticamente para elle uma parte do actual districto de Bragança,— não todo, pois em 1882, data da ultima circumscripçâo dio- cesana, ainda n'aquelle districto obedeciam ao arcebispo de Braga os concelhos de Moncorvo, Villa Flor, Carrazeda d'Anciães, Mogadouro e Alfandega da Fé que, em vir- tude dá mencionada circumscripçâo, fica- ram pertencendo á diocese de Bragança, com o total de 116 freguezias,— 15:155 fogos— e 61:837 habitantes. A mesma diocese de Bragança recebeu também do arcebispado de Braga, n'este dis- tricto de "Villa Real, 11 freguezias do conce- lho de Chaves com 1:506 fogos e 6:492 ha- bitantes,—e do concelho de Valle Passos 8 freguezias com 1:206 fogos e 5:566 habitan- tes. Perdeu pois n'esta província em 1882 o arcebispado de Braga em favor do bispado de Bragança: Freguezias 135 Fogos 17:867 Habitantes 73:895 Perdeu também n'esta província, n'este districto de Villa Real, em 1882 o arcebis- pado de Braga em favor do bispado de La- mego: Freguezias 51 Fogos 12:113 Habitantes 50:928 928 VIL VIL Perdeu pois o arcebispado de Braga n'esta província, nos districtos de Villa Real e de Bragança, em virtude da circumscripção de 1882,— total : Freguezias 186 Fogos 29:980 Habitantes 124:823 Ficaram pertencendo e pertencem ainda ao arcebispado de Braga n'esta provincia e n'este districto os 7 concelhos seguintes : Boticas, Chaves l, Mondim de Basto, Mon- talegre, Ribeira de Pena, Valle Passos 2, Villa Pouca d'Aguiar e Villa Real 3, com 167 fre- guezias,—33:127 fogos— e 144:613 habitan- tes. Pertencem também á mesma archidiocese: —No districto de Braga— 507 freguezias com 80:136 fogos— e 329:132 habitantes. —No districto de Vianna do Castello— 287 freguezias com 53:979 fogos— e 212:580 habitantes. —No districto do Porto— 26 freguezias com 8:348 fogos— e 33:551 habitantes. Conta pois ainda hoje o arcebispado de Braga 987 freguezias com 175:590 fogos e 719:876 habitantes. Apesar da grande população que perdeu em favor das dioceses de Bragança, Lamego e Porto, ficou sendo ainda a diocese mais populosa de Portugal,— depois Lisboa, que tem 341 freguezias, — 171:265 fogos — e 733:237 habitantes. 1 D'este concelho pertencem ao arcebispado de Braga 35 freguezias com 6:737 fogos e 28:993 habitantes— e ao bispado de Bragan- ça 11 freguezias com 1506 fogos e 6:492 ha- bitantes. 2 D'este concelho pertencem ao arcebis- pado de Braga 25 freguezias com 5:182 fo- gos e 21:6i7 habitantes— e ao bispado de Braeança 8 freguezias cora 1:206 fogos e 5:556 habitantes. Referimo-nos ao ultimo recenseamento, feito em 1878 e que serviu de base para a circumscripção diocesana de 1882. 3 D'este concelho pertencem ao arcebis- pado de Braga 25 freguezias com 7:503 fo- gos e 31:106 habitantes,— e ao bispado de Lamego 2 freguezias, — Abbaças e Guiães; — com 629 ft>g03 e 2:519 habitantes,— segundo o ultimo recenseamento. A 3." em população é a do Porto, que tem 464 freguezias,- 145:297 fogos— e 605:021 habitantes. O bispado de Lamego nada tinha na mar- gem direita do Douro antes da mencionada circumscripção de 1882; mas em virtude d'ella recebeu n'esta provincia de Traz-os- Montes, neste districto de Villa Real, os con- celhos de Mezãofrio, Regoa, Santa Martha de Penaguião, Sabrosa, Alijó e Murça comple- tos,— mais 2 freguezias do concelho de Villa Real. Ao todo 71 freguezias com 19:003 fogos — e 78:173 habitantes. D'estas 71 freguezias pertenciam ao arce- bispado de Braga 51, com 12:113 fogos e 50:928 habitantes:— no concelho da Regoa 4 freguezias— Covellinhas, Galafura, Poia- res e Villarinho dos Freires;— no de Alijó 18 (todas);— no de Murça 9 (também todas); —no de Santa Manha de Penaguião 3,— Alvações de Corgo, Louredo e Cumieira;— no de Villa Real 2— Abbaças e Guiães;— e no de Sabrosa 15 —(todas). As 20 restantes per- tenciam ao bispado do Porto:— no concelho de Mezãofrio (todas) 7;— no concelho da Re- goa 6,— Fontellas, Godim, Loureiro, Moura Morta, Peso da Regoa e Sediellos;— no con* celho de Santa Martha de Penaguião 7,— Ce- ver, Fontes, Fornellos, Lobrigos (S. João), Lobrigos (S. Miguel), Medrões e Sanhoane, — comprehendendo estas 20 freguezias,— 6:890 fogos— e 27:245 habitantes. Em compensação o bispado do Porto re- cebeu muitas freguezias do arcebispado de Braga —do supprimido bispado d'Aveiro— e do bispado de Lamego tudo o que este ti- nha na margem esquerda do Paiva e que era o seguinte : Concelhos 2— Arouca e Sobrado de Paiva; —freguezias 28;— fogos 5:208;— habitantes 23:110. Do concelho d'Arouca ficou pertencendo ao de Lamego apenas a freguezia d'Alva- renga, por estar na direita do Paiva. V. Lamego, Alvarenga e Arouca n'este diceionario e no supplemento, onde faremos largas rectificações e addições aos artigos próprios. VIL VIL 929 Divisão comarca A comarca de Villa Real é hoje muito dif- fereate do que foi outr'ora. Hoje apenas comprehende o concelho de Sabrosa com 15 freguezias e este de Villa Real com 27, e são as seguintes: Abbaças, Adoufe ou Adaufe, Andrães, Ar- roios, Borbella, Campeã, Constantim, Er- mida, Filhadella ou Folhadella, Goiães ou Guiães, Lamares, Lordello, Matheus, Mon- drões, Mouçós, Nogueira, Parada de Cunhos^ Pena, Quinta, S. Thomé do 'Castello, Tor- gueda, Valle de Nogueiras ou Vallongueiras , Villa Cova, Villa Marim, Villa Real, orago S. Diniz, Villa Real, orago S. Pedro, e Vil- larinho da Samardã, com o total de 8:132 fogos e 33:625 almas. O concelho de Sabrosa tem : ' ' Freguezias 15 Fogos 3:260 Habitantes 14:022 Total da população d'esta comarca de Villa Real: Concelhos 2 Freguezias 42 Fogos 11:392 Habitantes 47:647 Nos princípios do ultimo século a co- marca de Villa Real era uma das quatro que constituíam a província de Traz os Montes, sendo as outras tres— Bragança, Miranda e Moncorvo. Contava esta de Villa Real, só no termo da villa, 50 freguezias com algumas anne- xas. Não as mencionamos para não fatigar- mos os leitores; mas o padre Carvalho as indica na Chorographia Portugueza, tomo I. Comprehendia também então esta comarca as villas de Alijó, Favaios e Lordello, bem como a honra de Gallegos, que eram todas do marquez de Távora e da provedoria de Lamego. Comprehendia também Dornellas, Prove- zende, S. Mamede de Riba-Tua e Ervededo, que eram coutos da mitra de Braga e Tel- les entrava por correição o ouvidor dos ar- cebispos. Por seu turno o ouvidor de Villa Real entrava por correição em 3 villas da provedoria de Moncorvo,— Lamas de Ore- lhão, Abreiro e Freixiel,— nas de Almeida e de Ranhados, que eram da comarca de Pi- nhel—na honra de Sobrosa (hoje reitoria de Santa Eulália de Sobrosa, concelho e co- marca de Paredes) e na freguezia de S. Sal- vador de Freamunde (hoje do concelho de Paços de Ferreira) que então pertencia á dieta honra de Sobrosa l. Em 1729 a 1730, segundo se lê na Geo- graphia Histórica de D. Luiz Caetano de Lima (tomo 2.° publieado em 1736) a ouvi- doria ou comarca de Villa Real comprehen- dia oito villas e uma honra: — Abreiro, Al- meida, Canellas, Freixiel, Ranhados, Lamas d'Orelhào, Vimioso, Villa Real e Sobrosa, que era também honra, sendo hoje uma sim- ples reitoria do concelho de Paredes. Em 1796, segundo se lê na Descripção da província de Traz- os- Montes por Columbano Pinto Ribeiro de Castro Juiz demarcante da mesma província 2, a comarca de Villa Real comprehendia 19 villas, 5 concelhos, 3 cou- tos, 1 honra e 149 freguezias, com 32:879 fogos e 86:456 habitantes 3— sendo homens 41:727— e mulheres 44:729;— 1:618 criadas —2:637 criados,— 241 pastores, 41 soquei- ros, 293 marinheiros rabellos, e 54 arraes (todos na freguezia, então villa e concelho, de Barqueiros) 264 almocreves, 130 carda- dores, 8 tanoeiros, 1 chapelleiro, 2 eoronhei- ros, 2 ourives, 4 latoeiros, 5 ensambladores, 5 capadores, 4 odreiros, 13 pintores, 12 sel- leiros, 138 moleiros, 50 fabricantes de cou- rama (todos em Mondim de Basto) 2 surra- dores, 3 tintureiros, 18 serralheiros, 188 fer- reiros, 3 espiDgardeiros, 62 ferradores, 207 pedreiros, 602 carpinteiros, 541 sapateiros, 1 Não se confunda esta freguezia de So- brosa, orago Santa Eulália, no districto do Porto, com a freguezia e villa de Sabrosa, orago o Salvador, no districto de Villa Real. 2 Códice n.° 486 da Bibliotheca Municipal do Porto. 3 É o que se lê no dicto códice; mas não ha proporção entre o numero dos fogos e o numero dos habitantes. 930 VIL VIL 891 alfaiates, 3 fabricantes de lã (em Vi- mioso) 8 torcedores de seda e 8 fabricantes de seda (em Murça) 5:954 jornaleiros, 9:221 lavradores (talvez proprietários) 6 cabelei- reiros, 47 boticários, 108 cirurgiões, 139 barbeiros, 351 negociantes, 159 pessoas lit- terarias, (talvez professores e bacharéis) 62 freiras, 15 senhoras seculares, 31 recolhidas, 78 frades, 1:014 ecclesiasticos seculares e 2:540 indivíduos sem occupação. As villas, concelhos, coutos e honras d'esta comarca eram : Abreiro, Al farei la de Jalles, Alijó, Athey, Barqueiros, Canellas, Favaios, Fontes, Frei- xiel, Gallegos, Godim, Goivães, Hermello, Lamas d'Orelhão, Lordello, Mezãofrio, Mon- dim de Basto, Murça de Panoias, Parada de Pinhão,5Provezende, Bibeira de Pena, Santa Marlha de Penaguião, S. Mamede de Biba Tua, Cerva, Teixeira, Viila Pouca d'Aguiar, Villa Real e Vimioso, distante da séde da comarca 20 léguas, pela contagem d'aquelle tempo. A villa da Begoa, hoje a povoação mais linda e de mais vida em toda a província de Traz-os-Montes,— séde de comarca de 1.» classe, formada pelo seu eoncelho e pelos de Mezãofrio e de Santa Martha de Penaguião; —a villa da Begoa que já hoje seria cidade, se os seus vereadores não fossem, como teem sido, tão indolentes, tão desleixados e tão maus administradores das rendas do seu município, cujo orçamento se eleva a vinte e tantos contos de reis annuaes; a formosa villa da Begoa, tão vantajosamente situada no centro do coração do Douro, d'essa região encantadora, fertilissima e mimosíssima, que não tem rival entre nó9;— a Begoa, muito bem servida por diligencias, pela via fluvial e pela linha férrea do Douro, na qual tem a estação de mais movimento que ha ao norte do nosso paiz, depois da do Porto; — a Begoa ainda n'aquelle tempo era uma po- voação insignificante, uma pequena aldeia pertencente ao concelho de Godim, hoje fre- guezia de S. José de Godim ou de Jogueiros, uma das que constituem o concelho da Be- goa!.. . Ceci tuera cela. Segundo a mesma Descripcão,— trabalho bastante consciencioso, — Villa Beal e o seu concelho ou termo comprehendiam n'aquella data (1796) 17:808 fogos e 31:987 habitan- tes, sendo 15:471 homens e 16:426 mulheres com as profissões seguintes:— 929 creadas, 956 creados, 151 almocreves, 0 pastores, O cardadores, 2 ourives, 4 latoeiros, 5 ensam- bladores, 5 capadores, 4 odreiros, 9 pinto- res, 12 selleiros, 56 molleiros, 3 tintureiros, 18 serralheiros, 71 ferrtiros, 3 espíngardei- ros, 25 ferradores, 95 pedreiros, 259 carpin- teiros, 218 sapateiros, 387 alfaiates, 0 fabri- cantes de lã, 0 fabricantes de seda, 2:707 jornaleiros, 3:441 lavradores (proprietários?) 6 cabelleireiros, 18 boticários, 43 cirurgiões, 52 barbeiros, 187 negociantes, 66 pessoas litterarias, 33 freiras, 7 senhoras seculares, 31 recolhidas, 54 frades, 416 ecclesiasticos seculares e 1:087 pessoas sem occupação. Isto é realmente curioso e devia dar muito trabalho ao tal juiz demarcante, dr. Colum- bano Pinto Bibeiro de Ca9tro, ascendente (avô ou bisavô) do dr. Columbano Pinto Bi- beiro de Castro Portugal, rezidente aqui no Porto, meu amigo e contemporâneo na Uni- versidade. Egual nota em nítidos mappas se encon- tra no mesmo códice com relação ás outras 3 comarcas,— Bragança, Miranda e Moncor- vo. No suppleraento a este diccionario, — se Deus nos conservar a vida e a saúde e elle estiver ainda ao nosso cargo, — daremos no artigo Traz-os-Montes um resumo dos dictos mappas, lamentando que as outras nossas províncias não fossem dotadas com estatísticas semelhantes. Pelo menos nós não temos noticia d'ellas— nem chorographia al- guma até hoje as indicou. Talvez se conservem ignoradas e despre- sadas em alguma das nossas repartições pu- blicas ou das nossas bibliothecas, como ja- zeram até hoje na Bibliotheca Municipal do Porto os trabalhos do dr. Columbano e ja- zem outros muitos manuscriptos, expostos a desapparecerem de um momento para o outro ! . . . VIL VIL 931 Deus illumine os nossos governos e os nossos municípios e os resolva a salvar e vulgarisar em edições baratas os muitos ma- nuscriptos que possuem sobre todos os ra- mos das sciencias. É do máximo interesse este assumpto e para elle chamamos a attençào d'El-rei, do governo, da Academia Real das Sciencias e das outras corporações scieotiflcas, das ca- marás municipaes e de todos quantos pre- sam as boas leitras. Já que estamos faltando de manuscriptos, vamos dar aos leitores conhecimento de um outro, que por fortuna descobrimos em La- mego e que prende com esta comarca de Villa Real e com o assumpto de que no mo- mento nos oecupamos. No códice já citado se diz que entravam n'esta comarca de Villa Real, nos fins do ul- timo século, ou em 1796, quatro provedo- res,—o de Guimarães, o de Moncorvo, o de Miranda e o de Lamego,— mas não diz em que terras, villas ou concelhos entravam; temos porém sobre a nossa banca de estudo um manuscripto que diz quaes eram as vil- las e concelhos d'esta comarca de Villa Real que nos fins do ultimo século pertenciam á provedoria de Lamego. É o auto original da arrematação das obras da ponte actual de Alvarenga, sobre o rio Paiva, no concelho d'Arouca. Um dos mais illustre* e beneméritos pre- lados lamecenses foi D. Manuel de Vascon- cellos Pereira, natural de Castro d'Ayre. Não só attendia ao bem espiritual dos seus dio- cesanos, mas ao bem temporal, gastando boa parte das suas grandes rendas em concertos e construcção de pontes, fontes, estradas, etc. Indo certo dia em vizita para o concelho d' Arouca, ao tempo e até 1882 pertencente á diocese de Lamego, e tendo desapparecido a antiquíssima ponte, mandada fazer pelo imperador Trajano sobre o Paiva (V. Alva- renga n'este diccionario e no supplemento) teve de atravessar aquelle rio em uma barca e esteve prestes a naufragar, porque o rio ia cheio e caudaloso. Mandou logo o santo bispo fazer ali nova ponte de pedra; mas, como a morte o sur- prehendesse em 1786, antes das obras con- cluídas (estavam feitos os fundamentos e o arco principal prestes a fechar-se) requere- ram os concelhos limitrophes a S. M. a rai- nha D. Maria I, pedindo lhe que fizesse con- cluir uma obra tão importante. Annuiu S. M. e por alvará de 15 de feve- reiro de 1791, sendo já bispo de Lamego D. João Rinet Pincio, ordenou ao provedor de Lamego que fizesse concluir a dieta ponte d' Alvarenga, pondo as obras restantes a lan- ço e rateando pelas duas comarcas da Feira e de Lamego as sommas em que importassem. Depois das formalidades do estylo, foram arrematadas as obras no dia 15 d'outubro de 1791, em Villa Nova de Souto d'El-Rei, nas casas onde então morava o provedor e corregedor de Lamego e desembargador da relação do Porto, dr. Francisco Antonio Pi- nheiro da Fonseca Vieira e Silva, ascendente do actual sr. visconde d'Arneiroz, dr. Anto- nio Pinheiro da Fonseca Osorio, sendo o me- nor lanço 3:300^000 réis, dos quaes a comarca da Feira pagou 1:0000000 rs. e a de Lamego 2:30011000 réis, que foram rateados por todos os concelhos d'aquella grande provedoria. Como consta dos autos que tenho presen- tes, couberam a esta comarca de Villa Real as verbas seguintes: Ao concelho de Mezãofrio 460000 » » Barqueiros 120000 , » » Teixeira 120000 » » » Penaguião 500000 » » > Moura Morta.... 80000 , Godim 120000 , » » Fontes 120000 , . » Peso da Regoa.. 120000 » ■ Canellas 90600 » » Lordello 90800 , » » Parada de Pinhão 60000 » » Gallegos 60000 » » Alijó 190200 » i » Favaios 90000 , » Villa Real (?)... 1000000 » » . Ranhados 190200 » Almeida * 180000 Somma 3600800 i Estes dois concelhos da Beira perten- 932 VIL VIL Mal imaginariam os bons villarealenses e os outros povos transmontanos supra men- cionados, que também eontribuiram para a eonstrucção da ponte de Alvarenga, sobre o Paiva 1 . . . E não será menor a surpresa para os po- vos da raia de Hespanha, hoje pertencentes aos concelhos de Almeida e Figueira de Cas- tello Rodrigo, pois todos n'aquelle tempo eram da corregedoria de Pinhel e da prove- doria de Lamego, pelo que todos foram tam- bém comprehendidos no mesmo rateio, como se vê dos autos. Desde o tempo dos romanos vigorou em Portugal o costume de fazer as grandes obras publicas, nomeadamente as pontes, á custa dos povos circumvisinhos, por vezes bera distantes. No artigo Chaves, villa d'este districto, se vê quaes os povos que contribuíram para a construeção da grande ponte que os roma- nos ali fizeram sobre o Tâmega e que é, com pequenas modificações, a ponte actual. Ruy Fernandes na sua minuciosa, con- scienciosa e muito interessante descripção do terreno em volta de Lamego duas léguas, escripta em 1532 l, fallando da grande ponte de pedra que D. Affonso Henriques e sua mulher, a rainha D. Mafalda, mandaram fa- zer sobre o Douro no ponto do Piar ou do Pilar, entre a freguezia de Barrô, concelho de Rezende, districto de Vizeu, na Beira Alta, — e a freguezia de Barqueiros, concelho de Mezãofrio, n'este districto de Villa Real áe Trazos-Montes, diz: Dos piares do Douro «Rem entre a barca do bernaldo, e a do porto de rrei estam huus fermosos peares de huua ponte que a Rainha dona mofalda 2 dysem que mandava fazer, os quaaes sam dous no meo do douro de muito grande al- ciam á corregedoria de Pinhel, á ouvidoria de Villa Real e á provedoria de Lamego!... 1 Inéditos de Historia Portugueza, tomo 5.° pag. 546 e seg. 2 D. Mafalda, mulher de D. Affonso Hen- riques. tura, e mui largo fundamento; que os dous que estam no rio neste mes de maio hiram bem dez palmos descobertos, e no Verão hi- ram bem 20 palmos, e mais. E estam outros dous de fora, hum da parte daquem (Lame- go margem esquerda) e outro da parte da- lém. «Estes poyares forom jáa de dobrada al- tura, e os derribaram, e fezeram delles pes- queiros, inda agora os lavradores os derri- bam cada dia, por dizerem que criam nel- les as gralhas, que lhes comem os trigos. O arco da parte daquem volvia jáa. Está hi muita pedra quebrada, e acharam ainda pollos montes muitas marras, e cunhas, e lavancas, que por hi ficaram: dizem nesta terra (Lamego) que a Rainha D. mofalda tinha hum filho, o qual filho lhe diziam os estrolicos, que avia de morrer em agoa, e por isso mandava fazer nquella ponte; e que fazendo-se a ponte, morrera o filho em hua peguada de boy chêa de agoa, e que leixou de a mandar acabar de fazer: o que certo me não parece, se nom que a Rainha mor- reu estando a ponte nesta altura, e por isso cessou a obra; porque na maneira que ella estaria se nom podia leixar de fazer por ou- tro geito: e certamente me parece, que se El Rey nesso senhor (D. João III) vira os ditos peares, mandara, acabar a dita ponte, porque a mór parte é feito, pois he o fundo dagoa, e tem muito bom fundamento pera subir toda altura que quizerem, e tem muita pedraria quebrada, e muita pera quebrar á borda da ponte, e tem mui grandes soutos de muytas e muy formosas vigas e madeira pera armação dos arco?, todo junto com o edifício; e o pear que começa a volver da parte daquem nunca o rio o cubre. «El Rey nosso senhor podia muy bem mandar fazer esta mea ponte que está por fazer, cem deitar 10 réis a cada morador 20 legoas a redor, e em seis ou sete annos ou menos, se podia fazer sem opresam; e seria hua cousa mui nobre neste regno aver hua ponte no Douro, porque por ser fragoso he prigoso nas pasages.» Do exposto se vê que já em 1532 Ruy Fer- nandes lembrava ao rei a conveniência de se acabar a dieta ponte sem gravame para VIL VIL 933 es povos, invocando o principio da derrama especial sobre os povos circumvizinhos. Até vinte legoas de distancia, dizia elle. Desculpem-nos a transeripção do logar ci- tado por ser um documento curioso, desco- nhecido para a maior parte dos leitores e muito interessante para a historia das pon- tes sobre o Douro, no território portuguez, Da dieta ponte já este diecionario fallou nos artigos Barrô, Barqueiros, Mezãofrio e Villa Jusã — e não cantamos extra chorum fallando d'ella aqui, pois estava e estão ain- da hoje (188o) largos vestigios d'ella no mesmo limite da freguezia de Barqueiros, concelho de Mezãofrio, n'este districto de Villa Real. Foi a l.a e única ponte de pedra que se fez sobre o Douro. Suppomos que nunca se ultimou. A 2.a foi de madeira, mas larga e luxuosa, feita pelos portuenses e lançada sobre o Douro, entre o Porto e Villa Nova de Gaya, para passagem d'el-rei D. Fernando I, quan- do de Lisboa foi a Leça do Balio casar com D. Leonor Telles de Menezes. A 3." foi a de barcas, entre o Porto e Villa Nova de Gaya também, na qual se deu a grande eatastrophe por occasião da entrada de Soult com o exercito francez no Porto, em 29 de março de 1809. A 4.a foi a pênsil, que ainda se vé func- cionando entre o Porto e Villa Nova de Gaya, mandada fazer pela rainha D. Maria II em substituição da ponte das barcas e um pouco a montante d'ella. A 5." foi a da Regoa, n'este districto de Villa Real também, construída de ferro sobre pilares de pedra. A 6.a foi a de Maria Pia, toda de ferro, de um só arco e de um só taboleiro, lançada sobre o Douro para passagem da linha fér- rea do norte. A 7." é a de D. Luiz, também de ferro e de um só arco, mas com 2 taboleiros, man- dada fazer em substituição da pênsil e um pouco a montante d'ella, para communieação entre o Porto e Villa Nova de Gaya. Fechou-se o grande arco em agosto do corrente anno de 1883 e suppõe-se que es- teja concluída e aberta ao tranzito nos fins de 1886. A 8.», em via de construcção também, é de ferro sobre pilares de pedra e lançada so- bre o Douro na foz do Tâmega, um pouco a montante. A 9." é de ferro sobre pilr.res de pedra e lançada sobre o Douro em linha obliqua, um pouco a montante do celebre Cachão da Valleira, para passagem do caminho de fer- ro do Douro. Está em via de construcção também. D'estas 9 pontes cabem ao districto de Villa Real duas, — a l.a e a 5.» Sabemos que se acham em projecto mais 3 pontes sobre o Douro, — uma junto da Foz do Távora, outra junto da estação do Molle- do, outra junto da estação da Palia, entre Porto Manço e Portantigo, ou entre Baião e Sinfães. Le monde marchei Tudo é progresso e Portugal não tem sido refractário a elle. No artigo Vias Férreas pódem ver-se os grandes melhoramentos materiaes que no artigo viação e facilidade de communicações temos realisado na 2.a metade d'este século; mas porque preço? Das pontes mencionadas supra só a de D Luiz, com os seus 2 taboleiros e as suas 4 avenidas, não deve custar menos de 400 a 500 contos de réisl. . . É a mais cara de todas as pontes do nos- so paiz e— no seu género — a l.a do mundo na actualidade. • No supplemento a este diecionario, quan- do chegarmos ao artigo Douro, volveremos ao assumpto e daremos da dieta ponte uma minuciosa deseripção. Superfície do concelho, da comarca e do districto de Villa Real CONCELHOS HECTARES Alijó 32:960 Boticas 38:325 Chaves 67:963 Mezãofrio 5:110 Total 144:358 934 VIL VIL CONCELHOS HECTARES Transporte 144:358 Mondim de Basto 24:528 Monte Alegre * 82:271 Murça 17:885 Regoa 10:693 Ribeira de Pena 13:414 Sabrosa 15:841 Santa Martha de Penaguião 7:154 Val Passos 53:910 Villa Pouca d'Aguiar 36:792 Villa Real 38:325 Total 445:171 Tem pois o concelho de Villa Real 38:325 hectares de superfície;— a comarca 2 conce- lhos (Villa Real e Sabrosa) com a superfície de 54:166 hectares,— e o dístricto, 14 conce- lhos, com a superfície de 445:171 hectares e a população de 55:202 fogos e 234:844 ha- bitantes, como já dissemos. O districto de Bragança tem 12 concelhos com a superfície de 660:475 hectares e a po- pulação de 41:985 fogos e 175.617 habitan- tes. Tem pois esta província de Traz-os-Mon- tes : Districtos 2 Concelhos 26 Freguezias 572 Fogos 94:187 Habitantes 2 410:461 Superfície em hectares 111:646 Prédios inscriptos na matriz : O concelho de Villa Real 53:300 A comarca 74:860 O districto de Villa Real 473:020 O districto de Bragança 356:550 A província 829:570 Panonias ou Panoias Houve no nosso paiz, no tempo da occu- pação romana, uma cidade importante de- 1 Chorographia Moderna do sr. João Ma- ria Baptista, tomo 1.° pag. 680. 2 Esta nota da população refere-se ao ul- timo recenseamento, feito em 1878. nominada Panonias, vulgo Panoias. Também temos ainda hoje diversas povoações e fre- guezias assim denominadas, taes são:— Pa- noias, villa e freguezia do concelho d'Ouri- que, no Alemtejo !;— Panoias, freguezia do concelho de Braga, no Minho;— Panoias, fre- guezia do concelho da Guarda— e Panoias de Cima e Panoias de Baixo, aldeias d'esta ul- tima freguezia; mas nenhuma d'estas fregue- zias e aldeias foi a velha cidade romana. To- dos concordam que esteve na província de Traz-os-Vontes e que em virtude das guer- ras que se seguiram ao grande império, — já entre os romanos e os bárbaros do norte — já entre estes uns contra os outros, — já entre os christãos e os mouros na invasão e expulsão d'estes da península, Panoias cor- reu a sorte de tantas outras cidades destruí- das e arrasadas até os fundamentos, das quaes hoje nem o local onde existiram se pode marcar precisamente. Dá-se também a circumstancia de ser a Panoias transmontana (segundo se suppõe) não uma cidade na accepção em que hoje tomamos este nome, como povoação com- pacta, comprehendendo differentes ruas e largos, mas na aceepção em que já se to- mou, designando um districto, um cantão ou território semeado de povoações diffe- rentes, que obedeciam a uma d'ellas, onde estavam as auctoridades 2. Suppõe-se que a dieta cidade de Panoias confinava a leste com o rio Tua,— ao poente com o rio Teixeira e com as montanhas do Marão,— ao sul com o Douro— e ao norte cora as serras de Villa Pouca d' Aguiar, ou com o termo de Aquas Flavias, outra cida- de romana importante, hoje villa de Chaves. Correspondia pois (approximadamente) á antiga comarca e ouvidoria de Villa Real Suppõe-se que nunca teve por séde uma cidade ou povoação compacta, aberta ou murada, mas que Panoias era a denomina- 1 Fica a pequena distancia da linha férrea do Algarve, na qual tem um apeadeiro de- nominado também Panoias. 2 Para aligeirarmos um pouco mais este tópico e evitarmos repetições, veja-se o ar- tigo Panoias (a 4.») vol. 6.° pag. 444, col. 2." e seg. VIL VIL 935 ção geral cTaquelle districto, pelo qie toma- ram o titulo de Panoias varias povoações n'elle comprehendidas, — taes como Villa Real de Panoias, Constantim de Panoias e Murça de Panoias;— e todo aquelle vasto território se denominou Terra de Panoias. Também se suppõe com bom fundamento que a séde da antiga cidade de Panoias es- teve onde hoje vemos as freguezias de Cons- tantim de Panoias e S. Pedro de Val de No- gueiras ou das Vallongueiras, sua limitro- phe (cerca de 4 kilometros ao nascente d'esta villa) onde se tem encontrado muitos tijolos de grande espessura, moedas romanas, fra- gmentos de jaspe e de mármore, pedra es- tranha n'esta província, restos de estatuas, inscripções, montões d'escoria de ferro e d'outros metaes e incluzivamente— templos romanos muito bem conservados >. Quando em 1883 visitamos esta provín- cia, também vizitámos a histórica freguezia das Vallongueiras e ali tivemos occasião de ver os taes templos romanos, dedicados aos deuses infernaes por Cneu Caio Calpúrnio Rufino. São os mesmos que já n'este diccio- nario se acham descriptos sob o titulo Pa- noias e que D. Jeronymo Contador d'Argote muito bem descreveu nas suas Memorias do Arcebispado de Braga, tomo 1.° liv. 2." cap. 7.9, de pag. 325 a 350, illustrando a descri- pção com li bellas gravuras. Encontram-se os dictos templos cerca de 300 metros a montante ou ao norte da nova estrada a macadam de Villa Real para Freixo de Espada a Cinta, por Sabrosa, Favaios, Alijó e S. Mamede de Riba-Tua ; — distam 4 a 5 kilometros de Villa Real— e 1 a 2 da freguezia e do Palacio de Matheus, para leste. São de todo o ponto authenticos emquanto a sua estructura e ao local que se Ihesassi- gna, pois se reduzem ás cavidades, escada- rias e inscripções, descriptas pelo meu an- tecessor e por Argote e abertas em penedos naturaes de áspero granito que se erguem 1 Vejam-se os artigos Constantim de Pa- noias e Val de Nogueira. em um pequeno e desgracioso monte, cerca de 200 metros ao nascente da matriz actual da dieta parochia. Não sabemos se primitivamente estariam eobertos ou resguardados no seu todo ou em parte por algum edifício ou muro. Hoje estão sem resguardo algum, expostos á in- tempérie, que tem deteriorado as inscripções — - e ao insulto dos vândalos, que já destruí- ram completamente dois dos mencionados templos descriptos por Argote e que este be- nemérito académico salvou dando-os em gra- vura nas suas interessantíssimas Memorias, Um d'elles foi destruído a fogo, a tiros de broca, nos fins do ultimo século, por um ho- mem de Villa Real, que sonhou com grandes thezouros escondidos dentro da rocha que formava o dicto templo o outro foi des- truído a picão e a fogo por um lavrador da localidade em 1883,— pouco antes da nossa vizita—pâTâ fazer, como fez, ali uma eira no chão oceupado pelo dicto penedo, — e con- tigua á eira, lado norte, uma pequena chou- pana para recolher cereaes I . . . Como o sitio á relativamente alto, exposto ao sol e contíguo à povoação, é possível que outros lavradores e sonhadores de thezouros encantados sigam o exemplo d'aquelles vân- dalos e destruam os monumentos restantes, pois,— graças à incúria dos nossos governos e da camará de Villa Real— os pobres mo- numentos estão completamente abandonados e despresados,— sendo verdadeiras preciosi- dades archeologicas,— talvez únicas no seu género em toda a península,— e por conse- quência dignas da maior veneração ! 1 Assim m'o affirmou o rev. Francisco Felicíssimo Coelho Mourão, reitor actual d'esta freguezia, a qual tem andado desde os fins do ultimo século como em morgado na sua casa, pois é o 5.° reitor pertencente á mesma familia, em successão ininterrupta, — facto único talvez em todo o nosso paiz, de- pois que 89 acabaram os padroados. O dicto meu collega teve a bondade de me acompanhar na vizita aos mencionados tem- plos e na sua casa me mostrou um curioso manuscriplo deixado por um dos finados reitores seus parentes, no qual se fazia men- ção do facto a que alludimos no texto. 936 VIL VIL Nós temos em Évora sumptuosos restos d"um templo gentílico, dedicado a Diana» mas não é faeil reconstituilo nem se sabe ao certo o local onde primitivamente esteve. Em Villa Viçosa, em Braga e n'outros pontos temos lapides que revelam a exis. tencia d'outros templos gentílicos em Portu- gal, mas d'esses também nada resta alem das lapides commemoratívas, nem se sabe 1 onde elles estiveram, emquanto que os tem- plos gentílicos das Vallongueiras são evi- dentemente os próprios fundados pelos ro- manos,—conservam se como no tempo em que os romanos n'elles veneravam os seus deuses— e no próprio local onde os erigiram, por serem talhados na rocha natural. Não conhecemos em todo o nosso paiz ou- tra estancia archeologica de tanto mereci- mento, e por issonosmaguou profundamente o lamentável abandono em que se acha I j Salvemos o que ainda resta hoje de relí- quias ião preciosas;— adquira-3e o terreno que occupam os dictos templos e que pouco pôde valer, porque é (como nós vimos) — pedragoso, inculto e agreste; — proteja-se com um muro de vedação, que pouco deve custar, porque tem uma pequena area e é abundantíssimo de pedra; — fechemse os muros com uma porta e entregue-se a chave ao parocho, ou ao regedor da freguezia, ou a uma pessoa da localidade que mereça con- fiança e que a faculte aos visitantes. Sabemos que pôde salvar-se ainda, já que tantas preciosidades archeologkas teem des- apparecido no nosso paiz e nesta província 1 Com relação a este templo, o sr. Gabriel Pereira, distinctissimo archeologo, benemé- rito investigador e incansável vulgarisador das antiguidades do districto d'Evora, acaba de publicar um interessante folheto de 23 paginas. Évora, 1885. Ao seu illustrado auctor agradeço o exem- plar que se dignou enviar- me, bem como os seus outros dois folhetos, relativos ao Con- vento de Nossa Senhora do Espinheiro— e á Casa Pia d'Evora, o 1.° publicado em 1884 e o 2.° em 1885. Os 3 folhetos fazem parte da interessante collecção — Estudos Eborenses — do mesmo auctor. | transmontana, inclusivamente 2 de tão ve- nerandos monumentos, pois tendo atraves- sado mais de dois mil annos talvez, podem desapparecer de um momento para o outro. Chamamos para este assumpto a attenção do governo, — da camará de Villa Real — e da benemérita Associação dos Architeclos civis e Archeologos portuguezes, nomeadamente do ar. Joaquim Possidonio Narciso da Silva, seu tão illustrado como zeloso presidente, da qual tenho a honra de ser o mais obscuro consócio. Villa Real e Anciões Todos os nossos historiadores, chorogra- phos e geographos que até hoje fatiaram de Villa Real de Traz-os-Montes disseram que esta villa foi fundada por D. Diniz, em sub- stituição da velha, arruinada e despovoada j capital de Panoias e que a séde do districlo d'este nome passou directamente de Cons- tantina ou das Vallongueiras para a villa de D. Diniz, O mesmo se lê em todos os ma- nuscriptos que tractam de Villa Real; — mas, segundo dizem as Memorias do concelho de Anciães, publicadas em 1857 pelo dr. José Maria de Moraes da Mesquita, senhor da no- bre casa das Sellores, na freguezia de Zedes, e ao tempo presidente da camará municipal de Carrazeda d' Anciães, á muito nobre e an- tiquíssima villa d'Anciães, hoje extincta e quasi completamente dezerta, obedecia no temporal e espiritual, como julgado seu fo- raoeo, o districto de Panoias, quando D. Di- niz fundou Villa Real. Nas dietas Memorias se lé a pag. 10, o se- guinte : tTambem constava por um pergaminho antigo que se achou no cartório da camará da dieta villa d'Anciães que o termo d'ella se estendia até Villa Real d'esta província, e que esta Villa. Real 1 fora suffraganea ou sujeita á de Anciães até o reinado do senhor rei D. Diniz, o qual lhe deu o fôro de Villa em attenção a que distava oito léguas de 1 O pergaminho devera dizer Panoias, porque Villa Real não existia antes do rei- nado de D. Diniz, seu fundador. VIL VIL 937 Anciães e aos rios que nesta distancia havia para passar, como eram o Tuella, Pinhão e Corgo, 1 mas que os moradores da dieta Villa Real ficariam sujeitos a reparar e for- tificar o muro da villa de Anciães que desce desde o castello até o baluarte, que defendia a porta principal, e que a cerca da parte do norte.» 2 O mesmo se lê na copia que o meu illus- trado amigo Antonio José de Moraes, natu- ral do concelho d'Anciães, ma3 rezidente em Villa Flor, 3 tirou e me mandou do que se encontra em um livro genealógico (fl. 251 a 272) encadernado em carneira e pertencente ao ex.™0 sr Justiniano de Moraes Madureira Lobo, fidalgo distincto da villa de Freixiel, concelho de Villa Flor, em Traz-os -Montes. Da copia que recebi se vê que o original d'ella foi composto em 1730 a 1750 com 09 taes pergaminhos da camará d'Anciães por um seu vereador, Manuel de Moraes de Ma- galhães Borges, irmão do rev. dr. Antonio de Sousa Pinto, informador e Cyreneu de Argote, pois o auctor, foliando da transfe- rencia da séde do concelho d'Anciães para Carrazeda d'Anciães, diz: «Não houve quem se oppozesse a esta desleal mudança senão eu e o dicto meu irmão, bacharel Antonio de Sousa Pinto, do habito de S. Pedro.» E D. Jeronyrno Contador d'Argo(e, no l.°tomo das suas Memorias (introducção, pag. XVII) indicando as obras manuscriptas que rece- bera e de que fizera uso, menciona uma re- lação d' Anciães, composta por João Pinto de Moraes, então parocho d'esta villa, e por Antonio de Sousa Pinto,— e outra relação da villa d'Alfarella, composta pelo mesmo Antonio de Sousa Pinto e por elle remettida ao marquez d'Altgrete, então director da Academia Real de Historia. Na mesma introducção (pag. XX) diz tam- 1 Devera mencionar também o Tua. 2 Ou as Memorias claudicam n'esta ulti- ma parle, ou se referem ao foral de D. Af- fonso III, foral que não vimos. Temos presente e logo daremos na sua integra o 1° foral de D. Diniz, que nem se- quer falia na villa d'Aneiàes ! . . . 3 V. n'este vol. 10.° a pag. 739, col. 2.a bem Argote: «Antonio de Sousa Pinto, da principal nobreza d'Anciães l, concorreo com as relações da villa d'Anciães, e Alfarella, que remetteo á Academia, obra muy perfeita curiosa, e bem discorrida e também cora al- gumas respostas a perguntas, que lhe fiz.» Do exposto se conclue que as Memorias d' Anciães, o meu manuscripto, o de Marza- gão e o de Freixiel são com pequenas va- riantes o trabalho do rev. dr. Antonio de Sousa Pinto, tão elogiado por Argote, o que lhes dá bastante auctoridade e me leva a crer que o velho distrieto de Panoias, antes da fundação de Villa Real, obedecia (não sa- bemos desde quando) á villa d'Anciães. Também as citadas Memorias e o meu manuscripto dizem que a egreja de S. João Baptista d'Anciães, extra-muros, foi n'a- quelle tempo a matriz de Panoias e que a ella iam enterrar-se as pessoas mais distin- ctas d'áquelle distrieto, antes da fundação de Villa Real e da egreja de S. Diniz, como a tradição affirmava e revelavam as muitas sepulturas com armas e outros emblemas de nobreza que se viam no adro e em volta da dieta egreja de S. João Baptista. A mesma tradição vigora ainda hoje (1885) no concelho d'Anciães; e junto da velha e arruinada egreja de S. João Baptista se veem ainda hoje restos das taes sepulturas ou 1 Era cavalleiro fidalgo, como seu irmão e seu pae; viveu algum tempo na corte de D. João V; mais tarde resolveu ordenar-se, como ordenou, e se formou em cânones na Universidade de Coimbra. Foi vigário de Parambos e depois reitor de Marzagâo, freguezias do concelho d'An- ciães, tomando posse da ultima em 25 de Agosto de 1753. Nasceu em 1692. Ainda em 1855 vivia em Marzagão um seu parente, dr. Antonio de Sousa Pinto de Magalhães, que possuía e emprestou ao dr. José Maria de Moraes da Mesquita o trabalho dos seus antepassados — Manuel de Moraes de Magalhães Borges e Antonio de Sousa Pinto— com relação á villa d'Anciães, — tra- balho que o dr. Mesquita extractou nas Me- morias publicadas em 1857, como elle pró- prio declara na Prefação. 938 VIL VIL carneiros nas paredes, como diz o meu il- lustrado informador, filho da localidade. Custa hoje a crer que o distrieto de Pa- noias ou de Villa Real obedecesse á pobre e deserta villa de Anciães, alcandorada em medonho fragoedo e distante da formosa Villa Real 50 kilometros para leste; mas.se nos remontamos áquelle tempo, achamos o facto naturalíssimo. Com as aturadas e sanguinolentas guer- ras que a península sustentou contra os ro- manos, a península perdeu grande parte da sua população; esta augmentou com o do- mínio do povo rei, ficando sempre muito longe da cifra anterior; mas, com as guer- ras que depois se feriram entre os romanos e os bárbaros do norte e enlre estes, uus contra os outros, mais deserta e despovoada ficou ainda a península. Cidades importantes, algumas d'ellas epis- copaes, foram destruídas e arrasadas até os fundamentos e d'ellas nem o local se co- nhece. Para se formar idéa do estado a que ficou reduzido o nosso paiz, note-se que na era de 607 (anuo 569) segundo se lê nos fragmen- tos do concilio de Lugo celebrado u'aquella data, a instancias de Theodomiro, rei suevo, á diocese de Braga, que então se estendia desde a margem esquerda do Lima até os confins de Traz-os-Montes, comprehendendo n'esta província tudo o que é hoje dos bis- pados de Bragança e de Lamego— e na de Entre Douro e Minho parte do terreno que é hoje do bispado do Porto— contava ape- nas 29 freguezias, sendo Panoias uma d'el- las;— o bispado do Porto 25 —o de Lamego 6,—o de Coimbra 7,— o de Vizeu 8— e o da Guarda 41... lmagine-se quanto os povos ficariam por vezes distantes da sua egreja matriz ! . . . E, como se não bastassem as menciona- das hecatombes para se despovoar a penín- sula, accresceunos annos de 714 e 715 a in- vasão dos mouros, que deixou esta provín- cia quazi completamente dezerta, pois os christãos que escaparam com vida se refu giaram nas Astúrias— e esta província só principiou a povoar-se e reconstituir- se de- pois que os reis de Oviedo e de Leão expul- saram d'ella os mouros, cobrindo-a de san- gue e de cadáveres *. Ainda em 1185 o nosso rei D. Sancho I a encontrou era misero estado;— em parte a reparou,— e D. Dídíz, em 1279 a 1325, pro- seguiu no mesmo empenho, povoando Mon- talegre, Villa Flor, Freixo de Espada á Cin- ta, Mirandella, Vinhaes, etc, e levantando desde os alicerces Villa Real, que arvorou em séde do distrieto de Panoias, porque da sua antiga séde apenas restava a lembran- ça!.. . Não admira, pois, que antes da fundação de Villa Real estivesse UDido á villa d' An- ciães o velho e arruinado distrieto de Pa- noias, porque da sua antiga séde nada res- tava n'esse tempo alem do chão da feira de Constantim e d'alguns pequenos edifícios nas suas proximidades e nas dos templos romanos das Vallongueiras,— tudo desman- telado e em terreno aberto e pouco defensá- vel,—em quanto que a Villa d'Anciães, sus- pensa entre medonho fragoedo, oceupava um dos pontos mais defensáveis da província e foi sempre murada e fortificada desde o tempo dos romanos. Julga-se até que n'esse tempo foi cidade com o nome de Aguas Quintianas.—ik D. Fernando I, o magno, rei de Leão e Castella, lhe havia dado foral no século xi, quando ali passou batendo os mouros,— o nosso primeiro rei D. Affonso Henriques lhe havia dado no século xii se- gundo foral,— -D. Sancho I nos fins do mesmo século xu lhe deu 3.c foral, que foi confir- mado por D. Affonso II em 1219,— e D. Ma- nuel ainda lhe deu 4.° foral em 1510 2. Contava pois Anciães já 3 foraes e era 1 A expulsão dos mouros da península foi muito mais morosa e muito mais sanguino- lenta do que a invasão. Esta operou se ra- pidamente;— a expulsão durou cerca de oito séculos de luctas ininterrompidas, durante as quaes muitas povoações foram tomadas e retomadas differentes vezes pelos mouros e pelos christãos e differentes vezes saqueadas e incendiadas e os seus habitantes trucida- dos. 2 V. Anciães n'este diccionario e no sup- plemento. VIL praça de guerra e villa muito importante e muito privilegiada quando el-rei D. Diniz em 1289 a 1293 fundou Villa Real!. . . Não tenho pois duvida em crer que a ci- vidade ou o velho dislricto de Panoias, an- tes da fundação de Villa Real, fosse um sim- ples julgado da villa d'Anciães, como dizem as citadas Memorias e o meu manuscripto; mas o que eu não posso crer é o que nas táes Memorias e no meu manuscripto se lé também cora relação a Villa Real : «Igualmente consta de outro pergaminho que também existia no cartório da Camara da dita Villa * que pertendendo o senhor rei D. João primeiro annexar ou incorporar a Villa Real os julgados de Alijó e de Fa- vaios, os moradores d'elles se defenderam d'esta annexação, accusando os moradores de Villa Real de que haviam sido falsos á coroa, e que antes queriam viver debaixo da jurisdicção dos homens da Villa d'An- ciães, a quem sempre foram sujeitos e suf- fraganeos e em quem sempre encontraram bom acolhimento, defensa e lealdade7como fidalgos e cavalleiros que eram: em conse- quência do que o senhor D. João I deu a cada um dos ditos julgados de Alijó e Fa- vaios o fôro de Villa, e com o dito foro as deu de juro e herdade aos senhores da casa de Távora e Mogadouro, pelos bons e rele- vantes serviços que lhe prestaram na guerra que houve entre esta coroa e a de Castella.> Que nós saibamos, apenas se pôde lançar em rosto aos habitantes de Villa Real — e ainda assim muito impropriamente,— a trai- ção dos marquezes, seus senhores, para com D. João IV, em 16il, da qual adiante falla- remos. Ignoramos que fossem falsos ou traidores para com el-rei D. João I. Apenas sabemos que no principio da guerra da successão, grande parte dos nossos fidalgos e muitas das nossas villas e cidades tomaram o par- tido da Hespanha, ou de D. João I de Cas- tella contra o nosso rei, também D. João I, tae3 foram n'esta província de Traz os-Mon- tes:— Bragança, Vinhaes, Monforte, Chaves, 1 Memorias d' Anciães, pag. 10 e H. VIL 939 Miranda, Montalegre, Mogadouro, Alfandega da Fé, Lamas d'Orelhão e Villa Real; mas em breve Villa Real e quasi todas as outras villas transmontanas se pronunciaram con- tra Castella. Apenas Miranda, Bragança e Vinhaes conservaram o pendão castelhano até o tractado de 1406. E não admira que Villa Real, por ser ao tempo senhorio da rainha D. Leonor Telles de Menezes, seguisse no principio da lueta a. voz de Castella. Também não foi D. João I quem elevou Alijó e Favaios á calhegoria de villas e lhes deu os seus primeiros foraes. Como já se disse nos artigos próprios, o 1.° foral d'Alijó foi lhe dado por D. Sancho II em 1226,—o 2.» por D. Affonso III em 1269 — e o 3.° por D. Manuel em 1514. Emquanto á villa de Favaios, o seu 1.° foral é de D. Affonso II, com data de 1211,— o 2.» é de D. Affonso III, com data de 1270,— o 3.° é de D. Diniz, com data de 1284— e o ultimo de D. Manuel, com data de 1514. Nem um de D. João I, II, III ou IV! . . . D. João I principiou a governar como re- gente em 1383, e Alijó e Favaios já eram villas e tinham foraes— a 1.» desde 1226,— a 2.» desde 1211. Claudicam pois n'esta parte as Memorias d* Anciães. Passemos a outro tópico. A villa velha Achando-se completamente arruinada e quasi despovoada a antiga sède,de Panoias, pediram os habitantes d'aquelle districto a el-rei D. Affonzo III que lhes désse uma no- va villa para séde. Annuiu el-rei dando fo- ral em 7 de dezembro de 1272 aos que hou- vessem de povoara nova villa; mas, ou por- que o foral fosse duro e tivesse poucas fran- quias, como suppomos (ainda não logramos vel-o) ou por outro motivo qualquer, a no- va villa não se fez, pelo que os mesmos po- vos, por intermédio dos seus procuradores enviados ás cortes que em 1283 (?) se acha- vam funccionando na cidade da Guarda, pe- diram a D. Diniz o mesmo que haviam pe- dido a seu pae D. Affonso III, indicando lhe o sitio que julgavam mais bem apropriado para a nova edificação. 940 VIL O próprio rei (segundo consta) foi ver o local— gostou d'elle-e em 1289 mandou proceder á fundação da nova villa, que se denominou Villa Real, por ser fundação re- gia,—e Villa Real de Panoias, porque o pró- prio rei D. Diniz a arvorou em capital da terra de Panoias. A nova villa fundada por D. Diniz é pre- cisamente o bairro que hoje se denomina Villa Velha, e que pela sua posição topogra- phica na extremidade sul da moderna villa, pela vetustez e acanhamento dos seus edi- fícios e pela estreitesa das suas ruas, se des- taca perfeitamente do povoado que depois se desenvolveu para N.— N. E.— e N. O.— e que hoje constitue a maior parte da formosa Villa Real. Todos os chorographos e historiadores que tratam d'esta villa, bem como os apontamen- tos que me deixou o meu saudoso amigo José Auguro Pinto da Cunha Saavedra, de Provezende, 1 não mencionam vestígio algum de oceupação ou edificação anterior no lo- cal onde D. Diniz fundou a villa velha. Isto me surprehendeu, pois custa a crer que, sendo a província de Traz-os-Montes povoada desde tempos remotíssimos e es- tando aqmlle chão, tão pittoresco e tão de- fensável, dentro do importante pago roma- no, do território, ou da cidade de Panoias, ali não encontrassem vestígios d'algum tem- plo, d'algum castro ou d'alguma povoação anterior a D. Dinizl Nas minuciosas descripções da fundação do castello, dus muros, da egreja e da cis- terna da villa velha nem por sombra se in- dica o apparecimento de moedas romanas, gothicas ou árabes, nem de fragmentos d'al- 1 Logo que os beneméritos editores me encarregaram da continuação d'este diccio- nario, dirigi me a todos os meus amigos da província ^ollicitando apontamentos com re- lação a diversas povoações que eu tinha de descrever e que elles conheciam melhor do que eu. Com relação a esta Villa Real diri- gi-me ao meu bom amigo Saavedra, pessoa competentíssima pela sua illustração, pela sua affeição a esta ordem de trabalhos e a este mesmo diccionario; — por ser s. ex.a fi- lho de Píovezende, villa e freguezia do con- VIL guma estatua, nem de lapides com inscri- pções, nem de túmulos ou sepulturas de qualquer ordem! Parece incrível, repetimos, pois o local é interessantíssimo e d'aquelles que deman- davam oceupação necessária desde tempos mais remotos. Appellamos para o testemunho de todos quantos tenham vizitado e conheçam Villa Real. Demora o chão da villa velha em uma es- pécie de península, formada pelos rios Cor- go e Cabril, que ali fazem juneção, correndo o primeiro de N. a S. e o seguudo de N. O. a S. E. lá no fundo de duas medonhas ravi- nas, como que talhadas a picão em rocha aprumada e nua, formando a leste, sul e oeste trincheiras insuperáveis e fossos aquá- ticos de 150 metros d'altura talvez e que, vistos do pontal sul da villa ou do passeio que hoje circumda o cemitério, descrevem com vivas cores o bello horriveH Bastava pois construir uma muralha de leste a oeste com um fosso artificial e quaes- quer outras obras de defesa para tornar aquelle vistoso e alegre planalto por assim dizer ineonquistavel— no tempo das armas brancas: não hoje; porque as paredes oppos- tas das grandes trincheiras formadas pelos dois rios ficam ao nivel da villa e, cami- nhando para o norte, o terreno vae subindo e a domina toda. Offerece o dito pontal sul da villa velha celho de Sabrosa, comarca e districto de Villa' Real,— e por ter muitas relações n'esta villa e perfeito conhecimento d'ella, pois d'ella foram oriundos alguns dos seus maio- res e n'ella tinha estado centos de vezes, chamado pelos seus negócios particulares e pelos do seu concelho, como procurador á junta geral do distrieto, etc. Annuiu s. ex.a de bom grado, mas infe- lizmente a morte o surprehendeu no dia 26 d'abril ultimo (1885) deixando muitos apon- tamentos para este artigo, porém tão infor- mes, tão baralhados e incompletos que pou- co, muito pouco, pude aproveitar! Para a biographia e genealogia de s. ex.a veja-se Provezende n'este diccionario e no supplemento. VIL VIL 94 i um panorama característico e muito inte- ressante. Ao sopé as duas medonhas gargantas com as suas altíssimas paredes de granito, aber- tas pelos dois rios que serpêam furiosos lá no fundo, formando na sua juncção um me- donho pégo;— ao nascente o ribeiro de Vil- lalva ou de Tourinha* que, despenhando- se do alto da grande trincheira sobre a margem esquerda do Corgo, fórma uma ca- tarata imponente, que hoje move mais de 40 rodas de moinhos, denominados Moinhos da Peneda, suspensos na Íngreme encosta;— se- guem-se a leste os campos, vinhedos e quin- tas de Villalva, de Tourinha, de Matheus, de S. Pedro de Val de Nogueiras e dou- tras muitas freguezias de Traz-os-Montes, avultando entre diversas povoações o ma- gestoso palácio de Matheus, ou dos actuaes condes de Villa Real;— a S. e O. a trinchei- ra do Cubril, e lá ao longe a província da Beira, Lamego e outras povoações;— a N. NO. e NE. a villa nova com a sua esvelta casa- ria e luxuriante arvoredo,— e mais ao longe as serras do Marão e do Ameio, coroadas pelas Rodas do Marão, ponto culminante da grande serra. Apesar do desenvolvimento que tomou a villa neva e dos largos, praças, jardins, ruas e passeios que n'ella se encontram e que íhe mereceram o titulo de corte e capital de Traz-os-Montes, o passeio que hoje circumda a leste e sul a villa velha será sempre o pas- seio favorito dos vizitantes e que mais vi- vas recordações lhes deixará. Foraes Teve 4 foraes esta villa;— o 1.° foi-lhe da- do por D. Affonso III em Santarém, a 7 de dezembro de 1272;— o 2.° por D. Diniz em Lisboa, a 4 de janeiro de 1289;— o 3.° pelo mesmo rei em Lisboa também, no dia 4 de fevereiro de 1293:— o 4.° por D. Manuel em 22 de junho de 1515. O padre Carvalho, dedicando um longo artigo a esta villa, não mencionou foral al- gum;—José Avelino d'Almeida apenas men- cionou o 3.°, claudicando na data, pois lhe assignou o anno de 1321;— o sr. Ignacio de volume x Vilhena Barbosa, meu bom amigo e mestre, apenas meneionou dois, — o 2.°, que s. ex.* diz ser o primeiro, ' — e o 3.° assignando- lhe a data de 1292;— Brandão, na Monarchia Lusitana (Parte V. fl. 143) também diz que este foral é de 1292, mas um pouco mais adiante (fl 212) diz que é de 1293. Solatium est miseris!. . . Franklim menciona os 3 primeiros. 0 4.° não o encontramos em auclor algum, mas logo o extractaremos, porque se acha nas Antiguidades de Villa Real, manuseripto existente no archivo da camará, como já dis- semos supra. Referimo-nos a uma copia que temos presente e que foi do sr. Camillo Castello Bran- co, nosso primeiro romancis- ta, hoje visconde de Corrêa Botelho, e a elle offerecida pe- lo sr. Antonio Ludovico Gui- marães, de Villa Real. Sentimos não ver o foral de D. Affonso III, porque devia derramar muita luz sobre os nebulosos princípios d'esta villa; mas, se- gundo se lé na Monarchia Lusitana, o foral de D. Affonso III lhe dava o mesmo nome de Villa Real e, entre outras graças e privi- légios, concedia aos seus moradores todos os direitos reaes da terra de Panoias: »Con- cedo vobis hominibus populatoribus, qui /m- bilavehilis in terra de Panoias, quae vocatur Villa Real, omnes meas rendas, tf omnes meos directos de terra de Panoias ...» «Concedo ao3 que forem habitar a terra de Panoias, que se chama Villa Real, todas as rendas e direitos que tenho na terra de Panoias. . . » Em vista do exposto parece-nos incrível que, passados 17 annos, ainda nada existisse d'esta villa, quando D. Diniz lhe deu em 1289 o seu (d'elle) primeiro foral. Estamos convencidos de que o povo não acudiu ao chamamento de D. Affonso III, porque achou duresa no foral que este rei lhes concedeu. N'elle, por exemplo, os su- jeitava ao alcaide-mór:— *Et ipse practor 1 Cidades e villas . . . tomo 3.° pog. 164. 60 942 VIL VIL debet f acere justitiam cum judicibus de ipsa popula.»1 E o pretor (alcaide-mór) admi- nistrará a justiça conjunctainente com os vereadores ou juizes da villa ou pobra.* Nem era necessária tal declaração, por- que, segundo o estylo da época, os alcaides- móres eram os presidentes natos do juizo ou da camará,— prerogativa de que ordinaria- mente abusavam com grande oppressão dos povos, porque dispunham em absoluto da força armada. Houve muitas desordens e muitos desgostos por causa da prepotência dos alcaides-móres, 2 principalmente quan- do tinham ingerência na administração da justiça, como aos de Villa Real concedeu D. Affonso III; e foi por esta e talvez por outras clausulas similhantes que os povos não acu- diram ao chamamento, o que determinou D. Diniz a conceder-lhes um foral amplíssi- mo e muito mais convidativo, para se não expôr ao desgosto porque passou D. Affon- so III, seu pae. Não só permittiu aos mora- dores da nova villa escolherem ou elegerem livremente os juizes que mais confiança lhes merecessem, mas circumscreveu ao alcaçar ou Castello a jurisdicção do alcaide-mór e terminantemente lhe prohibiu o tomar parte na administração da justiça,— privilegio de grande alcance n'aquelle tempol Além d'isso obrigou-se a fortificar e mu- rar a villa e deu aos seus habitantes cerca de um quarto de légua ou de dois kilome- tros de terreno em volta para ser dividido em courellas iguaes por todos os habitantes d'ella— terreno que se denominou a Redon- da e que foi abalisado em toda a sua cir- cumferencia por grandes marcos de pedra, dos quaes ainda no ultimo século existiam alguns. 3 Eis aqui dois grandes bónus, mas além d'estes coneedeu-lhes outros muitos, como 1 Monarchia Lusitana, parte V, fl. 143. 2 Vejam- se no vol. 7.° pag. 70, eol. 2.» e seg. as proezas que praticou em Pinhel o alcaide-mór D Fernando Coutinho. 3 Em Villalva, cerca de 2 kilometros d'esta Villa, para leste, ainda hoje se denomina Marco da Redonda uma propriedade do con- de de Villa Real e que foiíóreira a Gonçalo Chrystovam. pôde vêr-se do próprio foral que vamos dar na sua integra por ser muito interessante e para que alguém mais feliz do que nós o possa ura dia confrontar com o de D. Affon- so III. Primeiro foral de D. Diniz1 «Em nome de Deus Amen. Conhecida coi- sa seja a quantos esta carta virem e ouvi- rem que eu D. Diniz Rei de Portugal e Al- garves em sembra com minha mulher a Rainha D. Helisabet, filha do mui nobre rei d'Aragão, faço carta de foro para todo o sempre a vós pobradores de Villa Real de Panoias; convém a saber: A mil pobrado- res dou e outorgo. . . Parada de Cunhos e a Veiga toda de Cabril, e Montezellos, e a de Empeira, e Vi liava com todos os seus termos, e com todos os seus direitos e suas pertenças, para que hajades senhas courel- las para vinhas, e senhas almoinhas (hortas) tamanhas, como as melhor poderdes haver; e com estas courellas, e com estas almoi- nhas haver cada homem uma casa dentro no castello, quantos ahi poderem caber, e os outros no arrabalde; e por isto deve cada um morador dar em cada anno um maravedi e meio ás terças do anno, convém a saber —a primeira terça pelo primeiro dia de ja- neiro,— a segunda no primeiro dia de maio — e a terceira no primeiro de setembro. «E desde o dia em que começardes a po- brar a um anno não dareis fôro, e deveis de metter entre vós dous juize3 que façam jus- tiça compridamente em toda a terra de Pa- noias, em aquelles logares que de direito devem ser chegados por meus juizes e por meu Meirinho, e não deve Meirinho ahi en- trar. E estes juizes sejam mettidos cada an- no á vontade do concelho, e jurem nos Ta- belliães, assim como os de Chaves, e os de Bragança;— e vá por ahi (por dentro da vil- la) o caminho que vai de Panoias para Ama- rante, como sohia (cestumava) ir por Seemi- ros. «Os vizinhos (habitantes) de Villa Real, pascem e montem (apascentem os gados, cacem e colham matto e lenha nos montes) 1 Antiguidades de Villa Real, fl. 60, mihi. VIL VIL 943 com os da terra de Panoias e com os do re- dor de Panoias, assim como os de Panoias usaram (costumavam) pascer e montar. «O concelho haja para si os moinhos e os fornos; e dos chagamentos (ferimentos) das vozes, das coimas e dos homezios levará El-Rei ameidade, e o concelho a outra amei- dade (metade)— e serão todos chegados (cha- mados, citados) pelos andadores (meirinhos) do concelho;— e a voz e a coima pagarse- ha como a pozer o concelho. . .; — e ficará para El Rei a portagem, e os alugueis, e o padroado das egrejas;— e a portagem (direi- tos de barreira) com esta quisa, convém a saber:— que se tire (pague) na villa, como se tirou até aqui em MoudrÕes, ehavel-a-ha El-Rei toda. E das vendas e das compras tirar-se-ha d'esta maneira; convém a saber: — da carrega de besta cavallar dous soldos; da carrega asnal um soldo; do boi seis di- nheiros; da vaca seis dinheiros; do porco um dinheiro; do outro gado miúdo senhos dinheiros; do coiro do boi e da vaca tres di- nheiros; da pelle do gado miúdo um dinhei- ro; pelo colonho (carrego) do homem tres dinheiros; pela brancagem (direito sobre a carne) da vaca ou do boi que se vender nos açougues dous dinheiros de cada um; eou- trosim do porco e de outro» reixellos senhos dinheiros;— e haverá El-Rei esta brancagem, e esta portagem das vendas e das compras por tal (tudo) o que se tire; porém melhor haja El Rei as duas partes, e o concelho uma. E se- El Rei quizer fazer alcácer (Cas- tello) deve ahi metter seu alcaide, que o guarde,— e fique a justiça nos jnizes, e não haverá o Alcaide ahi parte, salvo em guar- dar seu Castello (?) «E todo o vizinho (habitante) de Villa Real não dará portagem em todo o Panoias, nem de passagem, nem de vendas, nem de compras. «E todo o vizinho de Villa Real seja em- parado e defeso (defendido, protegido) por hu (onde) andar elle e seu haver e seus her- damentos (bens) hu quer que os hajam, que nenhum (ninguém) lhe faça mal, nem força; e se lhe alguém mal fizer, ou tente fazer- lh'o, El-Rei o corregerá (castigará) e emen- dará (indemnisará) pelos corpos e pelos ha- veres d'aquelles que lh'o fizeram. «E todo o vizinho de Villa Real que tra- ga haver (valores) em caminho, possa tra- zer armas, se quizer, sem coima, com que se defenda. «E vós pobradores de Villa Real debedes (débeis) haver feira uma vez no anno por Santa Maria d'Agosto, e ser coutada (fran- ca) 15 dias antes, e 15 dias depois, assim como a da Guarda;— e debedes haver feira de mez em mez, no terceiro dia depois da de Chaves; e deve durar dous dias, assim como a de Chaves. «E o concelho deve metier (nomear) seus andadores, para que obriguem todos aos feitos dos juizes, e do concelho. • E El-Rei deve metter seu Almoxarife, que saque (receba) as rendas das terras d'a- quelles que as houverem de dar, e que de- mande e receba os seus direitos pelos juizes^ e sejam chegados (citados) pelos andadores do concelho. «E El Rei deve fazer seu muro (os muros da villa) logo e só, e deve-o aguardar (de- fender) o concelho, assim como é costume do reino; — e não deve ir em anaduva, (tra- balhar na reparação dos castellos e praças) senão como os da terra de Panoias. tO Rico-homem e o Prest arneiro1 não de- vem pousar em Villa Real, nem no seu ter- mo (?) salvo se for de caminho e esté (este- ja) um dia e não mais,— salvo se fôr vontade do concelho; — e o que dispenderem (gasta- rem) seja pagado e filhado (tomado ou com- prado) como mandarem os juizes;— e elles nem seus homens (sua comitiva) não se creiam poderosos (com poder) de filhar nem uma cousa em Villa Real, nem no seu. ter- mo, senão por mandado dos juizes; — e os juizes devem lhes dar venda, segundo como andar na terra. 2 1 Eram pessoas muito privilegiadas, como se disse nos artigos próprios. Vide. 2 Era este um dos privilégios que os po- vos mais agradeciam e que por graça espe- cial foi também concedido ao Porto. V. vol. I 6.°, pag. 73, col. 2." 944 VIL VIL «E esta Villa Real seja cabeça de todo o Panoias e de quanto ahi El-Rei pode dar de direito em este tempo, e podér adiante; e venham a sá (sua) justiça, e a seu juizo aquelles logares que El Rei pôde fazer de direito também, e que hora El-Rei ha co- nhecido que de direito deve haver como o que lhe tem negado (sonegado) se inda alguma cousa poder cobrar de direito; — e haverá El-Rei os fóros d'esses herdamentos, assim como os ha e como os poder haver de di- reito,— salvo os do termo de Villa Real, d'esses logares (da Redonda) que lh'os es- camba e compra, e devem maravedi e meio de sãs herdades, que lhes dá, como dicto é, e não mais. cE se El Rei vir que é mister acrescen- tar mais gente aos mil sobredictos (mora- dores) para es?a Villa Real, e poder haver herdamentos, que lh'os dê com tal foro co- rno o de suzo (acima) dicto, e que lhe dê o concelho hu façam casas, não se desfazendo as outras. «E não haja venda de regatia nem uma, nem seus feiraes (feiras ou mercados) até uma légua a cada parte (em redor) de Villa Real, salvo quem tiver pão, ou vinho de sá colheita, que seja de seu herdamento, que o venda em sua casa, se quízer... «E todo o pobrador de Villa Real d'aquelle dia que começar a pobrar, até aos tres an- nos, faça casa e vinha... «E o concelho deve colher comsigo (accei- tar) quaes vizinhos quizer, salvo ca valleiros. 1 «Feita a carta (foral) em Lisboa a 4 dias de janeiro, El-Rei o mandou, era de 1327 (anno de 1289).» No supplemenio ao artigo S. Martinho de Mouros, concelho de Rezende, daremos um extracto dos fóros d'íquella villa para que os leitores vejam com assombro como os fi- dalgos eram prepotentes e dispoticos, moti- vo porque o povo os detestava. Pódem ver- se entretanto os d i cios foros nos Inéditos de Hist. Portvg. tomo 4.°, pag. 579 e seg. Não conhecemos documento que melhor justifique a importância do mencionado pri- vilegio. 1 Excluia também os cavalleiros, por se- rem privilegiados e poderem affrontar a vi- zinhança. Seguera-se as testemunhas que assigna* ram o dito foral. Mencionaremos apenas as seguintes: D. Fr. Tello, arcebispo de Braga, — D. Vicente, bispo do Porto, — D. Amerique, bispo de Coimbra,— D. Johane, bispo de La- mego,—D. Egas (?j eleito de Vizeu.— D. Jo- hane, bispo da Guarda,— a egreja de Lisboa vaga,— D Bartholomeu, bispo de Silves,— D. Domingos, bispo d'Evora.— a chancella d'Ei-Rei, etc. «Francisco Eannes, Escrivão da corte, es- creveu esta carta.» Não conhecemos outro foral com tantos privilégios e tão convidativo! Ainda não pude ver o 2.° concedido pelo mesmo rei; mas supponho que não cercea- va, antes ampliava o 1.°, como se deprehen- de de algumas referencias da Monarchia Lu- sitana e do foral de D. Manoel. D. Diniz no 1.° como que obrigava os ha- bitantes de Villa Real a construírem 1:000 casas, o que era muito para aquelle tempo; —no 2.° reduziu aquelle numero a 500; se- gundo se lê na Monarchia Lusitana e no fo- ral de D. Manoel, — dividindo-se os chãos da Redonda em 500 courellas pelos 500 mora- dores (fogos) da villa,— e mandou que cada um d'elles lhe pagasse de fóro, ou direito real, 2 maravedis, em vez de maravadi e meio que estipulara para os 1:000 morado- res, no 1.° foral. Com i?to não os aggravou, antes benefi- ciou, porque as courellas, sendo só 500 em vez de 1:000, comprehendiam cada uma o dobro do espaço das primeiras. Também nas Antiguidades de Villa Real se lê que D. Diniz concedeu a esta villa o privilegio de ser sempre da corôa e nunca de senhorios particulares. Talvez seja esta uma das disposições do 2.° foral de D. Diniz, pois não se encontra no 1.° — e melhor fòra que tal não promet- tesse, porque depois se não cumpriu, como logo veremos. Extracto do foral de D. Manuel Principia por dizer que, posto tivessem sido dados a esta villa outros foraes pe- VIL VIL 945 los reis d'este reino, d'aquella data (22 de junho de 1515) em diante, vigoraria somente o de D. Diniz. Julgo que se refere ao 2.°, pois do extracto que vamos fazer os leitores verão que o foral de D. Mauuel differe mui- to do que acima ja transcre- vemos. —Que o concelho pagaria a el-rei cada um anno 1:000 maravedis velhos, ou 48.500 réis d'aquel)e tempo (1515) como ordenara D. Diniz, rateados pelas 500 eoure lias da Re- donda, a 2 maravedis por courella, segundo a repartição já feita e approvada pelo con- celho e pelo senhorio. —Que o gado do vento pertencesse ao se- nhorio. —Que os tabelliães pagariam cada anno 12:000 réis dos seus livros. — Que a pena tíarma se pagaria segun- do as leis do reino... ao Aleaide-mór, ou ao pequeno, ou ao meirinho,— ao primeiro que a tomasse. — Que nada pagariam das medidas, mas que dos pesos pagariam os homens de fora da villa na proporção de real por arroba. — Que pagariam mais de fôro a el-rei pelo moinho da ponte de Santa Margarida (?) 27 réis;— por outro 30 réis e 2 gallinhas;— por outro 27 réis;— por outro 20 réis e uma gallinha, etc. —Que haviam além da Redonda, no aro, termo e jurisdicção da villa, muitos reguen- gos de logares, concelhos e aldeias, de que se pagavam muitos direitos a el-rei, segun- do os foraes particulares das ditas ierras; — que d'ali em diante continuariam a pagar-se aquelles direitos sem innovação alguma,— mas declara expressamente que os mordo- mos ou rendeiros seriam indulgentes para com os foreiros . . . —Que os chãos das 500 courellas da Re- donda nunca seriam dados de sesmaria, ou declarados maninhos, embora estivessem in- cultos; mas que n'este caso, havendo entre os outros foreiros da Redonda quem os pe- disse para os cultivar, lhes seriam dados— e só a elles—x&o a estranhos— pelo fôro dos 2 maravedis por courella, sem acrescenta- mento algum. Em seguida indica o processo pelo qual o concelho podia declarar maninho um terre- no qualquer,— fóra da Redonda. — A portagem seria paga somente pe- los que de fóra da villa e do seu termo levassem a ella cousas para vender, ou ali as fossem comprar. Em seguida estipula a taxa e regimento da dita portagem, ou dos direitos de barreira,— taxa e regimento em tudo similhantes aos dos outros foraes de D. Diniz. Apenas estranhamos a disposição seguinte: «e posto que não vendam, pagarão da passagem, como se comprassem, ou ven- dessem, por ser assim impo.-to pelo dito fo- ral acostumado.» Depois indica as pessoas e terras privile- giadas que eram izentasde pagar portagem. Das ditas terras pertenciam a esta provín- cia:—Miranda, Bragança, Freixo d'Espada á Cinta, Azinhoso, Mogadouro, Chaves, Mon- talegre e Anciães! . . . Termina pelas penas do foral, como todos os outros d'este padrão. Do exposto se vê que o foral de D. Manoel é uma vulgaridade. Mal se distingue dos que o mesmo rei deu a outras muitas povoações, — emquanto que o de D. Diniz (referimo- nos ao 1.°) não se confunde com qualquer outro e comprehende muitas franquias e privilégios que D. Manoel lhe cerceou. Não conhecemos o 2.° de D. Diniz, mas suppomos que D. Manoel o cerceou também, aproveitando d'elle o fôro dos 1:000 mara- vedis pelas courellas da Redonda— e pouco mais; Ainda a villa velha O seu local foi sempre muito piltoreseo e muito interessante, mas como está no vérti- ce do angulo da pequena península, sem ponte nem eommunicação para leste e sul,, formando uma espécie de beco sem saida e oecupando um pequeno espaço, poucas ha- bitações teve sempre e menos tem ainda hoje. A villa cresceu rapidamente, mas para o arrabalde, a N.— NE.— e NO. da villa velha, 946 VIL VIL formando bellas ruas, campos, largos e pra- ças que lhe mereceram o titulo de corte e capital de Traz-os-Montes;—e a pobre villa velha, que nunca comprehendeu mais do que o pequeno recinto murado, a egreja de S. Dinis e o adro ou largo da egreja, hoje ce- mitério publico, em breve se despovoou, fi- cando a egreja matriz exposta a ser, como foi, roubada,1 pelo que el-rei D. Fernando I concedeu aos moradores da pobre villa ve- lha isenção do serviço militar e de todos os tributos e encargos do concelho, emquanto n'ella rezidissem! . . . Tào extraordinário privilegio foi confir- mado por D. Pedro II em 6 de julho de 1677, mas poucos se aproveitaram d'elle, por ser a villa velha um bairro morto, sem movimento de passageiro?, sem agua, sem industria, sem commercio nem vida algu- ma, formando um perfeito contraste com a villa nova, cortada por estradas importan- tíssimas, taes são a de Verim para a Beira, na linha de N. a S.— por Chaves, Vidago e Pedras Salgadas, hoje dois estabelecimentos balneares de primeira ordem,— Villa Pouca d'Aguiar, Regoa e Lamego,— e a de Bragan- ça ao Porto e Braga, na linha de E. a O.— por Macedo de Cavalleiros, Mirandella, Mur- ça, Amarante ou Regoa. Ambas cortaram sempre e cortam esta villa, pelo que ao longo d'ellas se construí- ram amolas ruas, largos e praças, bons edi- fícios públicos e particulares, conventos, egrejas, capellas, chafarizes, etc. e se mon- taram offieinas e estabelecimentos comraer- ciaes de toda a ordem. Na villa velha apenas se veem algumas casas denegridas, quasi todas habitadas por gente pobre, o cemitério, prestes a ser sup- 1 Em 1670 rtíubaram a pyxide com as partículas. Appareceram estas em um bu- ráco da tranca da porta e, sendo encontrado um preto a vender a pyxide, foi preso e en- forcado no alto do monte da margem direita do Cabril, em frente da egreja roubada, pelo que o dicto monte se denomina ainda hoje Monte da Forca. primido. a capella de S. Braz, a egreja de S- Diniz e alguns restos dos velhos muros, ha muito abandonados e despresados como inú- teis e que nunca registraram um feito der- mas. Depois de construídos, sustentámos grandes luctas com a Hespanha nas guer- ras da successão, no tempo de D. João 1, — e nas da independência, em seguida á acclamação d'el rei D. João IV; mas, como esta villa estava longe da fronteira, pouco, muito pouco soffreu, além do incommodo proveniente do'movimento da3 tropas. Os ditos muros, por serem completamente inúteis, foram demolidos em differentes da- tas e empregada a sua pedra em outras construcçÕHS, nomeadamente no palácio de que logo fallaremos, mandado construir ém 1816 pelo general Silveira. Não tinham os muros outro merecimento além da sua muita antiguidade, pois não só datavam de 1289 a 1293, mas accrescia a eir- cumstancia de terem sido feitos com a pe- dra dos muros e ruinas da velha capital de Panoias, que estava (segundo se suppõe) no chão que hoje occupam as freguezias de Constantim e S. Pedro de Val de Nogueiras ou das Valongueiras, 4 a 5 kilometros a leste de Villa Real, pelo que ficou varrido aquelle chão e d'elle desappareceram quasi completamente os vestígios do povoado ro- mano. Quantas lapides, inscripções e restos de estatuas se não destruiriam por essa occa- sião!. . . Os muros de D. Diniz formavam uma espécie de parallelogrammo queabrigava em si a vil- la velha e tinham 3 portas, — uma ao norte, —outra ao sul— e outra ao poente. A principal era a do norte, defendida por duas altas torres, a meio das quaes o pri- meiro alcaide-mór fez uma casa onde vive- ram elle e os seus descendentes e successo- res muitos annos, até que um d'estes fez ou- tra mais ampla e confortável, na villa nova, junto dos paços do concelho e do hospital. Tinha na frente uma grande janella, sobre a qual em 1640, na acclamação de D. João IV, o Alcaide-mór d'esse tempo mandou gravar em lettras d'ouro esta inscripção: VIL VIL 947 JOANNES QUARTUS REX NOBIS VENIT AB ALTO tO ceu nos deu D. João IV como Rei.» Da porta principal ia e vae ainda hojp. uma estreita rua, denominada Direita, até á porta do lado sul, que dava communicação para o largo da egreja de S. Diniz, da capella de S. Braz e das antigas feiras talvez. A do lado poente denominou se porta franca, porque em virtude do um antigo privilegio não pagavam direitos de portagem as mercadorias e géneros que por ella en- trassem,— privilegio importante concedido, como o de D. Fernando, para reter a popu- lação dentro dos muros; mas nem um nem outro a poderam reter. A' dieta porta franca iam ter as estradas que vinham da Regoa, Lamego e Beira, Amarante, Porto e Braga, mas, depois que principiou a desenvolver-se a villa nova, ninguém mais demandou a dieta porta, ape- sar das suas franquias, por entenderem que estas não valiam a pena da grande volta e romagem, ou visita forçada ao ermo, onde não podiam pousar nem fazer negocio al- gum, o que tornava o passeio, além de fati- gante, irrisório, pois, feita a continência á villa velha, tinham de contramarchar e de volver á villa novat. . . Egreja de S. Diniz E' um templo venerando pela sua anti- guidade e tradições e»ta egreja, posto que já não é a fundada por D. Diniz no mesmo local em 1289 a 1293, *— e ha muito que não é também egreja parochial. A primitiva era muito mais pequena, pelo que foi mister amplial-a para n'ella poder assistir aos officios divinos a grande popu- lação da villa velha e do arrabalde, ou villa nova. Data a sua restauração e ampliação dos 1 Suppõe-se que n'éste período de 4 an- nos se fundou a villa e se pôz em termos de ser habitada (Monarchia Lusitana, parte V, fl. 143) mas sobre a porta principal da egreja se vê a data— 1320 A mesma egreja tem sobre o arco cruzeiro as armas reaes. Exte- riormente não tem brasão algum. fins do século XV, pois sabemos que D. Af« fonso V, nas cortes que fez na Guarda no anno de 1465, attendendo ao que lhe repre- sentaram os procuradores de Villa Real, concedeu para as dietas obras 15:000 réis, somma importante n'aquelle tempo. O mesmo rei anteriormente já havia man- dado dar para o mesmo fim outros 15:000 réis das sobras das cisas, mas o alvará não se cumpriu. Nos princípios do ultimo século o paro- cho d'esta egreja de S. Diniz era vigário e recebia de estipendio 30:000 réis,— mai9 10:000 réis para renda de casa e 600 réis para ensinar doutrina;— total 40:600 réis. Tinha um cura e um coadjuctor que ven- ciam 40#000 réis cada um. Havia também na dieta egreja 4 porcionistas cantores que cantavam as missas conventuaes dos domin- gos e dias festivos, recebendo cada um dos cantores 6#000 réis por anno. O organista ganhava outros 6:000 réis, e todos eram da apresentação do vigário e pagos pelos jero- nymos do convento de Belém, que recebiam os dízimos d'esta freguezia e apresentavam o vigário. Em 1768 o vigário era da mesma apre- sentação,—tinha de côngrua 1501000 réis — e contava esta freguezia 142 fogos. Na mesma data era também vigário e da mesma apresentação o parocho de S. Pedro, ou da outra freguezia d'esta villa;— tinha de côngrua 280#000 réis— e contava a dieta freguezia 640 fogos.1 Na egreja de S. Diniz, desde a sua funda* ção houve sacrário e uma confraria do San- tíssimo, na qual se inscreviam os confrades livremente e davam a seu arbítrio uma es- mola qualquer. De um dos livros d'estasin- seripções consta que Maria Antunes e uma sua filha deram de esmola dois réis!.. . A dita confraria se transformou em ir- mandade em 1548, por bulia de Paulo III, i Tanto a egreja de S. Diniz conw a de S. Pedro foram primeiramente da corôa,— de- pois passaram para os frades bentos de Pom- beiro— e ultimamente para os Jeronymos de Belém. 948 VIL VIL que falleceu no anno seguinte, tendo aberto o concilio de Terento em 1545. O papa Clemente XI lhe concedeu muitas indulgências e privilegiou perpetuamente o allar-mór em 1712, data em que a irman- dade fez novos estatutos, por haverem des- apparecido os de 1548. Houve também e ha ainda hoje (1885) n'esta egreja uma irmandade das Alma9, tendo por patrono S. José,— com estatutos desde 1651 e muitas indulgências concedidas pelo papa Clemente XI em 1715. Também houve n'esta egreja uma irman- dade de S. Roque, tão antiga como o próprio templo. Festejavam com grande pompa o seu ora- go, no dia próprio, os ministros, advogados e officiaes da justiça, — exceptuando os da repartição ecclesia9tica. Tendo-se perdido os velhos estatutos, fize- ram outros em 1718. Também houve n'esta egreja outra irman- dade do Santo nome de Jesus, fundada no tempo do santo arcebispo D. Fr. Bartholo- meu dos Martyres, creador das irmandades com a dita invocação. Os seus últimos estatutos foram feitos em 1715. N'esta egreja se instituíram muitos vín- culos com obrigação de mi9sa9. As Antigui- dades de Villa Real mencionam grande nu- mero d'elles, mas nós, para não fatigarmos os leitores, mencionaremos apenas um, por ser mais curioso, instituído pelo padre Ruy Dias, que fôra 10 annos capellão do marquez de Villa Real. Foi o instituidor sepultado no supedaneo do altar de Nossa Senhora a Branca, na egreja de S. Diniz, e vinculou certos bens, nomeando administradora do vinculo uma tal Simôa, filha de sua sobrinha Leonor Dias, casada com João Ribeiro, para ajuda do ca- samento da tal sua segunda sobrinha,— de- terminando que o vinculo pertenceria sem- pre á filha mais velha da tal Simôa e dos seus descendentes, excepto quando a filha mais velha fosse pródiga ou fizesse de si al- gum desmancho, pois n'esse caso passaria o vinculo á irmã immediata. A este vinculo impoz a obrigação de uma missa todos os mezes, — da esmola de vinte reis 1 . . . Poucos vínculos ou morgados excluíam da successão, como este, os filhos varões. Outra instituição curiosa : Pedro João e sua mulher Joanna Fran- cisca, maradores na villa velha, instituíram em 1697 no seu testamento duas missas por eua alma, que seriam dietas no dia da festa do Corpo de Deus e no da do Anjo Custo- dio, depois de recolhidas as procissões so- lemnes,— para que podessem satisfazer ao preceito muitas pessoas que entretidas com as grandes festas (logo as descreveremos) costumavam ficar t>em missa. Capella de S. Braz Antes de sairmos da villa velha, forçoso é mencionar a nobilíssima e antiquíssima capella de S. Braz, contigua á egreja de S. Diniz, lado poente, e como que formando um todo com ella. Foi de Gonçalo Chrystovam Teixeira Coe- lho de Mello Pinto de Mesquita, bem conhe- cido na segunda metade do ultimo século por fidalgo do Bomjardim, no Porto, de quem tomou o nome a rua de Gonçalo Chrystovam, que liga as de Santa Catharina, Camões e Bomjardim com o Campo da Re- generação. Gonçalo Chrystovam, um dos fidalgos mais nobres e mais ricos de Portugal no seu tempo, legitimo representante das famí- lias Teixeira9, Macedos, Monizes, Coelhos e Mellos, foi contemporâneo do marquez de Pombal e uma das victimas d'elle, pois o man- dou prender e metter em uma das prisões da Junqueira, onde o conservou incommuni- cavel cerca de 18 annos, até que, fallecendo D. José I e sendo deposto de todos os car- gos o omnipotente ministro, Gonçalo Chrys- tovam respirou e tornou a ver o mundo, compungindo e assombrando a todos como se fôra um espectro saido da campa, ou se tivesse ressuscitado, pois todos o julgavam morto e até os parentes já haviam distribuí- do entre si os seus muitos bens; mas, logo que o reconheceram, sem letigio de prom- pto lh'os entregaram. VIL VIL 949 Bem quizeramos dar desenvolvimento a este interessantíssimo tópico, mesmo por- que temos conhecimento de circumstancias que jazem ignoradas e que descobrimos na Bibliotheca Municipal Portuense; mas este artigo vae já tão longo que não podemos deixar de passar adiante. Veja-se entretanto na Bibliotheca Portuense o Códice n.° 658, que se intitula : Vida trágica e relação maviosa dos tra- balhos e perseguições que soffreu Fr. Manuel da Rainha dos Anjos Penajoia desde Portu- gal até á Turquia, escripta por elle próprio. Este códice é tão interessante que foi co- piado pelo próprio punho do bispo D. João de Magalhães e Avelar. N'elle o padre Penajoia, meu patrício, na- tural da povoação do Moledo, freguezia da Penajoia, dr. de capello, homem muito il- luslrado, qualificador do Santo Officio e as- cendente do sr. dr. João Cardoso Ferraz de Miranda, hoje official maior na secretaria do reino, descrevendo a perseguição que lhe moveu o marquez de Pombal, diz que, ten- do-se milagrosameute evadido de uma das prisões da Junqueira, 1 foi alta noite bater á porta de GoQçalo Chrystovam, então resi- dente em Lisboa, que o recebeu e tractou bem, deu-lhe roupas e dinheiro e o mandou pôr na margem esquerda do Tejo, caminho de Hespanha, para onde fugiu o padre Pe- najoia,— de lá para Boma — e de Boma para a Turquia!. . . Apenas o marquez soube que o padre Pe- najoia fôra recebido e protegido por Gon- çalo Chrystovam, aproveitando o ensejo para vingar-se e desfazer-se d'elle, immediata- mente o prendeu e á família, conservando-o 1 Aliunde pude saber que o milagre foi operado pela rainha D. Marianna Victoria, mulher de D. José ! . . . Assim o affirmava o meu professor de la- tim, Fr. Manuel Baymundo Pinto Coelho, também natural da mesma freguezia da Pe- najoia, religioso (egresso) franciscano, ho- mem bastante illustrado, que fatleceu em 1882, contando cerca de 80 annos de edade e que teve (dizia elle) perfeito conhecimento dos trabalhos que passou o pobre padre Pe- najoia. preso tanto tempo e com tal segredo que to- dos o julgavam morto ! . . . 1 Todo o Códice parece um romance. D'elle daremos um longo extracto no supplemento ao artigo Penajoia. Nos antiquíssimos tempos em que a po- voação de Conslanlim foi cidade (alguém diz que se denominava Constância) capital de Panoias, os Teixeiras Macedos, a quem depois se uniram os Coelhos, Monizes e Mel- los, fundaram ali uma capella de SanfAnna, a que vincularam muitos bens. Depois, pas- sados séculos, quando D. Diniz fundou Villa Beal, fundaram elles também n'esta villa e junto da egreja de S. Diniz, a capella de * Consta que o marquez, tentando casar com uma irmã de Gonçalo Chrystovam, este se oppoz, dizendo que não podia tolerar-se um carvalho em um jardim. Bem caro pagou o calembourgl . . . Também conota que entre a familia de Gonçalo Chrystovam e a do marquez de Pombal houve rija e prolongada demanda por causa de certo vinculo que foi do mar- quez de Montalvão. Achando se Gonçalo Chrystovam na posse do dicto vinculo, o marquez de, Pombal obteve sentença em seu favor. G. Chrystovam pro?eguia com a de- manda, quando se deu a oceorrencia do pa- dre Penajoia, occurrencia que o marquez aproveitou para desfazer-se do seu conten- dor. Metteu-o nas prisões da Junqueira e a ura primo, João Bernardo; prendeu também duas irmãs de G. Chrystovam e as degradou para o Alemtejo, onde falleceram; prendeu tam- bém outra senhora que estava em casa de G. Chrystovam na fatal noute e a metteu no Limoeiro, onde esteve encarcerada até mor- rer D. José, ou cerca de 18 annos; prendeu finalmente também um padre loyo, que na mesma noute se achava na casa de G. Chrys- tovam, e o metteu também no Limoeiro, on- de falleceu. Quando G. Chrystovam foi preso, tinha o casamento tractado com sua prima, D. Fran- cisca de Noronha Manoel Portugal. Ella, julgando-o, como todos o julgaram, fallecido, vestiu-se de roxo, disposta a morrer soltei- ra. Besurgindo elle, casaram então e tive- ram um único filho, também de nome Gon- çalo, herdeiro e successor. O pae falleceu dois annos depois de sair do cárcere, e foi sepultado, bem como o fi- lho, na sua capella de S. Braz. 950 VIL VIL S. Braz, com missa quotidiana resada e a dos sabbados cantada, tudo em suffragio dos seus maiores, pois a dieta capella foi desti- nada para jazigo da família. Fundaram também por essa occasião no arrabalde, ao fundo do Campo do Tabolado e junto da estrada publica, uma albergaria ou hospital com outra capella da invocação ds Espirito Santo, e vincularam estas duas capellas em morgado, como a de SanfAnna de Constantim, unindo-lhes todos os seus bens. Não sabemos precisamente a data da ins- tituição d'este grande vinculo; mas sabemos que D. Affooso. V o confirmou por carta de 2 de dezembro de 1472, sendo administra- dor d'elle João Teixeira de Macedo, F. C. R. do concelho de el-rei e contador das suas rendas n'esta província de Traz-os-Montes. Na dieta carta se diz que estando elle João Teixeira de Macedo possuindo o dicto mor- gado com as 3 capellas sem outro titulo além da opinião antiga de posse immemorial em seus ascendentes, el-rei o perpetuava na fa- mília d'elle com todos os bens, casaes, quin- tas, casas, vinhas, herdades, rendas, pensões, etc, como o haviam possuído seus paes, avôs e mais ascendentes. Em 1720 era administrador d'este grande vinculo Bernardo José Teixeira de Mello Pinto, moço fidalgo da C. R. senhor da Villa da Teixeira, da casa de Cei gude em Fel- gueiras e das commendas de S. Salvador de Tellões e de S. João do Mosteiro de Vieira, sendo natural d'esta villa e u'ella morador. A capella de S. Braz era o jasigo de tão nobre família, como revelam os cinco mau- zoleus que ainda hoje conserva, mettidos em arcos nas paredes com sepulturas levanta- das, distiuguindo-se entre todos um pela sua magnificência. É ornado por columnas triangulares com seus capiteis pyramidaes, frisos e folhas em relevo, tudo muito bem trabalhado em gra- nito, e tem na parte superior— de um lado um brazão d'armas em quartéis: — no 1.° a cruz de Ghristo vazia; no 2.° 5 flores de liz, — e assim os contrários. Do lado opposto: — um elmo com plumagens em alto relewo, — e no cavalete a ínscripeção seguinte, etm let- tra gothica: Aqui jaz João Teixeira de Macêoo, do Conselho d'El-Bei; o qual, entre outros muitos as - ■ signa lados serviços que fez, tomou vllvestre por combate e o sosteve tres annos, estando muito tem- po cercado, pelejando mui- tas vezes, ganhando muitv honra e grande memoria falleceu aos 6 dias de julho DE 506 ANNOS. Das 5 mencionadas sepulturas está outra da parte do evangelho, tendo esculpiida na tampa uma espada com duas meias luaas. Diz a Monarchia Luzitana que esta sepulttura é de Lourenço Viegas, o Espadeiro, fil lho de Egas Moniz, um dos ascendentes d'estta no- bre família, e que o dicto Lourenço Wiegas foi para aqui transportado de Évora,, onde falleceu, por oceasião de uma cavalgatda. No pavimento da dieta capella se vêâ tam- bém uma sepultura rasa com as mesmias ar- mas do grande mauzoleu e uma insciripção que diz: Sepultura de Ascanio Teixeika d'Azevedo e de sua mulher D. Guiomar e herdeiros. Em 1720 se enterrou n'esta sepulturra An- tonio Teixeira Lobo de Barbosa, morgaado de Villarinho de S. Romão, terceiro neto ido di- cto Ascanio, ao qual se concedeu sepiullura na dieta capella, por ser filho de Joãto Tei- xeira d'Azevedo, morgado de S. Braz.. 1 1 Na dieta sepultura jazem Gonçalo (Chris- tovam, o martyr das prisões da Junqjueira, — seu filho único, Gonçalo Chrystovatm tam- bém,— e seu neto e su^-cessor, José Amtonio Teixeira Coelho, pae da actual successsora e bisneta, a ex.ma sr.a D. Maria da Graç;a Tei- xeira Coelho, casada com seu primto José Xavier Teixeira de Barros, do qual teim seis filhos e duas filhas, todos ainda solteiíros. VIL VIL 951 É pois a dieta capella uma das mais an- tigas e das mais notáveis da província e está hoje collada e unida á egreja de S. Diniz, porque não ousaram demolil-a nem remo- vel-a, quando nos fins do século xv foi res- taurada e ampliada a egreja, prolongando- se até á dieta capella, ainda hoje possuída e representada pela ex.ma sr." D. Maria da Gra- ça Teixeira Coelho, — bisneta de Gonçalo Christovam, o martyr das prisões da Jun- queira, casada e com 9uecessão. Capella do Espirito Santo 1 Esta antiquíssima capella, fundada tam- bém pelos ascendentes de Gonçalo Christo- vam, bem como o hospital e albergaria do mesmo nome, foi removida, ha annos, para o campo do Pioledo, onde não mais se abriu ao culto e serve actualmente de paiol do regimento dMnfanteria n.° 13, aqui estacio- nado. Denominou-se também Capella do Bom Je- sus do Hospital, pela occorrencia seguinte: 2 Havendo na egreja de S. Diniz uma ima- gem antiquissima .de Christo Crucificado, esculptura bastante grosseira e já carcomida pelo tempo, em acto de visita se manduu enterrar; mas, constando por tradição que ella fôra dada pela rainha Santa Isabel, o rev. Alvaro Corrêa Barbosa, pertencente á principal nobreza d'esta villa, homem pie- doso e amador de bellas artes, como alguns dos seus maiores, levou a imagem para sua casa, restaurou-a e depois a collocou na dieta capella, para onde a conduziu em solemne procissão á sua custa, no dia 10 de maio do anDO de 1644, e á sua custa lhe fez pompo- sa festa, sendo elle próprio o celebrante. Levantada a gloria da missa, entrou na Ascanio Teixeira, supra é lambem um dos ascendentes dos acluaes viscondes de Villa- rinho de S. Romão. V. Miragaya, vol. S.° pag. 2õ7, col. Ia— e Villarinho de S. Romão. 1 Era brasonada esta capella, bem como a de Santa Anua, em Coustantim. A de S. Braz tem apenas brazòes nos túmulos inte- riores. 2 Antiguidades de Villa Real, fl. 83, mihi. capella uma pobre mulher da freguezia do Outeiro Seceo, no concelho de Chaves, com o rosto collado aos joelhos, por ser aleijada de nascimento. A custo pôde approximar-se do celebrante e, chamando com viva fé pelo Senhor Jesus, os ossos se lhe desconjuncta- ram e ficou illesa e sã, com assombro do grande concurso de fieis que presencearam tão estranho facto, pelo que o povo poz ao celebrante a alcunha de Clérigo do Milagre e por ella foi conhecido até morrer. A pobre restabelecida não mais deixou a capella e o hospital e lhes agenciou muitas esmolas ; — e em commemoração d'aquelle milagre, que foi seguido d'outros, se fez d'ali em diante festa pomposa à dieta imagem to- dos os annos no dia 10 de maio, sendo feita durante mais de 30 annos consecutivos pelo commendador das Tres Minas, D. Gregorio Castello Branco, até 1719, data em que fal- leceu. Tão querida se tornou a dieta imagem que a capella tomou a invocação de Bom Je- sus do Hospital; e, quando foi d-molida e removida para o Pioledo, as imagens e al- faias ficaram em poder do dono d'ella, o sr. José Xavier, casado com a bisneta de Gon- çalo Christovam. S. ex.» ainda hoje conserva na sua casa de Villa Real a dieta imagem do Bom Jesus que, apesar da restauração, é uma escul- ptura bastante imperfeita. Capella de Nossa Senhora da Piedade Entre as duas torres que defendiam a porta principal da villa velha, fizeram a sua mo- rada e residiram os alcaides-móres até que se transferiram para o palácio que manda- ram fazer na villa nova. Depois nas casas que elles deixaram intra-muros se fez uma capella dedicada a Nossa Senhora da Pieda- de e que deu o nome á rua que das dietas portas conduz á villa nova. Com o tempo a dieta capella tomou a in- vocação de Senhora do Desterro e no anno de 1694 se restaurou desde os fundamentos até o alto das duas torres, ficando a meio d'ellas, em grande altura. Depois se fez ura arco e uma elegante escadaria dupla com 952 VIL VIL lacetes e pateos, balaustrada e pyramides, terminando tudo em uma grande casa com vistosa varanda de pedra e grades de ferro, formando o corpo do templo, que tinha ar- co cruzeiro e capella-mór, tecto de madeira apainelado e boas pinturas a oleo, ficando a sacristia em uma das torres. 1 Todas estas obras de pedraria se fizeram com a esmola de quatrocentos mil réis que para esse fim mandou Bento Ferreira Lima, capitão-mór em Benguella e filho de Villa Real. Também o mesmo piedoso villa-realense mandou muitas pedras preciosas que se en- gastaram nas coroas da Senhora e do Meni- no que tinha nos braços, — além d'outras pe- ças e alfaias de grande valor que deu para a dieta capella, para a egreja de S. Pedro e para a do convento de S. Francisco. Tudo isto constava de uma inscripção que se gravou em leltras d'ouro de um lado do novo arco, ficando em correspondência do outro lado a antiga inscripção que el-rei D. João IV mandou gravar nas portas das vil- las e cidades do reino, quando o dedicou á Immaculada Conceição de Maria. Na dieta capella se fundou em 1683 uma irmandade do Espirito Santo com estatutos approvados pelo arcebispo D. Luiz de Sou- sa, a qual não só festejava com grande pom- pa e írezena o seu padroeiro, mas velava pela capella e a couservava com todo o aceio, pelo que a dieta capella tomou ulti- mamente o nome de Capella do Espirito Santo. Tudo se sumiu e desappareceu ha mui- to!... Também houve na villa velha e junto da porta travessa da egreja de S. Diniz, uma capella de S. Roque, muito antiga. Teve ir- mandade própria, formada pelos ministros, advogados e officiaes da justiça e estatutos 1 Nada, absolutamente nada hoje existe nem da porta, nem do arco, nem da capel- la, nem da escadaria, nem das torres 1 Tu- do foi demolido em 1873, tendo sido tudo respeitado pelo general Silveira, quando em 1816 demoliu os muros da villa velha para fazer o seu palácio. feitos em 1718, por se haverem pendido os primeiros. N'esta capella instituiu um vincullo João Teixeira d'Araujo, por testamento dle 1639 e codicilio de 1640; mas depois, Dãco tendo filhos, metteu-se frade no convento eda villa da Castanheira e chamou para administra- dor do dicto vinculo e primeiro ouorgado, seu irmão Fernando de Magalhães e Mes- quita. Mais tarde, não sabemos quando, foi de- mollida a capella, e a imagem de. 3.. Roque ; transferida para um dos altares lateiraes da egreja de S. Diniz, hoje cemitério, 1 existiu um padrão levantado, que dizem ser contem- porâneo da villa velha, encimado pcor uma cabeça humana, olhando para o nortte— um escudo com as armas reaes— e a llegenda Real Villa. No passeio exterior da villa velha,, do la-1 do do Corgo ou leste, ha hoje uma icapelli- nha com a invocação de Santo Anlomio Es-\ quecido, feita muito recentemente. Também houve intra-muros uma cisterna mandada fazer por D. Diniz. Mas deixemos] a villa velha com os seus muros desímante- j lados e virgens, pois nunca foram ísitiados nem assaltados em tempo de guerra,, e pas-| semos adiante. Senhores, ou donatários e titulaires d'esta villa Dizem as Antiguidades de Villa Rleal que] D. Diniz, quando fundou esta villa, llhe con-j cedera, entre outros muitos, o pnvillegio dei ser sempre da coroa; mas, se tal projmetteuJ 1 Foi principiado em 1841 e acabado eraj 1845, por iniciativa do governador ciivil Josá Teixeira Cabral, a expensas da caimara el das irmandades da villa. Por oecasião do desaterro se eneomtraramj muitas sepulturas antigas, pois nVaquellej mesmo chão se fizeram os enterramemtos ou-1 tr'ora— e ultimamente se faziam nas egrejasj e claustros dos conventos e nas capelllas pu 4 blieas e particulares da villa. É um cemitério luxuoso. Tem urm bellql portão e bom gradeamento de férreo; masj por ser pequeno e estar em contacto) com a villa, tentam removel-o para o míonte aof norte da capella do Calvário. VIL mal cumpriu, pois teve ella vários senhores ou donatários. Occorrem-nos os seguintes : 1. °— El-Rei D. Diniz, seu fundador. 2. "— A rainha Santa Isabel, a quem seu esposo, D. Diniz, a deu, com outras muitas villas. 3. °— A rainha D. Brites, mulher de D. Af- fon90 IV, o bravo. 4. °— A rainha D. Leonor Telles de Mene- zes, por mercê d'el-rei D. Fernando. Esta rainha adultera foi a vergonha e ruina de Portugal ! Ambiciosa e astuta, dominou completa- mente o fraco e tonto D. Fernando;— fez-se senhora de muitas praças e villas, nas quaes collocou os seus parentes e apaniguados; — depois tornou-se déspota;— mandou matar muitas pessoas— finalmente, por morte de D. Fernando, quiz entregar-nos aos hespanhoes e deu causa á guerra da successão. Chamou de Castella seu genro D. João I e o fez acclamar rei de Portugal com todas as villas e praças de que ella tinha o senhorio, expondo-as, como expoz esta de Villa Real, ao labéu de traidoras e falsas á coroa; ven- do-se, porém, desconsiderada pelo genro, conspirou-se contra elle e tentou mandal-o matar em Coimbra, pelo que elle a prendeu despojou-a de todas as suas riquezas e a metteu no convento de Tordesilhas, onde soffreu privações e desconsiderações de toda a ordem até que Deus a chamou a contas. 1 5. °— João Rodrigues Porto Carreiro. Este poderoso fidalgo, lambem senhor da Villa d'Anciàes, nas guerras da successão tomou armas por Castella,— invadiu esta pro- víncia— e accommelteu Anciães, mas foi der- rotado pelos ancianenses commandados por Vasco Rodrigues de S. Payo (ascendente dos conde3 de S. Payo) a quem o nosso rei D. João I, por este feito d'armas, deu todo3 os senhorios de João Rodrigues Porto Carrei- ro, menos o de Villa Real, que passou para a filha do traidor, talvez quando casou com D. João Affonso Telles de Menezes. Suppomos que o procedimento de João Rodrigues Porto Carreiro deu também causa 1 Europa Portugueza, tomo 2.° pag. 249. VIL 953 para ser Villa Real taxada de traidora e falsa á coròi, segundo se lê nas Memorias de villa a" Anciães. 6. °— D. Maior Villa Lobo3 Porto Carreiro, filha de João Rodrigues Porto Carreiro. Casou com D. João Affonso Telles de Me- nezes, 1.° conde de Vianna, que serviu va- lorosamente nas guerras coutra Castella, em tempo de D. Fernando e D. João I. Era filho d'outro D. João Affonso Telles de Menezes, irmão da rainha D. Leonor Tel- les de Menezes, e 1.° conde de Barcellos, o qual casou em primeiras núpcias com D. Maria Coronel, filha de D. Pedro Coronel, rico-homem de Aragão, e depois com D. Guiomar, filha de Lopo Fernandes Pacheco. Este ultimo D. João Affonso Telles de Me- nezes, era irmão de Martim Affonso Telles de Menezes, rico homem casado com D. Al- donsa de Vaseoncellos (filtea de Mem Rodri- gues de Vaseoncellos, senhor de Vaseoncel- los) paes da celebre rainha D. Leonor Tel- les de Menezes e da infeliz D. Maria Telles, que foi casada em segundas núpcias com o infante D. João e por elle assassinada por intrigas da própria irmã D. Leonorl . . . V. Coimbra, vol. 2.° pag. 322. 7. °— D. Pedro de Menezes, filho de D. Maior e de D. João Affonso Telles de Menezes, 1.° conde de Vianna. Foi D. Pedro de Menezes 2.° conde de Vianna, 1.° conde de Villa Real e 1.° capitão governador e donatário de Ceuta, onde fal- leceu em 1437, almirante de Portugal, alfe- res-mór d'el-rei D. Duarte e um dos mais valorosos capitães do seu tempo l. Conquistada aos mouros a praça de Ceuta em 1415 por D. João I, cuidou logo el-rei de prover á defesa e conservação d'ella; quando porém tractava da nomeação do governador todos se escusavam, prevendo que o impe- rador de Marrocos em breve cairia sobre ella com lodo o seu poder. A difflculdade, ou antes impossibilidade de conservar Ceuta, era obvia a todos. 1 V. Memorias Hist. e Geneal. dos Grandes de Portugal, pag. 709,— e a Historia Gen. da Casa Real, tomo 5,° pag. 460 e 461. Veja-se também n'este vol. 10.° a pag. 389. 954 VIL VIL Foi n'estas circumstancias que D. Pedro de Menezes com temerário arrojo se offere- ceu para governador da praça. Chamou-o el-rei á sua presença e, como andasse jogando a choca 1 com outros fidal- gos da corte, quando recebeu o recado d'el- rei, foi prestes, levando na mão o alleo ou o pau, com que estava jogando;— e, pergun- tandolhe el rei se era certo o que acabavam de dizer-lhe, r es poD d eu:— Com este alleo que me vedes na mão defenderei a praça da mou- risma ioda! Nomeou-o logo el-rei governador da dieta praça e elle a defendeu heroicamente du- rante vinte e dois annos de luctas [conti- nuas. Immortalisou-?e e ao seu alleo, que por determinação regia foi guardado cuidadosa- 1 Jogo então muito em voga. Ainda se usava nos meus tempos de estudante e creio que ainda hoje se usa em Traz os Montes e na Beira. Eu o joguei muitas vezes na mi- nha PeDajoia, quando estudava o latim. Reunidos quatro ou mais moços, em um largo qualquer, armados cada um com seu varapau, formávamos uma espécie de cir- culo, marcado em toda a sua circumferen- cia por pequenas covas, onde firmávamos as pontas dos paus. No meio do circulo fa- zíamos outra cova e o jogo consistia em met- ter na dieta cova uma pedra ou ponta de carneiro. N'isto se empenhava um dos mo- ços com o seu pau — e todos os outros se em- penhavam em obstar a que o conseguisse. Elle ia cobrindo e defendendo com o seu pau a pedra ou a ponta do carneiro e todos os outros davam pancada de criar bicho na pedra ou na ponta do carneiro, — sem que perdessem a cova em que deviam ter as pontas dos seus paus, pois no momento em que o moço que defendia a pedra podesse antecipar-se a oceupar com a ponta do seu pau alguma das covas da circumferencia, ficava livre do fadário e era substituído pelo moço que perdia o logar. Demandava pois o tal joguinho da choca certa força e destresa e não era dos mais innocenles, pois por vezes nos magoávamos. Ainda na povoação onde e« nasci (Curva- ceira da Penajoia) vive um homem, Jero- nymo Corrêa da Fonseca, pertencente a uma dás famílias mais abastadas da localidade, que foi um moço valente, de pelle diabi,—e no tal jogo da choca apanhou em certo dia uma paulada que lhe derrubou tres dentes com parte da maxilla superior! . . . mente e com elle, em vez de bastãoío, se dl sempre posse aos governadores de ( Ceuta. ] Villa Real tomou por brazão d'arrrmas uni espada e uma coroa de louro, tendedo a me] a lettra alleo. O primeiro brasão d'esta villa i era (sí gundo se suppôe) um braço d'hommem, vej tido d'azul, em campo vermelho, emmpunhan do uma espada. Assim se encontra a desenmj da na Torre do Tombo *. A propósito: No palácio que os sisuccessd res de D. Pedro de Menezes, condtdes, m&i quezes e duques de Villa Real, fizizeram r cidade de Leiria, da qual foram tammbem a caides-móres, gravaram e lá se vê a ainda s(j bre uma janella um escudo com a a dieta 1< tra alleo; certo escriptor porem teveve a ind nuidade de dizer que na sua opiniãião sigl ficava castellotf. . . 2 Casou D. Pedro 4 vezes: — a l.a.a comi Margarida de Miranda, filha do arcecebispo i Braga D. Martinho de Miranda, da a qual tej D. Brites, herdeira e successora; 2." cl D. Philippa Coutinho, filha do n marecíj Gonçalo Vasques Coutinho; — 3.a cooom D. BI tés, filha de Fernando Martins Comulinho^ 4.» com D. Genebra Pereira, filha a do alai raute-mór Carlos Pessanha, da qualal tevel Leonor de Menezes, primeira esposasa do di que de Bragança D. Fernando, o dalas perra gordas, que foi justiçado em Evorara por o dem de D. João II. 8.° — D. Brites, filha do 1.° matrinimonioi D. Pedro de Menezes e 2.a condessa ia de Vl Real. Casou com D. Fernando de Nororonha, I filho bastardo de D. Affonso de r Noronl conde de Gijon (filho bastardo d do rei i Castella D. Henrique II) e de sua mmulher j 1 Cidades e Villas. . . do meu botom ami e mestre, o sr. Ignacio de Vilhena a Barbol tomo 2.° pag. 167. 2 É hoje o dicto palácio da fammilia M quete e, ha annos, estando nós erem Leia appareceu no correio uma carta cicom ol guinte adresse: «á sr.a Maria Antotonia, I èasa do sr. Júpiter.* Dizia o carte iriro sorri do: temos um planeta em Leiria! . VIL Isabel de Portugal, também filha bastarda do nosso rei D. Fernando I. D. Fernando de Noronha foi 2.° conde de Villa Real, 2.° capitão donatário de Ceuta, camareiro d'el-rei D. Duarte e varão de gran- des feitos. 9. °— D. Pedro de Menezes, filho de D. Fer- nando e de D. Brites. Foi 3." conde e 1.° marquez de Villa Real, 3.° capitão donatário de Ceuta, conde de Ou- rem, senhor d'Almeida, Freixiel, Abreiro e das ilhas Canárias, das villas de Chão de Couce, Aguda, Pousa Flores, Roupella, Avel- lar, Soverosa, Maçãs, Mouta Bella, casaes da Ameixoeira, das Hortas de Lisboa, da her- dade de Requeixada, no Alemtejo, da quinta de Lançada, dos direitos reaes de Tavira, da dizima do pescado de Silves, da jurisdicção de Valença e do Castello de Vianna, das ter- ras de Valladares, que comprou a Leonel d'Abreu, etc. Também foi alcaide-mór de Leiria e ter- ror dos mouros desde a edade de 20 annos. Acompanhou D. Affonso V na jornada de Castella e se achou no recontro de Samora. Tantos serviços prestou que D. João II to- mou lucto por elle alguns dias e o pranteou vivamente. Casou com D. Brites, filha de D. Fernan- do, 2.° duque de Bragança, e tiveram : 10. °— D. Fernando de Menezes, 4.° capitão donatário de Ceuta, onde serviu com a maior distincção, 4.° conde e 2.° marquez de Villa Real, 1.° conde « senhor d'Alcoutim,de juro e herdade para todos os primogénitos da sua [casa,, por mercê d'el-rei D. Manuel com data de 13 de junho de 1497, 1.° conde de Va- lença, fctC. Casou com D. Maria (ou D. Catharina) Freire d'Andrade, filha de João Freire d'An- drade, senhor d'Aleoutim, aposentador-mór da casa real, e de D. Leonor da Siiva, filha de Pedro Gonçalves Malafaia, vedor da fa- zenda d'el-rei D. João I; neta de João Freire de Andrade, senhor de Bobadella, Travanca e Covas, e de D. Catharina de Sousa, filha de Martim Affonso de Sousa, senhor de Mor- tágua;— bisneta de Gomes Freire de Andra- de, senhor de Bobadella, e de D. Leonor Pe- reira (dama da rainha D. Filippa) filha d'Al- V1L 955 varo Pereira, marechal de Portugal e senhor da Terra da Feira. D. Fernando de Menezes foi feito conde de Villa Real em 11 d'outubro de 1496, vi- vendo ainda seu pae, que ao tempo já era marquez do mesmo titulo; — em 13 de junho de 1497 foi feito conde d'Alcoutim, cujo se- nhorio lhe adveiu por sua mulher, — e em 1 de setembro de 1499 foi feito conde de Valença cora o senhorio d'esta villa, da de Caminha e das terras de Valladares, etc. Não foi, como seu pae, conde d'Ourem, porque D. Manuel restituiu este condado á casa de Bragança, em 1496, mas foi fronteiro-mór do Algarve, Falleceu em 1523, carregado de serviços e de honras, estando em Almeirim. 11. ° — D. Pedro de Menezes, 3.° marquez de Villa Real, 2.° conde d'Alcoutim e de Valença, 5.° capitão donatário de Ceuta, se- nhor d'Almeida e de toda a grande casa de seus paes. Casou com sua prima, D. Brites de Lara, filha de D. Alfonso de Portugal, condestavel do reino e filho bastardo do duque D. Diogo, irmão d'el-rei D. Manuel. Foi um dos mais insignes e valorosos ca- pitães do seu tempo e grande latinista em prosa e verso.— Tiveram: 12. °— D. Miguel de Menezes, 3.° conde de Alcoutim e de Valença, 4.° marquez de Villa Real, senhor de toda a grande casa de seus paes e alcaide mor de Leiria. Casou com D. Filippa de Lencastre, filha de D. Affonso de Lencastre, mas não tiveram filhos e por isso lhe succedeu seu irmão. 13. °— D. Manuel de Menezes, 4." conde de Alcoutim e de Valença, 5.° marquez de Villa Real e 1.° duque d'este mesmo titulo, por mercê de Filippe II de Hespanha e 1 de Por- tugal, com data do ultimo de fevereiro de 1585. Casou com D. Maria da Silva, filha d' Al- varo Coutinho, e tiveram : 14. °— D. Miguel de Menezes, 6.° marquez de Villa Real, 5.° conde de Alcoutim e 1.° duque de Caminha, por mercê de Filippe II de Portugal e III de Hespanha, com data de 14 de dezembro de 1620. * 1 As Memorias Hist. e Geneal. dos Grandes 956 VIL Casou com D. Isabel de Lencastre, filha de D. Theodo?io, duque de Bragança e de sua mulher D. Isabel de Lencastre. Não tiveram geração. Casou segunda vez com sua sobrinha D. Brites, da qual também não teve filhos epor isso lhe succedeu seu irmão; teve porém de D. Maria Xuar, em Ceuta, uma filha a quem deixou os bens livres e tentou deixar toda a sua grande casa. 15. °— D. Luiz de Menezes, 7.° marquezde Villa Real e irmão do antecedente. Casou com D. Juliana de Menezes, filha de D. Luiz de Menezes, conde de Tarouca, e tiveram : 16. °— D. Miguel de Noronha e Menezes, 2.° duque de Caminha, por mercê d'el-rei D. João IV, com data de 14 de maio de 1641. Casou com sua sobrinha D. Maria de No- ronha, filha dos condes de Faro, mas não ti- veram geração. Tanto o pae, D. Luiz de Menezes, como o filho, D. Miguel de Menezes, foram justiça- dos e degolados em Lisboa, no diá 29 de agosto de 1641, pelo crime de traição para com D. João IV, que, alem da vida, lhes ti- rou todos os bens e com elles fundou a ca- sa do infantado, que depois deu a seu filho o infante D. Pedro, mais tarde rei, D. Pe- dro II. } Assim se extinguiu a nobilíssima e riquís- sima casa dos condes, marquezes e duques de Villa Real, condes d'Alcoulim e de Va- lença, duques de Caminha, alcaides-móres de Leiria, etc. D. Pedro IV extinguiu a casa do infantado por decreto de 18 de março de 1834. O trágico fim da nobre familia Menezes bem merece mais algumas linhas. A conjuração e suas consequências Em seguida á feliz aeclamação d'el-rei D. João IV, no 1.° de dezembro de 1640, rom- peram-se as hostilidades com a Hespanha. de Portugal dizem a pag. 704 que o mesmo Filippe II, quando creou o ducado de Cami- nha extinguiu o de Villa Real. 1 Fica assim rectificado o que se lê no ar- tigo Caminha. VIL Era geral nos portuguezes a avenrsão aol castelhanos, porque ainda sangravanm as fel ridas do ominoso jugo filippino; maasalgunj mais timoratos, vendo os pequenos nmeios dj defesa de que dispúnhamos, considderavanj impossível resistir às forças de Castttella. Uns levados pelos favores e merrcês qui deviam aos tres Filippes,— outros i receoso de perder seus logares e fazendas,-,— outro] desanimados com a perspectiva de i tão me donha lucta, — outros seduzidos peido ouro \ pelas fallases promessas de Filippee III, inj clinavam se para o partido daHespaanha, poj ser na apparencia o mais forte, e Hentarad uma contra-revolução em favor d'eel)a, posj pondo ao vil interesse o amor da poatria. Foi chefe da conjuração o arcebbispo d Braga, D. Sebastião de Mattos e NNoronhi que pôde chamar ao seu partido o i marqui de Villa Real, D. Luiz de Menezes/, inferia no animo e na capacidade á jerarchhia eleva da em que nascera, 1 — Ruy de Mattaos de Nd ronha, conde d'Armamar e sobrinhho do ar cebispo,— Belchior Corrêa da Frangça, Dioa de Brito Nabo,— Pedro de Baeça, thhezourél ro da alfandega, rico negociante da i praça d Lisboa e capitalista, — D. Franciscoo de Cas tro, inquizidor geral, — o conde de i Valle d Reis, D. Nuno de Mendonça, Lourecnço Piri de Carvalho, D. Antonio de Athaydde, cona da Castanheira, Gonçalo Pires de CCarvalbl Antonio de MeBdonça, commissarioo da bui da cruzada, Fr. Luiz de Mello, bisispo elei de Malaca, Paulo de Carvalho, verreador I camará de Lisboa, seu irmão Seboastiãol Carvalho, desembargador da suppplieaçl Luiz d'Abreu de Freitas, escrivão dda cama d'el rei, Jorge Fernandes, d'Elvas, IDiogo R< drigo, Jorge Gomes Álamo e seu fililho, e S mão de Sousa Serrão, todos tres neegociani de grosso tracto, Chrystovam Copgominn guarda-mór da torre do Tombo, Máanuel "Na lente, escrivão da Tavola de Setabbal, Ani nio Corrêa, official maior da secnretaria I estado, D. Francisco de Faria, bispoo de Mi 1 Hist. de Portugal, de Rebello da Sill tomo 4.° pag. 391. O arcebispo promettera-lhe o aalto po| de vice-rei de Portugal!. . . VIL VIL 957 tyria, D. Agostinho Manuel e outros mui- itos. O marquez de Villa Real, que então re- sidia em Lisboa, revelou tudo ao filho D. Miguel de Noronha, duque de Caminha, ain- da moço, mas muito mais sensato do que o pae, convidando- o a entrar na conjuração. tOppoz-se, afeiando a nódoa da deslealdade e exclamando com nobre ardor, que mais valia morrer pela pátria e com a pátria, do que sobreviver- lhe deshonrado em novo ca- ptiveiro. Mas a rasão, infelizmente, era n'elle mais forte do que a vontade, porque o res- peito filial lhe atou as mãos, e por fim em- mudeceu todas as repugnancias.» 1 O plano dos conjurados era, segundo se suppõe, lançar fogo ao paço por quatro par- tes a um tempo; — no meio do ruido e da perturbação do incêndio prender ou assas- sinar el-rei, apoderarem-se da rainha,— e proclamarem Filippe IV. Também parece que o dia 5 d'agosto de 1641 fôra o aprasado para a execução; des- coberto porém tudo por imprudências do arcebispo e do Baeça, foram no dia 28 de julho presos não só os dois, mas todos os coDjurados, cujos nomes ficam supra. O infortúnio quebrou-lhes a altivez e mui- tos, entre elles o inquisidor mór e o arce- bispo, escreveram a el-rei confessando os seus crimes, expondo-lhes as causas que os determinaram a ádherir á conjuração e pe- dindo que lhes perdoasse. O duque de Caminha, o menos culpado, foi também o mais modesto. Arrastado pela auctoridade paterna contra o que a rasão e o peito lhe pediam, não procurou encobrir nem desculpar o seu crime e implorou so- mente a magnanimidade d'el-rei. 0 Baeça negou tudo, mesmo depois de posto a tractos; mas, vendo segunda vez diante de si o potro, succumbiu,— confessou tudo— e terminou offerecendo pela vida trin- ta mil cruzados dos bens de sua mulher, se- nhora de grande fortuna. \ Activou-se o processo e no dia 26 d'agosto 1 Rebello da Silva, tomo 4,°, pag. 392. VOLUME X se juntaram na relação os desembargadores para o julgamento. Prolongou-se largas ho- ras a conferencia do tribunal, que votou pela sentença de morte contra o marquez, con- tra o duque de Caminha e contra o conde de Armamar. Um só dos juizes votou em favor do po- bre duque, dizendo que obrigar os filhos e os paes a delatarem-se nos casos de conspi- ração era ir de encontro a todas as leis da naturesa e a todos os vínculos moraes; mas foi vencido. Na tarde do mesmo dia os desembarga- dores condemnaram também D. Agoslinho Manoel á pena de decapitação e Pedro Bae- ça a ser arrastado, enforcado e esquarteja- do, assim como Belchior Correia França, Diogo de Brito Nabo e Manoel Valente. Chris- tovam Cogominho e Manoel Corrêa foram os últimos que subiram ao patíbulo. Intimaram-se aos presos as sentenças no dia 27. Entretanto a duqueza de Caminha, não podendo conformar-se com tão cruel golpe, requereu audiência a D. João IV. An- nuiu o príncipe. Apresentou-se-lhe a des- consolada senhora, joven e formosa, coberta de lulo e lavada em pranto;— lançou-se de joelhos aos pés do rei e da rainha com a condessa de Faro, sua mãe;— escutaram-na ambos commovidos, e se não lhe promette- ram o que supplicava, deixaram-a sair com alguma esperança; mas nem a indole de D. João IV, pouco benigna e generosa, nem a rasão de estado consentiram que entre a jus- tiça e o cadafalso elle interpozesse a cle- mência. 1 Francisco de Lucena, o primeiro minis- tro, sendo consultado por el-rei, optou pelo rigor como necessidade fatal e indeclinável; — e a rainha D. Luiza de Gusmão, mais se- vera ainda, disse que a coroa, a vida doi- rei e a sorte da dynastia dependiam da fir- meza do soberano n'este lance. O velho e venerando arcebispo de Lisboa, D. Rodrigo da Cunha, desejando valer ao i Alguém lembra que também actuaria no animo d*él-rei a cobiça da grande fortuna do duque. I. 61 958 VIL VIL pobre duque, foi implorar em favor d'elle a clemência da rainha; mas ella, firme no seu propósito, respondeu:— «que a maior mercê que podia fazer -lhe pelo muito que o res- peitava, era guardar-lhe segredo de tal sup- plica.» 1 No dia 28 de agosto o marquez de Villa Real, o duque de Caminha, o conde d'Arma- mar e D. Agostinho Manoel foram muda- dos das suas prisões para umas casas do Rocio e postos em quartos separados, sem noticia uns dos outros. As longas horas d'a- gonia que mediaram até o romper da auro- ra empregaram-nas em colloquios e orações com os confessores e acabaram de lhes ex- haurir as forças. Durante a noute os operários ergueram um tablado, communicando por estreito pas- sadiço com uma das janellas da casa onde jaziam os presos. Viam-se n'elle quatro ca- deiras em cima de estrados, subindo a do duque tres degraus, a do marquez dois e a do conde d'Armamar um. A cadeira de D. Agostinho Manoel assen- tava no pavimento. Ao romper da manhã de 29 d'agosto rom- peu o tétrico espectáculo pela marcha d'um terço de infanteria, que veiu guarnecer a praça. A' uma da tarde appareceu o marquez de Villa Real no passadiço, acompanhado dos corregedores do crime e das justiças da cor- te, dos irmãos da misericórdia e d'alguns creados. Vestia capuz escuro, trazia as mãos juntas e os polegares atados com fitas pre- tas. Diante d'elle o porteiro lançava o pre- gão do crime. Pallido, mas não sossobrado, antes de chegar á cadeira ajoelhou por tres vezes ao crucifixo alçado nas mãos do capellão da misericórdia, escutando as exhortações de quatro religiosos que o rodeavam. A vista do algoz não o fez tremer e, en- carando o patíbulo sem desmaio, despediu- 1 D. Francisco Manoel de Mello, Tácito Portuguez, liv. V, pag. 74 e seguintes.— Conde da Ericeira, Portugal Restaurado, tom. i.', liv. V, pag. 317 e seguintes. se com serenidade da vida e dos qute o cerJ cavam. Depois de já ligado á cadeira, imandouj por humildade pedir perdão ao pres cul- pas, a sua presença commoveu profunda- mente a todos! Minutos depois veiu o conde de3 Arma- mar, resoluto, sem ostentação— e p»or ulti- mo D. Agostinho Manoel. O algoz que fez as execuções comservou sempre a cara coberta e nunca sse soube quem erat Quando levantou os painnos de' luto e mostrou os quatro cadáveres* ao pu-| blico, um clamor immenso reboou ma praça saudando D. João IV. O supplicio infamante e plebeu die Diogoj de Brito Nabo, de Manoel Valente, die Pedro Baeça e de Belchior Corrêa da Framça, en- cerrou a tragedia d'esle lúgubre díai. Assim acabou a casa de Villa Rteal, tão] gloriosa pela sua ascendência e notbres fei- tos e tão próxima, no sangue e na grande-' za, da própria familia real. O marquez contava cincoenta e cdois an4 nos, o duque vinte e sete e o conde dTArma-i mar vinte e quatro. Quando o algoz executou a senteança, D. João IV, vestido de luto, saiu da suza cama- rá e, fallando á nobreza reunida, justifficeu em sentidas palavras o terrível dever qme aca- bava de cumprir. Inclinaram-se todo)s, mes- mo os que suffocavam nos olhos e mo cora-1 ção as lagrimas da amisade e do parentesco.] Na realidade foi mais a rasão de estado, do que a vontade do soberano, quenn deter- minou o sacrifício. VIL VIL 959 Castigando assim os que ousavam levan- tar a mão contra a corôa recentemente cin- gida na sua fronte, o monarcha afíirmou a sua confiança na legitimidade e no futuro da causa que defendia; e com este repto atre- vido mostrou aos castelhanos que o encon- trariam a elle e a todos os seus súbditos no campo das armas. Diz-se que Filippe IV exclamou espanta- do do arrojo da execução: — «Agora sim; agora é que o duque de Bragança se fez rei!» A justiça correu prompta e para todos. Os condes da Castanheira e de Valle de Reis, e Gonçalo Pires de Carvalho foram soltos;— Antonio de Mendonça volveu, pas- sado tempo, ao exercício do seu cargo; — o inquisidor geral esteve na torre de Belém até 1643, sendo n'essadata solto; o bispo de Martyria, passados annos, expirou no con- vento de S. Vicente; — por ultimo o arcebis- po de Braga morreu na torre de S. Julião, arrepeDdido e humilhado, mandando que o enterrassem em uma campa rasa no adro de qualquer egreja, para que não ficasse me- moria do que fora. A Hespanha perdeu mais na tentativa do marquez de Villa Real, do que se désse uma batalha e saisse derrotada. Avisados do perigo, os portuguezes rodea- ram o throno e mais se empenharam na de- fesa nacional. Por seu turno el-rei ganhava o applauso de naturaes e estrangeiros, pro- vando que sabia e queria reinar. Desde então a obediência foi completa. Concluiremos este tópico dizendo que D. Maria de Noronha, viuva do infeliz duque de Caminha, passou a seguudas núpcias era Hespanha com D. Rodrigo Porto-Carrero, conde de Medelim, cujos descendentes se in- titularam e intitulam aiada hoje marquezes de Villa Real. Não se confundam os Mene • zes, condes, marquezes e du- ques de Villa Real extinctos, com os acluaes condes de Vil- la Real, donos do celebre palá- cio de Matheus, distante d'esta villa cerca de tres kilometros para leste, hoje representados pelo sr. conde D. José de Sou- sa Botelho Mourão e Vaseon- cellos, casado e com succes- são. V. Matheus n'este dicciona- rio e no supplemento. A villa nova Pelos motivos expostos supra, a villa ve- lha ha muito que é uma simples recordação histórica. Apesar dos grandes privilégios que aos habitantes intra muros concedeu D. Fernando 1 e que D. Pedro II confirmou, já em 1720 contava apenas vinte e tantos fogos, e hoje não conta mais talvez. Villa Real è ha muito a villa nova ou a grande população que se desenvolveu a N. — N. E.— e N. O.— da villa velha sobre a im- portante estrada-rua que a corta e lhe serve de eixo, recebendo a leste as estradas de Chaves e de Bragança, servidas por diligen- cias, e a de Freixo de Espada á Cinta por Foz Tua, S. Mamede, Alijó, Favaios, Villar de Maçada e Sabrosa, construída a maeadam ainda apenas até Villar de Maçada;— e a oeste a importantíssima estrada da Beira e de Lamego pelo Douro e pela Regoa,— bem como a do Porto e Minho por Amarante e Campeã, ou pela Regoa também. Como o terreno era amplo, alegre e sau- dável,—quazi plano na linha de leste a oeste, —abundante d'agua potável e fértil,— aos la- dos d'aquella estrada-rua se fizeram outras ruas, largos, campos, praças, passeios, um jardim publico, tres conventos e um recolhi- mento, casa de roda para os engeitados, uma albergaria, um lyceu, casa de misericórdia com esplendido hospital, muitas capellas, e varias egrejas, um azylo de infância des- valida, paços do concelho, tribunal e bons edifícios particulares, sendo mais de vinte brasonados I . . . Logo daremos mais algum desenvolvimen- to a este tópico. Egreja e freguezia de S. Pedro Augmentando a população da villa, já no século xv foi mister ampliar a egreja de S. 960 VIL Diniz, como dissemos supra, e em 1528 se tomou necessário crear extra-mnros outra parochia alem da de S. Diniz, que até áquella data comprehendia a villa toda. A primeira matriz da nova erecta foi, se- gundo dizem os meus apontamentos, uma pequena capella de S. Nicolau, até que em 1528 se fez a matriz actual, ou a egreja de S. Pedro, que tomou esta invocação por ser principiada e em grande pane feita á custa do benemérito protonotario apostólico e ab- bade da freguezia de Mouçós, D. Pedro de Castro, cujo nome havemos de repetir mui- tas vezes, porque esta villa a ninguém deve tantos benefícios e tanta gratidão como ao benemérito protonotario. Tem a dieta egreja oito altares, sendo um d'elles o de S. Miguel o Anjo, fundado pelo padre Pantaleão Correia Botelho, fallecido no Perú, o qual deixou ainda a esta egreja quatro contos de réis, com a obrigação de certas missas. Pelos annos de 1711 o licenciado José Moutinho de Aguiar, sendo juiz d'esta egreja, a mandou restaurar com esmolas que pediu e com dinheiro seu. Não só a aecrescenlou, mas fez o elegante frontispício e as duas torres que hoje tem. Quando se desmembrou esta parochia da de S. Diniz, se estipulou o seguinte : 1. °— Que no dia da festa de S. Diniz, dia sanctificado ainda hoje n'esta villa, todos os chefes de família da nova erecta fossem as- sistir á missa conventual na egreja mãe e levassem ao parocho um alqueire de trigo ou vinte réis ; 2. °— Que a irmandade do Santíssimo, es- tabelecida em S. Pedro, fosse considerada filial da de S. Diniz e não podesse gastar di- nheiro nem fazer eleições sem approvação da irmandade mãe ; 3. ° — Que os parochos de S. Diniz teriam o direito de prezidir em todos os actos do culto que se celebrassem na egreja de S. Pedro. Nada porem d'isto se cumpriu, salvo o pa- gamento dos vinte réis, pelo que houve gran- des questões entre os dois parochos e ainda em 1805 o de S. Diniz deu um libello de força contra o de S. Pedro. VIL I A irmandade do Santíssimo d'estaa egreja] é tão antiga como o próprio templo, i Haven-i do desapparecido os seus primeiros estatu- tos, fizeram outros que foram apprrovados pelo arcebispo de Braga D. Rodrigo dde Mou- ra Telles, em 12 de janeiro de 17135. Tem bulia de jubileu perpetuo para os i irmãos, concedida pelo papa Clemente XI, enm 28 de novembro de 1714. Era de sessenta o numero dos irnmãos, e haviam de ser todos mechanicos, exceeptuan- 1 do o mordomo, que devia ser pessoaa nobre j Sendo esta irmandade, como dissenmos, fi- j liai da de S. Diniz, já em 1765tentouueman- cipar-se, mas houve de submelter-se) e assi- gnar termo de sujeição em 4 de nowembro d'aquelle mesmo anno, por sentença , do ou- vidor do infantado João Libório de ] Figuei- redo; mais tarde porem vingou o pleeito e se tornou independente. Em 1810 foram os seus estatutos i confir- mados por D. João VI, como prinecipe re- gente e donatário d'esta villa. Houve também e não sabemos se hna ainda' n'esta freguezia de S. Pedro uma irmaanclade do Santíssimo Nome de Jesus, ereecta era 1604 por alguns devotos com o fim í de ga- nharem as muitas indulgências conocedidas pelo santo arcebispo D. Fr. Bartholonmeu dos Martyres, fundador das irmandades i do No- me de Jesus. Foi confraria até 1618, transformaando-se então em irmandade com estatutos prropriosJ que posteriormente foram reformaddos, ele-| vando-se o numero dos irmãos a 2500. Em 4 de janeiro de 1718 foram esstes es 4 tatutos confirmados pelo arcebispo JD. Ro-1 drigo de Moura Telles. Houve também, e não sabemos se 1 ha hoje ainda n'esta egreja, uma irmandade ôdas Al-\ mas. Foi erecta por bulia de Innoeencio 2 X, comi data de 23 d'abril de 1652, e os seus pprimei-l ros estatutos foram approvados peloo arce-l bispo bracarense em 1654. Tinha muitas graças e indulgências s e che-J gou a contar1 300 irmãos. Na capella mór d'esta egreja está a a sepul- VIL VJL tara de Domingos Botelho da Fonseca, F. C. R. e cavalleiro professo da ordem de Chris- |o. Falleeeu em 1697. Também na mesma capelia mór, do lado da epistola, tiveram sepultura privativa os descendentes de Martinho Alves Rebello, fi- dalgo da antiga nobreza de Villa Real, que n'esta egreja fundou uma capelia demissas, vinculando- lhe certos bens. Outros muitos vínculos semelhantes se instituíram também n'esta egreja, segundo se lê nas Antiguidades de Villa Real. Para não fatigar os leitores, apenas men- cionarei mais um, instituído em 23 de março de 1569 por D. Brites de Mesquita, casada com Manuel de Bessa e já viuva de Gaspar Cardoso de Mello. Nomeou primeiro administrador do dicto vinculo Gonçalo Pinto de Mesquita, casado com D. Paula da Fonseca, os quaes em 1 d'agosto de 1618 uniram os seus terços a este vinculo. Como fosse de livre nomeação e elles ti- vessem tres filhos, todos tres valentes caval- leiros, André Corrêa de Mesquita, Gonçalo de Mesquita Pinto e Antonio de Mesquita Pin- to, para não haver queixas entre os irmãos, resolveu que cada um d'elles atirasse duas lanças de sortilha e que seria eleito o que melhor as atirasse. Concordaram elles; aprasou-se dia parajo torneio com grandes formalidades e, por voto dos juizes, fieou vencedor e morgado o filho segundo, Gonçalo de Mesquita Pin- to!... Era este o vinculo de Abbaças que o di- cto Gonçalo de Mesquita e seus successores augmentaram consideravelmente, unindo-lhe com auctorisações regias outros muitos bens- Sendo em certa época successora e senhora' d'elle D. Anna Maria de Mesquita, casou esta com Martim Teixeira Coelho de Azevedo, se- nhor da Teixeira e morgado de S. Braz, de Cergude e de SanfAnna, avô de Gonçalo Chrystovam, o martyr das prisões da Jun- queira, e assim passou a nobre casa dos Mesquitas, morgados d'Abbaças, para a de Gonçalo Chrystovam, ou dos Teixeiras Coe- lhos, de Villa Real, morgados do Bomjardim no Porto, etc.,--casa que foi um colosso e que infelizmente hoje se acha muito compro- mettida\.. . Concluiremos este tópico dizendo que no supedaneo do altar do Senhor Jesus d'esta egreja de S. Pedro jaz em sepultura própria 0 seu benemérito fundador e protonotario apostólico, D. Pedro de Castro. Contava esta freguezia 643 fogos em 1720, comprehendendo a parte maior e mais rica d'esta villa. Quando se fundou esta freguezia o paro- cho ficou sendo apresentado pelo da de S. Diniz; — depois passou a apresentação do parocho. bem como o padroado d'ella e da de S. Diniz, para os frades bentos de Pom- beiro e por ultimo para os Jeronymos de Belém. A capella-mór foi mandada azulejar em 1692 pelo mordomo Domingos Botelho da Fonseca, F. C. R. e cavalleiro professo da ordem de Christo, da primeira nobreza d'es- ta villa e que jaz na capella-mór em sepul- tura privativa, do lado do evangelho. Tem esta egreja um bonito adro com am- plas vistas para lesie e sul. Foi feito com grande dispêndio antes de 1720, apeando-se uma grande barreira do lado superior e con9truindo-se um alto muro de supporte do lado inferior, guarnecido com grades de ferro. D'elle se sobe por ampla es- cadaria para o monte do Calvário. Esta egreja é um templo elegante e rico . O tecto é de madeira pintada com ornamen- tação dourada, — e o da capella-mór todo de boa talha dourada. Tem esta as paredes for- radas d'azulejo e no mesmo avulta um gran- de quadro com um brasão d'armas e a ins- cripção seguinte : Mandou fazer a obra d'azu lejo na capella maior d'esta igreja o Dr. Domingos Botelho da Fonseca Machado, Cavallei ro da Ordem de Christo, sendo Mordomo do S.m0 Sacramento POR SUA DEVOÇÃO, NO ANNO DE 1692. 1 As decorações do retábulo do altar-mór e 96â VIL VIL de um dos lateraes são de talha moderna; as dos outros altares são de talha antiga, toda dourada. Egreja de S. Paulo ou de S. Pedro Novo Demora este lindo templo na convergên- cia das ruas de S. Paulo e Direita, ou dos Mercadores, e olha para a rua Larga, antiga rua do Poço. Está no centro ou coração da villa e pela sua riqueza e magnificência, pelas suas nu- merosas e valiosas alfaias e pelo extraordi- nário numero de missas, festas e officios que n'ella se celebravam, foi esta egreja deno- minada Sé de Villa Real e monte d'ouro t Vários sacerdotes seculares d'esta villa e suas visinhanças instituíram na egreja da Misericórdia uma irmandade do apostolo S" Pedro, com estatutos próprios, que foram con- firmados por bulia de Paulo IV em 21 de novembro de 1638, concedendo ao mesmo tempo muitas graças e indulgências a todos os irmãos vivos e defuntos.^1 Funccionou a dieta irmandade alguns an- nos na Misericórdia; mas, prosperando e augmentando rapidamente, tractou de fazer uma egreja sua, para o que obteve com gran- de dispêndio differentes prédios que esta- vam no local que hoje oceupa. Deram-lhe o titulo de S. Paulo e em 22 de fevereiro de 1639, no dia em que a egreja romana cele- bra a Cathedra de S. Pedro, se lançou com grande pompa a pedra fundamental, sendo conduzida em procissão solemne atravez da 1 Assim se lê nas minhas Antiguidades de Villa Real; mas outros apontamentos dizem que foi fundada em 1638 na egreja de S. Pedro, d'onde, por desiotelligencias com o parodio, passou em 1644 para a egreja da Misericórdia, na qual esteve até á conclusão da egreja de S. Paulo. Também as minhas Antiguidades e os taes apontamentos claudicam na data de 1638, ou no nome do pontífice. Se os estatutos foram confirmados por Paulo IV, a data deve ser 1558, pois este pontífice governou desde 1555 até 1559; mas se a data é verdadeira, o papa deve ser Ur- bano VIII, que governou desde 1623 até í 1644. I Dicant paduani. villa em um andor, por quatro sacerdotes dos mais qualificados. Os principaes fundadores d'este maiges.oso templo foram o baiio de Lessa, Fr. Luiz Al- vares de Távora 1,— o rev. João Co>rré£. de Mendonça, protonotario apostólico, parecho da egreja de S. Diniz, commissario do san- to officio e da bulia da crusada, — seia primo, o rev. Antonio A. de Menconça, aimbos da primeira nobreza d'esta villa,— e o rev. li- cenciado Manuel Pinto Ribeiro, parocho de Mouçós. O templo não é muito espaçoso, mas em compensação é muito bem acabado. Tem uma bella fronteria, encimada por oma es- tatua de granito representando S. Paulo, e nos topos 2 anjos, — um com as chaves, ou- tro com um báculo;— tecto de abobada de tijolo com aduelas de granito, formando qua- drados;— paredes forradas de azulejo» estam- pado com paisagens e figuras;— capella-mór em forma de meia laranja;— 5 altares com boas decorações de talha dourada;— bella sa- cristia e superiormente a casa do despacho com portas rasgadas sobre a Rua Direita, ou dos Mercadores, e amplas vistas sobre a villa e seus arrabaldes. Também tem um órgão e na torre um si- no com o antigo relógio da camará, ou de correr, que esteve em uma das torres da villa velha e que para aqui foi transferido em 1709. Já em 1720, segundo se lé nas Antiguida- des de Villa Real, que temos presentes, pos- suía esta egreja soberbas alfaias. Menciona- remos apenas as seguintes : Dois grandes lampadários de prata junto do altar do Santíssimo;— uma grande cruz ppntificia com a theara e as chaves e vara> tudo de prata; — cinco paramentos riquíssi- mos completos:— um vermelho, de tela de ouro; outro branco, de tela de prata com 1 Este piedoso balio fundou também no Porto á sua custa exclusivamente a mages- tosa egreja dos jesuítas, que depois passou í para os frades grillos (agostinhos descalços) I e hoje pertence ao seminário episcopal, como I dissemos nos artigos Porto e Victoria. VIL VIL 963 sebastos; — outro de veludo preto, ricamente agaloado d'ouro;— outro branco, da tela de maior preço que se encontrou em Lisboa, onde foi comprado e feito em 1718,— e fi- nalmente outro de papagaios de cores com fundo de prata e flores d'ouro e prata;— frontaes de tissu de prata para todos os al- tares;— riquissimas cobertas de tela de prata; —bacia, gomil e salva de prata com as ar- mas de S. Pedro— e outros muitos paramen- tos e alfaias de tanto valor que, visitando esta egreja o arcebispo D. Rodrigo de Moura Telles, a denominou montanha d'ouro e, tanto este como os outros arcebispos que re- petiram a visita, diziam que não a iam vi- zitar, mas louvar. Não sabemos o que hoje resta de tantas preciosidades, mas suppomos que as hordas de Napoleão roubariam a maior parte nos princípios d'este século. Também pelos annos de 1720 era appara- toso e de grande movimento o culto n'esta egreja. Welle se celebravam annualmente milha- res de missas, umas por devoção, por ser a egreja muito central, outras por obrigação em cumprimento dos estatutos da irmandade e de muitas disposições testamentárias. En- tre ellas annualmente se celebravam 33 can- tadas em memoria dos 33 dias que o Redem- ptor passou n'este mundo, offerecidas pelos irmãos vivos e defuntos. Todos os irmãos tinham muitos suffragios e, sendo sacerdotes cahidos em pobresa, a irmandade lhes fornecia vestidos, alimentos, remédios, enfermeiro- nas doenças, etc. Em 1720 contava esta irmandade 200 ir- mãos sacerdotes e 15 leigos ; era isenta da jurisdicção parochial e obedecia somente ao seu juiz ou presidente. Um dos grandes bemfeitores d'esta egreja foi o licenciado Manuel da Silva, fidalgo da principal nobreza d'esta villa, casado com Leonor Botelho de Mesquita, ramo da famí- lia dos antigos alcaides mores. Não só deu duas casas para no chão del- ias se fazer esta egreja, mas depois n'ella instituiu um vinculo de morgado no altar de Nossa Senhora da Piedade, que para si re- servou, por escripturas de 16 de setembro e 20 de dezembro de 1644. Outro bemfeitor, ainda mais insigne, foi o balio de Lessa, Luiz Alvares de Távora, prin- cipal fundador d'ella, pelo que a irmandade, em sigoal de gratidão, apenas elle falleceu, além dos suffragios que lhe competiam como irmão, resolveu que por alma d' elle se cele- brassem todos os annos 100 missas, que lo- go foram lançadas na taboa, do que se la- vrou um termo em 14 d'outubro de 1645, anno em qne o piedoso balio falleceu, e que era o 6.° a contar do anno em que se lan- çou a l.4 pedra d'esta egreja. Outro insigne bemfeitor foi o rev. Anto- nio Soares de Mendonça que, além de con- tribuir para a fundação d'ella, como já dis- semos, a contemplou no seu testamento, com data de 1 de novembro de 1656, e n'ella in- stituiu um morgado com bens que tinha em Celeiros, nomeando primeira administradora sua irmã D. Helena de Mendonça, casada com Antonio d'Abreu. Em 1720 era administrador do dicto vin- culo João da Veiga Cabral, F. C. R. como herdeiro de sua sogra D. Joanna Soares. Outro insigne bemfeitor foi o protonatario, co-fundador e parocho de S. Diniz, rev. João Corrêa de Mendonça, que reservou para si, com sepultura privativa no supedaneo, o al- tar de Santa Liberata e Santa Eugenia, por contracto que fez com a irmandade, e lhe doou certa esmola para que por sua alma perpetuamente mandasse dizer uma missa cada mez, das quaes duas seriam cantadas, — uma na sua capella, no dia dos oragos, — e outra no altar-mór a 22 de fevereiro, dia em que elle instituidor assentou a pri- meira pedra no alicerce d'esta egreja. Também na mesma capella instituiu um morgado, a que vinculou todos os seus bens e do qual era administrador em 1720 Af- fonso Botelho de Sousa Pinto, de Villarinho de S. Romão. N'esta mesma egreja o rev. José da Nó- brega Cão, natural d' esta villa e reitor de S. Thiago de Andrães, instituiu em 1678 ou- tro morgado, deixando por cabeça d'elle um 964 VIL VIL rubi da grandesa d'uma avelã, engastado em um annel d'ouro, e vinculando ao mesmo morgado todos os seus bens, com a obriga- ção de certas missas resadas n'esta egreja, em que foi sepultado. Concluiremos este tópico dizendo que a fronteria actual d'esta egreja de S. Paulo foi feita em 1760. Egreja e Irmandade da Misericórdia Não sabemos quando nem por quem foi fundada a Misericórdia d'esta villa; sabemos porem que funccionou em uma simples Ca- pella da freguezia de S. Diniz até o anno de 1528, data em que o benemérito protonota- rio apostólico D. Pedro de Castro reedificou e ampliou a dieta capella, transformando -a em um bello templo, todo de granito bem lavrado, com boas decorações, casa de des- pacho e mais offleinas,— tudo á sua custa l Além de fazer a egreja, o mesmo bene- mérito protonotario n'ella instituiu uma missa quotidiana pela sua alma e pela do marquez de Villa Real, D. Fernando, seu in* timo amigo; e para satisfação d'este encargo doou á santa casa rendas sufficientes, por escriptura de 23 d'abril de 1538. N'esta mesma egreja se instituíram ou- tras muitas capellas de missas, vínculos e morgados. Mencionaremos apenas os se- guintes : O dr. Antonio de Hervedosa, sendo ouvi- dor em Valença, e sua mulher Jeronyma Fernandes, naturaes d'esta villa, instituíram um vinculo com a obrigação de certas mis- sas e um anniversario, por escriptura de 10 de agosto de 1558, feita em Valença do Mi- nho. D. Isabel de Menezes, viuva de Paulo An- tonio Tello de Menezes, deixou por herdeiro seu primo Automo de Magalhães, com a obrigação de mandar dizer pela alma d'ella oito missas todos os annos n'esta egreja, a cuja obrigação vinculou a sua quinta de Na- valhos, sita na freguezia de S. Matheus. De- pois o herdeiro Antonio de Magalhães insti- tuiu o morgado e capella de S. Thiago d'esta villa, com todos os seus bens, por escriptura de 29 de janeiro de 1589,— e um dos seus descendentes vendeu a dieta quinta ao mor- 1 j gado de Matheus com a obrigação das oito I missas. Morgado da Ribeira de Sabrosa Na mesma egreja da santa casa, na ca- pella de Nossa Senhora da Coroa, junto do altar-mór, do lado do evangelho, instituíram em 1598 um morgado, a que vincularam to- dos os seus bens, Fernão Pinto Pimentel, armado cavalleiro em Ceuta, procurador ás côrtes d' Almeirim, etc, e sua mulher Maria Corrêa, ambos da primeira nobresa d'esta villa, com «obrigação de certas missas, ves- tuário a pobres e outros encargos». Nomearam primeiro administrador do di- cto morgado seu sobrinho Antonio Pinto Pi- mentel, com muitas condições, algumas cu- riosas, v. g. — que o administrador d'este morgado usaria os appellidos Pinto Pimentel, sendo varão, e Corrêa Pimentel, sendo fê- mea;—que, se o diclo Antonio Pinto Pimen- tel e sua mulher Anna Corrêa não deixas- sem successão, passaria este morgado com todos os seus bens para um criado qualquer do ultimo administrador, porque não que- riam os instituidores que n'elle succedesse jámais Antonio Corrêa, genro de Paio Ro- drigues, de Favaios, nem Anna Pimentel, nem os filhos ou descendentes d'estes, pelas grandes desobediências e cruéis ingratidões que d'elles haviam recebido; — que os admi- nistradores d'este vinculo nos dois primei- ros annos da sua administração lhe uniriam quarenta mil réis em dinheiro ou em fa- zendas,— comtanto que não fossem vinhas (?!. . .), — e que, sob pena de perderem este morgado e passar a outro administrador, ca- sariam somente com pessoa nobre, de paes e avós e de sangue limpo l. . . Tomou este vinculo o nome de vinculo ou morgado da Ribeira de Sabrosa, porque na ribeira da freguezia de Sabrosa, margem di- reita do Pinhão, tinha uma das melhores propriedades que o constituíam, a qual es- colheu para seu titulo o barão da Ribeira de Sabrosa, ultimo ou penúltimo administrador d'este morgado, — Rodrigo Pinto Pisarro Pi- mentel d' Almeida Carvalhaes, ministro de D. Maria II,— um dos homens mais illustra- VIL VIL 965 dos e mais honrados que teve Portugal n'este século. Falleeeu em 1841, sem succes9ão. V. Ribeira de Sabrosa, Sabrosa e Villar de Maçada. São hoje herdeiros e representantes da casa do fallecido barão os Nobregas Pintos Pisarros, de Villa Real; mas a grande quinta da Ribeira de Sabrosa foi, ha pouco, vendi- da e os restantes bens divididos em virtude da lei que aboliu os vínculos. Dos instituidores Fernão Pinto Pimentel e Maria Corrêa, sua esposa, descendem i os Teixeiras Lobos da Casa da Capella, em Sa- brosa, os Pisarros da Casa das Sereias ou Palacio da Bandeirinha, no Porto, os Pintos Pimenteis de Villar de Maçada e de Gouvi- ahas, os Pintos da Cunha Saavedras, de Pro- vezende % e os barões de Saavedra, de Lis- boa. Na mesma capella-môr da egreja da Mi- sericórdia, do lado da epistola, está a capella do Ecce Homo, que a santa casa cedeu em 1599 a Gonçalo Lobo Tavares, alcaide-mór de Lamas d'Orelhão, contador das rendas do marquez de Villa Real, etc, para elle, seus herdeiros e descendentes, terem n'ella se- pultura privativa e n'ella poderem collocar, como collocaram, o seu brasão d'armas, — dois lobos. O dicto alcaide-mór falleeeu em 28 de se- tembro de 1631 e no seu testamento insti- tuiu na mencionada capella um vinculo de morgado, cujo primeiro administrador foi seu filho Paulo Tovar Lobo. Em 1720 D. Emmerenciana Pinto Lobo de S. Paio, casada com Jacintho de Mesquita Botelho, era administradora d'este vinculo, por doação de Clara Lobo de Lacerda, neta do instituidor. Hospital da Misericórdia ou da Divina Providencia Durante muito tempo, alguns séculos, o único hospital d'esta villa foi o do Espirito 1 D'esta nobilíssima e virtuosa família fal- leeeu em 26 de abril do corrente anno de 1885, o ultimo representante e meu bom amigo e Cyreneu, José Augusto Pinto da Cunha Saavedra, deixando viuva e filhos. Santo, ou da albergaria de que já fizemos menção. Ali se recolhiam os doentes em pe- queno numero e por pouco tempo, por ser a casa pequena e pobre, tanto que dormiam em uma tarimba;— outros se reeolhiam de- baixo dos arcos do campo do Tabolado, fi- cando expostos ao frio e a morrerem ao abandono. A irmandade da Misericórdia não tinha meios para lhes valer, mas, condoída d'elles, em 13 de março de 1796 alugou na rua de Traz da Misericórdia a casa de João Gue- des, serralheiro, e ah recolheu sete infelizes que estavam enfermos nos areos do Tabo- lado, deitando-os em camas limpas e soccor- rendo-os com todo o necessário. A estes pobrezinhos aceresceram outros; as despesas com o tratamento d'elles aug- mentavam e, como a santa casa não tivesse rendas próprias, os beneméritos mesarios, cujos nomes infelizmente ignoramos, i avo- caram a divina providencia e ella os ouviu e attendeu. Todos os domingos iam dois irmãos de porta em porta, pela villa e pelas aldeias do termo, pedir esmola para o improvisado hos- pital; — no primeiro dia do anno e no de Reis vários irmãos e devotos iam com mu- sica e grande acompanhamento percorrer a villa, cantando e pedindo esmola para o mes- mo fim, e vários ecclesiasticos e cavalheiros da primeira nobreza da villa, levados pela caridade e por tão santo enthu9Íasmo, fize- ram também representações dramáticas em pró da nascente instituição. Tal foi o zelo dos iniciadores que os re- cursos e a protecção do publico augmenta- ram na proporção dos encargos e poderam comprar uma casa para hospital no mesmo sitio onde hoje se vê o magestoso Hospital da Divina Providencia, levantado e dotado pela caridade dos bons villarealenses. Entre os devotos mais beneméritos são di- gnos de especial menção os seguintes : —Anna Eufrásia da Rocha e sua irmã, Maria Magdalena, que deram vinte contos de réis de esmola, com a condição de serem recebidos e tractados no hospital da Miseri- córdia os irmãos terceiros de S. Francisco. 966 VIL VIL —O general Silveira, conde d'Amarante, governador das armas n'esta província, e o dr. Francisco Ignacio Pereira Rubião, dos quaes adiante fallaremos, promoveram em 1817 uma subscripção que attingiu a cifra de 4:800#000 réis. —José Rodrigues de Freitas e Francisco Rodrigues de Freitas, levados pela sua pie- dade e pelas instancias do mencionado con- de de Amarante, cederam ainda em vida d'elles todas as suas dividas activas em fa- vor do hospital— e por sua morte deixaram vinte contos de réis para as obras do novo edifício — e os juros de onze contos para a sustentação da capella e culto do mesmo hospital. Na dieta capella jazem os dois beneméri- tos irmãos Freitas, tendo fallecido o José em 1820, e o Francisco em 1826. A estes bemfeitores se seguiram outros com legados e esmolas de um e dois contos de réis. —O arcebispo D. Fr. Miguel da Madre de Deus cedeu em favor da mesma instituição os dizimos das Santas Engracias, em Ca- nellas, freguezia de S. Miguel de Poyares, hoje concelho da Regoa, os quaes orçavam por 300 a 400 mil réis annuaes. —Finalmente D. Maria Emilia Teixeira de Moura quiz ser a primeira bemfeitora d'este hospital, pois lhe deixou cincoenta contos de réis ! . . . E um dos melhores hospitaes da provín- cia, montado em um amplo, elegante e so- lido edifício, com entrada exterior por uma vistosa e dispendiosa escadaria, sendo unica- mente para lamentar que esteja em sitio re- lativamente baixo e abafado, entre a villa nova e a villa velha. Os beneméritos fundadores foram pouco felizes na escolha do local, mas este vae me- lhorando com as muitas expropriações já feitas em volta d'elle,— e mais se projectam ainda. Capellas 1. a— S. Braz, na villa velha e já descripta. Particular. 2. a— S. Roque, também na villa velha e já mencionada. Extincta e publica. 3. *— Espirito Santo, ou do Rom Jesus do Hospital. Removida para o campo do Pioledo e também já descripta. J Particular e hoje profanada. 4. »— Senhora da Conceição e outras, cujos titulos ignoramos. Estavam na cerca do extincto convento de S. Francisco, hoje quartel militar, de que adiante fallaremos. Foram feitas em 1748 pelo abbade da Cumieira, Manuel de S. José Justiniano, e não sabemos o que hoje restará d'ellas. 5. *— S. Sebastião. Esteve no Campo do Tabolado, no chão onde se fundou o convento de S. Domingos, a cujos frades foi doada com outros chãos contíguos para fazerem o convento. Era da camará e uma das mais antigas d'esta villa, pois n'ella se benzeu a pedra fundamental do dieto convento, em 7 de março de 1424, celebrando missa solemne (talvez a ultima que n'ella se celebrou) o padre Fr. Vasco de Guimarães, religioso do- roinico. 6. » — S. Sebastião, outra. A primeira capella d'esta invocação foi dada aos frades de S. Domingos em 1545 e n'esse mesmo anno demolida, mas já em 1528 o benemérito protonotario D. Pedro de Castro, abbade de Mouçós, vendo que era pequena e se achava em ruínas, havia man- dado á sua custa fazer outra com a mesma invocação no monte do Calvário, que por isso se denominou monte de S. Sebastião, e n'ella instituiu uma missa semanal. Na dieta capella se fundou depois uma irmandade, cujos estatutos foram approvados em 22 de janeiro de 1662 pelo arcebispo de Braga, D. Veríssimo de Alencastre. Augmentando a devoção dos fieis e os fun- dos da irmandade, mandou esta fazer obras importantes na capellinha do maVtyr, entre ellas um bom retábulo de talha dourada, te- cto apainelado e bem pintado, galilé junto da porta de entrada, sacristia, adro com assen- tos de pedra e vistas esplendidas, servindo- Ihe de supporte um alto e valente muro, etc. ! Com o decorrer do tempo e com a falta VIL de zelo das administrações, extinguiu-se a irmandade —a capella ficou ao abandono— e de uma e outra foi coveiro o presidente da camará dr. Charrua, 1 pois para desaffrontar aquelle chão, demoliu a pobre capella na noite de 3 para 4 de fevereiro de 1867, com um grande bando de trabalhadores da sua confiança, não se atrevendo a realisar tão alto facto de dia, com medo de que o povo se amotinasse. Provou o dr. Charrua que é mais fácil demolir do que construir. Assim terminou a pobre capella, que já contava 339 annos de existência ! . . . 7.»— Santo Antonio, também no monte do Calvário. Tem capella-mór e n'ella o altar do tau maturgo, seu padroeiro,— Saltares lateraes* um de Nossa Senhora do Pilar, outro de S. Vicente Ferrer,— côro, púlpito e órgão, pa- redes interiormente forradas de azulejo,— tecto apainelado com pinturas de muito me- recimento, mandadas fazer expressamente em Roma pelo benemérito morgado de Ma- theus, D. Luiz Antonio de Sousa Botelho, em 1791, sendo juiz da irmandade administra- dora d'esta capella. Representam as dietas pinturas a vida e os milagres de Santo Antonio. Tem um pequeno átrio fechado por gra- daria de ferro e um alpendre ou galilé sobre oito columnas de granito. Conta hoje esta capella 350 annos, pois foi feita em 1535 pelos devotos de Santo An- tonio, freguezes da parochia de S. Pedro, em cuja circumscripção se acha, mas pos- teriormente recebeu algumas modificações. Na frente se vê a data 1593. Tem confraria ou irmandade própria, cu- jos estatutos foram approvados em 31 de agosto de 1748 pelo arcebispo D. José de Bragança, por se haverem extraviado os pri- meiros. Por occasião da festividade do padroeiro d'esta capella se faz n'esta villa, no dia 13 de junho e nos seguintes, desde tempos re- 1 Antonio Correia d' Almeida Lucena, ba- charel formado em direito pela Universida- de de Coimbra em 1859. VIL 967 motos, a grande feira de Santo Antonio, da qual adiante faltaremos em tópico especial, —feira que em 1748, por alvará d'el-rei D. João V, foi de novo transferida para junto da dieta capella, ou para o monte do Calvário, a pedido da irmandade de Santo Antonio, da qual era ao tempo juiz ou mordomo José Pinto da Cunha Pimentel, da primeira no- bresa de Villa Real, bisavô do meu bom ami- go e cyreneu José Augusto Pinto da Cunha Saavedra, de Provezende, falleeidoem 26 de abril do corrente anno de 1885. S.»— Senhor do Calvário. A poucos metros de distancia da mencio- nada capella de Santo Antonio se ergue, em um amplo e vistoso largo, a espaçosa capella do Senhor do Calvário, pertencente á ordem 3.a de S. Francisco. Foi feita pela dieta ordem no anno de | 1680, com diminutas proporções e um só al- tar, mas em 1694 a mesma ordem a melho- rou consideravelmente com uma importante esmola de Margarida Rebello, que n'ella jaz em sepultura própria. No seu único altar primitivo estava uma linda imagem do redemptor, em tamanho natural, feita por Francisco Pereira Pinto d'esta villa, pessoa de rara habilidade. Assim se conservou a pobre capella até 1803, data em que foi restaurada e amplia- da, transformando -se em um dos melhores e mais espaçosos templos da villa. O corpo da capella foi feito pelo mestre pedreiro Agostinho Adão, por 1:200#000 réis, e em 1805, terminadas as obras de pedra e carpinteria, a ordem mandou fazer, além do altar-mòr primitivo, mais 2 altares lateraes, um de Nossa Senhora do Carmo, outro de S. Manuel, martyr, um nicho para o Senhor dos Passos,— a sacristia, a sala do capitulo e a torre, para a qual mudou em 1844 o relógio que foi do extincto convento franciscano. Tem missa nos domingos e dias santos, instituída por um legado de 2:000#000 réis, que deixaram as irmãs Rochas, e n'este mesmo templo se celebram as missas e offi- cios a que é obrigada a ordem 3.» de S. Fran- cisco, da qual adiante fallaremos. O adro é espaçoso e offerece um panora- 968 VIL VIL ma esplendido; mas, como o ebão era um monte escarpado e muito íngreme, para o ni- velarem foi mister construir muros de sup- porte altíssimos e caríssimos. Serve de corôa ao monte do Calvário;— em um plano ou grande socalco immediata- mente inferior, lado E., está o jardim publico — e no plano immediatamente inferior ao jardim está a Carreira, passeio publico lam- bem, formosa avenida, por onde passa a es- trada que mais adiante se divide em 3,— uma que segue para Chaves, outra para Murça e Bragança, e outra para Sabrosa, Favaios, etc. 9. a — Senhora do Carmo. Adiante fallaremos d'esta capella, quando tratarmos das ordens terceiras. 10. a— S. João Baptista, no claustro de S. Domingos. D'ella fallaremos, quando tratarmos d'este convento. Extincta. 11. "— S. João Baptista ou S. João de Je- rusalém, outra, na rua da Fonte Nova. Foi fundada por Heitor Botelho em 1667, que vinculou á dieta capella as suas casas, bem como o quintal das mesmas e um cam- po e olival que se seguiam para oeste, com a obrigação de 4 missas por mer. Em 1720 era administrador d'este vinculo Santos Pereira de S. Paio, do concelho d' An- ciães, ao tempo morador na sua quinta do Mondego, termo de Villa Real,— pessoa no- bilíssima, descendente dos S. Paios, senhores de Villa Flor, depois condes de S. Paio. Era particular; foi profanada— e ha muito que serve de casa de habitação. 12. a— Senhora da Piedade,— depois Senho- ra do Desterro— e por ultimo capella do Es- pirito Santo. Já a descrevemos no tópico relativo á villa velha. 13. "— S. Francisco, no convento dos fra- des franciscanos. Adiante fallaremos d'esta capella, quando tratarmos d'aquelle convento. 14. *— Santa Margarida, junto da ponte d'este nome, na margem direita do Corgo. Foi fundada em 1520 pelo benemérito pro- tonotario apostólico D. Pedro de Castro, que também deu em 1490 para a eonstrucção da dieta ponte 400iflOOO réis,— somma impor- tantíssima n'aquelle tempo. 15. °— S. Lazaro. Como na capella de Santa Margarida hou- vesse uma imagem de S. Lazaro, muitos de- votos d'este santo, principalmente os da rua dos Ferreiros, contigua, povoada qua9i ex- clusivamente de ferreiros, chapelleiros e ou- tros artistas, tractaram de festejar S. Laza- ro. Augmentando a devoção para com este santo, fizeram irmandade própria, cujos es- tatutos foram approvados pelo arcebispo D. Rodrigo de Moura Telles, em 1714. Depois restauraram a antiga capella de Santa Mar- garida; azulejaram-lhe o tecto, enchendo-o de pinturas a oleo com os milagres do san- to; fizeram boa sacristia e na porta prin- cipal seu cabido de pedra (talvez galilé) com todo o primor, — dizem as Antiguidades de Villa Real. Por todas estas circumstancias a antiquís- sima e pobre capella de Santa Margarida to- mou a invocação de S. Lazaro. Era publica e não sabemos o que resta hoje d'ella. 16. "— S. João da Fraga. A cavalleiro do bairro de Santa Margari- da demora esta capellinha no alio d'um grande morro de granito, do qual tomou o nome de S. João Baptista da Fraga. Sobe-se para ella por uma pequena esca* daria; — tem um bonito adro com assentos de pedra, do qual se gosam vistas muito pit- torescas sobre o rio Corgo, sobre a ponte de Santa Margarida, sobre a extremidade leste da villa e sobre muitos pomares, hortas, campos e vinhas. É um dos miradouros mais pittorescos e interessantes de Villa Real. Foi feita pelos annos de 1685 á custa de differentes devotos, nomeadamente do licen- ciado João Martins da Fraga, que em 1695 a instituiu cabeça de morgado, vinculando- lhe todos os seus bens, com a obrigação de certas missas e d'outras condições que po- dem vér-se nas Antiguidades de Villa heal. Foi primeiro administrador d'este mor- gado de S. João Baptista da Fraga uma fi- VIL VIL 969 lha do instituidor, D. Martha de S. Paio, mu- lher de Luiz Teixeira de Magalhães, F. C. R. governador politico d'esta villa, 9argento- raór e cavalleiro da ordem de Christo, ramo dos Teixeiras Coelhos, da casa de S. Braz- É publica. 17. »— Senhor do Atalho. Demora esta capellinha um pouco a ju- sante da de S. João da Fraga, no carreiro ou atalho de que tomou o nome e por onde se desce d'aquelle fragão para a ponte de Santa Margarida. Foi feita em 1840 por Francisco Domin- gues, gallego, de alcunha o Pózeiro, por ha- ver casado com Maria Victoria Pózeira, d'esta villa, onde elle exerceu a profissão de trolha. Fundou-a com esmolas que pediu para o Senhor dos Afflictos, cuja imagem estava pintada em um cruzeiro de pedra que no mesmo local da capellinha havia mandado fazer em 1782 Jeronymo Teixeira Carneiro da Frontoura, em cumprimento d'um voto, por se ver livre d'um perigo imminente que o ameaçou n'aquelle mesmo local. Junto da capellinha fez o Pózeiro também uma pequena casa, onde passou o resto dos seus dias. É particular. 18. *— Senhora dos Captivos. Foi feita por André d'Araujo e Veiga e sua mulher Maria Monteiro, os quaes n'ella instituíram um morgado, vinculando-lhe to- dos os seus bens, pelos seus testamentos de 28 de novembro de 1621 e 5 de setembro de 1627, com a obrigação de uma missa per- petua nos domingos e dias santos, pela alma dos instituidores. Foi primeiro administrador d este vinculo o padre Custodio Monteiro, irmão da insti- tuidora. Em 1722 era administrado' por Francisco Botelho Monteiro de Lucena, padroeiro do convento de Santa Clara, d'esta villa. Era particular e n'ella se sepultaram os fundadores e alguns dos seus descendentes; mas foi fundada em frente da antiga cadeia, para que os presos mesmo da cadeia podes- sem ouvir mi9sa, pelo que os beneméritos fundadores deram á capellinha a invocação de Senhora dos Captivos. Por desleixo dos administradores perdeu a maior parte das suas rendas; cahiu em abandono, e desde 1815 serve de casa da guarda dos presos. 19. »— S. Jacintho, na rua d'este nome e unida ao palacete de S. Jacintho, onde viveu Gonçalo Christovam e que foi fundado, bem como a dieta capella, pelos seus nobilíssimos e riquíssimos ascendentes, senhores da Tei- xeira e dos morgados de S. Braz, SanfAnna de Constantina, Abbaças, etc, depois morga- dos do Bomjardim, no Porto. Era virtude da delapidação d'esta grande casa, foi a dieta capella com o palacete con- tíguo arrematada em hasta publica no anno actual (1885) e no palacete e capella vae fun- dar-se o Asylo Chaves, de que adiante falla- remos. Era particular. 20. »— Santa Sophia, na rua das Flores. Foi mandada edificar por Antonio Botelho de Mesquita, que n'ella instituiu um grande vinculo em 1626. Particular. 21. »— Senhora do Rosario, também parti- cular, na Casa da Cruz, da rua do Jogo da Bolla, hoje rua da Alegria. Foi feita por Antonio Botelho de Queiroz e por elle instituída cabeça de morgado, a que vinculou as suas casas contíguas e cer- tos bens em S. Lourenço. Profanada e servindo de estrebaria I... 22. »— S. Thiaqo, particular também. Foi esta capella primitivamente fundada pela nobilíssima família Magalhães, no cimo do campo do Tabolado, junto do local onde depois se fundou o convento das claristas, hoje Recolhimento de Nossa Senhora das Dô- res, e, segundo consta, teve no seu principio confraria própria. Cahindo em ruinas a dieta capella, Marti- nho José de Magalhães Faria e Sousa, des- cendente dos fundadores, a transferiu e fez de novo junto ás suas casas, na rua das Flo- res. 1 Antonio de Magalhães, viuvo de Isabel Justes, para cumprir o testamepto de suas 1 Foi demolida em 1883, quando se con- struiu de novo o palacete que é hoje do me- dico Fraucisco Salles da Costa Lobo. 970 VIL VIL cunhadas D. Briolanja da Nóbrega e irmãs, na dieta capella instituiu um morgado com os bens que ellas lhe deixaram, unindo-lhe todos os seus, por escripturas de 28 de de- zembro de 1388,— de 29 de janeiro de 1589, —de 16 de junho de 1593,— de 18 de junho do mesmo anno— e de 12 de setembro de 15941... Nomeou primeiro administrador d'este morgado seu neto Antonio de Magalhães. Mandou elle instituidor que este vinculo se denominasse de Sabrosa, porque em S. Mamede de Sabroso tinha uma capella e dif- ferentes propriedades,— e que os seus admi- nistradores usassem o appellido Magalhães, sob pena de perderem o dicto morgado. Em 1720 era administradora d'este vin- culo Helena de Magalhães, 4.» neta do insti- tuidor, filha natural legitimada de Antonio de Magalhães e Faria, já casada, mas corria pleito entre ella e o capitão de cavallos, Leo- poldo Henrique Botelho de Magalhães, de Moncorvo, que pretendia tirar-lhe a admi- nistração do dicto morgado, por ser também 4.° neto do instituidor e filho legitimo. 23.8— Senhora d'Almodena. Ao poente d'esta villa e no alto de um monte, um pouco alem da rua da Fonte No- va, na margem esquerda do Cabril, junto da ponte de Almodêna e da estrada real que segue para o Porto pela Begoa e pela Cam- peã, está ainda na circumscripção da paro- chia de S. Diniz a capella da Senhora d' Al- modêna, que deu o nome á dieta ponte. Foi fundada no meiado do século xvii por D. Pedro Taveira Souto Maior, cavalleiro professo na ordem de Christo, fidalgo da primeira nobresa d'esta villa e capitão de couraças em Flandres, casado com D. Filip- pa de Castro e Silva, senhora do morgado de Ferreiros em Villa Viçosa, os quaes no seu testamento de 28 de fevereiro de 1664 vincularam em morgado à dieta capella to- dos os seus bens, com a obrigação de certas missas, encarregando o vigário geral de ve- lar pelo cumprimento d'ellas, pelo que os instituidores mandaram se lhe désse annual- mente duas gallinhas e um frasco de vinho. Em 1720 velava um ermitão por esta ca- pella, mas nos fins do século xvui estava em grande abandono, pelo que uma devota mu- lher, chamada Joanna da Silva, se resolveu i a amparal-a e, pedindo e esmolando em fa- j vor d'ella, não só a reparou, mas conseguiu j fazer alguns aDnos pomposa festa com gran- j de romagem, no dia 8 de setembro, até o I anno de 1802, data em que a santa mulher falleoeu, cahindo outra vez a capellinha em completo abandono. Assim se conservou até que em 1818 Fran- cisco Antonio dos Beis se devotou a ella com tal zelo que a romagem se tornou a mais importante d'esta villa. Crescendo as esmolas, reparou a capella, restaurando a parte que ameaçava mina, comprou paramentos e alfaias, arroteando o monte, fez um amplo terreiro,— abrindo uma mina, o embellesou com agua potável, e iria muito mais longe, se a morte o não surprehendesse, como surprehendeu, em 1830. Succedeu-lhe José Alves Torgo, por al- cunha o Zé da Chica. Lembrou-se este de crear uma feira no dia da grande romagem. Bequereu-a e foi lhe concedida por provisão regia de 14 de junho de 1831. Em 13 d'abril de 1834 entrou n'esta villa o duque da Terceira,— estabeleceu o novo syslema politico— e a administração da ca- pella passou para vários zeladores, nomea- dos pela junta de parochia da freguezia de S. Diniz, que outra vez deixaram cahir tudo em completo abandono I Em 1846, tendo sido nomeados zeladores Boque Fernandes de Mattos e Diogo de Li- ma, ambos sapateiros, tal zélo empregaram na administração da pobre e abandonada capella, que rapidamente voltou ao seu an- tigo esplendor e ainda o excedeu, — graças aos dois beneméritos artistas ! Augmentando a concorrência e as esmo- las, demoliram a velha capellinha e cons- truíram de novo outra, que ficou concluida em 1850, sendo aberta ao culto e n'ella col- locada de novo a imagem da Senhora d' Al- modêna 1 com grande pompa no dia 1 de i Almodena é palavra árabe e significa a VIL VIL 971 setembro do mesmo anno, seguindo-se no dia 8 a grande romagem, festa e feira, o que tudo tem continuado até hoje. É publica. i 24. » — SanVAnna. Hou\e também n'esta villa e não sabemos se ha hoje ainda uma eapella da invocação de SanfAnna. Era particular e collegiada, 1 de cinco beneficiados collados, que ali resa- vam em côro os officios divinos. Foi fundada em pelo dr. Jeronymo Corrêa Pinto do Amaral, ouvidor na Para- hiba, pelo que os Amaraes, seus descenden- tes e successores, morgados de Villa Cova, tinham o titulo de Priostes, ou presidentes da dieta collegiada, e apresentavam os cinco beneficiados. Era particular. 2 25. » — Santo Antonio Esquecido, no pas- seio que hoje circunda pelo nascente a villa velha. Já fizemos menção d'esta capellinha. 26. " — Senhora da Piedade, na cerca do convento de Santa Clara. Adiante fallaremos d'ella. 27. "— Capella do Arco. Estava sobre o ar- co pertencente ao palácio dos marquezes de Villa Real e foi demolida com o dicto arco em 1850. Or dem 3.a de S. Francisco Esta ordem foi fundada por conselho e instrucçôes de dois missionários hespanhoes que vieram a esta villa em 1670,— Fr. An- dré e Fr. José de Vilalva. O seu primeiro templo foi uma capellinha que a ordem fez junto á de Diogo Dias Fer- reira, no convento de S. Francisco; augmen- torre ou mirante com varanda, d'onde os mahometanos em altas vozes costumam cha- mar os crentes para a oração. ' Nós os christãos adoptámos os sinos em vez de pregoeiros. 1 «Esta collegiada foi extincta, mas ainda existem, embora em possuidor estranho, a eapella e a casa contigua brasonada e com uma torre, em frente do palácio que foi do general Silveira.* 2 Foi demolida, ha annos, quando se fez de novo a casa a que estava unida. tando porem rapidamente o numero dos ir- mãos, e cedendo Maria Alves e João Lou- renço certo chão contíguo, ampliou a dieta i eapella, ficando com tres altares, todos tres privilegiados, e duas capellas mais para en- terramento dos irmãos. Em 1772 deu a ordem um conto de réis ao convento para pôr a sua eapella em com- municação com a dos frades e ter sahida commum com elles. O orago da dieta eapella é Nossa Senho- ra da Conceição. Extinctos os frades em 1834, ficou esta ordem 3." também senhora da egreja do convento e não só a tem con- servado com toda a limpeza, mas n'ella faz diversas festividades com muita pompa. Esta ordem chegou a contar 2:000 irmãos, todos com o direito de serem recebidos e tratados de graça no hospital da Misericór- dia, em virtude do legado e das disposições testamentárias de Anna Eufrásia da Rocha e de sua irmã, como já dissemos no tópico relativo á Misericórdia. Em 1721 contava esta ordem 1:500 irmãos e irmãs, comprehendendo quasi toda a no- bresa de Villa Real e suas circumvisinhan- ças. Por provisão de 15 de setembro de 1757 o infante D. Pedro (?) deu a esta ordem para cemitério um pequeno baldio junto dos ar- cos, (?) do qual tomou posse em 18 de março de 1758, segundo se lé nos apontamentos que me legou o meu amigo Saavedra. Ordem 3.» do Carmo A historia da fundação d'esta ordem é um tecido de luctas, intrigas e peripécias que nos levariam muito longe. Resumil-a-hemos pois o mais possivel. Pelos annos de 1700 o. padre mestre Fr. José do Espirito Santo, carmelita descalço, natural d'esta villa, costumava por devoção benzer e lançar o escapulário de Nossa Se- nhora Da egreja parochial de S. Pedro, e alguém diz que esta devoção principiou na egreja da Misericórdia. A Fr. José succedeu na mesma devoção o rev. Antonio Pereira de Carvalho. Era este coadjuvado por outros sacerdotes, os quaes por impedimentos que tiveram deixaram de 972 VIL VIL o auxiliar e a devoção do escapulário foi amortecendo. Em 1748 recolheu se á sua casa n'esta villa Fr. Pedro Caetano, carmelita, trazendo faculdades para benzer e lançar o escapu- lário, applicar as indulgências dos 4 jubileos da ordem, receber esmolas e poder empre- gal-as no culto da imagem da Senbora do Carmo. Coadjuvado por Fr. Antonio Corrêa do Espirito Santo, da ordem da Penitencia, am- bos admittiram muitos irmãos, sem ainda haver na villa imagem alguma da Senhora. Em 1755 Vicente Luiz Corrêa de Mesquita pediu ao provedor da Misericórdia Antonio Pinto Pimentel, 5.° morgado da Ribeira de Sabrosa, licença para cumprir as disposi- ções do seu morgado (d'elle Vicente) man- dando compor e alfaiar a sua capella, ca- beça do vinculo, que tinha na Misericórdia e, por accordo entre os dois, deu para aquelle fim certa soturna ao provedor; mas este, em vez de empregar o dinheiro nas obras, man- dou fazer uma imagem de Nossa Senhora do Carmo e a collocou na dieta capella, no mes- mo anno de 1755. Augmentou logo rapidamente o numero dos devotos e confrades da Senhora;— fize- ram-lhe pomposa festa e requereram a Fr. José Pereira de Sant'Anna, provincial dos carmelitas descalços, auctorisação para con- stituírem uma irmandade; negou-lh'a porem este, auctorisando apenas dois padres para benzerem e lançarem o escapulário e appli- carem aos irmãos as indulgências in arti- culo mortis. Magoados os devotos com esta recusa, di- rigiram-se ao provincial dos carmelitas des- calços, Fr. João da Conceição, o qual em ja- neiro de 1759 auctorisou a fundação da ir- mandade, sem lhe marear egreja, e concedeu licença a seis padres para absolverem in ar- ticulo mortis, por serem já muitos os irmãos admittidos ; oppoz-se porem a Misericórdia, não consentindo que a irmandade em pro- jecto se apropriasse do altar da Senhora, pelo que a irmandade ainda d'esta vez se não organisou. 1 Não convinha á Misericórdia que o ren- dimento do altar da Virgem passasse para uma corporação estranha. Tres vezes os confrades tentaram fazer obras no altar da Senhora e n'elle celebrar suas funeções e tres vezes a Misericórdia lhes fechou as portas da egreja. Recorreram ao arcebispo D. José; mas este igualmente lhes negou o que pediam, fundamentado era que as Misericórdias ti- nham o privilegio de não poderem ser con- strangidas a receber nos seus templos cor- porações sujeitas ao ordinário. Alem de que, os irmãos ainda não tinham licença regia, nem do provedor,— e para des- animo dos irmãos, o provincial dos carme- litas descalços, fundado no breve de Bento xiv, — Bis a Domino,— negou-lhes também licença para a benção papal e absolvição ge- ral 1 Afflietos com tantas contrariedades, recor- reram os irmãos ao provincial dos carme- litas calçados, por intervenção do padre mes- tre Fr. Manuel de S. José, da mesma ordem, o qual lhes concedeu auctorisação para le- vantarem a irmandade na egreja de S. Pe- dro, mas não no momento, pelo receio que tinha de incorrer no desagrado do marquez de Pombal, que se empenhava em reduzil-as em numero. A esta contrariedade aceresceu ainda ou- tra: Fr. Antonio Corrêa do Espirito Santo, al- ma de toda esta devoção, teve de retirar-se para o Mogadouro, por ser eleito prelado d'aquelle convento, e os confrades e devotos cahiram todos no maior desanimo; passados porem seis annos, volveu a Villa Real Fr. Antonio e obteve do parocho de S. Pedro li- cença para erigir a irmandade na sua egreja; o mesmo parocho mandou fazer uma lin- díssima imagem da Senhora, á sua custa.— e os irmãos Amaraes (José e Manuel Corrêa Teixeira) lhe offertaram uma coroa de prata e outros objectos. Não terminaram porém aqui os dissabo- res. Os dois irmãos Amaraes, despeitados por nenhum d'elles ser eleito juiz, tractaram de VIL VIL 973 persuadir os confrades de que só na primi- tiva séde (a egreja da Misericórdia) podiam ganhar as indulgências; mas nada consegui- ram. A irmandade proseguiu avante e logo no primeiro anno festejou a sua padroeira com grande pompa e tal concorrência de fieis que o povo não cabia na egreja. Foi preciso cobrir o adro com toldos;— muitos irmãos, tiveram de confessar-se ao ar livre— e ao ar livre, junto da porta principal, pregou o ora- dor. Continuaram as intrigas e os desgostos; mas post tot tantosque labores, os irmãos ob- tiveram do primaz, em 17 d'agosto de 1774, provisão para erigirem definitivamente a ir- mandade na matriz de S. Pedro; — o geral dos carmelitas descalços lhes deu carta pa- tente— e o núncio a confirmou em outubro do mesmo anno de 1774, sendo os estatutos approvados pelo arcebispo em 11 de janeiro do anno seguinte I Foi fal o enthusiasmo dos devotos que logo fizeram cantar um Te Deum;— segui- ram-se luminárias e festejos públicos e re- solveram erigir um templo expressamente consagrado à Virgem do Carmello. Não descançaram, porem, os desordeiros. Referveu a intriga e promoveram a suppres- são da irmandade, allegando entre outras coisas — que tinham enganado o provincial, dizendo-lhe que não havia outra na distan- cia de uma legoa, etc. Informado devidamente o provincial, in- deferiu e a irmandade não foi supprimida; mas os heterodoxos lançaram ainda mão de outro recurso: Dirigiram um requerimento muito circumstanciado ao arcebispo, pedin- do-lhe que supprimisse a irmandade, com- minando aos irmãos rebeldes a pena de ex- communhão, mas o arcebispo não os atten- deu. Não desistindo os heterodoxos dos seus malévolos intentos, dirigiram-se os irmãos á piedosa rainha D. Maria í, por intermédio do seu confessor, implorando remédio para tantos males, e foram attendidos, pois por aviso régio de 29 de fevereiro de 1779 foi a Villa Real expressamente o corregedor de volume x Guimarães;— intimou a confraria heterodoxa estabelecida no altar da Misericórdia para que se desse por dissolvida,— fez eleger no- va mesa em S. Pedro, e annullou de um só golpe para sempre os mal intencionados. Vendo-se livres de tantas vexações, exul- taram de contentamento os confrades. Houve Te-Deum, repiques, foguetes, vivas e festas apparatosas. Chamaram de Guimarães os armadores, — de Draga a musica e vozes da capella do arcebispo— e de Chaves a charanga dos Dra- gões;—houve fogo preso e solto, esplendido e novo, — procissão com innumeraveis pa- dres de roquete,— 80 parochos do termo com suas capas cTasperge, — toda a tropa de linha e auxiliares de Villa Real e seu termo,— tres noutes de luminárias a giorno, — philarmo- nicas, serenatas, canções, danças, etc. No dia 13 de julho novamente fogo solto, que enchia o ar de lagrimas, raios e estrei- tas. No dia 16 bailes de mascaras pelas ruas, toques, serenatas e descantes. No dia 17 tourada que surprehendeu e maravilhou 1 todos, por ser coisa nunca vista em Villa Real. Seguiram-se nos dias 18, 19 e 20 cavalha- das e torneios, escaramuças e combates si- mulados, trajando os nobres da villa e seu termo galas riquíssimas apropriadas e ma- nobrando com tal destresa que o povo en- thusiasmado os cobriu d'applausos e ova- ções, terminando as grandes festas com uma nova tourada, na qual foi morto um touro. Parece incrivel que por um motivo appa- rentemente tão simples se fizessem tão pom- posas e custosas festas de improviso e em uma terra tão pequena como era então Villa Real; mas note-se que os villarealenses fo- ram sempre inelinados ás grandes festas, como adiante mostraremos, quando fallar- mos da de Corpus Christi e d'outras. O infante D. Pedro, por provisão de 21 de julho de 1784, concedeu licença a esta or- dem 3." para levantar um templo próprio no campo do Pioledo e por provisão de 16 de fevereiro de 1785 lhe cedeu o terreno preciso 62 974 VIL VIL pára o dieto templo,— o que foi confirmado pela rainha D. Maria I em 20 de março de 1789. No mesmo anno lhe deram principio, mas só em 1820 cobriram a nova egreja e para ella mais tarde (oão sabemos quando) trasladaram a imagem da Virgem. Em 1846 fizeram no seu adro o cemitério j dos irmãos. Tem esta ordem estatutos confirmados pelo geral dos earmelitas descalços, appro- vados por provisão de 21 de março de 1792. Paços do concelho A primeira casa da camará ou do senado esteve na villa velha e desappareceu ha muito. A segnnda foi um edifício acastellado e ameiado que se erguia junto do chão onde hoje se vê o novo hospital da Misericórdia, contíguo ao angulo S.0. da frontaria d'elle. Foi principiado em 1535, pois, segundo consta do arehivo d'esta camará, n'aquelle anno, em virtude de uma provisão regia, se lançou uma derrama sobre esta villa e seu termo para as dietas obras e nara a ponte do Sabor, no caminho de Moncorvo. E do mesmo arehivo consta que por carta do mar- quez, ao tempo senhor d'esta villa, se man- dou em 1537 lançar nova finta ou derrama para conelusão dos mesmos paços do con- celho. O edifício era quadrado, muito solido, as- sente sobre seis arcos de pedra, 2 em cada face, e tinha dois andares, no primeiro dos quaes se faziam as audiências do geral, cor- reição, almotaceria e orphãos, e no 2.° as sessões da camará. A entrada era por um grande patim exte- rior, e na frente que dava para a villa velha tinha um grande escudo em relevo com as armas reaes pintadas e douradas. Ardeu este edifício em 1827 e consta que foi incendiado de propósito para desafoga- rem as vistas do novo hospital. É certo que | em seguida ao incêndio a Misericórdia se apropriou das ruínas, demoliu as paredes e uniu o chão ao seu hospital. A camará em 1849 comprou por 700$000 róis aos herdeiros de José Corrêa Teixeira do Amaral a casa em que este senhor viveu na rua da Amargura, e ali se estabeleceu, constando que tenciona adquirir e demolir as casas contíguas da banda do Tabolado, para que os novos paços do concelho de- frontem com aquelle grande campo. Senado, panellas e festas officiaes Em 1720, segundo se lê nas Antiguidades de Villa Real, a camará ou o senado d'esta villa constava de tres vereadores, pessoas nobres, um procurador do concelho, um es- crivão e um porteiro, sendo presidente nato o juiz de fóra. Os vereadores e o procurador eram eleitos pelo povo de tres em tres annos e, como ser- viam apenas um anno, tinham de ser eleitos 9 vereadores e 3 procuradores em uma es- pécie de lista tríplice, depois enviada á se- reníssima casa de Bragança, para ella esco- lher, pelo que eram votadas a um tempo 27 pessoas para vereadores e 9 para procura- dores, com as formalidades seguintes : Sobre uma mesa collocavam 36 panellas tapadas, cada uma com seu papel, indicando as pessoas destinadas para vereadores e pro- curadores, e junto do dicto papel em que estava escripto o nome do proposto, havia um buraco para receber os votos, que eram representados por feijões brancos e pretos. Os brancos approvavam e os pretos repro- vavam. Preparadas assim as 36 panellas, subia o povo e votava. Em seguida ia o ouvidor fa" zer o apuramento, ou limpar a eleição. Chamava duas pessoas de sã consciência; — extrahia os feijões;— fazia uma acta de tu- do e a remettia á sereníssima casa do infan- tado, donatária d'esta villa, desde 1841, data em que foram justiçados e extinctos os seus marquezes, como já dissemos ; — depois o infante por carta sua indicava os vereado- res e curadores que haviam de servir no triennio. Julgamos ser isto o que se deprehende das Antiguidades de Villa Real, muito ambí- guas n'este tópico. A camará fazia á sua custa a festa e a VIL VIL 975 procissão de S. Sebastião, á qual assistia, bem como ás festas e procissões da bulia e dos Santos Óleos. Também fazia e acompanhava a procissão de S. Marcos. Sahia esta da egreja parochial de S. Di- niz;— acompanhavam-n'a os 2 parochos da villa com as 2 cruzes — e os vereadores com as suas varas, bandeira e musiea até á Ca- pella de Santo Antonio, no Calvário;— ali montavam todos a cavallo e seguiam até á capella de Nossa Senhora de Guadalupe, dis- tante cerca de 3 kilometros, na freguezia de Mouçós, onde estava a imagem de S. Marcos; formavam a procissão antes de chegarem á dieta capella, na qual entravam cantando a ladainha dos santos, alternada com a musi- ca;— d'ali seguiam em procissão até á ca- pellinha de Nossa Senhora do Cabeço, que está pouco distante, para o lado norte, e se suppõe ter sido convento de freiras; *— vol- tavam depois á capella de Nossa Senhora de Guadalupe, onde terminava o romagem com uma missa cantada. Tinha a camará 4^800 réis de propina para um jantar que ali todos comiam. Também a camará com a sua vara e i V. Mouçós e Borbella. O Jeronymo Latagão, procurador de cau- sas, homem sem lettras, mas curioso inves- tigador das antigalhas d'esta villa, fallecido ha poucos annos, copiou as Antiguidades de Villa Real e alterou-as sensivelmente, au- gmentando-as em alguns pontos e cercean- do-as em outros. N'este tópico relativo ao mosteiro do Cabeço disse que o arcebispo D. Estevam Soares, na sua visita á diocese em 1250, transferiu para o mosteiro de S. Salvador de Braga as freiras que do con- vento de Çaravellas, aldeia frigidissima, si- tuada em um dos pontos mais altos do Ma- rão, tinham passado para o mosteiro do Ca- beço. Isto mal pode acceitar-se, porque o actual mosteiro de S. Salvador de Braga foi funda- do em 1602 pelo arcebispo D. Fr. Agostinho de Çastro, 32.° arcebispo depois de D. Es- tevam Soares I . . . Também diz a tradição que no locál onde esteve o mosteiro do Cabeço houve no tem- po dos romanos um collegio de Vestaes, o que também nos custa a crer, porque o si- tio é muito frio e alpestre. bandeira acompanhava as 3 procissões das ladainhas de maio, que saiam todas da egre- ja de S. Diniz, com musiea, povo, cruzes e clérigos da villa, indo a l.a ao convento de S. Francisco, — a 2.a ao de S. Domingos — e a 3.a ao de Santa Clara, celebrando-se em cada um d'elles missa cantada com musica por conta da camará. Dia da visitação de Santa Isabel a camará acompanhava também outra procissão, em que tomavam parte todas as bandeiras e cor- porações dos artistas, todo o clero da villa e todas as cruzes parochiaes de uma legoa em redor. Sahia da egreja de S. Diniz para a dos frades de S. Domingos, onde se celebrava missa cantada com sermão e musica, regres- sando na mesma fórma á egreja de S. Diniz. No dia 1 de dezembro a camará, com osmis- teres, almotaceis, nobresa e clero da villa, acompanhava outra procissão, em tudo seme- lhante, para commemorar a feliz acelamação d'el-rei D. João IV. Acompanhava também a procissão do Corpo de Deus, que era a mais apparatosa de todas (logo a descreveremos)— e a do Anjo* Custodio, tão apparatosa como a do Corpo de Deus. Convento de S. Francisco Sendo papa Gregorio XIII e arcebispo de Braga D.*Fr. Bartholomeu dos Martyres, go- vernando a ordem^serafica Fr. Christovam de Capite Fontium, e a província de Santo Antonio dos padres capuchos de Portugal Fr. Marcos de Lisboa, chronista geral da or- dem, vivia em Villa Real um piedoso, rico e nobre cavalleiro, Diogo Dias Ferreira, que se propoz fundar n'esta villa um convento. Com esse intuito foi a Lamego, expoz a sua rosolução aos frades franciscanos d'a- quella cidade e convidou-os para disporem a fundação, offereeendo-lhes parte dos seus muito bens. Annuiram de bom grado os religiosos lamecenses e obtiveram provisão de 22 de janeiro de 1572 para poderem dar principio á obra. Foi o provincial Fr. Marcos de Lisboa, em 21 de janeiro de 1573, demarcar e tomar 976 VIL VIL posse do terreno, levando comsigo Fr. Se- bastião de S. João para prelado, Fr. Henri- que, Fr. Antonio de S. João, Fr. Antonio de Beja e o leigo Fr. Alvaro, os quaes, durante as obras, residiram algum tempo em uma casa da rua do Carvalho e d'ahi passaram para outra da rua das Flores. D'aqui pro- veiu dizer nos seus apontamentos o Jerony- mo Latagão, já mencionado supra, — que este convento teve principio em uma alber- garia da rua do Carvalho, d'onde passou para outra da rua das Flores. Além das terras que deu a estes frades capuchos para a fundação do convento, Dio- go Dias fez a capella-mór á sua custa, cujo padroado depois cedeu ao marquez de Villa Real para n'ella enterrar um seu filho se- gundo; e, para jazigo seu e dos seus descen- dentes, edificou uma capella privativa mais pequena, mas primorosa, junto do arco cru- zeiro, do lado do evangelho, na qual poz as suas armas dos appellidos Athaides, Teixei- ras, Moreiras e Pimenteis. Alem d'isso deu aos frades a quinta a jusante do convento para património da dieta capella, com a obrigação de uma missa semanal;— e ainda depois os beneficiou com 16 arráteis de car- ne, 800 réis para peixe e um almude de azeite para a lâmpada, mensalmente. No dia 4 de fevereiro de 1573 se lançou a pedra fundamental da capella-mór, prece- dendo missa cantada na egreja matriz de S. Pedro, e pregando o mesmo provincial, que depois foi bispo do Porto. El-rei D. Sebastião, por tres alvarás de 1572, mandou expropriar pelo provedor de Moncorvo certos terrenos para as obras, — ordenou que os ofHciaes trabalhassem pelos preços do costume e que as madeiras preci- sas para o convento fossem vendidas aos fra- des pelo seu justo valor. Por carta escripta de Ceuta em 16 d'agos- to de 1572, o marquez D. Manuel perdoou aos frades os foros que tinha nas terras que elles adquiriram. Outro marquez, estando em Leiria, onde era alcaide-mór, lhes deu, por carta de 25 d8 setembro de 1624, uma arroba de carne por semana e na quaresma o seu valor para comprarem peixe,— acceitando ao mesmo tempo o padroado da capella-mór, cedido por Diogo Dias Ferreira. Em 1627 fez-se o chafariz na cerca, onde estava também uma capella dos herdeiros de Jeronymo Rodrigues, cónego de Guimarães, fundador do mosteiro das Claras d'esta mesma villa. Em 1640 D. João IV mandou continuar as obras com o dinheiro que para ellas ti- nham dado os marquezes, acerescentando do seu bolso 20 crusados por anno, com a obri- gação de serem os sermões do advento pre- gados pelos franciscanos em S. Diniz e S. Francisco;— e a camará, por este mesmo mo- tivo, lhes deu 4$000 réis annuaes para ves- tiário. Em 14 de setembro de 1679 D. Pedro II concedeu a Antonio Teixeira de Magalhães, F. C. R., governador politico d'esta villa e sargento-mór, licença para fazer sepultura para si debaixo do arco cruzeiro d'esta egreja, mas sem brasão d'armas, por ser a capella-mór do padroado real, podendo gra- var n'ella apenas uma inscripção com o seu nome. No corpo da egreja d'este convento, para a parte do norte e do lado do evangelho, está a capella de Nossa Senhora da Concei- ção, pertencente á ordem 3.a de S. Francisco e ligada á egreja por um grande arco de pedra com suas grades. É toda azulejada e primorosa, forrada de painéis; tem sacristia própria, casa de des- pacho, etc. N'esta capella, da qual já fizemos menção, se installou a ordem 3.a e chegou a obter grande importância. Em 1721 contava mil quinhentos e nove irmãos d'ambos os sexos e fazia com grande pompa a procissão de Cinza. Sendo extinctos os frades em todo o nosso paiz, por decreto de 24 d'abril de 1834, o governo, por duas portarias de 6 e 23 de ou- tubro de 1835, mandou entregar esta egreja com as suas alfaias á ordem 3.a A mesma ordem ainda hoje (1885) a pos- sue, mas o convento, em seguida á ex- tineção das ordens religiosas, passou com a VIL VIL 977 bella cerca e mais dependências para os pro- | prios nacionaes, — depois n'elle se aquarte- j laram os destacamentos de tropa estaciona- dos n'esta villa— e, desde 1883, está servin- do de quartel ao regimento de infanteria n.° 13, que n'aquella data foi transferido de Chaves para aqui;— não tendo porém a ca- pacidade precisa para receber um regimento inteiro, a camará o mandou restaurar e am- pliar e n'elle tem feito e está fazendo obras importantes. Este convento ardeu em 9 de janeiro de 18o0. A custo pôde salvar-se a egreja; mas foi concertado com donativos dos habitantes da villa; — depois, em uma parte d'elle, se es- tabeleceu a bibliotheca publica e uma escbo- la normal—e na outra se aquartelavam os destacamentos. A cerca andou arrendada por conta do governo até 1843, data em que foi posta em hasta publica e arrematada por Antonio de Carvalho, de Escariz, residente em Lisboa. No anno de 18. . o bispo de Leão deu or- dens menores n'esta egreja, estando emigra- do n'esta villa D. Carlos de Hespanha, com seus filhos e muitos fidalgos heapanhoes, en- tre elles o dicto prelado. Em 1820 José Teixeira de Mello, morgado de S. Paio, deixou a sua grande livraria aos frades d'este convento, com a condição de a franquearem ao publico um dia por semana — e de que passaria para a camará munici- pal, se o convento fosse exlincto. É pois a dieta bibliotheca propriedade do município desde 1834. Este convento, hoje quartel militar de in- fanteria n.° 13, estava e está em alegre e vantajosa situação, na extremidade N. E. da villa, ao nascente da Carreira, passeio agra- dável e muito concorrido, ao longo da estra- da real que, um pouco mais adiante, se rami- fica para Chaves, Bragança e Sabrosa. A Carreira está no sopé do monte do Cal- vário e do Jardim Publico, que lhe ficam á esquerda, saindo da villa,— e á direita a cer- ca, hoje quinta, dos frades, e o convento, em plano um pouco inferior, para o qual se des- cia e desce por uma larga escadaria d'al- ! guns degraus,— seguindo-se um amplo ter- | reiro— e depois o convento, hoje quartel, afastado da Carreira cerca de 100 metros. Ao longo da Carreira, lado E., corria o muro da cerca e n'elle foram abertos em 1788, no alto da escadaria mencionada, 2 grandes arcos de granito, formando um bello pórtico duplo, que dava entrada para o con- vento e para a cerca. Suppomos que os dictos arcos foram de- molidos este anno de 1885, porque difficul- tavam a entrada e saida do regimento em formatura. Na egreja d'este convento fundou o pa- dre Francisco Mattoso Mourão, de Lordello, vigário de Folhadela, por seu testamento de 23 de novembro de 1684, uma capella da invocação de S. Francisco, para jazigo seu, á qual vinculou certos bens com a obrigação de 4 missas semanaes. Também havia 5 capellas em vários pon- tos da cerca, que era espaçosa e tinha uma boa matta, jardins, passeios, carreiras, hor- tas, vinhas e muita agua própria, além das vertentes do grande chafariz publico, de que logo fallaremos, e que estava e está na Car- reira, em plano superior ao convento e á cerca. Recebiam os frades aquellas vertentes em uma linda casa d'agua, d'onde cahia em um tanque — e d'este passava para as hortas. Convento de S. Domingos Tentando os frades dominicos de Gui- marães fundar um convento da sua ordem n'esta villa, obtiveram auctorisação apostó- lica por bulia do papa Martinho V, e licença do arcebispo de Braga D. Fernando. Escreveu também el-rei D. João 1 a Mar- tim Affonso, seu contanor na província de Traz-os-Montes, dizendo-lhe que, tendo re- solvido fundar n'esta villa um convento em honra de S. Domingos, fosse elle com o pa- dre mestre Fr. Francisco, da dieta ordem, es- colher n'esta villa ou no seu arrabalde o si- tio mais apropriado para a fundação, o qual assim o fez, com prévio accordo e consenti- i mento dos juizes, vereadores, procuradores 978 VIL VIL e homens bons de Villa Real e do dr. Fr. Vaseo de Guimarães, prior do convento da mesma ordem n'aquella villa, hoje cidade. Escolheram elles o terreno ao poente do Campo do Tabolado, entre este e a rua da Fonte do Chão,— terreno que media 59 bra- ças de 10 palmos craveiros, em comprimen- to, e 29 de largura, comprehendendo diffe- rentes casas e chãos que os seus donos ce- deram, com a condição de reverterem para elles doadores ou para os seus herdeiros, quando se não fizesse o convento. Cedeu também a camará para alinhamen- to do edificio certo espaço do dicto campo, — e D. João I, por provisão de 2 de novem- bro*de 1421, datada d' Almeirim, não só ap- provou e confirmou isto tudo, mas perdoou os foros reaes que, em virtude da doação de D. Diniz, aquelles chãos, como todos os da Redonda, pagavam á corôa, — declarando po- rem que, se o convento se não fizesse, ou depois de feito n'elle cessassem os officios divinos, reverteria aquelle terreno para os doadores e continuaria a pagar fôro á co- roa, como anteriormente pagava. Também a camará, em 9 de dezembro de 1422, cedeu aos dominicos um anel da agua, que vinha encanada do Seixo para o chafa- riz do dicto campo — e lhes deu licença para taparem o caminho da Barroca, que ligava o rocio, depois Campo do Tabolado, com a rua da Fonte do Chão. Principiaram as obras no dia 7 de maio de 1422, precedendo missa, que foi celebra- da por Fr. Vaseo de Guimarães na velha ca pellinha de S. Sebastião, da qual já se fallou e que existia junto do chão onde se fez o convento. Era da camará que a cedeu tam- bém aos frades, — e estes, feita a egreja do seu convento, a demoliram. El-rei D. Affonso V deu para estas obras 286 reaes brancos annualmente— e D. João III cedeu a estes religiosos metade das ren- das de Moussellos, que foram dos cónegos regrantes, — mercê que el-rei D. Sebastião tornou effectiva. Entre os grandes bemfeitores d'este con- vento avultam os marquezes de Villa Real, seus padroeiros. O marquez D. Fernando lhe estipulou an- nualmente 300 medidas de pão e vinho, 10 almudes d'azeite e 4$400 réis em dinheiro; — depois lhe deu mais 80 medidas de pão, 4 almudes d'azeite e 3#000 réis para peixe, — e em 1521 elevou as medidas de pão e vi- nho a 600 e o dinheiro a 10$000 réis an- nuaes. O marquez D. Miguel, filho do anteceden- te, elevou as medidas a 612 e o dinheiro a 12$000 réis, com a obrigação de certas mis- sas e suffragios pela alma d'elle marquez e de seus ascendentes e descendentes — e n'essa occasião mandou cortar algumas oli- veiras das que povoavam o campo e se er- guiam na frente do convento. Em 1728 foi reformado o dormitório que dá para leste ou para o Campo do Tabola- do, e fez -se também a torre, a tribuna e o retábulo do altar-mór, tudo á custa do re- ligioso d'esta mesma casa, Fr. Manuel Leite. Em 1755 foi reformada a capella-mór pelo prior d'este convento, Fr. Domingos de Cas- tro. Em 1765 foi restaurado o coroe guarne- cido com cadeiras de pau preto, bellas pin- turas e ricas decorações de talha dourada. Extinctas as ordens religiosas em 1834, foi esta egreja cedida ao parocho de S. Pe- dro, mas em H de junho de 1835 o prefeito a entregou ao reitor de S. Diniz para séde da sua parochia, e no dia 19 do dito mez para ella se fez a trasladação do Santíssimo Sacramento com grande pompa. Passados dois annos, a 21 de novembro de 1837, ardeu este convento, achando-se n'elle aquartelado o batalhão de caçadores n.° 3. Acudiu logo o povo, mas os soldados o re- ceberam a tiros, pelo que, e por outras prece- dências, todos se convenceram de que o con- vento foi incendiado de propósito pelo com- mandante d'aquelle batalhão, o tristemente 1 Os religiosos, com prévia auctorisação da casa do infantado, demoliram parte dos \ muros da villa velha para fazerem o seu dor- mitório—vandalismo que posteriormente foi continuado pelo general Silveira, pela camará e por differentes proprietários desta villa. VIL VIL 979 celebre major Painço, para saldar as contas com a caixa do mesmo batalhão! . . . O incêndio devorou todo o edifício do convento e a própria egreja, que era sum- ptuosa e riquíssima, poupando apenas a ca- pella-mór, por ser d'abobada. Ficaram os villarealenses consternados e, desejando restaurar a egreja, nomearam uma commissão de cinco membros para es- se fim. Com alguns donativos que obteve, restaurou a dieta commissão o arco da ca- pella-mór e o da nave do lado do evangelho; — collocou na capella-mór algumas imagens e de novo a abriu ao culto; mas demittiu-se, por falta de recursos para proseguir com as obras, pois da parte restante da egreja apenas ficaram de pé as paredes denegrir das. Foi nomeada outra commissão, que pro- moveu representações dramáticas e toura- das e abriu uma subscripção publica, ac- ceitando quaesquer esmolas, mesmo em ger neros. Algum dinheiro apurou, e uma pie- dosa senhora, D. Sebastiana Emília Cândida Ramos, deu 3501000 réis, mas eram de tal magnitude as obras, que pouco adiantaram, Deu-lhes grande impulso o governador civil José Cabral, porque, por alvará de 3 dé agosto de 1844, depois de prévia auctorisa- ção da junta geral do districto, mandou que se empregasse na reconstrucção d'esta egreja as rendas da capella de Nossa Senhora do Viso, da freguezia de Fontes, concelho de Penaguião, bem como as da capella de Nos- sa Senhora da Guia, de Jorjais de Vegielos, as das confrarias de Nossa Senhora do Ro- sario, de Torgueda e d'Abbaças, e as da ir- mandade de Nossa Senhora do Rosario d'es- ta mesma egreja de S. Domingos, seus fôros e dividas activas, etc, com o que se arran- jaram mais de tres contos de réis e se fez a armação e o telhado do templo. Em 1850 se collocou na torre o 2.° sino, de 23 arrobas de peso — e n'este mesmo an- no as irmandades do Santíssimo Sacramento e da Senhora do Rosario fizeram as suas ca- sas para sessões e arrecadações. Proseguiram paulatinamente as obras e ho- je a egreja está limpa e muito decente. Tem 3 naves sobre 6 columnas de pedra, forman- do arcos em ogiva,— tecto liso e branco—e na eapella mór um bom retábulo de talha dourada, do ultimo século. No corpo da egreja tem 4 altares lateraes, feitos de novo, sendo dois muito elegantes, muito apparatosos e bem dourados:— um de Nossa Senhora do Rosario (o 1.° á direita, descendo da capella-mór)— outro do Cora- ção de Maria, em frente d'aquelle, ou do lado da epistola. Seguem -se— d'este lado o do Se- nhor Jesus e do lado opposto o de Nossa Se- nhora da Soledade. Ha n'este templo 4 irmandades importan- tes : 1. *— Nossa Senhora do Rosario, no seu lindíssimo altar. Foi erecta em 1434 e confirmada por bulia do papa Martinho V. Em tempos remotos contou milhares de irmãos e ainda em 1721 contava 1408. Em seguida ao grande incêndio, com a perda do seu altar e com a applicação das suas rendas para a restauração da egreja, suspendeu as suas funeções, mas depois se reorganisou, — fez novos estatutos, que foram approvados por carta de lei de 27 d'agosto de 1855, — tem grande numero de irmãos e rendas sufficientes, — construiu á sua custa um primoroso altar— e celebra pomposas funeções. 2. *— Coração de Maria. Em 20 de dezembro de 1852 fez-se n'este templo uma grande festividade ao Coração de Maria, prégando os missionários D. Joa- quim José Alvares de Moura 1 e padre Anto- nio Correia dos Reis. Exaltaram elles a de- voção com o immaeulado Coração de Maria e pediram aos fieis que se constituíssem em irmandade própria. Acudiram elles ao chamamento ; — de prompto se alistaram muitos,— formou-se a 1 Este benemérito missionário D. Joaquim José, ou D. Joaquim da Boa Morte Alvares de Moura, tinha sido cónego regrante de Santa Cruz de Coimbra. Veja-se a sua interessante biographia ^es- te 10.° vol. pag. 531, col. l.a n.° 6. 980 VIL VIL irmandade— e era poucos annos se elevou a mais de 12:000 o numero dos irmãos. Mandaram fazer uma imagem de Nossa Senhora, — primorosa esculptura, que lhes custou cerca de dois contos de réis com o vestuário e adornos próprios,— despenderam mais de dois contos de réis no seu lindíssi- mo altar, que foi dourado em 1872,— e des- de 1855 teem festejado com grande pompa a Virgem, sua padroeira, todos os annos. 3. *— Santíssimo Nome de Jesus. É muito antiga esta irmandade. Foi erecta pouco depois da fundação d'este convento e confirmada por bulias apostóli- cas. Em 1718 foram reformados os seus es- tatutos e o prior d'este convento os confir- mou. Ha n'esta villa, como já dissemos, mais duas irmandades com o mesmo titulo, tam- bém muito antigas,— uma na egreja paro- chial de S, Pedro, outra na de S. Diniz. 4. a— S. Gonçalo. Tem muitos irmãos e estatutos approva- dos em 11 d'agosto de 1703 pelo arcebispo D. João de Sousa. Capellas Houve, e não sabemos se ha, n'este con- vento as duas capellas seguintes: l.*— Nossa Senhora da Conceição. Esteve na sala do capitulo, junto da sa- cristia da egreja e foi comprada por Affonso Annes e sua mulher Maria Affonso, pessoas da primeira nobreza d'esta villa, para sepul- tura d'elies compradores e dos seus descen- dentes, obrigando-se a tel-a sempre bem re- parada. Abriram nas paredes 4 arcos, ficando a meio o altar da Senhora, e n'elles fizeram 4 mausoléus, reservando o pavimento para se- pultura dos parentes,— e deixaram de fôro annual ao convento 60 almudes de vinho, 35 medidas de pão e 400 réis em dinheiro, com a obrigação de uma missa cantada todos os sabbados pela alma dos instituidores e dos seus ascendentes e descendentes. De tudo se lavrou escriptura em 10 de maio de 1455. Vincularam também certas propriedades a esta capella, em morgadio. No fecho do arco da dieta capella se lia a inscripção seguinte : Esta obra mandou fazer João Annes Carneiro, na era de 1492, e por já es- tar damnificada gaspar car- neiro, seu filho, a mandou renovar na era de 1536. Domingos de Magalhães Car- neiro, ADMINISTRADOR D'ESTA CAPELLA A MANDOU REFOR- MAR EM 1634. Dentro do arco, em plano superior ao re- tábulo do altar, se via um escudo com o brasão d'armas do instituidor. Na frente de um dos 4 mauzoleus se lia o seguinte: Aqui jas Jorge Domingos, Bacharel que Deus tem, e mandou fazer esta sepul- TURA. E em plano um pouco inferior : Domingos de Magalhães Car- neiro, Sargento mór que foi na ilha de s. thomé, he administrador desta CAPELLA. Era de 1634 annos. Terminava este mauzoleu em cavalete com uma argola de ferro e ornamentação com folhagem, tudo dourado,— e 3 escudos com differentes brasões. Occorrem-nos os seguintes administrado- res d'esta capella : 1. °— Affonso Annes, o instituidor,— desde 1455 até ... . 2. °— 3. ° — João Annes Carneiro, neto do insti- tuidor—desde 1492 até 1538. 4. °— Francisco Carneiro, escudeiro fidalgo, —desde 1538 até 1580. 5. °— Domingos Carneiro, casado com D. Filippa do Carvalhal,— desde 1580 até 6. °— D. Isabel do Carvalhal, filha dos an- VIL VIL 981 tecedentes, casada com o dr. Balthasar de Magalhães, 3.° neto de Paio Rodrigues de Magalhães e de D. Maria de Sequeira, senho- ra da Terra da Nóbrega. 7. ° — Domingos de Magalhães Carneiro, ca- valleiro da ordem d'Aviz e procurador às cortes de 1642 por Villa Real. 8. ° — D. Francisca de Magalhães de Mes- quita, filha do antecedente, casada com San- tos Mendes de Vasconcellos, de Braga. 9. °— Manuel da Costa Vasconcellos, filho dos antecedentes;— 1685 até 1711. 10. ° — Duarte Mendes de Vasconcellos, fi- lho do antecedente;— desde 1711 até 1749. 11. ° — Manuel da Costa Vasconcellos, filho do antecedente; — desde 1749 até .... 12. °— 13. °— 14. °— D. Angelica Augusta da Costa Vas- concellos de Brito Boby Pimentel, senhora do palácio das Carvalheiras, em Braga, bis- neta de Manuel da Costa Vasconcellos e es- posa do sr. dr. Jeronymo da Cunha Pimen- tel, da nobre casa da Calçada, em Prove- zende, 1 que já foi deputado ás côrtes e go- vernador civil de Braga, cavalheiro de muito merecimento, hoje director da Penitenciaria em Lisboa, e irmão do sr. dr. Adolpho da Cunha Pimentel, deputado ás côrtes, etc. 2.» — S. João Baptista, no claustro. Foi fundada por Fr. Manuel de Jesus, prior d'este convento, em frente á mencionada Ca- pella do capitulo; — era forrada de azulejo, — tinha um bom retábulo de talha dourada — e tecto dourado e pintado. Em éscriptura de 18 de outubro de 1644» o fundador a dotou com 10 pipas de vinho de fôro annual, impondo aos religiosos a obrigação de 100 missas por anno e de te* rem n'ella accesa uma lâmpada todas as noites. Suppomos que estas duas tão interessan- tes capellas foram destruídas com o incên- dio do convento. Sepulturas nobres, privativas i.a — Na capella-mór da egreja d'este con- vento, do lado da epistola, tiveram sepultura 1 V. Provezende, vol. 7.° pag. 698, col. 1." privativa, os Lobos Barbosas, morgados de Penellas. Foi comprada aos religiosos em 1590 por Jeronymo Lobo de Barbosa, F. C. R., per- tencente á primeira nobresa d'esta villa. Era brasonada. 2. «— Na mesma capella-mór, do lado do evangelho, tinham sepultura privativa, tam- bém brasonada, os Pintos Mesquitas, mor- gados de Abbaças, por transacção que fez com os frades, em 10 d'abril de 1617, Gon- çalo de Mesquita Pinto, F. C. R. Pela união da casa d' Abbaças á dos mor- gados de S. Braz, Sant'Anna e Bomjardim, como já dissemos supra, é hoje representante d'estas nobres famílias e d'esta sepultura privativa o sr. José Xavier Teixeira de Bar- ros, pelo seu casamento com a ex.m* sr. D. Maria da Graça Teixeira Coelho, bisneta de Gonçalo Chrystovam, o martyr das prisões da Junqueira, ou antes do marquez de Pom- bal. 3. «_No corpo da mesma egreja, em um arco aberto na parede, do lado do evangelho, está sobre 4 leões um mauzuleu da nobre fa- mília Taveira de Magalhães. Termina em ca- valete com folhagem e tem a seguinte inscri- pção em caracteres gothicos: Esta obra. mandou fazer Diogo Affonso e sua mulher Branca Diz, e ias seo filho Pedro Diz, que Deus haja. Na frente da mesma caixa se lê est'outra inscripção mais moderna : João Taveira de Magalhães e herdeiros. 4. a— Em outro arco, na parede do lado da epistola, se vê outro mausoléu, pertencente á nobre família dos morgados de Lordello *. Ê bastante ornamentado,— termina em ca- valete—e tem a inscripção seguinte : Sepultura de Isabel de Mesquita M.cr de Ruy de Niza, de Lordello. i V. Lordello, freguezia de Traz-os-Mon- tes, vol. 4.° pag. 438, col. 2.» 982 VIL VIL Este Ruy de Niza era natural de Lisboa e casou com a dieta senhora, Isabel (Corrêa) de Mesquita, morgada de Lordello,— 5.» avó paterna do nosso primeiro escriptor contem- porâneo e o mais distincto e fecundo roman- cista que tem tido Portugal,— o sr. Camillo Castello Branco, visconde de Correia Bote- lho K O honrosissimo decreto, pelo qual s. ex.* foi agraciado com o titulo de visconde, é o seguinte : «D. Luiz, por graça de Deus, rei de Por- tugal e dos Algarves, etc. Faço saber aos que esta minha Carta virem que, attendendo ás qualidades que concorrem na pessoa de Ca- millo Castello Branco, e querendo dar-lhe um publico testemunho da minha real con- sideração e do apreço em que tenho o seu distincto merecimento litterario: Hei por bem fazer-lhe mercê do titulo de Visconde de Cor- reia Botelho, em sua vida. Pelo que, man- dando eu passar ao agraciado a presente Carta, . . . ordeno ás auctoridades e mais pes- soas, a quem o conhecimento d'esta mesma Carta pertencer, que. . . a cumpram e guar- dem como n'ella se contem. . . Não pagou direitos de mercê, imposto de viação, nem emolumentos, por ser d'elles dispensado pela lei2 de vinte de julho de 1885. Dada no Pa- ço da Ajuda em 20 d'agosto de 1885. El-Rei D. Luiz. A. C. Barjona de Freitas.» Nasceu s. ex.a na freguezia de Nossa Se- nhora dos Martyres, em Lisboa, no largo do Carmo, em uma casa fronteira ao convento, no dia 10 de março de 1826, e, tendo vivido alternadamente em Lisboa, Villa Real e.no Porto, em 1866 fixou a sua residência em S. Miguel de Seide, junto de Villa Nova de Fa- malicão, onde vive ainda. Está infelizmente muito alquebrado de 1 Em 1869 o Diccionario Bibliographico de Innocencio mencionou 19 publicações de s. ex.a, mas hoje elevam-se a 155 os volumes que tem publicado (versões e originaes) não podendo calcular-se o que desde a infância tem escripto em prosa e verso para differen- tes jornaes políticos e litterarios. 2 Lei especial, proposta e votada unani- memente pelas camarás, em attenção ao dis- tincto merecimento do agraciado. forças, mas conserva o espirito lúcido e ain- da não interrompeu a sua faina de escri- ptor. Para a biographia de s. ex.» veja-se a mi- mosa publicação— Camillo Castello Branco (noticia da sua vida e obras) por J. C. Vieira de Castro, Porto, 1861;— na Revista Contem- porânea (tomo 1.° pag. 485 a 488)- o bello artigo publicado por L. A. Rebello da Sil- va, acompanhando o retrato do insigne es- criptor,— n'esle diccionario o artigo Seide, vol. 9.° pag. 74, col. 2.» e no Commercio Por- tuguez de 5 de julho de 1884 a interessan- tíssima carta do meu bom amigo A. Lopes Mendes, na local O solitário de S. Miguel de Seide. Veja-se também a Maria da Fonte, uma das mais recentes e mais interessantes publicações de s. ex.a Aqui daremos apenas uma breve noticia genealógica do sr. Camillo Castello Branco, hoje visconde de Correia Botelho, a partir da sua 5.a avó paterna, sepultada no indi- cado mauzoleu da egreja de S. Domingos- Vae longo, muito longo, este artigo, mas não podemos furtar-nos á tentação de ren- der homenagem ao príncipe dos nossos es- criptores contemporâneos, — resumindo o mais possível. I o— D. Isabel Corrêa de Mesquita, mor- gada de Lordello. Casou com o mencionado Ruy de Nisa e tiveram : %°— Francisco de Mesquita Pimentel. Casou com D. Gatharina Correia de Ma- galhães, filfca de Antonio de Magalhães Bar- bosa, morgado de Saboroso, e tiveram: 3. °— Francisca de Magalhães Correia. Casou com Antonio José de Magalhães Correia Pimentel, filho de Thomé de Maga- lhães Pimentel e neto de Gaspar de Maga- lhães e Menezes, dos Magalhães, da Barca. Tiveram: 4. °— D. Maria Luisa de Magalhães Mene- zes. Casou com Manuel Correia Botelho, filho de Domingos Correia Botelho e de Archan- gela Gonçalves; — neto paterno de Jeronymo Correia Botelho e de Francisca Mendes, ju- VIL dia ou ehristã nova,— sendo o dicto Jerony- mo Corrêa filho natural de Martim Macha- do, cavalleiro professo na ordem de S. Thia- go,— e de Rachel Mendes, também judia ou ehristã nova, por alcunha a Barbada *. Tiveram: 5.°— O dr. Domingos Correia Botelho de Mesquita e Menezes, que em 1805 era des- embargador aposentado da relação do Porto. Casou com D. Rita Theresa Margarida Preciosa da Veiga Caldeirão Castello Bran- co, filha de José Pereira da Silva, capitão de infanteria de Cascaes 2, e de D. Theresa Ignacia Castello Branco. Este José Pereira da Silva era filho de Thomé Pereira da Silva, de Leiria, e de D. Isabel de Faria;— neto paterno de Manuel Pereira da Silva e de D. Anna de Mello, fi- lha de Francisco Dias Pimentel e de D. Ma- ria Mendes de Cem ou Ocem; 3— e Manuel Pereira da Silva era filho de Agostinho Cer- veira Botelho, desembargador d'el-rei D. João IN. e de D. Helena Pereira da Silva, de Guimarães, filha do desembargador Manuel Affonso de Carvalho. D. Theresa Ignacia Castello Branco, supra mencionada, era filha bastarda de Francisco de Sousa Castello Branco, cavalleiro da or- dem de Malta, e de D. Joanna da Veiga Cabral Caldeirão*;— neta paterna de Pedro de Sousa Castello Branco, general de batalha e escri- ptor publico 5, e de D. Helena Mafalda Cas- 1 Não se assustem os leitores com a rude franqueza do pobre linhagista mencionando christãos novos entre os ascendentes do sr. Camillo Castello Branco. Rien n'est beau que le vrai, — es. ex.a nos deu aso com o bello artigo que muito recentemente publicou, sob o titulo Jasigo de A. Herculano, na revista politica e litteraria Republicas (1.° anno, n.° 45 da 2.» série) da qual é director politico o sr. Thomaz Bibeiro e director litterario o próprio sr. visconde de Correia Botelho. 3 D'estes Pereiras da Silva era, ainda ha poucos annos, representante a viscondessa d'Alcobaça. 3 V. Ocem n'este diecionario. 4 Cora relação a estes Caldeirões, veja-se Sentimentalismo e historia pelo mesmo sr. Camillo Castello Branco (no vol. Euzebio Ma- cário) pag. 171 e 172, da 2.a edição. • V. Diecionario Bibliographico de Inno- cencio F. da Silva. VIL 983 tello Branco;— e este Pedro de Sousa era fi- lho de José de Sousa Castello Branco, se- nhor do Guardão l, e de Isabel de Sousa Albergaria;— e D. Helena Mafalda era filha de Antonio Vaz de Castello Branco e de D. Maria de Sousa Castello Branco. D. Joanna da Veiga Cabral Caldeirão, su- pra mencionada, era filha de Francisco Cal- deirão da Veiga Cabral e de D. Marianna Bembo de Sousa; neta paterna de Rodrigo Caldeirão e de D. Joanna da Veiga Cabral, — e materna de Fabrício Bembo, milanez, e de Maria de Sousa. O dr. Domingos Correia Botelho de Mes- quita e Menezes e D. Bita Theresa Margari- da Preciosa da Veiga Caldeirão Castello Branco tiveram: 6.° — Manuel Correia Botelho Castello Branco, 2 pae do sr. Camillo Castello Bran- co, hoje visconde de Correia Botelho, e de D. Carolina Rita Botelho Castello Branco, residente em Villarinho da Samardã, conce- lho de Villa Real, viuva do medico Fran- cisco José d'Azevedo, da qual teve o bacha- rel em direito Antonio d'Azevedo Castello Branco, que já foi deputado ás cortes e é ho- je vice-direetor da Penitenciaria, em Lisboa* — e o bacharel em medecina José d'Azevedo Castello Branco, actualmente deputado ás cortes, distincto parlamentar e ambos nota- bilissimos escriptores públicos. O sr. visconde tem 2 filhos perfilhados, —Jorge Camillo Castello Branco, hoje de 22 annos de idade, que indoudeceu em Coim- bra, quando ali estudava preparatórios,— e Nuno Plácido Castello Branco, hoje dé 20 annos de edade, viuvo de D. Maria José da Costa Macedo, do concelho de Villa Nova de 1 Os representantes dos senhores do Guar- dão actualmente são José de Sousa Castello Branco e seus netos, filhos de D. Maria da Luz, que foi casada com o dr. Manuel Maria da Silva Bruschy. Enviuvando, casou com o tabellião Eschola de Lisboa (?) 2 Foi cadete da cavallaria de Chaves; fre- quentou a Universidade, mas não concluiu a formatura; exerceu algum tempo o logar de commissario-mór de Villa Real, onde nasceu em 1798, e falleceu em Lisboa em 1836. 984 VIL VIL Famalicão, rica herdeira (a menina dos tre- zentos contos) da qual teve uma Qlha, que falleceu de tenra edade. O mesmo sr. visconde de Correia Botelho teve também de D. Patrocínio de Barros Borges da Costa uma filha natural, D. Ber- nardina Amélia Castello Branco. Nasceu em Villa Beal em 1849;— casou no Porto com o sr. Antonio F. de Carvalho, capitalista, e tem successão. Desculpe-nos o sr. visconde de Correia Botelho, nosso bom amigo e mestre, a fran- quesa,— e por certo nos desculpará, tendo s. ex.» escrípto ainda no mez ultimo o bello artigo citado supra e que não podemos dei- xar de transcrever. Vem elle muito a propósito para nossa justificação e para fecharmos com chave d'ouro este tópico relativo ao convento de S. Domingos. Eil-o: O jasigo de A. Herculano «Á portaria do mosteiro augustiniano, da Piedade, em Santarém, chegou em 1762 um homem na flor dos annos a pedir um habi- to. Mostrou pelos seus documentos chamar- se João Correia Botelho, e ser de Villa Beal de Traz-os-Montes. Viera de longe, propel- lido por uma grande catastrophe. A profis- são era o acto finai de uma tragedia que eu escreveria froixamente n'esta minha idade glacial, se tivesse vida para urdir o romance intitulado Os Brocas. Como a historia é en- redada e de longas complicações, nem ainda muito em escôrso posso antecipal-a n'este semanário *. Se eu morrer, como é de espe- rar da medicina, com a mallograda esperança de escrever esse livro, algum de meus so- brinhos encontrará nos meus papeis os ele- mentos orgânicos de uma historia curiosa e recreativa. • O pae do frade augustiniano era Domin- gos Correia Botelho, meu terceiro avó pa- terno. Este homem casára duas vezes. Quan- 1 As Republicas, onde o príncipe dos nos- sos escriptores contemporâneos publicou este artigo. I do, já velho, contrahiu segundas núpcias, entregou aos filhos da primeira consorte os seus avultados patrimónios. João Correia, ao vestir o habito de agostinho descalço, era rico. O outro filho, Manuel Correia Botelho, meu bisavô, residiu em Villa Real. Havia mais duas filhas, que professaram em um mosteiro d'Abrantes. E, como a segunda es- posa lhe morresse, o viuvo, com um filho e duas meninas do segundo matrimonio, foi residir em Santarém, onde o chamavam o amor e a saudade do seu desgraçado João. Domingos Correia morreu á volta dos oi- tenta ânuos, e confiou á protecção do filho frade os seus meio-irmãos José Luiz, Anna Bernardina e Joanna. Em nome de José Luiz Correia Botelho, comprou frei João a quinta de Gualdim, na Azóia de Baixo, onde foi rezidir a família. Depois, ainda a expensas do frade, uniram- se á quinta algumas propriedades circumvi- sinhas, esculpiram na casa o seu brasão d'armas e ahi permaneceram até que este ra- mo da família Correia Botelho, no lapso de vinte e cinco annos, se extinguiu. José Luiz, cavalleiro professo na ordem de Christo, dotára sua irmã Anna Bernardina com a quinta de Gualdim e suas pertenças, para casar com um Ferreira Mendes. Por morte d'este sujeito, casou D. Anna, em 1774, com Pedro Vieira Gorjão, da villa de Torres Novas 1 (sic). 1 Ao meu bom e velho amigo Francisco Palha e ao illustre escriptor o sr. conselheiro Julio Lourenço Pinto, ex-governador civil de Santarém, devo a posse dos documentos que verificam esta suceinta noticia. O theor do registo de casamento de D. Anna Botelho é o seguinte : *Aos 25 do mez de março de 1194, em a ermida da quinta de Gualdim, freguezia de Nossa Senhora da Conceição da Azóia de Baixo, se receberam por marido e mulher Pedro Vieira Gorjão, filho legitimo de Ma- nuel Antunes d' Abreu e Maria Vieira dos Santos, moradores nos togares das (■•■?) fre- guezia de Sauta Maria da Villa de Torres Novas, com D. Anna Bernardina Botelho de Carvalho, viuva que ficou de João Antonio Ferreira Mendes, moradores na sua quinta de Gualdim, filha legitima de Domingos Cor- reia Botelho, já fallecido, e de D. Maria Mon- VIL VIL 985 «Não teve D. Anna filhos d'algum dos ma- ridos; mas em 1807 chamou para a sua com- panhia um afilhado e sobrinho do segundo esposo, que também se chamou Pedro Vieira Gorjão. José Luiz Correia Botelho falleceu em 4 de março de 1808, e sua irmã em 1811, legan- do os seus bens ao afilhado Pedro, sobrinho do seu segundo marido. Este herdeiro uni- versal dos bens comprados pelo frade, veiu a ser o general de brigada Pedro Vieira Gor- jão, que nascera em 28 de maio de 1806, e falleceu na quinta de Gualdim em 9 d'agosto de 1870. Aquelle general foi, como é notório, par- ticular amigo de A. Herculano. É também sabido que o cadáver do egrégio historiador, sete annos depois, foi encerrado no jazigo do seu defunto amigo. Eu não sei se o general Gorjão removeu do carneiro da capella de Gualdim ou do pa- vimento da egreja cie Azóia para o jazigo construído no adro, os ossos dos Correias Botelhos, e especialmente os da sua madri- nha, que privára os consanguíneos da he- rança para lh'a transmittir a elle. É natural que sim, tanto mais que a velha casa (se- gundo informa o sr. João Rodrigues Ribei- ro, illustrado cavalheiro de Santarém) tem sido reconstruída em épocas diversas, e actualmente pouco existe da antiga vivenda: Está tudo reduzido a edificações modernas, leves e próprias para estabelecimento agrí- cola muito irregular. « Conjecturando, pois, que os ossos de A. Herculano esperam a resurreição da carne, de camaradagem com meu terceiro avô Do- mingos Correia Botelho, sinto extraordiná- ria alegria, antevendo o meu antepassado, evidentemente um bronco analphabeto, ao lado do primeiro historiador da Península no dia do Juizo universal ! teiro de Carvalho, naturaes da freguezia de S. Pedro de Villa Real. . . Foram dispensa- dos em 2.° e 4.° gráo d'affinidade, etc. Nota do sr. visconde de Correia Botelho. Por outro lado, contrista-me a idéa de que A. Herculano, na congregação cosmopolita de Josaphat — onde se hade operar a reor- ganisação mucosa e celular dos estômagos e dos fígados — sentirá pejo de se ver ao lado de uns companheiros de jazigo que foram infamados de judeus. Porque meu tio— bi- savô José Luiz Correia Botelho (horresco re^ ferensl) quando professou na ordem de Christo em 1778, viu-se em pancas para contraditar as testemunhas do inquérito que uniformemente asseveravam ser elle terceiro neto do cavalleiro de S. Thiago, Martim Ma- chado Botelho e da judia de Villa Real, Ra- chel Mendes. Ora eu, acreditando por justos motivos que as testemunhas, todas fidalgos de Villa Real, juraram a pura verdade, pre- sumo piedosamente que a veneranda viuva de A. Herculano e os seus amigos, por igno- rância, collocaram em péssima companhia os ossos do plangente cantor da Paixão de Jesus da Galilêa, crucificado pelos judeus. Além d'isso, a sr.a D. Guiomar Torresão.fque visitou Val de Lobos e a sepultura do insi- gne Mestre no adro da egreja d'Azoia, escre- veu por esse tempo uns lucillantes artigos em que deixava entrever o catholicismo dó auctor da Voz do Propheta n'estas expres- sões eloquentes . . .Entramcs na capella (em casa de Herculano) no extremo da qual se vê um altar ricamente ornamentado de lavores dourados e guarnecido de valiosas imagens de uma alvura marfinea que destacam na penumbra recortando os seus bustos seraphi- cos. E accrescenta com litteraria emoção : lnstinctivamente os nossos lábios murmura- ram ali a doce «Preghiera» que A. Hercu- lano põe aos pés do crucificado no admirável prefacio do «Parocho d'aldeia», e pergun- ta-se em que obscuro ponto de cazuistica se fundavam esses juizes da consciência hu- mana que ousaram chamar atheu ao mais crente e virtuoso de todos os espíritos dis- sidentes do velho dogma catholico. . . «Também o sr. Oliveira Martins, sopesan- do a consciência religiosa do preclaro escri- ptor, nos diz no «Portugal Contemporâneo» que Deus era para Herculano o Deus Chris- tão. 986 VIL VIL Pois, não obstante a capella e as imagens idolatricas dos santos em altares ricamente ornamentados— tanto monta que sejam bel- las eseulpturas como grosseiros manipansos —a minha rasão, reagindo aos escrúpulos, suggere-me que Alexandre Herculano, o in- comparável auctor do Estabelecimento da Inquisição em Portugal, — elle que nos fez chorar sobre a sorte desastrosa dos hebreus — não se envergonhará de resurgir da sua primeira para a segunda immortalidade en- tre os obscuros e malsinados descendentes de Rachel Mendes, a judia, por alcunha a Barbada, minha 5.a avó. Visconde de Correia Botelho*. Ipse dixit. Estou justificado e o leitor en- cantado com o adorável estylo do 5.° neto de Rachel Mendes e de D. Isabel Corrêa Rotelho. Agora prosigamos. Convento de Santa Clara Fundou-se este convento em 1602, quando Filippe III governava Portugal, Clemente VIII a nossa egreja e D. Fr. Agostinho de Jesus o arcebispado de Rraga. O rev. licenciado Jeronymo Rodrigues, có- nego na collegiada da egreja de Nossa Se- nhora da Oliveira, da villa de Guimarães, abbade de S. Miguel de Sarzedo e natural d'esta Villa Real, intentando no seu fervo- roso zelo de piedade catholiea fundar um convento, sob a invocação de Nossa Senhora do Amparo, de religiosas de Santa Clara da Villa de Guimarães e do da villa de Ama- rante, chegou a esta villa, sua pátria, a 21 de fevereiro de 1602, na sua tão santa, como firme e virtuosa resolução. Tão crescido era o seu zelo, tão grande a sua piedade que, obviando sem dilação de tempo a todas os necessidades e embaraços que podessem provir á sua empreza, deu principio ás obras do convento a 9 de março seguinte ; pelo que, estando já desaferra- dos os fundamentos, se revestiu o vigário geral, que então era o licenciado Ralthazar Vaz Fagundes, e lançou, no referido dia, com toda a solemnidade, no meio do enthusiasmo popular, a primeira pedra e os alicerces do edifício. j A partir d'aquelle momento, não enfra- | queceu o fundador Jeronymo Rodrigues no | seu santo propósito, nem tão pouco deixou j a obra de progredir por todo o espaço de l seis annos, até á sua conclusão, j A 6 de maio, pois, do anno de 1608, lo- go que o fundador deu por terminados todos os trabalhos de convento, foi elle visto pelo ouvidor da comarca, Gonçalo Lobo Ta- vares, homens da governança e officiaes de justiça, que, examinando todo o edifício, e vendo que estava commodamente construído e, como tal, apto para n'elle se recolherem as já mencionadas religiosas de Santa Clara, passaram as certidões necessárias para os effeitos devidos, e entraram na sua reclusão algumas devotas. Nada mais nos oceorre digno de menção alem do testamento com que falleceu o fun- dador e de que passamos a dar noticia: Deixou por sua morte o rev. licenciado Jeronymo Rodrigues, cónego de Guimarães a seu irmão, o rev. Lourenço Rodrigues, beneficiado da egreja de S. Thomé da Covi- lhã, como seu herdeiro, a quem deixou o padroado do dito convento e o vinculo, que fez de todos os seus bens, com a faculdade d'este o nomear em pessoa do seu sangue, em que se continuasse a successão d'elle por linha de varão mais velho. Deixou mais se- tenta mil réis de renda annual, com que do- tou o convento, além d'outras disposições que foram em resumo as seguintes : Que as religiosas d'este convento de Santa Clara guardariam a regra das de Santa Cla- ra de Guimarães e da villa de Amaran- te ; Que seus votos seriam feitos segundo a mesma regra; Que seriam súbditas dos arcebispos de Rraga; Que guardariam clausura perpetuamente, na fórma dos sagrados concílios; Que resariam todos os dias o officio divi- no, conforme o uso romano; Que a invocação do convento seria a de Nossa Senhora do Amparo, e que se feste- jaria a 25 de março de cada um anno para sempre; VIL VIL 987 Que a abbadessa seria de eleição triennal, sem poder ser recondusida; Que o arcebispo nomeasse uma das reclu- sas mais dignas, e que as outras não podes- sem ser votadas; Que as demais não tivessem voto, salvo tendo cinco annos de habito, como de pro- fessas; Que o prelado lhes nomeasse confes- sor ; Que as religiosas, que houvessem de en- trar perpetuamente no convento, o fossem por approvação das religiosas d'elle e do pre- lado; Que o numero das religiosas não excede- ria a eincoenta, disposição revogada por bre- ves apostólicos, que deram entrada no con- vento a outras muitas. Alguns annos depois prefizeram logo o?numero de sessenta e cin- co ; Que o padroado do dito convento de Nos- sa Senhora do Amparo, das religiosas de Santa Clara, seria seu perpetuamente, como fundador e dotador d'elle, e que depois de seu irmão e herdeiro, o rev. Lourenço Ro- drigues, passaria para seu cunhado Gonçalo Dias da Rosa, casado com sua irmã Rrites Rodrigues; que depois d'este succederia no dito padroado o filho varão mais velho, ao que já fizemos referencia, e na falta d'elle a filha também mais velha; Que, alem dos seus representantes no dito padroado e de sua família e sangue, ninguém mais se sepultaria na capella mór da egreja do convento; Que o padroado do convento ficaria sem- pre livre para os administradores d'elle, sem que pessoa alguma, por illustre que fosse, ecclesiastica ou secular, de qualquer estado ou condição, lh'o podesse tirar ou impe- dir; E, por ultimo, dizia mais o testador e fun- dador do convento, que n'elle reservava qua- tro logares de freiras, tres por uma vez so- mente, para n'elles prover tres parentes suas, sem dote, e um para ficar perpetua- mente para as filhas dos seus successores no padroado, em que seriam providas também sem dote, todas as vezes que vagasse o dito logar, e que, vagando elle, sem que o admi- í ; nistrador na occasião tivesse filha alguma, I poderia nomear em sua substituição uma parente da mesma família e sangue do pa- | droeiro instituidor, sem dependência do pre- lado. Eis o que ha de mais importante com re- lação a este convento; faremos porém ainda ligeira menção de algumas provisões, para que o leitor não desconheça completamente a consideração em que foram tidas as di- tas religiosas de Santa Clara. Entre outras tiveram ellas, a de 24 de janeiro de 1732» que lhes concedia o praso do Pioledo, para que ninguém podesse prejudical-as na agua da sua eérca, tirando-a no dito logar; a 20 de janeiro de 1736, obtiveram outra provi- são, que nomeava o ouvidor da comarca juiz privativo das causas do convento; outra a 23 de setembro de 1739, mandando que as suas dividas fossem cobradas como as da fazenda, e outra a 18 de maio de 1789, conce- dendo-lhes o mesmo privilegio gosado pelos dominicanos e franciscanos, — de lhes ven- derem nos açougues da villa uma certa e de- terminada porção de carne em cada um dos dias de obriga da semana, para não serem, como até ali, prejudicadas. Demora o convento na extremidade N.O. do Campo do Tabolado, em sitio alegre e saudável e com amplas vistas para leste, poente e sul, dominando grande parte das províncias de Traz-os-Montes e da fieira. Tem no topo da fachada leste a egreja, a sacristia e locutórios, para os quaes se en- tra, pela sacristia, que é pequena e hu- milde. A egreja corre de norte a sul;— entra-se para ella por uma porta lateral com arco de volta inteira e ornamentação barata de gra- nito;— tem uma linda pia de mármore côr de rosa;— altar-mór e 2 lateraes com retá- bulos de talha moderna, e mais dois de talha antiga na parede do arco cruzeiro; — ao fun- do dois coros (alto e baixo) — paredes forra- das de azulejo,— tecto apaínelado com pin- turas a oleo;— um pequeno órgão junto do côro alto— e entre este e o púlpito, na pare- de do lado do evangelho, a inscripção se- guinte em lettras douradas : 988 VIL VIL Este Mosteibo fundod e edificou e dotou o l.° d. Jeronymo Roiz, Conigo de G." e Abbade de Cerzedo, natural d'esta vllla real, no anno de 1603 1 he de prez.c padroeiro gonçallo de Lemos Botelho e herdeiros Em 1721 era padroeiro (Teste convento Francisco Botelho Monteiro de Lucena, neto materno do mencionado Gonçalo de Lemos. Entre as religiosas d'este convento é digna de especial menção Leonor de Távora, pela sua illustração e virtudes. Com a vida d'esta religiosa se imprimiu um sermão em 1717, na officina de Paschoal da Silva, impressor de Sua Magestade. Tinha este convento duas cercas, separa- das por um caminho que ia para a villa de Lordello, e sobre este caminho fizeram as freiras arcos por onde passavam de uma cerca para a outra, o que as expunha ás vis- tas indiscretas do publico e a certa ordem de censuras, pelo que o arcebispo D. José de Bragança, estando em Villa Real em 1748, mandou tirar o dicto caminho, pondo em contacto as duas cercas; fez por essa occa- sião outras obras n'este convento— e deu ás freiras a fonte do Amai, que era publica, mas estava dentro da cerca. O mencionado arcebispo D. José chegou a esta villa em julho de 1748 e n'ella se de- morou muito tempo. Esteve hospedado na rua das Flores, na casa de Antonio da Cu- nha Pimentel, fidalgo da primeira nobreza d'esta villa, 3.° avô do sr. dr. Jeronymo da Cunha Pimentel, actual director da Peniten- ciaria, em Lisboa, como já dissemos supra. 1 Assim se lè na dieta inscripção, copia- da por nós em 1883, mas nas Antiguidades de Villa Real se diz que a primeira pedra d'este convento foi lançada com grande pom- pa pelo vigário geral, dr. Balthasar Vaz, no dia 9 de março de 1602 e que foram concluí- das as obras em 1608; — nas dietas Antigui- dades, porém, se encontra a mencionada ins- cripção com a mesma data de 1603!. . . Por essa occasião o mesmo arcebispo au- gmentou o recolhimento de Nossa Senhora das Dores, levantando-lhe os muros da cerca e addiccionando lhe umas boas casas contí- guas, que á sua custa comprou. Logo fallaremos d'este recolhimento, hoje montado no extincto mosteiro das religiosas claristas. De passagem diremos que, além do arce- bispo D. José de Bragança, outros muitos arcebispos honraram com a sua presença esta villa, taes foram o sancto D. Fr. Bartho- lomeu dos Martyres,— depois d'elle D. Ro- drigo de Moura Telles, em 1705, — e ainda no anno ultimo (1884) o sr. D. Antonio de Freitas Honorato. D. Luiz Alves, bispo da Bahia, teve duas irmãs, que foram religiosas professas n'este convento, — Maria do Salvador e Maria de S. Luiz,— e no seu testamento beneficiou es- ta casa com dois contos de réis para uma missa diária e para que annualmente se em- pregassem cinco mil réis nos reparos e con- servação da capella de Nossa Senhora da Piedade, que estava na cerca d'este mesmo convento. Junte-se mais esta capella á lista das capellas d'esta villa. Na dieta cerca houve um cedro magesto- so. Foi plantado por occasião da fundação d'este convento e derrubado por um tufão em 1845, contando já a bagatella de 242 an- nos. Hoje a arvore mais notável d'esta villa é um pinheiro, também secular e magestoso, que se ergue sobre a margem esquerda do rio Corgo, ao nor- te dos moinhos da Peneda, na Íngreme encosta da Raposeira. j Em 1855, aehaudo-se extinetas as rendas d'este convento e sendo habitado por uma única freira, foi esta expulsa e a casa pas- sou para o estado; depois a cedeu ás recolhi- das de Nossa Senhora das Dores, que n'elle se installaram em 19 de julho do mesmo anno e n'elle se conservam ainda hoje (1885) VIL VIL 989 passando o Lyceu para o edifício do Reco- lhimento, onde hoje está o Asylo da infância desvalida. Assim terminou este venerando mosteiro de Santa Clara no fim de 282 annos de exis- tência, e dentro em pouco se extinguirão to- dos, porque o decreto de 28 de maio de 1834» extinguindo no nosso paiz os frades, por muito favor conservou as freiras ao tempo existentes, mas prohibiu-lhes novas profis- sões, pelo que as poucas freiras que hoje restam se acham todas caducas e prestes a cahirem na cova. Só est'anno de 1885 já se fecharam no nosso continente 4 conventos de freiras 1. . . Estas religiosas de Santa Clara foram sem- pre muito austeras no cumprimento dos seus votos e por isso nos surprehendeu o Episodio monástico, que em dois folhetins do Districto de Villa Real, de 17 e 21 de julho do corrente anno de 1885, publicou o sr. dr- Jeronymo da Cunha Pim«ntel, já menciona- do, oriundo d'esta villa e cavalheiro respei- tabilissimo. O facto é curioso e, em resumo, o seguinte: Episodio monástico Em certo dia de dezembro de 1718 deu-se uma grande rebellião n'este convento, divi- dindo-se as religiosas e noviças em dois bandos, sendo um d'elles capitaneado por uma senhora muito das relações do dr. José Pinto de Mesquita, abbade da Cumieira, que havia sido desembargador da relação eccle- siastica em Braga e depois auditor do exer- cito,—homem rico, illustrado e de grande valimento. Por seu turno as freiras do outro bando também tinham poderosos protecto- res, todos bem prevenidos. Um dos bandos era formado pela abbades- sa com as freiras mais edosas e pugnava em favor da disciplina claustral,— o outro cora- prehendia as freiras mais novas e represen- tava a rebellião, que principiou logo de ma- nhã e, serenando por momentos, em breve recrudescia com mais força. O vigário geral, prevenido pela abbadessa, dirigin-se ao convento e, depois de uma grande pratica e severa admoestação, reti- VOLUME X rou-se convencido de que a tempestade pas- sára; mas notando a abbadessa que as frei- ras rebeldes se propunham n'aquella noite fugir do convento, auxiliadas pelos seus pro- tectores, avisou immediatamente o vigário geral e as auctoridades, invocando o seu au- xilio, o que precipitou os acontecimentos, porque as freiras rebeldes avisaram os seus protectores,— dirigiram-se estes logo ao eon- vento — e as taes senhoras, auxiliadas por elles, nomeadamente pelo abbade da Cu- mieira, forçaram as portas e sairam de rol- dão para a rua ! . . . Ignoram-se os nomes d'aquelles cavalhei- ros, mas sabe-se que pertenciam ás primei- ras famílias da terra e que, receando as con- sequências, iam mascarados. A noticia de que as freiras queriam fu- gir do convento espalhou-se rapidamente por toda a villa e, quando sairam, já era grande o concurso do povo cá fóra. Este fa- cto e a presença do vigário geral desnortea- ram os revoltosos que, indo já em meio do campo do Tabolado, instinctivamente resol- veram acolher-se á egreja do convento dos frades de S. Domingos, que ficava ali. Um frade leigo, que estava á porta da egreja, oppoz-se, mas um dos mascarados que as acompanhava brindou o pobre leigo com algumas facadas! Bem se esforçou o vigário geral para que as freiras se recolhessem ou- tra vez ao seu convento, mas foi insultado e desacatado por ellas e pelos seus protecto- res, tendo de fugir a bom correr, para não ser espancado I. . . Não diz o sr. dr. Jeronymo Pimentel o que mais se passou n'aquelle dia; mas accres- centa que no seguinte partiu para Braga o vigário geral e expoz tão estranha occorren- cia ao arcebispo D. Rodrigo de Moura Tel- les, que ficou estupefacto e traetou de pro- videnciar immediatamente com a energia que lhe era própria. Reuniu em tribunal pleno a relação eccle- siastica na tarde d'aquelle mesmo dia: — ex- poz-lhe a questão;— mandou instaurar o pro- cesso com urgência— e em seguida o enviou a S. M. el-rei D. João V. 63 990 VIL VIL Não se demoraram as providencias. Por ordem d'el-rei partiu de Chaves para Villa Real uma força militar de 100 homens de infanteria e 100 de cavallaria— e da re- lação do Porto um desembargador com or- dens terminantes para devassar dos aconte- cimentos. Por seu turno o arcebispo mandou o seu vigário geral, Agostinho Marques do Couto, com alçada dobrada e poderes especiaes— e o ouvidor da villa foi logo dado por suspeito e mandado retirar da comarca. Tremeram de susto as madres claristas e os seus nobres e poderosos protectores quan- do viram encastellar-se tão negras nuvens sobre a capital transmontana. Era imminente a tempestade e parecia que a cólera de Deus e dos homens ia fulminar as pobres freiras e todos os seus cúmplices; vejamos porém o resultado : O processo correu seus termos, mas taes foram os empenhos, as alliciações e amea- ças, que de todos os implicados na façanha apenas se apurou um,— o dr. José Pinto de Mesquita, abbade da Cumieira!. .. Foi pre- so e mettido na cadeia do castello de Braga, no dia 17 de fevereiro do anno seguinte — 1719. ' Emquanto ás freiras, o castigo pesou ape- nas sobre as duas consideradas cabeças do motim. Foram degradadas do seu convento — uma para o dos Remédios em Braga,— e outra para o da Conceição, da mesma cida- de, onde deram entrada no dia 11 de março de 1719, sendo conduzidas em uma liteira e acompanhadas pelo vigário geral. Assim terminou tão estranha occorrencia. As Antiguidades de Villa Real, escriptas pouco tempo depois (em 1720 a 1721) guar- daram profundo silencio a tal respeito para não aggravarem as feridas mal cicatrisadas ainda e porque o facto, além de envolver pessoas poderosas (algumas talvez perten- centes à família do auctor das Antiguida- des!. . .) era muito desairoso para a villa. Também nos quer parecer que as Anti- guidades, para não exporem a desaire a pro- sápia dos villarealenses, não disseram o que o auctor muito provavelmente sabia e que nós já dissemos e se lê hoje nas Memorias d' Anciães: — que a antiga capital de Panoias, hoje representada por Villa Real, antes da fundação d'esta villa por D. Diniz, obedeceu á villa d' Anciães e foi um julgado d'ella t. Umas vezes o amor pátrio, outras vezes o receio de vindictas e desgostos quando se tracta de certa ordem de factos, tolhem a penna do historiador. Em verdade seria uma imprudência peri- gosa narrar o que se passou com as taes frei- rinhas, quando ainda viviam, e na mesma povoação, os heroes que as acompanharam e apunhalaram o pobre frade, etc, — todos visinhos e bem conhecidos do auctor ou au- ctores das Antiguidades!. . . Recolhimento de Nossa Senhora das Dores Esta piedosa instituição data de 1737, an- no em que o padre José Ferreira Esteves, natural d'esta villa, mandou fazer uma Ca- pella com a invocação de Nossa Senhora das Dôres, contigua ás suas casas, premeditando transformal-as, como transformou, em um recolhimento. N'ellas se installaram logo duas virtuosas senhoras — Antónia e Josepha de Chri9to,— irmãs do fundador. Em 1748, indo o arcebispo de Braga a Villa Real e visitando a dieta capella, não só approvou a instituição do recolhimento, mas deu ao benemérito fundador a impor- tante esmola de 400$000 réis para a compra d'umas casas próximas, na rua das Pedri- nhas, hoje rua de S. Paulo, que foram pos- tas em communicação com as do fundador. O mesmo arcebispo ordenou que as reco- lhidas adoptassem a regra carmelitana, re- formada por Santa Thereza,— deu-lhes esta- tutos, que foram depois confirmados pelo arcebispo D. Gaspar, — e licença para aggre- garem a si mais senhoras, precedendo po- rem sempre auclorisação do ordinário. Deu-lhes também o officio de contador e distribuidor do juiso ecclesiastico desta villa cujo rendimento orçava por 30$000 réis an- nuaes. 1 V. pag. 936. col. 2.a e seguintes supra — e o topieo Feiras infra. VIL VIL 991 Fallecido o fundador, continuou seu so- brinho, padre José Ferreira de Carvalho, a proteger e favorecer com o maior zelo a nas- cente instituição. Não só lhe deu muitas es- molas, mas diligenciou e obteve breve apos- tólico para Santíssimo permanente na Ca- pella e bulia de confirmação para os estatu- tos. A requerimento do mesmo padre, D. Ma- ria I, por alvará de 16 de março de 1779, concedeu que as recolhidas podessem con- tinuar a viver em forma de religiosas clau- suradas, como viviam, mas com votos sim- ples, sujeitas ao ordinário, e que nunca este recolhimento poderia transformar-se em convento, nem adquirir bens immoveis, além dos que já possuia, limitando ao mes- mo tempo a 33 o numero das recolhidas. Em 1783 requereram ellas á mesma rai- nha, expondo-lhe as precárias circumstan- cias em que viviam e pedindo que lhes ce- desse i:200$000 réis das cisas de Penaguião para fazerem um dormitório, por ter a casa apenas commodidade para 18 recolhidas. A piedosa rainha as attendeu, conceden- do-lhes, em vez do que pediam, todas as ci- sas sonegadas e occultas desde 20 annos, com a obrigação de terem duas mestras para leccionarem as pensionistas que quizessem educar- se no recolhimento, pagando cada uma das pensionistas 40$000 réis annuaes para sua alimentação,— e que as dietas mes- tras ensioariam gratuitamente as meninas pobres da villa, se a camará quizesse fazer no recolhimento aulas para as meninas, fóra das grades, e de modo que as mestras as po- dessem leccionar sem quebra da clausura. Ali esteve o recolhimento até 19 de julho de-1856, data em que se transferiu, como já dissemos, para o extincto convento de Santa Clara, onde funeciona ainda hoje, compre- hendendo o pessoal de 30 senhoras e meni- nas internas, sob a intelligente direcção da ex.m* sr.a D. Florinda Elisa da Silva, sua re- gente, natural de Villa Pouca d'Aguiar. A penúria que assola actualmente o Dou- ro, proveniente da invasão phylloxenca, re- duziu a pouco mais de 250$000 réis o ren- dimento annual d'esta excellente casa de educação, mas ainda assim conservam a sua egreja muito limpa e n'ella fazem todos os annos pomposa festa á Senhora das Dores, sua padroeira, e ao Sagrado Coração de Je- sus,—alem das festas da semana Santa e do Natal. Ficando devoluto o edifício do recolhi- mento, n'elle se installou e conservou o Ly- ceu até que se transferiu para o palácio que foi do general Silveira, conde de Amarante — e por ultimo, montando-se n'este palácio outras repartições publicas, passou para a casa onde actualmente funeciona. Em 1860 se installou no edifício do reco- lhimento a estação telegraphica e ali esteve até o dia 17 de novembro de 1865, data em que se transferiu para casa própria, feita de novo em frente do edifício do recolhimento, e n'este se montou o Asylo da Infância Des- valida, que ainda hoje n'elle se conserva, por doação do ministério da fazenda, com data de 27 de junho de 1864. De passagem diremos que este Asylo foi fundado em 1865 e se inaugurou no dia 16 de setembro d'aquelle anno, recebendo 6 ra- pazes e 6 meninas. Hoje porém conta um numero mais elevado. A capella do recolhimento foi demolida para alinharem a estrada-rua que n'aquelle ponto separa da rua do Carmo a de S. Paulo e que segue pela da3 Casas Novas, hoje rua da Boa Vista, etc. Termo antigo de Villa Real Quando D. Diniz fundou esta villa e lhe deu o seu (d'elle) primeiro foral supra tran- scripto, deu-lhe por termo toda a turra de Panoias e ainda algumas povoações mais fóra d'ella. Com o decorrer do tempo mui- tas povoações foram desannexadas do vasto termo d'esta villa, mas D. Fernando I lhe tornou a unir algumas, taes foram Gouvães. Favaios Paredes, Alijó, Tres Minas, Jalles, Lamas d'Orelhão, etc, que já tinham per- tencido a Constantina e à própria Villa Real, O mesmo D. Fernando, por decreto de 12 de dezembro da era de 1107 (anno 1369) datado de Coimbra, prohibiu que as men- 992 VIL VIL cionadas povoações tivessem justiças pró- prias,— vereadores, tabelliães, meirinhos, etc, e ordenou que para todos os negócios judiciaes e administrativos fossem a Villa Real,— ordem barbara e duríssima, porque todos aquelles povos distavam de Villa Real 30 a 40 kilometros e os caminhos n'aquelle tempo eram uma sequencia de barrancos e precipícios medonhos, cortados apenas pelas ferraduras das bestas de carga e pelas ro- das dos carros tirados por bois, atravez de desertos povoados de lobos, javalis e ursos, pelo que os dictos povos tractaram de reco- brar a sua independência. Canellas tornou a ser villa e concelho e só n'ella entrava por correição o ouvidor de Villa Real;— Jalles passou para a coroa e fi- cou pertencendo á comarca de Guimarães; —o couto de Paredes, hoje Parada de Pi- nhão (Honra e meia (?) de Parada de Pi- nhão) foi feito honra e dado ao senhor de Villa Flor, D. Pedro de Castro e Sousa, por escambo da honra que tinha dentro de Villa Real e que era formada pelas ruas da Mise- ricórdia, Aljube e Praça Velha, o que sobre modo complicava a administração da justiça. Lamas d'Orelhão erigiu-se em villa pró- pria, embora pertencente á correição de Villa Real;— as villas de Lordello, Gallegos e Val- longueiras foram doadas aos Tavoras,— e os coutos de Gouvães, Provezende e S. Mamede de Riba-Tua passaram para a mitra primaz, etc. Em quanto a Provezende e S. Mamede, achou-se em 1721 no archivo da camará de Villa Real um pergaminho, do qual constava que D. Pedro I fez mercê ao arcebispo D João, o Cordalaco, da junsdicção de Prove- zende pela mesma guisa que a tivera o seu antecessor D. Guilherme. Tem o mencionado pergaminho a data de 6 de maio de 1401 (anno 1363). E a 24 de junho do mesmo anno fez D. Pedro I ao ar- cebispo também mercê do couto de S. Ma- mede de Riba-Tua, ou de Foz-Tua; mas de outras memorias consta que em 1436 o ar- cebispo D. Fernando emprasára este couto a um fidalgo de Villa Real, de nome Alvaro Rodrigues Taveira, por 50 dobras da banda de Castello com a obrigação de estabele- cer ali alguns casaes que povoassem e arro- teassem o dicto chão e conservassem a sua egreja. Provezende já era dos arcebispos de Rra- ga desde 1130, o que muito claramente di- zem as inquirições de D. Sancho I, D. Affon- so III e D. Diniz. Este couto foi dado aos congregados de Santa Marinha de Provezende por D. Affonso Henriques em 1128 e por elles deixado em testamento ao arcebispo D. Paio Mendes, com approvação do mesmo soberano. O couto de Gouvães houve-o a mitra pri- maz por escambo cora D. Sancho II em 1238. De passagem diremos que o foral de D. Af- fonso III dado a este eouto e que se guar- dava como tal no archivo da sua camará, andava trocado por engano da copia que veio da Torre do Tomho, porque n'elle se diz que este couto de Gouvães (do Douro) tinha por limites. . . Santa Martha e Penduradeiro, al- deias visinhas de Gouvães da Serra, fregue- zia do concelho de Villa Pouca d'Aguiar. Copiaram pois para Gouvães do Douro o foral de Gouvães da Serra!. . . Aproveitando o ensejo, faremos aqui al- gumas rectificações ao artigo Provezende, vol. 7.° pag. 680, col. 2." e seguintes. Por causa da grave doença que ao tempo afifligia o meu benemérito antecessor, e dos emmaranhados apontamentos que recebeu, não conhecendo Provezende, tropeçou mui- tas vezes. l.°— A pag. 681, col. l.a disse que o au- ctor do Enchyridion arremeçou as datas sem attençao alguma. Foi sempre exacto n'este ponto aquelle auctor; note-se porem que nas datas não usou 1 Banda de Castella não significava lado de Castella. Aquellas dobras foram creadas por D. Affonso XI de Castella e tomaram aquelle nome por terem no cunho a insígnia da ordem da Banda, instituída pelo mesmo rei para commemorar a batalha do Salado, dando-lhe o valor de 216 réis, mas entre nós corriam por 200 réis n'aquelle tempo, tendo valido 230 réis. VIL VIL 993 da era de Cesar, mas do anno do nascimento de Christo, como lhe cumpria, escrevendo em 1720. Só quando citou o epitaphio da sepultura de Barcos usou da era de Cesar, que aquella sepultura tinha. 2. °— Disse que Provezende a principio de- morou em S. Joannes. Suppõe-se que esteve em S. Joannes tem- porariamente; mas que a sua primitiva fun- dação teve logar no sitio que hoje occupa. 3. ° — Zaide não é nome de mulher, mas de homem. O commandante do 2.° corpo de mouros que invadiu a península com Tarik era Zai- de-aben-Kesadi; — o prefeito da policia de Cordova em 888 era Zaide;— entre os mou- ros houve um historiador de nome Zaide; —o ultimo defensor de granada era Zaide e o do forte de Sacavém era Bezai-Zaide. í.°—Atarte é nome assyrio, não árabe. Os assyrios vieram em 742 para a Hespa- nha em tão grande numero que Thuabah- Iben-Salamah chegou a ser emir de Cor- dova. 5. °— Disse que Provezende foi nome de homem. Nunca encontrei tal nome em livro ou documento algum. 6. °— S. Joannes e Lameirão (pag. 683) são um e o mesmo terreno; mas denominou-se primitivamente S. Joannes o chão onde hoje está Provezende. O meu antecessor confun- diu estes sitios uns com os outros, bem co- mo a capella de S. Domingos com a de Santa Marinha. 7. °— Os habitantes do Lameirão regressa- ram para Provezende em 1188 do nascimen- to de Christo, — não da era de Cesar. 8. °— Em Provezende não havia fortaleza alguma, mas no cume do monte próximo. 9. °— Zaide devia fallar a lingua dos pe- ninsulares, porque era natural de Toledo e viveu sempre em Hespanha. 10. °— As cruzes de Santa Marinha teem a forma da balsa dos templários; mas suppo- mos serem as cruzes da sagração da capella, no tempo em que foi matriz. 11. °— Na dieta capella nunca houve jasigo real Quando muito foi promeltida aos con- gregados essa honra. 12. °— Não eram os cavalleiros do templo que vinham de longe enterrar-se ali; — mas os freguezes da vasta parochia, cuja matriz foi Santa Marinha. 13. °— A primeira doação de Provezende, ou de Santa Marinha, com certesa não foi feita por D. Urraca, rainha de Leão, mas por sua mãe D. Constança, que doou Provezende ao arcebispo, pelos annos de 1080 a 1083; — cahiu em poder dos mouros talvez em 1084; sendo estes expulsos pela rainha D. Theresa em 1115, foi novamente doada aos congregados de Santa Marinha por D. Affon- so I, em 1128 e por elles deixada em 1130 aos arcebispos, em cujo poder se conservou até 1834. 14. °— Disse o meu antecessor— que os ro- manos tiveram no monte de S. Domingos uma fortalesa e um templo dedicado a Dia- na. Suppõe-se que ali houve somente um Cas- tello dos mouros e, se existiu em Provezen- de algum templo de Diana, devia estar em Santa Marinha. 15. "— A pag. 689, col. 2.a, diz que a ca- pella de Santa Marinha nunca soffreu a mí- nima alteração no seu material, nem no seu culto. Cest trop fort; pois como pôde tal crer-se passando ella dos romanos para os godos, — d'estes para os mouros — e dos mouros para os christãos? 16. °— A pedra que diz Ostius (V. a mesma pagina) nunca foi nem podia ser marco mil- liar. 17. °— Não foi Lourenço Pires (pag. 702, col. 2.a) quem acompanhou D. Sebastião, mas Domingos Lopes, filho do dicto Lou- renço. 18. °— Diz que de Leonardo da Cunha Go- dinho (pag. 706, col. 2.» e 707, col. l.a) não houve descendência. Teve José Pinto da Cunha Pimentel e ou- tros muitos filhos. A casa das Devesas não era de Leonardo da Cunha, mas de José de Freitas, sobrinho da mulher de Leonardo. 19. °— D. Clara Saavedra y Romay (pag. 707, col. l.a) não procedia dos Saavedras portuguezes, de Lumiares, mas das casas e 994 VIL VIL solares de Romay y Rosal, Maheda e S. Da- mião, na Hespanha. Fica assim desde já rectificado o artigo Provezende. Campo do Tabolado Tem esta villa um bom campo, denomi- nado Campo do Tabolado. É quadrilongo e tres a quatro vezes mais comprido do que largo, pois corre de N. a S. com suave de- clive, e tem de comprimento 1 : i 75 palmos, — de largura no cimo, ou de E. a O. 285 palmos, e no fundo 150,— segundo se lê nas Antiguidades de Villa Real; mas ao fundo soffreu nos últimos tempos algumas modifi- cações e tem maior espaço, depois que se demoliram a capella e o hospital do Espirito Santo e se fizeram outras expropriações, for. mando o Largo do Conde de Amarante, em frente do palácio que foi do conde d'este ti- tulo (general Silveira). É este campo muito central e todo cerca- do de bons edifícios. Mencionaremos apenas os seguintes : Na extremidade N.O. o antigo convento de Santa Clara, hoje Recolhimento de Nossa Senhora das Dôres, ambos já descriptos. Se- guem-se d'este lado oeste, descendo,— os an- tigos Arcos da Praça, galeria coberta e que se apoia em 14 arcos de granito, mandada fazer pela camará em 1749 e feita pelo mes- tre pedreiro Lourenço de Mattos. Decora esta galeria uma grosseira estatua de Villa Real, em fórma de mulher, vestida de guerreiro com lança, escudo e capacete, tendo no pedestal a inscripção seguinte : quod regale n0men gero mlhi robore partu est. Regia non aliter nomina parta geras Talvez possa traduzir-se assim : t—O nome de Villa Real que tenho con- quistei-o com grande esforço *. Não queiras titulos reaes obtidos por outra fórma.» 1 Isto se refere talvez aos heróicos servi- ços dos condes, marquezes e duques, seus antigos senhores; mas o titulo de Villa Real Estes arcos eram occupado3 pelos tendei- ro3 e ourives nos dias de feira e n*elles se abrigavam também os pobres, antes da fun- dação do hospital da Misericórdia, como já dissemos; vão porém ser demolidos ainda est'anno de 1885, porque no chão que elles occupavam e no que foi da cerca dos frade3 dominicos, a oeste, se anda construindo um mercado coberto,7obra importante e que re- presenta um grande melhoramento para esta formosa villa. Também ao sul dos dictos arcos esteve a Roda dos Expostos. Seguia-se por este lado O. o convento de S. Domingos, de que já fizemos menção. D'elle resta apenas a egreja que, depois da extincção das ordens religiosas, é a matriz da parochia de S. Diniz. No chão do convento fizeram vários edi- fícios particulares e n'elles se acham hoje montados dois hotéis, uma estação de dili- gencias, etc. A juzante da egreja de S. Domingos se er- gue no campo do Tabolado o esvelto Chafa- riz do Repucho, mandado fazer em 1532 pelo benemérito protonotario D. Pedro de Castro, em substituição d 'outro chafariz mais hu- milde que havia no mesmo local desde tem- pos muito remotos, pois já em 1424 a cama- rá cedeu aos dominicos um anel da agua que ia para o mencionado chafariz. Alem da bacia inferior tem outra superior formada por uma só pedra, um grande mo- nolitho que tem de circumferencia 34 pal- mos,—dizem as minhas Antiguidades, mas outros apontamentos lhe dão 54 palmos de circumferencia e 18 de diâmetro ! Do meio d'este monolitho se ergue uma elegante cúpula com as armas reaes portu- guezas. Quand© ali se collocaram as dietas armas deram-se peripécias que forneciam assumpto - para outro poema da indole do Hyssope de Antonio Diniz da Cruz. Como houvessem muitas famílias nobres em volta do mencionado chafariz e todas vem de tempos muito mais remotos, como já dissemos no principio d'este artigo e se lê nos foraes de D. Diniz e de D. Affonso III. VIL VIL 995 quizessem que as diclas armas ficassem olhando para os seus prédios, o que era im" possível por serem muitos em todos os qua- drantes, levantou-se uma bulha irrisória e tremenda, que durou muito tempo e envol- veu grande parte da nobreza d'esta villa. Depois das scenas mais cómicas resolveu- se que o brasão ficasse voltado como está para o poente, porque n'esta direcção vivia a maior parte dos nobres litigantes, taes eram os Macedos, Taveiras, Cunhas Botelhos e Teixeiras Botelhos da casa d' Anta, os Ni- sas Mesquitas de Lordeilo, Correias e Ama- raes. É este chafariz o mais notável da villa; em 1832 se reconstruiu a bacia inferior, dando-se-lhe maiores dimensões— e, segun- do se lê nas Antiguidades de Villa Real, quando o benemérito protonotario o concluiu os moços da villa cantavam: Vamos ver o chafariz Que agora se fez; Fel- o o protonotario • E não o marquez. Com a expropriação do hospital e da Ca- pella do Espirito Santo, supra mencionados, avançou este grande rocio em 1864 alguns metros mais para o sul, formando em frente do palácio dos Silveiras o Largo do Conde d'Amarante e, — coisa também curiosa,— sen- do o vasto campo do Tabolado hoje todo li- so, sem intermittencias e muito regular, tem 3 nomes! A extremidade sul denomina-se Largo do Conde d' Amarante, — a extremidade norte Praça de Luiz de Camões— e a parte intermédia Largo do Chafariz I E, quando avance mais para o sul até o Hospital da Di- vina Providencia, como se projecta, muito provavelmente ainda darão a essa parte o nome de Largo do Hospital. Este grande e bonito campo que nós con- tinuaremos a denominar, como sempre se denominou, Campo do Tabolado, é hoje liso e sem arvoredo algum nem intermittencias além do chafariz do repucho, porque n'elle se fizeram sempre os torneios, danças publi- cas, touradas, cavalhadas e as grandes fes- tas da villa,— n'elle se fazem ainda hoje os mercados semanaes, e por occasião da gran- de feira de Santo Antonio n'elle se faz a fei- ra do gado cavallar e todo o seu chão é pre- ciso para correr os cavallos; mas outr'ora foi povoado de oliveiras, algumas das quaes fo- ram mandadas cortar pelos marquezes, co- mo dissemos no tópico relativo ao convento de S. Domingos. Teve também na extremidade norte, em frente do convento de Santa Clara, uma Ca- pella e outra junto do convento de S. Do- mingos, como já dissemos. Também n'elle pompeou junto d'este ul- timo convento muitos annos o grande cru- zeiro que hoje se vê no adro da egreja de S. Domingos, em frente da porta principal d'ella, para onde foi removido em 1843 para desaffrontar o dicto campo. É um dos cruzeiros mais notáveis do nos- so paiz,— não por ser muito ornamentado, pois tem uma haste redonda e lisa, encima- da por uma cruz singela; mas por ser de granito e de uma pedra só a haste e a cruz, tendo o grande monolitho de altura total i4 palmos,— não contando os degraus que lhe servem de pedestal. Foi feito em 1594 por uma finta lançada ao povo e collocado primitivamente no di- cto campo, na linha divisória das duas fre- guezias da villa. De passagem indicaremos 3 cruzeiros de granito, também notáveis:— um está em fren- te do extincto convento de Tibães,— outro no Campo de' 'Sant' Anna, em Braga,— outro es- teve no Campo do Tabolado, em Lamego, junto do convento dos gracianos, e foi pelo meiado d'este século removido para o cemi- tério publico d'aquella cidade, tendo sido feito para commemorar a feliz revolução de 1 de dezembro de 1640. Antes de deixarmos o Campo do Tabolado de Villa Real, diremos que entre os edifícios do lado E. avultam a meio d'elle as ruinas da nobilíssima e antiquíssima Casa do Arco, assim denominada por ter sobre a rua pró- xima um arco de granito com uma capella 1 1 Era da invocação de Nossa Senhora do Loreto. Junte-se também mais esta capella á lista das capellas d'esta villa. 996 VIL VIL em que se celebrava missa que o povo ou- via da rua, — arco e capella que foram de- molidos pela camará em 18 d'outubro de 1856, para desaffrontar a dieta rua. Este edifício soffreu muitas reconstruc- çòes, mas ainda conserva um lanço com ameias e algumas janellas e portas ogivaes; era bastante espaçoso, pois tem 200 palmos de frente, e pelo dicto arco prendia com muitas casas (221) que foram dependência d'elle, na rua Nova do Arco e na da Ferra- ria. Era o palácio dos marquezes de Villa Real; — depois de extinctos, passou, como já dis- semos, para o infantado— e da casa do in- fantado passou por emprasamento para os ascendentes dos Guedes Pereiras Pintos de Athaide Malafaias, ainda hoje seus possui- dores, representados por D. Franciseo, resi- dente na sua não menos nobre casa e honra de Barbosa, na freguezia de S. Miguel e S. Thomé de Rans e Canas, concelho de Pena- fiel, bem conhecidos ali por fidalgos de Bar- bosa, mas emquanto viveram em Villa Real, na dieta casa do Arco, até 1835, eram co- nhecidos por fidalgos do Arco, e durante mais de um século oceuparam um logar distin- ctissimo entre a primeira nobreza de Villa Real. Posto que este artigo vae já muito longo, não podemos resistir á tentação de dar, em- bora em resumo, a genealogia dos Guedes, senhores de Murça e das casas do Arco e de Barbosa 1. °— -D. Mendo Guedes Moncorove, de To- ledo, que ali viveu antes da tomada de To- ledo por D. Affonso VI. Era descendente de Evancio, sobrinho e copeiro-mór de Chinda Windo, 28.° rei dos Godos. Casou com. . . e teve 2. ° — D. Gueda, o velho. Casou com. . . e teve 3. ° — D. Mendo Guedes. Casou com D. Sancha e teve 4. °— D. Gomes Mendes Gedeão. Casou com D. Chamoa Mendes de Sousa, filha de D. Men- do Viegas de Sousa, e teve 5. °— D. Guedas Gomes, que esteve com D. Sancho de Castella na tomada de Sevilha. Casou a 1.» vez com D. Urraca Henriques Porto Carrero, filha de Henrique Fernandes Magro e de sua mulher Ouroanna Bey- monde Porto Carrero, e teve 6. °— Alvite. . . Casou com D. Urraca Mendes de Gondar, filha de D. Mendo de Gondar, natural das Astúrias, que veio para Portugal com o con- de D. Henrique, e teve 7. °— D. Gueda Alvite. Casou com D. Ma- rianna Viegas do Vinhal, filha de Egas do Vinhal, de Toledo, que veiu também para Portugal com o conde D. Henrique e teve 8. °— D. Paio Guedes. Casou com D. Urraca Paes de Grade e teve 9. °— Lourenço Paes de Grade. Casou com D. Maria Martins Cabeça, e teve 10. °— -Vasco Lourenço Guedes. Casou na Galliza em 1404 e teve 11. °— Gonçalo Vasques Guedes. Veiu para Portugal servir o nosso D. João I, que lhe deu as terras de Lomba, Val Passos e outras que tinham sido de Martim Gonçalves de Athaide; mas voltando este ao serviço de Portugal, D. João I lh'as restituiu e em com- pensação deu a Gonçalo V. Guedes Murça, Agua Revez e Torre de D. Chama, de juro e herdade, pelo que foi o 1.° senhor de Murça. Casou com D. Isabel de Mello e teve 12. °— Pedro Vasques Guedes, 2.° senhor de Murça e da grande casa de seu pae. Casou com . . . e teve 13. °— Gonçalo Vasques Guedes, 3.° senhor de Murça. Casou com D. Isabel d'Alvim, filha de Pe- dro de Sousa e Alvim, alcaide-mór de Bra- gança, e teve 14. °— Alvaro Vasques Guedes. Casou com D. Anna Isabel de Mesquita, filha do desembargador Fernão de Mesquita, instituidor do vinculo da Sobreira no con- celho de Souzel, e teve 15. °— Gonçalo Vasques Guedes. Casou com D. Maria Pereira Pinto, filha e herdeira de Nuno Alvares Pereira Pinto, e teve 16. °— João Pinto Pereira, alcaide-mór de Ervededo. Casou com D. Isabel Pereira de Moraes Pimentel, sua sobrinha, e teve VIL VIL 997 17. °— Gonçalo Vaz Pinto, alcaide-mór de Ervededo. Do seu 2.° matrimonio eom D. Isabel Botelho de Mesquita, da casa de Ab- baças, teve „ 18. ° — Antonio Botelho de Mesquita, fidalgo cavalleiro da casa real. Do seu primeiro matrimonio eom D. Anna Pereira de Moraes Sarmento, dama da du- quesa de Bragança D. Luiza de Gusmão, de- pois rainha, mulher de D. João IV, teve 19. ° — Gonçalo Pinto Pereira, F. C. R. ca- pitão-mór de Villa Real e herdeiro de toda a casa de seus paes K Casou com D. Francisca de Magalhães e teve 20. °— Francisco Pereira Pinto Guedes, o ruivo. 2 Succedeu a seu pae na casa do Arco e mais beus, e foi cavalleiro da ordem de Christo, F. E. G. R. marechal de campo de auxiliares do terço de Villa Real, etc. Casou com D. Maria Pereira do Lago, natural de Braga, e teve muitos filhos, entre elles D. Francisca Pereira de Moraes Sarmento Gue- des, que casou com Manuel de Mello e S Paio, M. F. C. R. morgado da Espinhosa na Beira, juoto de trovões, — e 21. °— Miguel Pereira Pinto do Lago, 6 0 fi- 1 Suppomos que foi o que emprasou a Casa do Arco. 2 Era 2.° sobrinho do rev. D. Francisco Pereira Pinto, deputado da mesa da con- sciência, desembargador do paço. governa- dor e administrador do priorado d'Alcobaça, inquisidor geral, agente dos negócios de Por- tugal na côrte de Madrid em tempo de Fi- lippe IV de Hespanha, bispo eleito do Porto pelo mesmo intruso Filippe, etc. Tomou posse do bispado do Porto em maio de 1640 e falleceu em 13 de janeiro de 1642, tendo feito em Lisboa, no dia 20 de abril de 1636, o seu testamento, no qual man- dou que seus bens fossem vendidos em hasta publica e com o producto d^elles compras- sem outros em Villà Real ou nas suas imroe- diações, que seriam vinculados, e d'esse vin- culo ou morgado nomeou herdeiro e primei- ro administrador o seu 2.° sobrinho Fran- cisco Pereira Pinto Guedes, filho de Gonçalo Pereira Pinto, supra mencionados. Na Casa do Arco de Villa Real se conser- va ainda hoje (1885) o retrato do institui- dor d'este vinculo. lho na ordem do nascimento, mas por morte do seu irmão Antonio succedeu na casa de seus paes e foi F. E. C. R. etc. Casou 2 vezes, e do seu primeiro matri- monio com D. Catharina da Fonseca Leitão, filha do morgado d'Alcangosta, na Beira Baixa, teve 22. °— Francisco Pereira Pinto d'Oliveira, F. C. R. senhor da casa do Arco, etc. Casou no Fundão com D. Maria Victoria de Brito, filha e herdeira de Manuel de Brito Homem, F. C. R. senhor do morgado de Fi- gueiredo, na villa do Fundão, e teve 23. °— Miguel Antonio Vaz Guedes Pereira Pinto, M. F. C. R. etc. Casou com D. Francisca Margarida Perei- ra Pinto de Magalhães, sua prima, e, além d'outros filhos, teve 24. °— Francisco Vaz Guedes Pereira Pinto, filho 2.° mas que suecedeu na casa de seus paes por haver fallecido solteiro e sem suc- cessão o morgado. Foi cavalleiro da Ordem de Christo, F. C. R., coronel de milícias, etc. Casou duas vezes,— a 1." em Rezende eom D. Marianna Victoria Pereira Coutinho de Vilhena, filha de Miguel Pereira Coutinho, F. C. R. etc, senhor da casa de Maças, Pa- dronello, Gradiz, etc, e teve um filho, cujo nome ignoro e que falleceu sem succes- são. Casou 2." vez com D. Anna Adelaide e Azevedo de Brito Malafaya, filha de D. Luiz Ignacio d'Athaide Azevedo e Brito Malafaya e de D. Maria Manuel Paim de Mello e S. Paio da Silva Telles. Foi D. Anna Adelaide herdeira da casa de seus paes (senhores das honras de Barbosa, Athaide, Paredes, etc.) pela falta de sueces- são de seu irmão D. Miguel (ou Manuel) de Athayde; e do seu casamento com Franeisco Vaz Pereira Pinto teve, entre outros fi- lhos: 25. °— D. Miguel Vaz Guedes de Athayde e Azevedo Brito Malafaia, moço fidalgo com exercício, commendador da Ordem de Chris- to, senhor das honras de Barbosa e Athayde, administrador dos morgados do Arco, S. Mi- guel, Monte Bello, etc. Casou duas vezes,— a 1.» com D. Ludo- 998 VIL VIL vina de Mello í, Olha de Lopo Vaz de Mello e S. Paio, F. C. R., filho 2.» da casa da Es- pinhosa, e de sua mulher D. Maria Victoria de Mello, senhora da casa de Gouvinhas;— e casou 2." vez com D. Margarida Pinto de Sousa, filha de Ayres Pinto de Sousa Couti- nho, moço fidalgo com exercício, eapitão ge- neral dos Açores, governador das justiças da relação do Porto, do conselho de S. M., com- mendador d'Aviz, etc, e de sua mulher D. Maria do Carmo de Mendonça. Do seu i.° matrimonio teve D. Miguel Vaz os filhos seguintes : D. Francisco, o primogénito, que se- gue. 2. °— D. Frederico, bacharel formado em direito, actualmente juiz da 2.* vara cível, no Porto. Ainda solteiro. 3. °— D. Miguel, também bacharel formado em direito e recebedor na villa da Regoa, — casado e com successão. 4. °— D. Antonio, que já falleceu, tendo ca- sado e deixando uma filha. 5. °— D. Maria Angelina, já viuva em se- gundas núpcias e sem successão. 6. °— D. Maria dos Prazeres, ainda soltei- ra. 2 7. °— D. Maria Ludovina, casada com José Leite, da casa de Paço de Sousa, com suc- cessão. Do seu 2." matrimonio teve D. Miguel Vaz Guedes os filhos seguintes : 8. ° — D. Mendo, casado e com successão, rezidente em Valpedre, concelho de Pena- fiel. 9. °— D. Ignez e 10. °—/). Sabina, que falleceram solteiras. D. Sopfiia. Casou com Luiz Ribeiro Souto Maior, da casa de Santa Eulália, e fal- leceu deixando successão. 1 Irmã de Antonio de Mello Vaz de S. Paio, de Gouvinhas, pae do sr. dr. Lopo Vaz deS. Paio e Mello, deputado ás cortes, ministro de estado honorário, etc, um dos nossos mais distinctos e mais novos estadistas. * Todos estes filhos nasceram na Casa do Arco—e os í> restantes na de Barbosa, da qual já se fallou no vol. 1." pag. 322, col. i.* V. Canas, vol. 2.° pag. 77, col. i.s— e Rans vol. 8.° pag. 48. 26.° — D. Francisco Vaz Guedes dJAthayàe Malafaia, ainda solteiro e residente na sua Casa e Honra de Barbosa. Largos e Praças Além do espaçoso e formoso Campo do Tabolado, tem esta villa 5 largos,— o do Con- de d' Amarante, de que já fizemos menção, no fundo do Campo do Tabolado, — o do Hos- pital, no chão onde estiveram a Praça Ve- lha e os antigos paços do concelho, junto do Hospital da Divina Providencia,— o do Pio- ledo, onde se fez a egreja de Nossa Senhora do Carmo, 1 ao norte da villa,— e o do Calvá- rio, o mais vistoso e alegre, onde se armam barracas e se faz uma parte da grande feira de Santo Antonio, no adro da egreja do Se- nhor do Calvário, a poucos metros de distan- cia da capellinha de Santo Antonio e no ci- mo do monte do Caivano, outr'ora monte de S. Sebastião, porque no mesmo largo, onde hoje apenas se vê a egreja do Senhor do Calvário, esteve durante séculos a capella de S. Sebastião, que foi demolida pelo dr. Char- rua, como já dissemos. A estes largos e campos também pôde jun- tar-se o da Senhora d'Almodêna, junto da ca- pella d'esta invocação, ao nascente de Villa Real, onde se faz a grande feira por occa- sião da festividade da Senhora d'Almodêna, como já dissemos também. Emquanto a praças, além da de Luiz de Camões, onde se fazem os mercados sema- naes, ao norte e no cimo do Campo do Ta- bolado e que é, como também já dissemos, parte integrante do dicto campo, tem esta villa a Praça do Pelourinho, assim denomi- nada porque a meio d'ella se erguia o pe- lourinho, que foi removido não sabemos quando nem para onde. Comprehende um pequeno chão quadrado e n'ella se vendiam doces, fructa, queijo, pão cosido, pescada, azeite, hortaliças e ou- tros géneros, entulhando as regateiras litte- ralmente a pequena praça e a rua próxima 1 Esta egreja é rival da de Santa Engrá- cia. Ainda está por concluir. VIL VIL 999 até o Arco do Duque, do qual tomou o nome a Casa do Arco. No século xiv a taxa dos géneros que se vendiam n'esta villa e na de Moncorvo era a seguinte : Trigo,— alqueire 20 réis. Centeio, » 15 » Cevada, » 12 » Milho (miúdo), alqueire 12 > Castanhas, alqueire 5 » Vinho, almude 20 i Patos, um 20 » Cordeiros, um- 20 » Cabritos, um 20 » Leitões, um . 40 » Frangão, um 71!, » Mel, canada 20 » Linho, uma pedra 50 » N'esta praça, por ser pequena, quadrada e toda revestida de prédios de dois andares, se representavam dramas, comedias, authos» farças e tragedias ao ar livre, antes de ha- ver theatro n'esta villa. As janellas das dif- ferentes casas serviam de camarotes para as senhoras;— para os homens se faziam pa- lanques inferiores ás janellas, em volta de toda a praça,— e dizem as minhas Antigui- dades que por maior que fosse a concorrên- cia, mesmo nos dias das grandes festas pu- blicas, todos viam e ouviam bem as come- dias. Assim se representou antigamente em ou- tras villas e mesmo nas cidades, tanto no nosso paiz como nos estranhos, antes de se generalisarem os theatros. O d'esta villa se fez ha muito e n'elle costumam representar companhias dramáticas de profissão e socie- dades de curiosos ou amadores, notando-se nos villarealenses grande propensão e pro- nunciada vocação para esta ordem de entre- tenimentos. Também houve anteriormente junto da demolida casa da camará uma praça, deno- minada Praça Velha, onde se vendiam os ar- tigos, cuja vendagem passou para a do Pe- lourinho,—e em tempos mais remotos houve outra praça na villa velha. Os açougues estiveram sempre na peque- na praça e rua do Rocio, ao nascente d'esta villa. Em 1721 eram 10, mas em tempos an- teriores foram 15, sempre bem providos de carne fresca, pois por contracto ou obriga- ção que todos os annos renovavam na ca- mará, cada um dos marchantes era obrigado a abater nas terças feiras e sabbados de ca- da semana duas até cinco cabeças de gado grande,— uma a duas nos outros dias até a quarta feira— e nas quintas matavam todos uma ou duas, em commum, de sorte que a villa era sempre mimosa de carne fresca de vacca, todos os dias de manhã e de tarde. Também os mesmos marchantes costu- mavam abater carneiros, cevados e bodes capados para consumo da villa e termo, pois d'aqui foi sempre carne fresca para Sabro- sa, Penaguião, Regoa, Provezende, etc.,— e ainda hoje vae d'aqui muita para todas es- tas povoações e mesmo para Lamego. Desde tempos remotos até 1721 os preços taxados pela camará eram os seguintes : Carne de bode, arrátel 15 réis. » de carneiro, arrátel 20 » » de vacca, arrátel HO » » de porco, arrátel 40 » Estes preços, porém, mudaram conside- ravelmente cora os tempos. Hoje (1885) o arrátel de vacca de segun- da, ou com osso, custa 110 réis; ode l.«,ou sem osso, 140— e o de vitella 160 réisl . . . Le monde marche. Concluiremos este tópico dizendo que por occasião da morte dos nossos reis se costu- mavam quebrar 3 escudos pelo presidente da camará, — o 1.° na dieta Praça do Pelou- rinho—o 2.° junto á cruz do Cabo da Villa — e o 3.° junto do grande cruzeiro que es- teve no Campo do Tabolado. Também nos mesmos sitios e pela mesma ordem costumava fazer-se a acclamação dos monarchas, assistindo a camará, nobresa e povo. Ruas Já em 1721 contava esta villa 4o ruas, to- das direitas, largas (?) e bem ealçadas,— além de muitas travessas. Nas Antiguidades de Villa Real podem ver se os nomes de todas; 1000 VIL VIL não . os mencionamos para não fatigarmos os leitores. Apenas diremos que em 9 de fe- vereiro de 1867 o governador civil Eduardo de Serpa Pimentel mudou os nomes de mui- tas, v. g.— a rua da Fonte Nova e a parte próxima do bairro de Almodêna é hoje rua d'Almodêna; — as do Sabugueiro e da Fonte do Chão— rua da Fonte; — a calçada — tra- vessa de S. Domingos; — a rua da Amargura —rua Municipal; — a rua da Praça Velha —travessa da Praça Velha; — a rua da Vi- deira— rua do Tribunal; — a rua principal da villa velha — rua de S. Diniz, — a rua da Piedade e parte da rua da Cadeia— rua da Cadeia;— â rua das Flores— rua das Flores (desde a do Arco até o Pioledo); — o Largo da Praça — rua do Pelourinho;— o bairro de San- to Antonio — rua de Santo Antonio; — da an- tiga estrada de Chaves o lanço junto do Cal- vário—rua do Calvario;-^â rua de Traz das Quintas— rua do Passeio Alegre; — a rua das Casas Novas— rua da Boa Vista (desde a egreja matriz de S. Pedro atéà Carreira de Baixo);— a do Jogo da Bola— rua da Ale- gria:—as do Cabo de Villa e de S. João da Fraga — rua de S. João;— a da Barroca— rua do Prado;— & dos Vazes— rua da Roza;— a, de Baixo— rua do Corgo;— a de Alem da Ponte— rua da Guia;— a. Larga ou do Poço —rua Central; — a das Pedrinhas — rua de S. Paulo; — a travessa das Pedrinhas— tra- vessa de S. Paulo; — as da Portella e Miseri- córdia— rua da Portella (desde o ponto on- de se encontram as ruas do Poço e da Fer- raria até o Aljube); — a das Adegas — tra- vessa da Portella; a de Traz da Misericórdia — rua da Misericórdia; — a do Rocio — tra- vessa do Rocio; — a do Caminho de Baixo — rua do Rocio; — a rua da Vinagreira — tra- vessa da rua Nova; — a. rua Escorregadia — travessa da Trindade;— e o Campo do Ta- bolado — Praça Luiz de Camões, Largo do Chafaris e Largo do Conde d' Amarante I... Iooagioem-se as difficuldades que tantas alterações de nomes causarão no futuro a quem pretenda verificar a situação e con- frontações dos prédios rústicos e urbanos d'esta villa. Concluiremos este tópico dizendo que a nova estrada a macadam que da Regoa con- duz a esta villa por Santa Martha de Pena- guião e a que vem d'Amarante pela Cam- pian, fazem juncção em Parada de Cunhos, formando ali uma só, que passa o Cabril na Ponte d' Almodêna e depois atravessa esta villa pela rua da Fonte Nova, — Largo do Conde d' Amarante — Praça do Pelourinho, — rua do Arco, — rua de S. Jacintho,— egreja matriz de S. Pedro— e Carreira;— um pouco adiante ramifiea-se em duas— uma segue pela margem direita do Corgo para Villa Pouca d'Aguiar, Pedras Salgadas, Vidago, Chaves e Verim, — a outra passa o Corgo na ponte da Timpeira e um pouco mais adiante se ramifica em duas também,— seguindo uma para Bragança por Murça, Mirandella, e Ma- cedo de Cavalleiros— e a outra para Freixo de Espada á Cinta por Sabrosa, Favaios, Alijó, S. Mamede de Riba Tua, Anciães, Vil- lariça, etc. Carreira de Baixo e Carreira de Cima, ou Jardim Publico Sendo bastante Íngreme o monte do Cal- vário, mas pittoresco e muito vistoso, con- ceberam em 1782 os villarealenses o proje- cto de o embellesarem,— fazendo dois gran- des cômoros ou passeios públicos arborisa- dos na pendente leste do dicto monte, paral- lelos e immediatamente inferiores ao adro ou planalto da capella do Calvário. Deram principio ás obras em 1784, sendo ouvidor José Duarte da Silva Negrão, e juiz de fóra e presidente da camará Bernardo d'Abreu Castello Branco, natural de Vizeu,— e em 1815 se completou o desaterro e o grande muro de supporte, — plantaram-se arvores nos dois socalcos, - fez se no de cima uma fonte que custou 600$000 réis— e se collo- caram nos dois passeios bancos de pedra. A estes dois grandes socalcos ou passeios públicos se deu o nome de Carreira de Ci- ma e Carreira de Baixo, hoje simplesmente Carreira, — ampla e formosa avenida de Villa Real por este lado, atravez da qual passa a nova estrada a macadam para Chaves, Bra- gança e Freixo d'Espada á Cinta. N'esta Carreira ou avenida ha um grande chafariz, que foi feito em 1738, com a impor- VIL tante somma de 2:O0O$00O réis que D. João V cedeu para este fim;— foi reformado e am- pliado o dieto chafariz em 1820,— e em 1856 se fizeram junto d'esta fonte os dois lanços de escadas que hoje communicam a Car- reira com o socalco immediatamente supe- rior, que foi por essa oecasião transformado em jardim publico, arrancando-se o arvore- do plantado em 1815, povoando-se de novas plantas e flores e fazendo-se a meio d'elle uma grande taça com repucho. Em 1871 se vedou este jardim com um grande portão de ferro, do lado sul, ou da villa;— ná extremidade opposta se vê um bom chafariz com duas bicas e um largo tan- que;— a meio a grande taça com o repucho; —junto d'esta um bonito pavilhão com ban- cos de cortiça, armado sobre um poste de sobro que se ergue do centro;— occupa o jardim um quadrilongo, perfeitamente plano e symetrico;— está muito bem tractado e bem povoado de flores e plantas— e tem ar pu- ríssimo e largas e interessantes vistas sobre a Carreira ou avenida que lhe fica ao sopé» sobre o extincto convento franciscano, hoje quartel militar, e sobre grande extenção das províncias de Traz os-Montes e da Beira, avultando a tres kilometros de distancia o elegante e magestoso palácio de Matheus. Aljube Teve esta villa um aljube, que era da ju- risdieção ecclesiastica, muito antigo e que se tornou inútil desde que em 1836 (?) se ex- tinguiu entre nós o foro eeclesiastico. Foi vendido em hasta publica e arrema- tado pelo negociante Anselmo Pereira Bahia, que o principiou a demolir em 7 de julho de 1869 e com a pedra d'elle fez o Hotel Tocaio em uma parte do chão que occupou o ex- tincto convento de S. Domingos. Demorava o aljube um pouco a juzante da cadeia, na rua d'este nome, que parte da Praça do Pelourinho, — segue para o sul — e ia direita á porta da entrada das casas que foram dos alcaides-móres. v Pontes Ha junto d'esta villa tres pontes e são as seguintes : VIL 1001 1.* — De Almodêna, que tomou o nome da capella de Nossa Senhora d'Almodêna, con- tigua. Demora ao poente de Villa Real sobre o Ca- bril, na estrada nova a macadam que em i Parada de Cunhos se ramifica em duas — se- guindo uma pela Cumieira e Santa Martha de Penaguião para a Regoa— outra por Can- domil K e Campeã para Amarante, onde am- bas fazem outra vez juncção (em Padronel- lo) seguindo para o Porto. Ambas foram de grande transito e servi- das por diligencias; mas, depois que se fez a linha férrea do Douro, todo o movimento entre o Porto e Traz-os-Montes convergiu sobre a estação da Regoa,— acabaram as di- ligencias entre a Regoa e o Porto— e entre Villa Real e Amarante. Sustentam se— e com maior movimento ainda— as diligencias en- tre a Regoa e Villa Real, mas estas também por seu turno cessarão logo que se construa a projectada e bem necessária linha férrea do valle do Corgo. No dia 27 d'agosto de 1857 se deu prin- cipio aos caboucos para a construcção da actual ponte d' Almodêna;— no dia 23 d'ou- tubro do mesmo anno se lançou a l.a pedra na sapata da margem direita do rio;— a 29 de julho de 1858 se principiou a sapata da margem esquerda;— em 18 d'abril de 1859 se começou a demolir a velha ponté que es- tava no mesmo rio, um pouco a montante da nova, para se empregar n'esta a esquadria da velha, que era muito mais baixa e de fa- brica mais humilde, mas por ella passava a antiga estrada do Porto pela Regoa e por Amarante também. 2 A nova ponte atravessa o Cabril,— foi feita pelo governo, — tem um só arco — e custou dezesete contos de réis. 1 Candomil, é a terra natal do rev mo sr. dr. Antonio Candido, deputado às cortes, distinctissimo lente de direito na Universi- dade de Coimbra e um dos primeiros tribu- nos e oradores do nosso paiz. 2 V. n'este vol. 10.° o art. Villa Cova, pag. 703, col. l.a — onde já se descreveu a velha e a nova estrada de Amarante para Villa Real, pelo Marão. 1002 VIL VIL 2. »— Ponte da Timpeira sobre o rio Corgo, a E. N. E. de Villa Real. Foi também feita pelo governo;- -teve prin- cipio em 20 de maio de 1863 — e por ella passa a nova estrada a macadam que um pouco mais adiante se ramifica para Murça, Mirandella e Bragança— e para Sabrosa, Fa- vaios, Alijó e Freixo de Espada á Cinta, esta ultima ainda por concluir,mas já servida por diligencias até Sabrosa. 3. *— Ponle de Santa Margarida, também sobre o Corgo e a leste de Villa Real, no fim da rua De Baixo e da dos Ferreiros, junto da Capella de Santa Margarida, da qual tomou o nome. Por esta ponte passa uma estrada muni- cipal que liga esta villa com as proprieda- des, quintas e parochias da margem esquer- da do Corgo a leste e sueste de Villa Real. Outr'ora a passagem era feita em uma barca, um pouco a montante da ponte; mas, como no inverno o Corgo é medonho e caudaloso e a passagem na barca fosse perigosíssima, fez- se em 1490 a primeira ponte, no mesmo sitio da actual, com o producto de uma der- rama de 600 réis lançada a cada morador da villa, dislinguindo-se também por essa occasião o benemérito protonotario apostó- lico D. Pedro de Castro, abbade de Mouçós, tantas vezes citado n'este artigo, pois não só deu, em vez dos 600 réis— quatrocentos mil réis — para a conclusão da dieta ponte, — somma fabulosa n'aquelle tempo, mas ainda, como já dissemos, mandou reconstruir á sua custa a capella de Santa Margarida!. . . No tópico dos Villarealenses illustres da- remos a D. Pedro de Castro o logar d'honra que merece. A ponte de 1490 media 240 palmos de comprimento e 2o de largura;— era de um só arco p muito solida; mas em 1842, achan- do-se desaprumada e bastante arruinada com o peso dos seus 352 annos, foi reconstruída pelo governo, como hoje se vô, ficando mais alta do que a primeira, que em parte foi de- molida a fogo,—iú era a solidez da sua con- strucção ! . . . No momento ha o projecto de substituir esta ponte por outra, no mesmo local ou a pequena distancia, mas muito mais alta, li- gando o morro de S. João da Fraga, na margem direita do Corgo, ao da Raposeira, na margem esquerda, ambos muito Íngre- mes e aprumados sobre o rio, que n'estas paragens medonhas corre fundo por entre penedia escalvada e nua. Já foi feito o projecto da nova ponte pelo sr. Paulo de Barros, distincto engenheiro, para passagem da nova estrada districtal a macadam d'esta villa á foz do Corgo, junto da Regoa, pela margem esquerda d'este rio, tocando em Villarinho dos Freires e em ou- tras muitas povoações, ou approximando-se d'ellas. Deve ser uma ponte monumental ! Feiras Antes da fundação de Villa Real houve— desde tempos muito remotos— em Constan- tin), antiga capital de Panoias, uma feira tão importante que a dieta povoação era mais conhecida pelo nome de Feira, do que pelo de Constantim— e só a dieta feira no sécu- lo xm lhe dava alguma importância. 1 Ne foral que D. Sancho I deu a Souto de Panoias no anno de 1196, manda que cada uma das quatro courellas de que esta her- dade se compunha, lhe pagaria annualmente seis quarteiros, metade centeio e metade mi- lho— per mensuram feriae ãe Constantim, quae hodie ibi est— ou pela medida da feira de Constantim que jan'aquelle tempo— 1196 — ali se fazia. Livro dos Foraes Velhos, ci- tado por Viterbo, no artigo Feira, o 2.° E que esta feira absorveu o nome de Con- stantim se vê do foral que lhe deu D. San- cho I em 1194, segundo se lè em uma das copias das Antiguidades de Villa Real, — e das inquirições d'el-rei D. Diniz, de 1290, relativas a S. Miguel de Poiares, n'aquelle tempo do julgado de Panoias e hoje fregue- zia do concelho da Regoa, pois nas dietas in- quirições se devassaram vários casaes e se mandou que todos fossem ao Joizo do Joiz 1 V. Constantim e n'este vol. 10.° as pag. 936, col. 2.*— 939 e 946, col. 2.a também. VIL VIL 1003 da Feira, tanto os do Spital, 1 come os outros e entre hy o Porteiro, e nom tragam hy Che- gador. Viterbo, log. citado. 2 Era pois muito antiga e muito importante a feira de Constantim, mas, quando se fun- dou Villa Real, foi supprimida (segundo sup- pomos) e passou para esta villa, como se deprehende do foral de D. Diniz de 1289, supra. N'elle se lê (pag. 943, col. 2."): «E vós po- bradores de Villa Real debedes haver feira uma vez no anno por Santa Maria d'Agosto, e ser coutada (franca) 15 dias antes e 15 dias depois., como a da Guarda; — e debedes ha- ver feira de mez em mez, no terceiro dia de- pois da de Chaves; e deve durar dous dias assim como a de Chaves.» E mais adeante (pag. 944, col. 1.»): — «E não haja venda de regatia nem uma, nem seus feiraes (feiras ou mercados) até uma legoa a cada parte (em redor) de Villa Real...» Vê-se pois claramente que esta villa teve desde a sua fundação (1289 a 1293) uma feira annual a 15 d'agosto, mas que durava e era franca todo o mez, — e outra feira men- sal que durava dois dias. 1 Referiam-se á parochia de S. Miguel de Poiares, que era dos cavalleiros do Hospital ou da ordem de Malta. / Foi uma das commendas mais importan tes d'esta ordem. V. Poiares (a 2.*) vol. 7." pag. 117, col. 1.» n'este diccionario — e no supplemento. 2 Em vista do exposto mal pôde crer se o que dizem as Memorias d'Anciães (pag. 936, col 2." supra) — que Panoias, antes da fundação de Villa Real, era um julgado de Anciães,— pois em 1290, quando se estava construindo Villa Real, ainda a terra de Pa- noias obedecia ao Joizo do Joiz da Feira, ou de Constantim. E, estando nós folheando ha annos todos 03 livros, folhetos, jornaes e ma- nuscriptos que nos cercam e que formam uma boa collecção sobre a especialidade — só nas Memorias a" Anciães encontrámos até hoje um tal asserto. O mesmo acaba de dizer-nos uma das nos- sas primeiras summidades litterarias, que vi- veu em Villa Real muitos annos e que ali tem parentes proximo3. Foram estas duas as primeiras feiras de Villa Real e que deram o ultimo golpe na povoação de Constantim, pois D. Diniz não só concentrou em Villa Real aséde e as jus- tiças de toda a terra de Panoias, que esta- vam em Constantim, mas supprimiu a feira ou feiras d'esta povoação, porque prohibiu todas e quaesquer feiras até uma légua de distancia de Villa Real, e a povoação de Con- stantim n'aquelle tempo era com certesa comprehendida na dieta légua, como adiante mostraremos. 1 Suppomos até que D. Diniz, muito de pro- pósito marcou o raio de uma legoa— para comprehender e aniquilar Constantim e en- grandecer Villa Real. Não sabemos a sorte que as dietas feiras correram — nem quando ou porque motivo terminaram, pois nem as Antiguidades de VUla Beal nos dão noticia d'ellas; — o que sabemos é que por alvará de 23 de março de 1648 D. João IV 2 concedeu aos villarea- lenses uma feira franca nos dias 12, 13 e 14 de junho. É esta a única feira d'anno, denominada de Santo Antonio, que ha muito se faz em Villa Real. Em outros tempos durava 15 dias e foi uma das mais importantes da provin- 1 Antigamente contavam 2 léguas de Villa Real á Regoa, o que hoje dá 26:758 metros. Correspondia pois uma das dietas léguas a 13:379 metros, — e Constantim dista hoje de Villa Real apenas 7:995 melros. Alem d'isso, o dr. João de Barros, na sua Geographia de 1548, é claro n'este ponto, pois diz: «Está a uma légua d'esta villa de Villa Real uma al- deia que chamam Constantim. . . » 2 As Antiguidades de Villa Real que foram do Jeronymo Latagão dizem D. João IV; — a? minhas dizem D João V — 3 ambas lhe as- signam a data de 1668 1 . . . Tanto um códice como o outro claudicam n'este e em outros muitos pontos e não te- mos á mão o alvará para resolver a ques- tão. Em ambos os códices ha erro,, pois em 1668 governava o infante D. Pedro como re- gente, em nome de seu irmão D. Alfonso VI; — D. João IV governou de 1 640 alé 1656 — e D. João V de 1706 até 1750. Deus nos dô paciência para aturarmos os copistas. 1004 VIL VIL cia, ma3 hoje com os progressos da nossa viação e da facilidade de communicações, 1 vãe em pronunciada decadência todas as fei- ras e esta já dura apenas oito dias. O que a sustem e ampara ainda é a feira de gado cavallar, muar e azinino, e sobre tudo o jogo do monte e da roleta, que por essa occasião assola a villa escandalosamente ! . . . Esta feira tomou o nome de Feira de San- to Antonio por ser feita junto da capellinha d'esta invocação, no monte do Calvário, por occasião da grande festa e romagem de San- to Antonio. Em 1746, por mandado do juiz de fóra, se transferiu para a Carreira, ao sopé do monte do Calvário, e ahi se fez dois annos; mas, por ser o sitio pouco espaçoso, el-rei D. João V, por alvará de 2 de março de 1748, a requerimento de José Pinto da Cunha, juiz da irmandade de Santo Antonio, a transferiu outra vez para o Calvário e ali se faz ainda hoje, exceptuando a do gado cavallar, muar e azinino, que sempre se fez e faz no Campo do Tabolado. Culto e festividades religiosas Muito poucas das nossas cidades e nenhu- ma das nossas villas pôde sustentar confron- to com Villa Real na pompa do culto e das festividades religiosas. Parece incrivel que uma povoação como esta não só eonstruisse tantos conventos, egrejas e capellas e fundasse tão grande nu- mero de irmandades e confrarias, mas con- servasse todos os seus templos públicos e particulares sempre limpos e mesmo assea- dos e desse cumprimento a milhares de mis- sas instituídas nos seus diversos templos por differentes legados, que enchem muitas pa- ginas das Antiguidades de Villa Real, não contando as missas celebradas por devoção; maior espanto causa porém ainda o appa- rato das suas festas religiosas. Achando-se esta villa, em grande decadên- cia por causa da invasão phylloxerica, pra- ga medonha que aniquilou barbaramente, como logo diremos, a maior parte dos vinhe- 1 Veja- se o artigo Vias Férreas. dos do Douro, orgulho e riqueza principal d'esta villa, ainda no ultimo anno (1884) os villarealenses fizeram uma funcção pompo- síssima ao Senhor do Calvário, nos dias 24 a 30 de junho. A convite dos mordomos foi expressamen- te de Braga assistir á grande festa s. ex.a rev.""1 o sr. arcebispo primaz D. Antonio de Freitas Honorato, que pelo prestigio do seu nome e das suas virtudes e por ser o pri- meiro arcebispo que desde visitava esta villa e n'ella fez a sua entrada solemne, deu grande relevo à festividade e attrahiu numeroso concurso de fieis de muitas legoas de distancia. Nos dias 25 e 26 administrou s. ex.» o Chrisma a 5:000 pessoas, e no dia 28 a 1:500 na egreja de S. Domingos, e no dia 29 foi á egreja do recolhimento chrismar as recolhi- das e outras muitas pessoas. No dia 26 distribuíram- se vestidos a 50 pobres na egreja de S. Francisco, pregando o rev. cónego e dr. Alveã Mendes, do Porto, um dos mais eloquentes oradores de todo o nosso paiz na actualidade,— e no dia 27 cele- brou o rev. arcebispo na mesmaegreja solem- ne pontifieial, sendo em todos os dias ver- dadeiramente extraordinária a concorrên- cia do clero, nobresa e povo nos templos, nas ruas e nas praças. Não podemos alongar-nos com os porme- nores da grande festa, mas podem ver-se nos jornaes que ao tempo se publicavam n'esta villa. Ainda também no meiado d'este século, quando appareceu no Douro o oidium tuke- ri, se fez outra festa ao senhor do Calvário, não menos apparatosa, invocando a protec- ção divina contra o flagello do oidium. E n'essa grande festividade se distingui- ram particularmente os villarealenses, dando provas do seu génio inventivo e da sua pro- I pensão para as grandes festas, pois quando em outras muitas povoações do Douro se fa- ziam procissões de penitencia, aqui celebra- ram um Te-Deum e fizeram em seguida uma procissão imponente com muitas figuras: l.*— Villa Real, vestida de guerreiro, mon- VIL VIL 1005 tada em um soberbo cavallo ricamente ajae- sado e guiado por um pagem. 2. »— O Douro, representado por um an- cião, também a cavallo e guiado por outro pagem. 3. *— A Fé, Esperança e Caridade em um apparatoso carro com a forma de navio. i.*— Santa Martha, protectora das vinhas, em outro grande carro com anjos cantando hymnos. 5. * — Nossa Senhora da Conceição em outro carro, cercada por córos d'aDjos. 6. » — Os 12 apóstolos. 7. *— O Senhor do Calvário em outro carro com anjos entoando hymnos. 8. *— Muitos anjos incensando o Santíssimo Sacramento. Completaram a grande festa differentes bandas de musica, fogo solto e preso, illu- minação geral, danças, descantes, etc. Em quanto que nas outras terras implo- ravam a misericórdia divina os durienses com os pés nus, vestidos d'alvas, coroados de silvas, carregando aos hombros alavancas de ferro, ou penedos, e de costas nuas se iam disciplinando e cantando o miserere,— os villarealenses cantavam o Te-Deum e fa- ziam espectaculosa procissão, illuminações e folias ! . . . Mas, pondo de parte a exquisita forma de rogar a Deus, quem quizer ver func- ções brilhantes e um povo alegre e sympa- thico nas manifestações do regosijo publico, dirija-se a Villa Real. Também costumam ser notáveis n'esta villa as funcções de endoenças, próprias da semana santa, e foi muito digno de especial menção o descimento da cruz, em 1807. Armaram e levantaram com grande dis- pêndio e muito engenho o monte do Calvá- rio na Carreira, ao sopé do monte que tem o mesmo nome de Calvário e, dando expan- são ao génio que lhes é próprio, metteram na lúgubre tragedia nada menos de quarenta figuras bíblicas, representando os patriarchas, os profetas e os rei9 do velho testamento, Adão, a guarda pretoriana, os vultos mais salientes da nova lei, etc. Não ha na província memoria de desci- mento da cruz tão solemne e apparatoso ! VOLUME X A concorrência do povo, segundo se lê em apontamentos da época, excedeu a setenta mil pessoas!... Faltaram os alimentos para tanta gente; alguns dos habitantes da villa subscreveram com centos de mil réis— e outros mandaram ir vestuários próprios do Porto e de Braga. Posteriormente se fez também n'esta villa com grande pompa outro descimento da cruz* segundo o plano dado pelo rev. José Justino de Carvalho, vulgo padre José da Botica, ho- mem de grande habilidade, tio do sr. conse- lheiro Guilhermino Augusto de parros, hoje director geral dos nossos correios e telegra- phos. Também foram estrondosas e custaram muitos contos de réis as festas que se fize- ram n'esta villa quando se installou defini- tivamente a irmandade de Nossa Senhora do Carmo. D'ellas já fizemos menção; mas entre todas as festividades religiosas d'esta villa occupou sempre o logar d'honra a procissão de Corpus Christi, hoje muito decadente. Para que se não perca a memoria do que foi, dedicar-lhe-hemos, como bem merece, um tópico especial: Procissão do Corpo de Deus No dia da festa iam assistir á missa, oc- cupando as suas cadeiras próprias reserva- das, na egreja de S. Diniz, os vereadores, presididos pelo juiz de fóra, o procurador do concelho, o provedor, o escrivão da camará, todos com as suas varas, os quaes recebiam cada um sua tocha de 4 arráteis. Assistiam também á festa e acompanha- vam a procissão os cavalleiros das differen- tes ordens e o clero da villa e termo até uma legoa de distancia. Terminada a missa solemne seguia-se a procissão, cujo programma offlcial era em resumo o seguinte : d.»— O carro que davam os hortelões, or- nado de frondosos e altos ramos, dos quaes pendiam em profusão fructas e hortaliças de todo o género. 2 »_0 gigante que davam os surradores, caprichosamente vestido. 3.o_Q dragão com sua dama, dados pelos sapateiros e cortidores. 64 Í006 VIL VIL 4. °— S. Christovam com formas de gigante, dado pelos imaginários (esculptores que tra- balhavam em imagens)— e, não os havendo na villa, era dada esta figura pela camará. 5. °— Dois cavallinhos fustes (?) feitos com muita galanteria e dados pelos alfaiates. 6. ° — A dança dos diabretes, composta por 16 figuras symbolicas, ensurdecendo os ares com instrumentos extravagantes. Era dada pelos almocreves. 7. ° — A dança dos moleiros, dada por estes e comprehendendo também 16 figuras d'ho- mens e mulheres, todos muito aceados, le- vando cajadinhas na mão e na frente uma ban- deira de damasco branco. 8. ° — A dança dos carpinteiros, dada por estes e composta de 18 figuras d'homens e mulheres, representando gallegos com suas vestes próprias, cantando e dançando no es- tyio dos filhos de Tuy, ao som de instrumen- tos e musica da Galliza, e levando na frente uma bandeira de damasco amarello com seus cordões e borlas. 9. °— A dança dos alfaiates, dada por estes5 vestidos de Ninfas, cantando e dançando o arromba, arromba, com toda a honestida- de (?!...) i Na frente d'esta dança ia o rei dos alfaia- tes com manto e corôal . . . 1 Pelos annos de 1838 a 1840 formou-se na minha freguezia da Penajoia, em frente das Caldas do Moledo, uma banda de musica tristemente celebre. Tocava muito bem, tinha um lindo uni- forme e era composta quasi toda de moços de boas famílias, alguns ordinandos e dois padres, mas descambou em uma quadrilha de salteadores que, depois de cobrirem de vergonha a freguezia, morreram quasi todos nas cadeias e na Africa. Resta hoje apenas um!. . . Eram os taes senhores muito tractaveis e folgasãos, pelo que repetidas vezes na qua- dra balnear iam em barcos muito garridos, alguns com senhoras, tocar para o Douro e entreter os banhistas do Molledo. Estava ainda então em voga á tal modinha do ar- romba e, andando elles certo dia muito des- cuidados no Douro, tocando e cantando o tal arromba, o barco bateu em uma pedra e se arrombou t. . . A coisa ia sendo muito seria e se tornou fallada, mas não passou do susto. A bandeira era de damasco verde. 10. °— A dança dos sapateiros, dada por es- tes, com sua bandeira de damasco vermelho e uma folia de músicos pretos. Na frente iam dois sapateiros vestidos á cortezan, com mantos e coroas, represen- tando o rei e o imperador d'esle officio. 11. ° — A dança dos ferreiros, dada por es- tes, com sua bandeira de damasco vermelho. A dança era formada por 12 homens e 12 mulheres, mais um homem que ia dançando no meio da turma. Era dança de primor e davam a musica as regateiras do peixe e os sombreireiros. 12. °— S. Jorge em um soberbo cavallo, com outros de rédea, muito bem ajaesados e for- mando o seu estado maior. Acompanhavam-o, dando repetidas descar- gas (?) e ricamente fardados e formados, os espingardeiros, serralheiros, ferradores e fer- reiros, os quaes todos em commum davam o dicto santo. 13. °-— Seguiam-se os 4 juizes e procura- dores do povo com as suas varas. 14. ° — A bandeira da camará, levada pelo vereador mais velho do ultimo anno, a meio dos 2 almotaceis, acompanhado pela nobreza da villa. 15. °— O andor de Santa Catharina com suas romeiras, dado pelos estalajadeiros. 16. ° — Duas pellas (?) ricamente vestidas, com sua matrona, dadas pelos padeiros e te- cedeiras, dançando ao som de uma gaita de folie. 17. °— O andor da rainha Santa Isabel, da- do pelos tendeiros e acompanhado por uma vistosa dança de romeiros d'ambos os sexos. 18. °— O andor do Menino Jesus, dado pe- los picheleiros. 19. °— Os mercadores e homens de nego- cio em duas alas com grandes tochas na mão e caprichosamente vestidos á cortezã. 20. °— As 13 cruzes das 13 freguezias até o raio de uma legoa. 21. ° — Todas as confrarias e irmandades das egrejas e capellas da villa, com as suas cruzes e guiões, e os irmãos com as suas to- chas e opas. 22. ° — As communidades de S. Francisco e S. Domingos, com as suas cruzes e hábitos VIL VIL 1007 próprios, seguindo-se todo o clero davillae seu termo até uma legoa de distancia,— a cruz da egreja parochial de S. Pedro,— de pois a da egreja de S. Diniz,— os cavallei- ros 1 das differentes ordens, com seus man- tos,—os iO vereadores dos tres últimos an- nos, todos com as vestes próprias e espadas á cinta,— depois o palio, e por ultimo os mi- nistros da justiça e os ofQciaes da camará. Sahia a procissão da egreja de S. Diniz, —ia até o alio da villa,— atravessava o cam- po do Tabolado — e recolhia-se á mesma egreja. Mais ainda Logo de manhã todas as danças, folias e figuras que haviam de abrilhantar a procis- são, percorriam a villa parando á porta dos ministros da justiça e officiaes da camará, executando os seus bailados e motetes;— de tarde iam em grande formatura para o Cam- po do Tabolado cantar e dançar— e termi- navam as grandes festas por uma corrida de louros no mesmo campo, dados pelos car- niceiros. A procissão do Anjo Custodio era em tu- do igual à do Corpo de Deus — e a camará dava prémios aos que mais se distinguissem nos bailados e folias e nas corridas dos tou- ros. Também a camará festejava pomposa- mente a rainha Santa Isabel com procissão em que iam os vereadores e ministros da justiça com as suas varas, os misteres com as suas bandeiras (excepto as danças) e as cruzes de legoa a dentro, mas só o clero da villa. Entrava na egreja de S. Domingos e ali os frades celebravam missa solemne com sermão, que era um dos da taboa. 2 Igual procissão fazia a camará no dia i.° de dezembro, em acção de graças pela feliz revolução de Í640. 1 Ha memoria de se reunirem 161. . . 2 Assim se denominava nos conventos um certo numero de sermões, por estarem ins- criptos em uma tabeliã ou taboa. Eram gra- tuitos e obrigatórios— e os pregadores rece- biam da communidade apenas uma leve gra- tificação,—ordinariamente um prato de ar- roz doce. j Também na manhã de S. João os verea- I dores e ministros da justiça, levando todos as suas varas e na frente a bandeira da ca- mará, hasteada pelo vereador mais velho do ultimo anno, costumavam ir em luzida e brilhante cavalgada até á egreja de S. João d'Arroios, distante cerca de 2 kilometros,— mandavam celebrar ali uma missa,— distri- buíam alguns doces— e regressavam á villa com o mesmo apparato pelo adro da egreja de S. Pedro, Campo do Tabolado e rua do Es- pirito Santo até á porta dos paços do conce- lho, onde terminava o passeio. Famílias nobres do termo de Villa Real, anteriores á fundação d'esta villa Antes da fundação de Villa Real já mui- tas familias nobres viviam nas terras adja- centes. Para não fatigarmos os leitores, men- cionaremos apenas as seguintes: 1. a— A da Casa d' Anta, que foi de Gon- çalo Annes de Contreiras, casado com D- Maria Affonso, dos quaes descendeu Fr. Mi- guel de Contreiras, frade trino, confessor da rainha D. Leonor, mulher de D. João II. Tornou-se muito notável e benemérito da humanidade aquelle religioso por inspirar á mencionada rainha a fundação das Miseri- córdias no nosso paiz. Estes Contreiras foram senhores das hon- ras de Andrães e Quintella, junto de Villa Real, e ali tiveram, e não sabemos se ainda existe, uma torre feudal acastellada e com ameias. Possuíam também Justes e a Torre de Pinhão, no concelho de Sabrosa; mas a sua casa principal era a de Andrães. Uma das avós do sr. visconde de Villari- nho de S. Romão, morador no seu Paço do Carregal no Porto, 1 era D. Isabel de Con- treiras, ramo dos Contreiras da casa d' Anta, uma das mais nobres d'este districto. 2. *— Macedos Teixeiras Coelhos, ascenden- tes de Gonçalo Chrystovam, o martyr das Prisões da Junqueira, já mencionado no to- I pico relativo á Capella de S. Braz, pag. 948 | col. 2.a i 1 i V. Miragaya, vol. 5.° pag. 267, col. 2.» 1 — e Villarinho de S. Romão. 1008 VIL VIL 3.._A da casa da dieta Torre de QuinteU la, pertencente aos condes de Vimioso. 4.4— A da Torre d'Arrabães, solar dos Me- nezes. ^5.»— -A de Silvella, na aldeia das Botelhas, da qual procedia o grande D. Paio Correia. 6 a— A da quinta de S. Paio (na freguezia de Mouçós) que foi dos condes de Rezende e em 1467 doada por Vasco Martins a D. João Page, de quem procedeu Martim Vaz de S. Paio, fallecido em 1595 e que jaz na capella-mór da Senhora de Guadalupe. Des- cendem d'elle os Mellos e Castros, morgados de 8. Paio. A dieta casa é hoje do descendente de Martim Vaz de S. Paio,— Francisco Barbosa da Cunha Souto Maior, residente na sua quinta da Fontainha, em Estarreja. Além da quinta de S. Paio eram d'esta nobre familia os vínculos de Salreu e da Ilha de D. Cecilia, 1 junto de Estarreja, mas, de- pois de grandes demandas, estes dois vín- culos passaram para Francisco Barbosa da Canha e Mello (primo direito de Francisco Barbosa da Cunha Souto Maior) que tinha casa em Celeiros e ali viveu muitos annos. Hoje pertencem ao seu neto Antonio Augusto Barbosa da Cunha e Mello, bacharel forma- do em direito, residente em Estarreja. Uma filha de Francisco Barbosa da Cu- nha e Mello,— D. Maria das Dores,— casou em Provezende com o sr.! dr. Joaquim Pi- nheiro d'Azevedo Leite, da nobre Casa do Santo, n'aquella villa, um dos proprietários mais abastados e mais illustrados do Alto- Douro. É vogal da commissão anti-phylloxerica do norte e a s. ex.« se deve a generalisação das videiras americanas no nosso paiz, das quaes se espera a reconstituição dos vinhe- dos do Alto-Douro, hoje quasi completamen- te anniquilados pelo phylloxera. Possue s. ex.» já cerca de 30:000 pés de vides americanas, que est'anno de 1885, ape- i sar de muito novas, produsiram cerca de 20 pipas de vinho, tractando s. ex.* de aagmen- 1 Não é propriamente uma ilha, mas uma porção de terreno plano, cortado e cercado de valias. tar a plantação e esperando colher em praso breve 200 a 300 pipas,— vinho que hoje não produzem muitas freguezias do Alto-Douro reunidas ! . . . Alcaides -Mores Fundada esta villa— ou talvez ainda du- rante a sua fundação — mandou de Lisboa D. Diniz tres fidalgos da primeira nobreza para o regimen d'ella. Foram Pedro Affonso Cam, 1 Alvaro Rodrigues Taveira e Affouso Botelho, o velho. 0 1.° foi encarregado das coisas da repu- blica,—tinha o seu solar no Minho,— casou n'esta villa com D. Briolanja da Nóbrega 2 — e d'elles descenderam muitas pessoas dis- tinctas, entre ellas Diogo Cam, descobridor do Zaire, os Nobreças, ainda hoje (1885) re- zidentes n'esta villa, etc. O 2.° casou também e foi como o 1.° en- carregado das coisas da republica;— ao 3.° deu D. Diniz de jure e herdade para si e seus descendentes o cargo de alcaide-mór. Foram estes os primeiros fidalgos de Villa Real e a elles com o andar do tempo se se- guiram outros muitos,— uns seus descen- dentes, outros estranhos,— tornando-se esta villa um alfobre de nobresa, em manifesta contravenção áo 1.° foral de D. Diniz. V. pag. 942. Logo volveremos ao assumpto e agora in- diquemos alguns dos seus alcaides mores: 1.° — Affonso Botelho, o velho, tronco de grande parte da nobreza de Traz-os-Montes e da do Minho e Beira. 3 1 Assim se lê nas Antiguidades de Villa Beal, mas D. Antonio Caetano de Lima lhe dá nome de Alvaro Pires Cam. 2 Vê-se pois que não foi Domingos Gas- par da Nóbrega o 1.° que usou d'este appel- lido, como se disse no vol. 6.° art. Nóbrega, pag. 102. 3 Descendia de Pedro Martins Botelho, fi- dalgo muito honrado, 3.» neto de Paio Mo- gudo de Sandim, o velho. Este Affonso Botelho morreu em Africa, na infeliz batalha em que pereceu também D. Duarte de Menezes, conde de Vianna, de quem já se fallou largamente nos artigos Vianna e Santarém. VIL VIL 1009 Casou com D. Thereza Correia de Lacer- da, filha de João Correia de Lacerda e de D. Maria Affonso (ou D. Isabel Dias Castello Branco) e irmã de Paio Correia, balio de Leça. Tiveram: —Pedro Botelho, 2.° alcaide-mór, — Maria Botelho e —Isabel Botelho. Esta ultima casou com Diogo de Mesquita Pimentel, de Guimarães,— e Maria Botelho casou com Pedro Ribeiro, da cidade de Bra- ga, do qual teve Isabel Ribeiro Botelho, por antonomásia a fecunda, pois casando com Diogo Rodrigues de Barros, F. C. R., teve tantos filhos e netos que povoou de nobresa esta villa e as províncias de Traz-os- Montes, Minho e Beira ! . . . A outra filha do i.° alcaide-mór também deixou numerosa descendência. 2. °— Pedro Botelho. Casou duas vezes e do seu primeiro ma- trimonio com D. Catharina Alvares Taveira teve 5 filhos, entre elles 3. ° — Ajfonso Botelho, o novo. Também casou duas vezes, e do seu pri- meiro matrimonio com D. Genebra Pereira, filha de Ruy Pereira de S. Paio, teve Pedro Botelho de S. Paio, que segue, e D. Isabel Pereira Botelho, a qual casou também duas vezes, a primeira em Bragança com Pedro Borges, filho de Fernão Gonçalves de Faria, abbade de Serva, e de sua prima D. Isabel Borges. k.'— Pedro Botelho de S. Paio, 4.» alcaide mór, fallecido sem successão, pelo que lhe succedeu seu cunhado 3.°— Pedro Borges, 5.° alcaide-mór, pelo seu casamento com D. Isabel Pereira Bote- lho, da qual teve 6.°— Affonso Borges Botelho, 6.° alcaide- mór, senhor da quinta de Passos, em Sabro- sa, morgado de Escariz e escudeiro fidalgo da casa do marquez D. Manuel de Menezes, o qual lhe vendeu a quinta de Passos, que Affonso Borges Botelho erigiu em morgado, por escriptura de 2 de setembro de 1560,— qrinta e morgado ainda hoje (1885) perten- centes aos legitimos representantes de Af- fonso Botelho, o velho. Casou em Lamego com D. Leonor de Vas- concellos e teve 7. °— Antonio de S. Paio Botelho. Casou com D. Maria da Silva e teve 8. "— Antonio Ribeiro Botelho Correia, um dos ascendentes dos actuaes condes de Villa Real. Casou com D. Paula de Figueiredo e dei- xou successão. Foi talvez o penúltimo dos alcaides-móres d'esta família, cujo cargo andou n'ella até 1628. Em 1633 já era alcaide-mór um estranho —Antonio de Saldanha,— talvez o ultimo por nomeação dos marquezes de Villa Real, ex- tinctos, como já dissemos, em 1641. Não podemos completar a lista dos alcai- des-móres d'esta villa; apenas sabemos que em 1706 era seu alcaide-mór Garcia de Mel- lo, commendador de Santiago da Feiteira, de Santiago de Santarém, de S. Miguel do Pi- nheiro de Azere. de Nossa Senhora dos Al- tos Ceus da Louzã, de S. Miguel de Infames, na ordem de Christo, monteiro mór d'el-rei D. Pedro II, presidente da camará de Lis- boa, da Mesa da Consciência e do Desem- bargo do Paço, etc. filho de Francisco de Mello, monteiro mór do reino, um dos accla- madores d'el rei D. João IV e seu embaixa- dor a França, general de cavallaria do Alem- tejo, governador do Algarve, etc. Casou Garcia de Mello com D. Iaabel de Castro, filha de D. Francisco Mascarenhas, nomeado vice-rei da índia, e teve entre ou- tros filhos— Francisco de Mello, monteiro- mòr do reino e senhor da grande casa de seus paes. Casou duas vezes— a primeira com uma filha dos marquezes d'Alegrete- e a segunda com uma filha dos condes de Villa Verde. Em 1796 era alcaide-mór de Villa Real o marquez de' Tancos e ao tempo occupavam as outras alcaidarias-móres d'esta provín- cia : Algoso— D. Veríssimo de Lencastre. Bragança— D. Luiz Antonio de Sousa. Carrazeda d'Anciães— A camará. Ervededo— Gaspar da Costa Coutinho. Miranda— O conde de S. Paio- 1010 VIL VIL Moncorvo— Idem. Monforte— Vaga. Outeiro— D. José Maria d'01iveira. Penas Roias— Vaga. Tourem— Vaga. Villa Pouca d'Aguiar — José Filippe de Sousa. Vimioso— Diogo Alves Cabral. Em nossos dias foi muito digno represen- tante de Affonso Botelho, o velho, i.° alcaide mór de Villa Real,— Affonso Botelho de Sam- paio e Sousa, tenente coronel de caçadores, deputado ás cortes e um dos mais ricos, mais illustrados e mais beneméritos proprie- tários do Douro, fallecido em 1867. V. Sa- brosa vol. 8.° pag. 274, col. 2.» in fine. Casou duas vezes, — a' primeira com —a segunda com uma senhora já edosa, mas muito rica, dona da casa da Pitarrella e outras. Do seu primeiro matrimonio teve um fi- lho, também Affonso Botelho, e uma filha— D. Anna Leopoldina Botelho de Sampaio e Sousa. O filho foi official de cavallaria n.° 6, em Chaves, casou com D. Maria Pinto, de Frei- xo de Numão, e falleceu sem descendência, rezidindo hoje a viuva na quinta de Passos, em Sabrosa. D. Anna Leopoldina casou com seu primo direito — Antonio Botelho Correia do Ama- ral, da casa de Villa Cova, junto de Villa Real, que foi senhor do palacete e da Ca- pella e collegiada de Sant'Anna, já descri- ptas, hoje em estranhos, bem como a maior parte d'esta grande casa. Tiveram : —Affonso Botelho — Antonio Botelho — João Botelho — Alberto Botelho —Leopoldina Botelho — Maria da Conceição Botelho — Maria das Dores Botelho — e Olímpia Botelho. Affonso Botelho casou a primeira vez no Porto, sem successão, e segunda vez em El- vas, onde vive com successão e é almoxa- rife. Antonio formou-se em direito; casou em Coimbra— e vive actualmente na freguezia d' Alvite, concelho de Mirandella. João está ainda solteiro e vive com sua mãe na casa da Presegueda, freguezia de Villarinho dos Freires, concelho da Regoa. Alberto assentou praça e é official de ar- tilheria. D. Maria da Conceição casou com Paulo de Barros, !.• engenheiro civil da junta ge- ral do districto de Villa Real, onde residem, com successão. D. Leopoldina e D. Maria das Dores também casaram e teem successão. D. Olímpia está ainda solteira e vive com sua mãe na casa da Presegueda. Affonso Botelho de Sampaio e Sousa, fal- lecido em 1867, deixou o terço a um neto, pelo que ainda hoje se conserva uma boa parte da sua grande fortuna. Do exposto se vê que ainda promette lon- ga continuação a família do 1.° alcaide-mór de Villa Real,— Affonso Botelho, o velho,— e que ainda também não degenerou o san- gue da sua bisneta D. Isabel Ribeiro Bote- lho, a fecundai.. . Nobresa de Villa Real Como já dissemos supra (pag. 943, col. 2." e 944, col. 1.») um dos grandes privilé- gios concedidos por D. Diniz a esta villa foi — não poderem rezidir n'ella, nem no seu termo, fidalgos;— mas, tentados pela mesma prohibição, pela bellesa, salubridade, ferti- lidade e commodos da nova villa, e pelo exemplo das famílias dos tres fidalgos que D. Diniz mandou de Lisboa para o governo d'ella, sendo o 1.° a postergar n'este e neu- tros pontos o seu foral, — a nobresa pullulou e rapidamente a invadiu toda f Queixaram-se os villarealenses a D. Af- fonso IV, pedindo-lhe confirmarão dos foros que seu pae D. Diniz lhes concedêra, e D. Affonso IV os attendeu, confirmando o foral de D. Diniz. Foi elle também confirmado por D. Pedro I, e D. João I; mas, tornando-se ca- da vez mais ameaçadora a avalanche da no- bresa, os villarealenses de novo se queixa- VIL VIL 10 li ram a D. João I e este novamente 09 atten- | deu. Para não fatigarmos os leitores, daremos apenas um extracto do 2.° alvará de D. João I, porque é muito explicito e resume os ou- tros tres. Eil-o: «D. João pela graça de Deus rei de Portu- gal, etc. A vós juizes de Villa Real e a to- das as outras nossas justiças ... a quem esta carta fôr mostrada, saúde. «Sabei que o concelho e homens bons d'essa villa nos enviaram dizer que elles teem uma carta d'el-rei D. Diniz, nosso bi- savô, na qual é conteúdo entre outras cou- sas— que fidalgo nem prestameiro não pouse na dita villa,— & qual foi outorgada e con- firmada por el-rei D. Affonso (IV) nosso avô, e por el-rei D. Pedro (I) nosso padre *, e por nós outrosi, . . . e que hora algumas pessoas grandes do nosso reino e poderosas se apoderam d' elles e de seus bens e de suas pousadas e da dieta villa, a quem demos cartas porque se acolhessem na dieta villa, com todas as suas gentes 2, o que elles dizem que não ó nosso proveito nem honra dos mo- radores da dieta villa, e que recebem perda e damno, aggravando-lhes contra a dieta carta de foro e contra as outras que teem de confirmação, assim de nós como dos so- bredictos reis que antes de nós foram, como dicto é, e que nos enviaram a pedir por mer- cê que lhes mandássemos guardar a dieta carta de fôro . . . e que mandássemos que nenhuma pessoa grande e poderosa que não pouse na dieta villa nem n'ella entrem con- tra suas vontades; e nós, vendo o que nos enviavam a dizer e pedir, e querendo lhes fazer graça e mercê, temos por bem e man- damos que vejades a dieta carta de foro. . . sobre esta rasão, e lh'a guardeis e façaes guardar e cumprir em tudo e por tudo, pela guisa que em ella é contheudo, e lhes não 1 Todos sabem que D. João I era filho na- tural de D. Pedro 1 e de D. Thereza Lou- renço. 2 Do exposto se vê que o mesmo rei D. João I havia quebrantado o foral n'este pon- to 1 . . . vades nem continueis a ir contra ella, em nenhuma guisa que seja...— -e que nenhuma pessoa grande e poderosa, de qualquer con- dição e estado que seja, não entre nem pouse na dieta villa contra suas vontades... — Al não façades... Braga 22 de novembro de 1425.» Bem gritaram os villarealenses, mas a fi- nal a nobresa, como mais forte, triumphou e oceupou toda a villa, principalmente de- pois que passou para o senhorio dos condes, marquezes e duques de Villa. Real, capitães donatários de Ceuta, pois generosos, como eram, costumavam mandar para aqui mui- tos cavalleiros e criados seus, em remune- ração dos serviços prestados na Africa e pa- ra maior luzimento da casa e estado de tão poderosos senhores. Deram também um valioso contingente para o augmento da nobresa d'esta villa os altos officiaes da justiça d'ella, taes como os ouvidores, juizes de fóra e almoxarifes, quasi sempre fidalgos,— e muito particularmente a família dos Botelhos, 1 seus alcaides-mores durante mais de 200 annos consecutivos, — família que encheu de nobresa não só Villa Real, mas grande parte d'esta província de Traz-os-Montes e das do Minho e Beira, co- mo dissemos no titulo dos Alcaides-mores. Difficilmente se encontrará n'esta villa e nas de Sabrosa, Favaios, Provezende e ou- tras muitas, uma única família nobre que não prenda com a de Affonso Botelho, o ve- lho—familia ainda hoje numerosa e que pro- mette larga duração, pois só a ex.m» sr." D. Anna Ludovina Botelho, supra-mencionada, hodierna representante do ramo principal, conta cerca de 28 filhos e netos e bem mos- tra ter sangue da celebre D. Isabel Botelho, a fecunda, neta do 1.° alcaide-mór. Também promettem larga duração ainda hoje outras famílias da primeiru nobreza d'esta villa, nomeadamente as da Casa do Arco e de Gonçalo Christovam, pois o ultimo representante da 1." deixou 11 filhos,, que 1 Estes Botelhos eram appellidados Cun-, cas. 1012 VIL VIL hoje contam numerosa successão, — e do ul- timo representante da 2.» vivem n'esta data duas filhas e 19 netos ! Contam pois só estas tres famílias hoje mais de sessenta representantes nos seus ramos directos, não faltando nos collateraes. Foi sempre grande a fecundidade dos vil- larealenses. Já nas Antiguidades se lé que algumas mulheres d'esta villa deram filhos até á eda- de de 50 annos e mais — e que algumas ti- veram 30 filhos. 1 Villa Real teve mais famílias nobres do que nenhuma das nossas villas e do que a maior parte das nossas cidades, incluindo Lamego e Guimarães. Os seus appellidos eram:— Abreus, Aguia- res, Almeidas, Alvarengas, Alcoforados, Al- vins, Amaraes, Andrades, Araujos, Arraes, Athaides, Azevedos, Alvares, — Barbosas, Barros, Beças, Borges, Botelhos,— Cabraes, Calvos, Cam, Cardosos, Carvalhos, Castello Branco, Castros, Coelhos, Coronéis, Correias, Couceiros, Cunhas,— Dragos,— Farias, Fon- secas, Furtados,— Gouveias, Guedes,— La- cerdas, Leitões, Lemos, Lobos, Lopes, Luce- nas,— Macedos, Machados, Magalhães, Mel- los, Mendes, Mendonças, Menezes, Mesqui- tas, Mirandas, Monizes, Montarroios, Mon- teiros, Mourões, Moutinhos,— Nobregas, Ni- sas,— Pereiras, Pimenteis, Pintos,— Quei ro- ses,—Rebellos, Ribeiros, Rodrigues, Rosas, — Sampaios, Sarmentos, Sás, Seabras, Silvas, Silveiras, Sousas, Souto Maiores,— Tavares, Taveiras, Tavoras, Teixeiras,— Vasconcellos, Vases, Veigas e Vieiras ! . . . Muitas d'estas famílias viveram com gran- de fausto e 14 d'ellas tiveram a um tempo trens montados para visitas e passeios den- tro da villa, quando as estradas ruraes eram todas barrancos e precipícios. Também consta que a um tempo se reu- niram na procissão do Corpo de Deus 16 ca- 1 Vive na Foz do Douro M."« Guichard que teve 25 filhos— e a avó delia teve em França 36. Só duas senhoras da mesma família tive- ram pois nada menos de sessenta e um fi- lhos I... , valleiros de differentes ordens— e ainda hoje na villa se contam 27 edifícios particulares brasonados. Só na pequena rua do Poço, hoje rua Central, se veem ainda 6 brasões d'armas. Cruéis alternativas Antes da invasão do oidium e da phyllo- xera, quando os extensos e formosos vinhe- dos d'este concelho, d'esta comarca e d'este districto estavam sãos, e os seus vinhos, — os vinhos mais preciosos do Douro, de Por- tugal e do mundo,— tinham venda prompta, remuneradora e fácil, como succedeu du- rante a poderosa companhia creada pelo marquez de Pombal *, foi esta villa um mon- te d'ouro, uma colmeia de nobreza; mas in- felizmente hoje nem a sombra é do que foi outr'ora 1 . . . Apresenta-se ainda galhardamente e os- tenta mesmo uma certa vida,— mas a sobre- posse. Graças aos seus dignos vereadores, tem, como já dissemos, um bello jardim publico, e traz em construcção, com o producto d'um grande empréstimo, um mercado coberto e um soberbo edifício annexo ao extincto con- vento franciscano, para poder aquartelar um regimento inteiro. São duas obras dispen- diosas e muito importantes, que ficam em magnificas condições e muito recommendam esta villa. Também projectam construir uma ponte monumental sobre o Corgo, junto da de Santa Margarida,— um matadouro publico, — novo cemitério em melhores condições de hygiene do que o actual — e um novo campo para as suas grandes feiras. Tem além d'isso esta villa todas as suas ruas limpas e bem calçadas, um Banco, um Lyceu, um corpo de policia civil, um hospi- tal esplendido, um Asylo de Infância desva- lida, outro, o Azylo Chaves, prestes a inau- gurar-se, e todas as repartições publicas do 1 Veja-se o artigo Porto, vol. 7.° pag. 312, col. 1." e 415, col. 1.* também,— en'este vol. 10.° o artigo Victoria, desde pag. 597, col. 1.» até pag. 60i,— e Villa Jusã, pag. 770, col. in fine. VIL VIL 1013 districto, da comarca e do concelho monta- das em bons edifícios. Ha também n'esta vi 11a e n'este concelho ainda grandes proprietários, sendo hoje o i.* o sr. conde de Villa Real. No anno ultimo pagou 527 £150 réis só de contribuição pre- dial;—mas falleceu ha poucos annos um seu visinho— José Paulo Teixeira de Figueiredo, da mesma freguezia de Matheus, junto d'esta villa,— que era o maior proprietário d'este concelho e o segundo d'este districto e d'esta província *. Á sua grande casa, hoje dividida pela viuva e por tres filhos 2, era avaliada em 700 a 800 contos de réis. Colhia, termo médio, — 20 pipas d'azeite,— 600 pipas de vinho, quasi todo do melhor do Alto Douro,— e 20:000 medidas de pão,— além do juro de centos de contos de réis em numerário; ó porém mui- to sensível,— não para esta grande casa, mas para todo o Alto Douro, nomeadamente pa- ra este districto, 3 para esta comarca, para 1 A opulenta casa F «freirinha, da Regoa, hoje representada pela sr.* D. Antónia Ade- laide Ferreira, viuva em primeiras núpcias de Antonio Bernardo Ferreira, seu primo, e em segundas núpcias do grande capitalista e par do reino Francisco José da Silva Tor- res, é muito maior, absolutamente a pri- meira em propriedades rústicas e urbanas, — n'este districto e n'esta província. Tem além d'isso a famosa quinta das Figueiras ou do VezuviOj — absolutamente a primeira do Douro, — e outras na província da Beira, grandes palácios, vastíssimos armazéns e ou- tros muitos prédios urbanos no Porto e em Lisboa — e a maior parte da sua grande for- tuna, milhares- de contos de réis, em nume- rário. 2 José Bento Teixeira de Figueiredo, ainda solteiro,— Jeronymo Teixeira de Figueiredo, também solteiro, bacharel formado em di- reito,—e Bento Teixeira de Figueiredo, ba- charel formado em direito, casado com uma filha de Nicolau Pereira de Mendonça Fal- cão. V. Pinhanços, Paredes da Beira e Villa Nova d' Ourem. 3 A decantada região vinícola do Douro estava nos districtos de Vizeu e de Villa Real, mas pertencia a este ultimo a zona dos vinhos mais generosos, por comprehender a margem direita do Douro, exposta ao sul e ardentíssima ! No verão o thermometro ele- este concelho e para esta villa a falta dos vinhos generosos do Douro, que constituíam a sua principal riqueza e que hoje quasi que desappareceram. Tal é a devastação cau- sada pela maldita phylloxera t N'este concelho de Villa Real, nos de Pe- naguião e Mezãofrio e em parte do da Regoa, (Baixo Corgo) por ser o terreno forte, fundo e relativamente fresco *, ainda se encontram bonitos vinhedos, embora todos manchados, mas nos concelhos de Sabrosa e d'Alijó, que produziam o vinho mais generoso do Alto Douro, a devastação é quasi completa e a maior parte das vinhas já estão incultas 1 Em 1840, segundo o arrolamento feito pe- la extincta Companhia da Agricultura e Vi- nhos do Alto Douro, produziu o concelho de Alijó 10:232 pipas— e o de Sabrosa 10:873, — total 21:105 pipas de 550 litros cada uma, — e n'este anno de 1885 os dois concelhos reunidos, com certesa não produziram 4:000 pipas. Estão perdendo pois só aquelles dois con- celhos cerca de 17:000 pipas ou de 850 contos de réis por anno, calculando se a pi- pa a 50$000 réis,— preço muito inferior ao d'alguns annos, pois era o vinho mais gene- va-se ali a 48 graus ao sol,— estalam as pe- dras com o calor,— tremem de sesões os ga- tos, as gallinhas e os cães, — derrete-se a solda das vasilhas de lata— e destempera-se o fio dos instrumentos de corte, expondo-os ao sol! Todas as arvores, incluindo as oliveiras, perdiam no verão a maior parte da folha; — somente as videiras se conservavam viçosas e produziam o bello Port Wine, — o melhor vinho do mundo; mas infelizmente hoje, qua- si toda aquella zona se acha inculta, coberta de matto rasteiro e semelhando o valle da morte ! . . . 1 A phylloxera seguiu uma marcha dia- metralmente opposta á do oidium. Este principiou por atacar em 1853 as vinhas do Baixo Corgo, ou das terras mais fortes, mais férteis, mais frescas e mais húmidas— e so- mente alguns annos depois (1857) invadiu os vinhedos do Alto Douro, ou da zona ar- dente, e d'ali se espalhou por todo o nosso paiz. A phylloxera, ao contrario, principiou pe- la zona ardente do Alto Douro, pela região 1014 VIL VIL roso do Douro, que por vezes se vendeu a 80 e 901000 réis a pipa. * Toda a zona do Alto e Baixo Douro, den- tro da demarcação da Companhia, produziu n'aquelle anno 82:190 pipas, emquanto que hoje não produz a decima parte talvez. Infeliz Douro 1 Lavradores 2 que tinham 6 a 12 contos de renda por anno, hoje luctam com difficulda- des ! . . . É menos dura ainda no Allo Douro a sor- te dos jornaleiros, porque uns emigraram e mesmo no nosso paiz, principalmente na construcção das estradas a macadam e das linhas férreas, não lhes falta trabalho,— ou- tros aproveitam das propriedades incultas e abandonadas o terreno melhor e— sem pa- garem renda— cultivam-n'o e n'elle colhem algum centeio e batatas com qae se alimen- tam ! . . . E quando se hão de reconstituir os vinha • dos do Douro ? Difficilem rtm postulasti!. . . Para combater o oidium descobriu-se o enxofre, que é barato e fácil d'applicar. Au- gmenta em 2:000 réis apenas o preço da pro- ducção de cada pipa. O primeiro lavrador que o applicou no Douro foi, em 1854, Felix Manuel Borges Pin- to, pae do sr. visconde de Castello de Bor- ges. No anno seguinte já o applicaram tam- dos vinhos mais generosos, manifestando-se pela primeira vez ero 1872 na freguezia de Gouvinhas, concelho de Sabrosa, nas quin- tas do par do reino Lopo Vaz de Sampaio e Mello; — d'ali passou para toda a região vinícola do Alto Douro— e depois para o Baixo Douro e para todo o nosso paiz,achan- do-se n'esta data (1885) officialmente reco- nhecida no Minho, na Beira, na Bairrada, na Extremadura, etc. mas em parte nenhuma pesou até hoje com tanta força e causou tan- tos estragos como no Alto Douro 1 . . . 1 Ainda esfanno de 1885 o sr. «Manuel Pinto Pimentel de Castro Pereira vendeu na freguezia de Gouvinhas, concelho de Sabro- sa, um tonel de 25 pipas a 150$000 réis ca- da pipa; mas note-se que era vinho de 1872. 2 Assim se denominam os proprietários do Douro, embora sejam fidalgos distinctos. bem o sr. conde de Samodães— c o pae do auctor d'estas linhas, José Antonio Ferreira, na sua quinta do Campo Velho, contigua á de Felix Manuel Borges Pinto, no valle do Tedo. Antes de se manifestar o oidium foi abun- dantíssima nos últimos annos a producção do vinho no Douro, pelo que os preços bai- xaram espantosamente 1 Chegou a vender-se aguardente magnifica de 10 graus a 30#000 réis a pipa de 550 litros, — e a pipa de vinho a 4£500 réis ! Assim vendemos nÓ3 um an- no o vinho d'aquella quinta, — vinho do Alto Douro e com um anno de empate ! . . . Baixou também na mesma proporção o pão das serras contíguas ao Douro, chegan- do a vender-se a 200 réis a medida de 15 litros nas praças — e a 2$250 réis a medida de foros perpétuos, garantidos por escriptura em boa» propriedades ! Foi uma crise medonha, proveniente da extrema abundância do vinho; mas em bre- ve passou e lhe succedeu outra, mais medo- nha ainda, proveniente da grande escacez. Com a invasão do oidium a producção es- caceou a ponto tal que nós n'aquella quinta de 50 pipas um anno colhemos apenas qua- tro, mas vendemol-o a 72#000 réis,— preço que sustentou alguns annos, mesmo depois que enxofrávamos e colhíamos 50 a 55 pi- pas na mesma propriedade. Hoje está também inculta e não produz vinho algum!. . . Tendo nós apurado n'aquella pequena quinta mais de^tres contos de réis alguns annos, — hoje apenas dá azeite e figos, o que não chega para as contribuições; mas (gra- ças a Deus!...) temos propriedades fóra d'aquella zona e outra ordem de recursos. Do oidium bem se libertou o Douro com a applieação do enxofre, mas da maldita phylloxera não sabemos quando se libertará. De todos os insecticidas empregados con- tra ella o que mais confiança inspira e que hoje se applica em maior escala no nosso paiz e nos paizes estrangeiros é o sulphureto de carbone; está porem muito longe de sa- tisfazer, porque é caro e de custosa e peri- VIL VIL 1015 gosa applicação. Se se applica em pequena dóse, não mata a phylloxera;— se se au- gmenta a dosagem, pôde matar as vides — e quando as não mata, definha-as, sendo ne- cessário estrumal-as, o que torna impossí- vel a conservação e reconstituição dos vi- nhedos por semelhante processo. Apenas é acceitavel para terrenos fortes e fundos e para vinhas simplesmente man- chadas, mas não todas phylloxeradas, como infelizmente se acham as do Alto Douro ! ... 1 Alguém deposita grande confiança nas vi- deiras americanas, mas, pelas experiências feitas, mal podem adaptar-se aos terrenos extremamente áridos e ardentes do Alto Douro; — das suas numerosas variedades nenhuma é absolutamente indemne— e pelo cheiro e sabor peculiar do seu vinho não se prestam para producção directa, sendo ne- cessário enxertal-as para conservação das nossas castas europeias, o que demanda grandes cuidados. É porém muito possível que estes con- tras desappareçam com a experiência e que os nossos vinhedos se reconstituam com as vides ameriennas. O maior propagandista e apologista d'el- las é, como já dissemos, o sr. dr. Joaquim Pinheiro d'Azevedo Leite, da nobre casa do Santo, em Provezende, — um dos mais abas- tados e mais illustrados lavradores do Alto Douro e que mais se tem empenhado e em- penha em pró da reconstituição dos vinhe- dos perdidos. 1 N'esta data (dezembro de 1885) se acham completamente phylloxerados e perdidos, só no Douro, — 40:000 hectares de vinhedos! ... O nosso governo creou duas commissões anti-phylloxericas, uma ao sul, outra ao nor- te do nos9o paiz e, entre outros benefícios prestados aos lavradores, vende-lhes o sul- phureto por um terço do seu custo (28,3 de real o kilo) montando actualmente o consu- mo a 400 toneladas por anno. Creou também no Douro duas estações ampelo-phylloxericas, ambas n'este diàtricto de Villa Real, — uma no concelho d' Alijó e j outra no da Regoa. No ultimo anno despendeu na lucta con- tra a phylloxera 63 contos de réis. Também muitos depositam grande con- fiança no tabaco, para supprir até certo pon- to a falta do vinho, emquanto se não re- constituem os vinhedos do Douro; mas o nosso governo, pelo facto de ter creada uma grande fonte -de receita nos direitos sobre a importação do tabaco, teve grande dificul- dade em permiltir a cultura d'elle no Dou- ro. Depois das maiores instancias permittiu-a por decreto de 13 de março de 1884, como ensaio, mas com taes peias e restricções que poucos se aproveitaram da irrisória conces- são;—e, como a cultura do tabaco é intei- ramente nova em Portugal e demanda mui- tos cuidados e longo tirocínio, o tabaco até hoje colhido no Alto Douro ainda não está bem defiinido e caracterisado;— continuam porém os ensaios e é de suppor que o Alto Douro venha a produzir tabaco do melhor. Deus o queira. O maior propagandista e apologista da cul- tura do tabaco no Alto Douro tem sido o sr. barão das Lages, que ali possue algumas quintas e que já foi deputado ás cortes em varias legislaturas. Muito mais poderíamos dizer sobre tão momentosas questões, mas é tempo de fe- charmos este artigo e ainda teremos ensejo de volver ao assumpio, quando tractarmos de Villarinho de Cotias, Villarinho dos Frei- res e Villarinho de S. Romão, parochias d'es- te districto e todas tres situadas na região vinícola do Alto Douro. Concluiremos este tópico dizendo que esta província de Traz-os-Montes também colheu muito vinho n'este districto de Villa Real e no de Bragança fóra da demarcação da Com- panhia,— vinho de pasto superior,— nomea- damente o da Ribeira de Oura e da Villariça, mas todos esses vinhedos se acham também muito doentes e alguns já pouco produzem, exceptuando os da Villariça, por estarem em terreno fundo e o mais fértil de Portugal, onde o milheiro de vides baixas ainda pro- duz tres a sete pipas ! . . . V. Oura, vol. 6.° pag. 311, col. 2.a— e n'es- te vol. 10.° Villa Flor de Traz-os-Montes, pag. 731, col. 1.»-— Val da Villariça, pag. 93, col. 1." também, — e Villariça. 1016 VIL VIL Estado económico d1 esta provinda Se o Douro e com elle o districto, a co- marca e o concelho de Villa Real teem sof- frido e estão soffrendo muito, são também pouco lisoDgeiras as condições económicas da parte restante d'esta província na actua- lidade, por muitas razões; mencionaremos apenas as seguintes : 1. »— Porque pelo intimo contacto em que vivia com o Douro era o Douro o seu gran- de foco de vida e n'ella se reflectiram sem- pre as crises d'elle. No Douro empregava muitos braços 1 e vendia grande parte dos seus géneros, nomeadamente cereaes, bata- tas e castanhas. 2. *— Porque os vinhedos da parte restante d'esta província se acham também todos doentes e a sua producção diminue a olhos vistos, de um anno para o outro ! . . . 3. »— Porque tanto n'esta província como em todo o nosso paiz se acham também 1 As plantações, o grangeio e as vindimas do Douro occupavam milhares e milhares de jornaleiros estranhos, — não só da parte restante d'esta província, mas do Minho, da Galliza e da Beira. O serviço mais pesado e mais bem remu- nerado (paredes, plantações e cava) era feito quasi exclusivamente por gallegos e gabiar- ras (minhotos arraianos dos concelhos de Monção e Melgaço) pelo que na Galliza e n'aquelles dois concelhos deve sentir-se tam- bém a grande crise do Douro. Basta notar- se que, havendo mais de mil milheiros de vides no Douro, só a plantação não custaria hoje menos de cem mil contos de réis, caículando-se a 150$000 réis o milheiro, — preço infimo, pois ha ali grandes plantações de 200 a 300#000 réis por milheiro, tal é a quinta de Fornêllo, dos srs. Macedos Pintos de Taboaço, no valle do Távora. V. vol. 9.» pag. 470, col 1.» De passagem diremos que aquella quinta (de Fornêllo e não Fontêllo) era uma das mais luxuosas, mas não a melhor e mais ex- tensa vinha de Portugal, como por engano disse o meu antecessor. Mesmo no Douro ha quintas muito maio- res, taes são as do Noval, Rueda, Ventuzello, etc, não fallando na do Vesúvio, que é ab- solutamente a maior de todas. j doentes os castanheiros, 1 que produziam bella madeira e muito castanha— e eram um grande elemento de riqueza. Também soffrem muito alguns annos as batatas e outros vegetaes. 4.*— Porque a usura attingiu proporções fabulosas ! É trivial n'esta província e na da Beira o juro de 10 a 20 e mais por cento, quando a propriedade productiva não rende mais do que 2 a 3 por cento,— livres de decimas, grangeios e contribuições. Só na província do Minho se encontra ain- da hoje dinheiro a 4 e 5 por cento. Também contribue poderosamente para o definhamento d'esta província de Traz-os- Montes o péssimo estado da sua viação, no- meadamente na parte leste, ou no districto de Bragança, tão aceidentado e crivado de fragoedo. Emquanto a vias férreas, ãpenas toca na sua extremidade 0. S. O.— ou na foz do Tua, — a linha do Douro, que está aberta á explo- ração somente até ali— e em construcção d'ali para a Barca d'Alva e Salamanca,— mas um pouco acima do Tua atravessa o Douro e fo- ge d'esta província para a da Beira. Também está em construcção a linha fér- rea do Tua, igualmente na extremidade O.S.O do districto de Bragança, pela margem es- querda do Tua e apenas na extensão de 45 kilometros, desde a foz d'este rio até Miran- della. Alguns serviços deve prestar ao dis- tricto de Bragança, mas seriam talvez maio- res se em vez de seguir o valle do Tua, se- guisse o do Sabor, por ser muito mais cen- tral,—e atravessaria o valle da Villariça, que é o mais fértil da província e de todo o nosso paiz t Emquanto a estradas a macadam tem hoje aquelle malfadado districto apenas uma de Bragança a Mirandella, na extensão de 1 Em todo o nosso paiz se acham doentes não só os castanheiros, mas todas ou quasi todas as outras arvores,— larangeiras, cer- deiras, figueiras, pereiras, macieiras, olivei- ras, etc. VIL VIL 1017 799:62,m03 outra de Mirandella a Mon- corvo, na extensão de 43:977,m72 — e outra de Bragança a Vinhaes, na extensão de 32:225m,01. Todas as outras estradas 9ão as do tempo de D. Affonso Henriques,— uma medonha sequencia de barrancos e precipi- j cios, pelo que, não podendo os lavradores mandar os seus géneros aos grandes merca- dos, cultivam só os absolutamente precisos para o consumo local;— permutam uns gé- neros por outros géneros— e só por preços muito baixos, desconhecidos em todo o nosso paiz, é que vendem alguns. No concelho de Miranda, por exemplo, cu9ta a arroba das batatas (15 kilos) 100 a 120 réis;— a de lã branca superior (é a me- lhor da província) 2*000 a 2*500 réis;— o alqueire de centeio (20 litros) 200 réis a 240;— o alqueire de trigo 450 réis a 500; uma gallinha 160 réis;— uma perdiz 60 réis;— um coelho 80 réis;— uma lebre 140 réis— e 1 dia de lavoura de uma junta de bois 320 réis; — mas note-se que o preço da condução por arroba,— só de Miranda até Bragança,— cus- ta regularmente 200 a 240 réis, e que da Barca d'Alva para o Porto, a grande praça de consumo ao norte do nosso paiz, a con- dução até hoje só pode fazer-se pelo Douro, e é cara, perigosa e incerta, porque só no inverno o Douro é navegável para barcos de carga, da Regoa para cima. Todas as mercadorias permutada* entre Miranda e Porto seguem por Bragança, es- tação do Pinhão e linha férrea do Douro, mas custa a condução por arroba, só do Pi- nhão até Bragança, 280 a 300 réis— e até Mi- randa 480 a 500 réis, pelo que os concelhos de Miranda, Mogadouro, Vinhaes, Vimioso e Bragança mandam para o Porto unica- mente lã, que ali chega sempre tarde e a más horas 1 O districto de Villa Real, se não è dos mais bem servidos d'estradas, está in- comparavelmente em melhores condições do que o de Bragança, como vamos ver. 1 Não se extranhe o darmos algumas no- ticias genéricas do districto de Bragança e de toda a província de Traz-os-Montes. Assim nos cumpre, por ser Villa Real a capital d'ella. Situação geographica Demora Villa Real a 41° e 19m de latitude septentrional— e a 11° e 2m de longitude. Pela craveira da viação antiga 1 distava do rio Douro 2 léguas,— 3 de Lamego,— 13 de Braga,— 14 do Porto e 59 de Lisboa; mas hoje, pela medição e viação actuaes dista do rio Douro ou da villa da Regoa cerca de 27 kilometros 2, — de Sabrosa 22:300m,0)— de Villa Pouca d'Aguiar 28,— de Lamego 39, — do Porto, pela estação da Regoa e pela linha férrea do Douro, 131, — de Braga, pela mesma linha férrea e pela do Minho, 177,— de Valença do Minho, pelas mencionadas linhas férreas, 252,— de Coimbra 250 — de U sboa 468,— de Marvão, raia de Hespanha, na linha férrea de Madrid por Caceres e Valencia decan- tara, 494, — de Elvas, na linha férrea de Madrid por Badajoz, 519,— de Évora pelas linhas do norte e do sul, 484 —de Beja, pe- las mencionadas linhas férreas, 662, — e 727 de Villa Beal de Santo Antonio, por Beja, Mértola e Guadiana. Villa Real de Traz os Montes, pelo facto de estar junto da extremidade O. da pro- víncia e muito mais perto do Douro e do Porto do que Bragança, teve sempre mais facilidade em vender os seus productos e por consequência mais vida do que aquella cidade. Alem d'isso o seu districto, pelo fa- cto de comprehender grande parte dos vi- nhedos do Alto Douro, foi sempre também muito mais rico. Já em 1792, segundo se lé na Descripção do dr. Columbano, a differença era pasmosa. A comarca de Bragança pagou de dízimos n'aquelle asno 92:931*115 réis, podendo-se computar o seu rendimento total em réis 929:311*150,— em quanto que esta comarca de Villa Real no mesmo anno pagou de dí- zimos 209:419*450 réis, sendo por conse- 1 Descripção da provineia de Traz os Mon- tes por Columbano Pinlo Bibeiro de Castro, Códice n.# 486 da Bibliotheca Portuense, já citado. 3 Hoje a légua official é de 5 kilometros . 1018 VIL VIL quencia o seu rendimento total de réis 2.004:194^500!. . . E esta cifra até 1850 de- via elevar-se talvez ao dobro, porque desde 1792 até 1850 se elevou talvez ao dobro a plantação dos vinhedos no Alto Douro e a producção vinícola. Também augmentou a plantação dos vi- nhedos no districto de Bragança, mas não tanto como no de Villa Real— e Bragança perdeu a industria do fabrico da seda, que em 1792, como diz o dr. Columbano, era importantíssima e constituía a sua principal riqueza. Também Villa Beal foi sempre— eé ainda hoje — muito mais bem servida de estradas do que Bragança. Bragança está e esteve sempre no interior do sertão, em um dos pontos mais afastados do nosso paiz e dos seus grandes centros de viia e de consumo, servida por péssimos caminhos. Ainda hoje apenas conta os pou- cos kilometros de estradas a macadam, já indicados,— e uma carreira única de diligen- cias, entre Bragança e Mirandella I Villa Real, sendo ainda a velha cidade de Panoias, já teve (segundo se suppõe) estra- das romanas para Chaves. Bragança, Anciães (Agua Quintianae) Lamego, Caria, Braga e Porto, — seguindo estas ultimas talvez pelo Marão, Campeã e Amarante, — por Penaguião, ponte Cavallar (no Sennanha) Cidadelhe, Mesãofrio, Padrões (?) da Teixeira, Padro- nello (talvez diminutivo d'algum padrão ou marco milliar) e Amarante, — e por Cidade- lhe, Mesãofrio, Baião e Canavezes. Sendo Panoias, Chaves, Bragança, Lame- go, Caria e Braga n'aquelle tempo cidades ou povoações muito importantes, necessaria- mente estiveram ligadas entre si por estra- das, que deviam ser aquellas. Nem se argumente com a falta de marcos milhares e d'outros vestígios das grandes estradas romanas, porque o terreno que atra- i vessavam soffreu posteriormente grandes modificações com a agricultura e com o van- dalismo dos povos, nomeadamente a zona vinícola. Note-se também que nem todas as estra- das romanas eram vias militares luxuosas. Os romanos, alem das suas vias militares esplendidas, muito bem feitas e muito bem servidas por carreiras de coches tirados por cavallos magníficos, tinham estradas de 2." ordem, mais estreitas e menos luxuosas, — e estradas de 3.» 4." e 5.* ordem, algumas das quaes nem eram calçadas de pedra!...1 E não admira que desapparecessem as es- tradas romanas, porque depois da extincção do grande império todos os povos que occu- param a península descuraram aviação com- pletamente,—tanto os bárbaros do norte, co- mo os árabes e os christãos — e mesmo nós os portuguezes até ao meado d'este século. Sabe-se porem que desde os princípios da nossa monarchia este districto de Villa Real era crusado pelas primeiras estradas que serviam esta província: — a de Chaves ao Douro, seguindo para a Beira por Lamego, na linha N. S., pondo esta villa (Constantim, até o reinado de D. DinizJ em contacto com o Porto pela via fluvial do Douro, — e a de Bragança ao Porto, pela Campeã e Ama- rante, na linha E. a 0., atravessando a séde d'este districto de Villa Real e dando-lhe o bónus de tres dias na jornada com relação a Bragança, pois as sédes dos dois districtos distam uma da outra 137:615B,,3— ou 281 lé- guas approximadámente. Mas deixemos os calamitosos tempos da viação amiga e fallemos da moderna. Segundo os mappas publicados pelo mi- nistério das obras publicas no Diário do Go- verno de 9 de junho de 1885 e que se refe - rem a 30 de junho de 1883, havia no dis- tricto de Bragança construídos até áquella data— 139: 766,m2, e n'este de Villa Real 275:574m,9, ou mais 135:808»,7 do que no districto de Bragança. Já n'aquella data a differença era quasio duplo em favor d'este districto de Villa Real; mas hoje deve ser maior ainda. O districto de Bragança tem hoje apenas 1 Vejam-se n'este diccionario os artigos I Estradas romanas, Vias férreas, Cidadelhe (a 2.a) Villa Jusã, n'este vol. pag. 768, col. I.8— e Villamamn, pag. 782, col. 2.» Vejam- 1 ! se também as Mem. de Braga por Argote, ! tomo 2.° pag. 707 e seg. VIL VIL 1019 uma carreira de diligencias, entre Bragança e Mirandella, emquanto que este de Villa Real tem as seguintes: 1. *— De Villa Real para a Regoa, que põe Villa Real em contacto com o Douro,— com a linha férrea d'este nome,— com Lamego, —com a Beira— e com todas as linhas fér- reas do nosso paiz por intermédio da linha do Douro. 2. »— De Villa Real para Mirandella e Bra- gança. 3. a~De Villa Real para Sabrosa na estra- da em construcção d'esta villa para Freixo de Espada á Cinta, hoje apenas construída até S. Lourenço, pouco alem de Sabrosa. 4. a— De Villa Real para Verim, por Villa Pouca d'Aguiar, Pedras Salgadas, Vidago e Chaves, e que de Verim (na Hespanna) se- gue para Orense e Zamora. 5. a— De Chaves para Valle Passos, na ex- tensão de 37:163<",1. 6. a— De Chaves para Carrazedo de Monte- negro. 7. a— De Villa Pouca d'Aguiar para Gui- marães, pelos concelhos de Ribeira de Pena e Basto. 8. " — Da estação do Pinhão, na linha fér- rea do Douro, para Bragança, por Favaios, Alijó, Murça e Mirandella. Também já teve uma importante carreira de diligencias para o Porto, pela Regoa, Me- zãofrio, Padronello e Amarante,— e outra também para o Porto, pela Campeã, Padro- nello e Amarante também, mas com a inau- guração da linha férrea do Douro a l.a des- tas diligencias ficou trabalhando até á esta- ção da Regoa somente— e a 2.a acabou. Eis aqui a vol cToiseaux o estado da via- ção a macadam n'este districto. Emquanto a viação accelerada comprehende apenas 47 kilometros na linha fewea do Douro, desde a estação de Barqueiros até á do Tua,— e também já teve uma linha de carros ameri- canos a vapor, na extensão de 26:758-,0— da Regoa para Villa Real,— mas liquidou em 1878, por causa dos grandes declives que as machinas Wintertur não poderam vencer. 1 1 Veja-se n'este vol. 10.° o artigo Vias Férreas, pag. 482, cel. l.a Também está em projecto uma linha fér- rea a vapor pelo valle do Corgo e proximi- dades d'esta villa, desde a estação da Regoa, na linha do Douro, até Chaves,— outra de Chaves para Guimarães, em continuação da linha férrea já construída e em exploração da Trofa até Guimarães, *— outra de Chaves para Mirandella, em continuação da do Tua, 2 — e outra de Chaves para Braga ou Guima- rães, em continuação da linha férrea do Porto á Povoa e Villa Nova de Famalicão 3. Concluiremos dizendo que tem este dis- tricto mais 4 estradas a macadam em con- strucção e prestes a concluirem-se,— uma de ■ Chaves para Braga,— outra de Villa Pouca d'Aguiar para Boticas, — outra de Villa Pouca d'Aguiar para Mirandella— e outra da estação do Ferrão, na linha do Douro, por Gouvinhas, até S. Martinho d'Anta, a en- troncar na de Villa Real a Freixo de Es- pada á Cinta. Comprehende este ramal 24:368",0 e já se acha construído desde o Ferrão até Gouvinhas, na extensão de 8 ki- lometros, approximadamente. Edifícios particulares Alem dos edifícios públicos já menciona- dos, tem esta formosa villa bons edifícios particulares. Para não fatigarmos os leitores mencionaremos apenas entre os mais anti- gos a Casa do Arco — e entre os mais mo- dernos o palacete mandado construir no 3.° quartel d'este século pelo grande capitalista, grande proprietário e par do reino Francisco José da Silva Torres, 2 ° marido da sr.a D Antónia Adelaide Ferreira e ao tempo muito digno representante da opulenta casa Fer- reirinha da Regoa. Mencionaremos também o palacete da fa- mília Claros, recentemente construído,— e entre os do principio d'este século o palácio construído em 1816 pelo general e L9 conde d'Amarante — Francisco da Silveira Pinto da Fonseca — na rua do Jazigo, hoje Largo do Conde ã1 Amarante, na extremidade S. O. do Campo do Tabolado. 1 V. logar citado, pag. 473, col. 2.a 2 V. logar citado, pag. 478, col. l.a 3 V. logar citado, pag. 473, col. l.a 1020 VIL VIL Posto que ficou incompleto (assim se con- serva ainda hoje) era absolutamente o pri- meiro edifício particular d'esta \illa, mas os successores do seu fundador o venderam ao governo em 1840 e é hoje considerado edi- fício publico, pois n'elle se acham montadas differentes repartições publicas. Bem quizeramos dar aqui uma longa no- ticia do fundador e primeiros possuidores d'este palácio, que tanto se distinguiram na guerra peninsular e nas luctas civis poste- riores, mas, como este artigo vae já tão lon- go, apenas diremos o seguinte: O general Silveira (Francisco da Silveira Pinto da Fonseca) pelos seus relevantes ser- viços durante a guerra da península, nomea- damente por haver batido e aprisionado em 1809 os 3:000 soldados francezes que Soult havia deixado de guarnição na praça de Chaves, quando invadia Portugal, marchan- do sobre o Porto, — e por haver com 4:000 homens (a maior parte paisanos) defendido desde 18 d'abril até 2 de maio do mesmo anno a passagem do Tâmega, em Amarante, contra as forças do mesmo Soult, — foi feito 1 .? conde d'Amarante. Também no anno antecedente (1808) quan- do o general írancez Loison marchava d'Al- meida sobre o Porto e já ia em Mezãofrio, o mesmo general Silveira, collocando-se á frente dos transmontanos, o obrigou a re- troceder e passar muito precipitadamente o Douro na Begoa, salvando assim Amarante, Penafiel e o Porto de duras provações talvez. V. Villa Jusã. Casou em Villa Beal, na Casa da Calçada, com D. Maria Emilia, da qual teve D. Ma- rianna da Silveira, que foi viscondessa da Várzea, — e Manuel da Silveira Pinto da Fon- seca, também general distinctissimo e que — pelos seus relevantes serviços á causa da legitimidade, principalmente por sublevar esta província de Traz os Montes em 23 de fevereiro de 1823 e por bater a divisão li- geira de Luiz do Bego junto de Chaves, na acção de Santa Barbara (13 de março do mesmo anno) aprisionando-lhe quasi toda a brigada de Moniz Pamplona,— foi feito n'a- quelle mesmo anno marquez de Chaves, sen- do já também conde (2.°) d'Amarante. Falleceu no dia 7 de março de 1830 em Lisboa, onde havia casado em 16 de julho de 1823 com D, Francisca Xavier Telles da Silva, filha do marquez d'Alegrete, da qual não teve successão, mas deixou uma filha natural, — D. Maria da Soledade da Silveira Pinto da Fonseca— por elle perfilhada e que foi a sua herdeira e successora. D. Marianna da Silveira Pinto da Fonseca, irmã do 2.» conde d'Amarante, casou com seu primo Bernardo da Silveira Pinto da Fonseca, marechal de campo e 1.° visconde da Várzea, 1 do qual teve 5 filhos: — João da Silveira Pinto da Fonseca, 2.° visconde da Várzea. —Francisco da Silveira, do qual vamos fallar. — Pedro da Silveira, —Antonio da Silveira e — D. Maria Maximiana. Francisco da Silveira Pinto da Fonseca, supra, casou com sua prima D. Maria da So- ledade da Silveira Pinto da Fonseca, filha natural legitimada do general Silveira, 2.° conde d' Amarante e 1.° marquez de Chaves, e tiveram Manuel da Silveira Pinto da Fonseca, neto materno e actual representante do 1.° mar- quez de Chaves, 2.° conde d'Amarante, — bisneto do 1.° conde d'este titulo— e neto paterno do 1.* visconde da Várzea. Casou em 1863 com D. Maria do Carmo Osorio Culmieiro da Veiga Cabral Caldeirão, filha do 2.° barão de Paúlos, aldeia da fre- guezia de Constantim, concelho de Villa Beal, e teve 4 filhos— Francisco, José, Anto- nio e Maria — lodos ainda vivos e expostos a duras contingências, porque Manuel da Sil- veira, sendo aliás suma excellente pessoa e tendo herdado de seus paes e do sogro uma das melhores casas d'este districto, foi tão mau administrador que a perdeu toda — ab- solutamente toda, — incluindo a legitima de 1 V. Várzea d'Abrunhae$ n'este vol. 10.° pag. 213, col. ti» VIL uma infeliz senhora sua cunhada, surda e muda 1 . . . Assim acabou a grande casa dos condes d'Amarante e do marquez de Chaves — e a do visconde de Canellas, Antonio da Silveira Pinto da Fonseca, irmão do 1.° conde d'Ama- rante, pois o visconde de Canellas deixou a maior parte da sua fortuna ao pae do actual Manuel da Silveira,— Francisco da Silveira Pinto da Fonseca. Foi este quem vendeu em 1840 o palácio de Villa Real. Pouco, muito pouco também já hoje resta da grande casa de Gonçalo Chrystovaml... Se a extincção dos ivinculos favoreceu os filhos segundos, mobilisou a propriedade e augmentou as rendas da nação, também te- ve contras. A ella se deve o rápido aniqui- lamento de grandes casas d'esta villa, d'esta província e de todo o nosso paiz. No tempo dos vínculos os seus adminis- tradores, bons ou maus, podiam compromet- ter unicamente o usofrueto d'elles. Embora grangeassem mal, a propriedade passava aos successores e assim se conser- varam durante séculos e séculos grandes casas nas mesmas famílias. O morgado era incomparavelmente mais rico do que os outros irmãos, mas ã som- bra d'elle eram todos os outros educados e respeitados, — obtinham altos empregos,— fa- ziam vantajosas allianças — e raras vezes lhe faltavam meios para viverem com decência. Extinctosos vínculos, 1 os administradores das grandes casas podem comprometter não só o usufructo, mas a raiz, a propriedade, e reduzir á indigência de um momento para o outro famílias inteiras, paes e filhos, — tanto o primogénito, como todos os outros, — o que estamos infelizmente vendo todos os dias ! . . . Também favoreceu o anniquilamento das grandes casas o Banco Hypothecario, facili- tando dinheiro sobre as propriedades, por um juro opparentemente módico. O dicto banco, em vez de beneficiar os proprietários,— arruinou-os ! . . . Accresceu também á extincção dos Yin- 1 O ultimo golpe foi-lhes dado em 1863. VOLUME X VIL 1021 culos e á creação do Banco Hypothecario a introducção e generalisação da roleta e das ioterias, que augmentaram espantosamente o vicio do jogo e são uma das maiores pra- gas que hoje pesam sobre o nosso paiz. Também é digna de especial menção a lei que extinguiu a taxa do juro entre particu- lares, acabando com a usura in nomine, mas favorecendo-a escandalosamente, auctori- sando qualquer juro convencional, sem li- mite. Anteriormente o juro legal era de 5 por cento,— hoje pôde ser de 10, 20, 40, 100 ou i£000I... Bellezas do século das luzes — do gaz, do petróleo e da dynamite. Ao Le monde marche de Eugénio Peletan, oppoz Eugénio Hussart— Le monde viellit et en viellissant on devient pire, — e ambos teem sectários. Villar ealenses illustres já falleciãos Entre os muitos filhos beneméritos d'esta villa foi sem duvida o primeiro D. Pedro de Castro, 1 protonotario apostólico, abbade de Mouçós, n'este eoncelho, e de Freamunde, no de Paços de Ferreira, tantas vezes men- cionado n'este artigo. D'elle nos diz o sr. Antonio Lopes Men- des,—outro villarealense illustre,— nos apon- tamentos que se dignou enviar-nos: — «Se eu possuísse a terça parte da fortuna de meu cunhado José Maria dos Santos (é or- çada na bagatella de quatro mil contos de réis!...) mandava erigir no Campo do Ta« bolado um sumptuoso monumento ao bene- mérito protonotario, pelos relevantes servi- ços que prestou á sua terra natal. Esse mo- numento consistiria na fundação e dotação de um amplo edifício denominado Protono- tario, com todas as condições exigidas pela hygiene e?pela sciencia modernas, para ser- vir de Azylo-Eschola d' Artes e officios a 100 creanças d'ambos os sexos e das mais indi- 1 Era fidalgo da primeira nobreza, des- cendente da casa real d' Aragão e primo de D. Pedro de Nisa, marquez de Villa Real, em Hespanha. 65 1022 VIL VIL gentes do município de Villa Real, tendo preferencia na admissão as da parochia de S. Diniz, onde nasci e fui baplisado— e tal- vez o fosse também D. Pedro de Castro— que bem merecia dos seus patrícios esta tão honrosa homenagem e ao mesmo tempo tão ulil instituição para os villarealenses.» Applaudimos a lembrança. É de todo o ponto justa e bem revela o nobre e generoso coração do seu illustrado auctor. Adiante fallaremos de s. ex.a Agora pro- sigamos rendendo homenagem á memoria d'outros beneméritos villarealenses. — Fr. Miguel Mendes de Cantreiras, da casa d'Anta, religioso trinitario, fundador das irmandades da Misericórdia do nosso paiz, —Pedro Teixeira, senhor da Teixeira e da casa de S. Braz. Foi o terror dos hollandezes em 1625 no Amasonas e no rio Xingu, etc. — Martim Annes de Macedo, da mesma ca- sa de S. Braz e commendador de TellÕes. Foi um valente militar,— esteve na bata- lha d'Aljubarrota e, quando n'ella cahiu D. João I, o levantou. —João Teixeira de Macedo, também mor- gado de S. Braz, senhor da Teixeira, com- mendador de Tellões, alcaide-mór de Monte Alegre, F. C. R. etc. Foi grande cavalleiro no tempo de D. Af- fonso V, a quem prestou muitos serviços com criados e cavallos seus. —Martim Teixeira, também morgado de S. Braz, senhor da Teixeira, F. C. R. é al- caide-mór de Villa Pouca d'Aguiar. Esteve na tomada d'Azamor. —Jeronymo Teixeira de Macedo, filho se- gundo da casa de S. Braz. Foi commendador de Christo e o 1.° eom- mendador d'esta ordem. —Antonio Teixeira d' Azevedo, também morgado de S. Braz e senhor da Teixeira, F. C. R. etc. Militou com grande distincção na índia, onde casou, — José Teixeira Coelho, filho segundo da casa de S. Braz. i Matou o conde de Villa Flor em Sergu- de. i —Bernardo José Teixeira Coelho de Mello Pinto da Mesquita, morgado d'Abbaças, S. Braz, SanfAnna de Constantim, Sergude, Montalvão e Bomjardim,— senhor da Tei- xeira e Fermedo— e commendador de Tel- lões. » —Gonçalo Chrystovam Teixeira Coelho de Mello Pinto da Mesquita, filho do anteceden- te, F. C. R. e senhor da grande casa de seus paes. Foi o martyr das Prisões da Junqueira. —Gonçalo Chrystovam, único filho do an- tecedente e seu herdeiro universal. Foi coronel cammandante dos Voluntários Reaes do Commercio do Porto, F. C. R. etc. 2 —José Antonio Teixeira Coelho de Mello Pinto da Mesquita, F. C. R. e filho e herdei- ro do antecedente. Foi coronel das milícias de Bragança e dos voluntários realistas de Villa Real atè á convenção d'Evora Monte. 3 — Francisco da Silveira Pinto da Fonseca, i.° conde d'Amarante. Foi marechal de campo, — militou com muita distincção na guerra peninsular— e fundou o grande palácio do conde d'Ama- rante. — Manuel da Silveira Pinto da Fonseca, filho !5 do antecedente e também general dis- tinctissimo. Foi 2.°tconde d'Amarante, 1.° marquez de Chaves_e governador das armas d'esta pro- víncia. — Bento Ferreira Lima, capitão-mór de Benguelia, já mencionado. 1 Genealogia de Gonçalo Chrystovam. 2 Militou com distincção na guerra da pe- nínsula, casou com uma filha do conde de Bobadella e falleceu em 1832, deixando seis filhos legítimos e 8 naluraes, mas legitima- dos. 3 Casou com D. Maria do Carmo Abreu de Lima Noronha Teixeira Alpoim, da qual teve duas filhas, herdeiras e successoras, mas de- pois separouse da esposa e esta teve um filho natural, que legitimou,— Manuel Maria, hoje visconde de Negrellos, casado e com successão, residente no seu palácio de Mon- i tariol, em Braga. VIL VIL 1023 — Jeronymo Correia Pinto do Amaral, ou- vidor de Parahiba, no império do Brazil, en- tão colónia de Portugal. Foi o fundador da Collegiada de Sant' An- na, como já dissemos. — Alvaro Correia Barbosa, o Clérigo do Milagre, supra. — José Moutinho d' Aguiar, de quem já fi- zemos menção. Restaurou e ampliou a egreja matriz de S. Pedro. — Os rev.°» João Correia de Mendonça e Manuel Pinto Ribeiro, confundadores da egreja de S. Paulo ou de S. Pedro Novo. — Fr. Manuel Leite, dominicano. Fez grandes obras, á sua custa, no con- vento de S. Domingos d'esta villa. Reformou o grande dormitório que olhava para o Campo do Tabolado, ficando uma vasta ga- leria com 2 andares e 23 janellas; fez a torre actual e a tribuna do altar-mór; — em 1765 mandou construir o coro e o guarneceu com cadeiras de pau preto, molduras douradas e ricas pinturas,— e restaurou o órgão que em 1764 se havia feito com os fundos da ordem, além de 1:000$000 em que foi condemnado Antonio Correia Cabrál, por causa de uma filha de Luiz da Silva Barbosa, escrivão da camará d'esta villa. — Diogo Dias Ferreira, grande bem feitor do convento franciscano d'esta villa (hoje quar- tel militar) que era dos «Menores reforma- dos da província da Conceição >. 1 — Padre Jeronymo Rodrigues, cónego de Guimarães e fundador do convento de Santa Clara, d'esta villa. — Padre José Ferreira Esteves, fundador do Recolhimento de Nossa Senhora das Do- res. — Padre José Ferreira de Carvalho, sobri- 1 Em 1750 fizeram-se os 2 grandes arcos que da Carreira davam entrada para este convento e que foram demolidos esfanno. D'elles se descia por 18 degraus para o pa- teo lageado de pedra que tinha e tem 192 palmos de largura e 294 de comprimento, no fim do qual está um arco abatido, sobre que assenta o coro da egreja e que dá en- trada para esta e para o convento. nho do antecedente e grande bemfeitor do mesmo recolhimento. — D. Luiz Alves de Figueiredo, arcebispo da Bahia. — Rev. dr. Francisco Pereira Pinto, D. Prior do Crato e bispo eleito do Porto, etc. instituidor do vinculo da Casa do Arco. —Pedro de Mesquita, irmão do antece- dente, capitão d'uma nau da índia, onde fal- leceu. — João Correia de Mesquita, morgado de Abbaças, M. F. C. R. e contador-mór das tres províncias da Beira, Minho e Traz-os-Mon- tes. —Gonçalo Pinto Pereira, M. F. C. R., ca- pitão-mór d'esta villa e senhor da Casa do Arco. — Francisco Pereira Pinto Guedes, o ruivo, filho do antecedente, M. F. C. R. e mestre de campo d'auxiliares. —Francisco Vaz Guedes Pereira Pinto, neto do antecedente, F. C. R.— coronel de milícias e senhor da Casa do Arco. — Antonio Teixeira de Magalhães, senhor da Casa da Calçada, F. C. R., capitão de ca- vallos e procurador ás cortes de 1653. Foi sargento-mór e governador de Villa Real em 1641 até 1665— militou com bra- vura e prestou grandes serviços na guerra da Restauração— fez' muitas entradas em Hespanha,— foi governador da praça de Mon- talegre—e commandou um terço de infante- ria de 1:700 homens, etc. — José Antonio de Barros Teixeira Lobo de Barbosa, P. C. R., homem de raro talento e atilamento para o commercio e politica. Foi muitos annos deputado da Companhia dos vinhos, membro da junta provisória de Villa Real para a expulsão dos francezes e um dos homens mais notáveis d'esta provín- cia no seu tempo. Casou em Sabrosa, onde fez grande casa e deixou larga descendência. —Domingos Botelho da Fonseca, F. E. C. R., cavalleiro da Ordem de Christo e fami- liar do Santo Officio. Foi procurador ás côrtes em 1698. —Antonio Botelho Correia, filho do ante- cedente, F. C. R. e cavalleiro da Ordem de Christo com 24$000 de pensão, concedidos I por D. Pedro II em 1702. 1024 VIL VIL Foi juiz almoxarife dos direitos reaes. — João Correia Botelho da Fonseca Ma- chado, F. C. R. e C. O. Ch. Foi juiz almoxarife dos direitos reaes e monteiro-mór d'esta villa. — Dr. Francisco Machado Botelho, supe^ rintendente dos tabacos n'esta província. — Rev. João Botelho Mourão, o Santo Ar- cediago, um dos ascendentes da casa de Ma- theus. Foi muito estimado pelo papa Benedicto XIV e pelo celebre Lambertini. — O licenciado Antonio Alves Coelho, ins- tituidor do Morgado de Matheus, um dos actuaes condes de Villa Real, em 1643. — Antonio José Botelho Mourão, F. C. R. morgado de Matheus e tenente coronel dos dragões de Chaves, etc. Militou com distincção nas guerras da Grande AUiança e construiu o famoso pa- lácio de Matheus até ás columnas,— bem como a sumptuosa capella do mesmo palá- cio. — D. Luiz Antonio de Sousa, morgado de Matheus, do concelho de S. M., senhor do- natário de Ovelha, alcaide-mór de Bragan- ça, commendador de Vimioso, brigadeiro do exercito, governador do Castello de Vianna e governador da província de S. Paulo no Brazil, etc. — D. José Maria de Sousa Botelho Mourão, morgado de Matheus, moço fidalgo com exer- cício no paço, bacharel formado em mathe- matica pela Universidade de Coimbra, ca- pitão de cavallaria, embaixador*na Rússia, Copenhague, etc. Falleceu em Paris em 1825 e foi elle quem mandou fazer a luxuosa edição dos Luzia- das, do Morgado de Matheus *. — D. José Luiz de Sousa Botelho" Mourão, filho do antecedente, morgado de Matheus, conde de Villa Real, etc. Foi ajudante general do 2.° conde d'Ama- rante, quando este em 1823 insurreccionou contra o governo constitucional esta provín- cia de Traz os Montes, da qual era governa- dor militar. A D. José Luiz de Sousa se deve em grande parte o vencimento da acção i V. Matheus, vol. 5.° pag. 127, col. 1." de Santa Barbara, porque muito contribuiu para animar a divisão do conde d'Anwante e restabelecer n'ella a disciplina militar. • De passagem diremos que aquella divisão, formada exclusivamente pelas tropas da província de Traz os Montes, era toda aris- tocrata. Tinha por commandante em chefe o 2.° conde d'Amarante e marechal, Manuel da Silveira Pinto da Fonseca, depois marquez de Chaves. Foi elle quem no dia 23 de fe- vereiro de 1823 levantou em Villa Real o pendão da revolta, e serviam ás suas ordens os cavalheiros seguintes : Gaspar Teixeira de Magalhães Lacerda, marechal, commandante da cavallaria, de- pois visconde do Pes>o da Regoa— e tio ma- terno do 2.° conde d'Amarante, comman- dante em chefe da divisão. Antonio da Silveira Pinto da Fonseca, de- pois visconde de Canellas, tio paterno do mesmo commandante em chefe. Luiz Maria Teixeira Vahia, depois vis- conde de S. João da Pesqueira, marechal e commandante da infanteria. O visconde da Ervedosa, coronel e com- mandante do regimento de infanteria n.°24. Carlos infante de Lacerda, depois barão de Sabroso, tenente coronel. Francisco de Madureira Lobo, coronel. Martinho Correia, brigadeiro. Luiz Vaz Pereira Pinto Guedes, 2.° vis- conde de Montalegre, coronel commandante do regimento de cavallaria n.° 6. José Vaz Pereira Pinto Guedes, depoÍ3 visconde de Villa Garcia, irmão do antece- dente, com vários parentes seus, entre elles o filho primogénito Miguel Vaz Pereira Pinto Guedes, que falleceu como um heroe na ac- ção de Santa Barbara, sendo capitão do re- gimento de cavallaria n.° 6, commandado pelo visconde de Montalegre, seu tio. Do exposto se vê que n'esta divisão mili- taram 1 marquez, 2 condes, 5 viscondes, 3 marechaes e 1 barão 1. 1 V. Amarante, vol. l.° pag. 189, col. 1.» —Canellas, vol. 2.° pag. 88, col. {."—Chaves no mesmo vol. pag. 285, col. i.3— Poiares. VIL VIL 1025 Ainda ao tempo a nossa nobreza se não esquivava ao serviço militar, como hoje. Prosigamos com a lista dos villarealenses beneméritos já fallecidos. t — Gonçalo Lobo Tavares, contador das rendas do marquez de Villa Real e alcaide- mór de Lamas d'Orelhão. — O dr. Amónio de Ervedosa, ouvidor em Valença do Minho. — O dr. Mathias Alves Mourão, provedor e grande Lemfeitor da Misericórdia d'esta villa. Foi lente da Universidade, cavalleiro pro- fesso da ordem de Christo, desembargador da casa da supplicação e deputado do fisco. Falleceu em 1672. — O licenciado Manuel da Silva, grande bemfeítor da egreja de S. Paulo ou de S. Pedro novo. — Fernão Pinto Pimentel, armado caval- leiro em Ceuta, procurador ás cortes d'Al- meirim e instituidor do morgado da Ribeira de Sabrosa. — José Rodrigues de Freitas e Francisco Rodrigues de Freitas, já mencionados, gran- des bemfeitores da Misericórdia d'esta villa'1. Poderíamos levar muito mais longe este tópico, porque todas as casas nobres de Villa Real contam entre os seus ascenden- tes muitas pessoas beneméritas; mas, para não fatigarmos os leitores, ficaremos por aqui, mencionando apenas ainda os nomes de 4 senhoras : da Regoa, vol. 7.° pag. 117, col. 2.a— Santa Barbara, vol. 8.° pag. 403, col. 1." e 405, col. l.a também,— e n'este vol. 10.° Villa Gar- cia, pag. 736, col. 1.» 1 Tornaram-se também tristemente notá- veis os 2 villarealenses seguintes : 1. ° — Manuel Innocencio d' Araujo Mansi- lha. Este mancebo, contando apeuas 23 an- nos, filiou se na celebre associação secreta dos Divodignos, quando frequentava a Uni- versidade, e tomou parte no morticínio dos lentes junto de Condeixa, pelo que foi jus- tiçado em Lisboa, no dia 20 de junho de 1828. V. Condeixa Velha. 2. °— Domingos Baptista, de 21 annos, jus- tiçado no Porto, em 23 de julho de 1838. Veja- se n'este vol. 10.° o artigo Victoria, pag. 604 e seg. — D. Anna Eufrásia da Rocha e sua irmã D. Maria Magdalena da Rocha, que deram, como já dissemos, vinte contos de réis á Mi- sericórdia, com a condição de serem rece- bidos e tratados no seu hospital os irmãos terceiros de S. Francisco. • — D. Maria Emitia Teixeira de Moura, que deixou ao hospital da Misericórdia cin- coenta contos de réis. — D. Margarida Chaves,— chave ftouro d'este tópico. Sendo natural d'esta villa, viveu longos annos em Lisboa, na companhia de seu ir- mão Luiz Augusto Chaves, capitalista eque, fallecendo solteiro, lhe deixou a maior parte da sua fortuna. Tantos annos esteve auzente d'esta villa a boa senhora que, regressando a ella por morte de seu irmão, já em Villa Real nin- guém a conhecia 1 Falleceu também solteira, como seu irmão e irmãs, provou porém que, apesar da loDga ausência, nunca esqueceu, antes muito amou sempre a sua terra natal, pois lhe legou em inscripções oitenta contos de réis, para n'ella se fundar um Azylo, que está pres- tes a inaugurar-se com o titulo de Azylo Chaves, no palacete de S. Jacintho, que foi de Gonçalo Christovam e que a benemérita com- missão, encarregada de cumprir o legado, comprou em hasta publica, para aquelle fim, por quatro coutos de réis. Sentimos que os nossos apontamentos se- jam tão escassos n'este ponto. Deus tenha em bom logar a benemérita senhora. Escriptores públicos já fallecidos — Alvaro Lobo, padre jesuíta, cujo insti- tuto professou em 28 de fevereiro de 1566- Foi professor de philosophia em Évora, re- gente nos collegios de Braga e Lisboa e rei- tor no do Porto. Nasceu n'esta villa em 1551 e falleceu em Coimbra a 23 d'abril de 1608. Publicou varias obras citadas por Inno- cencio F. da Silva. — Fr. Antonio Teixeira, trinitario, reitor do collegio da sua ordem em Coimbra e 3 vezes provincial. 1026 VIL VIL Nasceu n'esta villa em 1602 e falleeeu a j 22 de novembro de 1687 no seu convento de Lisboa. Cora relação ás suas obras, veja -se Inno- cencio e a Rev. Litteraria, tomo II. pag 26- — Philippe José Nogueira Coelho, cavalleiro professo na ordem de Christo, formado em direito pela Universidade de Coimbra, ouvi- dor, provedor e intendente do ouro em Matto Grosso, no Brazil, etc. Para as §uas obras— veja-se o diccionario bibliographieo de Innocencio. Viveu na 2.a metade do ultimo século. — Francisco Ignacio Pereira Rubião, cava- leiro da ordem de Christo, bacharel forma do em medicina pela Universidade de Coim- bra em 1814, etc. Nasceu n'esta villa e falleeeu no Porto em 25 de março de 1846. É auetor do Vinhateiro e d'outras obras indicadas por Innocencio. — Francisco Xavier Teixeira de Mendon- ça, formado em direito, advogado da casa da supplicação em Lisboa, etc. Nasceu n'esta villa em 1713 e falleeeu des- terrado em Angola, tendo sido preso em 1758 e metlido nas Prisões da Junqueira. Foi um dos martyres do celebre marquez de Pombal e mandado prender por elle, por ter escripto varias peças jurídicas no grande pleito entre Gonçalo Chrystovara e o dícto marquez, — pleito a que já nos referimos e que o marquez venceu encerrando nas Pri- sões da Junqueira Gonçalo Chrystovam, toda a sua família e o seu advogado. Veja-se o diccionario de Innocencio e as Prisões da Junqueira pelo marquez d'Alorna, também martyr d'ellas ! . . . — Jeronymo Gomes Carneiro, natural d'es- ta villa, doutor em medicina pela Universi- dade de Montpellier, commendador da Or- dem de Christo, etc. Veja-se o Diccionario Bibliographieo, de Innocencio — e o artigo Poiares da Regoa, vol. 7.° pag. 119, col. 1.» onde se encontra a biographia de s. ex.» Foi intimo amigo do humilde auctor des- tas linhas e falleeeu no dia 24 d'abril de j 1876, na sua casa de S. Miguel de Poiares, concelho da Regoa. — João de Barros, doutor em leis. Nasceu em Braga ou no Porto (diz Inno- cencio) mas viveu em Villa Real; foi do des- embargo d'el-rei D. João III e seu escrivão da camará, etc. Escreveu o Espelho de casados, publicado pela 1.» vez no Porto em 1540,— e a Geogra- phia ou Antiguidades das provindas de En- tre Douro e Minho e Traz -os- Montes, em 1548, ainda hoje manuscriptas. Códice 549 da Bibliotheca Municipal do Porto. Possuímos um longo extracto d'este có- dice. — Joaquim Maria Botelho de Lacerda Vil- laça Bacellar, bacharel formado em direito, natural d'esta villa e advogado no Porto, on- de falleeeu pouco antes de 1859. Escreveu e publicou no Porto, em 1848, um romance em 2 volumes, 8.°— Merlinda, duqueza d' Arnau. —D. José Maria d' Almeida e Araujo Cor- rêa de Lacerda, do conselho de S. M.— F. C. R., commendador da ordem de Nossa Se- nhora da Conceição de Villa Viçosa, deão da sé patriarchal, commissario dos estudos no distrieto de Lisboa, reitor do lyceu nacional, deputado ás cortes era varias legislaturas, sócio da Academia Real das Sciencias, etc. Nasceu n'esta villa em 23 de maio de 1803; —foi filho do conselheiro José Joaquim d'Al- meida e Araujo Corrêa de Lacerda;— tomou o habito na congregação dos cónegos regran- tes de Santo Agostinho (cruzios) e foi n'ella por algum tempo professor de philosophia racional e moral, no mosteiro de S. Vicente de Fora, até sahir para o século em 1826, passando a ser provido no beneficio de the- soureiro-mór da sé da Guarda, etc. Foi um dos portuguezes mais illustrados d'este século e fecundo eseriptor publico. Podem vôr-se as suas obras no dicciona- rio de Innocencio. — José Thomaz da Silva Teixeira, natural d'esta villa. Cursava em 1817 o 3.° anno de leis na Universidade de Coimbra. Consta que falleeeu muito novo. Publicou no Porto em 1822 a Eurypide* tragedia de Voltaire, traduzida por elle em portuguez. VIL VIL 1027 tOuvi que deixara (diz Innocencio) mui- tos versos manuscriptos, porem a maior parte (entre elles um pequeno poema em dois cantos com o titulo de Calvineida) de género absolutamente impróprio para o pre- lo». Consultando o sr. Camillo Castello Bran- co, hoje visconde de Correia Botelho e meu bom amigo e mestre, dignou-se s. ex.a res- ponder o seguinte: >EBVÍo-lhe (e não me devolva) um exem- plar (único existente) das Catacumbas K O collector, em certa altura da publicação, queimou todos os exemplares, e mandou-me esse que lhe offereço. Ahi, a pag. 16, acha v. alguma noticia de José Thomaz. Quando eu era novo, ouvi fallar muito d'esse homem em Villarinho da Samardan ao meu padre mestre Antonio d'Azevedo (cunhado de mi- nha irman) que fôra muito intimo de José lhomaz, bacharel em direito. Parece-me que morreu em 1832. Era grande improvisa- dor.» Effecti vãmente, no meu raríssimo exem- plar das Catacumbas, sob o titulo Estudan- tes e futricas, se lê a pag. 16 o seguinte : «Desde 1820, ou mesmo d'antes,fvinha em Coimbra a animosidade entre os académicos e os habitantes da cidade. Em 1824 já a eíTervescencia era grande. Não intimidara a morte de José Ayres aos subsequentes académicos. Presta-se o assum- pto a vasto trabalho, para que nos falta o preciso tempo e dados próprios. Aqui poremos só uma pequena amostra d'aquelle desamor. Havia theatro.em Coimbra n'uma casa de um homem prestante, A. J. R. Trovão, se nos não falta a reminiscência. Representa- 1 Catacumbas, miscellanea archeologica, bibliographica, numismática, poética, epi- graphica, etc, etc, reunida por Antonio Francisco Barata. Évora, Typ. Minerva, 1883, 4.» até pag. 72. Lamentando vivamente que o auctor in- terrompesse tão interessente trabalho, agra- deço penhoradissimo ao ex.m0 sr. Camillo Castello Branco o exemplar com que me brindou e que é uma mina para a minha la- voura. vam ali artistas que vedavam a entrada aos estudantes. José Thomaz, estudante de Villa Real, to- mando o partido dos seus, caiu-lhes em cima com este soneto : Preparem-se attençòes : Trovão famoso Nas margens mondegaes vae ribombar. Preparem-se attençòes, chitonl calarl Eis na scena cothurno magestoso. Hoje o Senna, o Tamiza, o Tejo undoso Verão sua gloria declinar, Pois que o Mondego vae mais gloria dar: Coroa a actriz um drama portentoso. Ferve o afan. Álerta, sapateiros! A gloria é vossa, cómicos prestantes, Sois no theatro os figurões primeiros. E para que fiqueis de todo ovantes Espectadores sejam os barqueiros: Eial vedae a entrada aos estudantes. «Respondeu-lhe o pae de um nosso ami- go, ha pouco fallecido, Fructuoso Amadeu da Silva Monteiro, cujo nome não sabemos n este momento, com esta espécie de para- phrase pelos mesmos consoantes: Que potro em pinotes tão famoso I Como rinchai Faz tudo ribombar: Sendeiro, nem o freio o faz calar; Jamais sèrá cavallo magestoso. A Paris, a Londres não, ao Tejo undoso O façam alugueis ir declinar, Até que lazarento venha a dar Nas margens do Mondego portentoso. Tomara, o triste, então que sapateiros, Não lhe vendo os ilhaes nunca prestantes Em montal-o quizessem ser primeiros; Mas vietima, em fim, de cães ovantes, Ao ver-lhe os ossos nus, dirão barqueiros : Eis a besta maior dos Estudantes.» Ao meu bom amigo e Cyre- neu, o sr. Joaquim Martins de Carvalho, redactor do Conim- bricense—o homem que hoje 1028 VIL VIL temos mais versado nas anti- guidades e curiosidades de Coimbra,— peço a finesa de me esclarecer sobre o assumpto, para fazer as devidas rectifica- ções e addições no supplemen- to. Prosigamos: — Fr. José da Virgem Maria, franciscano, professor régio de primeiras lettras no con- vento de Villa Real, etc. Publicou o Novo Metlwdode educar os me- ninos e meninas, principalmente nas villas e cidades. Lisboa, Imp. Regia, 1815, 4.° O tomo 1° tracta dos elementos da gram- matica e da linguâ portugueza e compre- hende 133 pag. com seis tractados para aprender o caracter da letira ingleza;— o to- mo 2.° tracta dos elementos de astronomia, geographia e óptica em X— 156 pag. com 7 estampas. Alguns exemplares d'esta obra, hoje rara, trazem no tomo 1.° o retrato do conde de Amarante, a quem foi pelo auctor dedicada; em outros não se vê o retrato. —Luiz José Ribeiro, i.° barão da Palma, do conselho de S. M., commendador de N- Senhora da Conceição de Villa Viçosa, pre- sidente da Junta do Credito Publico, com- missario em chefe do exercito, etc, filho de Antonio José Ribeiro e de D. Isabel Maria- Nasceu n'esta villa em 2 de maio de 1785- falleceu em Lisboa no dia 14 de dezembro de 1856. Foi homem muito illustrado e auctor de varias obras indicadas por Innocencio. — João Baptista Ribeiro, irmão do ante- cedente, do conselho de S. M., commendador da ordem de Christo, cavalleiro da de Nossa Senhora da Conceição de Villa Viçosa, di- rector e lente jubilado da Academia Polyte- chnica do Porto, etc. Nasceu na freguezia de S. João d'Arroios, concelho de Villa Real, a 25 d'abril de 1790, e falleceu na freguezia de Santo Ildefonso, no Porto, em 24 de julho de 1868 *, 1 Não era casado, mas, segundo consta, deixou filhos naturaes, sendo um d'elles Em 1802 matriculou-se nas aulas de de- senho da Academia do Porto e frequentou-as seteannos, tendo por professores Francisco Vieira Portuense, Domingos Francisco Viei- ra, José Teixeira Barreto e Raymundo Joa- quim da Costa, obtendo 3 prémios de l.« classe. Em 1811 foi nomeado lente substituto da aula de pintura e em 1824 mestre de dese- nho e pinlura das infantas. Passou a lente proprietário em 1833 e em 1836 foi nomeado director da antiga Academia de Marinha e Commercio do Porto, representada hoje pela Academia Polytechnica Com relação á sua biographia e obras lit- terarias e artísticas, veja-se o Diccionario Bibliographico de Innocencio,— o n.° 79 do Periódico dos pobres do Porto (1856) o artigo que foi transcripto em seguida no Braz Ti- sana n.° 82,—o n.° 80 do Nacional de 9 de abril de 1859,— os Annuarios da Academia Polytechnica do Porto— e o Diccionario Po- pular. — Fr. Manuel de Maria Santíssima, mis- sionário apostólico do seminário do Vara- tojo, ondepoi guardião, etc. Professou em 23 de novembro de 1764 no dicto convento, mas anteriormente perten- ceu á^congregação do Senhor Jesus da Boa Morte, da ordem de S. Paulo, 1.° Eremita, na qual tomou o habito em 7 de março de 1758. Nasceu n'esta villa, ou em Braga, e falle- ceu em 23 de janeiro de 1802. Escreveu a Historia da fundação do real convento e seminário do Varatojo e outras obras indicadas por Innocencio. — Fr. Simão Corrêa, dominicano. Professou no convento d'Azeitão em 28 de janeiro de 1598- e nasceu em Villa Real, não sabemos quando. Das suas obras conhecemos apenas uma: — Sermão na procissão de graças que a muito nobre Villa Real fez pela restauração da ci- dade da Bahia, pregado em 15 d'agoslo de 1625. Lisboa, por Geraldo da Vinha, 1625, in-4.° Francisco da Silva Cardoso, digno lente actual da Academia Polytechnica do Porto. VIL É hoje muito raro este sermão. — Padre José Maria Alves Torgo, abbade da freguezia de Louredo, em Santa Martha de Penaguião, e orador dratinetissimo. Era muito illustrado e falleceu n'esta villa no mez de dezembro de 1884. Alem de vários artigos soltos em diversos jornaes políticos e liíterarios, sabemos que publicou um romance e um drama. Fecharemos este tópico, mencionando uma senhora tão distincta pelo nascimento, como pela sua illustração e virtudes. — D. Leonor de Noronha, filha do mar- quez de Villa Real, D. Fernando de Mene- zes. Escreveu e publicou a Vida e Morte de Nosso Senhor Jesus Christo, segundo se lé no Jardim de Portugal. Villarealenses illustres contemporâneos — D. José de Sousa Botelho Mourão e Vas- concellos, senhor da grande casa de Matheus e actual conde de Villa Real, bisneto de D. José Maria de Sousa Botelho Mourão e Vas- concellos, que mandou fazer á sua custa a luxuosa edição dos Luziadas, bem conheci- da como edição do Morgado de Matheus. O conde actual reside a maior parte do tempo em Lisboa, porque é um dos fidalgos com exercício no paço; mas tem o seu pa- lácio de Matheus muito limpo e bem trata- do, bem como os jardins e a vasta cerca I, —um dos maiores e melhores prédios d'este districto; — e por este raro conjuneto é o pa- lácio de Matheus um dos 3 melhores palá- cios particulares da província. Os outros dois são o da Brejoeira, junto de Monção, e o dos condes da Anadia, em Mangualde, — todo3 tres vastos, com bons jardins e grandes cercas, mas muito diffe- rentes. Este de Matheus é o mais vistoso, mais alegre e mais bem situado. Tem amplas vis- 1 D'esta cerca e das quintas contíguas que o nobre conde possue n'este concelho de Villa Real, pagou s. ex.a no ultimo anno económico a bagatella de 525^150 réis— só de contribuição predial! . . . VIL 1029 a tas para todos os quadrantes;— uma capell magestosa com uma linda torre e sino com relógio;— a sua fabrica é elegante e impo- nente; descreve um parallelogrammo ou qua- drilongo regularissimo, prolongando-se de nascente a poente e aberto d'este lado, por onde se entra atravez d'um lindo parque e d'um espaçoso terreiro ajardinado. Dista de Villa Real 6:750 metros, para o nascente,— e 40 a 50 da nova estrada a ma- cadam de Villa Real a Sabrosa e Freixo de Espada á Cima, para o sul. O palácio era dividido em 15 grandes sa- lões sem um quarto único, mas o sr. conde o restaurou em 1883 e por essa occasião lhe metteu um corredor ao longo da fachada norte e dividiu em quartos independentes os sete salões d'esta fachada. O palácio da Brejoeira, é lambem regula- rissimo, imponente e magestoso, mas qua- drado, mais pesado e mettido em uma cova, sem horisonte, no meio de um deserto ex- tremamente solitário e triste! . . . O local era mais próprio para uma vi- venda de monges, do que para uma casa de ♦ recreio, habitação de fidalgos. O de Mangualde é um edifício custoso e vasto, hem mobilado e muito bem .tractado, mas irregularissimo, feito sem planta e em diversas datas. A sua fachada nobre não tem imponência relativa e está aprumada sobre um terreiro publico, informe e pequeno, on- de não podem rodar a um tempo quatro trens e por onde passa a estrada publica, tortuosa e ião espreita que entre o palácio e os velhos paços do concelho, hoje cadeia pu- blica, muito negra e indecentíssima, sempre cheia de infelizes esmolando atravez das grades, 'haverá apenas 5 metros de distancia, — o que muito affronta o palácio. Brilharia o dobro, se tivesse outra frontaria e um par- que ou jardim entre elle e a estrada publica. E o seu local, se não é tão triste como o do palácio da Brejoeira,— é muito mais acanha- do e pouco vistoso também. Sendo um palácio tão amplo e custoso e tendo uma cerca tão vasta, é realmente para sentir que os seus fundadores fossem tão in- felizes na escolha da planta e do local. 1030 VIL VIL V. Brejoeira, Mangualde e Matheus. Prosigamos com a lista dos villarealenses illustres contemporâneos: — D. Frederico Vaz Guedes d'Athaide Ma- iafaia, da nobre casa do Arco, juiz de uma das varas no Porto. Já mencionado supra. — D. Miguel Vaz Guedes, irmão do ante- cedente e já mencionado também. — D. Francisco Vaz Guedes, irmão primo- génito dos antecedentes, representante da Casa do Arco e da de Barbosa, onde reside, como já dissemos. — D. João Rebello Cardoso de Menezes, ar- cebispo de Mitylene, prelado domestico de Sua Santidade, dr. em theologia, prezidente da relação e cúria patriarchal, provisor e vigário geral do patriarchado de Lisboa. — Jeronymo da Cunha Pimentel, digno par do reino, bacharel formado em direito, do conselho de S. M., deputado ás cortes em varias legislaturas, ex-governador civil de Braga, escriptor publico e hoje director da Penitenciaria em Lisboa, já mencionado. — Adolpho da Cunha Pimentel, irmão do antecedente, bacharel formado em direito, ♦ chefe de secção da Junta do Credito Publico e da Caixa geral dos Depósitos no Porto e deputado ás cortes, já mencionado também. — Manuel d' Assumpção, bacharel formado em direito, deputado ás cortes em varias le- gislaturas e distincto escriptor publico. É hoje ministro dos negócios ecclesiasti- cos e da justiça, tendo sido director do mes- mo ministério. — Antonio d' Azevedo Castello Branco, ba- charel formado em direito, sub- director da Penitenciaria em Lisboa, deputado ás cortes em varias legislaturas, escriptor publico dis- tinctissimo e poeta, auctor da Lyra Meridio- nal, ele. Nasceu em Villariuho da Samardã, fre- guezia d'este concelho, em 1843, e é sobrinho do sr. Camillo Castello Branco, hoje viscon- de de Correia Botelho, o príncipe dos escri- ptores portuguezes na actualidade. O sr. dr. Antonio d'Azevedo Castello Branco também foi administrador do con- celho de Murça, 1.° offlcial do governo civil de Villa Beal, vice-governador civil e pre- sidente da junta geral d'este districto. — José d" Azevedo Castello Branco, irmão do antecedente, bacharel formado em medi- cina pela Universidade de Coimbra, depu- tado ás cortes na actualidade, poeta e dis- tincto escriptor pnblico também. Nasceu em Villarinho da Samardã pelos anno3 de 1847 e, quando frequentava a Uni- versidade, escreveu um drama, que foi re- presentado em Coimbra, mas não se impri- miu. — Antonio José de Carvalho Portella, ci- rurgião-mõr do exercito, bacharel formado em medicina. — Agostinho da Rocha e Castro, filho de Manuel José da Bocha Guimarães e de D. Isabel Ignez de Castro, nasceu em Villa Real no dia 4 de maio de 1837. Depois de ter cursado as disciplinas de instrucção secundaria que então se profes- savam no lyceu d'esta villa, foi para Coim- bra completar os preparatórios e formou-se em direito em 1859. Durante alguns annos exerceu a advoca- cia em Villa Real e collaborou em differen- tes jornaes políticos e litterarios, designada- mente no Nacional, cuja direcção politica estéve algum tempo a seu cargo. Em 1865 foi nomeado secretario geral d'este districto, e em 1868 foi transferido para o logar de administrador central do correio d'esta villa. Em 1871 foi eleito deputado ás cortes pelo circulo da Regoa e, sendo transferido em 1873 para administrador central do correio do Porto (hoje administração dos correios, telegraphos e pharoes da 2." circumseri- pção) foi novamente eleito deputado por Villa Real, em 1874. Em 1877 foi nomeado governador civil do Porto, commissão que desempenhou até 1878, voltando a exercer o logar de admi- nistrador dos correios e telegraphos na mes- ma cidade. É um cavalheiro respeitabilissimo e um funecionario modêlo. — Albano Baptista de Sousa, bacharel for- mado em direito, advogado, professor do Lyceu e promotor do districto ecclesiastico d'esta villa. — Luiz Augusto Teixeira Lobato, bacharel VIL VIL 1031 formado em medicina pela Universidade de Coimbra, l.8 juiz de direito substituto, go- vernador eivil interino d'este distrieto e pro- fessor do Lyceu. — Antonio Alberto Teixeira Lobato, bacha- rel formado em direito, administrador inte- rino d'este concelho, advogado e vereador, i —João Baptista Guerra, bacharel formado em direito e advogado também. — Manuel da Silva Vasconcellos, bacharel formado em direito e vogal do conselho de distrieto. — Francisco Salles da Costa Lobo, bacha- rel formado em medicina pela Universidade de Coimbra. — Custodio Duarte d'Almeida, formado pela Eschola-Medico-Cirurgica do Porto. É cirurgião-mór no Ultramar. —José Augusto Pinto Machado, capitão de infanteria e reprezentante da nobre casa vin- cular dos Pintos Machados, d'esta villa. Tem o curso da Eschola do Exercito e é filho do dr. e advogado Antonio Pinto Ma- chado. — Antonio José Claro da Fonseca, funda- dor do lindo palacete da rua da Fonte No- va, já mencionado, feito depois do meado d'este século sobre as ruinas de uma casa de recreio brasonada, que foi da nobre fa- mília Silveiras. Rezide no Porto e é hoje um dos homens mais importantes ao norte do nosso paiz por ser, ha muitos annos, administrador geral de toda a grande casa Ferreirinha, da Re- goa, — casa que hoje se avalia em seis mil contos e que já colheu no Douro cerca de tres mil pipas de vinho generoso. Administra não só todas as propriedades rústicas e urbanas da opulenta casa Ferrei- rinha e os capitães que constituem a maior parte d'ella, — mas também o seu importan- tíssimo ramo de commercio de vinhos, pois é uma das primeiras casas exportadoras de vinhos do Douro. Por vezes o seu deposito se tem elevado a dez mil pipas, o que re- presenta milhares de contos !... Esta opulenta casa tem o seu escriptorio geral na rua dos lnglezes, hoje rua do In- fante D. Henrique, n.# 83, — no Porto. É casado e tem successão. —Antonio Claro da Fonseca, bacharel formado em direito, filho do antecedente e curador geral dos orphãos no 2.° distrieto do Porto. Foi secretario geral do governo civil o vo- gal do concelho de distrieto em Villa Real. — Luiz de Bessa Correia, bacharel forma- do em direito, advogado no Porto e um dos mais distioctos jurisconsultos do nosso paiz na actualidade. Foi ura dos collaboradores do Trovador, nos seu3 tempos de Coimbra, e exerceu por differentes vezes o logar de governador ci- vil interino, de secretario geral e de vogal do conselho de distrieto n'esta villa. — Francisco de Bessa Correia, irmão do antecedente e também bacharel formado em direito. — Henrique de Bessa Correia, também ir- mão do antecedente e bacharel formado em direito. — Antonio Baptista de Sousa, bacharel for- mado em direito e advogado em Lisboa. — Francisco Ferreira da Costa Agarez, presidente da camará municipal. — Affonso Ferreira Vaz Pimentel, vice- presidente da camará municipal. — O rev. Francisco José Moreira de Car- valho, professor de philosophia jubilado no Lyceu d'esla villa e vigário geral n'este dis- trieto ecelesiastico. — Antonio d' Almeida dos Santos (?) barão d'Almeida de Santos (?) par do reino e capi- talista residente em Lisboa. Adquiriu boa fortuna pelo commercio no Brazil e casou em Paris. É filho de Antonio Joaquim d'Almeida, também natural d'esta villa, excellente pes- soa e escriptor publico, pois sabemos que escreveu e publicou a vida de Santo Anto- nio, o santo do seu nome. — Bento Teixeira de Figueiredo Amaral, bacharel formado em direito e um dos pri- meiros proprietários e capitalistas d'este concelho, filho do dr. José Paulo Teixeira de Figueiredo, de Matheus, que foi o primeiro proprietário e capitalista d'esta província, de- pois da opulenta casa Ferreirinha da Regoa. Antonio Lopes Mendes, infatigável viajante 1032 VJL VIL e explorador, distineto escriptor publico, mimoso paisagista, agrónomo, ex-professor do instituto agricola.ex-deputado ás cortes, sócio effectivo da benemérita Sociedade de Geographia de Lisboa e cavalheiro estimabi- lissimo, tão modesto como illustrado. Nasceu na antiga rua da Amargura, hoje rua Municipal, freguezia de 8. Diniz, d'esta villa, em 30 de janeiro de 1835 e rezide em Lisboa, ha muitos annos. Seus paes,— Antonio Lopes Mendes e D. Anna Maria Emilia Cardoso,— eram proprie- tários, mas o genealogista que se désse ao trabalho de reconstruir a arvore genealógica de Diogo Cam, mandado por el-rei D. João II explorar os mares da Africa e que em 1485 (ha precisamente 400 annos 1 . . .) descobriu o Zaire, encontraria no ramo dos Mendes, ligado ao tronco do celebre navegante, os ascendentes de Lopes Mendes. A mesma casa onde nasceu revela muita antiguidade; não o nobilita porem tanto a nobresa herdada, nobresa alheia, como a que s. ex.a conquistou por si próprio, pelo estudo, pelo trabalho e pelo seu comporta- mento sempre correcto e digno. Frequentou alguns annos a Academia Po- lytechnica do Porto, — depois concluiu em Lisboa o curso de agrónomo e com tanta distracção que regeu alguns annos uma ca- deira do nosso instituto agrícola. Foi durante este primeiro curso que o governo ordenou uma excursão agricolo- scientifica ao norte do reino e d'ella fez parte o distineto alumno professor. Deve o Archivo Piltoresco a esse período de trabalho uma collecção de desenhos de monumentos, paisagens e costumes portu- guezes, começada a publicar no seu V vo- lume e interrompida com a suspensão d'a- quelle semanário. D'essa collecção encon- tramos agora reproduzidas algumas das gravuras na Historia de Portugal illustrada, edição popul r do 'eminente historiador e actualmente ministro da marinha, o sr. Pi- nheiro Chagas. No Archivo Pittoresco mostrou Lopes Men- des a sua rara vocação para o desenho, no- meadamente de paisagem, manifestada desde os mais tenros annos 1 e que felizmente pôde cultivar e aperfeiçoar com o estado e com a pratica durante as suas ltmginqua» excur- sões e viagens pela America. É talvez hoje o nosso primeiro paisagista, como provam os centos de desenhos eom que está illustrando a sua índia Portugueza e o seu Relatcrio da expedição scientlfiea á ser- ra da Estrella em 1881. Mas prosigamos : Estando ainda ao serviço do nosso insti- tuto agrícola, levantou em 1858 a 1859 a planta topographica da incipiente colónia da Venda do Alcaide, dando melhor direcção aos trabalhos agrícolas e á fruição dos co- lonos. Nas ferias de 1858 escreveu uma interes- sante memoria sobre a doença dos laranjaes de Setúbal,— -memoria que publicou no Ar- chivo Rural do instituto agrícola e que me- receu do sr. conselheiro Ferreira Lapa a li- songeira apreciação seguinte: «Entra também n'este numero uma cor- respondência relativa á doença radicular das laranjeiras em Setúbal, do sr. Lopes Mendes, habilitado distinctamente n'este anno, com os cursos do Instituto, e já encarregado de uma importante exploração rural. • O sr. Lopes Mendes foi ura estudante mais que regular; mereceu a estima de seus mestres; foi um dos alumnos que acompa- nhou a commissão agrícola na sua excursão scientiflea ao norte do reino, e era pela sua habilidade pouco commum em desenho, aju- dante do professor d'esta disciplina no Ins- tituto.» Este período de penna tão auctorisada é testemunho insuspeito do que levamos ex- posto. 1 Sendo ainda creança imberbe, sem no- ções algumas de desenho, pintou um pano de frente para o theatro da sua terra natal, representando uma vista d'ella. As incorrec- ções deviam ser muitas, mas vae desaffron- tar-se brilhantemente, publicando uma Des- cripção da sua formosa villa, illustrada pelo mesmo lápis que desenhou o pobre panno in illo temporel. . . VIL VIL 1033 Reunidos em um os institutos agrícola e veterinário, fundou se um estabelecimento hippico para o aperfeiçoamento e producção das diferentes raças e coube a Lopes Men- des a honra de ser o installador do primeiro estabelecimento official d'esla especialidade, em cuja administração prestou valiosos ser- viços. Em 1862, governando as nossas posses- sões da índia o valente e iutelligente eonde de Torres Novas, e desejando melhorar as condições agrícolas das terras que ali pos- suímos, requisitou do nosso governo um homem com as habilitações necessárias para o coadjuvar em tão importante missão. Con- cordou o governo e, consultando sobre a es- colha o Instituto Agrícola, este lhe indicou Lopes Mendes que, cheio de vida, de enthu- siasmo e fé, aceeitpu a missão. Deixando os commodos de Lisboa, partiu para a índia e por lá estanciou 9 annos, até 1871, mere- cendo pelo seu trabalho, pela sua intelligeri- cia e pelas suas nobilíssimas qualidades as maiores^provas de estima, tanto do conde de Torres Novas como dos governadores que lhe succederam,— José Ferreira Pestana e o sr. visconde de S. Januário. Não só desempenhou com louvor variadas commis3Ões de serviço publico, mas nas suas horas d'orio d'aquelles longos nove an- nos estudou sobre o local a historia das nos- sas possessões asiáticas, desenhou na sua carteira monumentos, palácios, pagodes, costumes, tudo o que mais o prendeu— e de- pois, no remanso do seu gabinete de estudo, coordenou os seus apontamentos, retocou os seus croquis e assim organisou a sua índia Portugueza, mimoso e interessantíssimo ál- bum das nossas glorias, queoffereeeu á So- ciedade de Geographia de Lisboa, da qual é í sócio benemérito, — trabalho único e admi- rável no seu género e que o nosso governo, a instancias da Sociedade de Geographia, está j publicando na Imprensa Nacional. A índia Portugueza de Lopes Mendes, além da parle histórica e descriptiva, com- prehende 350 gravuras feitas sebre desenhos do auctor, e 7 cartas geographicas elucida- | tivas do texto, organisadas também por Lo- pes Mendes. Cabe-nos a honra de ter visto o original j e os desenhos todos e já possuímos 28 pro- vas das 350 gravuras. São lindíssimas, no- meadamente as que representam a cidade de Velha Goa— a. Casa de D. Antonio de Carcamo Lobo, em S. Pedro,— o Arsenal de Goa,- a Egreja do Bom Jesus, de Goa,— o Tumulo de S. Francisco Xavier,— o Collegio dos Cathecumenos—o Hospital da Misericór- dia,—o Arco dos Vice-Reis,—D. Vasco da Gama,— o Pagode de Mahem,—& Praça da Aguada,— o Palacio do Cabo—e uma Men- diga de Goa. O sr. Lopes Mendes fez parte da Expedi- ção scientifica enviada, com a protecção do governo, pela Sociedade de Geographia de Lisboa á serra da Estrella em agosto de 1881 e que por lá estanciou 15 dias. Tiouxe também s. ex." da grande serra muitos desenhos, que vão ser publicados em gravuras no seu relatório e que devem tor- ual-o interessantíssimo. Já vimos os croquis, porque também tive- mos a honra de acompanhar a dieta expe- dição scientifica,— não como vogal, mas co- mo representante do Districto da Guarda, e repórter do Commercio Portuguez L Foi ali que nos relacionamos com o sr. Lopes Mendes e que tivemos oecasião de ver e admirar o seu primoroso lápis, desenhando com a maior facilidade e fidelidade as villas de Manteigas, Ceia e Gouveia, os Cântaros, as lagoas, o acampamento, as Furnas da Es- trella, ele. etc. Anteriormente visitou s. ex.ã o Bussaco, —desenhou também tudo o que mais o sur- prehendeu n'aquella poética estancia— e tu- do publicou em gravuras no seu interes- sante livro O Bussaco. Em 1883 quiz também visitar a índia Oc- cidental e, como felizmente dispõe de meios, embarcou para a America e á sua custa per- correu toda a bacia hydrographica do Ama- 1 Este ultimo jornal publicou em agosto de 1881 uma serie de cartas nossas, envia- das do acampamento da expedição. 1034 VIL VIL zonas e grande parte do Brazil, o Peru, as | republicas do Prata, ete .— colheu grande co- | pia de paisagens e noticias e no Occidente, \ jornal illustrado, publicou uma longa serie de cartas com muitos desenhos seus em gra- vuras. Vejam-se os n." 146, 147, 156, 159, 160 e 161 do 6.° anno do Occidente;— e ainda em 11 de novembro ultimo (1885) publicou na 1.» pagina do n.° 248 do mesmo jornal (8.° anno) uma bella gravura representando a Casa do sr. visconde de Correia Botelho, Ca- millo Castello Branco, em S. Miguel de Sei- de, desenho tirado do natural. Também sabemos que tirou e possue uma interessante collecção de deseohos da sua formosa Villa Real, comprehendendo muitos monumentos que nós mencionámos e já des- appareceram, taes como: a escadaria dupla da porta principal da villa velha, a antiga casa da camará, os arcos de Tabolado, ulti- mamente demolidos, e os da entrada para o convento de S. Francisco, a capella de S. Sebastião, demolida pelo dr. Charrua, a al- bergaria do Espirito Santo, etc. Todos estes e outros muitos desenhos il- luminarão (Deus o queira ! . . .) a Descripção de Villa Real, que s. ex.» projecta. Está s. ex.a illuminando também com o seu formoso lápis a luxuosa edição manu- scripta dos Luziadas, em via de publicação n'este momento. Além de vários artigos soltos em differen- tes jornaes políticos, scientificos e li «erá- rios, publicou s. ex* O Bussaco e a biogra- phia do sr. D. Jorge Augusto de Mello, pri- meiramente no jornal As Colónias Portugue- zas e depois em folheto, na typographia Lal- lemant Fréres, Lisboa, 1884. Na mesma typographia publicou em 1882 o sr. dr. Augusto Cesar da Silva Mattos, de Trancoso, ao tempo juiz de direito em Can- tanhede, uma interessante biographia do sr. Lopes Mendes, sob o titulo Movimento Geo- graphico em Portugal e Antonio Lopes Men- des Apontamentos biographicos, para onde remettemos os leitores. No seu regresso da índia, casou no dia 11 de setembro de 1873 em Lisboa com a ex.""» sr.* D. Joanna Maria dos Santos Oliveira, ir- mã do sr. José Maria dos Santos, hoje par do reino eleito pelo circulo d'Evora, ex-de- putado ás cortes, grande capitalista e gran- de proprietário *. Recebeu-se na capella do palácio das Pi- coas, pertencente a seu cunhado, e tem do seu consorcio um filho único, de nome Al- berto, nascido em 13 d'abril de 1880. Districlo ecclesiaslico Ha n'esta villa desde tempos remotos um vigário geral posto pelos arcebispos de Bra- ga e que, desde 1882, data da ultima cir- cumscripção diocesana, superintende nas freguezias seguintes : Concelho de Villa Beal 2 25 » Ribeira de Pena (todo) 6 » Mondim de Basto (todo) 9 » Villa Pouca d'Aguiar (todo). 16 Total 56 Antes de 1882 superintendia também nas que passaram para o bispado de Lamego e que eram as seguintes : Concelho de Villa Real 2 » Alijó (todo) 18 » Murça (todo) 9 » Regoa 3 4 » Penaguião 4 3 > Sabrosa (todo) 15 Total 51 Pertenciam pois a este districto ecclesias- tico de Villa Reál até 1882—107 freguezias. Até 1854 eram 122, porque n'aquella data 1 Tem uma fortuna superior a 4:000 con- tos de réis e é o maior proprietário da pro- víncia do Alemtejo. Vive em Lisboa, mas administra admira- velmente a sua grande casa e no grangeio das suas numerosas herdades adopta os úl- timos progressos da sciencia agricola. 2 As 2 restantes ficaram perjencendo ao bispado de Lamego, como já se disse, pag. 928, col. 2.» 3 As 6 restantes eram do bispado do Porto. * As 7 restantes eram também do bispado do Porto. VIL VIL 1035 se formou a comarca ecclesiastica d'Ama- raute, passando para ella 14 freguezias, que o distrieto ecclesiastieo de Villa Real tinha n'aquelle concelho e eram as seguintes: - Amarante, Anciães, Bustello, Canadello, Candomil, Carneiro, Carvalho de Rei, Gon- dar, Lufrei, Ovelha do Marão, Padronello, Rebordello, Sanche, Várzea e Villa Chã do Marão. O juiso ecclesiastieo d'este distrieto é for- mado por i vigário geral, 1 promotor e 1 escrivão. Desde 1825 foram vigários geraes os pres- byteros seguintes: 1. °— Dr. Francisco José Borges Fernandes, nomeado em 6 de julho de 1825. 2. °— Dr. Antonio Bernardo de Moraes Leal, nomeado em 12 de setembro de 1825. 3. °— Padre Antonio Esteves Botelho, ab- bade de Matheus, nomeado em 12 d'agosto de 1826. 4. °— Dr. Clemente José Teixeira Barroso, nomeado em 27 de março de 1827. 5. °— Dr. Francisco Soares de Barbosa Vas- coneellos, nomeado em 4 d'abril de 1829. 6. °— Dr. João Soares de Barbosa Vascon- cellos, nomeado em 5 d'abril de 1832. 7. °— Dr. Clemente José Teixeira Barroso, nomeado em 27 d'abril de 1834. 8. ° — Padre José Manuel Lopes Pinto, no- meado em 28 de novembro de 1851. 9. »— Padre Luiz Telles Teixeira Coelho, nomeado em 26 de março de 1852. 10. °— Padre Antonio Joaquim Lopes Ro- seira, nomeado em 20 d'abril de 1854. 11. °— Padre Francisco José Moreira de Carvalho, nomeado em 27 d'outubro de 1857. 12. °— Padre Cesar Augusto Quaresma, pa- rocho de S. Pedro d'esta villa, nomeado em 17 de dezembro de 1861. 13. °— Padre Francisco José Moreira de Carvalho, professor do Lyceu, nomeado em 21 de setembro de 1866. É digno vigário geral ainda hoje í. 1 Até 1834 os vigários geraes d'este dis- | tricto usavam o titulo de desembargadores e j vigários geraes. i Foram também promotores d'este juiso ecclesiastieo desde 1825 os seguintes : 1. °— O dr. de capello João Baptista Eleu- tério de Lobão Mattos, nomeado em 25 de janeiro de 1827. 2. °— Dr. José da Costa Rebello, nomeado em 14 d'ouiubro de 1828. 3. °— Dr. Francisco Lourenço de Mattos, nomeado em 10 de maio de 1834. 4. °— Dr. José da Costa Rebello, nomeado em 1 de julho de 1841. 5. °— Dr. Manuel Ignacio Teixeira, nomea- do em 16 d'outubro de 1857. 6. °— Rev. Manuel da Silva Vaseoncellos,. nomeado em. . . 7. °— Dr. José Maria Gonçalves Pavão, no- - meado em. . . 8. °— Dr. Urbano Baptista de Sousa, no- meado em 13 de setembro de 1884. É o digno promotor actual. Rivalidades Villa Real é hoje a povoação mais impor- tante d'esta província, mas tem uma rival perigosa na Regoa, villa de muita vida e grande movimento commercial, muito van- tajosamente situada e muito bem servida de communicações de toda a ordem, como já dissemos; infelizmente porem os seus verea- dores teem sido extremamente desmazela- dos e aquella formosa villa, com tantos re- cursos, pouco tem progredido nos últimos tempos. Projectam-se ali ha muitos annos gran- des obras, mas nada se tem feito, emquanto que as camarás de Villa Real teem sido ex- tremamente dedicadas em pró do seu muni- cípio. Obtiveram que a villa fosse dotada com um regimento inteiro permanente— e logo tractaram de dar-lhe um bom quartel, fa- zendo obras importantes no convento de S. Francisco, para o que (honra lhes seja!) não hesitaram em contrahir um empréstimo, achando-se no momento aquellas obras qua- si concluídas;— dotaram a villa com um lin- do mercado coberto, também prestes a con- cluir-se,— e projectam outros melhoramen- 1036 VIL VIL tos importantes, taes como— remover o ce- mitério para local mais apropriado,— fazer um novo campo para a sua grande feira, — um matadouro— e uma cadeia comarca, para o que já abriram negociações com o conce- lho de Sabrosa. Se a villa da Regoa tivesse vereações tão dignas, em breve seria cidade, pois tem mais vida e mais movimento elo que a maior parte das cidades do nosso paiz. Só as transacções que na Regoa se fazem em vinho, aguardente," baga de sabugueiro e sal representam muitos centos de contos de réis por anno ! . . . A mesma cidade de Lamego, 12 kilome- tros ao sul, chegou a temer a Regoa; mas hoje dorme a somno solto, — graças aos seus dignos vereadores também, nomeadamente ao sr. viscoude de Guedes Teixeira,— verda- deiro modelo d'amor e dedicação para com a sua terra natal,— pois levantou Lamego do marasmo em que jazia desde séculos e a transformou completamente, toinando-a uma das cidades mais interessantes, mais limpas e mais habitáveis do nosso paiz, como havemos de mostrar no supplemento a este dicionário. Se a Regoa merecesse a Deus um homem como o sr. visconde de Guedes Teixeira \ supplantaria todas as cidades e villas da Beira e de Traz-os-Monies I . . . • Mosaico Publicam-se actualmente n'esta villa os jornaes seguintes : — Commercio de Villa Real, — Districto de Villa Real, — Juventude, — Villarealense, 1 É s. ex.» um dos mais beneméritos filhos de Lamego, bacharel formado em direito e actualmente director da alfandega do Porto, tendo sido presidente da camará de Lamego, procurador ajunta geral do districto, dire- ctor do Banco do Douro com sede em La- mego, deputado ás cortes e governador civil de Vizeu e do Porto. Nasceu na freguezia d'Almacave em 46 de dezembro de 1843 e cansou em 22 de feve- reiro de 1868. — Transmontano. Na Regoa: — A Voz do Douro e — O Independente Regoense. Em Chaves : — A Aurora do Tâmega e — A Folha de Chaves. Em Alijó: — O Correio d' Alijó. Total dos periódicos que n'esta data (de- zembro de 1883) 3e publicam em Villa Real, cinco. N'este districto, dez. São os únicos jornaes d'esta província; porque em todo o districto de Bragança, con- tando duas cidades, não se publica actual- mente um só ! . . . É de todos os districtos do nosso paiz o que mais horror tem á imprensa — e isso contribue em grande parte para o abandono e olvido em que jaz e para o vergonhoso contraste que offerece comparado com este de Villa Real. Também n'aquelle malfadado districto ha um único Banco, em quanto que este de Villa Real, tem tres:— um na Regoa,— outro em Chaves— e outro na sede do districto, denominado Banco Commercial agrícola e in- dustrial, sociedade anonyma de responsabi- lidade limitada. Foi fundado em 4 de maio de 1874 com o fundo de 800 contos em 16:000 acções de 50$000 réis cada uma. O seu dividendo no ultimo anno foi de 4 p. c— e são seus directores na actualidade os srs. Francisco Ferreira da Costa Agarez e Manuel d'Azevedo. Funcciona em uma casa de renda na rua Central, antiga rua do Poço, — casa perten- cente á família Teixeira Queiroz dos Arcos de Val de Vez. O theatro actual d'esta villa demora na rua do Tribunal, ao fundo do Campo do Ta- bolado. Ainda está por concluir a sumptuosa egreja de Nossa Senhora do Carmo, no cam- po do Pioledo. Tem esta villa ainda hoje 30 edifícios bra- VIL sonados, sendo 26 particulares e 4 públicos. Emquanto a nobresa e riquesa (antes da in- vasão phylloxerica) supplantava todas as villas e a maior parle das cidades do nosso paiz. E que saudável clima! Ainda em julho de 1875 aqni falleceu Benta de Queiroz, con- tando mais de 100 annos de idade. Os 7 melhores edifícios particulares d'esta villa hoje são: 1. °— A Casa do Arco, pela sua antiguidade e tradições. 2. ° -O palácio do general Silveira, onde funccionam o Lyceu, a direcção das obras publicas e outras repartições. Este edifício foi, como já dissemos, com- prado pelo governo e é por consequência publico hoje. 3. °— A antiga casa dos Villaças, na Car- reira, hoje do medico José Ayres Lopes. 4. ° — O palacete da familia Ferreirinha, da Regoa, mandado fazer pelo ultimo represen- tante d'esta opulenta casa, o par do reino Francisco José da Silva Torres, no adro e ao norte da egreja matriz de S. Pedro. 5. °— O de Antonio José Ciaro da Fonseca, na rua da Fonte Nova. 6. °— A casa que foi da familia Botelho, hoje do dr. Augusto Guilherme de Sousa, advogado e professor no Lyceu. 7. °— A casa de S. Jacintho, que foi de Gon- çalo Christovam, na rua das Flores,— hoje Asylo Chaves, do Amparo de Nossa Senhora das Dores, fundado com 80 contos de réis em inscnpções pela benemérita villarealense D. Margarida Augusta Chaves, como já disse- mos. Na sala nobre do mencionado Asylo se vê o retrato da fundadora, vistoso trabalho a oleo sobre tela, devido ao pincel de João Augusto Ribeiro, laureado alumno da Aca- demia portuense de Bellas Artes. Occorrem-nos ainda alguns villarealenses illustres, já fallecidos : 1.°— D. Francisco d' Araujo Portugal Cor- reia de Lacerda, irmão do já mencionado D. José Maria de Almeida e Araujo Correia de j Lacerda. Nasceu em 31 d'outubro de 1800 na fre- | volume x VIL 1037 guezia de S. Pedro d'esta villa e falleceu na de Cedofeita, no Porto, em priticipios de ju- nho ou fins de maio de 1877. Foi cónego regrante de Santo Agostinho, lente do collegio De Sapientia, em Coim- bra, dom prior de Cedofeita no Porto, onde tomou posse no dia 27 de dezembro de 1825, e foi também vigário capitular e governa- dor do bispado de Pinhel, hoje extincto. 2. °— Luiz Candido Teixeira de Moura, primeiro visconde da Azinheira, irmão da grande bemfeitora da misericórdia d'esta villa, D. Maria Emília Teixeira de Moura, ja mencionada. Nasceu n'esta villa em 22 de fevereiro de 1825 e falleceu em Aveiro no dia 2 de no- vembro de 1883. Era bacharel formado em direito, filho de Antonio Alves de Moura e de D. Anna Emí- lia Teixeira,— foi secretario geral no3 dis- trictos de Vizeu, Faro, Aveiro e Beja,— mas abandonou a carreira administrativa em 1857 porque em 9 de setembro do dicto an- no falleceu no Rio de Janeiro seu tio mater- ' no e grande capitalista João Teixeira Gui- marães, instituindo-o seu universalherdeiro. A fortuna de João Teixeira Guimarães or- çava por mil contos de réis fortes, mas dei- xou a vários estabelecimentos de beneficên- cia legados importantes, avultando entre el- les um de 500 coutos de réis (?...) à mise- ricórdia do Porto. Depois que abandonou a carreira admi- nistrativa foi viver em Aveiro na companhia do dr. Joaquim Thimotheo de Sousa da Sil- veira, seu parente por affinidade. Era muito caritativo e foi um grande bem- feitor do Asylo de José Estevam. O nosso governo o agraciou com o titulo de visconde da Azinheira por decreto de 30 de dezembro de 1870 e carta regia de 10 de fevereiro de 1871. Era também commendador da ordem de Nossa Senhora da Conceição de Villa Vi- çosa e da de Carlos III de Hespanha. 3. °— Martinho de Magalhães Peixoto Por- tugal, general do exercito. 4.0 — Francisco Peixoto de Magalhães Por- tugal, brigadeiro, irmão do antecedente. Morreu atacando a serra do Pilar, no 66 1038 VIL VIL tempo do cerco do Porto, tendo feito com o irmão a guerra da península. 5. °— João Pinto de Magalhães Peixoto Por- tugal, irmão dos antecedentes e official do exercito também. 6. ° — Antonio Pinto Peixoto de Magalhães Portugal, irmão dos antecedentes, foi tam- bém offkial do nosso exercito na guerra da península e morreu na batalha de Victoria. 7. ° — O rev. Gonçalo de Magalhães Peixoto, irmão dos antecedentes, foi reitor de Tel- lões, no concelho de Villa Pouca d'Aguiar. Eram da nobre casa brazonada dos Pintos Peixotos Porlugaes, da rua das Flores d'esta villa. Ha hoje n'esta villa 3 hotéis: — Tocaio, Cen- tral e Ferro Velho; 3 hospedarias: do Agos- tinho, do Campos e do Celleiro; — 1 campo: o do Taboiado;—i praça: a de Luiz de Ca- mões, no alto do dicto campo; — 1 avenida : a da Carreira: — 1 jardim publico, a mon- tante da dieta avenida; — 5 largos: o do Cha- fariz e o do Conde d' Amarante, no Campo do Tabolado, o do Pioledo, o do Hospital, o do Pelourinho e o do Cabo de Villa na con- vergência das ruas de S. Pedro, do Caminho de Baixo, do Jogo da Bola, hoje rua da Ale- gria e Direita. As ruas principaes são: — a Central, Di- reita, de S. João, do Arco, das Flores, do Carmo, da Alegria, de S. Pedro, da Ferraria, da Boa Vista, de S. Paulo e da Fonte Nova. Teve outr'ora esta villa voto em cortes e assento no V banco. Na camará municipal d'esta villa foi re- gistrada em 1882 uma mina d'ouro, desco- berta em uma das propriedades que o sr. conde de Villa Real possue na freguezia de Matheus; mas n'este districto o concelho mais abundante em minério é o de Villa Pouca d'Aguiar, como dissemos no artigo próprio. Veja-se este vol. 10.° pag. 903/ col. 2.» O regimento de infanteria n.° 13, estacio- nado n'esta villa, está no momento quasi todo na fronteira, bem como grande parte da tropa d'esta provineia e de todo o nosso paiz. Tendo o cholera assolado cruelmente a He?- panha nos dois últimos annos (1884 e 188o) o nosso governo (honra lhe seja!...) esta- beleceu em toda a raia marítima e terrestre um cordão sanitário muito bem montado e lazaretos provisórios, em Valença do Minho, Elvas, Marvão e Villa Real de Santo Anto- nio, além do magnifico lazareto permanente em Lisboa. Em novembro d'este anno (1885) estavam no cordão sanitário, só n'esta província e na do Minho, 4:474 homens e 117 cavallos— e em toda a raia cerca de 10:000 homens, 300 cavallos e 5 vapores costeiros. Isto desde fevereiro de 1884, o que representa um gran- de sacrifício para o nosso exercito e grande dispêndio para o thesouro; mas em compen- sação o rendimento aduaneiro augmentou nos dois annos cerca de 1:000 contos de réis. E, tendo o cholera feito milhares de vi- eiiinas na Hespanha, na França e na Itália, e achando se ha muito na Andaluzia e em Salamanca, a dois passos do nosso paiz, até hoje (mercê de Deus!) ainda não transpoz o cordão sanitário nem fez uma victima úni- ca em Portugal. Cabe a esta villa a honra de ter sido or- ganisado n'ella e em grande parte com fi- lhos seus, no anno de 1808, o batalhão de caçadores n.° 3, hoje aquartelado em Bra- gaaça, e que se cobriu de gloria na guerra da península e nas revoluções civis poste- riores. Como estamos anciosos por fechar este artigo, no supplemento daremos a longos traços a historia d'aquelle batalhão, quando chegarmos a Bragança. No ultimo anno económico pagou este con- celho de Contribuição predial 20:593^185 » industrial...... 9:306$275 « decima de juros. 3:449$092 Sumptuária e renda de casas. 1 : 534 £602 Total 34:883^154 Também no ultimo anno a estação tele- grapho-postal d'esta villa emittiu os vales seguintes: X 3UU JOY VIL VIL 1039 —Telegraphicos 130, no valor de réis 2:896$870. — Nominaes 8:015, no valor de réis 102:869^080. —Ao portador 38, no valor de 320^710 réis^ectooraii oiíÍít.J j oiíííjI o/uíj oí:b sl sul — Z) mas de Ferreira do Zêzere e da Villa de Rei, supra descripta. 1 Não se confunda com Pedro Ferreira, humilde auctor d'estas linhas. VIL Í049 Desde a segunda metade do ultimo século até 1834 foram alcaides-rnóres 1 e commen- dadores d'esta villa de Villa de Rei (com- menda da O. de Ch. como já dissemos) os Pachecos Pereiras, do Porto, por escambo feito com a coroa, em virtude do qual ce- deram a esta o juisado da alfandega d'a- quella cidade, que era desde tempos remo- tos propriedade d'elles. Este escambo foi feito por João Pacheco Pereira, F. C. C. R , C. 0. Ch., juiz da al- fandega do Porto, vereador da camará da mesma cidade em 1757 a 1758, senhor de Aveloso e da grande casa de seus paes. Era elle filho de Pedro Pacheco Pereira, F. C. C. R. juiz da alfandega do Porto, ele, e de sua mulher D. Clara Maria Eldres. V. Nicolau (S.) freguezia do Porto, vol. 6.° pag. 84, col. 1.» e seg. Em 188i manifestou-se o typho carbua- culoso no gado d'este concelho e matou mui- tas cabeças, causando prejuisos superiores a um conto de réis. Esta villa e este concelho soffreram muito nos princípios d'este século, por oecasião da guerra da península,— primeiramente com a passagem do exercito francez de Junot, em 1807, na marcha sobre Lisboa por Abran- tes,—e depois em 1810 e 1811 com as tro- pas inglezas de Welington e com as france- zas de Massena. Aquellas açoitaram cruelmente esta villa e este concelho, quando marchavam para o norte ao encontro de Massena, — e estas quando depois da batalha do Bussaco acam- param em frente das linhas de Torres Ve- dras, desde 4 d'outubro de 1810 até 5 de março de 1811. V. vol. 9.° pag. 652, col. l.a e Gojim. Durante aquelles longos e cruéis 5 mezes os malditos corsos talaram, saquearam e in- cendiaram muitas povoações nas circumvi- sinhauças do seu acampamento, não pou- pando este concelho e os limitrophes. Também esta villa soffreu muito com a 1 Isto nos leva a crer que esta villa foi outr'ora fortificada ou teve algum castello. 1050 VIL VIL passagem dos correios que Massena manda- va fortemente escoltados ao seu imperador, fazendo caminho por Castello Branco e por esta villa. Os seus habitantes abandonaram - na completamente, e quando, depois da re- tirada de Massena, regressaram, encontra- ram a maior parte das casas reduzidas a cinzas e todos os seus haveres roubados e perdidos. Demora esta villa no alto de um monte entre ásperas serras de difficil aceesso, na margem esquerda do Zêzere, do qual dista 7 kilometros para E.,— 20 da margem di- reita do Tejo para N., — 23 da séde da co- marca,—30 da estação de Thomar, na linha férrea do norte,— 95 de Castello Branco,— 109 de Portalegre,— loi de Lisboa— e 246 do Porto, pela estação de Thomar, que é a mais próxima de Villa de Bei. Crime horroroso Era dezembro do anno ultimo (188o), foi removido da cadeia civil de Lisboa para a cadeia da Certa, onde se acha, por lhe ter sido concedido cumprir ali a pena, attenta a sua edade e padecimentos, o reu Claudino Gomes da Silva, natural d'esta parochia de Villa de Bei, condemnado, por accordãosda Belação de 30 de novembro de 1881 e do supremo tribunal de justiça de 24 d'abril de 1883, em oito annos de prisão maior cellu- lar, seguida de 12 de degredo em Africa, l.a classe, e alternativamente em trabalhos pú- blicos perpétuos na Africa Occidental. Fôra convencido do assassínio de Fran- cisco Antonio, vulgo o Coxo, d'esta mesma freguezia, e perpetrara -o com as aggravan- tes de ser elle official de diligencias do jul- gado e então sadio e vigoroso, ao passo que a victima era um velho, coxo e quasi cego, — e de tcl-o aggredido de surpreza, e no er- mo da Córga da Negra, em uma proprieda- de da victima ! N'aquella propriedade, em um pequeno poço em chão de horta e cevada, appareceu o cadáver em decúbito abdominal, com a face e parte do tronco immersos na agua, com a nuca e parte posterior d'aquelle fóra d'ella, e com as extremidades inferiores fôra do seu âmbito, porque nem a agua tinha profundidade para cobrii-o, nem o poço ca- pacidade para comportal-o. Ao lado esquer- do, e apoiada sobre o cadáver, uma muleta; ao direito, e junto á borda do poço, uma in- fusa cheia de agua, cuja rolha fluctuava fa'ejle. . oiUJi (úíivfiii íí Accidente ou crime? A autopsia cadavé- rica, sem excluir a possibilidade d^quelle^ tornára este muito provável. A morte fôra por asphyxia ou por submersão. As lesões na face foram produzidas durante a vida, mas próximo á morte. Nas vias aérias e no estômago havia lodo, que indicava que a immersão fôra em vida e por fórma que, para salvar-se, não pôde fazer nenhum dos esforços próprios de todos os afogados, pois os mais pequenos seriam sufflcientes, atten- tas as insignificantes dimensões e a pouca agua do poço. E Córga da Negra, era sitio apropriado. N'aquelles montes sombrios, n'aquellas ro- chas alcantiladas a projectarem-se em fórma de abysmo, havia, a par da mudez tétrica da solidão, o ar trágico e sinistro que o nome indica. Tudo constituirá para logo uma ex- tensa nota, que vibrou intensamente os sen- timentos mais enérgicos da alma, desde a eompaixão ao terror. Bompeu e alastrou- se clamorosa a opinião publica contra o Mp^jíiid m -,\y\ goniííjm «o KQÊI 9& oa feio<.| Foi a voz de Deus ! O Claudino tinha uma propriedade contigua e por questões de ex- tremas havia inimisade formal, inveterada, rancorosa, entre elles. Quatro annos antes, tinham ali vindo ás mãos, e n'essa lueta o, Claudino aggredira, o Coxo de fórma, que já então seria victima, se não acudisse a li- vral-o um cunhado de ambos. Não se conhe- cia ao infeliz outro inimigo. E tanto o re- ceiava e temia, que dizia frequentemente: —Se apparecer morto ou ferido, de nin- guém se queixem senão do Claudino ! . . . Ainda alguns dias antes da morte tive- ram em uma taberna um conflicto. N'essa oceasião dissera o Francisco Anto- Hio,; ■ ;V, rL q . 03 gfcntrtaoD 9í òfM ; —Bem sei que elle me ha de matar. VIL VIL 1051 Encontrou-o. sem vida uma filha do pró- prio reu, a qual ia levar-lhe umas pevides, de mandado da familia. Aterrada, chamou pela mãe e pae, que fossem acudir. Este, porém, não foi, nem se- quer se approximou para verl N'esse dia verificou-se, depois, a diligencia do exame. Acompanhou a justiça como official de dili- gencias; mas, quando ella entrou no exame do local, ficou de largo I O assassínio fôra perpetrado no dia ante- rior. Andara o infeliz até ao meio dia neu- tro trabalho, e vira passar o réu. Como ti- nha de ir também para lá, manifestou pu- blicamente o seu receio; mas, não obstante, jantou e foi sosinho. E n'esse dia, com effeito,ali andára o reu com um jornaleiro a trabalhar na sua fa- zenda. A' tardinha, mandou este cortar as raizes d'uma figueira existente na extrema. Quando estoirou a ultima, disse logo que as- sim estoirasse o coração ao dono. Depois mandou o jornaleiro para outro serviço n'uma horta distante, d'onde nada se via para a propriedade do infeliz. Que fez então o miserável? Só passado tempo bastante appareceu na horta e para despedir immediatamente o jornaleiro. Este achou-o triste e estranhou-o de modo que lhe passou pela idéa algum en- contro com o Coxo; mas obedeceu. Foi-se pois, muito antes da hora èm que é costume findarem os trabalhos agrícolas. Consummára-se, portanto, o horrível dra- ma. O Claudino, apercebendo o Coxo e ap- proveitando o ensejo, aggredira-o inespera- damente com uma pedra pela fossa tempo- ral esquerda, em ordem a produzir-lhe a commoção cerebral; em seguida lançou-o ao poço na posição sobredita; mergulhára- lhe a cabeça, e comprimira-a contra o fundo d'elle, de modo que a asphyxia foi rápida e, n'esta curta agonia, absorveu o infeliz o lodo achado nas vias aéreas e no estômago! O resto— disfarces, que nada lograram contra a voz irresistível da verdade. E ainda bem que foram impotentes 1 r.fi*>Uflvbi 8£ijjíloqs«h«ÊÍi|jra yjprí &báit Em março de 1885 deu entrada no minis- ! terio das Obras publicas um requerimento de T. M. Johnson, pedindo a concessão para uma linha férrea, de via larga, a partir de Abrantes, margem direita do Tejo, por Sar- doal, Ferreira do Zêzere, Villa de Rei, Cer- ta, Arganil, Taboa, Carregal, Tondella, Vi- zeu, Castro Daire, Arouca, Gião, no conce- lho da Feira, Gaya, com um ramal que par- tindo de Castro-Daire vá entroncar com o caminho de ferro do Douro. A população dos concelhos que esta linha atravessa é superior a 300 mil habitantes, e a sua area é importantíssima. Ficando por este projecto Vizeua 110 kilometros do Por- to, e o Douro ligado com o Tejo pela linha roais central e mais curta. VILLA— RICA.— Não temos em Portugal freguezia ov aldeia alguma denominada Villa —Rica; mas abrimos este tópico, porque no Douro JUmtraáo (pag. 88, col. l.a) se lê o seguinte : «Na confluência da ribeira da Villariça com o Sabor está uma collina, em cuja crista se veem ainda hoje os restos das muralhas que defendiam a antiga Villa— Bica de Santa Cruz. Querem alguns que d'esta villa venha o nome á formosa veiga que se estende a seus pés; nome depois transmittido á ribeira, que a sulca em todo o seu comprimento.» Do exposto se vé que o sr. visconde de Villa Maior, um dos homens mais illustra- dos d'este século e muito conhecedor da lo- calidade, pois era natural de Moncorvo (V. Villa Maior, quinta) mencionou uma aldeia denominada Villa— Rica junto da foz do Sa- bor e que deu o nome á fertilissima veiga da Villariça. É possível que de Villa—Rica se fizesse Villariça— e de Villariça Villariça; mas sup- pomos que a Villa — Rica do Douro Illustra- do é erro de imprensa, — ou lapso dos copis- tas— ou do auctor, pois só ali a encontramos assim mencionada, emquanto que Viterbo e todos os outros auctores que teera fallado da Villariça e de Moncorvo, a denominaram co- mo a denominou o meu antecessor,— Santa Cruz da Villariça. V. vol. 8.° pag. 419, col. Moncorvo, — Val da Villariça— e Villariça. 1052 VIL VIL VILLA— RICA foi povoação portugueza, mas na colónia, hoje império do Brazil. Na tal FíV/a— iiica brazileira viveu muitos annos e escreveu algumas das suas obras, mencionadas por Innocencio, o padre Ma- nuel Joaquim Ribeiro, natural da freguezia de Sanhoane, em Portugal. VILLA DA RUA.— V. Rua. VILLA RUIVA, — freguezia do concelho e comarca de Gouveia, districto e diocese da Guarda, província da Beira Baixa. Vigairaria. — Orago Nossa Senhora da Graça,— fogos 138,— almas 560. O padre Carvalho em 1708 simplesmente disse que esta parochia era um curato an- nexo á vigairaria de Mesquitella no termo e concelho da villa de Linhares, corregedoria da Guarda e provedoria de Vizeu. O Portugal S. e Profano em 1768, disse que era curato da apresentação do vigário de Mesquitella, no bispado de Coimbra; — que rendia para o seu cura 30$000 réis— e contava 63 fogos. José Avelino d'Almeida em 1866 deu-lhe 98 fogos;— o censo de 1864 deu-lhe 102 fo- gos e 417 habitantes,— e o censo de 1878 deu-lhe 120 fogos e 514 habitantes. Não comprehende aldeias, mas somente alguns casaes e quintas de pouca importân- cia. É formada por uma povoação única, de- nominada Villa Ruiva, séde da parochia. As suas freguezias limitrophes são: — Mes- quitella, Villa Cortez da Estrada, Villa Fran- ca da Serra (concelho de Gouveia, comarca de Fornos d'Algodres) e Carrapichana. Está na pendente norte da Serra da Es- trella e na margem esquerda d© Mondego, do qual dista 4 kilometros, — 8 de Gouveia pela nova estrada a macadam d'esta villa para a sua estação na linha da Beira Alta, — 6 da estação de Fornos d' Algodres, na mesma linha férrea, — 64 da Guarda, pela mesma linha férrea e 39 pela estrada a ma- cadam,—158 da cidade da Figueira,— 211 do Porto, — 329 de Lisboa, pelas linhas do norte e Beira Alta,— e 2 e meio da estrada real a macadam de Coimbra a Celorico, pela ponte da Murcella, para o norte, pelo que esta freguezia também soffreu muito por oc- casião da guerra peninsular, quando por aqui passou o exercito francez de Massena em 1811. V. Villa Cortez da Estrada e Gouveia, n'este diccionario e no supplemento. As suas producções principaes são:— vi- nho, centeio, azeite, batatas, queijo e lã, pois também cria bastante gado lanígero nos seus montes e na Serra da Estrella. Os seus templos reduzem-se à egreja ma- triz e 2 capellas publicas,— uma de S. Mi- guel o Anjo,— outra de Santo Antonio. A imagem da padroeira, que está no altar- mór da matriz, é de pedra e muito antiga, segundo se lê no Santuário Marianno, vol. 4.° pag. 676 e seg. e tem 3 a 4 palmos de altura. A egreja é humilde e não tem torre, mas um pequeno campanário somente. A capella de Santo Antonio está ao fundo do povo e junto d'ella esteve o cemitério pa- rochial até 1882, data em que o transferi- ram para o lado de Villa Cortez. A capella do Anjo está no caminho que vae para a freguezia de Carrapichana por entre rochedos, nos quaes, junto da dieta capella se encontram vestígios de remota oceupação, nomeadamente muitas sepultu- ras abertas na rocha e de differentes dimen- sões, sendo algumas muito pequenas, desti- nadas para creanças. O povo denomina estas sepulturas — sepul- turas dos mouros K Os habitantes d*esta freguezia tem a alcu- nha de lagartos. Talvez que ontr'ora "aqui abundassem estes reptis, por ser o chão d'esta freguezia muito árido e pedragoso; — e, como n'ella ha muito gado lanígero e se fabrica muito queijo, quando para ella se dirige alguém dos povos circumvisinhos costumam dizer: — Vais aos lagartos*} Que te encham de tabefe (sôro do leite). 1 N'este concelho de Gouveia se encon- tram ainda hoje muitas sepulturas idênticas, nomeadamente em Villa Nova de Tazem. Vide. VIL VIL 1053 Por causa da dieta alcunha e não sabemos de que mais, desde tempos muito remotos ha grande animosidade entre esta parochia e a da Villa Cortez, sua limitrophe— animo- sidade que por qualquer coisa se manifesta e já tem produzido sérias desordens. Ha annos, por exemplo, vindo de cumprir certo voto muitos habitantes de Villa Cor- tez, atravessaram esta povoação de Villa Rui- va e, como estivessem no caminho vários homens jogando a pella e os de Villa Cortez a empurrassem, travou-se entre uns e ou- tros a maior desordem de que ha memoria entre os dois povos. Tocaram os sinos a re- bate em ambas as freguezias; — houve muitos ferimentos e ficaram dois homens mortos. Esta freguezia pertenceu ao concelho de Linhares; — extincto este, por decreto de 24 d'outubro de 1855, passou para o concelho e comarca de Celorico da Beira— e depois pa- ra o concelho e comarca de Gouveia. Ecclesiasticamen te pertenceu ao bispado de Coimbra; mas desde 1882, data da ultima circumscripção diocesana, passou para o bispado da Guarda. No dia 4 de fevereiro de 1885 sentiu-se n'esta parochia um tremor de terra que fez abater a armação de uma casa, em cuja loja 9e vendia vinho e- ao tempo se achavam muitas pessoas, mas nada soffreram, alem do susto. Também na mesma occasião abateu outra casa em Nabaes, freguezia d'este concelho. VILLA RUIVA,— villa e freguezia do con- celho e comarca de Cuba, districto e dio- cese de Beja, província do Alemtejo. Priorado. Fogos 157,— habitantes 630. Orago Nossa Senhora da Encarnação. A Chorographia Portugueza em 1708 deu- lhe 360 fogos. Necessariamente foi lapso, pois sessenta annos depois, segundo se lê no Portugal S. e Profano, contava 96 fogos,— era da apre- sentação do duque de Cadaval e rendia para o seu prior 100$000 réis, Em 1708 era villa e concelho;— pertencia á comarca e bispado d'Evora— e tinha 2 juizes ordinários, 3 vereadores, 1 procura- VOLUME X dor do concelho, 1 escrivão da camará, l juiz dos orphãos com seu escrivão, I com- panhia de ordenanças, 1 alcaide e 1 tabel- lião do judicial e notas. Era dos duques de Cadaval e da provedo- ria de Beja— e tinha uma capella de S. Cae- I tano, com festa própria e grande romagem. Também tinha um alteroso Castello e uma boa cinta de muros, hoje tudo em ruinas, — e sobre a porta d'entrada para o Castello o brasão darmas dos duques de Cadaval, se- nhores d'esta villa. Ainda em 1850 o Castello tinha artilheria montada; mas hoje, de todas as obras de de- feza d'esta villa, apenas existe uma torre do lado norte. Segundo se 10 na Monarchia Lusitana, parte IV, fl. 201 e parte VIII, fl. 41, esta villa foi tomada aos mouros por D. Sancho II, quando lhes tomou também Vidigueira, Cu- ba, Rodeja, Fronteira e outras terras. O mesmo se lê na Descripção de Cuba pelo illustrado bejense Fr. Domingos d'01iveira, —Descripção que se acha no Códice n.° 104, da Bibliotheca Portuense, do qual existe hoje uma copia no archivo municipal da camará de Cuba, tirada por nós, a pedido do sr. dr. João dos Santos Pegas Cabrita. No mesmo Códice se encontram também os Diálogos de Cristóvam Rebello de Macedo, interessantíssimos para o estudo das antigui- dades de Beja,— e uma outra Descripção de Vianna do Alemtejo, sem data nem nome do auctor. Villa Ruiva foi dada em 1393 por el-rei D. JoãÔ I, bem como as villas de Villa de Frades, Villa Alva e Vidigueira, ao santo condestavel D. Nuno Alvares Pereira;— este depois a deu, com a de Villa Alva, a Rodrigo Affonso de Coimbra, bem como repartiu por outros cavalleiros que o haviam acompanha- do nas guerras contra os castelhanos, outras muitas villas que el-rei lhe havia doado. De- pois D. João I annulou aquellas doações e» Villa Ruiva com outras villas reverteu para a coroa;— por ultimo passou para o senho- rio dos marquezes de Ferreira, depois du- ques de Cadaval, que aqui costumavam re- 67 1054 VIL VIL sidir parte do anno e fazer grandes festas e caçadas, principalmente na matta do Seixal, junto de Cuba. Demora esta villa em sitio alto e vistoso, na ladeira de um monte e na margem es- querda da ribeira de Odivella9, confluente do Sado, da qual dista 2 kilometros,— 8 da estação de Alvito, na linha de sueste, — H de Cuba,— 30 de Beja,— 138 de Lisboa— 475 do Porto— e 605 de Valença do Minho. Esta parochia não comprehende aldeias. É formada por uma povoação única; ape- nas no seu termo se encontram algumas her- dades, sendo as principaes as seguintes:— Delicada, Panasqueira, Monte Novo, Val d'Agua, Calvina e Estacas. A 1.» e 2.a per- tencem ao visconde da Esperança, José,— a 3.» 4." e 5.» a D. Anna Rita da Cruz Arce e filhos,— e a 6 " á duqueza de Cadaval. Freguezias limitrophes: — Alvito, Cuba, Villa Alva e S. Bento de Pomares. Tem esta villa uma estrada a macadam, já construída, para a estarão de Cuba— e outra distrietal, n.° 115, em construcção de Portel por Villa de Frades para a estação de Villa Nova da Baronia e Torrão. Tem esta villa 2 egrejas:— a matriz, vene- rando templo gothieo bem conservado, com altar-mór e 4 lateraes, todos restaurados ha poucos annos,— e a da misericórdia, quasi em ruinas. Tem mais duas capellas publicas:— uma de S. Sebastião, restaurada de novo, em cumprimento do voto de uma piedosa se- nhora,—e a de S. Caetano', a 2 kilometros da villa e já mencionada na Chorographia Por- tugueza. Está ainda bem conservada en'ella se fa- zem duas pomposas festas com grande ar- raial:—uma no dia 15 d'agosto,— outra na segunda feira depois da Paschoela, no dia de Nossa Senhora dos Prazeres. Assim se lê nos apontamentos que se di- gnou enviar-me o administrador d'este con- ♦ celho; mas em outros apontamentos se dá a esta capella o titulo de Senhora da Represai E aecrescenta o informador: — «O nome d'esta ermida parece derivar de um antigo açude ou albufeira que ali existe, onde, se- gundo a tradição, foi encontrada a imagem da Senhora». Esta villa não tem mercados, nem feiras, nem convento algum. Tem 3 largos:— Rocio, Praça Velha e Mi- sericórdia,— e 4 ruas:— de Fóra, da Lagoa, do Penedo e do Ulmo. Ainda conserva a sua antiga casa da ca- mará, a cadeia e o pelourinho. Na casa da camará funccionam a Junta de parochia e uma aula official d'instrucção primaria para o sexo masculino. A ribeira de Odivellas, que banha esta freguezia, desagua no Sado a 53 kilometros de distancia, e tem nos limites d'esta paro- chia uma grande ponte com . . . arcos de cantaria de mármore. Está ainda muito so- lida, posto que se attribue a sua construcção ao poderoso rei mouro Ismar, ou Ismario, ou Ismael, derrotado com outros pelo nosso primeiro rei D. Alfonso Henriques na bata- lha de Ourique. Vide. Outros dizem que a dieta ponte foi feita pelos romanos. É certo que no arco principal se lê a in- scripção seguinte : Annivs Arconis (ou Arconios, heiccitv (ou heiccitiv. Nunca vimos esta inscripção. Regulamo- nos pelas copias que recebemos. Esta parochia produz trigo, cevada bran- ca, aveia, fava, milho, centeio, chicharos, grão de bico, tremoços, feijão amarello e pintado, vinho, azeite, cortiça e lã, pois cria bastante gado lanígero e também suino; mas a sua producção principal é o azeite, pelo que tem 6 lagares para o seu fabrico. Tem grandes montados d'azinho e sobro. A irmandade da misericórdia d'esta villa teve hospital e alguns contos de réis de ren- da; mas, ba annos, por iniciativa do gover- nador civil d'este districto, José Borges Pa- checo Pereira, o governo supprimiu esta ir- VIL VIL 1055 mandade e incorporou os seus rendimentos na casa pia de Beja, ficando esta, por deli- beração da janta geral do districto, obrigada a satisfazer annualmente á junta de parochia d'esta villa a somma de 274$000 réis, com a applicação seguinte: — para um medico 90$000 réis,— para um sangrador 24$000 réis,— para remédios 120$000 réis— e para dietas 40#000 réis. Ha n'esta parochia ruinas d'uma egreja antiquíssima, de estylo romano (diz um dos meus informadores) a qual, segundo se sup- põe, foi a primeira matriz de Villa Ruiva. Tinha a invocação de Senhor da Ladeira. Passava n'esta villa a antiga estrada mili- tar d'Evora a Beja, da qual ainda se encon- tram vestígios entre Villa Ruiva e Agua de Peixes. Também por aqui passava (segundo se suppõe) uma via romana d'Evora a Beja, da qual fallaram Daciano, Rezende, Vasconcel- los, Francisco Dolanda, Hiibner, João Ba- ptista de Castro, José Lourenço do Valle e ultimamente o sr. Antonio Francisco Barata no seu interessante folheto Catacumbas, pu- blicado em Évora no anno de 1883, até pag. 72 somente. O sr. Barata vive em Évora; reconheceu parte da dieta estrada;— encontrou ura mar- co milliar a pequena distancia de Vianna— e concluiu que a dieta estrada devia atra- vessar o Xarrama e as ribeiras da Morteira e Alparca em pontes e seguir pela matta do Serrado, Agua de Peixes, Odivellas, Villa Ruiva, ribeiras de Macabron e Udiarse, Cor- redoura e Beja. Encontrou vestígios claros nos sitiou e herdades seguintes:— de Évora a Casinha,— Monte das Flores,— Font' Alva,— Seixo,— Ma- galhôa,— Zambujeiro,— Ponte no Xarrama, de que ainda se encontram restos, a 15 ki- lometros d'Evora,— e na margem esquerda um extenso lanço da mesma estrada, que passaria entre Aguiar e Vianna. Em 1862 a parochia de Albergaria dos Fusos era uma annexa de Villa Ruiva; mas já no anno de 1864 era parochia indepen- dente. Villa Ruiva teve 2 foraes: um em tempos muito remotos, dado pelo convento de Man- cellos,— outro dado por D. Manuel em 1 de junho de 1512, confirmando aquelle, segun- do diz o padre Carvalho; custa porém a crer que estando o tal convento de Mancellos (não temos noticia d'outro) na freguezía do seu nome, junto de Amarante, fosse dar o foral a Villa Ruiva no centro do Alemtejo. Nós tivemos e temos mais duas povoa- ções cora o mesmo nome de Villa Ruiva, além das mencionadas; mas nenhuma no concelho d'Amarante— nem nas províncias do Douro, Minho ou Traz-os-Montes *. Uma está na freguezia e concelho de Villa Velha de Ródão, districto de Castello Branco, na Beira Baixa, — outra é a seguinte: VILLA RUIVA DE SENHORIM —aldeia da freguezia de Senhorim, concelho de Nellas, districto de Vizeu, na Beira Alta. É uma povoação importante, pois conta cerca de 120 fogos e 500 habitantes! Dista da séde da parochia 5 kilometros e por isso já esteve unida algum tempo á freguezia de Villar Secco, limitrophe da de Senhorim. É povoação muito antiga, pois no foral, que D. Manuel deu em 6 de maio de 1514 a S. João do Monte, se fez menção das povoa- ções de Villa Nova, Villa Ruiva e Senhorim. Suppomos que Villa Nova è a séde actual do concelho de Nellas, pois não ha hoje po- voação alguma denominada Villa Nova, n'es- te concelho, que é com pequena differença o mesmo concelho de Senhorim, hoje ex- tracto. Também suppomos que a povoação ou villa de S. João do Monte, a que D. Manuel deu foral, era e é a povoação de S. João do 1 V. Mancellos n'este diccionario; — a Chronica dos cruzios, parte l.a, pag. 326, col. 2.a e a dos frades de S. Domingos, parte 3.a, pag. 235, mihi. A Chorographia Moderna diz que o con- vento de Mancellos foi outr'ora donatário de Villa Ruiva do Alemtejo; mas nem a Choro- graphia Portugueza, nem as Chronicas dos cruzios e dominicos dizem tal. Este convento de Mancellos passou dos cruzios para os dominicos no reinado de D. Sebastião. 1056 VIL VIL Monte, hoje simples aldeia da freguezia de Senhorim; mas não comprehendemos bem o seguinte: D. Manuel, no foral que deu a S. João do Monte em 6 de maio de 1514, incluiu a po- voação de Senhorim, mencionando-a expres- samente, 1 — e quasi ao mesmo tempo, em 30 de março do mesmo anno, ou 37 dias antes, deu foral próprio a Senhorim 2. Os foraes são differentes; mas a povoação parece ser uma e a mesma, pois não temos em Portugal outra com o nome de Senhorim. Custa a crer que, tendo-lhe dado el-rei D. Manuel foral em 30 de março, reconheeen- do-a como séde de concelho e concelho an- tiquíssimo, pois já D. Affonso Henriques lhe havia dado outro foral,— o mesmo rei D. Manuel, 37 dias depois, a reduzisse a simples freguezia do novo eoncelho de S. João do Monte, obrigando-a a obedecer a uma aldeia da mesma parochia de Senhorim !. • . E não se confunda este novo concelho com o seu homónimo de S. João do Monte, men- cionado pelo padre Carvalho e que existiu outr'ora também na comarca de Vizeu, pois esse concelho tinha a séde na freguezia de S. João do Monte, hoje pertencente ao de Tondella, nas margens do rio Dão, cerca de 25 kilometros ao poente de Senhorim. Parece que D. Manuel, para distinguir do antigo concelho de S. João do Monte, nas margens do Dão, o novo concelho de S. João do Monte nas margens do Mondego, expres- samente declarou quaes as povoações que ficava comprehendendo e eram: — Villa Nova (hoje talvez Nellas),— Senhorim, hoje fregue- zia do actual concelho de Nellas, — e Villa Ruiva, aldeia da freguezia de Senhorim. Eis aqui um embroglio que poderá escla- recer só quem visitar a localidade, — o ar- chivo da camará de Tondella, que representa o extincto concelho de S. João do Monte, das margens do rio Dão, — o archivo da camará de Nellas, que representa os extinctos con- celhos de Senhorim, Canas de Senhorim e 1 Livro de Foraes Novos da Beira, fl. 113, v. col. 2.a 2 Idem, fl. 108, v. col. 2.» S. João do Monte, de Senhorim,— e o arcMvo nacional da Torre do Tombo, onde devem existir todos os nossos foraes, novos e ve- lhos. Dos livros que nos rodeiam, apenas se conclue o seguinte: 1. ° — Que Senhorim foi a primitiva séde do actual concelho de Nellas. 2. c— Que em 6 de maio de 1514 a séde d'este concelho passou de Senhorim para a aldeia de S. João do Monte, da mesma fre- guezia. 3. °— Que a villa de Senhorim (não sabe- mos desde quando) volveu a ser a séde d'este concelho até 1852, data em que pas- sou para Nellas. 4. °— Que a mencionada aldeia de S. João do Monte é differente da freguezia de S. João do Monte, que também foi concelho, mas nas abas da serra do Caramullo, hoje concelho de Tondella, nas margens do rio Dão. Aos illustrados filhos de Nel- las e Tondella pedimos a bon- dade de nos esclarecerem so- bre tão nebuloso assumpto. VILLA SECCA — aldeia da freguezia de Adoufe, concelho de Villa Real de Traz os Montes. N'esta aldeia foi barbaramente assassina- do, em 31 de janeiro de 1847, um velho Pa- checo, (official realista convencionado em Evora-Monte) pelas tropas do conde de Vi- nhaes, quando marchavam sobre Villa Pouca d' A guiar em perseguição do general Mac- donell. V. Sabroso e Villa Pouca d' Aguiar. As mesmas tropas do Vinhaes commette- ram por aquella occasião outros muitos ex- cessos em Zimão, na Gralheira e Villa Pouca d' A guiar, acutilando homens, mulheres e creanças. Bellesas das guerras civis? I . . . Na mesma freguezia de Adoufe ou Adáu- fe, entre as aldeias de Escariz e Bonagouro* está a celebre Pedra da mão do hom^rn, já descripta sob este titulo (Vide) no vol. 6.° pag. 518, col. 2.» VIL VIL 1057 VILLA SECCA— aldeia populosa e a mais importante da freguezia de Louredo, conce- lho e comarca d'Arouca. Vide vol. 4.° pag. 451 e seg. Esta aldeia já se encontra mencionada no foral que D. Manuel deu em 10 de fevereiro de 1514 á Villa da Feira e Terras de Santa Maria, que foram dos condes da Feira e comprehendiam, além do concelho (Teste no- me, grande parte dos de Ovar, Oliveira de Azeméis, Cambra, Estarreja, Fermedo, Arou- ca, Villa Nova de Gaya, etc. V. vol. 3.° pag. 155, col. 2." e seg. Temos ainda no nosso paiz mais 10 al- deias denominadas Villa Secca. Não as men- cionamos para não fatigarmos os leitores. VILLA SECCA- freguezia do concelho e comarca de Barcellos, districto e diocese de Braga, província do Minho. Vigairaria. Orago S. Thiago;— fogos 152, — habitantes 670. Em 1706 pertencia ao termo da villa de Espozende da grande comarca de Barcellos; — contava 163 fogos; — era vigairaria da apresentação da casa de Bragança; — ren- dia para o parocho 801000 réis— e para a collegiada de Barcellos 230$000 réis. Em 1768 era reitoria do padroado real; — contava 112 fogos — e rendia para o paro- cho 100^000 réis. Comprehende as aldeias de Villa Secca, séde da parochia, Assento, Bemposta e Lor- dello. Freguezias limitrophes: — Gilmonde e Mi- lhases, a E.,— Faria e Cristello a S.;— Rio Tinto a 0. — e Fornellos a N. Em 1840 estava annexada a esta ultima. Demora o logar de Villa Secca na mar- gem esquerda do rio Cavado, do qual dista kilometro e meio,— 7 de Barcellos,— 8 da estação d'esta villa, no caminho de ferro do Minho, — 34 de Braga (pela mesma linha fér- rea)— 58 do Porto— e 395 de Lisboa. Os seus templos reduzem-se á egreja ma- triz e 3 capellas: — Senhor do Soccorro, San- ta Maria Magdalena e Senhora da Conceição, — todas publicas e abertas ao culto. Banham esta freguezia o Cavado e um pe- queno ribeiro que nasce na povoação de Lor- dello e desagua na lagoa das Necessidades, freguezia de Barqueiros, seguindo a direc- ção E. O. As producções principaes d'esta parochia são:— vinho verde, cereaes e cebolas, que exporta em grande quantidade. Não tem aulas officiaes nem sequer de instrucção primaria elementar; mas apenas uma particular para meninas, auxiliada pela Associação do Santíssimo Coração de Jesus, estabelecida n'esta parochia. Emquanto a viação, é atravessada pela estrada a macadam de Barcellos á Povoa de Varzim,— estrada importante e de muito mo- vimento, principalmente por occasião das feiras de Barcellos e Villa do Conde, e du- rante o tempo dos banhos de mar. VILLA SECCA— freguezia do concelho de Condeixa, districto e diocese de Coimbra, província do Douro (?•••) Pertenceu á comarca de Coimbra; mas hoje pertence á de Penella. Orago S. Pedro;-- -fogos 417;— habitantes 1680— Priorado. Em 1708 era do termo da cidade e comarca de Coimbra e priorado do cabido da mesma cidade;— comprehendia a povoação de Ben- dafé, hoje parochia independente,— e con- tava ao todo apenas 136 fogos —segundo se lê na Chorographia Portugueza. Em 1768, segundo se lê no Portug. S. e Profano, era priorado do mesmo cabido;— contava 189 fogos— e rendia 300$000 réis- O recenseamento de 1878 deu-lhe 365 fo- gos e 1:458 almas— e o de 1864 deu-lhe 329 fogos e 1:209 almas. Tem pois augmentado consideravelmente a sua população. Demora junto das nascentes da ribeira que passa na villa de Condeixa a Nova, da qual dista cerca de 10 kilometros;— outros 10 da villa de Penella;— 15 de Coimbra;— 134 do Porto— e 233 de Lisboa, pela estação de Coimbra na linha férrea do norte. Comprehende as aldeias ou povoações se- guintes:— Villa Secca, séde da parochia, — Bruscos e Aleouce, já mencionados na Cho- rographia Portugueza — Balláos, Traveira, Matta, Ribaldo e Beiçudo. 1058 VIL VIL Freguezias limitrophes:— Lamas de Mi- randa, concelho de Miranda do Corvo, a E., — Podentes e Zambujal, 3 S.,— Condeixa Ve- lha, a O.,— e Almalaguez e Sernache dos Alhos, a N. Não comprehende quintas nem casaes di- gnos de especial menção. Atravessam esta freguezia a estrada a ma- cadam, districtal n.° 58, do Louriçal a Mi- randa do Corvo (O. a E.)— e a municipal, de S. Francisco de Coimbra a Penella, cortan- do a districtal n.° 58 ao nascente d'esta pa- rochia. Templos:— a egreja matriz e 7 eapellas publicas: 1 na aldeia de Balláos, 1 na de Al- couce, i Da de Traveira, 1 na de Bruscos, 1 na da Matta e 2 na de Villa Secca. Estas ul- timas teem as invocações de Senhor do Adro — e Espirito Santo; — em volta da i.a se fa- zem duas procissões: — uma no 1.° dia de cada mez, em louvor de Nossa Senhora,— outra no ultimo dia do mez, em suffragio pelos Seis defuntos. Também no domingo de Pentecostes vae da matriz uma procissão á capella do Espi- rito Santo, indo o povo cantando a ladainha dos Santos e terminando com uma missa re- sada na dieta capella. N'esta freguezia não ha feiras nem mer- cados, nem edifícios brasonados ou sem bra- sões, dignos de menção,— nem fabricas ou industria alguma. Também nunca foi villa. Denominou-se villa na accepção de quinta ou casa de campo,— e secca porque não a banha ribeiro ou rio algum. É pouco mimosa d'agua de rega; mas em compensação vê-se livre da peste dos arro- saes, pelo que o seu clima é muito saudável, como prova o augmento progressivo da sua população,— facto estranho em todas as fre- guezias d'este districto e de todos os outros onde a sordidez e ambição do lucro explo- ram a cultura do arroz, tão nociva á saúde publica ! . . . V. Vil de Mattos. As producções principaes d'esta parochia são:-— vinho, azeite e trigo. Não tem hotéis nem hospedarias,— nem sequer uma simples taberna. Caso raro em uma freguezia tão populosa e tão abundante de vinho I Em compensação— desconhece o vicio do jogo. Tem uma aula official de instrucção pri- maria elementar para o sexo masculino. Ha também aqui, desde tempos muito re- motos, uma albergaria de S. Pedro, que ain- da conserva (milagre I) rendas sufficientes para reparar a egreja matriz,— soccorrer os doentes pobres d'esta parochia— e os que n'ella passam com carta de guia. Deus tenha em bom logar os fundadores de tão santa instituição. Bem quizeramos dar minuciosa noticia d'ella; mas infelizmente não adiantam mais os apontamentos que se dignou enviar-nos o rev. prior actual d'esta parochia, José Adelino Coelho da Silva, e que muito cordealmente agradecemos. VILLA SECCA D'ARMAMAR,— villa ex- tincta, hoje simples freguezia do concelho e comarca d' Armamar, diocese de Lamego, districto de Vizeu, na província da Beira Alta. Reitoria. Fogos 222,— habitantes 890. Todas as nossas chorographias, até hoje, pouco, muito pouco disseram relativamente a esta parochia e ás ultimas cinco. Vamos ver se adiantamos alguma coisa mais. Em 1708 esta villa era um simples curato da corôa, annexo á freguezia de S. Miguel d'Armamar; — tinha 2 vereadores, 1 juiz or- dinário, 1 procurador do concelho, 1 escri- vão do judicial e notas, outro da camará; toda a villa e o seu concelho contavam ape- nas 90 fogos e pertenciam á comarca de La- mego. Passados 60 annos, ou em 1768, era um curato da apresentação do reitor d' Arma- mar;—rendia para o cura 70$000 réis — e contava 131 fogos. A Historia Ecclesiastica de Lamego, escri- pta no ultimo quartel do seeulo xvm, deu- lhe 155 fogos, 491 habitantes ,—60*000 réis de rendimento para o cura, comprehenden- do o pé d'altar e côngrua, dada pelo reitor d'Armamar. Também diz que tinha 2 capei- VIL VIL 1059 las:— uma de Nossa Senhora do Leile, com 1 3 altares,— outra de Nossa Senhora das Ne- ves,—e um oratório de S. José na quinta do Tedo, pertencente a José Bernardo. Almeida em 1866 deu lhe 173 fogos,— o recenceamento de 1864 deu-lhe 211 fogos e 864 almas— e o de 1878 deu lhe 205 fogos e 827 almas. Demora na antiga estrada de Lamego para Taboaço, por Armamar,— ponte de Santo Adrião, no Tedo,— e Barcos. Dista d'Armamar 5 kilometros para E.N.E. — 6 da margem esquerda do Douro,— 7 da estação de Covellinhas, na linha férrea do Douro,— 120 do Purto— e 457 de Lisboa. Comprehende apenas duas povoações: — Villa Secca, séde da parochia,— e Marmellal, na pendente sobre o rio Tedo,— além de va- rias quintas habitadas por caseiros, entre as quaes avultam 4:— a de Castello de Borges, a de Ayres Pinto, a de Valmór de Cima e a do Sarzedo. A de Castello de Borges, hoje do visconde d'este titulo, tomado d'ella, demora em sitio fundo, abafado, ardentisáimo no verão e pouco vistoso, na margem esquerda do Te- do, distante cerca de tres kilometros da con- fluência d'este rio com o Douro. Compre- hende vinhedos não muito extensos, hoje (1886), quasi todos phylloxerados e perdidos, mas que em tempo normal produziam qua- renta a 50 pipas de vinho do melhor do Alto Douro e que no . tempo do seu ultimo pos- suidor, Felix Manuel Borges Pinto, era sem- pre comprado por bom preço pelas primei- ras casas inglezas da praça do Porto. Foi seu comprador muitos annos o illus- trado e sempre chorádo Joseph James For- rester, barão de Forrester, — o negociante inglez a quem o Douro mais deve,— auctor do grande Mappa do Dcuro e de differentes opúsculos relativos ao Douro e aos nossos vinhos. No Douro empregou avultadas sommas e trabalhou muito, levantando elle próprio a planta d'este rio e das suas margens desde o Atlântico até a Hespanha— e no Douro per- deu a vida, em viagem da quinta do Vezu- vio para a Regea. Aproveitando o ensejo, daremos aqui no- ticia do memorando naufrágio: Em 11 maio de 1861, achando-se o barão de Forrester hospedado na celebre quinta do Vesúvio, onde ao tempo estavam os donos d'ella, Francisco José da Silva Torres, par do reino, grande proprietário e grande ca- pitalista,— sua esposa a sr.a D. Antónia Ade- laide Ferreira,— a condessa da Azambuja, filha do primeiro matrimonio da sr.a D. An- tónia Adelaide Ferreira, - o conde da Azam- buja, filho do duque de Loulé e genro da sr.a D. Antónia, — e o juiz de direito de Villa Nova de Foscoa, — disse na tarde d'esse dia a sr.* D. Antónia que tencionava ir bre- vemente para a sua casa da Regoa. — Também eu não posso demorar-me, — accrescentou o barão de Forrester, — e n'esse caso acompanho-os e havemos de ir ama- nhã. —Amanhã não, — disse a sr.".D. Antónia, —porque nem v. ex." tem aqui o seu barco 1 nem nós temos marinheiros prevenidos. 1 O barão de Forrester, já porque era muito amante do Douro e tinha n'elle gran- des interesses como um dos primeiros nego- ciantes de vinho, já porque n'aquelle tempo os caminhos entre o Porto e o Alto Douro eram medonhos e elle preferia fazer a via- gem embarcado, já porque para levantar a planta do Douro teve de o cruzar todo mui- tas vezes e de estanciar n'elle muito tempo, mandou fazer um barco para seu uso. O typo era o dos barcos rabellos, porque a na- vegação do Douro não admitte outros, mas era (nós o vimos muitas vezes) o barco ra- bello mais luxuoso que tem sulcado as aguas do Douro desde o mar até á Hespanha. Foi construído a capricho, bem pintado e bem mobilado com moveis elásticos, mesa de jántar, cadeiras, cosinha, retrete, leitos, boa frasqueira, bom trem de cosinha, etc, e com toldo ou coberta de madeira com vi- draças. Sendo um barco pequeno, de 10 a 12 pi- pas, n'elle deu jantares esplendidos a mui- tos dos seus amigos,— n'elle fez muitas via- gens do Porto até á Hespanha (Barca d' Al- va) e v. v. — e n'elle rezidiu mezes, durante as suas viagens e estudos. A mesma tripulação era formada por ma- J rinheiros valentes, escolhidos e os mais pe- I ritos na navegação do Douro, aos quaes sus- 1060 VIL VIL —Se não tenho aqui o meu barco, teem v. ex." os da quinta e um batalhão de tra- balhadores;—e não necessitamos de chamar marinheiros, pois muitos d'esses trabalha- dores sabem remar, e d'aqui até á Regoa (cerca de 56 kilometros) eu conheço perfei- tamente o Douro e me incumbo de guiar o barco. Havemos de ir ámanhã, e nada de sustos! — disse o barão. Tanto a sr." D. Antónia como o marido e mais família bem queriam adiar a viagem, mesmo porque tinha recentemente chovido muito e o Douro ia muito alto; mas tanto estimavam e respeitavam o barão e elle tanto instou, que annuiram. Mandaram logo preparar e toldar um bar- co da quinta,— chamaram 6 jornaleiros mais entendidos na navegação do Douro— e na manha do dia seguinte1 metteram-se no barco e seguiram em direcção á Regoa; mas com tanta infelicidade que o barco naufragou al- guns kilometros a jusante da quinta do Ve- zuvio, no Cachão da Valleira,—\k porque o arraes (não era o barão) tinha poucas habi- litações e não guiou bem o barco,— já por- que o Douro havia subido muito na noite antecedente e formava um medonho cachão, grande catadupa, ao sair comprimido da valleira, estreito canal, precipitando-se abru- ptamente em leito tres a quatro vezes mais largo e por consequência em nivel muito mais baixo 2. Alagou se o barco e com a violência da corrente todos os que iam n'elle cairam ao Douro, que ali ao tempo media trezentos a quatrocentos metros de largura d'agua pe- sada e em redemoinho constante e vertigi- noso. tentava e pagava generosamente e deu vis- toso uniforme. Para se formar idéa do que são os barcos rabellos, veja- se o artigo Pontos do Douro. 1 Era um domingo, dia 12 de maio de 1861. 2 V. Pontos do Bouro, vol. 7.° pag. 199, col. 2.», — Vias Férreas, pag. 488 e seg. no volume 10.°, — Vezuvio, quinta,— Salvador do Mundo, — S. João da Pesqueira, — e Douro n'este diccionario e no supplemento. Acudiram logo outros barcos, que por for- tuna se achavam perto e bons serviços pres- taram; mas infelizmente dos 16 náufragos pereceram 3:— o barão, 1 criado e 1 criada. Á sr.« D. Antónia serviu-lhe de salva-vi- das o grande balão 1 que levava e a conser- vou fluctuando até que os barcos que acu- diram a salvaram. Ainda hoje (1886) vive!... Seu marido, Francisco José da Silva Tor- res, lançou as mãos a um barril que leva- vam com azeite e, agarrado a elle, con- servou-se à tona d'agua, até que lhe acudi- ram. O sr. conde da Azambuja portou-se como um heroe ! Vestido como estava, ganhou a margem nadando— e nem a luneta perdeu ! A sr.a condessa da Azambuja sumiu-se na voragem; mas um valente e dedicado mari- nheiro mergulhou rapidamente apoz ella, — trouxe-a á tona d'agua segura pelos cabei- los— e, gritando por soccorro, ambos foram salvos. Duas criadas agarraram-se ao toldo do barco e foram boiando com elle ao som da agua, até que lhes acudiram. Salvaram-se também 1 criado, o juiz e os marinheiros, perecendo apenas 1 criado 1 criada e o infeliz barão de Forrester. Elle nadava perfeitamente; — era ao tempo ainda muito vigoroso— e nunca trepidou so- bre o Douro, tão seu conhecido. Suppõe-se que na occasião do naufrágio recebeu algu- ma pancada do barco, ou d'algura remo, e que o choque o aturdiu. Além d'isso le- vava calçadas grandes botas de montar, por- que vinha de uma excursão a Hespanha,— e as botas cheias d'agua eram um grande empecilho para nadar. SuppÕe-se também, que, vendo tamanha desgraça devida á sua imprudência, se sui- cidou mergulhaudo e asphixiando-se debai- xo da agua. É certo que se sumiu na voragem e que até hoje (1886) nem o cadáver se encontrou, 1 Usavam-se ao tempo vestidos de grande roda, formada por uma saia com molas de aço, denominada balão. VIL VIL 1061 posto que a família e os amigos empregaram todos os meios procurando-o. Mandaram in- clusivamente mergulhadores sondar o fundo do Douro, desde o sitio do naufrágio até grande distancia, mas todos 03 esforços fo- ram baldados. Suppõe-se que, trazendo comsigo relógio, corrente e anneis d'ouro, além de sommas importantes em um cinto, alguns canibaes, encontrando o cadáver o roubariam e de- pois o enterrassem fundo em sitio ermo, para desviarem as suspeitas do crime. Foi o infeliz barão de Forrester uma das victimas do Douro, que elle tanto amava; mas, se o rio o não poupou, os durienses o pranteiam ainda hoje vivamente e o pran- tearão muito tempo, pois não ha no Douro memoria de súbdito britannico, a quem o Douro deva tanto amor, tanta dedicação e tão relevantes serviços. Nas nossas bibliothecas publicas e parti- culares, em alguns dos nossos bancos e em muitas das nossas primeiras casas de com- mercio se veem muitos exemplares do es- plendido Mappa do rio Douro, levantado gratuita e muito espontaneamente por s. ex.\ — por s. ex." mandado gravar em Lon- dres—e por s. ex.« generosa e gratuitamente distribuído,— o que representa um brinde de muitos contos de réis feito a Portugal e ao Douro. O dicto mappa mede 3m,0 de comprimento e 0m,68 de largura. D'elle se fez na Lytographia Lusitana uma reducção pela casa editora Magalhães & Mo- niz, do Porto, quando em 1871 publicou o Douro lllusfrado do visconde de Villa Maior, também já fallecido. Concluiremos este lúgubre tópico dizendo que dos dois criados, victimas d'aquelle naufrágio, appareceram ambos os cadáve- res:—um junto da Regoa, e foi sepultado no cemitério de S. José de Godim,— outro1 junto 1 Era este o cadáver da infeliz Gertrudes, afamada cosinheira portuense, a quem o sr. Camillo Castello Branco, hoje visconde de Correia Botelho, príncipe dos nossos escri- ptores contemporâneos e meu bom amigo e do ponto de S. Martinho, e foi sepultado na capella contigua, que dá o nome ao dicto ponto. Também passados dias, quando baixou a corrente do Douro, um bahu com pratas e outros valores, que ia no barco, appareceu a distancia, entalado em uma azenha na margem do Douro. Prosigamos. A quinta de Castello de Borges, alem dos seus vinhedos, hoje quasi todos phylloxera- dos e perdidos, tem uma mimosa e grande várzea, regada e limada pelo Tedo, bons po- mares de larangeiras, armazéns e mais de- pendências—e boa casa nobre, onde viveu faustosamente muitos annos o seu ultimo possuidor, Felix Manuel Borges Pinto, e on- de recebia e hospedava generosamente os seus amigos, entre elles o barão de Forres- ter e outros muitos negociantes inglezes e portuguezes, até que falleceu. Felix Manuel era natural da freguezia de Escurquella (Vide) onde tinha um bom pa- lacete solar, que cedeu aos irmãos; — fez a guerra da península, como alferes de um corpo de guias; — depois casou na Folgosa, freguezia d'este concelho d'Armamar;— via- jou pela França e Inglaterra;— foi em Lis- boa procurador da Companhia dos vinhos, creada pelo marquez de Pombal— e escreveu vários folhetos relativos á mesma compa- nhia e ao Douro, os quaes foram impressos. Era bastante illustrado e prestou grandes serviços ao Douro na invasão do oidium tu- kery, pois foi o primeiro que no Douro ap- plicou o enxofre nas suas propriedades, 1 — e depois, como visse que os outros lavra- dores, dominados por estultos preconceitos, se recusavam a enxofrar as suas vinhas, mestre, deu a immortalidade, dedicando-lhe algumas paginas do seu formoso livro— Vi- nho do Porto,— publicado pelo sr. Eduardo da Costa Santos em 188i. Ali pôde ver- se também a descripção do naufrágio que tirou a vida ao barão de For- rester. 1 Veja-se o artigo Villa Real de Traz os Montes, pag. 1:014, col. 1.» 1062 VIL VIL perdendo-as e nada colhendo, Felix Manuel j se resolveu a mandal-as enxofrar por um terço da producção, com o que auferiram bons interesses, tanto elle como os donos das vinhas, até que todos se resolveram a enxofrar. Sabia muito de vinificação e junto da ca- sa nobre d'esta sua quinta fez em um sub- terrâneo, coberto por uma eira, uma das melhores frasqueiras do Douro, comprehen- dendo muitos espécimens de vinhos precio- sos de differentes castas de uvas. Falleceu decrépito, approximadamente em 1870, e, como fosse bastante timido, recei- ando ser cumprimentado pela quadrilha ca- pitaneada pelo celebre Traquina da Granja do Tedo, que em 1855 e 1856 aterrou este concelho e os limitrophes \ mandou por essa oceasião fazer n'esta quinta, em contacto com a sua residência, uma torre bastante solida e 9egura, onde dormia e guardava as suas jóias e valores. Da dieta torre proveiu a esta quinta o no- me de quinta de Castello de Borges e d'ella tomou o titulo o sr. visconde de Castello de Borges, José Pinto Borges de Carvalho, ca- sado e com successão, filho primogénito e herdeiro de Felix Manuel Borges Pinto. Pouco depois de mandar fazer a torre, mandou Felix Manuel também fazer junto d'ella, para o lado sul, uma bonita capella com Santíssimo permanente e um mauzoleu para n'elle repousarem, como repousam, as cinzas do fundador; — e nas suas disposições testamentárias mandou que na dieta capella se conservasse sempre o Santíssimo com a devida veneração, a cuja despeza obrigou parte d'esta quinta. Deixou também varias esmolas ao3 seus caseiros e criados, etc; re- Ceiando porém que o filho e herdeiro fal- seasse as suas disposições, não só caprichou na clareza e segurança das clausulas, mas nomeou seu testamenteiro o sr. João Baptis- ta Pereira da Bocha, de Lamego, hoje par do reino e conde d'Alpendurada, seu intimo 1 V. Valença do Douro e Granja do Tedo, n'este diccionario e no supplemento. amigo e cavalheiro da maior confiança; a despeito porém de tantas precauções, o bom filho e herdeiro — nada cumpriu 1 . . . Ás casas d 'esta quinta estão na margem esquerda do Tedo, quasi aprumadas sobre elle, mas distantes do Douro cerca de 3 ki- lometros, como já dissemos; foi porém tal a cheia do Douro em dezembro de 1860, que chegou até junto d'ellas e podiam navegar até ali os barcos rábellos da maior lotação. Como já dissemos no artigo Villa Real de Traz os Montes, logar citado, nós temos uma quinta (Campo Velho) a pequena distancia da de Castello de Borges, na margem direita do Tedo, mas em sitio alto, alegre e muito vistoso, no caminho do Douro para a fre- guezia de Santa Leocadia. Estavam então ali meu pae e minha mãe, com os quaes nos reunimos eu e meu9 ir- mãos para conçoarmos juntos. Tinha chovi- do torrencialmente n'aquelle mez (dezembro de 1860) e no dia 25 ou 26 vimos passar muita gente á porta da nossa quinta, como em romagem, para verem o Douro, porque constava que a cheia era espantosa. Unimo- nos ao préstito e fomos também (eu e toda a minha família) admirar a enchente. O Douro cobria o leito e avenidas da pon- te, poucos annos antes feita sobre o Tedo, na nova estrada marginal a macadam da Begoa para a Pesqueira. A montante da ponte formava um lago immeuso, que se prolongava a perder de vista pelo leito do Tedo acima; Tentados pela belleza de tão estranho espeetaeulo, pela mansidão da agua e pela amenidade do dia, pois havia cessado a chuva e o sol estava es- plendido, eu e meus irmãos mettemo nos em um barco,— seguimos o leito do Tedo— e fomos até á horta da quinta que estamos descrevendo; — não nos faltou porém susto, porque o leito do Tedo era fundo, mas aper- tado, todo orlado de freixos e amieiros, e o nosso pequeno barco ia sempre roçando por entre os curutòs d'elles. Também nos recordamos de que, junto da avenida oeste da meneionada ponte, havia do lado do Douro um grande pinheiro manso, que a bastante altura do solo se ramificava VIL VIL 1063 em duas grossas hastes e o Douro tocava no ponto, em que as hastes se dividiam. A corrente do Douro era violentíssima e levava de envolta muita lenha, madeiras e pipas,— e também vimos passar um grande tonel cheio. Depois soubemos que pertencia ao arma- zém da quinta da Valleira1, de João Poló- nio, ao tempo o homem mais rico de S. João da Pesqueira. O Douro invadiu o armazém;— demoliu parte — e levou algumas pipas e o tal tonel, que estava cheio de geropiga preciosa e va- lia contos de réis ! . . . Reeeiando o que succedeu, haviam-lhe ti- rado alguns almudes de liquido e arrolha- ram-no fortemente, aliás, sendo como foi, tomado pelo Douro, não se conservaria á tona d'agua, como conservou. Graças a tão prudente precaução, seguiu Douro abaixo e por cumulo de felicidade entrou na resaca do Douro, junto da Re- goa, e muito mansamente poisou em um so- calco da quinta do Santinho, hoje da sr.a D. Antónia Adelaide Ferreira. Compareceu lo- go o digno administrador do concelho;— ali mesmo o mandou despejar para pipas, que armazenou e poz a bom recato e que depois entregou, sem a minima perda, a João Poló- nio. Era assim então feliz este homem. Sem- pre franco e generoso, em pouco tempo fez uma casa superior a oitenta contos de réis talvez; mas, passados annos, foi pronunciado e preso por vagas e falsas suspeitas de ha- ver mandado matar um seu visinho, dr. Ju- lio, e falleceu na cadeia de Lamego, antes de entrar em julgamento, tendo toda a pro- babilidade de ser absolvido. Assim se perdeu rapidamente a melhor casa da Pesqueira, quando mais opulenta se ostentava ! . . . V. S. João da Pesqueira n'este dicciona- rio e no supplemento. 1 Demora esta quinta na margem esquer- da do Douro, junto do Cachão da Valleira, onde em 12 maio do anno seguinte pere- ceu o barão de Forrester, como já dissemos. Prosigamos : A quinta do Ayres Pinto tomou o nome do seu fundador o celebre governador das justiças, capitão general dos Açores, etc, Ayres Pinto de Sousa Coutinho, casado com D. Maria do Carmo de Mendonça; 1— demora na margem direita (!...) do Tedo;— está to- da phylloxerada e perdida— e ha muito que jazia em abandono quasi completo, — muito mal grangeada e pessimamente administra- da; mas no tempo do seu fundador foi uma das primeiras do Alto Douro. A sua casa nobre e os seus armazéns, — hoje tudo negro e em ruinas, — estão muito alegremente situados no topo de um peque- no e vistoso promontório, na confluência do Tedo com o Douro. O local é lindíssimo, mas ardentíssimo e extremamente doentio no verão, porque nas suas proximidades abundam na margem do Douro, durante a estiagem, depósitos d agua pútrida estagnada, que são medonhos focos de febres pestilenciaes. A quinta de Valmór de Cima demora na margem esquerda do Tedo e do Douro; — foi do tenente coronel Francisco Antonio de Carvalho Figueiredo, d'esta freguezia de Villa Secca d'Armamar;— depois passou para o seu genro e herdeiro universal José Isi- doro Guedes, i.° visconde de Valmór,— e é hoje do sobrinho e principal herdeiro d'este, Fausto Guedes, 2.° visconde de Valmór., actualmente (1886) nosso ministro em Vien- na d' Áustria 2. V. Lamego n'este diccionario e no sup- plemento. O primeiro visconde de Valmor uniu á dieta quinta a da Penha, que comprou e era 1 Veja-se o artigo Villa Real de Traz os Montes, n'este vol. pag. 998, col. 1.* 2 É s. ex.a irmão do sr. coude d'Almedina e da sr.a viscondessa de Guedes Teixeira, casada cora seu primo, visconde d'este ti- tulo e cavalheiro de muito merecimento, actualmente (fevereiro de 1886) director da alfandega do Porto, tendo sido deputado ás cortes em varias legislaturas, governador ci- vil do Porto e de Vizeu, etc. 1064 VIL VIL contigua, mas já no termo da freguezia da Folgosa, formando assim uma das primeiras quintas do Alto Douro, á qual deu o nome de Valmór, sendo par do reino, e d'ella to- mou depois o titulo. No Douro lllustrado se vê a pag. 116 uma linda gravura representando a casa nobre e armazeus da quinta da Penha, hoje quinta de Valmór, — e a pag. 134 se lê o seguinte: «Confina com este rio (Tedo) pelo nas- cente a quinta de Valmór, pertencente ao sr. visconde de Valmór. A estrada marginal do Douro corta-a na extensão de 2:691 me- tros desde o Tedo até á Folgosa, passando junto aos edifícios, que a nossa estampa re- presenta, os quaes contem vastos e bem dis- postos armazéns para o lado do rio (Douro) e onde se podem recolher mais de 950 pi- pas de vinho, e tendo além d'elles, sobre a estrada, excellentes casas para habitação dos donos. Em frente d'estas casas, do outro la- do da estrada, estão as offlcinas e lagares da quinta. D'estes lagares passa o vinho para as vasilhas, que o recebem nos armazéns, atravez da estrada, por meio de uma cana- lisação feita com manilhas de grés. «A superfície d'este grande prédio viní- cola está calculada em perto de 84 hectares, dos quaes 75,5 são occupados pela vinha, que pôde fornecer mais de 200 pipas de vi- nho, tendo até produzido em 1873 uma co- lheita de 256 pipas. Os vinhos d'esta quinta são de 1.» classe e teem no Porto compra- dor seguro em uma das melhores casas d'a- quella praça. «Alem do vinho produz azeite e fructas; tem plantações d'amoreiras, grande pinhal e muito terreno de mattos. «A este bello domínio de Valmór estão ainda annexos outros prédios importantes e uma fabrica de distillação d'aguardente na Pedra Caldeira.» Tudo isto é verdade; apenas acrescenta- remos o seguinte : O grande edifício de Valmór foi feito na primeira metade d'este século por um ne- gociante do Porto e comprado approxima- daa&ente em 1860 por José Isidoro Guedes, que muito generosamente deu grátis todo o terreno preciiso para a estrada marginal a macadam1, de bombordo a estibordo da grande quinta; mas esta ficou valendo muito mais com a nova estrada, pois toca na casa nobre, hoje accessivel para trens de toda a ordem. Anteriormente era accessivel somen- te em barcos pelo Douro, ou em cavalgadu- ras de sella pela estrada de sirga, no verão, pois a velha estrada da Folgosa para o Te- do, alem de ser péssima e muito estreita, se- guia em nivel muito mais alto, a distancia de 300 a 40O metros para S. Por occasíão da grande cheia de 1860 o Douro também entrou nos armazéns d'esta formosa quinta, mas felizmente não causou prejuízos de grande monta. A quinta do Sarzedo prende com a de Castello de Borges e d^nomina-se quinta do Nápoles ou do Sarzedo, porque é, ha mui- tos annos, talvez séculos, pertencente á no- bre família Nápoles, do Sarzedo, concelho de Moimenta da Beira, hoje muito dignamente representada pelo sr. José de Lemos de Ná- poles Manoel, casado em segundas núpcias e com successão, distincto escriptor publico e que tem sido deputado ás cortes. Tem esta quinta boa casa d'habitação, ar- mazéns, offlcinas próprias, capella e exten- sos vinhedos, dos mais antigos do Alto Dou- ro, mandados plantar por um judeu rico e muito intelligente, mais conhecedor de agro- nomia do que muitos dos nossos agrónomos actuaes, como revela a excepcional direcção que deu aos geios e socalcos, fazendo-os não horisontaes, mas com pronunciada pendente 1 Esta estrada é parte integrante da es- trada real n.° 34 de Penafiel á Barca d'Alva; mas até hoje (1886) ainda não passou de S. João da Pesqueira. Deve-se em grande parte aos srs. Macedos Pintos, de Taboaço, a con- tinuação d'ella desde a Begoa atê á Pes- queira,— e aos mesmos srs. se deve também a nova estrada em con>trucção do Espinho, na Foz do Távora, por Taboaço e Moimenta da Beira, para Viseu,— bem como a proje- ctada ponte sobre o Douro, junto da foz do Távora. Vide Taboaço e Villa Real de TraZ-os- Montes, pag. 933, col. 2.* VIL VIL 1065 do9 valles sobre os serros, pelo que n'estes nunca faltou a terra nem se estiolaram as vides com o perpassar dos séculos, como nas outras plantações do Alto Douro. N'este ponto ainda hoje é muito digna de attenção e estudo a plantação d'esta quinta. Expulsos os judeus por D. Manuel em 1496, passou ella para os ascendentes do seu actual possuidor; ma9 infelizmente hoje tam- bém se acha quasi toda phylloxerada e per- dida e ha muito que, sendo mal grangeada e mal administrada, não produzia a terça parte do vinho que podia e devia produzir. Esta parochia de Villa Secca tem uma area muito extensa;— produz alguns cereaes, figos, azeite e fructa; mas a sua producção dominante foi sempre o vinho. Em 1840, por exemplo, produziu ella 1:044 pipas, — se- gundo o arrolamento offlcial da extincta com- panhia; mas em outros annos produziu mais de 1:200 pipas, emquanto que hoje não pro- duz talvez 300, por causa da maldicta phyl- loxera I As suas freguezias limitrophes são:— Cou- ra e Santo Adrião, a E. n'este concelho, e Adorigo, alem do Tedo, no concelho de Ta- boaço;— a N. o Douro, cuja margem direita aqui pertence ás fregnezias de Covas e Gou- vinhas, do concelho de Sabrosa;— a S. Ari- cera e S. Martinho das Chãs;— a O. e S.O. Armamar e Folgosa. Os seus templos reduzem-se á egreja ma- triz, 2 capellâs publicas e 2 particulares. A egreja é muito antiga;— está bem tra- tada e bem conservada;— tem altar-mór e 3 lateraes com boas decorações de bella talha antiga dourada — e tecto de madeira apaine- lado com pinturas a oleo antigas e de bas- tante merecimento, principalmente as do corpo da egreja. Tem sobre o guarda-vento um coro es- paçoso restaurado com solidez; bom soalho de castanho no pavimento— e para o serviço do culto alfaias e paramentos muito decen- tes,— graças á iniciativa do seu digno reitor actual, o rev. Joaquim Cardoso Encerrabo- des, da freguezia de Santo Adrião, n'este mesmo concelho. As capellas publicas são as seguintes: li* — Senhora das Neves, na povoação do Marmeial. Tem um bom tecto apainelado, todo cheio de pinturas antigas, mas inferiores, com re- lação ás da egreja. 2.» — Nossa Senhora do Leite, cerca de 200 metros ao nascente da séde da parochia e junto do cemitério publico. Foi reconstruída em 1882, exceptuando as paredes. Fizeram de novo os dois altares lateraes, bem como o altar-mór, que tem sacrário para receber, como tem recebido, o Santíssimo Sacramen- to, por occasião das obras na matriz. Todos estes melhoramentos se devem ao mesmo rev. paroeho. As capellas particulares são as já mencio- nadas nas quintas do Sarzedo e de Castello de Borges. Também houve um oratório, em que se dizia missa, na quinta do Ayres Pinto. Na séde d'esta parochia ha dois bons edi- fícios:— um é brazonado; foi de Miguel d' Al- meida Pinto Donas Boto, — depois passou ao seu filho Ruy Vaz Pinto d'Almeida,— d'este para sua mãe, D. Anoa Cândida de Sá Lo- pes,—e d'esta para o seu sobrinho Antonio Pedro de Alcantara Sá Lopes, residente na sua casa e quinta do Bom Successo, junto do cemitério d'Agramonte, no Porto, filho do desembargador Antonio de Sá Lopes, F. C. R. e de D. Rita de Cássia Pereira Forjaz. Este desembargador nasceu em 12 de fe- vereiro de 1776 e faileceu em 6 d'outubro de 1863. Era irmão de D. Anna Cândida de Sá Lopes, fallecida em 1865, e de D. Maria Bernarda Carneiro de Sá Lopes; que nasceu em 20 d'agosto de 1792 e ainda hoje (1886) vive, contando cerca de 94 anno3 de eda- de!... O 2.° edifício, embora não brasonado, é um bom palacete, hoje pertencente ao 2.° vis- conde de Valmór. Foi feito por Francisco Antonio de Carva- lho Figueiredo, tenente coronel de milícias, casado com D. Maria Joaquina. .. Tiveram uma. filha única e sua herdeira universal, D. Maria Miquelina Pereira Pinto, senhora mui- to illustrada. Casou esta duas vezes,— a 1." 1066 VIL VIL com um inglez, do qual viuvou ainda muito j nova e sem successão; — a 2.» com José ísi- j doro Guedes, de Lamego, depois par do rei- i no e visconde de Valmór, para quem por morte d'ella passou o dicto palacete e toda a sua casa. Passou o 4.° visconde de Val- mór a segundas núpcias; mas, como de am- bas não tivesse successão, deixou a maior parte da sua grande fortuna, comprehen- dendo o dicto palacete, etc, ao seu sobrinho Fausto Guedes, hoje 2.° visconde de Valmór e nosso ministro em Vienna d'Austria. V. Lamego n'este diccionario e no sup- plemento. Teve esta villa paços de concelho, cadeia e pelourinho, mas tudo já desappareceu. Tem 3 fontes publicas e é banhada ao nas- cente pelo pequeno ribeiro de Pias, que des- agua no Tedo, mas secca sempre no verão, — e ao poente pelo regato de Oleiros, que desagua no de Temi Lúpus, ou Mil Lobos, — e este no Douro, na Foz de Mil Lobos, junto da Pedra Caldeira. O chão desta parochia ó argiloso e cal- careo e n'elle predomina o schisto; mas ao sul da matriz abunda em granito, queé ex piorado em larga escala para construcções, destacando-se a pequena distancia da villa o Cabeço da Lapa, morro enorme de granito que semelha um Castello e tem mais de oi- tenta metros d'altura. Do alto d'elle se gosa um vastíssimo horisonte, comprehendendo grande parte da Beira e Traz-os Montes e da região vinícola do Alto Douro, que antes da invasão phylloxerica bem podia dizer-se de ouro e parecia um jardim de fadas, emquan- to que hoje parece o valle da morte 1 Ê também notável n'esta villa, um pouco a montante do cemitério parochial, no sitio de Malho, a Fraga da Moura, grande roche- do., também de granito, com uma pequena abertura, por onde se entra para uma espé- cie de sala circular com assentos de rocha viva em toda a sua circumferencia, e fres- tas que (segundo se suppõe) dão para outro3 compartimentos abertos na mesma rocha,— compartimentos que até hoje ninguém ousou explorar e nos quaes (diz o povo) está en- cantada uma moura, guardando grandes the- zouros. D'aqui provem ao dicto rochedo o nome de Fraga da Moura. Dizem-nos que é lindíssima a pobre filha d'Allah, — segundo affirmam e juram alguns felizes mortaes que tiveram a ventura de vêl-a em uma manhã de S. João;— mas quem não acreditar não pecca. Também offerece lindas vistas o pequeno monte que se prolonga desde a séde d'esta parochia até á povoação do Marmelal. D'elle se descobre perfeitamente a formosa villa da Regoa, a sua ponte sobre o Douro e os seus encantadores arrabaldes, entre os quaes avulta a mimosa bacia de Jogueiros. Junto da extremidade leste do dicto monte e a cavalleiro da povoação do Marmelal ap- pareceram, ha annos, em umas excavaçòes no sitio denominado Villa Chã, muitas moe- das de cobre antiquíssimas, talvez romanas. Ninguém as classificou nem lhes ligou importância alguma ! . . . O nome do local e o apparecimento das dietas moedas levam a crer que ali houve outr'ora povoado; mas hoje não resta vestí- gio algum d'eile. O sitio é completamente deserto. Também ali appareceram alicerces de ca- sas redondas ou circulares l, lanços de muros, muitos tijolos, alguns d'elles de grande ex- pessura e com buracos, como para recebe- rem panellas, — e sepulturas cobertas (o meu informador não disse a formâ que tinham e a matéria de que eram feitas)— e ultima- mente duas ainda com tampa e dentro de uma d'ellas uma caveira sem o esqueleto. Também no termo;d'esta parochia seteem encontrado moedas romanas em diversas ex- cavaçòes junto da capella de Nossa Senhora do Leite e nos sitios de Montaria, Crutinhas, ou Cortinhas e Ventosa. N'este ultimo appareceram muitas dentro de panellas de duríssimo barro vermelho; tudo porém a estupidez malbaratou!. .. Foram estes os achados mais recentes, de 1 Chamamos para este tópico e para o an- tecedente a attenção dos archeologos. VIL VIL 1067 que ainda se conserva memoria; mas quan- tos se dariam em tempos anteriores? Não ha n'esta freguezia minas em explo- ração nem registradas; apenas na margem esquerda do Tedo, a jusante da povoação do Marmelal, approximadamente em 1860, o engenheiro polaco Ladislau Zarzechi fez al- gumas pesquisas, mas sem fructo, quando explorava as minas de chumbo argentifero na foz do rio Távora, confluente do Douro, e em Donello, freguezia de Covas, no conce- lho de Sabrosa. São as minas simplesmente indicadas pelo meu antecessor no artigo Va- lença do Douro, a pag. 104, col. l.« do 10.° vol.— e descriptas no artigo Távora, rio. Tem esta parochia duas aulas offieiaes de instrucção primaria elementar para os dois sexos. Pessoas notáveis Para não alongarmos demasiadamente es- te artigo, mencionaremos entre as pessoas notáveis d'esta parochia apenas as seguin- tes: ■ . I a— D. Maria Miquelina Pereira Pinto, já mencionada, 1.» viscondessa de Valmor. Foi uma senhora muito religiosa e muito illustrada, auctora d'algumas publicações myslicas, etc, e fundadora principal da As- sociação consoladora dos Afflictos, no Porto e em Lisboa. Vivendo em Lamego pelos annos de 1830 a 1833 com o seu segundo marido José Izi- doro Guedes, depois par do reino e viscon- de Valmor, prestou grandes serviços aos pre- sos políticos (cerca de quinhentosl. . .) que em período tão calamitoso entulharam as cadeias d'aquella cidade,— nomeadamente ao dr. João Lopes de Moraes, lente da univer- sidade de Coimbra e uma das nossas pri- meiras illustrações medicas, ao tempo tam- bém encerrado na cadeia de Lamego. A ella se altribuem também alguns dis- cursos que José Isidoro Guedes recitou na camará dos pares. V. Lamego n'este diccionario e no sup- plemento. 2.a— D. Anna Cândida de Sá Lopes, casa- da com Miguel d'Almeida Pinto Donas Boto. Foi uma senhora virtuosíssima;— falleceu com opinião de Santa— e jaz com seu ma- rido e cora o seu filho Ruy Vaz Pinto de Sá Lopes no sumptuoso mauzoleu que para el- les erigiu no adro da egreja matriz d'esta parochia. 3. » — Francisco Antonio de Carvalho Fi- gueiredo, tenente coronel de milícias, já men- cionado. 4. " — Ildefonso José Cardoso d' Almeida San- tos, bacharel formado em theologia e cónego (chantre) em Lamego, onde falleceu ha pou- cos annos. Parce sepultis l. . . 5. "— D. João Manuel Cardoso de Nápoles, filho de Joaquim Cardoso de Nápoles e de D. Emilia da Conceição Morgado Rebello. Nasceu n'esta freguezia em 14 de setem- bro de 1830; recebeu a ordem de presbytero em 10 de junho de 1854— e é bacharel for- mado em theologia e doutorem direito pela Universidade de Coimbra, tendo sido lau- reado sempre com os primeiros prémios. Foi abbade de S. Cosmado, n'este conce- lho, onde se collou no dia 10 de novembro de 1855 e é actualmente conego-professor na patriarchal, onde se collou em 26 d'agosto de 1865. Também ali é juiz da secção do re- curso pontifício e professor de theologia dog- mática e direito natural no seminário de Santarém. Foi pelo nosso governo eleito coadjutor e futuro successor do arcebispo de Gôa, ap- proxirnadamente em 1870; mas hoje (1886) ainda não foi confirmado pelo romano pon- tífice. É um talento verdadeiramente supe- rior. 6. "— João Gomes de Carvalho, monteiro- mór, já mencionado no artigo Moimenta da Beira, vol. 5.° pag. 362, col. 2.a 7. '—Miguel Paes e Maria Paes, filhos de D. Eixemea, casada com Paio Cortez, vas- salo e cavalleiro do grande Egas Moniz. Também esta parochia no calamitoso pe- ríodo de 1820 a 1838 produziu homens que se tornaram tristemente notáveis pela sua perversidade. Alguns d'elles fizeram parte da celebre quadrilha do Cavallaria de Santo Adrião, da qual o meu antecessor já fallou 1068 VIL VIL nos artigos Valença do Douro e Romão (S.) d" Armamar. Vide. Esta parochia foi villa e concelho com jus- tiças próprias, pertencente á antiga comarca de Lamego;— em 1840 pertencia ao conce- lho de Barcos, extincto pelos decretos de 10 de outubro de 1844 e 24 d'outubro de 1855, pelo ultimo dos quaes se criou o concelho d'Armamar e esta freguezia passou para eííe. Nunca teve foral; pelo menos Franklin não o menciona; mas é povoação muito an- tiga, pois segundo se lé no códice 547 da Bibliotheca municipal do Porto,— Descripção de Lamego,— escripta no primeiro quartel do século xvm *, o ultimo regulo ou rei mouro de Lamego, Echa Martins, pouco depois de vencido no valle d'Arouca pelo conde D. Henrique e por este restituído ao seu alca- çar 2 transferiu a sua residência para esta Villa Secca, pelo que D. Affonso Henriques a fez couto. Diz mais o dicto códice que MartimEcha (filho do mencionado regulo) sua mulher Ouroana e seus filhos deixaram uns óbitos (legados pios) á Sé, ficando ao cabido a maior parte de Villa Secca,— «cujo óbito fez seu fi- lho João Martins, que foi o primeiro Deão da Sé, como consta de duas partes no Livro Antigo dos Óbitos, a dois de março e tres de dezembro, aonde diz o seguinte : *Obiit Martinus Echa, et uxor ejus Ou- roana, et filii eorum Petrus Martinus Praes- byter, et fratres ejus milites, et Joanes Mar- tinus, primus duanus, et habet capitulum lamecense illam haereditatem, quam manda vit ditus duanus, de Villa Sica, pro suo an- niversario. Em vulgar quer dizer: Falleceu Martim Echa (filho do ultimo rei mouro de Lamego) e Ouroana, sua mu- 1 Este códice foi por nós eopiado e a nos- sas instancias publicado no Jornal de La- mego, desde o n.° 55 de 21 de dezembro de 1883 até o n.° 81 de 14 de junho de 1884. 2 V. Lamego e Arouca. lher, e os filhos d'estes: — Pedro Martins, presbítero, e seus irmãos militares— e João Martins, primeiro Deão; e possue este cabi- do de Lamego as terras que elle tinha em Villa Secca, as quaes lhe deixou no seu tes- tamento o dicto deão para o cumprimento de certos officios e suffragios pela sua alma. Corrobora isto mesmo a Historia Eccle- siastica da cidade e bispado de Lamego, pois n'ella se lê, a pag 115, col. 2.», o seguinte: «Villa Secca d' Armamar foi doação do santo rei D. Affmso Henriques ao ultimo rei de Lamego, já chnstão, cujo filho João Martins, Deão da Sé, fez doação ao cabido de todos os seus bens e do mesmo couto.» É certo que ainda hoje (1886) muitas pro- priedades d'esta freguezia de Villa Secca são foreiras ao cabido de Lamego, em virtude d'aquella doação. Do exposto se vê que esta villa foi do ulti- mo rei mouro de Lamego e de seus filhos, pelo menos do deão. Também suppumos que o dicto rei mouro e seus filhos viveram em uma casa, onde hoje se vê a do sr. D. João Manuel Cardoso de Nápoles, por ser muito central, próxima de uma das fontes publicas da villa e por- que em toda a villa é a casa única foreira ao cabido de Lamego, possuindo este aliás mui- tos foros n'esta parorhia, mas em proprie- dades rústicas somente. Milita ainda em favor d'esta opinião a cir- cumstancia de que o quiotal da dieta casa, hoje dividido em subemphyteose por paren- tes do sr. D. João, era muito espaçoso e com- prehendia o chão mais mimoso e fértil da villa; mas o edifício actual é moderno. Data do ultimo século talvez; pelo que alguém diz que a casa do r^i mouro foi a que hoje se vê na rua de Fundo de Villa, á direita, indo para Armamar, e distante da egreja matriz cerca de 250 metros. A dieta casa é pequena, mas muito velha e com certesa a mais antiga d'esta villa. Tem 20m,0 de fundo,— 5m,30 de largura e prende com um quintal que foi mais espa- çoso, mas hoje tem apenas 12m,0 de com- i primento e 10ra,60 de largura. VIL VIL 1069 É de granito e revela ainda muita anti- guidade, posto que tem soffrido modificações e ha bons 200 annos que serve de palheiro! Junto do angulo S. E., na f;ice que olha para o sul, tem uma janella rectangular com lavores exquisitos na torça, — flores, aves, bichos e arabescos,— diz o meu informador; — está a dieta janella a 6m,24 d'altura do solo do quintal e tem hoje de vão 0m,55 de largura e lm,li d'altura; mas sabe-se e vê- se claramente que foi uma janella dupla, di- vidida por uma columna que teve no vér- tice do angulo S.E., olhando uma das aber- turas para o sul e outra para o nascente. Esta ultima foi tapada ainda n'este século por um tal Fernando, sapateiro minhoto, sendo dono d'esta casa. Para fazer a janella mais pequena, deturpou-a e mutilou-a estu- pidamente, pondo-a rectangular e partindo a torça que tinha os lavores 1 . . . Esta casa, nos fins do ultimo século, per- tencia aos Madeiras de S. Martinho das Chãs, parentes muito próximos do famoso juris- consulto João Maria Mergulhão Neves Ca- bral, de S. Romão d'Armamar. V. Romão (S.) d' Armamar e Moimenta da Beira. Dos Madeiras passou por emprasamento para o tal Fernando minhoto,— depois este a vendeu á sogra do 1.° visconde de Valmor — e é hoje do 2.° visconde d'este titulo, co- mo successor do 1.° Confronta a S. com o quintal próprio, — a N. com uma casa de Luiz da Silva Carvalho, —a E. com a estrada publica— e a O. com um estreito becco, por onde hoje se entra para a dieta casa; mas a sua primitiva en- trada era do lado norte, onde se fez a casa de Luiz da Silva Carvalho. Lá se vê ainda o antigo portal com arabescos análogos aos da janella, mas tapado com alvenaria,— e a escada. Também interiormente se vêem alguns la- vores em madeira de castanho, muito car- comida,—e canas e meias canas na cosinha, que é toda de pedra e muito defumada, — diz o meu informador,— pois eu apenas atra- vessei, ha muitos annos, esta villa uma sò vez e não visitei semelhante casa. volume x Ao sr. visconde de Val môr peço encare- cidamente que a tracte com carinho, pois ainda está soffnvel mente conservada e é hoje o brasão mais venerando da antiguidade d'esta villa. Também na Descripção do terreno em volta de Lamego duas léguas se diz — que Paio Cor- tez, vassallo e cavalleiro d'Egas Moniz, aio de D. Affonso I, casou com D. Eixemea, da qual teve tres filhos e uma filha— e que esta casou em Villa Secca d'Armamar. Isto prova que já nos princípios da nossa monarchia esta povoação de Villa Secca era habitada por famílias nobres. V. Inéditos de Hist. Portugueza, tomo 5.° pag. 609 e 6i0. É também muito antiga a aldeia do Mar- melal. D. Sancho I deu carta de povoação aos seus habitantes em julho de 1194 — e D. Af- fonso II, estando em Guimarães, a confirmou em 3 d'abril de 1219. Maço 12 de foraes antigos, n.° 3, fl. 21, v. col. l.a in-principio. No dicto foral de D. Sancho se lê, entre outras coisas, o seguinte: «Ego Rex Sancius et uxor mea... cum filiis meis, et cum Gunsalvo Gunsalvi prín- cipe terrae, vobis populatoribus de Marmel- lar, quae jacet in fox de tonedo, facimus fir- mitudinis carta de ipsa populalione. . . De unaquaqua quorella de jugada. . . per me- ditam de Ermamar.» «Eu rei D. Sancho e minha mulher... com os meus filhos e Gonçalo Gonçalves, se- nhor da dieta terra, damos carta de segu- rança e protecção aos povoadores da aldeia do Marmellar, que demora junto da foz do rio Tonedo (hoje Tedo). De cada uma das courellas da dieta povoação me pagareis ju- gada... pela medida do concelho d'Erma- mar, (hoje Armamar).» É pois muito antiga a povoação do Mar- melal e mais ainda a de Armamar, hoje sede d'este concelho, e já n'aquelle tempo cons- tituída com foral e medidas próprias, como se infere do logar supra, posto que Fran- klim apenas menciona o foral novo, que lhe deu D. Manuel. ■ . 68 1070 VIL VIL V. Armamar n'este diccionario e no sup- plemento;— note-se porém que o foral de D. Sancho cora certeza se rerefe á povoação ho- dierna do Marmelal e não á que existiu a cavalieiro d'ella, no sitio denominado Villa Chã, onde appareceram as velharias men- cionadas supra. Essa extincta povoação foi talvez anterior ao domínio romano, como provam as suas construcções circulares, pois devem ser con- géneres das do monte de Santa Luzia, men- cionadas no artigo Vianna do Castello, a pag. 450, col. 2.* do 10.° volume. Chamamos para este ponto a attenção dos archeologos. Em 1532, segundo se lê na Descripção do terreno em volta de Lamego duas léguas, es- cripta pelo cónego tercenario Ruy Fernan- des, contava toda esta freguezia apenas trin- ta e seis fogos 1. . . Emquanto a viação, as estradas d'esta fre- guezia e d'este malfadado concelho são ainda os mesmos barraiacos do principio da nossa monarchia ! Apenas toca na sua extremidade N., seguindo pela margem esquerda do Dou- ro, a estrada real a macadam, n.° 34, do Porto á Barea d'Alva. Com vista aos illustres vereadores d'este concelho e aos seus procuradores á junta geral do districto. VILLA DOS SINOS,— freguezia do conce- lho e comarca do Mogadouro, districto e dio- cese de Bragança, província de Traz os Montes. Orago Nossa Senhora da Assumpção; — fogos 38/— habitantes 140. Em 1706 pertencia ao termo e concelho da villa do Mogadouro, comarca de Miran- da, segundo se lê na Chorographia Portu- gueza, mas não lhe marcou população. O Flaviense em 1852 deu-lhe 35 fogos, — Almeida 46;— o censo de 1864—40 fogos e 160 almas— e o de 1878 (ultimo) 39 fogos e 142 almas. Pertenceu ao arcebispado de Braga até 1882, data em que peia nova circumseripção diocesana passou para a diocese de Bragan- ça; mas pela sua população insignificante está civilmente annexada a Villarinho dos Gallegos. Vide. É um simples e pobre curato, que foi da apresentação dos marquezes de Távora, se- nhores do Mogadouro;— exterminados os di- ctos marquezes (V. Chão Salgado) passou para a corôa,— e também foi algum tempo da apresentação dos commendadoresde San- ta Maria. O logar de Villa dos Sinos demora em ter- reno plano, na margem direita do Douro, do qual dista cerca de 4 kilometros para N., —12 do Mogadouro para S. E.,— 50 da Barca d' Alva,— 250 do Porto, pela linha férrea do Douro,— e 587 de Lisboa. As suas produeções dominantes são— ce- reaes, batatas e lã, pois cria bastante gado lanigero e também bovino. VILLA SOEIRO,— freguezia do concelho, comarca, districto e diocese da Guarda, pro- víncia da Beira Baixa. Orago Santa Anna,— fogos 70,— habitan- tes 296. Curato. Em 1708' pertencia ao termo e concelho de Linhares, corregedoria da Guarda, provedo- ria de Vizeu,— e era da apresentação do bispo da Guarda. Em 1768 era da apresentação do prior da Mizarella;— contava 51 fogos— e rendia para o cura 10$000 réis, além do pé d'altar. O Flaviense em 1852 deu-lhe 65 fogos, — o censo de 1864 deu-lhe 60 fogos e 227 ha- bitantes—e J. A d' Almeida nem sequer fez menção d'este pobre curato I Produeções dominantes— cereaes, vinho e lã, pois cria bastante gado lanigero. VILLA DE SOUTO, VIL DE SOUTO ou VILLA SOUTO,— freguezia do concelho, co- marca, districto e diocese de Vizeu. V. Val de Souto. Em rectificação ao que o meu antecessor disse d'esta parochia no artigo indicado, observaremos que Bettencourt a menciona sob o titulo Villa de Souto, dando-lhe 571 habitantes,— e que o Portugal S. e Profano a mencionou também sob o titulo Souto, vol. 2.° pag. 233, in-fine. Aproveitando o ensejo, acereseentaremos o seguinte : Esta parochia em 1708 era abbadía da ca- VIL VIL 1071 sa dos Loureiros de Ferronhe, e contava apenas 66 fogos. Em 1768 era abbadia da apresentação de Luiz de Vasconcellos e Almeida, — rendia 300^000 réis— e contava 90 fogos. O Flaviense em 1852 deu-lhe 115 fogos, —o censo de 1864 deu-lhe 119 fogos e 574 habitantes— e o de 1878 deu-lhe 122 fogos e 551 habitantes. Comprehende as aldeias ou povoações se- guintes:—Egreja, Pouves, Fonte Arcada, Outeiro de Baixo, Outeiro do Pinheiro, Car- riça, Carcavellos, S. Paio, Ferronhe e Villa de Souto ou Vil de Souto. Alguém diz que esta parochia teve 3 fo- raes,:— o 1.° dado por D. Sancho I em 1193, —o* 2.° por D. Affonso II em 1218— e o 3.° por D. Fernando em 1376; mas Franklin não os menciona; pelo menos nós não consegui- mos lobrigal-os na Memoria d'elle. Está no termo d'esta parochia, em sitio alto e agreste, mas muito vistoso e pitto- resco, o santuário de Nossa Senhora do Crastro (Castro) no topo da serra d'este no- me, onde, segundo diz a tradição, outrora esteve um castello ou atalaia, cerca de 7 ki- lometros ao norte de Viseu. D'ali ?e desco- bre esta cidade e um horisonte vastíssimo. A imagem da Senhora, segundo se lè no Sant. Marianno (tomo 5.° pag. 242) é muito antiga, de madeira, estofada, com túnica ver- melha e manto azul;— tem cerca de um me- tro d'altura e no braço esquerdo o Menino Jesus. Ê imagem de grande devoção para os po- vos circumvisinhos, nomeadamente para as mulheres a quem falta o leite,— e teve (não sabemos se ainda hoje tem) uma grande ir- mandade erecta em 1588, com estatutos ap- provados pelo bispo D. Nuno de Noronha. Como a dieta irmandade comprehendesse muitos irmãos em Viseu, estes, para se es- quivarem ao passeio e á Íngreme subida do monte, já em 1716 mandavam celebrar as missas do estatuto em um altar do claustro da Sé, onde se venerava outra imagem de Nossa Senhora;— desde 4685 festejavam no dicto altar a padroeira da irmandade e ali cumpriam o jubileu de 5 d'agosto, em con- I travenção da bulia, que o instituiu na Ca- pella do Castro,— abuso que o auctor do Sant. Marianno fulmina com áspera cen- sura. Também um abbade d'esta parochia, já antes de 1716, vendo que nem uma simples missa mandavam dizer na capella própria, demandou a irmandade e obteve contra ella sentença, em virtude da qual foi compellida a mandar dizer missa á padroeira na sua ca- pellinha do monte em todos os sabbados da septuagesima até sabbado santo, pelo paro- cho d'esta freguezia ou pelo seu coadjutor. A maior concorrência a esle santuário era no dia 5 d'agosto, — nas oitavas da paschoa — e nos sabbados da quaresma. VILLA DO TOURO,— villa extincta, hoje simples parochia do concelho e comarca do Sabugal, districto e diocese da Guarda. Vigairaria. Orago Nossa Senhora da As- sumpção. Ao que já dissemos d' esta parochia no ar- tigo Touro, vol. 9.° pag. 704, col. 1.", acres- centaremos o seguinte: Demora esta freguezia na antiga estrada de Pinhel para o Sabugal, na margem es- querda do Côa, do qual dista 7 kilometros para O.,— 10 do Sabugal para N.,— 12 da estação de Villa Fernando, na linha da Beira Alta,— 15 da Guarda,— 47 de Villar Formo- so,—179 da estação da Pampilhosa,— 230 da Figueira,— 286 do Porto— e 410 de Lisboa. Comprehende alem da villa do Touro, séde da parochia, as povoações seguintes:— Ba- raçal, Vinhas, Abitureira, Moinhos, que o sr. João Maria Baptista por lapso denominou Mainhas,—e a quinta de Boque Amador, da qual é directo senhorio Miguel Osorio Ca- bral e Castro, da quinta das Lagrimas, em Coimbra, e emphiteuta José Bamos. Freguezias limitrophes:— Bapoula, a E., —Aguas Bellas, a^O.,— Seixo do Côa e Pêga a N.— Rendo e a quinta de S. Bartholomeu a S. Foi villa e concelho próprio, pertencente á antiga comarca de Castello Branco; depois passou como simples parochia para o con- celho e comarca do Sabugal. 1072 VIL VIL Também pertenceu ecclesiasticamente ao bispado de Pinhel até 1882, data em que pela nova circumscripção diocesana passou para o bispado da Guarda. Em 1708 contava 270 fogos e o seu vigá- rio apresentava curas nas fregueziasde Lom- ba e Palheiros, hoje unidas,— e na de Ra- poula. ( Em 1768 contava 260 fogos;— pelo recen- seamento de 1864 tinha 280 fogos e 1:108 habitantes;— pelo de 1878 contava 291 fogos e 1:183 habitantes— e hoje, pelos aponta- mentos que recebi, conta 300 fogos e 1:230 habitantes. Ainda é parochia independente e uma das mais importantes d'este concelho. Além da sua egreja matriz, muito velha e muito arruinada, tem as capellas seguintes: 1. '— Senhora do Mercado, na villa e bem conservada. É publica. 2. *— S. Sebastião. 3. "— S. Lazaro.. 4. a— S. Gens. Todas estas 3 capellas estão na villa tam- bém e são publicas, mas acham-se em ruí- nas. 5. " — Espirito Santo, no Baraçal. É publica. 6. a— S. Domingos, particular, na quinta das Vinhas. 7. a— S. Sebastião, publica, na Abitureira. 8. *— Senhora das Preces, particular, na quinta de Roque Amador. As festas principaes que hoje aqui se ce- lebram são: — a da Senhora do Mercado, no dia 8 de setembro, — a de S. Sebastião, nos fins do mesmo mez, — a de Sant'Anna em princípios d'agosto,— e a do Espirito Santo na dominga própria. Ha também grande romagem a S. Roque Amador, na segunda feira de Paschoa. Esta villa não tem estrada alguma a ma- cadam; toca porém n'esla parochia, do lado E., a estrada real n.° 54 da Guarda a Cas- tello Branco, pelo Sabugal e Penamacor. j Esta villa foi fortificada; mas hoje apenas restam alguns lanços dos seus velhos muros em ruinas. Também eonserva ainda o seu pelourinho, a cadeia e os velhos paços do concelho, muito arruinados com o peso dos séculos. Tem mercado mensal na 3.a quinta feira de cada mez,— e os 4 largos seguintes:— do Pelourinho, do Reducto, de S. Lazaro, do Poço da Carreira e do Poço das Patas. Banham esta parochia 2 ribeiros:— o do Bezerrinho e o do Moinho Fernandes;— este desagua no Côa a 3 kilometros de distancia, — o Bezerrinho desagua na ribeira de Cró, confluente do Côa, a distancia de 7 kilome- tros,—move 3 moinhos de cereaes — e tem uma ponte. Producções dominantes: — centeio, milho, linho, trigo, lã, cera e mel, pois cria bastan- tes colmeias e gado lanígero. Tem duag aulas offkiaes de instruèção primaria elementar para os dois sexos. Em vários pontos d'esta freguezia se en- contram sepulturas abertas na rocha, no mesmo estylo das de Villa Nova de Tazem e Villa Ruiva, no concelho de Gouveia, Moreira de Rei, no concelho de Trancoso, Sendim, no concelho de Taboaço, etc. VILLA TINTA— quinta e casal da fregue- zia de Figueiró, concelho de Paços de Fer- reira, districto e diocese do Porto. V. Figueiró, vol. 3,° pag. 195, eol. 2." Esta freguezia pertenceu ao arcebispado de Braga até 1882, data em que pela nova circumscripção diocesana passou para o bis- pado do Porto. O recenseamento de 1878 deu-lhe 121 fo- gos e 471 habitantes. Alem d'esta quinta e casal de Villa Tinta, comprehende as aldeias de Pardelhas, Ro- cha, Lamas, Egreja, Barreiro, Fundo de Vil- la, Monte, Monte de Parada, Ribeirinha e Figueiró, — os casaes da ponte e Bussacos — e outros casaes e quintas. VILLA VELHA DE RODAM,— villa, fre- guezia e concelho do seu nome, comarca e districto de Castello Branco, bispado de Por- talegre, província da Beira Baixa. I Foi e não sabemos se ainda é vigairaria. Orago Nossa Senhora da Conceição; — fo- gos 503, — habitantes 2:100 --segundo os apontamentos que nos enviou o digno admi- nistrador d'este concelho. Em 1708 era vigairaria da ordem de Chris- VIL 107$ to, commenda do conde de Athouguia,— e contava apenas Í60 fogos. Em 1768 era villa e freguezia do bispado da Guarda,— vigairaria da apresentação doi- rei pela Mesa da Consciência,— rendia para o vigário 40#000 réis— e já contava 172 fo- gos. O Flaviense em 1852 deu-lhe 270 fogos; — o censo de 1864 deu-lhe 35o fogos e 1454 habitantes,— e o de 1878 deu-lhe 430 fogos e 1:652 habitantes. Tem augmentado consideravelmente a po- pulação d'esta freguezia', bem como a d'este concelho, pois em 1708 este concelho eom- prehendia as mesmas 4 freguezias d'hoje: — Villa Velha de Rodam, Alfrivida, Sarna- das e Fratel 1 com o total de 560 fogos;— pelo recenseamento de 1864 tinha 1:153 fo- gos e 4:736 habitantes,— e pelo de 1878 con- tava 1:323 fogos e'S:233 habitantes. Prédios inscriptos na matriz 10:330 Superfície em hectares 35:770 Esta villa e este concelho foram sempre da comarca de Castello Branco e da diocese da Guarda, mas desde 15 d'agosto de 1771, data da creação do extincto bispado de Cas- tello Branco, passaram para elle;— e pela ul- tima circumscripção diocesana de 1882, sup- primido o bispado de Castello Branco, fica- ram pertencendo ao de Portalegre. Demora esta villa na margem direita do Tejo, do qual a séde da parochia dista pouco mais de 1 kilometro;— 29 de Castello Bran- co;—30 da estação do Pezo (a mais próxima) na linha férrea de Lisboa a Madrid por Ca- ceres;—60 de Portalegre;— 234 de Lisboa, peia estação do Pezo2 — e 394 do Porto. 1 Carvalho menciona também com 20 fo- gos Perdigão, aldeia da freguezia de Fratel. 2 Emquanto se não construir a linha fér- rea da Beira Baixa. A sua construcção foi adjudicada á Com- panhia Real do Caminho de ferro do Norte, mas até hoje (fevereiro de 1886) ainda não lhe deu principio. V. Vias Férreas, vol. 10.° pag. 477, co- lumna 2.a A mencionada linha deve atravessar esta freguezia de Villa Velha de Rodam. Alem da povoação de Villa Velha, qu£ está em sitio alto e tem 60 fogos, compre*- hende esta freguezia as povoações ou aldeias seguintes : Bairro Baixo ou Porto do Tejo com 60 fogos também, approximadamente, na margem direita do Tejo, — Alvaiade, Chão das Servas ou Cervas, Gavião, Tavilla; Co- xerre, Lucriz, Monte Novo, Cerejal, Salguei- ral, Foz do Cobrão, Valle do Cobrão, Sarna- dinha, Sarrasqueiro, Tostão ou Tortão, To- geirinha e Villas Ruivas. A Chorographia Moderna menciona também os sitios de Ur- gueira e Coutada. Freguezias limitrophes: — Sarnadas de Ro- dam, a N.,— Alfrivida a N.E.— Fratel, a S.O., todas 3 d'este concelho;— Sobreira Formosa» do concelho de Proença a Nova, — e Sarze- das, do concelho de Castello Branco, ambas a N.O., e divididas da freguezia de Villa Ve- lha de Rodam pela ribeira da Ocrésa. O terreno da margem esquerda do Tejo pertence á freguezia e concelho de Nisa, dis- tricto de Portalegre, província do Alemtejo, Ha n'esta freguezia duas grandes herda- des, muito dignas de especial menção: 1. a — Da Ordem, na ribeira de Açafal, per- tencente a José de Aragão Costa Lacerda da Victoria, possuidor da maior parte da casa de Sarnadas, em virtude do seu casamento com a sr.a D. Maria Isabel Pereira Rebello da Fonseca, filha do commendador e conse- lheiro dr. Manuel Luiz Pereira Rebello da Fonseca, ultimo capitão-mór de Sarnadas. Foi José d'Aragão deputado ás cortes e governador civil d'este districto de Castello Branco. 2. " — Coutada, hoje do commendador e con- selheiro dr. Agostinho Nunes da Silva Fe- vereiro, que tem sido deputado ás cortes e houve a dieta herdade e outros bens nos li- mites d'esta parochia pelo seu casamento com a sr.a D. Maria Amália Torres Sampaio, filha única do dr. Antonio Torres de Oli- veira, ultimo capitão-mór de Sarzedas e ir- mão da esposa do sr. dr. Manuel Luiz Pe- reira Rebello da Fonseca, mencionado su- pra. Atravessa esta freguezia na extensão d servindo-se do calculo seguinte: tO maior aperto do Tejo na3 dietas Por- tas he de Í00 pés de largura no fundo, d'on- de para os lados alarga tanto como levanta- A cheia do anno de 1739 levantou 70 palmos para cima da superfície da agua em Agosto; e porque para baixo d'ella tem cousa de 10 pés d'altura, lhe faço a conta a 50 pés d'al- tura, que por 150 de largura fazem 7:500; e pelas experiências que fiz no mesmo si- tio, em cheias menores, inferi corria a agua 12 pés em cada segundo nas maiores cheias que fazem 90:000 — e consequentemente 7:776 milhões em 24 horas.» Por um calculo semelhante inferiu elle também que nas maiores cheias do Tejo cor- riam em Vallada cerca de 10:000 1 milhões de metros cúbicos d'agua nas mesmas 24 horas, — ou mais a oitava parte da que passa nas Portas de Bodam; «e assim deve ser (diz elle) por causa do rio Zêzere e das ri- beiras que entrão no Tejo entre Villa Velha e Vallada.» Vejam se os outros detalhes no livro e concluamos este tópico mencionando as prin- cipaes vantagens do dicto marachão, indi- cadas pelo auctor do projecto : 1. » — Ficar servindo de ponte entre as pro- vincias da Beira Baixa e Alemtejo. 2. "— Dentro em 5 a 25 annos os terrenos das margens do Tejo e dos seus afluentes a montante das Portas de Bodam seriam adu- bados e beneficiados com os nateiros da gran- de represa, e viriam a produzir mais de dez mil moios de pão por anno. 3.1— Desapparecendo as grandes enchen- tes do Tejo, como era de esperar, aceresce- ria per alluvionem nas suas margens, só desde Abrantes até á Barquinha, talvez ter- reno para 500 moios de semeadura e 3 a 4 mil moios de producção. i Os Inventos dizem 100:000. Suppomos ser lapso ou erro de imprensa. 1080 VIL VIL 4." — A juzante da Barquinha se aprovei- taria nas duas margens do Tejo terreno para mais de oito mil moios de semeadura. ò\a— Receberiam também grande beneficio as terras salgadas, augmentando a sua pro- ducção talvez mais de 20:000 moios de ce- vada por anno. 6.* — A navegação do Tejo ficaria dividida em dois lotes, mas melhoraria consideravel- mente tanto a juzante como a montante do dicto marachão. - 7.a— Evitar-se-hiam muitos dos sinistros que todos os annos por occasião das gran- des enchentes se dão nos barcos que em frente de Lisboa sulcam o Tejo e nos navios ancorados n'elle. Exposição e clima Esta villa olha para o nascente e está ro- deada por espesso arvoredo: — oliveiras, so- vereiras, azinheiras e outras arvores em me- nor quantidade. O solo não deixa de ser fértil, principal- mente para oliveiras,— e as suas condições climatológicas são boas no inverno, prima- vera e outono; são porém más no estio por causa do intenso calor, proveniente da sua exposição leste e abafada, pois cercam esta villa a N. e O. altas montanhas que obstam á corrente do vento. No verão e outono grassam aqui muitas febres, predominando as intermittentes, de- vidas aos miasmas das ribeiras de Lucriz e Açafal, muito próximas, cujas aguas teem pouco declive e quasi que deixam de correr na estiagem, ficando em putrefacção muitas substancias vegetaes. Também contribua para a insalubridade d'esta villa, no verão, a visinhança do Tejo, porque de noite refresca muito a athmos- phera, fazendo baixar consideravelmente o thermometro exposto ao ar livre. Ribeiros, ribeiras e regatos Além do Tejo banham esta parochia mui- tos ribeiros ribeiras e regatos. Mencionare- mos apenas os seguintes: l.°—Enxarrique. É o ribeiro mais próximo d'esta villa; — i desagua no Tejo a poucos metros das casas do Porto de Villa Velha de Rodam; — tem uma ponte de granito de um só arco para passa- gem da estrada real de Castello Branco a Nisa e Portalegre; — move tres moinhos de cereaes e um lagar d'azeite— e n'elle lavam a sua roupa os habitantes d'esta villa desde as aguas oulonaes até os princípios de julho- data em que deixa de correr, por desviarem as aguas para rega do3 campos e hortas. 2. °— Ribeira do Açafal, outro affluente do Tejo. Banha a grande herdade de Açafa, ou da Ordem, já descripta, — é atravessada pela es- trada real em uma bella ponte de granito de cinco arcos— e desagua no Tejo cerca de um kilometro a montante do porto d'esta villa. Move 2 moinhos de cereaes e i lagar de azeite. 3. °—Alfrivida, ribeira confluente da de Açafal. Desagua n'ella cerca de 200 metros a jusante da dieta ponte. Move um lagar d'azeite. 4. ° — Ribeiro de S. Pedro. É lambem confluente da ribeira de Açafal e desagua n'ella a dois kilometros de dis- tancia d'esta villa. 5. °— Cerejal. Este ribeiro move quatro moinhos e já tem movido mais 6, hoje desmontados. É também confluente da ribeira de Açafal, e desagua n'ella a 3 kilometros d'esta villa. 6. °— Coxêrre. É um ribeiro confluente da ribeira d'Al- frivida— e atravessa-o a mesma estrada real n.° 57 em uma ponte de granito de um só arco. 7. ° — Barroca da Senhora. É um pequeno regato que desagua no Tejo um pouco a montante das Portas de Rodam, — conserva agua todo o anno, mesmo no ri- gor da estiagem, e rega um valle pittoresco e muito aprazível, todo cheio d'hortas e po- mares de bella fructa e povoado de frondoso arvoredo nas encostas. É este lindo e ameno valle a Cintra de Villa Velha de Rodam, mi- moso de sombra, flores e fructa, e d'agua potável deliciosa. 8. ° — Domingos Tejo. Este ribeiro passa a 3 kilometros d'esta VIL VIL 1081 villa para S.O. junto da povoação de Villas Ruivas; — é atravessado pelo caminho que d'esta villa conduz á dieta povoação pela er- mida da Senhora do Castello;— desagua no Tejo um pouco a jusante das Portas de Ro- dam—e fertilisa bastantes hortas. 9. ° — liibeiro de Villas Ruivas. Passa a 2 kilometros da povoação d'este nome, para S.O ;— desagua também no Tejo cerca de 3 kilometros a jusante das Portas de Rodam;— é a linha divisória entre esta freguezia e a de Fratel— e tem uma pequena ponte para communicação entre as duas fre- guezias. Todo o caminho é estreito e mau; mas na passagem do dicto ribeiro é medonho e pés- simo 1 As encostas sobranceiras á ponte são muito Íngremes e elle desce a prumo sobre a ponte em escabrosos lacetes, por onde ne- nhum cavalleiro transita sem dizer com o auetor do Palito Métrico: Sensi in fronte meo se arripiare catei- los!,.. Na encosta da margem esquerda"tem 13 lacetes— e na da margem direita, que ó mui- to mais alta, tem talvez o dobro 1 É rival do caminho da villa de Manteigas para a de Gouveia, na serra da Estrella, — caminho que de Manteigas, enterrada na margem esquerda do Zêzere, até o ante- mu- ral da grande serra, vae pela medonha la- deira do Carvalhal a cima aprumado sobre a villa na extensão de uns 3 kilometros, se- melhando uma escada lançada contra o ceu. No dia 4 d'agosto de 1881 subimos nós a dieta ladeira a cavallo, quando iamos para a serra da Estrella com a Expedição Scien- tifica;— depois obliquámos pela villa de Ceia; mas ha quem desça por ali a cavallo I . . . 10. ° — Ocrêsa. Esta ribeira, ou este rio, nasce na serra da Gardunha, termo da freguezia de Louri- çal do Campo, concelho de S. Vicente da Beira; — limita esta freguezia eeste concelho de Villa Velha de Rodam a N., N.O. e 0. a distancia de 10 a 12 kilometros da suaséde, — separando os da freguezia da Sarzedas, (concelho de Castello Branco), e da de So- breira Formosa (concelho de Proença a No- va); seguindo para sudoeste continua a for- mar a linha divisória d'este concelho por aquelle lado — e desagua no Tejo, um pouco a juzante da povoação de Gardete, na fre- guezia de Fratel. Banha este concelho na extensão de 40 kilometros approximadamente — e antes de tocar n'elle já deve ter percorrido talvez 25 kilometros, pelo que o seu curso total é de 65 a 70 kilometros. O seu leito em grande parte corre fundo por entre margens muito Íngremes e muito pedragosas, particularmente n'este concelho; mas tem n'essas encostas esplendidos olivaes, parecendo incrível que as oliveiras se des- envolvam e sustentem viçosas em fragoedo tão escalvado, agreste e nu! Nos limites d'este concelho move esta ri- beira dois moinhos de cereaes, que traba- lham somente no verão, quando escasseiam as águas nas outras ribeiras. 11.°— Olho d' Agua. Este ribeiro passa ao nascente da aldeia de Valle do Cobrão; — é confluente da Ocrê- sa;— rega muitos campos — e move, mesmo na estiagem, cerca de 2 kilometros da aldeia da Foz do Cobrão, — 11 pisões, 11 moinhos de cereaes e 1 lagar d'azeitel. É pois muito industrial aquelle povo. N'elle se fia em rodas muita lã e se tece grande quantidade de lanifícios em teares de mão, pertencendo a maior parte d'aquelles lanifícios aos habitantes de Cebolaes, fregue- zia do concelho de Castello Branco, que para ali costumam levar lã já fiada na fabrica a vapor, existente na dieta cidade. É muito abundante d'agua este ribeiro, mesmo na esliagem, — e pelo seu declive n'a- quelle ponto, distante 10 a 12 kilometros de Villa Velha, de Rodam, por onde deve pas- sar brevemente a linha da Beira Baixa, quan- do não passe ainda mais próxima da dieta aldeia da Foz do Cobrão, — é aquelle um dos pontos mais aptos para estabelecimentos fa- bris em grande escala, como hoje se vêem nos concelhos de Gouveia, Ceia e Covilhã. Deram-se' áquellas povoações os nomes de Valle do Cobrão e Foz do Cobrão, por ha- ver apparecido nos matagaes próximos uma serpente ou cobra gigante, que só desappa- 1082 VIL VIL receu depois que lançaram o fogo aos dictos mattos,— diz a tradição. E ainda hoje os ve- lhos d'estes sitios asseveram que, sendo el- les creanças, appareceram em diversos pon- tos d'este concelho cobras, como serpentes I Por serem covil de feras, nomeadamente de lobos e javalis, os matagaes do sitio da Charneca, não longe d'esta villa, nas riban- ceiras do Tejo, haverá 40 annos que aquelle grande tracto de terreno tinha tão insigni- ficante valor que em troca de umas olivei- ras que renderiam 24 litros d'azeite, recebeu o dono d'ellas o vasto chão, onde hoje se vé um soberbo olival de milhares de pés, não estando ainda todo plantado. Concluiremos este tópico mencionando ainda mais dois ribeiros e uma ribeira nos limites d'esta freguezia: 12. °— Achada. Este ribeiro vem do poente e desagua no do Olho d' Agua, a distancia de 2 kilometros do povo de Valle do Cobrão. 13. ° — Ferranheira. Nasce este ribeiro na serra de Villa Ve- lha de Rodam;— é cortado pelo caminho d'esta villa para o Fratel pela dieta serra; — conserva agua no verão— e desagua no ribeiro de Villas Ruivas. 14. ° — Lucriz, ribeira supramencionada. Banha a povoação de Lucriz, da qual to- mou o nome. Mencionaremos ainda n'esta parochia mais 2 lagares d'azeite na povoação de Villa Ve- lha de Rodam e 2 azenhas de cereaes no . Tejo. Total dos rios, ribeiras, ribeiros e rega- tos principaes que banham esta paro- chia 16 Moinhos e azenhas que movem. 30 Mais 6 desmontados 36 Pisões 11 Do exposto se vê que o chão d'esta paro- chia é muito accidentado e pedragoso, mas em compensação tem mais agua nativa, de veia corrente, do que muitas das freguezias da Extremadura e do Alemtejo reunidas, sendo para lamentar que a maior parte dos seus rios, ribeiros e regatos corram tão fun- dos e por entre margens tão escalvadas e aprumadas, que pouco partido tira d'elles» Producções principaes: — azeite, cortiça, creação de gado sumo com a bolota ou lan- de das sovereiras e azinheiras e com o ba- gaço da azeitona,— e creação de gado capri- no. Também cria gado ovino, mas em me- nor quantidade,— e t;.nb>m produz algum vinho, cereaes e laranjas, nomeadamente no povo de Gavião, que as exporta para Cas- tello Branco, na maior pane. Abunda finalmente em caça e colmeias. A povoação da Sarrasqueira, uma das al- deias dVsta parochia, a 7 kilometros d'esta villa e a pouca distancia da estrada real n.* 57, é o solar da nobre casa de. Sarnadas, cujo capitão-mór, Manml José d 'Oliveira, foi quem deu maior desenvolvimento á plan- tação das oliveiras e sovereiras nVsta paro- chia,— e esse eu penho, nomeadamente em- quantOjàs oliveiras, foi seguido pelo seu fi- lho e pelo seu genro e pelos genros de um outro, já mencionados supra. Aos esforços' e *x mplos d'elles se deve em grande parte a riqueza e beleza flores- tal dVsta parochia e o aproveitamento de muitos hectare* ue terreno escabroso, pe- dragoSo, inculto e árido, alé aquela data covil de féras,—&r lnbos, de javalis, de co- bras e serpentes! . . . Saiba pois • sta freguezia quanto deve aos nobres senhon s da casa de Sarnadas. — Bom seria que os grandes proprietários d'esta província e da do Alemtejo, nomeadamente os donos das grandes herdades nuas e de charneca medonho, in itassem tão louvável exemplo, lembrando-se de que a arborisação — é riquesu, belle.su e saúde. Batalha O maior feito d'armas, de que ha lem- brança nVsta villa, teve lot/ar em 1762 e é descripto na rit*da Memoria de Nisa, a pag. 143, nos leni- os seguimos: «Declarando gueri a Sua Magestade Catho- lica ao nosso reino riu lo de junho de. 1762, por não qmrer o nosso rei annuir ao ceie- VIL bre pacto de família, celebrado entre a França e Hespauha, e desunir-se da Ingla- terra, íua fiel alhada, e entrando pela pro- víncia da Beira Baixa, por Valle de la Mula e Valle de Coelho, o exercito ÍDimigo, de- pois de tomar a praça de Almeida e outras que lhe opposeram débil resistência, diri- gia-se por Villa Velha de Rodam ao Alem- t» jo; 1 mas indo o Tejo grosso pelas chuvas que tinham cahido, e não tendo barcas para o passarem, por lhe haverem sido tiradas, acamp u lodo na vasta planície do Acafal, que lhe fica próxima, orgulhoso de suas vi- cárias e atrocidades; e ali estava esperando que o rio abaixasse, para as repetir ua mais rica (?) província de Portugal. «O exercito do Alemtejo, que constava de 2:000 -oldados mal armados e peior disci- plinados, 11 companhias de granadeiros com dsias peças de campanha e dois obuses, e 400 soldados inglezes escolhidos, era eom- nt ndado pelo brigadeiro Bourgoyne, e es- tava nesta villa (Niza) observando o inimi- go, guando um dia. pela tarde, um pastor do Ani' iro, chamado fíodrigão, pela sua ele- vada e yiganie.sca figura, veio perguntar (?) o commandante. e falbr com elle. »<> que disseram e trataram, ninguém o escutou e ouviu; mas no principio da noite s« guinte, que era escura e enxuta, a caval- laria do p. queno exercito marchava toda em sil-iicio, na direcção do rio, pelos Montes de baixo, commandada pelo coronel Leé; e quando cheg.-u á foz de Boles, já ali se achava um vulto esperando a com uma gran- de corda dobrada na mão; reconheceu o chefe.- entregou lhe uma das pontas, e foi andando pelo rio dentro, e elle seguindo o, e a traz os soldados todos, um por um, até que checaram á margem opposta: e depois que pas-arain todos, foram marchando até VIL 1083 j chegar ao inimigo, que confiado na profun- didade do rio e na guarda do porto, que ti- nham bem guarnecido, se julgava seguro, e dormia tranquilla e socegadamente; e foram matando e degolando n'elle, á proporção que ia acordando; mas como eram muitos os que despertavam pelo estrondo dos gol- pes e soluços dos agonisantes, deram rebate e fugiram, deixando-nos a bagagem e os despojos, que nos levavam, e a Victoria que tinham alcançado, e o repouso e a tranqui- lidade; porque com esta lição 1 ficaram satis- feitos, e não voltaram mais; e a Corte de Ma- drid tratou logo da paz, que em breve se concluiu sem grande difficuldade.» O meu illustrado informador observa o seguinte : «Quem sabe que da Foz de Boles, onde a citada Memoria diz ter passado o Tejo aca- vallaria portugueza, ha grande distancia até Villa Velha de Rodam, e que o tranzito so- mente podia fazer-se subindo e descendo al- tas montanhas, despertando o inimigo e dan- do-lhe tempo de sobra para pôr-se em guar- da, tem por quasi impossível a marcha e passagem do Tejo por taes pontos,— ao con- trario da tradição constante que dá essa pas- sagem no sitio do Cachão do Bello, a muito mneor distancia do acampamento inimigo, — offerecendo ali a margem direita do Tejo apenas uma pequena encosta fácil de trans- por, e em seguida bom terreno para marcha e manobra da cavallaria.» Também diz a tradição— que um tiro de artilheria que um pastor apontou matára o commandante ou um dos chefes do exercito hespanhol. Indica-se ainda hoje o ponto on- de estava a nossa artilheria, na margem es- querda,—e o da barraca do general que foi morto, na margem direita, mediando entre os dois pontos pouco mais de um kilometro. 1 Gim parte das forças que também já haviam ciM.qui-tado a província de Traz-os- 1 Na mesma noite Bourgoyne foi bater os M. nte>. A« h -tilniades da. Hespanha come- hespanhoes em outro ponto— e, dias antes çaram n dia 30 d'»bnlea pr*ça d'Almeida ou depois, lhes tomou também por surpresa ca pi u|..n no dia 25 d'ayosio d anuelle auno a PraÇa de Valencia d'Alcantara, matando (1762) O general . m chefe do exercito an- ! muitos soldados e aprisionando outros, en- glo lu o era o conde de l-ippe, de quem já I tre el'es um general, um coronel, dois ca- muíro honrosa m • nte se fallou no art. Elvas, I pitães e sete officiaes subalternos, vol 3.° pag. 19 col. 2.» Vide. P. A. F. ' P. A, Ferreira. Í084 VIL Não diz a citada Memoria o numero das forças inimigas nem os nomes dos seus che- fes; mas, segundo a tradição local, um d'el- les era D. Luiz de Mendonça h. Ha no termo d'esta paroehia registradas bastantes minas de differentes mineraes, mas não convidam á exploração, exceptuando uma de cobre, que já foi explorada em tem- pos muito remotos, no sitio da Buraca da Moura, cerca de tres kilometros a N. d'esta villa. Serras, montes e pégos Como já dissemos, é muito accidentado o chão d'esta freguezia. Welle avultam : 1. ° — A serra ou monte da Senhora do Cas- tello. Principia no morro ou promontório das Portas de Rodam; — estende-se para nordes- te— e terá 1 kilometro d'extensão. 2. ° — Serra de Villa Velha, ao poente d'esta villa. Corre parallela á da Senhora do Castello-, — avança para o norte— e terá de compri- mento 10 kilometros. Pela sua quebrada mais próxima d'esta villa passa o caminho de Fratel— e por outra quebrada a dois ki- lometros de distancia passa o caminho do Perdigão, aldeia da mesma paroehia de Fra- tel. O Perdigão era ponto forçado na antiga estrada de Castello Branco para Abrantes. E ainda por outra quebrada da mesma serra passa o caminho d'esta villa para os povos de Valle do Cobrão e Foz do Cobrão. Por esta 3." quebrada, conhecida pelo no- me de Milhariça, passava a antiga estrada de Castello Branco para Abrantes, tocando, como já dissemos, na aldeia do Perdigão, an- tes de abrir-se a nova estrada real a maca- dam, n.° 16, por Sarzedas e Sobreira For- mosa, seguindo com pequenas variantes o mesmo traçado da antiga estrada militar. A serra de Villa Velha corta a ribeira da 1 O general em chefe das tropas hespa- nholas n'esta campanha era o marquez de Sarna. VIL Ocrêsa e vae atè junto de Sobreira Formosa com os nomes de Serra das Talhadas, d' Al- vito e outros, cujas ramificações foram to- das fortificadas no tempo da guerra da pe- nínsula. A dieta serra na passagem da Ocrêsa for- ma dois morros ou promontórios que soer- guem nas duas margens, fronteiros um ao outro, quasi tão colossaes como os das Por- tas de Rodam,— e a jusante d'elles.ba um pégo denominado Almourão, muito fundo, semelhante ao que está na sahida das Portas de Rodam, tendo porem este muito maior profundidade 1 Em ambos se colhe muito peixe. Ha também outro grande pégo no termo d'esta paroehia, no leito do Tejo, cerca de 5 kilometros a montante d'esta villa. Tomou o nome de Pégo do Bispo, porque outr'ora foi propriedade dos bispos da dio- cese e só elles ali podiam pescar. Tem cerca de 4 kilometros de compri- mento, bastante largura e varia profundida- de;— abunda em peixe, mas é muito difficil colhelo. Alem dos grandes penhascos das Portas de Rodam e dos da Serra de Villa Velha na passagem da Ocrêsa, é notável na mesma serra o Penedo Gordo, junto da aldeia de Gavião. Ha n'este grande penhasco uma ca- verna horisontal, que se presume ser obra da natureza,-— e do ponto culminante d'elle se avista a parte alta da cidade de Castello Branco,— sitio que de nenhum outro ponto d'esta freguezia se descobre. Ha n'esta villa duas aulas officiaes de ins- trucção primaria elementar para os dois se- xos e uma particular para o sexo feminino na aldeia de Alvaiade. Não ha hoje n'esta freguezia nem n'este concelho hospital ou associação alguma de beneficência,— nem hotel, theatro, assembléa club ou casa de recreio, Apenas tem uma hospedaria, de Raimundo Antonio Florêncio, no Porto do Tejo. Também não consta que tenham appare- cido n'esta villa moedas romanas, nem se- pulturas abertas em rocha, nem pedras com inscripções. VIL VIL 1085 No Porto do Tejo, ou na baixa d'esta villa, teve o celebre marquez de Pombal, ministro de D. José I, uma casa abarracada e uma porção de terreno comiguo, a que davam o nome de quinta. Estes bens passaram por compra para a família Coutinho, da fregue- zia d'Alvega, na margem esquerda do Tejo, concelho d'Abrantes;— depois (haverá 50 an- nos) essa família vendeu-os a um proprie- tário d'esta villa, por nome Joaquim Pereira, achando-se hoje divididos pelos seus her- deiros. Em 1833 passaram n'esta villa, hospedan- do-se na casa da camará, o infante D. Car- los, de Hespanha, sua esposa D. Maria Fran- cisca e a irmã d'esta, D. Maria Theresa, en- tão viuva e que mais tarde casou com o di- cto infante, sendo aquellas senhoras ambas portuguezas, filhas d'e!rei D. João VI. Levava também o príncipe comsigo os seus tres filhos: D. Carlos, D. João e D. Fernan- do;— dirigiram-se todos a Castello Branco, onde houve Te-Deum e beija-mão em 4 de novembro do dicto anno, dia de S. Carlos Borromeu, — e d'ali seguiram caminho de Hespanha pela praça d'Almeida. Fonte do Granhão Esta villa e o bairro baixo, eu do Porto do Tejo tinham tanta falta d'agua potável que alguns annos na estiagem iam buscal-a ao povo do Gavião, distante 2 a 3 kilometros, e á outra margem do Tejo, apesar de ser péssima e de terem de pagar ao barqueiro. FelizmeDte em agosto de 1876 o sr. Luiz An- tonio Granhão, distincto engenheiro, chefe da 4." secção das obras do Tejo, descobriu junto da barca de Villa Velha de Rodam, na margem direita do rio, uma nascente abun- dantíssima e de óptima qualidade, que bro- tava dentro do Tejo. Captou-a a Im,50 da margem, ficando com Om,o de desnível, o que foi um grande be- neficio para esta villa, pelo que na sessão da camará de 31 do dicto mez e anno, o seu presidente Joaquim Maximiano Bello propoz se conferisse ao mencionado engenheiro um volume x voto de louvor em signal de reconhecimento, — proposta que foi approvada por unanimi- dade. É para sentir que a dieta nascente brote em chão tão baixo, que apenas pôde apro- veitar-se na quarta parte do anno. Feliz- mente está a descoberto no rigor da estia- gem, quando se torna mais precisa. Herodes e Villa Velha de Rodam Segundo se lé na Monarchia Lusitana, parte II, pag. 14, v. e segg. o rei Herodes Anlippa II, que tão tristemente figurou no drama do Calvário e que mandou degolar S. João Baptista, foi deposto por C. Calígula, e passou para a Hespanha, onde viveu até que foi barbaramente assassinado. O mesmo dizem Nicephoro, Addão Vien- nense, Josepho De Bello Judaico, Vaseu, An- gelo pacense, Morales, Vilhegas, Garivay e o celebre Laymundo Ortega; mas em que povoação da Hespanha viveu e foi assassi- nado Herodes? Apenas Laymundo, segundo se lê na Mo- narchia Lusitânia, disse: profugus a facie Dei, vixit in Taracone & Emerita & faede occiditur in Rhodio, Lusitaniae oppido. Em vulgar: «Herodes, fugindo da face de Deus, viveu em Tarragona e em Merida, e foi torpemente assassinado em Rodio, cida- de ou povoação da Lusitânia.» Resta agora saber que cidade ou povoa- ção era a tal Rhodio. Diz fr. Bernardo de Brito que, depois da8 maiores diligencias, encontrou na Lusitânia dois logares,— um com o nome de Roda, no concelho de Pombal, junto da Redinha,— outro junto do Tejo, com nome de Villa Ve- lha de Rodam, — e da semelhança dos nomes Rhodium, Roda e Rodam concluiu que o rei Herodes foi assassinado na extincta povoa- ção de Roda, junto da Redinha —ou mais provavelmente (?) em Villa Velha de Rodam, cuja etymologia (segundo elle) provem de Rhodium, a velha cidade romana. N'este, como em outros muitos pontos, foi infeliz o sábio historiador, porque alem; das ' povoações que houve talvez na parte dai an« 69 1086 VIL VIL tiga Lusitânia, hoje hespanhola, humonimas de Rhodium, temos em Portugal ainda hoje (1886) não só as duas povoações indicadas, mas outras muitas que por igual titulo, — a semelhança dos nomes, — poderiam dizer-se representantes da velha Rhodium, taes são as seguintes : ^-Rodão ou Rodam, aldeia da freguezia de Sebal Grande, concelho de Condeixa. — Ródão ou Rodam, aldeia da freguezia de Leça da Palmeira, concelho de Bouças. — Ródão ou Rodam, aldeia da freguezia do Souto de Lafões, concelho de Oliveira de Frades. — Ródão ou Rodam, aldeia da freguezia de Sequeiros, concelho de Vouzella— e — Ródão ou Rodam, aldeia da freguezia e concelho de Fomos d'Algodres. Temos mais em differentes pontos do nos- so paiz 12 aldeias, 3 casaes, 3 quintas, 1 her- dade e um sitio com o nome de Roda— alem das aldeias, casaes e quintas de Roda de Baixo, Roda de Cima, Roda da Estrada, Ro- da do Cabeço, Roda dos Alamos, Roda Fun- deira, Rodas, Rodeio, Rodeios, Rodeai, Rodei- las, Rodello, Rodête e 5 povoações e 3 quin- tas denominadas Rodo. Valha-nos a Senhora do Monte do Car- mo I. . . Todas estas povoações devem ter a mesma etymologia, mas ignoramos qual seja. Tal- vez provenha da configuração local de rota, roda ou forma semi-circular concava ou con- vexa. De Rhodium, a velha cidade lusitana de Laymundo, com certesa não tomaram o no- me, porque são muitas e muito distantes umas das outras,— e não falta quem duvide da existência da tal Rhodium e da do pró- prio Laymundo; consta-nos, porem, que em Villa Velha de Rodam se aponta certo fojo como local da sepultura de Herodes. V. Redinha, vol. 8.° pag. 83, col. 1." e se- guintes. Nós não acreditamos na lenda do rei He- rodes, vagueando por estes sítios; mas é innegavel que estanciaram aqui e aqui tive- ram demorada residência e muitas terras os templários, desde o século xii até á sua ex- tincção. Custa-nos pois a crer que nem os templários, nem os cavalleiros da ordem de Christo, seus successores, nem os nossos reis dessem a esta villa foral velho, nem novo I Franklim não o menciona e nós não con- seguimos lobrigal-o em parte alguma. VILLA VERDE, — aldeia da freguezia de Oliveira do Bairro, concelho d'este nome, districto de Aveiro, diocese de Coimbra des- de 1882, data em que pela ultima circum- scripção diocesana foi supprimido o bispado d'Aveiro e dividido pelos do Porto e de Coimbra. V. Oliveira do Bairro n'este diccionario e no supplemento. Em um domingo de fevereiro de 1885 foi ouvir missa Anna dAlmeida, rica proprie- tária da dieta povoação de Villa Verde e, regressando a sua casa, viu aberta a porta e arrombada uma gaveta, onde tinha as suas economias e jóias, tudo no valor de alguns contos de réis. Ficou pallida e tranzida de susto; mas lo- go cobrou animo e a tristesa se lhe trans- formou em alegria, quando notou que os larápios apenas lhe haviam roubado uma sacca cheia de moedas de cinco réis do no- vo cunho de 1882, ainda mu; to luzentes e com apparencia de meias libras, ou de moe- das de 2$000 réis em ouro. Imagine-se o desapontamento dos larápios quando se convencessem de que, em vez d'alguns contos de réis em ouro, tinham le- vado apenas alguns kilos de cobre ! . . . Lembra-nos o que, por occasião da guerra peninsular, succedeu á minha porta, no Dou- ro, na freguezia de Samodães, concelho de Lamego: Dois moços d'aquella freguezia, vendo pas- sar na barra do Carvalho, em direcção a La- mego, uma grande recua de cavalgaduras, fortemente escoltada, e que fazia parte de uma divisão franceza (talvez a de Loison, quando retirava de Mesãofrio, como já dis- semos no artigo Villa Jusã) abeiraram-se da estrada, que era funda e em toreicollos, — esconderam-se em um recanto e iam tocan- do as cargas, para verem a que mais lhes conviria. VIL VIL 1087 Vendo uma com dois pequenos saccos e coberta com um grosso oleado, deram-lhe um golpe e viram metal muito luzente. Con- vencidos de que era ouro, cortaram a sobre- carga e fugiram com os dois saccos. Os moços julgavam-se riquíssimos; mas qual não foi também o seu desapontamento, quando, em vez douro, encontraram os sac- cos cheios de botões de metal amarello para as fardas t . . . VILLA VERDE, — aldeia da freguezia de S. Pedro de Cahide de Rei, concelho de Lou- sada, distrieto e diocese do Porto. Até 1882, data da ultima circumscripção diocesana, era do arcebispado de Braga. Ao que já dissemos d'esia paroehia nos artigos Cahide, Caíde e Villa Cahiz, acres- centaremos o seguinte : Está na margem esquerda do rio Sousa, confluente do Douro, na vertente O. do mon- te da Trovoada, e dista 7 kilometros da sé- de do concelho para S., — 8 de Penafiel, para N.,— 49 do Porto— e 386 de Lisboa. Pertenceu ao couto de Travanca do extin- cto concelho de Santa Cruz de Riba-Tame- ga, comarca de Guimarães. A Chorographia Porlugueza, em 1706 deu-lhe 170 fogos;— o Portugal S. e Pref. em 1757 deu-lhe 212 fo- gos;— o censo de 1864 deu-lhe 206 fogos e 720 almas— e o de 1878 deu-lhe 271 fogos e 1:096 hahitantes. Passa n'esta freguezia a linha férrea do Douro e n'ella tem a estação de Cahide, que foi aberta ao publico no dia 20 de dezem- bro de 1875. Esta parochia é uma das mais férteis e mais ricas do seu concelho. Produz cereaes, vinho verde e fructas; — cria muito gado e fez grandes interesses en- gordando bois que exportava para Inglater- ra, como outras muitas freguezias das pro- víncias do Douro e Minho, mas infelizmente nos últimos annos esta industria tem decres- j eido muito, porque os Estados Unidos ame- i rieanos surtem de carne a Inglaterra por preço muito inferior ao da carne que im- portava do nosso paiz. Comprehende esta parochia as aldeias de —Villa Verde, Barreiros, Quinta, Lage, Al- meida, Hortozello, Pereiros, Lama Grande, Barreiros e Sovereira,— 30 casaes, 4 quin- tas, algumas casas nobre3 e ricos proprie- tários. Junto da povoação de Villa Verde, lado sul, teem apparecido em um monte sepultu- ras antiquíssimas, capiteis de columnas, ti- jolos de grande espessura, etc, o que prova a existência de povoado importante n'aquel- le sitio em tempos muito remotos;— e a N.O. da mesma povoação ha n'esta freguezia um monte denominado Crasto (Castro) que pelo nome e condições do local pareee ter sido acampamento romano, posto que hoje ali se não encontrem vestígios alguns de fortifica- ção. As principaes casas nobres d'esta fregue- zia são as seguintes: 1. a— A de Villa Verde, dos Pintos Mesqui- tas. 2. ° — A de Barreiros, da familia Sousas. 3. " — A de Quinta, ultimamente represen- tada pelo dr. José Maria de Mello Paes Villas Boas. 4. * — A da Senra, ultimamente represen- tada por Manuel da França Brandão. A de Villa Verde é um grande prédio bra- sonado com as armas dos Pintos, Carvalhos, Fonsecas e Monteiros, — e está unida a uma grande quinta com bons jardins e muito bem tractada. É hoje 11.° possuidor e representante d'esta nobre casa Alexandre Pinto de Mes- quita Carvalho Magalhães, 1 filho legitimo, e o primogénito, de Simeão Pinto de Mesquita Carvalho Magalhães, F. C. C. R., bacharel formado em direito, etc, e de D. Margarida Balbina de Araujo Borges Pinto da Fonse- ca, senhora e herdeira da nobre casa de I Balde, freguezia de Santa Leocadia, no con- celho de Baião, ambos fallecidos n'esta data. | 1 Casou no dia 14 de março do corrente ! anno (1886) com a ex.ma sr.a D. Isabel Ma- ria Laura Serpa Pinto, de Sinfães, parenta muito próxima do nosso arrojado explorador Alexandre Alberto da Rocha Serpa Pinto. V. Sinfães, vol. 9.» pag. 403, col. 1."— e Tendaes, no mesmo vol. pag. 537, col. l.a in fine. 1088 VIL VIL Siraeão Pinto de Mesquita, sopra, era filho de Francisco de Sousa Pinto de Mesquita Carvalho Magalhães, 3.° neto d'outro Simeão Pinto de Mesquita, valoroso capitão de ca- vallos na guerra da independência, descen- dente da illustre familia Pintos, de Amaran- te, pelo lado paterno— e pelo lado materno descendia da nobre e antiquíssima ca8a de Cergude. Francisco de Sousa Pinto de Mesquita foi casado com D. Custodia Delfina Pereira de Vasconcellos Azevedo, filha de Antonio de Vasconcellos Azevedo, da casa da Chieira, em Alvarenga, onde representava um antigo ramo da casa solar da Torre d' Alvarenga, — e de D. Ludovina de Vasconcellos Pereira de Mello, filha de Manuel Mendes de Vascon- cellos Pereira de Mello, senhor da casa da Quinta, no concelho de Sinfães, e da do Pa- ço de Sinfães, — filho de Ruy Mendes de Vas- concellos Pereira de Mello, 12.° senhor d'a- quelle solar, e 4.° neto de Bento Rodrigues Malafaia que, pelo seu casamento com D. Filippa de Vasconcellos, herdeira da anti- quíssima casa da Torre d'Alvarenga, veiu a ser 8.° senhor d'este solar, hoje pertencente á nobre familia Miranda Montenegro, por se haver extioguido a varonia d'aquella. Simeão Pinto de Mesquita, o 1.° nomeado supra, teve 7 irmãos : 1. ° — Antonio Pinto de Mesquita. Era este o primogénito e por consequên- cia o representante natural e successor da casa de Villa Verde, ele, mas, pouco depois de attiugir a maioridade, muito espontanea- mente cedeu ao dicto Simeão os direitos de primogenitura !. . . Falleceu solteiro. 2. ° — Frederico Pinto de Mesquita. Casou no Porto e falleceu sem successão. 3. ° — Luiz Pinto de Mesquita Carvalho, ba- charel formado em mathematica, hoje (1886) tenente coronel de infanteria, um dos offi- ciaes mais briosos e mais illustrados do nosso exercito. Casou em 1862 com D. Julia de Lemos Barbosa d'Albuquerque, filha do dr. Fran- cisco de Salles Barbosa e Lemos, natural da I freguezia da Sé do Porto, F. C. C. R. e C. P. 0. Ch., antigo corregedor da Villa da Feira, senhor da casa da Jusã, em Lousada, etc. Tem 2 fitbos:— Francisco Pinto de Mes- quita, bacharel formado em direito, estudan- tedistincto, ainda solteiro,— eLuiz, que n'es- ta data frequenta a Universidade. 4.° — Affonso Pinto de Mesquita, bacharel formado em direito e juiz do Ultramar, mas infelizmente alienado ! . . . É solteiro. 5 o — José Pinto de Mesquita. Casou em Alvarenga, na casa de Bouças, com sua prima. . . irmã do par do reino An- tonio Telles de Vasconcellos, filha de sua tia materna D. Maria Rita Pereira de Vascon- cellos e de Manuel Maria Soares Telles. Foi assassinado em Sinfães, sendo já viuvo, e deixou uma filha, que também já falleceu, contando apenas 17 annos de edadel . . . 6. ° — D. Maria Rita Pinto de Mesquita Car- valho. Casou com o dr. Joaquim Cardoso de Car- valho e Gama, natural da Folgosa, concelho d'Armamar, e que falleceu no Porto em 186L sendo desembargador da relação. Conserva-se ainda viuva e teve um filho único, — Albano Pinto de Mesquita Carvalho e Gama, hoje bacharel formado em direito e casado com D. Maria Joanna Cardoso Al- poim, filha do brigadeiro Gonçalo Cardoso Barba de Menezes, irmão do general José Cardoso de Carvalho e Menezes. V. Arma- mar. O dr. Albano tem do seu consorcio 3 fi- lhos ainda de tenra edade: — Albano, Maria e Sophia. 7. ° — D. Anna Amália Pinto de Mesquita. Casou em Riodades, concelho da Pesquei- ra, com Alexandre d'Azevedo Menezes Pi- mentel Botelho, fidalgo d'antiga linhagem (V. Riodades) e tem 4 filhos: — Adriano d'Azevedo Pinto de Mesquita, casado e com successão. — Alexandre d'Azevedo Pinto de Mesqui- ta, ainda solteiro. —D. Maria dos Prazeres, casada em Santa Marinha do Zêzere, concelho de Baião, cora Bernardo José d'Azevedo Lobo; ainda sem successão, e VIL VIL 1089 — D. Adelaide, casada em Aguiar da Beira e com successão. O mesmo Simeão Pinto de Mesquita, 1.° mencionado supra, teve do seu consorcio 6 filhos: 1. ° — Alexandre Pinto de Mesquita, o suc- cessor, lambem já mencionado. 2. °— Antonio Pinto de Mesquita, bacharel formado em direito, talento de primeira or- dem e estudante dislinctissimo I . . . Ainda stílteiro. 3. ° — D. Maria dos Prazeres. 4. ° — D. Anna Angelina. 5. ° — D. Maria Máxima, solteiras. 6. ° — D. Margarida Augusta, casada em fe- vereiro do corrente anno. Pertencia a esta nobre casa de Villa Ver- de Fr. Antonio de Mesquita, que foi abbade em vários conventos da ordem de Cister e o ultimo procurador geral da mesma ordem, pois ainda exercia o dieto cargo no Porto, quando ali entrou o exercito libertador em 1832. VILLA VERDE,— freguezia do concelho e comarca d'Alijó, districto de Villa Real, dio- cese de Lamego, província de Traz-os-Mon- tes. Orago Santa Marinha, — fogos 402, — habi- tantes 1:690. Reitoria. Em 1706 era um simples curato annexo á freguezia de Tres Minas, — contava 125 fo- gos—e pertencia ao termo e ouvidoria de Villa Real. Em 1768 era um vicariato da apresenta- ção do reitor de Tres Minas, — contava 178 fogos — e rendia para o seu vigário 60£000 réis. O recenseamento de 1864 deu-lhe 356 fo- gos e 1:626 almas,— e ode 1878 deu-lhe 397 fogos e 1:578 almas. Até 1882, data da ultima circumscripção diocesana, pertenceu ao arcebispado de Bra- ga; mas desde 1882 passou com todas as freguezias d'este concelho e outras muitas d'esta província, para o bispado de Lamego. V. Villa Real de Traz -os- Montes. Em 1840 pertencia ao concelho de Villar de Maçada, mas pelo decreto de 31 de de- zembro de 1853 foi extincto aquelle conce- lho, passando esta freguezia para o de Alijó. Comprehende as aldeias de Villa Verde, séde da parochia, Jorjaes, Freixo e Pera- fita. Demora em sitio alto, plano, frio e pouco mimoso, na estrada de Murça para Villa Beal, na margem esquerda do rio Pinhão, do qual dista 3 kilometros para E., — 15 de Alijó para N.O.,— 23 1/2 de Villa Real para N.E., — 50 da estação da Regoa na linha do Douro,— 154 do Porto — e 491 de Lisboa. ProducçÕes dominantes:— muitos cereaes, muitas castanhas, muita caça e lã, pois tam- bém cria bastante gado lanígero. Pouco vi- nho e muito verde,— azeite nenhum. Clima saudável, mas frio e agreste. Não tem casas nobres. Freguezias limitrophes:— Villar de Maça- da, no concelho d'Alijó,— Carva, no conce- lho de Murça — e Parada de Pinhão, além do rio d'este nome, no concelho de Sabrosa. Templos: — a egreja matriz, de uma só nave, bastante espaçosa, com adro fechado, coro, boa torre e boa casa de residência com seu quintal e agua;— uma capella publica na povoação de Villa Verde, — outra na de Jor- jaes, outra na de Freixo— e na de Perafita o bonito santuário do Senhor do Cruzeiro, grande e maçestosa capella com adro fecha- do, casa para as sessões da irmandade e pa- ra os milagres, um chafariz contíguo e no alto do monte outra capella com um passo do Senhor, judeus, etc. Ha n'este sanctuario grande festa e roma- ria no dia 3 de maio. É reitor d'esta freguezia na actualidade o rev. Antonio Emygdio da Nóbrega, da fre- guezia de Tellões, concelho de Villa Pouca d'Aguiar. Collou se aqui ha muitos annos e é adorado pelos seus freguezes, por ser muito honesto, muito caritativo, muito af- favel,— um santo ! Ao meu bom amigo, o sr. Manuel Pinto Pimentel de Castro Pereira, cavalheiro esti- mabilissimo e bondosíssimo também, da no- bre família Pintos Pimenteis de Villar de Maçada, mas residente em Gouvinhas, onde 1090 VIL VIL casou, agradeço os apontamentos cora que organisei este artigo. O mundo seria um Eden, se todos os seus habitantes fossem como o rev. Antonio Emy- gdio da Nóbrega e como o sr. Manuel Pinto Pimentel de Castro Pereira. VILLA VERDE,— freguezia do concelho e comarca de Felgueiras, districto e diocese do Porto, província do Douro. Reitoria. Orago S. Mamede. Fogos 87, — habitantes 350. Em 1706 era do extincto concelho de Unhão, comarca de Guimarães, e da apre- sentação do convento benedictino de Pom- beiro; — contava 4o fogos; — rendia para o seu vigário 50$000 réis e 1501000 réis para o convento de Tibães, ao qual estava appli- cada. Em 1730 contava 63 fogos e 196 almas. Em 1768 era da mesma apresentação; — contava 72 fogos— e rendia para o seu vi- gário 30^000 réis. O censo de 1864 deu-lhe os mesmos 72 fogos e 271 habitantes, — e o de 1878 deu-lhe 80 fogos e 278 habitantes. Foi do arcebispado de Braga até 1882, da- ta em que pela nova circumscripção dioce- sana passou para o bispado do Porto. Comprehende as aldeias seguintes: — S- Mamede de Villa Verde, séde da parochia, Cedro, Fonte, Rua, Lousada, Lavandeira, Assento, Eido, Outeiro, Quintã, Seivada, Ser- ra, Souto, Boa Vista e Terreiro; — os casaes de Cimo de Villa, Rosso, Monte e Souto, — e as quintas de Casal, Boucinhas e Funtão, to- das pouco importantes. Freguezias limitrophes :— Santão, Santa Christina de Figueiró, Ayão e Ayrães. Dista da séde do concelho e da comarca 7 kilometros,— outros 7 da estação de Ca- bide, na linha férrea do Douro, — 54 do Por- to— e 391 de Lisboa. Passa na extremidade sul d'esta freguezia a estrada real a macadam n.° 33, do Porto a Villa Beal. Templos: — a egreja matriz em bom esta- do de conservação, embora singela: — outra j «greja — em ruinas; — 4 capellas publi- cas— e 2 oratórios particulares. A isto se reduzem os apontamentos que a muito custo pude obter!. . . Banha esta freguezia um regato confluente do Sousa. Producções dominantes: — milho, centeio, feijões, batatas e vinho de enforcado, ou ras- cante. A industria local reduz-se a uma fabrica de velas de eebo. Pelos annos de 1327 a 1359, sendo D. Mar- tini Pires abbade do convento benedictino de Pombeiro, o arcebispo de Braga D. Martinho, natural d'Evora e 4.° do nome, annexou ao dicto convento esta freguezia de Villa Verde, — mais onze, — «por respeito da grande cha- ridade, que n'elle 6e fazia aos pobres, & pe- regrinos, & do muito que neste particular se gastava, & despendia» — segundo se lô na Benedictina Luzilana (liv. 2.° pag. 72) onde se mencionam as 12 egrejas indicadas su- pra. 1 N. B. A Ckorographia Moderna diz que esta pa- rochia ó a antiga freguezia de S. Mamede de Goido ou de Villa Verde. Foi lapso. A freguezia de S. Mamede de Goido de Villa Verde é a que a mesma Chorographia Moderna descreveu sob o titulo Cuide de Vil- la Verde, no concelho da Ponte da Barca, ao qual pertence, — não a este de Felgueiras. No mesmo lapso havia cahido José Ave- lino d'Almeida no seu Diccionario abreviado de Chorographia. Solatium est miseris sócios habere t... Veja-se n'este diccionario Coide de Villa Verde. . . vol. 2.° pag. 314. VILLA VERDE,— freguezia do concelho a comarca da cidade da Figueira, districto e diocese de Coimbra, na província do Douro. Vigairaria. Fogos 264, — habitantes 1:090- Orago Santo Aleixo. Foi curato annual da apresentação do ca- bido da Sé de Coimbra e é uma parochia autónoma relativamente moderna, pois foi 1 V. Villa Marim n'este 10.° vol. pag. 787, col. 2.a in-principio. Ali se encontram men- cionadas as taes 12 freguezias. VIL VJL 1091 creada em 20 de setembro de 1790 pelo bis- i po de Coimbra D. Francisco de Lemos de Faria Pereira Coutinho. Até aquella data a sua população pertencia ás freguezias de S. Pedro das Alhadas e de S. Julião da Figuei- ra, pelo que não se encontra na Chorogra- phia Porlugueza, vol. 2.° publicado em 1708, e que tracta d'aquellas duas freguezias, en- tão pertencentes á comarca de Monte-Mór, o Velho. Pelo mesmo motivo também se não encontra no Port. S. e Prof., publicado em 1757 a 1768; mas devia ser n'aquellas datas muito insignificante a sua população, por- que a freguezia de S. Pedro das Alhadas, que hoje conta mais de 1:082 fogos e de 4:100 habitantes, contava apenas 90 fogos em 17081 — e toda a freguezia de S. Julião da Figueira, que hoje conta cerca de 1:200 fogos e de 5.000 habitantes, contava apenas 200 fogos em 1708— -e 316 em 1757, — comprehenden- do as duas freguezias também a população d'esta de Villa Verde. O Flaviense em 1852 deu-lhe 176 fogos; —o censo de 1864 deu-lhe 210 fogos e 821 habitantes;— o de 1878 deu-lhe 245 fogos e 933 habitantes, — e hoje tem, como já disse- mos, 264 fogos e 1:090 habitantes. Tem pois augmentado consideravelmente a sua população, posto que esta freguezia e todas as d'este concelho foram cruelmente açoutadas e dizimadas pelo cholera morbus em 1820 e em 1832 a 1833. Também esta freguezia soffreu muito com as grandes calamidades que assolaram a da Figueira, .sua visinha, em 1810 e n'outras datas. V. Figueira da Foz. Comprehende os casaes seguintes:— do Seixal, da Marinha, do Luiz, da Fontella, da Salmanha, da Caceira, dos Moinhos de Vento e dos Touros, — e muitas quintas, taes são: — a Quinta Grande, do recolhimento do Pa- ço do Conde, de Coimbra, 2 — a das Barreiras, de A. Ribeiro, — a do Cabeço, de Ludovina 1 O Port. S. e Prof. deu-lhe 668 fogos! Foi erro de imprensa, com toda a cer- te3a. 2 Logo fallaremos d'clla. Pestana, — a dos Carritos, de Nestorio Dias, — a de Valle de Rosas, de Francisco Diniz Corte Real, — a dos Touros, dos herdeiros de Domingos José Pinto Vianna, — a do Seixal, de Joaquim André Guarinho, — a de Salma- nha, de Jacintho Malheiro, — a do Toninho, de Elísio dos Santos Fere,— a da Boa Vista, dos herdeiros de José Dias dos Santos, — a de Fontello, de Antonio do*» Santos Rocha, — a de Brigões, dos herdeiros de João Fernandes Thomaz — e a da Marinha, de Dolbeth Costa. A povoação de Villa Verde, séde da paro- chia, é muito pittoresca, alegre e saudável; —tem uma rua soffrivel, denominada Rua Direita — o está em uma encosta enxuta e bem lavada dos ares, na margem direita do Mondego, do qual dista cerca de 1 kilometro para N.N.E.,— 5 da Figueira para E., — iO de Coimbra pela estrada real a macadam, n.° 48, e 70 pelas linhas férreas da Beira Alta e do Norte,— 163 do Porto— e 287 de Lis- boa,— pelas mencionadas linhas férreas. Freguezias limitrophes: — Alhadas a N. e E., — Tavarede ao poente, servindo de linha divisória o ribeiro de Caceira, — e ao sul o Mondego. Producções dominantes:— vinho bom de meza — e sal, pois tem desde tempos muito remotos boas marinhas, em que se empre- ga ainda hoje a maior parte da população d'esta freguezia, o que a torna uma das mais importantes do concelho da Figueira. O sal marinho é uma das principaes ri- quezas d'este districto e d'este concelho— e é quasi exclusivamente produzido n'esta pa- rochia de Villa Verde e na de Lavos. SuppÕe-se que as primeiras salinas do concelho da Figueira foram as de Tavarede, povoação antiquíssima I D'ellas se fez men- ção no contracto celebrado em novembro de 1216 pelo parocho e por dois clérigos da egreja de S. Salvador de Coimbra com o prior e cónegos do mosteiro de S. Jorge. As que demoram na freguezia de Lavos remontam, pelo menos, ao reinado de D. Sancho II, pois em 1236 o convento de S. Jorge e a collegiada de S. Bartholomeu doa- ram a Domingos Pedro differentes marinhas 1092 VIL VIL no couto de Lavos com a obrigação de con- struir mais trinta e seis talhos. As da Murraceira, no termo d'aquella fre- guezia, foram outr'ora um campo, em que se cultivava milho e outros cereaes e datam de época mais recente. Ha documentos que mencionam marinhas ali em 1520, mas a completa transformação da insua teve logar nos séculos xvi e xvii. V. Lavos, Murraceira e Marinhas. Também ha nos montes d'esta parochia grandes jazigos de pedra calcarea (lioz e mármore) para cantaria e alvenaria e pára construeções de toda a ordem. Banham esta freguezia o Mondego, — o ri- beiro de Valle da Murta ou Valmurta, que rega e fertilisa uma extensa e mimosa veiga contigua á povoação de Villa Verde, e des- agua no Mondego, — e os arroios do Baldio da Alhada, — do Barroco, — da Barqueira — e da Greta. O edifício mais notável d'esta freguezia é a casa nobre da Quinta Grande, também de- nomimada Quinta do Paço do Conde. A isto se reduziam os apontamentos que recebi em 1884 do digno administrador d'es- te concelho, por intermédio do sr. visconde de Guedes Teixeira, governador civil do Porto, aos quaes beijo as mãos agradecido; desejando porem mais algumas noticias da grande quinta e do Recolhimento do Paço do Conde, dirigi -me ao sr. Joaquim Martins de Carvalho, redactor do Conimbricense, — o ho- mem que hoje melhor conhece a cidade, o concelho e o districto de Coimbra. Não se fez esperar a sua interessante resposta, que é textualmente a seguinte: «O Recolhimento do Paço do Conde, que ainda existe n'esta cidade, foi fundado pelo bispo-conde D. João de Mello, que governou desde 1684 até 1704. «Aquellas recolhidas viveram primeira- mente em casas arrendadas, e hoje habitara as casas que foram dos condes de Cantanhe- de e marquezes de Marialva, na rua das So- las, em Coimbra. «Este recolhimento não teve na sua ori- gem dotação nem rendas próprias. Viveu somente das esmolas dos bispos até que D. Filippa Thereza de Noronha lhe deixou sete mil cruzados para sustento de um capellão, com vários encargos, — e mais quarenta mil cruzados, para que, pondo-os á render as recolhidas, tivessem para a sua sustentação ! 2:000 erusados. «Com este dinheiro compraram a Filippe i Saraiva de Sampaio e Mello um grande pra- so no couto (?!...) de Villa Verde, constan- do de terras, marinhas, foros e rações, por 31:000 crusado3 e 360^000 réis, ou réis 12:760^000. Compraram mais dois cerrados, uma vinha e uma casa de sobrado, perten- cente ao dicto praso, por 500$000 réis. «O Recolhimento do Paço do Conde foi fun- dado principalmente para mulheres conver- tidas da vida do mundo, debaixo da invoca- ção de Santa Maria Magdalena; mas o bispo D. Joaquim da Nazareth julgou conveniente mudar-lhe o instituto. Fez d'elle recolhimen- to de meninas pobres;— deu-lhe a invocação de Nossa Senhora das Necessidades do Paço do Conde — e novos estatutos, que foram ap- provados pelo referido prelado e mandados executar em 1827. • No Conimbricense de 19 d'agosto de 1873 dei extensa e muito curiosa noticia d'este recolhimento, a qual escrevi á vista dos do- cumentos originaes que existem na dieta casa.» Ao sr. Joaquim Martins de Carvalho agra- deço tão relevante fineza. Os templos d'esta parochia reduzem-se á egreja matriz, muito humilde e muito mal tractada,— e a uma capella particular, com a invocação do Senhor da Columna, bastante antiga, mas reedificada em 1851, como se lê em umainscripção que tem na frente e que é textualmente a seguinte : 1851 Foi MANDADA REEDIFICAR i esta capella por joaquim Pereira Pestana, para ja- zigo DE SUA MÃE. Na matriz celebra-se com grande pompa a festa de Nossa Senhora da Graça, no dia VIL VIL 1093 da Ascensão (diz o meu informador) haven- do n'esse dia grande romagem e extraordi- nário concurso de fieis dos povos circumvi- sinhos, nomeadamente da cidade da Figuei- ra,— concurso que deve augmentar logo que se conclua a estrada municipal a macadam, em via de construcção, entre esta freguezia e aquella cidade. Alem da dieta estrada também passa junto d'esta freguezia a estrada real a macadam^ n.a 48, da Figueira a Coimbra. Tem esta parochia apenas uma aula of- ficial d'instrucção primaria elementar para o sexo masculino, regida por um único pro- fessor e frequentada por 200 creançasl... Com vista aos illustrados vereadores da Figueira. Ha n'esta freguezia muita abundância de exeellente agua potável, que tanto escasseia nas margens do Mondego, desde Coimbra até á Figueira — e na própria cidade da Fi- gueira, que no verão se vê obrigada a recor- rer a uma fonte bem distante, na margem direita da ribeira de Tavarede — e á própria fonte de Tavarede, distante cerca de 3 kilo- metros I . . . Dizem que a agua da fonte publica da po- voação de Villa Verde tem propriedades me- dicinaes muito apreciáveis para o tratamento de moléstias do estômago e do fígado. Esta parochia nunca foi villa; mas consta que a povoação de Villa Verde, já existia no século xi com o nome de S. Facundo, e que no século xvi foi couto, ou gosára os privi- légios de couto de S. Fagundo ! . . . Nós, hoje apenas temos noticia de uma povoação denominada S. Fagundo, no dis- tricto de Coimbra. 1 Estava no termo da ex- tincta villa de Ançã; foi freguezia da apre- sentação da Universidade e commenda da ordem de Christo; mas não nos consta que 1 No districto de Leiria ha differentes al- deias, casaes e quintas com o nome de Fa- cundo ou Fagundo, modificação de Sahagum, como diz Alexandre Herculano na Historia de Portugal, vol. 4.° pag. 467. fosse couto e que estendesse o seu termo até esta freguezia de Villa Verde. 1 Está hoje annexa á freguezia de Antuzede, concelho e comarca de Coimbra. V. Antuzede e Facundo (S.)— e note-se que o meu benemérito antecessor por lapso deu a freguezia de Antuzede annexada á de S. Facundo, devendo dizer — que a fregue- zia de S. Facundo foi extincta e annexada á de Antuzede. De passagem diremos também que a fre- guezia de S. Facundo em 1708, alem da sua egreja parochial, comprehendia as aldeias seguintes: — Quinta e Cidreyra com 20 fo- gos,— Penas Alvas com outros 20 fogos e uma capella publica, — e Jaria com 26 fogos e tres grandes quintas para o lado do Mon- dego e uma boa capella de Santo Adrião. Ali estava a quinta, mandada fazer pelo in- signe theologo D. André d'Almada, com uma grande estatua de Gerião, tendo 3 cabeças e um só corpo com muitas inscripções. V. Chorogr. Portugueza, vol. 2.° pag. 34. No Archivo da Camara Municipal de Coim- bra, segundo se lê no índice Çhronologico dos seus pergaminhos e foraes, se encon- trara muitos documentos importantes, rela- tivos á povoação e freguezia de S. Facundo ou Fagundo, a contar de 1547. N'esta parochia não ha minas em explo- ração nem simplesmente registradas. Deve aqui passar o caminho de ferro, em via de construcção, de Lisboa à Figueira pela Marinha Grande e Leiria. A sua extensão total, entre Torres Vedras e a Figueira, é de 150 kilometros approxi- 1 Effectivamente a freguezia de S. Facun- do, no concelho de Coimbra, «nada tem com a freguezia de Villa Verde, do concelho da Figueira»— seguudo acaba de dizer- nos o sr. Joaquim Martins de Carvalho, em res- posta á consulta que lhe dirigimos para tran- quilidade da nossa consciência. Diz também: «Nas chorographias d'este districto, ainda as mais minuciosas, não encontro menção de logar ou casal na freguezia de Villa Verde, com o nome de S. Fagundo.* Outra vez agradeço a s. ex.a a bondade com que me atura. 1094 VIL VIL maciamente, tendo 12 o ramal cTAlfarellos, para ligação com a linha de ferro do Norte. Os esclarecimentos que podemos obter com relação ao traçado desde a Marinha Grande até á Figueira, reduzem-se ao se- guinte : A estação da Marinha Grande fica a 3 ki- lomeiros da povoação e a 4 li2 da estação de Pedreanes, podendo continuar afunccio- nar o actual caminho de ferro americano. A estação de Leiria fica a 3 kilometros da cidade. O caminho segue o rio Liz até á frente de Monte Real; segue para Monte Redondo, acompanhando a estrada de Leiria á Figuei- ra; passa de Monte Redondo ao valle de Santo Aleixo, que é atravessado na villa do Paço; vae a Vieirinhos e Silveirinha; segue o valle de Seiça; atravessa a valia real; passa por baixo da Camarinheira e vae ao Moinho do Almoxarife, em frente de Lavos, dirigin- do-se para a Figueira pela Gandara, Villa Verde e Salmanha, ligando-se com a linha da Reira Alta, na passagem de nivel á en- trada da Figueira. O ramal de Alfarellos sae do Moinho do Almoxarife, — segue pelas povoações de Re- velles, Verride, Cacheiro e Marujal, — atra- vessa o rio Soure e junta-se á linha do Norte no kilometro 193 (640 a contar de Lisboa). Até hoje (março de 1886) a construcção d'esta linha não passou de Torres Vedras, mas proseguem os trabalhos com actividade. Veja-se o artigo Vias Férreas, vol. 10.° pag. 477, col. 2." VILLA VERDE — freguezia do concelho e comarca de Mirandella, districto e bispado de Rragança, província de Traz os -Montes. Orago Santo Apollinario; — fogos 63, — ha- bitantes 260, — não comprehendendo n'esta cifra a população das 2 freguezias, hoje suas snnexas: — Freixeda e S. Salvados. V. Freixeda e Salvador do Adro. 1 Em 1706 esta freguezia de Villa Verde, \ 1 Na localidade todos dão á dieta paro- chia o titulo de S. Salvados— e não S. Salva- dor, como se lé em quasi todas as chorogra- phias. também denominada outr'ora Villa Verde dos Alamões, segundo se lê na Chorographia Moderna, contava 50 fogos e era titulo de uma das 6 commendas de Mirandella — sen- do o seu cura apresentado pelo reitor d'a- quella villa. Em 1768 era curato da mesma apresen- tação,— rendia 30$000 réis para o seu cura — e contava 48 fogos. O censo de 1864 deu-lhe 55 fogos e 235 almas, — e o de 1878 deu-lhe 60 fogos e 234 habitantes. Tem-se conservado estacionaria a popu- lação d'esta freguezia, bem como a da maior parte das freguezias d'este concelho, quasi todas insignificantes e muito pouco populo- sas. Contrastam sensivelmente com as d'outros concelhos nossos, pois tendo este concelho de Mirandella 39 freguezias, conta apenas 4:834 fogos e 20:031 habitantes, — emquanto que todo o districto e bispado do Algarve, contando apenas 66 freguezias,— menos do que o dobro das do concelho de Mirandella, —tem 47:247 fogos e 205:901 habitantes— ou uma população cerca de dez vezes maior do que a do concelho de Mirandella 1 ... 1 Só um dos concelhos do Algarve, o de Loulé, comprehendendo apenas sele fregue- zias, conta 7:106 fogos e 31:923 habitantes, — população muito superior á das trinta e nove freguezias d'este concelho de Miran- della;— mas só a freguezia de S. Clemente, que forma a villa de Loulé, — hoje a villa mais populosa de todo o nosso paiz e superior em população á maior parte das nossas cidades, —conta 3:337 fogos e 14:862 habitantes!... Das 39 freguezias d'este concelho de Mi- randella— 16 não contam 100 fogos, cada uma; — 14 apenas contam 100 a 150 fogos; —7 contam 150 a 200,-1 tem 212— e ou- tra (a villa) 476. 2 1 O bispado de Rragança contando 334 freguezias, — cinco vezes mais do que o do Algarve, — tem 44:697 fogos e 187:675 habi- tantes, população inferior á do bispado do Algarve. 2 Todos estes dado3 são extrahidos do censo de 1878. VIL VIL 1095 Tão pouco populosas são, que das 39 já 17 eslão civilmente annexadas a outras, por não terem pessoal nem recursos para sus- tentarem a sua autonomia. Do exposto se vê que é da maior urgên- cia proceder-se a uma nova circumscripção parochial. Mas prosigamos: Comprehende esta freguezia apenas uma aldeia: — Villa Verde, — um mesquinho e po- bre templo, denominado egreja matriz — e a capella do Santo. 1 Dista da séde do concelho e da comarca 10 kilomeiros para E.S.E.— 82 de Bragan- ça,—104 da Regoa por Villa Rea];— 208 do Porto (por Villa Real e Regoa) — e 545 de Lisboa. Logo que se abra ao tranzito a linha do Tua, prestes a concluir-se, demandará a es- tação de Mirandella, distante da do Tua, na linha do Douro, cerca de 46 kilomeiros, e assim deixará de percorrer em diligencia os 94 kilometros de -Mirandella até á estação da Regoa, — quando se dirija ao Porto. Freguezias limitrophes:— Val d'Asna, Val da Sancha, Caravellas, Cedães e Frechas. Não tem estrada alguma a macadam. A que lhe está mais próxima é a real n.° 38> de Chaves a Moncorvo, por Mirandella e Villa Flor. Banham esta freguezia apenas alguns ri- beiros que nascem na serra de Bornes, e desaguam no rio Tua, a 10 kilometros d'esta freguezia, movendo no termo d'ella apenas 2 moinhos. Producçòes dominantes: — cereaes, vinho bom de meza e excellente azeite, sendo o seu chão muito próprio para a cultura das oliveiras, cuja producção aqui é normal ain- da, ernquanto que a do vinho é já muito di- minuta e tende a desapparecer, bem como no Alto Douro e em toda esta província de i Traz-os-Montes, por causa da maldietaphyl- loxera e das outras muitas doenças que actualmente perseguem os nossos vinhedos. V. Villa Flor, Villa Real de Traz os Mon- Al não dizem os meus apontamentos. les, Villarinhâ de Cotias e Villarinho de S. Romão. Diz a CJwrogr. Port. que esta parochia li- nha 8 fontes e uma capella— e que no seu termo houve minas de prata e povoação de mouros, das quaes ainda em 1706 restavam claros vestígios. Parochias annexas 1."— Freixeda, concelho e comarca de Mi- randella, districto e bispado de Rragança. Orago Santo André. Ao que já se disse no titulo Freixeda, (a l.8) vol. 3.° pag. 230, col.a 2.% acrescenta- remos o seguinte; Foi reitoria e hoje é um simples curato, onde tem um coadjutor o parocho de Villa Verde. Em 1706 contava 80 fogos;— o censo de 1864 dsu-lhe 68 fogos e 228 habitantes— e o de 1878 deu-lhe 70 fogos e 326 habitan- tes. Demora entre montes, na margem esquer- da do Tua, do qual dista 6 kilometros para o nascente, — 5 de Villa Verde, para o sul, — 12 de Mirandella — e 40 da estação de Tua, na linha férrea do Douro, hoje a mais pró- xima, passa porem a 6 kilometros da po- voação da Freixeda a nova linha férrea do valle do Tua, em construcção na actualidade. As freguezias limitrophes eram: — Val da Sancha, a S.E.,— Frechas a O.S. O,— Salva- dos a N.O.— e Caravellas a N.E. Passa n'esta freguezia a estrada real n.° 38, de Chaves e Mirandella a Villa Flor e Moncorvo. Tem apenas uma povoação, — a de Frei- xeda,— e n'ella um pequeno e pobre templo que foi a sua matriz. Banham esta parochia o Tua, que a limita ! ao poente, — e um ribeiro que morre no Tua, sem mover azenhas nem moinhos. Producçòes dominantes: — cereaes de to- das as qualidades, — algum vinho — e muito azeite. Os maiores proprietários d'esta freguezia são os Pimenteis, de Bornes, concelho de 1096 VIL VIL Macedo de Cavalleiros. Aqui possuem mui- ■ tas propriedades e grandes olivaes, pelo que mandaram aqui montar uma prensa do novo systema para fabrico do azeite. Esta parochia foi uma das seis commen- das que a ordem de Christo teve no conce- lho de Mirandella. Pertencia aos condes d' Al- vor. Tem muitas fontes de boa agua e a de uma que nasce no monte denominado do Concelho é tão fria que, raettendo n'ella um quarto de carneiro durante meia hora, ape- nas lhe deixa os ossos nus, — diz o padre Carvalho — e accrescenta que houve aqui ex- ploração de minas de praia, como revelam uns buracos e cavidades que se veem no Cabeço Figueiró e junto d'ura regato próxi- mo as ruinas d'um casarão, onde (diz a lenda) se apurava e fundia o minério. Também nos sítios de Val de Mouro e Mu- rado se vêem ruinas de povoações antiquís- simas, talvez dos mouros, como diz o povo. 1 A outra annexa 2.a— S. Salvador (censo de 1878)— ou S. Salvados (censo de 1864) — ou S. Salvado (Chorogr. Port.) — concelho e comarca de Mirandella. Reitoria extincta. Orago a Transfiguração, — segundo se lê nos 2 censos e nas chorographias que me cercam; mas o meu antecessor, baseado não sabemos em que, deu-lhe o titulo de S. Sal- vador do Adro (Vide) e como orago S. Sal- vador 2. 1 Almeida, no seu Diccionario Chorogra- phico, deslocou estas noticias, dando-as na freguezia da Freixeda (orago S. Nicolau) concelho de Bragança, pelo que o meu an- tecessor cahiu também no mesmo lapso!... Nem nós temos freguezia alguma com o titulo de S. Nicolau de Freixeda. Tivemos uma também denominada Frei- xeda, no concelho de Bragança; mas o seu orago era S. Silvestre e já em 1706 se acha- va extincta, como hoje está, e annexa á fre- guezia de Salsas, sendo o orago d'esta S. Nicolau. D'aqui provem o equivoco. 2 J. A. d'Almeida também a denominou ! S. Salvador do Adro, mas deu-lhe como ora- ' go a Transfiguração. i Também lhe attribuiu o foral que D. Di- niz deu em 11 de novembro de 1290 á al- deia de Picanal, da freguezia de S. Salvador da Pena, interpretando assim a lacónica in- dicação que sob o titulo Picanal se encontra em Franklim; mas estamos certos de que o dicto foral pertence á povoação denominada Picanhol, da freguezia de S. Salvador da Ri- beira de Pena, hoje uma das duas, que cons- tituem a sede do concelho d'estenome, no dis- trieto de Villa Real. É a dieta aldeia de Pi- canhol uma das mais importantes entre as muitas d'aquella populosa freguezia, e tem a dieta povoação também uma boa quinta e casa nobre, denominadas Picanhol, — quinta e casa que em 1706 pertenciam ao capitão- mór Francisco Pacheco d'Andrade. V. Ribeira de Pena, n'este diccionario e na Chorographia Portvgueza, tomo 1.° pag. 170,— e Salvador na Chorographia Moderna^ tomo i.° pag. 721, onde se encontrara men- cionadas todas as aldeias, quintas e casaes da freguezia de S. Salvador de Ribeira de Pena;— mas quem quizer" liquidar a questão procure e leia o próprio foral. A extincta parochia de Salvados foi rei- toria da apresentação do reitor de Miran- della e hoje está, como dissemos, annexada á de Villa Verde, cujo parocho ali tem um cura ou coadjutor, a quem paga para o au- xiliar na administração dos sacramentos. Em 1706 contava 80 fogos;-- -o censo de 1864 deu-lhe 92 fogos e 387 almas,— o de 1878 deu-lhe 96 fogos e 346 almas— e os apontamentos que d'ali me enviaram dão-lhe 86 fogos e 355 almas. Tem uma povoação única, a séde da an- tiga parochia, e n'ella um pequeno e hu- milde templo, que foi a sua egreja matriz. Não tem capella alguma. Producções dominantes:— cereaes, azeite e vinho,— tudo em pequena quantidade, ten- dendo a produeção do vinho a extinguir-se como já dissemos no tópico supra, relativo a Villa Verde. Demora na margem esquerda do Tua, do I qual dista 3 kiloraelros,— 4 de Villa Verde, | sua matriz actual, para S.O.— 7 de Miran- VIL VIL Í097 delia para S.S.E.— e 38 da estação do Tua, na linha férrea do Douro, hoje a mais pró- xima, emquanto se Dão abre ao tranzito a li- nha do Tua, que passa ao poente d'estafre- guezia. Também aqui passa a estrada real a ma- cadam u.° 38, de Chaves e Mirandella para Villa Flor e Moncorvo. Freguezias limitrophes : — Mirandella,— Villa Verde, da qual è hoje parte integrante, — Frechas — e Marmellos além do Tua, que limita e banha esta freguezia de S. Salvados, a oeste. Também é banhada por um pequeno ri- beiro, que nasce em Villa Verde e morre no Tua. Tem uma aula de instrucção primaria pa. ra o sexo masculino. O meu illustrado informador conclue di- zendo : «Aqui falleceu, ha perto de setenta annos, um individuo de grande saber e merecimen- to,—por nome D. Antonio, bispo de Bra- gança, para onde foi conduzido o seu cadá- ver. «A opinião publica diz que era santo.» Posto que este. diccionario vae assumindo grandes dimensões, não podemos resistir á tentação de dar algum desenvolvimento á noticia supra, pois felizmente não nos é es- tranho o ínclito varão, a quem ella se re- fere: D. Antonio Luiz da Veiga Cabral e Camara Não nos propomos escrever a biographia d'este prelado que, pela sua grande illustra- ção e virtudes e pelas contradicçòes e per- seguições que soffreu com resignação evan- gélica, se não foi um santo e martyr, foi um dos vultos mais proeminentes do episcopa- do portuguez e daria honra e lustre aos sé- culos dourados do christianismo. Escasseiam-nos as forças para tão levan- tada empresa e a veneração que prestamos ás cinzas de D. Antonio emmudece-nos. Nem elle necessita de que nós o biographemos, ten- do sido biographado por Fr. Simão da Rainha Santa, seu contemporâneo, seu familiar e seu discípulo, cuja illustração e piedade nin- guém contesta,— por Fr. Antonio de Jesus, também seu contemporâneo, fundador do convento da Falperra,— pelo sr. Manuel An- tonio Pires, illustrado cónego— professor de Bragança, filho de uma piedosa senhora que foi contemporânea e dirigida de D. Antonio, — e pelo sr. conde de Samodães, o nosso pri- meiro escriptor catholico na actualidade, que lhe dedicou uma longa série de folhe- tins no jornal A Palavra, desde o n.° 73 de 8 de setembro de 1885, até o n.° 125 de 7 de novembro do mesmo anno. Bem quizeramos pois abster-nos de fallar de D. Antonio, mas a nossa posição nos obriga. D. Antonio Luiz da Veiga Cabral e Ca- mara nasceu em Vianna do Castello no dia 10 de novembro de 1758 e foi o ultimo 1 de 19 filhos que tiveram seus paes, Franeisco da Veiga Cabral e Camara, tenente general, e D. Rosa Gabriela de Moraes Pimentel. Apenas teve professores de instrucção pri- maria, latim e francez; mas era tal o seu ta- lento e o seu amor ao estudo que, a sós com os livros, em poucos annos obteve uma as- sombrosa erudição em quasi todos os ramos de sciencias — e era tal a sua memoria que aos doze annos repetia de cór cantos intei- ros de Virgilio, odes de Horácio, discursos de Cicero e largos trechos de tudo quanto lia?!... Foi um theologo profundo versado em dif- ferentes línguas e nos clássicos portuguezes, francezes, gregos e latinos. Tendo pronunciada vocação para o estado ecclesiastico, ordenou-se com dispensa de edade e de interstícios e logo lhe foi dada a egreja de Mofreita, no concelho de Vinhaes, onde parochiou dez annos, edificando e as- sombrando a todos com o seu zelo, carida- de e piedade, pelo que o bispo de Bragança, D. Bernardo Pinto Ribeiro de Seixas o pro- poz para seu coadjutor e futuro successor. Foi confirmado em junho de 1793;— to- mou posse do bispado, já sede vacante, no 1 Francisco Antonio da Veiga Cabral, o primogénito, foi governador da índia. 1098 VIL VIL dia 5 de janeiro do anno seguinte, contando apenas 3o annos de edade, — e falleceu n'esta freguezia de S. Salvados, concelho de Mi- randella, no dia 13 de junho de 1819— com opinião de santo—como diz o meu informa- dor,— e tnartyr de desgostos e perseguições de toda a ordem ! . . . Deus o tenha em hom logar e perdoe a quem tanto o calumniou e perseguiu. O seu longo episcopado foi uma série constante de tribulações, que elle heroica- mente supportou, mas que o impediram de realisar muitos dos seus planos em pró da sua diocese e lhe abreviaram a existência. A piedade, a caridade, o zelo pela salva- ção das almas e o seu exemplar comporta- mento, que tanto o distinguiram no verdor dos annos como parocho de Mofreita, mais se apuraram e o distinguiram no episcopa- do; mas nunca faltaram inimigos e detra- ctores aos homens da maior virtude, e elle não foi excepção. Assim como os judeus prenderam e cru- cificaram o prototypo da bondade— e os Ím- pios d'oulras eras perseguiram e trucidaram tantos santos e marlyres, — assim também D. Antonio foi cruelmente perseguido, preso e desterrado ! . . . Primeiramente enviaram-no sob custodia para Lisboa, onde o detiveram 12 annos, desde 1799 até 1811. Restituído á sua dioce- se, foi pouco depois preso e mettido no con- vento do Bussaco, onde esteve 2 annos, até que a instancias do romano pontífice foi solto e volveu segunda vez á sua diocese, mas tão doente e alquebrado de forças que, por con- selho dos facultativos, estando no rigor do inverno, teve de deixar Bragança e procu- rar outro clima um pouco mais doce.. A 11 de janeiro de 1819 sahiu de Bra- gança em um carro tirado por bois e no dia 14 do mesmo raez chegou á freguezia de S. Salvados, onde falleceu, como já dissemos, no dia 13 de junho do mesmo anno, pelas 3 horas da madrugada. Apenas chegou a Bragança a noticia, vie- ram a S. Salvados dois deputados do cabido e a primeira coisa que fizeram foi— apode- rarem-se dos muitos e preciosos maDuscri- ptos do prelado e (credite posteri) — lança- ram-nos ás chammasl... Embalsamado o cadáver, foi ao quinto dia transportado para Bragança com numeroso acompanhamento de fieis, pranteando todos tão grande perda. Os seus detractores , 1 a quem tanta luz cegava e tanta superioridade offendia, taxa- ram-no de louco e visionário, — mas todos re- conheceram sempre a sua espantosa erudi- ção e nunca poderam apontar e menos ainda provar a mais leve mancha no seu longo ti- rocínio de parocho e de prelado. Por seu turno os apologistas de D. Anto- nio,— caracteres respeitabilissimos, como in- dicamos supra,— apontam-no como homem verdadeiramente extraordinário pela sua es- pantosa erudição,— pela sua piedade e ca- ridade—e pela sua resignação e virtudes, earacterisando-o como varão justo e santo — e como santo foi sempre considerado pelo povo, que de grandes distancias, mesmo da Hespanha, corria a vel-o e ouvil-o, attribuin- do-lhe o dom dos milagres!. . . Fr. Simão da Rainha Santa chegou a sol- licitar a canonisação, ou pelo menos a bea- tificação de D. Antonio— e são estes os vivos desejos dos piedosos fieis de Bragança. Entre as obras de piedade de D. Antonio avultam dois recolhimentos de Oblatas do Menino Jesus, que o santo bispo fundou com os maiores sacrifícios,— um em Mofreita, ou- tro no Loreto, junto de Bragança, e*que 1 Entre os seus contemporâneos distingui- ram-se o abbade de Rebordãos, Francisco Xavier Gomes de Sepulveda, e o de Me- drões. Joaquim Antonio de Miranda. D'este ultimo possuímos copia d'uma celebre carta que escreveu contra D. Antonio e que foi publicada no Conimbricense, n.° 2:416 de 20 de setembro de 1870, até o n.° 2:425 de 22 d'outubro do mesmo anno. Pôde ver-se a plena refutação da dieta carta nos folhetins de que já fizemos men- ção e que o sr. conde de Samodães publicou na Palavra. 2 Este ultimo foi transferido para a ex- tincta parochia de Fornos de Ledra, (Vide) hoje annexa á de Guide, no concelho de Mi- randella. VIL ainda hoje são dois monumentos veneran- [ dos,— as primeiras casas de educação em ; toda a província de Traz os Montes. Concluiremos este tópico dizendo que no recolhimento de Mofreita se guarda como reliquia o craneo do fundador— e que ain- da hoje (março de 1886) vive um rev. an- cião, que foi contemporâneo de D. Antonio e o conheceu e tractou muito de perto;— é o padre Antonio José Marques, digníssimo paroeho actual d'esta freguezia de Villa Verde e das suas annexas,— Freixeda e S. Salvados. Conta cerca de 88 annos de edadel. . . VILLA VERDE, ou VILLA VERDE E PRA- DA,—freguezia do concelho e comarca de * Vinhaes, districto e diocese de Bragança, í província de Traz-os-Montes. Orago S. Miguel Archanjo. Reitoria. Fogos:— na povoação de Villa Verde, an- tiga parochia d'esle titulo, 87,— e na povoa- ção de Prada, antigá parochia, hoje extin- cta e sua annexa, 25,— total:— fogos 1 12, — habitantes 470,— segundo os apontamentos que se dignou enviar-me o sr. Emiliano An- tonio de Sousa, meu illustrado e conscien- cioso informador; mas o Port. S. e Profano em 1768 deu ás duas parochias, já então unidas, 72 fogos e 50#000 réis de rendi- mento para o seu reitor, que era da apre- sentação alternativa do papa e do prelado; —o censo de 1864 deu-lhes 109 fogos e 421 habitantes— e o de 1878 deu-lhes 122 fogos e 516 habitantes. Villa Verde em 1706 era reitoria e com- menda da ordem de Christo;— pertencia ao concelho da villa de Paço, ou Passo, ou Val de Paço, comarca de Miranda (V. Paçô, a l.a vol. 6.° pag. 375, col. 2.a); tinha annexa a freguezia de Santa Marinha de Quíntella, curato da apresentação do reitor de Villa Verde e que em 1768 »; segundo se lé no Port. Sacro e Prof. era da apresentação do paroeho de Santa Mar inha (do Pinheiro No- i vo, me parece) n'aquelle tempo também sim- 1 O meu antecessor disse 1757. Foi lapso. V. Quintella, vol. 8.°, pag. 34, col. 2." VIL 1099 pies curato da apresentação do abbade de Quiraz. A mencionada parochia de Santa Marinha de Quintella foi extiucta e hoje é uma sim- ples povoação da freguezia de Paço, ou Pa- çô, ou Paço de Vinhaes, indicada supra.1 Este bispado de Bragança é um labyrintho para os choro- phos I . . . Contando 334 freguezias, tem uma população inferior ás do Algarve, que apenas conta 66, como dissemos no artigo antecedente. E aquellas 334 freguezias representam mais de 400, porque quasi to- das comprehendem freguezias annexas extinctas, que teem andado e andam em continuo vae-vem ao som das influen- cias locaes, mudando constan- temente de matriz ! É já muito grande a confu- são no momento e maior será no futuro, porque infelizmente esta província de Traz-os-Mon- tes, depois que a phylloxera anniquilou os vinhedos, que constituíam a sua principal ri- queza, é uma das mais pobres do nosso paiz e, se já se ex- tinguiram muitas das suas pa- rochias, mais se hão de extin- guir em praso breve. V. Villa Real de Traz os- Montes n'este diccionario e Bragança no supplemento. Demora a povoação de Villa Verde na margem direita do rio Tuella, que um pouco mais abaixo toma o nome de Tua, confluente do Douro; -dista de Vinhaes 4 kilometros para E.N.E.,— 28 de Bragança para O.N.O., —93 de Mirandella, em diligencia por Bra- 1 Também hoje (marco de 1886) esta fre- guezia de Villa Verde está ecclesiasticamenie unida á de Paçô,— segundo me diz á ultima hora o meu informador. 1100 VIL VIL gança;— 140 da estação do Tua na linha fér- rea do Douro e pela linha férrea do Tua, prestes a coneluir-se;— 279 do Porto, pelas linhas férreas do Tua e do Douro,— e 616 de Lisboa. Comprehende esta freguezia apenas a po- voação de Villa Verde, 1 séde da parochia,— e a de Prada, parochia extincta e sua anne- xa, cujo orago foi Nossa Senhora da Nati- vidade e ainda se venera na sua velha ma- triz, pequeno e pobre templo de uma só na- ve, hoje em grande abandono. A egreja matriz de Villa Verde é também de uma só nave e templo bastante singelo, mas bem conservado, com altar-mór, 2 col- lateraes e bons paramentos e alfaias. A povoação de Villa Verde dista da de Prada apenas um kilometro. Passa n'esta freguezia a estrada districtal a macadam, n.° 37, de Vinhaes a Bragança, concluída em 1883 e servida por diligen- cias. Freguezias limitrophes:— Paço a. leste;— Vinhaes a S. e O;— e Travanca a N. Producções dominantes:— cereaes, bata- tas e castanhas. Também cria bastante gado de todas as espécies— e os seus montes abun- dam em caça miúda— lebres, eoelhos e per- dizes,—e em caça grossa:— javalis, lobos e raposas. Também colheu bastante vinho, antes da phylloxera destroçar os seus vinhedos,— e colhe muito bom peixe no rio Tuella. Clima temperado, mais frio do que quente, e chão muito fértil, abundante de excellente agua potável e de rega. O parocho, além do pé d'altar, recebe réis 1001000 de côngrua em dinheiro e as offer- tas: e um alqueire (17 litros) de centeio de cada fogo. Os habitantes d*esta freguezia são muito laboriosos. Nunca foi villa, mas gosou dos foraes que D. Manuel e D. Diniz deram á villa de Paço ou Paçô, indicada supra, a cujo termo per- tencia. i É também denominada Villa Verde de Vez, ou de Vinhaes. Ao sr. Emiliano Antonio de Sou9a, vene- rando ancião de Vinhaes e cavalheiro res- peitabilissimo, agradeço os apontamentos que se dignou enviar-me. VILLA VERDE— quinta das mais impor- tantes no concelho de Mezãofrio, dentro da mimosíssima e fertilissima região denomi- nada coração do Douro. V. Villa Jusã, fre- guezia d'este concelho, na qual e na de Santa Christina de Mezãofrio demora este grande prédio. Foi comprada em 1838 ao 1.° barão de Fornellos pelo 1.° visconde de Villa Verde, que em 1854 d'ella tomou o titulo. Confina com o rio Douro (margem direi- ta) e a sua produeção principal é vinho de feitoria ou de exportação do melhor do Bai- xo Douro; mas produz também bastante azeite e fructa saborosíssima, pois tem muita agua potável e de rega, bons campos e for- mosos pomares de espinho e de caroço. É atravessada ao norte pela estrada real a macadam do Porto á villa da Regoa e tem sobre a dieta estrada, a menos de 1 kilome- tro da Villa de Mezãofrio, uma boa casa com seu jardim e amplas vistas sobre o Douro, dominando grande extensão d'este rio edas suas encantadoras margens desde Mezãofrio até ás proximidades de Lamego, que são um continuado jardim. Desce até á margem do Douro;— ao longo d'elle ó atravessada pela via férrea na ex- tensão de 1:300 metros;— tem uma boa es- trada privativa desde as casas nobres até o Douro— e junto d'este um grande edifício com os armazéns, lagares e outras officinas, mandado fazer em 1839 pelo 1.» visconde de Villa Verde, e que é um dos melhores edi- fícios do paiz vinhateiro, no seu género. Comprehende 6 lagares rectangulares de boa cantaria de granito da lotação de 20 pi- pas cada um;— em nivel inferior, mas con- tíguo aos lagares, está o armazém com ma- gníficos toneis, alguns de 30 e 40 pipas, que por uma boa canalisação recebem o vinho directamente dos lagares,— e tem junto d'es- te armazém outro da lotação de mil pipas. A esta quinta, toda circuitada de altos muros, está unida a das Quiritãs, que prende VIL VIL 1101 com a villa de Mezãofrio e tem sobre a dieta estrada real espaçosa e elegante casa de re- sidência cora capella. Pertencem hoje estas duas quintas ao 2.° visconde de Villa Verde, a qaem foram doa- das com outros bens por sua tia, a 1.» vis- condessa de Villa Verde, em 1864. Constituem estas duas quintas uma das melhores propriedades do Douro. Já produziram 200 pipas de vinho e hoje produzirão 100; ma3 é também importante o seu rendimento em foros, fructa, azeite, cereaes, baga de sabugueiro e canas, sendo estas vendidas para pentes de tear, que no concelho de Rezende se fabricam e d'aíi se exportam para a Hespanha, em grande es- cala. O 1.° visconde de Villa Verde, Custodio Pinheiro da Silva, era natural de Mezãofrio e falleceu em 1863 sem successão. Foi vereador no Porto, onde viveu e casou com D. Joanna Maria da Silva Campeão, tia da l.a baroneza de Fornellos, e irmã do dr Bernardo Campeão, physico-roór do reino, um dos homens a quem mais deve a Escola Medico-Cirurgica do Porto. Era 1851 foi feito barão de Villa Verde, — visconde (1.°) do mesmo titulo em 1854 — e commendador da ordem de Nossa Se- nhora da Conceição em 1853. Em 1864 foi feito 2.° visconde de Villa Verde Fernando da Silva Pereira dos San- tos, natural do Porto, onde nasceu na fre- guezia de Santo Ildefonso, em 23 de junho de 1861, sobrinho da l.a viscondessa do mesmo titulo e hoje (1866) ainda solteiro, bacharel formado em philosophia e em raa- themalica, estudante distincto com as hon- ras de accessit e prémios. É filho do 2.° barão de Fornellos, Fernando Maria Pereira dos Santos, natural de Rezende e morador em Mezãofrio, mas ora residente em Coimbra, onde é governador civil subs- tituto e está.tractando da educação littera- ria dos seus filhos. Foi-lhe dado o noma de Fernando Maria » por terem sido seus padrinhos el-rei D. Fer- VOLUME X nando e sua esposa a rainha D. Maria II, por procuração dada ao bispo do Porto D. Jero- nymo José da Costa Rebello e ao conde de Villa Flor, depois duque da Terceira. É moço fidalgo com exercício no paço, fi- dalgo cavalleiro, guarda-roupa de S. M. o sr. D. Luiz I, e cavalleiro da ordem do Santo Sepulchro. Foi feito barão de Fornellos em 1864 e é , filho do 1.° barão d'este titulo. Nasceu em 7 de maio de 1839; — em 28 cVabril de 1855 casou com D. Emilia Au- gusta Pereira dos Santos, sua prima direita — e d'este consorcio tiveram os filhos se- guintes : — José Augusto, fiscal da contribuição do sello em Braga. —Fernando da Silva Pereira dos Santos, 2.° visconde de Villa Verde. — Alvaro Maria de Fornellos, hoje alumno do 2.° anno jurídico. — Augusto da Silva Pereira de Fornellos. —Albano S. P. Fornellos. — Alberto S. P. Fornellos e —D. Maria Magdalena S. P. Fornellos, to- dos ainda solteiros. O 1.° barão de Fornellos, José Joaquim Pereira dos Santos, tomou o titulo da sua quinta de Fornellos, sita em Anreade, fre- guezia do concelho de Rezende, e que se compõe de vastos prédios rústicos e urba- nos e de um bom palacete brazonado, com capella. Deixou uma fortuna superior a 400 contos de réis. Nasceu na freguezia de Rezende e falle- ceu em 9 de janeiro de 1852. Foi fidalgo cavalleiro, commendador da ordem de Christo,— tenente coronel de um dos batalhões moveis da Beira — e agraciado com o titulo de barão de Fornellos em 15 de agosto de 1851. Teve os filhos seguintes : —D. Emilia da Silva Portugal Correia de Lacerda, hoje viuva do general Frederico j Augusto d'Almeida e Araujo Poríugal Cor- I reia de Lacerda. 1 —D. Guilhermina Julia da Silva Brito e 70 1102 VIL VIL Cunha, hoje viuva de Antonio Bernardo de Brito e Cunha, chefe de serviço da alfande- ga do Porto. —D. Maria José Pereira dos Santos e —D. Virgínia Amélia Pereira dos Santos, ainda solteiras, e — Fernando Maria, o 2° barão de For- nellos. Era muito liberal, bem como seu irmão fr. Joaquim, abbade no convento dos Jeró- nimos de Belém, cónego da Sé de Lisboa e um dos presos políticos que em 1828 a 1833 entulharam as cadeias de Lamego e Vizeu, logrando fugir d'esta ultima, depois de con- demnado á morte! . . . O 1.° barão de Fornellos também obteve por compra o palacete de Saes ou Ossaes1 (V. Rezende, vol. 8.° pag. 160, col. 2 a) hoje de sua filha D. Maria José, ainda solteira, que n'elle vive, senhora primorosamente educada, harpista insigne e tão religiosa que no dicto palacete fez uma linda capella, de- dicada a Nossa Senhora de Lourdes, e mon- tou um Azylo de infância desvalida, onde actualmente (1886) sustenta e educa 20 me- ninas internas e 70 externas. Deus lhe pague em bênçãos tanta cari- dade. O brasão do barão de Forneljos é um es- cudo esquartellado, tendo no superior da di- reita uma cruz de prata florida, em campo carmezim — e no superior da esquerda um leão carmezim, armado de azul e rompente, sobre campo de prata. Assim os contrários — e por timbre uma cruz carmezim, florida e vazia, entre duas azas de águia douradas. VILLA VERDE— villa, freguezia e sede do concelho e da comarca d'este nome, distri- cto e diocese de Braga, província do Minho. Abbadia. Orago S. Paio;— fogos 270,— ha- bitantes 1:115. Em 1706 era abbadia da apresentação do conde de Figueiró, descendente de Mem Ro- 1 Este palacete foi da nobre família Leites, mencionada no art. Mondim da Beira, vol. 5.° pag. 398. Fica assim rectificado o que do dicto pa- lacete disse o meu antecessor no artigo Re- zende. drigues de Vasconcellos, senhor do antigo concelho de Villa Chã, ao qual pertencia esta parochia; — rendia para o abbade réis 150$000— e contava 68 fogos. Em 1768 era abbadia da apresentação dos condes de Villa Nova 'de Portimão, depois marquezes d'Abrantes,— rendia 290$000 rs. — e contava 83 fogos. O censo de 1864 deu-lhe 259 fogos e 1:009 almas— e o de 1878 deu-lhe 246 fogos e 1:013 almas. Comprehende as povoações seguintes: — Villa Verde, séde da parochia, do concelho e da comarca, — Bouça, Egreja, Podome, Quintas, Reguengo, Cagide, Oliveira, Car- valhosa, Fáfias, Monte, Monte de Cima, Cam- po da Feira, Cachada e a quinta da Torre, que foi do conde do Casal. Freguezias limitrophes:— Geme, ao norte; —Barbudo (hoje extincta e annexa á de Para- da) a O.;— Loureira, ao sul— e a leste o rio Homem (margem direita) do qual a povoa- ção de Villa Verde dista 4 1/2 kilometros,— 11 de Braga,— 66 do Porto— e 403 de Lisboa. Corta esta freguezia e a povoação de Villa Verde a estrada real n.° 3 do Porto a Valen- ça do Minho por Braga, Villa Verde, Pico de Regalados, Ponte da Barca, Arcos de Val de Vez, Brejoeira e Monsão, servida por di- ligencias desde Valença até Braga— e de Braga até o Porto substituída pelo caminho de ferro do Minho. Partem da dieta estrada n'esta freguezia dois ramaes:— um é a estrada districtal de Villa Verde a Oriz, — outro é a estrada mu- nicipal de Villa Verde a Pedragaes. Cortam e servem lambem este concelho as seguintes estradas a macadam: —Real n.° 27, de Braga a Ponte de Lima e que atravessa o rio Cavado na grande pon- te do Prado, já descripta sob este titulo, vol. 7.° pag. 652, col. l.a e 655, col. l.a também. —Districtal n.° 5, de Barcellos a Monta- legre, passando pelas freguezias de Soutello, Prado e Cabanelias, todas d'este concelho de Villa Verde. —Districtal, estudada, de Villa Verde á Ponte dos Corvos, a entroncar na real n.° 27, de Braga a Ponte de Lima e Viaana. VIL VIL 110)3 —Municipal, da freguezia de Athães á di- eta estrada real n.° 27, a entroncar no logar de Febros, freguezia da Lage. Tem pois este concelho uma boa rede de estradas novas, que lhe dão muita vida,— e muitas pontes de pedra, entre as quaes avul- tam duas: — a ponte do Prado e a Ponte do Bico Encontra-se esta ponte monumental entre Braga e Villa Verde, na estrada real n.° 3, sobre os dois rios Homem e Cavado, atra- vessando-os poucos metros a montante do sitio em que o 1.° entra e morre no 2.° As duas pontes, que são de bello granito com grandes arcos, ficam muito próximas uma da outra, pois mette-se de permeio ape- nas um pequeno espaço de terreno que ali separa os dois rios, formando um angulo agudo, espécie de bico, pertencente á fre- guezia que d'elle (bem como a grande pon- te) tomou o nome de Bico, e é do concelho de Amares. As duas pontes simulam uma só, porque ficaram em linha recta com guardas inin- terruptas de granito desde a extremidade da avenida direita do rio Homem até á extre- midade da avenida esquerda do Cavado. De um ao outro dos dictos ponctos teem cerca de 600 metros d'ex tensão, comprehen- dendo as quatro avenidas das duas pontes, —os 2 rios— e a lingoeta de terreno que os separa. Ê todo este pittoresco, magestoso e muito vistoso conjuncto denominado Ponte do Bico, que abrange ires concelhos, pois a margem direita do rio Homem pertence ao concelho de Villa Verde,— a margem esquerda do Ca- vado pertence ao concelho de Braga— e a direita do Cavado e a esquerda do Homem pertencem ao concelho de Amares ! . . : Villa Verde, a séde d'esta parochia, d'este concelho e d'esta comarca, é uma povoação muito antiga, alegre, vistosa, bem situada e bem servida por estradas a macadam de to- da a ordem;— tem um bom largo para as suas grandes feiras,— bons estabelecimentos commerciaes e bons edifício^ entre os quaes avultam os seus novos e magestosos paços do concelho;— é finalmente uma povoação de muita vida e muito importante. Basta rio- tar-se que é a séde de um concelho de 58 freguezias com 7:685 fogos e 31:394 habi- tantes,—séde de uma comarca de 1.» classe, formada pelo concelho de Villa Verde,— pelo de Amares, que tem 24 freguezias com 2:890 fogos e 12:066 habitantes— e pelo de Terras de Bouro com 17 freguezias, 1:886 fogos e 8:205 habitantes, comprehendendo ao todo esta comarca 3 concelhos, 99 fre- guezias e 12:443 fogos com a bagatella de 36:817 habitantes— segundo o recenseamen- to de 1878, mas que hoje devem passar de 50:000!... É pois muito importante esta villa hoje— e mais importante será era praso breve:— mas toda a sua importância data de 1855, ou da creação d'este grande concelho pelo decreto de 24 d'outubro do dicto anno. Até áquella data esta villa pertenceu ao extincto e antiquíssimo concelho de Villa Chã, que soffreu diversas modificações des- de a sua creação até que foi extincto pelo decreto de 24 d'outubro de 1855, passando para este de Villa Verde, com outras mui- tas, as 9 freguezias que o constituíam e eram as seguintes:— esta de Villa Verde e as de S. Miguel e S. Thiago de Carreiras, Doçãos, Nevogilde, Esqueiros, Travassos, Loureira e Barbudo, hoje extincta e annexa á de Pa- rada. Em 1706 já Villa Verde tinha uma im- portante feira no dia 13 de cadamez e sup- pomos que era a séde do concelho de Villa Chã, villa e povoação antiquíssima, outr'ora muito honrada e privilegiada, pois teve fo- ral velJw dado por D. Affonso IH em outu- bro de 1217 \ segundo se lê na Memoria dos Foraes por Franklim, e foral novo, dado por D. Mauuel a 6 d'oulubro de 1514,— emquan- to que hoje a extincta Villa Chã é uma sim- ples aldeia da freguezia de S. Thiago das Carreiras e já nem vestígios conserva dos 1 Aqui ha lapso, parque D. Alfonso IH .reinou de 1248 a 1279. i 1104 VIL VIL paços do concelho nem do seu pelouri- nho. O foral que lhe deu D. Manuel compre- hendia as terras seguintes: — Parada, Bar- budo, hoje parochia extincta e annexa á de Parada, Caos (?)— S. Miguel e S. Thiago de Carreiras, Quintães, hoje aldeia da fregue- zia de S. Thiago de Carreiras, Nevogilde e Sequeiros, hoje a freguezia de Esqueiros. Não mencionava a pobre Villa Verde — nem esta villa teve nunca foral próprio; mas é povoação muito antiga, pois como se disse em Aboim da Nóbrega, vol. l.° pag. 15„ foi da ordem de Malia até 1260, data em que D. Affonso Pires Farinha, prior do Crato, a doou a D. João de Aboim, rico-homem do tempo de D. Affonso III; — e foi também mui- to privilegiada, por ser comprehendida no grande couto das Terras de Nóbrega, como se vè do foral que em 24 d'outubro de 1513 D. Manuel deu á villa de Nóbrega, séde do grande couto, hoje também reduzida a uma simples aldeia da freguezia de Aboim da No- brega, d'este concelho de Villa Verde. Para evitarmos repetições, v. Nóbrega. Este grande concelho actual de Villa Ver- de representa ainda outros muitos além d'a- quelles dois, taes são: 3. °— O de Larim, villa outr'ora muito pri- vilegiada e considerada, pois teve foral pró- prio; mas hoje é também uma pobre aldeia da freguezia de Soutello, margem direita do Cavado, n'este concelho de Villa Verde e não no de Terras de Bouro, como disse por la- pso o meu antecessor no artigo Larim. Está a dieta aldeia de Larim a jusante do sanctuario de Nossa Senhora do Alivio. Este concelho foi extinctoha muito e uni- do ao de Villa Chã, que por isso tomou a denominação de concelho de Villa Chã e La- rim, e também a de Villa Verde, depois que passou para Villa Verde (não sabemos quan- do) a séde do concelho de Villa Chã,— mui- tos annos antes de 1855, data da creação do concelho e da comarca actual de Villa Verde. 4. ° — Concelho do Prado e que tinha por séde a villa d'este nome, hoje simplesmente séde da parochia de Santa Maria do Prado. 5. ° — Concelho de Pico de Regalados e que í tinha por séde avillad'este nome, hojetam- | bem simplesmente séde da freguezia te Pi- co de Regalados, j 6.°— Concelho de Portella das Ccbras, j cuja íéde esteve na villa d'este nome hoje i simples aldeia da' freguezia de S. Sal'ador j de Portella, d'este concelho de Villa "Verde. Comprehendia as parochias de Poitella> Pedragaes, Arcozello, Marrancos, Godnha- ços, Rio Mau e Goães, hoje todas d'estecon- ' celho de Villa Verde ,— e Santo Estevam de Villar, hoje do concelho de Ponte de Lima. V. Portella (a 2.a) vol. 7.° pag. 244, col. l.a— e, aproveitando o ensejo, rectificaremos dois lapsos que ali se encontram: 1. °— Que esta freguezia de Portella, con- celho de Villa Verde, não fica proxina da raia da Galisa, mas muito distante. 2. °— Que o foral d'esta freguezia e d'esle concelho não é o que D. Affonso III deu em 1260 a Portella de F^eitões, simples casal no termo de Vermoim, mas o que D. Manuel deu ao concelho, de que vamos fallar. 7.°— Concelho de Penella, ou de Alberjaria de Penella, na antiga comarca de Vianca, da qual passou para a de Pico de Regalalos e d'esta para o concelho e comarca de Villa Verde. Parece que o concelho de Penella e o de Portella das Cabras foram outr'ora urn e o mesmo, ou místicos, como diz o padre Car- valho;—depois dividir.am-se em dois conce- lhos distinctos;— mais tarde o 1.° absorveu o 2.° e Portella das Cabras ficou sendo á séde do de Penella;— por ultimo este foi também extincto e unido ao actual concelho de Villa Verde com todos os outros supra. Que os dois formavam um e o mesmo nos princípios do século xvi se vê do foral que D. Manuel deu em 1514 ao de Penella, pois ali se mencionam as freguezias que era 1706 pertenciam ao de Portella das Cabras. V. Penella vol. 6.° pag. 615, col. 2.a— e a Chorogr. Port. vol. l.° pag. 343. E que mais tarde o concelho de Portella das Cabras foi extincto e absorvido pelo de Penella se vê do decreto de 24 d'agosto de 1855, pois entre as freguezias que assignou ao actual concelho de Villa Verde, então VIL VIL 11015 criado, se mencionam as do concelho de j Portella das Cabras — como pertencentes ao I concelho de Penella. Representa pois nada menos de oilo con- celhos este de Villa Verde — e a comarca ou- tros muitos I. . . Com vista aos illustrados auetores do Archivo dos Muni- cípios portuguezes. Concelhos limitrophes do actual de Villa Verde: — a S E. Amares e Terras de Bouro, divididos pelo rio Homem— e o de Braga, alem do Cavado, a jusante da foz do rio Ho- mem;—a N. o da Ponte da Barca,— e a O. o de Barcellos. Tem este concelho de Villa Verde: Superfície em hectares 19:674 Prédios inscriptos na matriz 38:750 A sua população jà ficou mencionada supra. Feiras 1. a — Annual em Villa Verde, no dia de Santo Antonio, 13 de junho. 2. a— Annual na mesma villa, a 13 de de- zembro, dia de Santa Luzia. 3. " — Annual em Pico de Regalados nos dias 6, 7 e 8 de novembro. 4. a— Annual em Prado, nos dias 20 e 21 de janeiro. 5. » — Annual em Prado também, nas sex- tas feiras de quaresma. Para gado somente 6. "— Annual na freguezia de Duas Egre- jas, nos dias 11 e 12 de dezembro, denomi- nada feira de Santa Luzia de Penella. Para gado muar e cavallar somente. 7. " — Bi-mensal ou de 15 em 15 dias, em Villa Verde, aos sabbados. 8. " — Bi-mensal também aos sabbados e alternada com a feira supra, no Pico de Re- galados, de 15 em 15 dias. 9. "— Mercado de diversos géneros na fre- guezia de Rio Mau, em todos os domingos j posteriores ás feiras de Villa Verde. Rios, ribeiros e regatos que banham este concelho 1. °— Rio Cavado. 2. ° -Rio Homem, confluente do Cavado. 3. " — Rio Neiva, o Nebis dos romanos. Nasce nas freguezias de Galinhaços e Duas Egrejas e tem 3 pontes de pedra:— uma em Goães, outra nos Corvos e outra em Villar das Almas. D'estes 3 rios já se fallou em artigos pró- prios. 4. °— Regato que nasce em Doçãos e des- agua no Cavado, depois de passar por Ne« vogilde, Moure e Febros, freguezia da La- ge, onde tem uma ponte, — e Prado, onde tem outra ponte. 5. °— Regato que vem de Athães, Pico e Sande e desagua no Homem, entre Sabariz e Villa Verde. Tem uma ponte de pedra em Sabariz, na estrada distriçtal de Villa Verde a Oriz.— e 2 regatos affluentes: — um que nasce em Gondiães,— outro em Moz, no monte do Bor- relho, e na freguezia de Geme desaguam no que vem de Athães. 6. °— O regato que nasce nas faldas do Monte do Castello, em Barbudo, e desagua no rio Homem, na freguezia da Loureira. 7. °— O regato que nasce em Escariz e des- agua no Cavado, em Cabanellas. 8. °— O regato que passa em Oriz, Valbom e Valdreu e desagua no Homem. 9. ° — O ribeiro que passa em Villa Verde e desagua também no rio Homem. É atravessado pela estrada real n.° 3 na ponte de Padóme. São estes os rios e regatos ou ribeiros principaes que banham este concelho. To- dos regam e fertilisam muitos campos, — criam muitas hervagens para engorda de gado bovino — e movem muitos lagares de azeite, moinhos de cereaes e engenhos da serrar madeira. Producções principaes d'esta freguezia e d'este concelho: — milho, vinho, azeite, her- vagens e madeira de pinho. Também prodhi- ! zem muita fructa, centeio, cevada e trigo. I O vinho é verde ou de enforcado, mas 1106 VIL VIL constilue a sua principal riqueza, por ser criado em grandes videiras sobre arvores que orlam os campos e que, alem da póda e da enxofração contra o oidium tulceri, não demandam grangeio especial. Este vinho, denominado rascante, é muito áspero, mas teve sempre amadores e venda fácil na localidade e no Porto, — e hoje, em virtude da grande falta de vinhos em Fran- ça, proveniente da invasão phylloxerica, é exportado também em grande escala, como todo o do Minho, da Beira, da Anadia, da Extremadura e da Bairrada, 1 para França, nomeadamente para Bordéus. Nunca esta província tirou tanto partido do seu rascante, e isso atenua a baixa que nos últimos 2 annos se deu na industria da engorda de gado bovino que exportava em grande quantidade para a iDglaterra. — in- dustria que foi muito importante e muito rendosa para esta província e para a do Douro, nos districtos do Porto e de Aveiro. Decahiu depois que os Estados Unidos da America se incumbiram de abastecer de carne a Inglaterra, como abastecem de algo- dão e cereaes toda a Europa. Feliz nação í. . . Freguezias d'este concelho Aboim, Arcozello, Athães, Atheães, Azões, Barros, Cabanellas, Carreiras (S. Miguel) Carreiras (S. Thiago) Cervães, Codeceda, Coucieiro, Covas, Doçãos, Duas Egrejas, Es- cariz (S. Mamede) Escariz (S. Martinho) Es- queiros, Freiriz, Geme, Goães, Godinhaços, Gomide, Gondiães, Gondomar, Lage, Lanhas, Loureira, Marrancos, Moure, Moz, Nevogilde, Oleiros, Oriz (Santa Marinha) Oriz (S. Mi- guel) Parada e Barbudo, Parada de Gatim, Passo, Pedragaes, Penascaes, Pico de Rega- lados (S. Christovam) Pico de Regalados (S. 1 Os vinhedos de todas estas nossas regiões vinícolas já hoje (1886) estão manchados pela phylloxera e pelas outras muitas doen- ças que perseguem os do Alto Douro, da França, da Hespanha e da Itália; mas é de suppor que os do Minho, por causa da hu- midade do solo e da influencia dos adubos dos campos, rezistam por mais tempo. Paio) Ponte ou Caldellas, Portella, Prado (Santa Maria) Prado (S. Miguel) Ru Mau, Sabariz, Sande, Soutello, Travassos, Turiz» Valbom, Valdreu, Vallòes, Villa Verdi (a sé- de) e Villariuhot Total — 58 — e nem uma annexa a oitra. É um concelho importante, populoso e rico. O censo de 1878 deu- lhe 7:685 f)gos e 31:394 habitantes, mas boje deve jontar cerca de 8:000 fogos e de 35:000 habitan- tes. Pela sua população e riqueza e pehs inti- mas relações que o prendem ao3 de Amares e Terras de Bouro, que formam a grande comarca de Villa Verde ou por assim dizer um todo, são estes tres concelhos os mais desordeiros e revolucionários de todo o nosso paizl . . . Tem havido n'estes 3 concelhos grandes desordens, verdadeiras batalhas, muitas mor- tes e ferimentos, sendo necessário por vezes intervir a força armada, grandes destaca- mentos e batalhões inteiros I E não hesitam em reagir contra a mesma tropa os homens e as mulheres, como succedeu na revolução de 1846 a 1847, na qual as mulheres d'este districto de Braga, nomeadamente as d'estes tres concelhos e dos de Vieira e da Povoa de Lanhoso, tanto se distinguiram, que a di- eta revolução tomou o nome de Maria da Fonte, virago minhota, que se tornou len- dária! Differentes concelhos e freguezias dispu- tam a gloria de lhe terem dado o berço, mas já hoje não se sabe com ceríesa qual foi a sua terra natal i. São também muit® religiosos os habitan- tes d'este concelho, e da sua religiosidade de- 1 Apontamentos para a historia da Revo- lução do Minho em 1846, ou da Maria da Fonte, pelo padre Cazimiro. Braga, 1883, — Maria da Fonte, pelo sr. Camillo Castello Branco, Porto, 1885— e a Historia da Revo- lução da Maria da Fonte, que o sr. Antonio Julio Rodrigues d'Azevedo Coutinho está publicando actualmente em folhetins no jor- nal A Maria da Fonte, da Povoa de Lanhoso. VIL VIL 11(07 ram uma brilhante prova com a peregrina- ção ao sanctuario da Senhora do Sameiro, no dia 2 d'agosto de 1882. Foi organisada em todas as 58 freguezias d'este concelho, calculando-se em 12:000 o numero de fieis, aos quaes em Braga se uni- ram talvez 6:000 da cidade e arredores. Ás 7 horas da manhã, depois de se cele- brarem muitas missas e ministrarem muitas communhões na vasta egreja do Populo, em Braga, seguiu a peregrinação para o Samei- ro, ao som de 4 bandas de musica e dos re- piques dos sinos da cidade. Na frente iam os homens;— depois 3 me- ninos vestidos de branco e um d'elles levan- do uma rica bandeira de seda bordada a ouro. Seguia-se a cruz de prata offerecida á Se- nhora do Sameiro pelos bracarenses e con- duzida por um ecclesiastico, formando alas todos os parochos e ecclesiasticos d'este con- celho com batinas e sobrepelises e fechando as 2 alas o rev. arcypreste de Villa Verde com dois desembargadores da relação archi- episcopal, Depois seguiam-se as mulheres, entoando diversas canções á Virgem. Duas horas gastou o préstito para atra- vessar a cidade. Ás 11 chegaram ao Samei- ro, onde houve missa cantada e sermão. De- pois acamparam no bosque do Bom Jesns do Monte e ahi jantaram ao ar livre sob a ra- magem do arvoredo, retirando em seguida para as suas casas. Foi a peregrinação mais imponente que até àquella data subiu ao monte do Sameiro e, feitas todas as despezas, ainda sobrou réis i:013$100 que a commissão promotora of- fertou ao sanctuario da Virgem. São muito vivas n'estes povos do Minho as crenças religiosas, pelo que uma grande parte das maiores desordens a que se teem abalançado, expondo o sangue e a vida, pro- vieram de bem ou mal entendidas affronta3 ás suas crenças, por não lhes permittirem os enterramentos nas egrejas, obrigando-os a fazerem as inhumações em adros abertos, na falta de cemitérios locaes. Por vezes não foi necessário mais nada para immediatamente subirem aos campa- nários dos sinos da paroehia, onde se dava o conflicto, e tocarem a rebate. O mesmo toque se repetia instantaneamente nas paro- chias circumvisinhas, por serem muito pró- ximas e não haver entre ellas as grandes distancias que se notam em outras provin- das, nomeadamente na do Alemtejo. O povo— homens e mulheres, — acudia lo- go em chusma e arm.ado; as mulheres to- mavam sempre a iniciativa e, — mesmo na presença das auctoridades— tractavam de sepultar o cadáver na egreja. As auctorida- des reclamavam força;— intervinham então os homens — e por vezes a tropa e as aucto- ridades foram de vencida na lucta; mas por vezes também a tropa, quando se achava em força superior, obrigava o povo a ceder» sendo porém raro terminar o conflicto sem fogo, pancadaria, ferimentos e mortes— em ambos os campos 1 . . . Podíamos citar dúzias de conflictos d'esta ordem n'este concelho e nos de Amares, Ter- ras de Bouro, Vieira e Povoa de Lanhoso, mas, para não fatigarmos os leitores, veja-se no artigo Prado, freguezia d'este concelho de Villa Verde (vol. 7.° pag. 653, col. l.a in-fine) a summaria descri pção de uma das taes luctas, que durou dias, e em que o po- vo se bateu com a maior parte do regimento de infanteria n.° 8, ficando mortos tres sol- dados e um paisano— e feridos muitos mais 1 Os templos d'esta paroehia são os seguin- tes: 1. °— A egreja. matriz, bastante arruinada. 2. °— Capella de Santo Antonio, no grande Campo da Feira, a meio da villa, onde se erguem também, do lado sul, os novos e ma- gestosos paços do concelho. É publica. A velha casa da camará d'esta villa, que foi muitos annos a séde do extincto conce- lho de Villa Chã, e do de Villa Chã e Larim, ! depois que o 1.° absorveu o 2.°,— concelho que também se denominou de Villa Verde,1 1 Comprehendia apenas 10 freguezias : Villa Verde, Carreiras (S. Miguel) Carreiras (S. Thiago) Doçãos, Nevogilde, Esqupiiros, Loureira, Parada e Barbudo, Turiz e Sou- 1108 VIL VIL por ter a sede n'esta villa,— já desappareceu. Apenas existe a cadeia. 3.°— A capella de na povoação de Re- guengo. É particular e pertence ao sr. dr. João Antonio de Sepulveda, bem como a bonita casa que se ergue com um pequeno mas elegante jardim, ao norte do grande Campo da Feira. Ha n'esia freguezia de Villa Verde um pe- queno monte, denominado Monte do Reguen- go, em que abuada formoso granito, que d'ali vae para as melhores construcções das circumvisinhanças. Foi outr'ora o dicto monte um medonho covil de salteadores e assassinos!. . . Conde do Casal 1 Entre as pessoas mais notáveis que esta freguezia e este concelho teem produzido, avulta o conde do Casal, que nasceu, ou pelo menos viveu annos, na sua Quinta das Tor- res, sila n'esta freguezia, e que hoje per- tence a Gregorio Machado, escrivão de di- reito d'esia comárea. José de Barros Abreu Sousa e Alvim, ba- rão e depois conde do Casal, nasceu em 3 de novembro de 1796 e assentou praça no regimento de cavallaria de Chaves em feve- reiro de 1806. Estava em Coimbra estudando preparató- rios, quando leve logar a invasão de Junot, pelo que foi mandado recolher ao seu corpo. Em fevereiro de 1811 foi despachado al- feres e assistiu á batalha de Albuera. Acom- panhando o exercito anglo-luso em opera- ções contra os francezes durante a guerra da península, entrou na batalha de Sala- manca; foi promovido ao posto de tenente tello, que eram da comarca de Vianna, da qual por decreto de 28 de fevereiro de 1835 passaram para a de Pico de Regalados, ex- tincta pelo decreto de 24 d'outubro de 1855, data em que se creou este concelho e esta comarca de Villa Verde, absorvendo o con- celho e a comarca de Pico de Regalados, etc. \ 1 Os condes de Villa Verde não pertenciam j a esta Villa Verde do Minho, mas a Villa Verde dos Francos, onde tractaremos d'elles. ! em agosto de 1813 e assistiu ás batalhas de Victoria e dos Pyreneus;— entrou em Fran- ça—e regressou a Portugal no fim da lucta. Foi nomeado capitão em 1815; e fez a cam- panha do Rio da Prata. Pelo seu valor na acção de Toledo, foi nomeado major em abril de 1817— e ficou gravemente ferido no ataque de Durão. Regressou a Portugal em 1824; foi-lhe da- do o commando de cavallaria 12 e com ella teve de seguir de Braga para Bragança. Sendo já tenente coronel em 1826, deu uma carga contra as forças do marquez de Chaves, do qual ficou prisioneiro, sendo con- duzido para Hespanha e depois para Miran- da, d'onde se evadiu com alguns prisionei- ros mais, mas foram encontrados pelos guer- rilhas absolutistas, que de novo os prende- ram, sendo levados para Braga e por fim ou- tra vez para Miranda, d'onde novamente fu- giu, passando o Douro n'uma jangada perto da Barca dAlva. Por ordem do ministério reorganizou o seu antigo regimento e em maio de 1828, sendo nomeado commandante das forças que deviam operar contra o general das armas do Porto, que se havia retirado para as mar- gens do Tâmega e fortificado na ponte de Canavezes, investiu com elle e o desbaratou; seguiu para Penafiel, onde estava Gaspar Teixeira e o obrigou a retirar-se, indo-lhe no alcance até ás abas do Marão. Emigrou com a divisão liberal para a In- glaterra, d'onde passou para a ilha Terceira; regressou a Portugal com a .divisão de D'. Pedro, sendo pouco depois elevado a coro- nel— e em 1833 ao posto de brigadeiro. Por occasião da convenção d'Evora Mon- te, era elle governador da praça de Peniche. Foi eleito deputado pela Extremadura em 1836;— estando em 1837 comroandando a 7." divisão militar, uniu-se ao conde do Bom- fim em Leiria e, depois da acção do Chão da Feira, acompanhou os marechaes até Bilves- tre. Promovido a marechal de campo, em se- tembro d'aquelle mesmo anno pediu a exo- neração do governo 4a praça de Penkhe,— VIL VIL 1109 recolheu-se á sua Quinta das Torres, (Testa freguezia de Villa Verde— e ali permaneceu completamente retirado da vida publica, até que rebentou a revolução popular da sua visinha Maria da Fonte e foi nomeado go- vernador da província de Traz-os-Montes, para combater as tropas da junta revolucio- naria, que se organisou no Porto. Reunindo depois- do golpe de estado de 6 d'outubro as tropas que se haviam conser- vado fieis ao miuisterio cabra) ista, marchou sobre o Porto, mas, tendo em Vallongo co- nhecimento das forças da junta, retirou para Chaves, seguido por Sá da Bandeira, o que deu em resultado a acção de Valpaços, em 15 de novembro de 1846 '. Em seguida marchou novamente sobre o Porto, mas, constando-lhe que Mac Donald estava em Braga, dirigiu-se para ali, occu- pando a cidade depois d'um sanguinolento massacre. Em seguida marchou para Valença e, de- pois d'alguns movimentos em frente das tro- pas do conde das Antas e do barão do Al- margem, entrou na Gallisa por Lobios, — se- guiu pela fronteira até Chaves, e d'ahi por Villa Real e Lamego a juntar-se com o du- que de Sildanha. Pouco depois terminou a revolução da Maria da Fonte pela convenção de Grami- do2 e, sendo tenente general, foi-lhe dado o commando da 3.a divisão militar. N'esta commissão se conservou até á noite de 24 para 25 d'abril de 1851, em que, ten- do logar no Porto o pronunciamento da di- eta divisão era favor do marechal duque de Saldanha,— o conde se retirou do Porto e passou o resto dos seus dias entregue uni- camente aos cuidados da sua casa. Foi feito barão do Casal em 1 de dezem- bro de 1836— e conde do mesmo titulo era 20 de janeiro de 1847. Falleceu em Lisboa no dia 16 d'outubro de 1857. 1 V. Val de Paços, vol. 10.° pag. 75, co- lumna 2." 2 V. Gramido. Torre d' Alvim Houve em tempos muito remotos e não sabemos se haverá ainda hoje n'esta fregue- zia de S. Paio de Villa Verde uma casa e ! torre nobilíssimas, denominadas Casae Tor- J re d? Alvim, das quaes daremos uma ligeira i noticia. José Freire Montarroio Mascarenhas, no seu notável códice Família d? Alvim (anno 1739) de que falia Diogo de Barbosa Macha- do no tomo 2 ° da Bibliotheca Lusitana, diz que a primeira pessoa que teve o cognome de Alvim foi D. Pedro Soares, irmão de D. Mendo Soares, 1.° senhor da villa de Mello, na Serra da Estrella. E tornou aquelle ap- pellido por haver fixado a sua residência na povoação ainda hoje denominada Alvim., per- tencente á freguezia de Santa Marinha da Costa, junto de Guimarães, antigo berço dos seus ascendentes, que das margens do Vi- zella se transferiram para ali. Viveram depois n'esta parochia de S. Paio de Villa Verde em um casal, que doã seus novos habitadores tomou o nome de Alvim, e n'elle fizeram uma torre que tam- bém se denominou Torre d' Alvim. Foi herdeira da principal Casa d' Alvim a condessa D. Leonor d'Alvim, mulher do san- to condestavel D. Nuno Alvares Pereira, cuja filha única e successora D. Beatriz casou com o 1.° duque de Bragança, levando em dote a grande fortuna de seus paes e com ella a dieta Casa d' Alvim, que d'esta forma pas- sou para a sereníssima Casa de Bragança. A representação dos mencionados Alvins passou para a antiquíssima casa de Bordo- nhos, hoje possuída e muito dignamente re- presentada pelo ex.mo sr. D. Ruy Lopes de Sousa d'Alvim e Lemos de Carvalho Vas- concellos, residente na sua casa de Santar, ! junto de Nellas e que á nobresa herdada | allia a nobresa própria, pois é um cavalhei- I ro estimabilissimo, senhor de uma das maio- res fortunas do districto de Vizeu e com- mendador da ordem do Santo Sepulchro, graça raríssima entre nós e que, entre ou- tras prerogativas, confere ao agraciado o tra- ctamento de Dom. 1110 . . VIL VIL V. Antime, Bordonhos, Trofa, Santar, Vil- larelho do Estremo e Pinheiro (quinta, a 2.a) vol. 7.° pag. 49, col. l.a Ao meu illustrado eollega, José dos San- tos Moura, digníssimo abbade de Caíres, agradeço os apontamentos que me enviou para este artigo. VILLA VERDE DE COIDE ou COÍDE,— ou Cuide de Villa Verde, ora go S. Mamede, con- celho da Ponte da Barca. V. Coíde de Villa Verde, vol. 2.° pag. 314 •— e Villa Verde (a 4.») freguezia do conce- lho de Felgueiras, onde rectificamos o lapso de José Avelino d'Almeida no seu Dicciona- rio Abreviado — e de João Maria Baptista na sua Chorographia Moderna, por haver co- piado o diccionario d'Almeida. VILLA VERDE DE FICALHO— ou sim- plesmente Ficalho, — villa e freguezia do con- celho de Serpa, comarca de Moura, no Alem- tejo. Ao que já se disse d'esta parochia no ar- tigo Ficalho (Vide) aeerescentaremos o se- guinte: Em 1708 contava esta villa 50 fogos— e 31 em 1757. O censo de 186i deu-lhe 134 fogos e 573 habitantes;— o de 1878 deu-lhe 156 fogos e 656 habitantes — e, pelos apontamentos que se dignou enviar-me o administrador d'este concelho, conta hoje 167 fogos e 682 habi- tantes. É priorado— e não comprehende povoação alguma além da villa; ha porém no seu ter- mo as quintas e herdades seguintes : 1. " — Quinta de Ficalho, pertencente ao marquez d'este titulo. 2. a— Herdade da Coutada, do mesmo mar- quez também. 'i.a—Herdad^6íFde Lisboa— e 323 do Porto. Tem boas estradas a macadam para Alem- quer, Torres Vedras, Cadaval e Carregado. SSff fts>giraaas êfítrielie^n.* 83, 83 B e 8i. À 1." passa"peíõ meio d'e8Ía villã,--vãê"da estação do Carregado para Cadaval— e tem diligencia diária. Templos 1. °— A egreja matriz, muito antiga e de feia archileclura,— diz o meu informador. 2. ° — Capella da Misericórdia, na qual se venera o Senhor dos Passos, cuja imagem é alvo de grande devoção. Esta capella e a irmandade que a repre- senta datam de 1525, mas dispõe de ténues recursos. Teem hoje apenas Uns pequenos foros em dinheiro e cereaes, que renderão approximadamente 30$000 réis por anno. Não tem hospital, mas somente uma casa, onde alberga os mendigos. 1 Também passa a O. de Villa Verde a li- nha férrea actualmeute em construcção, de Li.sboa á Figueira por Torres Vedras°e Lei- ria, na qual deve ter estação muito mais próxima do que a do Carregado, na linha férrea do norte. V. Vias férreas. VJL 1H5 3."— Capella do Anjo da Guarda, sobre o largo d'este nome a entrada da villa, indo d'Alemquer. Tem festa, feira e romagem, no 3.° do- mingo de julho e pertence aos marquezes d' Angeja. A feira é pouco importante e a única d'es- ta villa hoje. A Chorographia Moderna, co- piando o Diccionario Abreviado de J. A. de Almeida, indica outra feira no dia 21 d'ou- tubro i, mas nos apontamentos que se dignou enviar-me o administrador d'este concelho apenas vejo mencionada a primeira. í.°— Capella de S. Braz. 5 "—Capella de S. Luiz, no Castello, am- bas mencionadas na Chorog. Port. Suppomos que já não existem. 6. °— Capella de Nossa Senhora da Ajuda, na povoação do Avenal. 7. °— Capella de Nossa Senhora do Ampa- ro, na povoação da Rixaldeira. 8. °— Capella de S. Miguel, na povoação de Lapaduças. 9. °— Capella de Nossa Senhora da Salva- ção, em Casaes Gallegos. 10. °— Capella de Santa Barbara, na po- voação da Portel la. Em todas estas povoações houve capel- lães que celebravam missa nos domingos e dias santos, quando o clero não rareava tanto, como hoje infelizmente rareia. A nomeação d'estes capellâes era feita pelo prior de Villa Verde e confirmada pelo vi- gário geral do patriarchado, sendo preferi- dos sempre os beneficiados da villa; mas pagavam-lhes os differentes povos. Banha esta freguezia e esta villa um ri- beiro que corre de N.E. a S.O.— passa ao sul d'esta villa na direcção E.O.;— em se- guida toma a de S E. a N O.;— volve outra vez de N.E. a S.O.;— vae á freguezia de Ade Cunhados, onde recebe outro ribeiro que vem das proximidades de Torres Vedras; forma com elle a ribeira d'Aleabriclie— e desagua no mar, cerca de 10 kilometros a N. 1 Já em 1675 a Poblacion G, de Espana mencioupu a dieta feira. 1116 VIL da foz do rio Sizandro. O seu percurso to- tal approxima-se de 25 kilomelros '. Nos limites d'esta freguezia é atravessado por duas pontes:— urna no sitio dos Linhoes. para passagem da estrada distnctal n.° 83, — e outra do sitio do Caes, para serventia da parochia de Maxial, pertencente ao con- celho de Torres Vedras. Junto de Villa Verde move uma azenha, que tem um nome sijmpathico. É denomi- nada Azenha do Inferno ! . . . Producções dominantes:— vinho e cereaes, Também produz algum azeite e fructa. Pessoas notáveis O palácio (hoje em ruinas) que foi solar dos morgados, depois senhores e condes d'esta villa, hoje representados pelos mar- quezes d'Augeja, deu o berço a muitas pes- soas distinctas pelo nascimento, pelas armas e pelas ieltras; mas, para não fatigarmos os leitores, mencionaremos apenas— D. Manuel de Noronha. Nasceu no dicto palácio em 1594 e falle- ceu em Lisboa ein 1671, contando 77 annos de idade. Primeiramente vestiu a roupeta de jesuíta; — depois seculai isou-se e foi prior na fre- guezia da Castanheira, n'esta de Villa Verde e em uma das de Torres Vedras,— prior-mór na ordem de S. Thiago, bispo eleito de Vi- zeu, reitor e reformador da Universidade de Coimbra e bispo da mesma cidade, não che- gando a tomar posse, porque a morte o sur- prehendeu. Era homem muito illustrado, posto que tiuha somente a graduação de mestre em ar- tes pela Universidade d'Evora. D'ahi lhe provieram os desgostos e o mau acolhimento que recebeu do corpo calhedratico de Coim- bra, quando foi nomeado reitor, como pôde ver- se nas Revelações e Memorias do sr. Si- mão José da Luz Soriano, pag. 279. É auctor de differentes publicações, indi- cadas por Innocencio. i Também algumas aguas d'esta freguezia pendem para leste e dão principio ao rio de Alemquer, que desagua no Tejo, a distancia de 30 kilometros de Villa Verde para S. E. VIL I Nasceu lambem n'esta parochia, na po- I voação da Portella, pelos fins do século xvii, o rev. Manuel Nobre Pereira, que foi dr. de capello e lente de cânones, cónego e vigário capitular em Coimbra. D. Paulo de Palacio I ! Nasceu em Granada, mas viveu em Por- tugal e falleceu n'esta freguezia D. Paulo de Palacio, homem virtuosíssimo e de superior illustração. Veiu em 1525 para Portugal com a rainha D. Catbarina (filha de Filippe I de Hespanha e mulher do nosso rei D. João III) a qual o nomeou seu esmoler. Doutorou-se em theo- logia pela Universidade de Évora; — foi lente de Escripiura Sagrada na de Coimbra— e pregador do cardeal-rei que, vendo-ó de- crépito e desejando suavisar lhe a velhice, o nomeou prior da freguezia da Ventosa, lam- bem cVeste concelho d' Alemquer, beneficio de 1." ordem n'aquelle tempo; 1 mas tão vir- tuoso e tão despido de iuteresses e de am- bições era D. Paulo, que, vagando por essa occasião esta egreja de Villa Verde, para ella se transferiu, por ser muito menos rendosa; — n'ella foi parocho dois annos, até 4 d'abril de 1582, data do seu fallecirnento,— e n'esse pequeno período restaurou á sua custa a egreja matriz. Jaz na capella-mór da dieta egreja, do la- do da epistola, em cuja sepultura o seu ve- lho amigo e admirador D. Francisco Cano, depois bispo do Algarve2 mandou abrir esta inscripção : 1 V. Ventosa, vol. 10.° pag. 280, col. i.« e seguintes. 2 Eram ambos hespanhoes. Foram contem- porâneos em Salamanca e tão amigos que, achando -se D. Paulo em Évora, frequentan- do a Universidade, D. Francisco Cauo veiu de Hespanha ali só para o cumprimentar, em 1558, e tanto se affeiçoou a Portugal que não voltou para a Hespanha. Era perito em diversas lingoas, muito il- lustrado e muito virtuoso; foi parocho em I Monforte de Rio Livre, pregador régio, es- ! moler da rainha D. Catharina e por ella tão estimado e considerado que não só o encar- regou de escrever-Ihe o testamento, mas o nomeou um dos seus testamenteiros! VIL VIL 1117 Aqui jaz o Doctor Paulo de Palacio, natural de Granada, Esmoler da Rainha D. Catharina, Pregador do Cardeal D. Henrique, Cathsuratico de Thrologia, & Prior que foi desta Igreja. Falleceo a 4 de Abril de 1582 Escreveu a Suma Gaetana, indicada por Innocencio, — e dois tomos in Matheum: o i.° exproprio marte, imprimíu-se em Coimbra em 1564, como diz Iuoocencio, — o 2.° ex mente Sanlorum, Dão fui impresso, ma3 dV lie faz menção no seu testamento, cujo original se guarduu no archivo d'esta egreja de Villa Verde. Tinha o dieto testamento a data de 1579 (era ainda então prior da Ventosa) e nVlle, entre outras verbas pias, deixou a sua livra- ria ao convento da Vizitação d'esta fregue- zia de Villa Verde e um escràvo á compa- nhia de Jesus: *Mãdo que mi esclavo Alvaro sirva siem- pre a los Padres de la Companhia d'Ebora, lo qual ago assi por agradecimiento de me aver hecho los Padres delia en ella Doíor, como por assegurar a la salvacion dei dicho mi esclavo. El qual pues hasta aqui ha sido hombre de bien, allá com los dichos Padres le será mejor. Pero no poderão vendei lo, ni allieiíarlo, porque mi voluntad es, que entre ellos se salve, &. 1 » Antiguidades d'esta villa e seus foraes Demora esta povoação nas faldas da serra de Monte Junto, em sitio alto, saudável e fér- til, e suppomos que o seu chão foi occupado pelos mouros e pelos povos que anterior- 1 Agiol. Lusit. tomo 2.° pag. 426,— f. — e Cathalogo dos Bispos do Algarve por João Baptista S. Lopes, pag. 364 e seg. VOLUME X mente occuparam esta península, mas não temos noticia alguma d'esia povoação antes do século xii. D. Alfonso Henriques a deu a D. Alardo, capitão francez, em remuneração dos servi- ços que lhe prestou na conquista de Lis- boa. D. Alardo a povoou, ou repovoou, com os seus fraucos, pelo que se denomina Villa Verde dos Francos, e no anno de 1160 lhe deu foral, que foi confirmado em Santarém, no mez de março de 1218, por D. Sancho 1. D. Duarte o coufirmou 2.a vez ero Setúbal, a 14 de novembro de 1435, — e D. Mauuel lhe deu foral novo em LUbua, no dia primeiro d'outubro de 1513. São estes 03 foraes que se encontram na Memoria de Franklim, mas alguém cita um outro, dado por D. Affonso IH em 125o. É pois Villa Verde povoação muilo antiga. Foi villa e concelho, formado unicamente por esta parochia, até 1837, data em que foi supprimido e annexado ao de Aldeia Gallega da Merceana; — e por decreto de 2't doutu- bro de 1855 passou com o dicto concelho da M^rceanna para o concelho e comarca de Alemquer. Anteriormente pertencia á co- marca de Torres Vedras. Os seus amigos paços do concelho e a ca- deia nada tinham de notáveis e são hoje pro- priedade particular. Ha no limite d'esta parochia um monte bastante alto, denominado Serra da Neve. Na matriz predial d'esta parochia, relativa ao anno de 1883, foram inscriptos 273 pré- dios urbanos e 1681 prédios rústicos com o rendimento collectavel de 6:859$000 réis. Tem uma aula oíhVial d'instrucção prima- ria para o sexo masculino. Esta villa nunea foi murada, mas teve pa- ra sua defesa um eastello, do qual hoje ape- nas se vêem as ruinas em um monte de pe- quena elevação fronteiro á villa e a pequena distancia dVJIa. Dizem ser fundação de D. Alardo; — i/elle houve uma Capella, dedica- da a S. Luiz — e outra a S. João Baptista, cuja imagem se vê hoje no altar-mór da egreja paruchial. Suppomos que eram sim- ples oratórios, ou nichos. 71 1118 VIL Gados Em 1869 esta freguezia criava o gado se- guinte : Espécies Cabeças Valores 13 171*200 8 75*600 18o 633 #600 217 3:195*400 1:452 904*100 591 422^900 71 614*600 2:537 6:017*400 Ainda a egreja matriz Tem altar-mór com as imagens da pa- droeira, de S. Jusé e de S. João Baptista — e 4 collateraes. A imagem da padroeira teve confraria própria, da quat o prior era juiz perpetuo. Em um dos altares se vê a ima- gem do Menino Jesus, que teve também con- fraria e festa no dia 1 de janeiro; — em ou- tro altar se venera a imagem de S. Sebas- tião., que teve também confraria e festa an- nual; — em outro se venerâ Santo Antonio, qqe teve também confraria e festa annual com trezena; — no mesmo altar se venera S. Marcos, que teve lambem confraria e festa própria; — em outro se venera a Senhora do Rosario, que teve também confraria e festa no 1.° dia d'outubro. Da irmandade do Santíssimo eram juizes perpétuos os marquezes d'Angeja, senhores e donatários d'esta vil la, que faziam a festa própria no 3.° domingo de outubro. A festa do orago era a 15 de agosto e ti- nha 50 dias de indulgências. Também houve n'esta egreja uma colle- giada de seis benefh-ios com o rendimento de 80*000 réis cada um, em 1758; mas foi extincta, pasmando as suas rendas para o se- minário patriarchal de Santarém. Ás enormes rendas das muitas mitras, deados, priorados, etc, que accumulou o ce- lebre D. Jorge da Costa, cardeal d'Alpedri- < VIL nka (V.) também pertenceu um dos benefí- cios d'esta collegiada ! . . . Priores O rendimento d'esta egreja é hoje insigni- ficante, mas outr'ora, antes da extincçào dos dízimos, posto que era muito inferior ao da Ventosa, como já dissemos, foi considerável, pelo que teve priores muito distintos. Alem de D. Paulo de Palacios, occorreni- nos os seguiutes : — D. Manuel de Noronha, já mencionado — D. Luiz de Noronha, irmão do autece- dente. — Lucas d'Andrade, homem muito erudito e beneficiado na egreja de S. Nicolau, em Lisboa. Escreveu e publicou differentes obras, in- dicadas por Innocencio. — José de Mattos Henriques, commissario do santo officio, e -Fr. Guilherme Antonio da Costa, egresso da ordem de S. Francisco de Xabregas, on- de professou em 1831, e ultimo guardião do convento de recoletos d'esta villa, do qual adiante fatiaremos. Este illustrado e virtuoso sacerdote foi prior aqui muitos annos. Ainda vivia em 1876 e é possível que viva ainda hoje, mas n'esse caso deve estar decrépito K O convento A distancia de 1:500 metros (approxima- damente) d'esta villa, nas faldas do monte onde se vêem as ruínas do Castello de D. Alardo, mas na pendente opposta, se ergue o extincto convento de Nossa Senhora da Vi- sitação, de Villa Verde, que foi de recoletos franciscanos da província de Xabregas. Demora em sitio ermo e solitário, mas 1 Ainda hoje vivem também dois veneran- ! dos egressos das nossas relações:— o dr. fr. José Caetano Lopes Bandarra, vigário de L( ngroiva, no concelho da Meda— e em S Pedro da Torre, concelho de Valença. Fr João de Santa Bosa Martins, que foi prior no convento beuedictino de Lisboa, hoje palá- cio das cortes, etc. í V. S: Pedro da Torre e Villa Nnne. VIL VIL 1119 pittoresco e muito interessante, com largo . horisonte e amplas vistas para O. e N.O. so- bre os concelhos d'Obidos e Cadaval, até Pe- niche e Bei lengas, no Occeano Atlântico, dis- tantes mais de 40 kilometros t . . . Foi fundado em 15i0 por D. Pedro de No- ronha, donatário de Villa Verde, em uma sua quinta de recreio. Era convento peni- tenciário e por consequência muito austero ! Ainda em 1834, quando foram extinctas as ordens religiosas, era habitado por 13 fra- des, sendo guardião d'elles Fr. Guilherme (ou José Guilherme) Antonio da Costa, que depois, como já dissemos, foi e não sabemos se ainda é, prior d'esta freguezia. Extinctas as ordens religiosas, passou es- te convento para a coròa; depois foi veudi- do a João de Sá Pereira;— por morte d'este passou para o dr. Ayres de Sá Pereira, de Catanhede, e outros herdeiros do finado,— e em agosto de 1873 foi comprado pelo sr. dr. Sebastião José de Carvalho, actual vis- conde de Chaocelleiros, 1.° d'este titulo, par do reino, ex-ministro das obras publicas, etc. K Quando s. ex.a tomou posse d'este con- veuto eslava em completo abandono e era um montão de ruinas, mas de prompto o restaurou e transformou em uma das pri- meiras vivendas d'este concelho. Produzem um lindo effeito a casa com as suas janellas d'ogiva, os terraços com as suas ameias e a sala do capitulo com o seu zimbório e mirante, destacando-se por cima d 'este não vulgar conjuncto a velha torre da egreja com a sua cor enegrecida pelo bater dos séculos. A cerca é vasta, abundante d'agua deli- ciosa e bem murada. Teve frondoso arvore- do secular, que os vândalos dVste século destruíram, mas ainda conserva junto do muro da cerca e da estrada que vem de 1 Nasceu na quinta do Rocio, freguezia da Ventosa, u'este concelho, mas é oriundo da província de Traz-os- Montes e tomou o ti- tulo da sua bella casa e quinta de Chancel- leitos, freguezia de Covas, concelho de Sa- brosa, no Alto Douro. Villa Verde um pimViro collossal, que se avista a grande distancia de um e outro la- do da serra de Monte Junto. É o gigante da montanha e lembra os seus affios do Bus- saco. Também na cerca se vê e admira um for- moso tanque de 73 palmos de comprimento, 22 de largura e H de profundidade, que foi construído por um guardião nos princípios do ultimo século. A egreja era espaçosa, mas sem luxo ar- chitectonico; linha porem um soberbo retá- bulo na captflla-mór, todo de pedra polidai alva de neve, com embutidos cor de rosa. O altar era de urna, formado por uma pedra só, e junto d'elle se via uma campa com o brasão dos Noronhas e o epitaphio seguinte: Esta sepultura é de D. Pedro dr Noronha, senhor de Villa Verde, o sexto, e pri- meiro do seu nome. 1566. Era a sepultura do benemérito fundador. Não sabemos se os actuaes possuidores e restauradores d'este convénio conservaram e restauraram também a pobre egreja. Senhores d'esta villa O 1> senhor e povoador, ou antes repo- voador, d'esta villa, depois da expulsão dos mouros, de Lisboa e d'estes silios, foi, como já dissemos, D. Alardo; — depois passou para a coroa — e da coroa para os Gomides, Al- buquerques e Noronhas, pela forma se- guinte: 1.°— Gonçalo Lourenço de Gomide. Foi escrivão da puridade de D. João l;— acompanhou-o na tomada de Ceuta — e ali mesmo, em premio dos seus brilhantes fei- tos, o próprio rei o armou cavalleiro e lhe deu o senhorio desta villa. de jure e herda- de. 2 0 — João Gonçalves de Gomide, filho do antecedente. Foi 2.° senhor d'esta villa e aleaUle-mór de Leiria, Óbidos e Alem quer. Cas. u com D. Leonor dIAlbuqusrqne e, passados annos, i matou-a, p lo qu.> foi degoJlado. 1120 VIL VIL 3. °— Gonçalo d'Albuquerque, filho do an- tecedente. Depois do trágico fim de seu pae, elle (bem coroo seus irmãos e descendentes) to- mou o appellido materno, deixando o de Gomide; casou com D. Leonor de Menezes, filha do conde d'Atouguia,— e d'este consor- cio teve, entre outros filhos, o grande Af- fonso d'Albuquerque, famoso Vice-Rei da índia. 4. °— Fernão d'Albuquerqup, filho primo- génito de Gonçalo de Albuquerque. 5. " — D. Martinho de Noronha, genro do antecedente e 3.° neto de D. Henrique de Castella. Fallecendo Fernão d'Albuquerque sem successão masculina, passou o senhorio de Villa Verde á filha D. Guiomar, e pelo casa- mento d'esta com D. Martinho de Noronha, passou para os Noronhas o senhorio d'esta villa. 6. ° — D. Pedro de Noronha, filho do ante- cedente. Foi veador da rainha D. Calharina, mu- lher de D. João III. 7. °— D. Pedro de Noronha, filho do ante- cedente. 8. °— D. Francisco Luiz de Noronha, filho do antecedente. 9. °— D. Pedro de Noronha, filho do ante- cedente. 10 °— D. Francisco Luiz de Noronha, filho do antecedente. Falleceu sem filhos, pelo que lhe succe- deu seu irmão: 11. °— D. Vasco de Noronha. Falleceu também sem filhos, pelo que lhe succedeu seu irmão: 12. ° — D. Antonio de Noronha. Foi feito conde de Villa Verde, o 1.° d'este titulo, por carta de lei de 10 de dezembro de 1654. 13. ° — D. Pedro Antonio de Noronha, 2.° conde de Villa Verde, nasceu em 13 de ju- nho de 1661, e em 1693, contando apenas 32 annos, foi nomeado vice-rei da Índia e foi um dos vice- reis mais beneméritos. Desem- penhou depois altos cargos com a maior dis- tincção, pelo que em 1714 foi agraciado com o titulo de marquez d'Angeja. Falleceu em 1731. 14. °— D. Antonio de Noronha, 3> conde e 14.° senhor de Villa Verde e 2.° marquez ! d'AngHja, filho do antecedente Foi mestre de campo general e governa- dor da província do Minho, onde falleceu (em Vianna do Castello) no dia 18 de julho de 1735. 15. °— D. Pedro José de Noronha. IV con- de e XV senhor de Villa Verde e III mar- quez d'Angeja, filho do autecedente. 16. " — D. Antonio José Xavier de Noro- nha. Nasceu em Vianna do Minho em 1 de ou- tubro de 1736 e, foi IV marquez d'Angeja, V conde, XVI senhor de Villa Verde, etc. 17. ° — D. Pedro José de Noronha e Camões. Foi V marquez d'Angpja, VI conde, XVII senhor de Villa Verd.-, etc. 18. °~D. João de Noronha Camões de Al- buquerque S . usa Moniz. Foi VI marquez d'Angeja, VII conde e XVIII senhor de Villa V-rde, gentil homem da camará de D. João VI, par do reino, te- nente general, grào-cruz das ordens da Tor- re e Espada. S. Bento d'Aviz e N. S. da Con- ceição de Villa Viçosa, etc Teve a cruz da guerra peninsular, de quatro campanhas, e as medalhas do Bussaco, Albuera, Ciudad Rodrigo, Badajoz e Salamanca, e a medalha hespanhola de Albu-ra. Nasceu em 21 d'abril de 1788 e falleceu em 23 de junho de 1827, contando apenas 39 annos de edade; — casou 3 vezes, mas não deixou successão, pelo que lhe succedeu o seu parente. . 1 19. " — D. Caetano d'Almeida e Noronha Portugal Camões de Albuquerque Moniz e Sousa, conde de Peniche, 7.* marquez d'An- geja, 8.° cond'i e 19.° senhor de Villa Ver- de, etc. Falleceu no dia 2 de julho de 1881. Ha muito que foram extinctos os privilé- gios dos donatários, mas alem d'esses privi- légios tinham n'esta parochia os morgados e senhores d'e»ta villa muitas terras que 1 V. Loronha e Peniche, vol. 6.° pag. 621 e seg. VIL VIL 1121 emprazaram, pelo que ainda hoje os herdei- ros e representantes dos marquezes d'An- geja, condas de Peniche e Villa Verde, aqui possuem muitos furos e são os senhorios di- rectos de grande parte dVsta fregu^zia. Também aqui possuem um antigo palácio que foi durante séculos residência senhorial e o maior foco de villa dVsta povoação. É um edifício muito solido, irregular, in- completo e já em ruínas, com uma grande cerca, povoada de arvores magestosas. Tem um quarto digno de veneração, denominado gabinete do conde, por ter sido do vice-rei da índia D. Pedro Antonio de Noronha, 2.° conde e XII senhor desta villa. O teclo é apainelado e dividido em quadros represen- tando os feitos praticados por D. Pedro na índia, e em redor dos differentes quadros se lêem os nomes dos capitães que se acharam com elle n'aquellas emprezas. É pois o tecto do diclo quarto uma inte- ressante pagina da nossa historia. Em frente do palácio e junto de uma fonte antiquíssima se vê um magestoso ulmeiro, á sombra do qual os nobres condes e senho- res d'esta villa se abrigaram muitas vezes e deram audiência aos seus vassallos. Atravessa hoje e-te terreiro a nova estra- da a macadam do Carregado e Alemquerao Cadaval, servida por diligencias e que veiu amparar na decrepitude tão histórico e de- cadente povoado. Belrotpecto Segundo a tradição, esta villa já contou mais de 600 fogos e de 1:400 habitantes, mas uma peste fatal, em época de que não existe memoria autheniíra, depois de aniquilar a maior parte dos seus moradores, obrigou os restantes, bem como os da villa de Torres Vedras e d'outras povoações circumvisinhas, a procurarem refugio nos ermos, onde acamparam e fundaram as povoações de Cabanas de Torres, Cabanas de Chã, Abri- gada e outras no termo actual d'este conce- lho. Ainda hoje attestam a grande cataslrophe as numerosas o>sadas que trivialmente se encontram n'esta villa e nos seus arrabaldes em qualquer exeavação. A pobre Villa Verde ficou quasi deserta e não mais se restabeleceu! Ainda lhe iusufflaram alguma vida a re- sidência temporária dos seus donatários ea presença das auetoridades do seu munici- pio, «mas pouco a pouco os nossos fidalgos desampararam as suas terras em procura dos vícios e dissipações da corte1, e Villa Verde. . . perdendo o alento que á sua resi- dência lhe dava, começou a vegetar, até que em 1854 perdendo o ultimo vestígio do ca- racter municipal, tomou a posição inferior que hoje oecupa.» Também soffreu muito com a guerra pe- ninsular, nomeadamente desde outubro de 1810, data em que Massena acampou com os seus 80.000 homens em frente das linhas de Torres Vedras, tão próximas d'e.»la villa, talando e saqueando até grande distancia todas as povoações ao norte das menciona- das linhas, até que em março de 1811 bateu em retirada para a Hespanha 2 Em 1863 achava-se esta villa reduzida a 71 habitações! . . . «Por todos os lados ruinas de casas, par- dieiros e muros de-mioronados, indicam ao passageiro a grandeza que já lá vae» — diz a Memoria de Alemquer,— mas hoje, feliz- mente, as novas estradas a macadam prin- cipiam a dar-lhe outro aspecto. Foral de D. Alardo Na citada memoria de Alemquer se en- contra textualmente este foral. É muito in- teressante, mas para não fatigarmos os lei- tores, apenas tiraremos d'elle alguns tópi- cos: «... pela morte de um homem 1:000 sol- dos;-..por um olho, uma mão ou um pé 500 soldos;. . . quem matar um homem, e o sobredito dinheiro não poder pagar, será enforcado. 1 V. Alemquer e o seu concelho, pelo sr. Guilherme João Carlos Henr iques,— trabalho muito consciencioso e muito interessante para a historia e topographia d'esta villa e (Teste concelho. 2 V. Torres Vedras, Bussaco e Gojim. 1122 VIL VIL «Pelo ferimento do dedo pollegar 200 sol- dos; sendo de outro dedo, 100 soldos. «Por um dente 3 maravedis. «Se um homem ferir alguém, dará por Cida pollegada da fenda 6 soldos. «Se um homem empancar outro, dará 12 soldos. «Qualquer homem que bater n'outro com a mão aberta, ou fechada, ou com o pé, por cada pancada dará 6 soldos. «O filho que não fòr legitimo não herda- rá nada do pae. «ire alguém consentir que outrem cultive a sua herdade sem protesto durante um an- uo e dia, não a poderá reivindicar. «Pelas medidas falsas 5 soldos. «Ninguém poderá comprar herdades em Villa Verde senão francos. «Se a franca (franceza) casar com o fran- co, terão foro em tudo, como os francos.» Via-se, pois, que D. Alardo não prohibia, mas dificultava o casamento das filhas da sua colónia com indivíduos estranhos. Foral de D. Manuel 1 (extracto) Por composição entre o senhorio eos ha- bitantes d'esta villa, ficaram elles obrigados a pagar-lhe somente uma colheita ou jantar em cada anno das coisas seguintes: — de tri- go 10 alqueires, de cevada 6 moios, de vinho 48 almudes, tudo pago a dinheiro pelo preço corrente no 1.° dia de maio, — e mais: «ma vacca ou 600 réis, — 7 gallinhas, ou 140 réis» — 2 porcos, ou 600 réis por ambos, — 7 car- neiros ou 60 léis por cada um, — 6 cabritos, ou 17 réis por peça,— 7 leitões ou 24 réis por cabeça, — 200 ovos ou 70 réis por todos, — 1 alqueire de farinha, ou 30 réis,— 1 al- queire de mel, ou 160 réis,— 1 alqueire de manteiga, ou 320 réis,— 2 restes d'alhos e 2 de cebollas, ou 30 réis, — 1 vara de bragal. ou 10 réis, — e 12 vasos de páo, ou 18 réis, N'este concelho d'Alemquer o preço me- i dio dos géneros n'aquella data era o se- guinte: 1 De 1 d'outubro de 1513. 1 alqueire de trigo 2o réis 1 » de cevada 18 » 1 » de centeio 12 » 1 » de milho 12 » 1 tonel de vinho branco de em- barque 2$000 réis 1 almude de vinho tinto, que não era de embarque 35" » 1 alqueire d'azeite 74 » 1 cabrito ou cordeiro 27 » 1 pato 20 » 1 frango 11 ► Pesos e medidas Outr'ora em quasi todos os nossos conce- lhos eram differentes os pesos e medidas e regulados por padrões peculiares a cada um dos concelhos. DYste de Villa Verde ainda ha pouco se couservavam na casa da cama- rá d'Alemquer os seus antigos padrões. Não sabemos se já se evaporaram, mas eram lu- xuosos e valiosos, muito dignos de se archi- varem no Museu Areheologico do Carmo J. O padrão dos pesos (diz uma nota que te- mos presente) era de arroba a l/2 arrátel, «porque já os outros estavam perdidos » Era todo de bronze e tinha na circumfe- rencia da arroba a legenda seguinte: Me mando fazere dom Emmanuel Rei de Portugal. Ano de 1498. O da medida de grãos era de alqueire a meia oitava, lodo também de bronze lavra- do, em fórma de cubos, tendo de um lado as armas portuguezas e do outro esta legenda: SEBASTIANUS I. R. P. REGNIOR. SUOR Mensuras aquavit. Ano MDLXXV. Em vulgar : • D. Sebastião I, rei de Portugal, igualou as medidas dos seus reinos no anno de 1375.. O padrão dos líquidos era de almude a meio quartilho, todo lambem de bronze la- i V. Lisboa, vol. 4 « pag. 265, col. 2." VIL VIL 1123 vrado, e tiuha janto da bocca armas e ins- cripções como as indicadas supra, mas corn a data de 1576. A vara e o covado eram de ferro. Chamamos para estes for- mo>os padrões e para o quar- to ou gabinete do conde a at- tenção do sr. Joaquim Possido- nio Narciso da Silva, benemé- rito fundador e presidente da Real Associação dos Archite- tos Civis e Archeologos Portu- guezes, da qual temos a honra de ser o mais obscuro sócio. Fecharemos este tópico mencionando ou- tros padrões, muito differentes:— são os marcos de pedra que os senhorios d'este concelho de Villa Verde mandaram collocar em toda a circumferencia d'elle, para evita- rem questões com os concelhos visinhos. Ainda hoje muitos d'aqu^lKs marcos se vêem for mando a linha divisória entre esta iieguezia e as limitrophes, pois o extincto concelho de Villa Verde comprehendia esta parochia somente. VILLA VERDE DA RAIA— aldeia do con- celho de Chaves em Traz-os-Montes, junto da raia da H^spanha, pels que os seus ha- bitantes exploram escandalosamente .a in- dustria do conirabando. Em outubro de 1885 achava-se ali um posto do cordão sanitário, que o nosso go- verno, como já dissemos nos artigos Villa Real de Santo Antonio e Villa Real de Traz- vs-Monles, estabeleceu em volta de todo o nosso paiz para suster a marcha do cholera morbus, que estava assolando a Hespanba, como assolou em 1884. Bom diuheiro despendemos no cordão, mas felizmente o cholera poupou-nos até hoje (abril de 1886) tendo feito em Hespa- nha milhares de viclimas ! . . . No dia 8 do dicto mez um dos soldados do cordão denunciou ao chefe d'aquelle pos- to um cabo de infanteria 19. por haver pas- sado certo contrabando. Foi chamado á pre- sença do chefe e, indo a meio caminho com o dicto soldado, lembrando-se de que este seria o denunciante, deu-lhe um tiro á quei- ma-roupa, varaudo-o de lado a lado e ma- tando o instantaneamente. Depois internou-se na Hespanha. VILLA VERDINHO ou VILLAVERDINHO, — parochia extincta, hoje simples aldeia da freguezia de Cedães, concelho e comarca de Mirandella, bispado e dislricto de Bragança. Em 1706 cantava 14 fogos;— era curato da apresentação do reitor de Mirandella— e per- tencia a uma das 6 commendas d'esta villa. A mesma parochia de Cedães, que hoje (1886) conta 143 fogos e 615 habitantes, comprehende também a povoação de Val de Lobo, que foi outro curato da mesma apre- sentação, pertencente ás mencionadas com- mendas., e tinha n'aquella data 26 fogos. Fica assim rectificado o que disse o meu benemérito autecessor no artigo Val de Lo- bo, vol 10.° pag. 54, col 2.a Villaverdiuho é corrupção de Villa Ver- dinha, diminutivo de Villa Verde. V. Cedães. VILLA VIÇOSA,— Corte da Sereníssima Casa e Estado de Bragança, actualmente simples villa, sede do concelho do seu nome, comarca d'Extrsmoz, dUtricto e arcebispa- do d Évora na província do Alemtejo. Demora na altura de 38°, 511 de latitude N.— e Io, 30' de longitude E., pelo meridiano dé Lisboa, em um lindo, ameno e sempre viçoso valle, abrigado a oeste pela pequena serra de Borba e regado por muitas fontes que derivam da mesma serra. D'ahi o titulo de Viçosa, cuja propriedade ninguém lhe contesta. Appellamos para os que já vizitassem, co- mo nós vizitámos, esta villa e subissem, co- mo nós subimos, aos muros do seu castello no mez de maio, ao raiar do sol e ao cahir da tarde. Tudo em volta até grande distancia era um amplo tapete de luxuosa vegetação e, sendo para nós esta villa inteiramente estra- nha, e lendo sido creados no mimosíssimo e fertilissimo cantão por justos títulos de- nominado coração do Douro, 1 no vasto tri- 1 V. Miragaya, vol. 5.° pag. 250, col. 1.» — Villa Jusã, vol. !.• pag. 770, col. 2.a— Corvaceira e JP 'ena jóia. 1124 VIL angulo formado por Lamego, Mezãofrio e Villa Real de Traz-os-Muntes,— cantão que cão tem rival em todo o nosso paiz — ficá- mos surprehendidos e muito espontanea- mente dissemos :— Formosa villal Bem me- reces o titulo de Viçosa!.. . Dista 4 kilometros de Borba e 16 de Ex- tremoz para E S. E.,— 2o d'Elvas para O S 0. —50 d'Evora pHo Redondo, para E.NE.,— 170 de Lisboa,- 507 do Porto— e 637 de Va- lença do Minho. A sua estação mais próxima na rede das nossas linhas férreas hoje é a de Extmnoz, para a qual, bem como para a d'EIvas, tem boas estradas a macadam, servidas por dili- gencias. Também tem estradas a macadam, para o Alandroal e para o Redondo. Foi praça de guerra até 1834;— teve voto em cortes com assento no banco 16, dando um só procurador até 1645— e d'abi em deanie dous. André de Rezende na sua obra De Antiqui- talibus Lusitaniae deu a esta villa o nome de Callipole, tirado do grego e que significa villa ou cidade formosa, bella e amena, pelo que os seus habitantes se intitulam callipo- lenses, em vez de villaviçosenses ou villavi- cosanos. Parochias doesta villa São duas:— a matriz, orago Nossa Senho- ra da Conceição do Castello, padroeira do reino, por eleição e resolução das cortes de 1646, — e S. Bartholomeu,— ambas priorados. Até 1834 foram da ordem d'Aviz, como to- das as egrejas dVste concelho, exceptuando uni -amente a capella ducal e real que era exempta ou nullius dioecesis, e a da L*pa, que era do ordinário, ou dos arcebispos d'Evora. A de Nossa Senhora da Conceição tem por limites na villa e a O. exclusive— z rua das Vaqueiras, a de Santo Antonio e o largo da Assaboaria, que peitenrem á freguezia de S. Bartholomeu;— nos subúrbios e coutos confronta a N. com a matriz e Santa Barba- ra de Borba;— a E. com Santo Antonio da Terrugem, do concelho d'Elvas, e S. Romão; —a S. com Santa Catharina de Pardaes,— e VIL a O. com Santa Anna de Bencatel, todas d'este concelho de Villa Viçosa. Conta na villa 348 fogos com 1:258 almas — e nos subúrbios e coutos 65 fogos com 268 almas. Total — 413 fogos e 1:526 al- mas. I Em 1708 contava 500 fogos e 2:050 habi- i t antes. Em 1768 contava 565 fogos e 2:200 habi- tantes. O ceDSo de 186 \ deu-lhe 439 fogos e 1:788 habitantes;— o de 1878 deu-lhe 608 fogos e 1:651 habitantes— e o meu illustra- do e consciencioso informador, mitural d'es- ta villa, deu-lhe 413 fogos e 1:526 habitan- tes!.. . A egreja matriz, de Nossa Senhora da Conceição, demora na almedina, ou villa primitiva, eé um templo espaçoso com tres naves, separadas por dois renques de colu- mnas dóricas. Tem tres pórticos e uma só torre á direila do frontispiíHOj que se ergue sobre um adro amplo, lageado de fino már- more de cores em xadrezes brancos e azues, tendo á esquerda o cemitério parochial, inaugurado em 1839. Este templo, celebre em todo onossopaiz e fóra d'elle pnr ser cabeça da ordem mili- tar de Nossa Senhora da Conceição de Villa Viçosa (da qual temos a honra de ser hu- milde cavalleiro) instiiuida por D. João VI em 1818,— e por ser a casa da padroeira do reino,— foi reedificado pela ordem d'Aviz em 1572 a 1600, á custa dos dízimos e do du- que de Bragança D. Theodosio II, pae d*el- rei D. João IV, que muito beneficiou e me- lhorou também o dicto templo. Commummente diz-se que a egreja primi- tiva foi fundada pelo santo condestavel D. Nuno Alvares Pereira, mas na opinião mais segura a dieta egreja data pelo menos do tempo d'el-rei D. Fernando. O santo con- destavel apenas a reedificou. A padroeira está em um camarim, por baixo da tribuna da capella-mór, fechado com rotulas de prata. Tem um capellão pri- vativo, que diz missa resada em todas as fes- tas da Virgem e cantada por musica de ca- VIL VIL 1125 palia todos os sabbados, exceptuando o de AÍMuia. Duas irmandades ou confrarias promovem o seu culto: — a de Nossa Senhora da Con- ceição do Castello ou dos Officiaes, que só consta de juiz, escrivão c the.^oureiro, — e a dos Escravos da mesma Senhora, que tem 12 mesarios perpétuos, os quaes, a^sim co- mo os 3 sobreditos, — e o prior e benficia- dos d'esta egreja— e os cónegos da capella real — são cavalleiros natos da ordem militar de Nossa Senhora da Conceição de Villa Vi- çosa. O bispo-deão da capeila real era commen- dador da mesma ordem. Ha nVsta egreja somente um jazigo, aliás muito amplo, no pavimento da capella do Santíssimo. Fui feito por Antonio Cabide em 1643 pa- ra si e sua família; extiucta esta, a respe- ctiva irmandade o cedeu aos condes das Galveias, em 1734, e ali pouco depois foi se- pultado o 2.° conde d'aquelle titulo,— Pedro de M-dlo e Castro. Também ali foi sepultado em 1822 o bispo d'01ba, D. Vasco José Lobo. Ha também n'esta parochia as seguintes confrarias:— SS. Saframento, Santo Nome de Jesus, Nossa Senhora do Carmo, S. Pe- dro, S. Jo^é e Santíssima Trindade, que são os oragos doutras tantas capellas. Na matriz ha uma Conta Adriana ou mil- lenaria, benzida em Roma por Paulo Va 15 de janeiro de 1607, diz o meu illustrado in- formador Até à exiincção dos dízimos em 1834 esta parochia era curada por um prior e dois be- neficiados, receb-udo o prior 180 alqueires de trigo e 20$000 réis em dinheiro e os be- neficiados pouco menos. Desfructavam além d'isso um bello olival no sitio dos Coutos, do 1 Na eg^ja do extincto convento de Ca- ria, concelho de Sernancelhe, província da Beira Alta. existe outra Conta Adriana. At- tribuiram-se a estas contas indulgências verdadrimmenre extraordinurias, mas al- guém as taxa de apocriphas ! . . . V. Caria n'este diccionario e no supple-. mento. j qual se apossou a junta de parochia,— e ti- nham também diversas pitanças. Hoje é administiada por um prior com 225*$000 réis de côngrua em derrama,— alem do pé d'altar e dos emolumentos do carto- no — e tem um coadjutor com 75^000 réis de derrama também. Os templos filiaes da matriz eram antiga- mente:—na villa a capella de Nossa Senhora dos Remédios; — nos subúrbios: — S. Bento, S JeroDymo, S. J ão Baptista e S. José do Carrascal, S. Luiz, S. Thiago, S. Domingos, Santo Ildefonso e No-sa Senhora, do Paraíso; — nos coutos: — Santo André (cahida tia mais de 100 annos) S. Marcos e Senhora das Mer- cês em Bencatel. a qual passou para a juris- diccão do parocho de Bencatel em 1839, por accordam do conselho de districto. Do mes- mo modo passou a da Senhora da Lapa a ser filial da dieta matriz em 1834, tendo si- do da apresentação dos arcebispos d'Evora e exempta do padroado d'Aviz. Hoje !>ão também suas filhes as egrejas dos exiinctos conventos de Santo Agostinho. Nossa Senhora da Esperança e Senhora da Piedade, ou Capuchos, por estarem todas na area d'esta parochia. Logo daremos noticia espe- cial d'estes e d'outros templos. Os subúrbios e coutos, pertencentes todos á matriz, constam na metade oriental, — de hortas e pomares com muitos ferragiaes de produção cerealífera, correndo por ali, ao norte, o ribeiro do Beiçudo, — e ao sul o do Rocio, alimentados ambos com as vertentes das fontes da villa. A parte oriental d'esta parochia abunda poisem fructase hortaliças. Na parte occidental os coutos são povoá- dos de oliveiras com vinhas e ferragiaes de permeio. As quintas mais notáveis dos subúrbios são : 1.» — De Peixinhos, fundada por Affonso de Lucena, secretario da duqueza D. Cathari- na, cabeça do morgado instituído por elle em 1611. É hoje de Adolpho de Lima Mayer, negociante de Lisboa. 1126 VIL VIL Foi a melhor casa de campo d'esta villa, superior á da Tapada Heal, dos duques de j Bragança, mas está em ruma?, ha muito!... 2. a— Do Paul, hoje a mais rendosa desta villa. D. João de Faro, lhesoureiro mór da ca- pelia real, a beneficiou e melhorou muito e n'ella fez boas casas nobres, na segunda me- tade do ultimo século; foi lambem muito melhorada u'este século por outro thesou- reiro-mór, Joaquim Cordeiro Galão; dos her- deiros d este passou, já depois de 1854, para o Lespanhol José Maria Alvares, rezideme em Borba, que a beneficiou e melhoro'u mais do que nenhum dos outros possuidores e lhe annexou muitos prédios lirnitrophes. É hoje de André da Ascenção Alvares, filho do mencionado José Maria. 3. a — Quinta da Cebola de Cima. É abundante em laranja e foi muito me- lhorada nos nossos dias pelo medico Riva- ra, seu dono. São também dignas de menção: — a horta do Couteiro-mór e a da Cruz, — a quinta da Saúde, a do Gil e outras muitas que não mencionamos para não fatigarmos os leitores. Também pertence a esta parochia a parte sul da Tapada Real. A outra parte é da fre- guezia de Santa Barbara de Boíba. No ribeiro do Beiçudo ha 4 fabricas de cortumes no sitio dos Pelames e move tam- bém muitos lagares d'azeite e moinhos de aereaes. Ha ainda outro ribeiro chamado do Rocio. Parochia de S. Barlholomeu Esta parochia é toda urbana e cercada de todos os lados pela matriz i; — abrange a parte occidental e moderna da villa — e conta 457 fogos e 1:558 almas,— segundo diz o meu illustrado e consciencioso informador, «aturai d'esta villa. Em 1708 contava 600 fogos e 2:450 habi- tantes. Em 1768 contava 563 fogos e 2:300 habi- tantes. 1 Assim se denomina em Villa Viçosa a freguezia de Nossa Senhora da Conceição do j Castello. O censo de 1864 deu-lhe 476 fogos e I 1:954 habitantes;-- -o de 1878 deu lhe 448 fogos e 1:794 habitantes. Do exposto se vê que esta formosa villa tem decahido muito do seu esplendor dou- tr'ora ! . . . Prosigamos com a descripção da fregue- zia de S. Barlholomeu: Tem somente um prior, que vence de côn- grua 175$000 réis em derrama, alem do pé d'aUar, e 10$G00 réis pela desamortisação da residência; mas até 1834 tinha também dois beneficiados — curas, como os da ma- triz, e com igual estipendio. Os thezoureiros das duas freguezias rece- biam para guisamentos 4 arrobas de cera e 20 almudes de vinho mosto, alem dos ven- cimentos próprios, sendo tudo pago pelo cel- leiro dos dizimos, que era situado na rua do Cambaia. A primitiva egreja d'esta freguezia estava no centro da Praça Nova;— suppõe-se ter sido fundada no século xiv e foi erigida em séde de parochia no roeiado do século xvi, mas poucos annos gosou essa preeminência, por ser velha e de pequenas dimensões. Dizem uns que a mandou demolir o du- que D. Theodosio I, para a reedificar ampla- mente com tres naves e transferir para ella a collegiada d'Ourem, que era do seu pa- droado;— atlribuem outros aquella resolução ao seu filho, o duque D. João I. O certo po- rem é que se deu principio á nova egreja e se levou a construcção das suas paredes até 2 ou 3 metros d'altura, mas parou, por se auzentarem os duques de Bragança para Lisboa. Entretanto foi séde dVsta parochia a egreja de S. Sebastião, no Rocio, da qual pas- sou para a do Espirito Santo, approximada- mente em Í584, por concessão da Misericór- dia e da casa de Bragança, que tinha a posse da capella-mór. Ali se conservou até 19 de fevereiro de 1865, data em que, por mercê da mesma casa de Bragança, se transferiu para a egreja do collegio de <\ João Evan- gelista, acabada em 4604 pelo duque D. j Theodosio II, e por elle destinada para casa < professa de jesuítas. Não ficou porém com- VIL VIL 1127 pletamente acabada, pois ainda hoje aa suas torres cão teem cúpula. Tem a dieta egreja a forma da cruz lati- na,— seis capellas lateraes com outros tan- tos altares— mais dois no arco cruzeiro, alem do allar-mór, — e frontispício elegante e ma- gestoso de bello mármore branco de Montes Claros em galerias com pilastras e cimalhas entre os seu* tres pórticos e janellas supe- riores, ladeado por duas torres. É um templo magnifico dos maiores da vil- la, — e n'elle se acham erectas a coufraria do Santíssimo Sacramento, — outra de Nossa Senhora do Busario — e a congregação de Nossa Senhora do Soccocto. As egrejas filiaes d'esU parochia, compre- hendidas no seu districto, eram: — as de S. Sebastião, Santo Antonio e Santa Luzia — e agora lambem a do extincto convento de Santa Cruz, na qual funecionam desde 1883 as confrarias do Rosario do Espirito Santo e das Almas, que para ella se transferiram espontaneamente. Tem pois esta villa intra-muros 805 fogos com 2:816 almas, contando somente os mo- radores fixos e não o destacamento militar e os hospedes ou iranzeuntes. Calcula-se que tem perdido um terço da sua antiga população, — 1.° com a sahida dos duques de Bragança em 1640, — 2.° com a exiiocção das ordens religiosas da sua co- marca e de differentes institutos, em 1834» — 3.° com a remoção da muita tropa que a guarneceu e que hoje se limita a um simples destacamento. Freguezias ruraes d'este concelho Sào 4:— Bencatel, Pardaes, S. Romão e Ciladas. Bencatel É orago d'esta freguezia SanfAnna. Fo- gos 300,— almas 1:272. Tem uma só aldeia, denominada Bencatel e muiio populosa, pois conta 227 fogos e 926 j alma>l O resto da sua população está dissi- j minada pela ribeira e differentes montes, que ao norte do nosso paiz se denomina- riam aldeias, logarea ou povos e casaes. | Freguezias limitrophes: S. Thiago de Rio de Moinhos a N. O.,— a matriz de Borba a N., — Villa Viçosa a N. E.,— Pardaes a E.,— Alandroal a S. — e Redondo a O. A egreja matriz tem por titular Nossa Se- nhora do Alcance. Foi fundada em 1765 por Bartholomeu Fialho, morador em Villa Vi- çosa, com o fim de se trasladar para ella a parochia de SanfAnna que estava na her- dade do mesmo titulo (SanfAnna)— o que se effectuou em 1770 — e muito concorreu para se augmeutar e regularisar a povoa- ção junto d'ella, em uma extensa, formo- sa e saudável planície, íicando-lhe defronte o manancial da Lagoa. Tem altar-mór, — 4 lateraes — e 2 confra- rias:— a. do Santíssimo e a das Almas. A côngrua do parodio, sob o titulo de bó- io, é de 360 alqueires de trigo e 26 de ce- vada. O thesoureiro tem 140 alqueires de trigo. . Ha n'esta parochia 3 capellas:— S. Pedro e Nossa Senhora das Mercês, contíguas á egreja parochial e místicas, — e Nossa Se- uhora da Madre de Deus, no pateo da quin- ta do mesmo titulo, pertencente aos Masca- reúhas, de Villa Viçosa, mas aforada, ha muito. É hoje seu emphiteuta Miguel João de Azambuja. Conta esta freguezia 19 azenhas na sua ribeira, que é d'aguas nativas, formada pe- las nascentes da lagoa e não pelo olho aná- gua que rebenta perto da ermida de S. Pe- dro, denominado Trincarlo, como disse o meu benemérito antecessor no artigo Ben- catel, posto que muitas vezes se juuta a agua d'este áquella por favor, pois o olho anágua é do Monte d'El-Rei e não concelhio. Os lagares d'azeite são 3. Um d'elles está na azenha do Conde e é movido com a agua d'ella. Ao poente da aldeia de Bencatel, na dis- tancia de 6 kilometros, corre o Lucifécc pa- j ra o Guadiana pelas faldas da serra d'Ossa- i Os moradores de Bencatel viviam quasi I exclusivamente da arriaria, antes da intro- I ducção dos caminhos de ferro no nosso paiz. i Hoje vivem principalmente da agricultura. 1128 VIL VIL Além da quinta da Madre de Deus, ha nVsta parochia a quinta de S. João Baptista* que pertence a Thomé de Sousa Menezes. — a horta tfEl-Rei, de que falia Villas Boas na sua Nobiliarquia, e outras que não mencio- namos para não fatigarmos os leitores. Pardaes O orago d'esta paroelua é Santa Cathari- na d'Alexandria e tem hoje 115 fogos e 495 almas. Freguezias limitrophes:— a matriz de Villa Viçosa a N.,— S. Romão e S. Braz dos Mat- tos a E, — a matriz do Alandroal a S.— e Bencatel a O. É cortada, a meio pela nova estrada dis- trictal a macadam de Villa Viçosa para o Alandroal e que deu muita vida a esta pa- rochia. A egreja matriz está isolada na herdade das Bispas. Apeoas móra juuto d'ella o sa- cristão ! Tem altar-mor, — 3 lateraes, — uma confra- ria das almas— e Dão possue bens nem ren- dimento algum além das esmolas dos fieis. O paiocho tem de bolo 300 alqueires de trigo e 100 de cevada, — e o thezoureiro 60 alqueires de trigo. Consta que a primitiva egreja parochial esteve junto da Aldeia e que nos princípios do século xvn se fundou a egreja actual, transferindo-se para elia em seguida. A população está dispersa por dois dis- trictos principaes denominados— fl/òm*a e Fonte do Soeiro. No 1.° estão os arrabaldes: — Aldeia, Casas Novas e Paços, — nenhum dos quaes excede a 14 fogos;— no 2.° ainda os agrupamentos são menores. Tem esta freguezia, como a de Bencatel, uma ribeira que nasce na Lagoa e morre no Guadiana, atraves?ando a Ireguezia de S. Braz dos Mattos, que é do termo de Jurome- nha. Move n'esta freguezia 16 azenhas, — roais 4 na de S. Braz— e rega e f. rtilisaex- cellentes .quintas e hortas com pomares de laranja da melhor d'este concelho. Entre aquellas quintas merecem espacial ! menção as seguintes: I a— Do dr. Panasco (Bento Dias) do qual tomou o nome por haver sido dono d Vila e tel a beneficiado e melhorado muito, sendo desembargador no tempo dVI-rei D. João V, e tendo sido juiz de foca em Villa Viçosa. Esta quinta é a melhor de iodas 1 . . . 2. a— Dos Paços. Foi de Ruy de Sousa Pereira, aio d'el rei D. João IV, emqnanto duque de Barcellos. 3. "— Dos Infantes. Tem o brasão dos mpsmos no pórtico e em plano inferior esta inscripção : Quinta dos Infantes, Fidalgos da Casa de S. M. Estes infantes procediam de Jeronymo In- fante d'Assa. que serviu na guerra da res- tauração. Casou em Villa Viçosa e teve descendên- cia, que se extinguiu em D. Genebra Infante de Lacerda, filha e herdeira de Antonio Lo- bo Infante de Lacerda, que tanto se distin- guiu em 1808 no 1 vantamento do Alemtejo contra a invasão de Junot. Casou a dieta senh ra com José d'Assa Castello Branco; não tendo successão, abo- liram o vinculo d'ella, cujo melhor prédio era a mencionada quinta, e a deram ao ad- vogado Antonio da Silva Leitão pelo seu tra- balho para a abolição do vinculo. Bem pago ficou t . . . É hoje dona d'ella a sr.» D. Maria Vio- lante, rezidente em Borba, filha do mencio- nado dr. Leitão. Nasce nas courellas da Brôa o ribeiro de Alcalate que, depois de receber differentes arroios no termo do Alandroal, desagua no Luciféce, junto de Ferreira de Terena. Está freguezia contrasta Ci>m a de Benca- tel, por ser montuosa, menos povoada e o seu chão menos fértil; mas em compensação é muito salubre e tanto que o cholera mor- bus a respeitou em 1833 ! . . . Tem um lagar d'azeite na quinta do Pa- nasco. Os seus habitantes são geralmente pobres, por serem rendeiros de prédios, cujos donos vivem fóra d'ella, e jornaleiros na maior VIL VJL 1129 parte,— sem ter commercio nem industria alguma. É a freguezia mais pobre (Veste conce- lho!... Alem da sua egreja matriz, tem hoje ape- nas uma Capella com a invocação de Santo Antonio dos Paços. A de. Santa Helena, meneionada na Choro- graphia Portugneza, já não existe. Estava dentro da Huríu Grande, lado sul. S. Romão 1 É orago d'esta parochia S. Romão, eremi- ta de Panoias, onde (dizem) falleceu no an- no de 566 e é festejado no dia 28 de feve- reiro. V. Panoias, villa do Alemtejo, vol. 6.° pag. 443, col. 2." — notando se que as ultimas 6 linhas d'aquelle artigo estão deslocadas. Per- tencem a Panoias transmontana. Freguezias limitrophes desta de S. Ro- mão:—S. Braz dos Mattos e N. Senhora do Loreto, matriz de Juromenha, a S.,— Terru- gem, concelho d'Elvas, a N.,— Ciladas a E. — e a O. Pardaes e a matriz de Villa Viçosa. Comprehende duas ald. ias: — l.a S. Romão junto da matriz e que tem aug'i entado muito n'esie sn-ulo, pois já conia 140 fogos e 645 almas;— 2." Forte do Ferragudo, com 23 fo- gos e 93 almas. A população restante d'esta fregu-zia está disper.-a pelos montes ou ca- saes— total 188 fogos e 854 habitantes. Em 1708 esta parochia era ainda uma simples aldeia de 60 fogos. Em 1768, já era curato da apresentação da tniira, mas con- tava ainda apenas 69 fogos. A sua população augmentou rapidamente desde que a Santa Cosa de Villa Viçosa di- vidiu cm glebas, que aforou a differeutes, a herdade de S. Romão, que ali possuía, den- tro da qual estava a cap» 11a d'este titulo, já elevada a matriz, e que deu o nome á dieta herdade, á dieta aldeia e a esta parochia. Eis aqui um exemplo, bem digno de imitar se, para oau- 1 V. Romão (S.) freguezia do Alemtejo, vol. 8.° pag. 227, col. i.« gmento da população e da ri- queza do Alemtejo. Chamamos para este ponto a attenção do governo e dos donos das grandes herdades. Parece que os irmãos da Santa Casa de Villa Viçosa tinham lido as Noticias de Por- tugal de Manuel Severim de Faria e que (honra lhes seja í ... ) quizeram ensaiar o que tanto recommenda o illustrado chantre d'Evora, relativamente á colouisação do Alemtejo, na obra supra, pag. 23 e %l'mihi. A egreja matriz d'esta parochia é mais pequena do que a de Pardaes e já insufíi- ciente para tanto povo. Olha para o poente ou para Villa Viçosa;— tem altar mòr e 2 la- teraes — e a sua esquerda cem i terio, vice versa das freguezias de Pardaes e Bencatel, que o o teem á direita, — graças ao benemérito Francisco de Paula Jordão, de Villa Viçosa. Falleceu em 1863 e não só deixou um le- gado para se instituir n'esta parochia uma confraria do SS. Sacramento, mas já em vi- da havia dado o terreno para o cemitério. Também pelo mesmo tempo se restaurou a residência parochíal. O parocho tem de bôlo 300 alqueires de trigo e 80 de cevada— e o thesoureiro 90 al- queires de trigo. Deve esta parochia ser ligada á cabeça do concelho por uma estrada municipal a ma- cadam, cuja construcção se inaugurou ern 1868, mas ainda não se ultimou, por causa de certas alterações na sua directriz, que inutilisaram mais de dois kilometros já fei- tos. Ha no limite d'esta parochia apenas uma capella no Forte de Ferragudo *, fundada em 1670 por Ambrósio Pereira de Berredo e Castro, que foi capitão de eavallos na guerra da restauração e que era dono do dicto for- te,— casa nobre fortificada, que deu o nome 1 Não se confunda este Ferragudo com o seu homónimo do Algarve, na foz do rio Portimão. V. Ferragudo. 1130 VIL VIL á herdade que representa e que, pela sua historia e pela sua vastidão e herdades an- nexas, é sem contestação a 1." d'esta paro- chia e lembra os castellos feudaes d'outras eras. Foi de André Mendes Lobo no século xvn -e em 1662 padeceu muito, quando por aqui passou o exercito de D. João d'Austria, seguindo de Borba para Juromenha. Adquiriu-a o mencionado Ambrósio Pe- reira de Berredo peio seu casamento com D. Maria Lobo da Silveira, filha do sobredi- cto André Mendes; — pelo casamento das filhas d'Ambrosio Pereira— D. Luisa Clara de Menezes e D. Joanna Vicencia de Mene zes— com Gomes Freire de Andrade e seu irmão Bernardino Freire d Andrade,— pas- sou para os condes de Bobadella, que ali vi- veram, pelo que a dieta casa se dnijominou também Forte do Conde. Hoje, pelo casa- mento de uma herdeira dos dictos condes, pertence aos condes de Ca marido. Esta formosa granja cornprehende também grandes olivaes e um lagar d'azeite; teve ca- pellão até 1863 e, quando ali rezidiam os condes, tinha na capella S.-tutissimo perma- nente e n'ella se celebravam as festividades da semana santa com certa pompa. Abunda esta parochia em cereaes, legu- mes e montados a'azinho, faliam lhe porem hortaliças e fructas, porque não tem aguas nativas como Beneatel e Pardaes,— nem uma única fonte ou um uuieo poço concelhios d'agua potável I . . . N'ella está o reguengo de Falalão, que foi reservado para a corôa no foral dr) Villa Vi- çosa e pertence ainda hoje á sereníssima casa de Bragança. É anda e montuosa, mais fértil porém do que a de Pardaes. Os seus habitantes vivem geralmente da agricultura e gosam muila saúde por estar a sua aldeia em um planalto, o que uão suc- eede aos que moram nos montes (casaes) das visinhanças da Asseca e da ribeira de Borba. Ciladas Ao que d'esta parochia disse o meu bene- mérito antecessor no vol 3.° pag. 300, col. I a (V.) acerescentaremos o seguinte : É a freguezia mais oriental d'e.-le conce- lho e menos populosa por constar simples- mente de montes (casaes, casas de herda- des) com algumas hortas, ou quintaes rega- dios com pomares e outros mimos,— sem ter ao menos um arrabalde, ou pequena aldeia. O seu orago é Nossa Senhora das Cila- das, cuja matriz demora na herdade do Car- vão, sobre os altos de Villa B»im, que sepa- ravam outr'ora o termo de Villa Viçosa do de Elvas. Freguezias limitrophes:— S. Lourenço da Varge, ou Várzea, e S. João Baptista de Villa Boim, ambas do concelho d'Elvas a N.;-~ Nossa Senhora d'Ajuda e íanto Ildefonso, ambas do dicto concelho, a E.:— a matriz de Juromenha a S— e S. Bomão a O. Tem som ivel egr-ja p irochial com altar- mór e dois lateraes,— cemitério — e residên- cia para o paroeho e sacristão, mas desde 1871 foi annexa á de S Bomão, por falta de parodio próprio,— e tal é hoje entre nós a escassez de clero que o paroeho de S. Bo- mão, depois de dizer a missa conventual aos seus fivguezes, vem nos domingos e dias sanctos celebrar aqui segunda missa,— o que é hoje trivial nas outras dioceses do nosso paiz, nomeadamente na de Lamego! . . . Tem o paroeho de côngrua em bôlo 300 alqueires de trigo e 90 de cevada,— e o sa- cristão recebe 90 alqueires de trigo. Conta hoje apenas 40 fogos e 206 habi- tantes, mas já teve mais de 60 fogos e de 270 habitantes. Diminue e continua a dimi- nuir a sua população por cultivar cada la- vrador muitas he/dades, deixando cair os montes (casas) da maior parte d*ellas. É po- rem a mais rendosa em propriedades rústi- cas por eomprehender muitas e excellentes herdades com boas terras e grandes monta- dos d'azinho, — sendo para lamentar que a maior parte dVIlas pertençam a estranhos! S Entre as suas hortas (quintas ou quintaes) merecem especial menção, pela ex<-ellente frueta que produzem,— as de Coroados e Carvão. 1 Não tem hoje capella alguma, As de Santa VIL VIL 1131 Theresa e Santo Antonio, mencionadas na Chorographia Portugveza, já não existem. Todas as freguezias ruraes d'este conce- lho foram erigidas no meiarto do século xvi. Anteriormente só existiam disseminadas pelo sen termo differentes capellas com capei- lães, aos quaes os visiohos arbitravam um hôlo em trigo e cevada para a sua côngrua sustentação. Estes capellães depois, para maior commodidade dos povos, foram no- meados curas, parochos ou priores indepen- dentes da matriz, com auctorisação do or- dinário. Concelho antigo e moderno O termo antigo d'este concelho principiava ;i E. no monte de Coroados, freguezia das Ciladas, comprehendendo só metade, — a par- te oc.cidental d'ella;— continuava para S., comprehendendo toda a freguezia de S. Ro- mão e a parte septenlrional da de S. Braz dos Mattos até á estrada d'Evora a Jurome- nha, ou até á herdade da Nave de Cima, in- clusive. Proseguia para O. comprehendendo toda a freguezia de Pardaes e a parte orien- tal da de B ncatel, incluindo a sua grande aldeia;— -avançava para N. 0. e N, compre- hendendo coutos da matriz de Villa Viçosa, — e por ultimo a parte iulerior dafregue?ia de Santo Antonio da Terrugem, até o adro da egreja matriz. Eram pois meieiras dc concelhos diffe- rentes arp.1' Has freguezias, por ser mais re- cente a creação e demarcação d'ellas, o que produzia grande confusão, questões e des ordens, pelo que em 1834 se mandou que este concelho comprehendesse freguezias in- teiras. Pela nova circumscripção perdeu o que tinha nas parochias da Terrugem e S. Braz dos Mattos, mas em compensação ad- quiriu a par te oriental da de Ciladas e a Oc- cidental da de Bencatel, que pertenciam — a l.a ao concelho de Elvas — e a 2.a aos de Alandroal e E-lremoz. Comprehende pois o concelho de Villa Viçosa desde aquella data as freguezias se- guiutes:— Bencatel, Ciladas, hoje civilmente aunexa a S. Romão,— Pardaes, — S. Romão' e as duas da villa. Total — 6 freguezias, todas completas, com 1:702 fogos e 6:432 habitantes, segundo o recenseamento de 1878,— e pelo de 1864 comprehendia as mesmas 6 freguezias com 1:536 fogos e 6:708 habitantes. Concelhos limilrophes: — Borba, Elvas, Alandroal e Bedondo. A sua maior longitude orça por 25 kilo- metros, de E a O.— e a sua latitude entre Borba e o Alandroal é de 9 a lOkilometros apenas. É pois bastante reduzida a sua area. Com- prehende ao todo 11:141 hectares de super- fície. N'este concelho não ha rios caudalosos, mas apeuas ribeiras vadeáveis, que no inver- no engrossam com as chuvas e seccam no estio, exceptuando os seus grandes pegos. São as seguintes : i." — Mures a E. Nasce, nas alturas de Villa Boim; — atra- vessa a freguezia de Ciladas — e morre no Guadiana, per to de Juromenha. 2 a — Assêca. Nasce na Terrugem, — vae á freguezia de S Romão e ali, na herdade do Ratinho, des- agua na seguinte. 3. a — Ribeira de Borba. Nasce na villa d'este nome; passa a E. de Villa Viçosa;— recebe a agua das fontes d'esta villa e de differentes arroios— e morre na de Assêca. 4. " — Ribeira de Pardaes. Nasce na fregue- zia d'este nome e desagua no rio Guadiana. 5. s — Luciféce, a O. Nasce em Montes Claros, onde tem o no- me de Rio de Moinhos; — passa ao sopé da serra d'Ossa; — Da freguezia de Bencatel re- cebe as aguas da sua ribeira— e morre no Guadiana junto de Chelles, tendo dividido os termos de Terena e Alandroal. Banham ainda este concelho vários ribei- ros e arroios que Dão merecem especial menção. Também não ha serras notáveis n'este concelho, exceptuando apenas uma ramifica- ção da serra cTOssa, até o sitio do Álphaval 1132 VIL VIL na estrada do Redondo e Évora; — parte da serra da Vigaria, que pertence á cordilheira de Montes Claros— e os Altos de Villa Boim, que uão devem classifkar-se como serra, por serem cultivados. A principal, posto que tem pequena ele- vação, é a serra de Borba, que atravessa o concelho de Villa Viçosa de N. a S., sepa- rando esta villa da parochia de Beneateí e terminando no Alandroal, depois de receber differentes nomes. Distingue se de todas as outras serras d'este concelho, por ser es- pontaneamente povoada dalecrim com al- gum matto agreste, hoje quasi todo transfor- mado em um imnnrnso bosque de oliveiras É vizivelmente de origem plutonica. As producções principaes d'este concelho são: — trigo, cevada, centeio, aveia, legumes, azeite, vinho, gados, cortiça, figos e fnjões, nomeadamente nas ribeiras de Bencateí e Pardaes. Também produz bastante fructa de espi- nho e caroço— e hortaliça de todas as espé- cies. Nos subúrbios da villa avulta hoje sobre tudo a cultura das oliveiras. Ha no conce- lho 22 lagares para o fabrico do azeite — ea producção (Teste já chegou a cem mil deca- litros, alguns annosl . . . Não tem industrias especiaes, exceptuan- do algumas pequenas fabricas de cortumes e os seus importantes fornos de cal branca e preta na serra de Borba! A cal branca é feita com mármores de Bencatel, eguaes aos de Montes Claros, e é exportada para Elvas, Alandroal, Terena, Monsarás, Redondo e Évora, que não tem calcareo fino, mas só granito e piçarra. Topographia de Villa Viçosa É muito regular a planta d'esta villa. As suas ruas estendem-se de N O. a S E. na direcção do valle que vem de Borba e acaba em Pardaes, na Fonte do Soeiro,— e são cortadas por outras de N.E. a S.O. Pena é que as antigas (orientaes) não sejam tão espaçosas como as modernas (occidentaes). As transversaes, são denominadas traves- j sas, — exceptuando as de Santa Cruz, (fE- j vora e do Espirito Santo, que estão no cen- I tro da villa. I Largos ou rocios principaes: {."—Terreiro do Paço, a N. | Tomou o nome do novo palácio dos lu- ques, que se ergue sobre elle a direita, indo de Borba, parallelo e fronteiro ao exiircto convento de Santo Agostinho, que se ers'ue do lado opposto. Este grande rocio é um quadrado per- feito;—prende com elle no angulo oriental o Terreiro de Sanlo Agostinho, que é quadri- longo;— tem ao sul uma projecção denomi- nada Largo da Assaboaria — eaN. E., quasi unido, o Largo da Fonte brande. 2. ° — Praça Nova, quadrilungo quasi re- gular, no centro da villa. 3. ° — Bócio de S. Paulo, a S. Forma um polygono de 6 differentes lati- tudes e tem tanto de comprimento como a villa tem de largura. 4 "—Campo do Carrascal, a 0. É o maii.r de todos os largos da villa e está arburisado em toda a sua circumf-ren- cia, bem coího ao longo da estrada de Bôu- calel, que. o atravessa quasi pelo centro. 5 o— Outeiro de Ficalho, a E. alem do Cas- tello, mettendo-se de permeio alguns chãos lavradios, que já foram povoados, ou um bairro d'esta villa. Estes últimos dois largos, alem de serem campos de recreio, servem para debulha de cereaes. No Rocio de S. Pavio fazem-se as feiras e mercados de gado bovino e suino. O gado miúdo, cavalgaduras e todo o género de mercadorias que concorrem ás dietas feiras, accommodam-se perfeitamente no Campo do Carrascal. Os mercados diários e semanaes, ou das quartas feiras, fazem-se na Praça Nova. Além dos 5 mencionados campos, que são | os principaes, tem a villa outros mais pe- quenos: 1.°— Praça Velha, denominada também Estacada, em memoria da que ali se fez em 1665 para defesa da entrada do Castello. Foi a antiga Praça forense e era muito VIL VIL 1133 pequena; mas era 1663 a 1665 foram demo- lidas mais de 100 casas ao nascente do Cas- tello, pelo que se tornou muito mais ampla, i formando um polygono de 300 metros de comprimento, que se liga ao largo seguinte: 2.°— Terreiro de D. João (d'Eça) — quadra- do perfeito, Às municipalidades teem removido os en- tulhos dos prédios demolidos e de algumas barbacans, aplanando e arborisando o seu chão, transformando a velha Estacada em um lindo passeio publico muito arejado e situado no centro da villa, a E. da Praça Nova. Fontes publicas : l*— Fonte Grande, com duas bicas, no largo do seu nome. 2. «— Fonte Pequena, com 4 bicas, no Ter- reiro de Santo Agostinho. 3. " — Fonte do Alandroal, com 2 bicas, no extremo E. do Rocio. 4. »— Fonte do Carrascal, com 4 bicas de agua, que vem por um aqueducto do sitio do Carvalho. Todas estas fontes são publicas ou conce- Ih eiras. 5. "— Chafariz d' El -rei, no Terreiro do Pa- ço, com 3 bicas alteadas e um grande bebe- douro para besias. Este chafariz é da casa de Bragança, mas o seu goso é publico. Tem a villa mais dois bebedouros de bes- tas:— um no largo da Fonte Grande,— outro no Carrascal. A rua d'esta villa hoje, e a mais cen- tral, é a Corredoura. Foi no século xv a extrema da villa ao poente, e denominou-se assim por ser a carreira dos cavalleiros villãos. A 2." ó a dos Fidalgos, assim denominada por viverem n'ella nos séculos xvi e xvu muitos dos fidalgos que estavam ao serviço dos duques de Bragança. Seguem- se as ruas de Antonio Homem, Frei Manuel (Cavalleiro) e Santa Luzia,— to- das largas e bem alinhadas. Esta villa tem de N. a S. 1:030 metros de extensão— -e de O. a E. 1:300. Conserva a mesma extensão que tinha em VOLUME X 1640; apenas accresceu de novo o pequeno bairro de S. José, ao sul do Carrascal, e que não a compensa do grande povoado que per- deu na Almedina, ou villa primitiva, e seus arredores. Foi amuralhada no principio do século xvi pelo duque D. Jaime, quando volveu da ex- pedição d'Azamor; não conserva hoje porém mais do que alguns pequenos lanços dos seus velhos muros e as portas do Nó e da Esperança, sendo esta ultima somente a da primitiva construcção. Archeologia Todos os escriplores que até hoje fallaram de Villa Viçosa apenas se limitaram a dizer que é povoação muito antiga, mas pouco, muito pouco disseram dos seus vestígios de antiguidade. Remediemos pois essa falta, embora muito succintamente, consoante as nossas débeis forças e a indole d'este dic- cionario. i Em Villa Viçosa, no subúrbio do Outeiro de Ficalho e precisamente no local da er- mida de S. Thiago, esteve o templo de Pro~ serpina, do qual hoje nada resta. Existiram também tres aras ou lapides votivas da mesma deusa, que Rezende ar- chivou nas suas Antiguidades da Lusitânia, e d'ali as copiaram outros escriptores na- cionaes e estrangeiros. Archivou também Rezende uma lousa se- pulcral de Plutario e outra de Petronio Cautinense, que também não reproduziremos aqui por serem já conhecidas e não tornar- mos este artigo excessivamente longo. As dietas lapides provam irrefragavel- mente a existência de um vico ou aldeia do tempo dos romanos no próprio local da mo- derna Villa Viçosa e foram recolhidas no al- pendre da antiga egreja de Santo Agostinho, bem como^outras relativas ao deusEndove- lieo, venerado perto de Terena, onde hoje está a ermida de S. Miguel; mas desappare- ceram quando se demoliu a dieta egreja em 1635 para se fazer a egreja actual. Subsis- tem somente 5 dedicadas ao deus Endovel- lico, as quaes se vêem na face exterior da 72 1134 VIL VIL parede da mencionada egreja, do lado da j epistola, e se acham miudamente descripta3 na interessante Memoria Histórica, publica- da em 1882 no Boletim da Sociedade de Geographia de Lisboa, 3.a serie, n.os 4 e 5, relativa ao ta) deus Endovellico. O que não tem sido mencionado em letra redonda até hoje é a estatua de uma esphyn- ge (monstro fabuloso com rosto de mulher e corpo de cão) a qual se vê e conserva no muro de um quintal da almedina. em uma viella, junto á porta de Estremoz. É denominada pelo povo a Villa Viçosa antiga e apontada como reminiscência d'ella. No sitio das Cortes, onde se dividem os termos d'esta villa e da de Borba, houve também outro vico, chamado ultimamente Corte do Pretor, segundo a letra do 1.° foral d'esta villa. Além de muitos ladrilhos e telhões roma- nos, ali appareceram ainda em 1844 diver- sas sepulturas e campas sem epitaphios, mas algumas com lacrimatorios de vidro e de barro cozido, ao lado da cabeça dos de- funtos. Mais notável do que tudo isto é ainda a grande fundura que se nota ao carreiro da azinhaga de S. Marcos, (entre o bairro da aldeia da villa e a planície de S. Marcos) até á Fonte da Moura, em Pardaes, mos- trando o tal carreiro que foi antiquíssima e muito frequentada via de tranzito entre Pardaes e o templo de Prosérpina. II Na plauicie de S. Marcos, resto do valle de Villa Viçosa e a distancia d'esta villa uns 5 kilometros para o sul, são ainda mais no- táveis os vestígios de antiguidade, que pro- vam a existência de uma povoação romana, incomparavelmente maior, n'aquelles sítios. Dentro dos coutos da matriz, onde ainda ha pouco tudo eram vinhas, o chão foi pro- fundamente arroteado pelos viticultores e as ruínas d'outras eras desappareeeram; mas na herdade da Fonte da Moura, em parte do Monte d'El-Rei e na Fonte do Soeiro, que são tia treguezia de Pardaes,— e ainda além da 1 ribeira d'este nome, onde estão a aldeia e o morro sobranceiro á egreja parochial, todo o chão se vê recamado de fragmentos de ti- jolo, de telhões e de pedra miúda, por se haver aproveitado a grossa para as moder- nas edificações. Também no sitio da Fonte do Soeiro se vêem ainda hoje muitos mármores talhados, fu3tes e capiteis de columnas que os mora- dores visinhos teem estragado, excepto um capitel d'ordem corinthia, que se conserva enealiçado e servindo de poial á porta de uma casa no sitio das Casas Novas. Nos altos das Ferrarias se vêem muitos poços de minas antiquíssimas, uns já ob- struídos e outros abertos obliquamente, aos quaes ainda hoje se desce com archotes acce- sos para guia dos visitantes;— e na Alma- greira, ao poente da Lagoa, foi também ex - plorada em tempos muito remotos e ainda modernamente, em 1858 a 1860, uma mina de ferro manganez. Ali se vêem ainda hoje também grandes volumes de escumalho ou de reziduos de ferro, o que prova que os romanos ali mes- mo o apuravam em fornos. Mencionaremos ainda ao longo da ribeira de Pardaes duas antas:— uma em terras da Azenha e Horta dos Apóstolos,— outra em terras da Azenha do Limoeiro, junto de uma fonte denominada Fonte da Anta. Esta ultima era mais pequena e acha-sa quasi destruída, porque os visinhos teem aproveitado os lajões d'ella para pontes e outros misteres ! . . . III Em Bencatel, mais do que em parte al- guma d'este'concelho, abundam as ruínas e os vestígios de remota occupação. Desde o extremo da Galharda, nos limi- tes do Gavião, onde está uma sepulturat ca- vada em rocha (piçarra) até o sitio das No- gueiras, ao norte, pertencente a Rio de Moi- nhos, na extensão de dois kilometros,— e desde o Poço da Nora até o Outeirinho ãa Moura, ou desde a ermida de S. Pedro até o ' Alemo (olmo) na extensão de 1:500 metro;* VIL VIL 1135 approximadamente,— tudo ê ura estendal de 1 ruinas, ficando Bencatel no ceDtro d'ellas. Em 1841, cahindo uma barreira no sitio dos Villares, pertencente á herdade da Ga- lharda, junto da fontinha que está defronte da Azenha das Freiras, appareceu a ara de Fontano e Fontana, dedicada por Albia Pa- cina K A dieta ara, bem como uma pequena se- reia e uma cabeça d'homera barbado (capi- tão romano talvez) foram conduzidas para Lisboa por diligencias do patriarcha D. Fr. Francisco de S. Luiz. Em janeiro de 1879 mandou João de Sousa e Menezes, dono da referida herdade, fazer uma escavação no tal sitio dos Villares para descobrir de novo um poço antigo, já des- coberto annos antes, tirando-lhe por essa oc- casião o bocal de mármore. Achou-se o di- cto poço, já muito deteriorado, e os alicer- ces de um fano que se julgou ser o tal tem- plo de Fontano e Fontana, descobrindo-se a soleira do pórtico (de dois metros e meio, com duas couçoeiras) que hoje está em uma casa nova do mesmo dono, com porta para o Carrascal, em Villa Viçosa. Descobriu-se também uma porta lateral, — grossos mármo- res que serviam de alicerces a columnas, — um busto de mulher, — fragmentos de taboas de mármore, cortado à serra, — florões de ci- mento, bem conservados, — ladrilhos de vá- rios tamanhos e feitios, etc. O fano tinha a forma semi -oval, mas era pequeno,— -e detraz d'elle appareceram ca- nos de chumbo e cinzeiros, indicando a exis- tência de fornalhas em que se aquecia a agua das thermas (banhos quentes) situadas ao sul do templo, onde se encontrou uma banheira, pequeno tauque de argamassa tão dura, que mais facilmente se partiam as pe- dras do que ella. Isto é, apenas uma amostra das muitas ve- lharias que se encontram nos Villares da Galharda, ubérrimo campo para explora- ções archeologicas. No pateo da quinta de S. João Baptista se i V. Bencatel, vol. l.° pag. 386, col, i.» guarda um volumoso capitel corinthio — e em um quarto do andar superior da casa nobre da mesma quinta, hoje pertencente a Thomé de Sousa Menezes, se vê encaliçada na parede uma lousa sepulcral, pequena e quasi quadrada, com o epitaphio seguinte; 1VLIA AVITI F. AVITA AN. XX. H. S. E. S. T. T. L. TVRRANIA MAX SV MA MATER ET IVL1VS MAXSVMVS FRATER FACENDVM CVRA VERVNT. Em portuguez: «Aqui está sepultada Julia Avita, filha de Avito, fallecida com vinte annos de edade. A terra te seja levei «Sua mãe Turraoia Máxima e seu irmão Julio Máximo lhe mandaram erigir este mo- numento.» Damos por extenso esta inscripção, por- que a julgamos ainda inédita. No entroncamento da estrada de Villa Vi- çosa ao Redondo com a do Alandroal a Es- tremoz, acha-se no cimo da aldeia arrumado um cippo de seis palmos d'altura com a ins- cripção muito obliterada, por ter servido já em diversos sítios de poial de porta da rua. A camará o mandou levantar para fazer a calçada e valleta junto das casas onde ulti- mamente estava servindo de poial. Parece ler-se ainda n'elle o nome Flamí- nia. Na Horta das Nogueiras estão dois gran- des capiteis transformados em pias para be* bedouro de gallinhas — e em differentes ca- sas da localidade se encontram pequenos capiteis servindo de graes, etc. No mesmo sitio, perto da herdade do Ma - chado, é notável o Castellão ou castro roma- no que defendia aquelle arrabalde e tem ainda bem conservado o angulo N.O. Em 14 de maio de 1866 foi também des - coberta nos Villares da Galharda uma pe- quena sepultura christã, com fundo, lados e tampa de mármore azul claro e o epitaphio 1136 VIL VIL seguinte, que o sr. Antonio Francisco Ba- rata 1 já publicou em dois opúsculos: DOMITIA P. VIXIT An nvm . . .2 mi d XIIH Em portuguez: «Domícia em paz descan- ça (n'este logar). Viveu 1 anno, 4 mezes e 14 dias.» É encimada pelo emblema do XP, enla- çados entre o alpha e o omeaa dentro de um circulo, para significar Christo, Deus eter- no, principio e fim de todas as cousas, — cifra muito usada entre nós, nos séculos vi e vii, no tempo dos godos, para distinguir os ca- lholicos dos arianos. A dieta sepultura pertence evidentemente ao século v:i. A tampa com o epitaphio foi pedida pelo dr. Francisco Augusto Nunes Pousão, de Villa Viçosa, em cujo poder se conserva. Outras muitas sepulturas semelhantes se encontram ainda hoje n'aquelles sitios, mas sem letras, cobertas apenas por lageas de piçarra. Também por ali se encontram muitas achas célticas (vulgo[ pedras de raio) de di- versos tamanhos e feitios, indicando terem servido tanto d'armas como de ferramen- tas, etc. Concluiremos esta summaria resenha di- zendo que também na dicia aldeia se encon- tram a cada passo moedas romanas de co- bre e algumas de prata do tempo da repu- blica, e mais ainda do tempo do império, no- meadamente dos séculos iii, iv e v, sendo as mais modernas de Constâncio III ou patrí- cio. Do exposto se vê que o grosso da popu- lação d'este território de Villa Viçosa, no tempo dos romanos, estava nas formosas ri- beiras de Bencatel e Pardaes, tão abundan- tes d'agua nativa ainda hoje— e muito mais talvez outr'oral. . . 1 V. Villa Real de Traz-os-Montes, vol. X pag. 1027, col. 1." e a nota respectiva. 2 Aqui ha um gregotim que só em gra- vura pode reproduzir-se: um m com um s. Chamamos para este capi- tulo a attenção dos archsolo- gos,— bem como para o se- guinte: A Lacobriga dos celtas Tem sido grande a negligencia dos portu- guezes em investigar a geographia da nossa antiga Lusitânia. É evidente que houve n'ella 3 Lacobngas: uma no Algarve, mencionada por Pomponio Mella;— outra, ados celtas, no Alamtejo, men- cionada por Ptolomeu— e ouira no caminho de Coimbra ao Porto, mencionada no Rotei- ro d'Antonino Pio. Os nossos antiquários apenas teem fallado da 1.» e 3.", esquecendo a 2.a ou dos celtas que habitavam o Alentejo, e que por consequência no Alemtejo estava. Dos nossos antiquários apenas por exce- pção a indicou e reconheceu Gaspar Barrei- ros, na sua Descripção de Espanha; mas, como esta obra infelizmente ficou in&dita, passou quasi desapercebida a idéa, havendo apenas vagas referencias a ella em letna re- donda; seja-nos licito, pois, que tentemos reparar a lacuna: A dieta Lacobriga é a cidade celticaa, ou antes comarca, posta em 1.° logar e m;ais a N. pelo geographo Ptolomeu, dando-llhe a ubicação de 40°, 15' de latitude (exaggjera- da como sempre usou) e 5o, 45' de longi- tude, denominando-a Langobrica, em rasão da varia pronuncia dos gregos, romamos e indígenas, pois Lacobriga, Lancobrigga e Langobrica são um e o mesmo nome, qme o erudito padre Flores (com mais geitco do que Morales) diz ser composto de lacus, lago ou lagoa, e do céltico briga, — povoação), ci- dade ou villa. Vendo pois o cónego Bairrei- ros que esta comarca dos celtico-romaanos demorava no Alto Alemtejo e que o mome Landroal (Dão adduz outras rasões) conraeça por Lan, como o de Langobrica, lembrou-se de escrever timidamente que seria talvvez o Landroal, — esquecendo-se de que asj co- marcas romanas eram muito maiores do> que os concelhos portuguezes — e de que jijunto das lagoas de Bencatel e Pardaes se enecon- VIL tram immensos vestígios de antiguidades romanas,— em quanto que o Alandroal não tem lagoa ou manancial algum com este nome. São também de Villa Viçosa as velhas mi- nas que o padre Nascimento Silveira no seu 1 Mappa breve da Lusitânia, insistindo na sup- posição de Barreiros, menciona como se fos- sem do Alandroal. Este pertencia sem duvi- da á mesma comarca, bem como Terena, sendo por tanto do seu território o idolo e o templo de Eodovellico e ficando assim pulverisadas as rasões que o theatiuo padre Lima na sua Geographia Histórica menos reflectidamente adduz contra a antiguidade de Villa Viçosa. Sendo a cabeça d'esta comarca em Ben- catel ou em Pardaes e pertencendo as suas ribeiras ao termo de Villa Viçosa, ninguém pôde contestar-lhe o direito de representar na actualidade a Lacobriga dos celtas. O assumpto é nebuloso e ievar-noshia muito longe; ma9, para não fatigarmos 09 leitores, diremos apenas o seguinte : Cerca de 900 annos antes de J. C, vieram os celtas da Gallia estabeleeer-se na Lusitâ- nia e no Alemtejo, penetrando pelo Gua- diana e, tractando de explorar este paiz, com certesa preferiram os terrenos do Alan- droal, propriamente dicto, Villa Viçosa, Bor- ba e Extremoz, por terem boas terras e abundância d*aguas nativas, que muito as beneficiavam e fertilisavam, dando-lhes lar- ga copia de mimos e fructos sem grande trabalho,— e por certo occuparam logo as ribeiras de Beneatel e Pardaes, por ser o seu chão regadio e extremamente mimoso e fértil. Quando ali chegou Maharbal como gover- nador da republica de Carthago, que então dominava na Hespanha, e trouxe o idolo Endovellico, já encontrou povoado o distri- cto de Villa Viçosa, pelo quê n'elle ergueu um templo ao mencionado idolo no monte de S. Miguel, entre o Alandroal e Terena. Verdade é que fr. Bernardo de Brito, igno- rando que havia uma Lacobriga perto de Terena, fez voltar Maharbal ao Algarve para continuar a sua visita pela Betica, aliás tão próxima do Alemtejo . . . VIL 1137 Mais tarde, no anno 153 antes de J. C. e 600 da fundação de Roma, insurgiram-se os celtas ou celtiberos contra a rainha do Ti- bre, sob o commando de Cesaron. Veiu n'esse anno á Hespanha de propósito o côn- sul Quinto Fúlvio Nobilior para dirigir co- mo general em chefe a expedição, trazendo como legado a Lucio Mummio, pretor da Hespanha Ulterior, o qual, vindo da Betica, ou da Andaluzia, na pista de Cesaron (que para lá se adiantou) passando o Guadiana, o bateu nos plainos de Villa Viçosa ou Ben- eatel; sendo porem derrotado, fugiu para um dos outeiros do sul, onde recebeu refor- ços do cônsul. Voltando-se de novo contra os celtas, os derrotou, cahindo Cesaron morto no sitio onde hoje se vê a capella de S. Thiago, pelo que o dicto pretor ali fun- dou logo um templo a Prosérpina, Salvado- ra ou Reparadora, em cumprimento do voto feito á deusa do inferno, antes da batalha, o que attestam as inscripções que Rezende co- piou e que deixamos indicadas supra. São concordes n'este ponto todas as his- torias^aquella época. Ao tempo não havia no Alemtejo grandes cidades. Tudo eram viços ou pequenas al- deias, conforme o testemunho de Polibio, que militou com os romanos na 3.» guerra púnica e percorreu assim uma grande parte da Hespanha, segundo refere Strabão na sua geographia, dando noticia dos celtas alemte- janos. Só depois de subjugada toda a península foi que os romanos inventaram o nome La- cobriga, romano ou latino-celtico (povoação da lagoa) para designarem uma comarca que abrangia os territórios circumvisinhos de Beneatel, sua cabeça, onde estava a /a- gôa. Ainda nos annos 83 a 73 antes de J. C. se insurgiram de novo os lacobrigenses contra os romanos, quando Quinto Sertório veiu da Africa para a Hespanha e se estabeleceu em Évora. O cônsul Quinto Cecílio Metello Pio, en- viado como pro-consul em 79 contra elle, I 138 VIL VIL sitiou Lacobriga, partidária do proscrito de Sylla, esperando obrigal-a a render-se eaa 3 dias por falta d'agua, para o que lhe cor- tou a levada que a abastecia, nos Villares da Galharda. Apenas chegou a Évora a noticia, tractou Sertório de os soccorrer. Proraetteu grandes prémios a dois mil mauritanos se lhes le- vassem outros tantos odres d'agua e, com as tropas que pôde reunir, poz-se de atalaia no Castello Velho da Serra d'Ossa,— refugio seu favorito nos momentos d'aperto. Vendo que o legado Aquino ao 4.° dia se afastava do assedio para procurar forragens a N., desceu rapidamente da serra e o bateu e derrotou no seu regresso ao acampamento, salvando-se a muito custo o dicto legado, pelo que Metello immediaiamente levantou o bloqueio e, passando o Guadiana, se inter- nou na Hespanha. É isto muito em resumo o que se lê na biographia de Sertório por Plutarcho e, com algumas variantes, na Monarchia Lusitana. Não consta que, depois do assassinato de Sertório, se revoltassem outra vez os laco- brigenses contra os romanos; pelo contrario fraternisaram com elles. Quando os vândalos invadiram a Lusitâ- nia no século v, Lacobriga também padeceu muito. Em tempo do imperador Constâncio III (no anno 421) foi mandada uma expedição contra os ditos vândalos, commandada por Artabures ou Ardabures, a quem os nossos antiquários chamam Ardiburo, o qual sete vezes os repelliu da comarca de Lacobriga, pelo que os lacobrigenses lhe erigiram sete estatuas,— segundo dizem Rezende e outros. Consolidado o domínio dos godos, melho- rou de novo a situação de Lacobriga e vi- veu em paz no século vn, ao qual pertence a sepultura de Domícia, mencionada supra. Foi então, pelo menos, cidade episcopal. Servus Dei, seu bispo, apparece assignado nas actas do 4.° concilio de Toledo, em 633, assim como no 5.° de 638, posto que n'elle se leia Arcobricense, talvez por erro do co- pista ou porque Arcobriga fosse da sua mesma diocese, o que é provável. No 12.° concilio toletano, em 683, se en- contra também assignado Brandila, bispo laniobrense, que Ferreras diz ser de diocese desconhecida em Hespanha; 1 mas isso pro- vem sem duvida de estar mal escripto, de- vendo lêr-se lancobrense. Com a invasão dos mouros no principio do século viu e com as aturadas guerras en- tre elles e os reis de Portugal e Hespanha durante séculos, arruinou-se completamente a Lacobriga de Bencalei e Pardaes, como se perderam e arrasaram outras muitas povoa- ções, não restando hoje d'ella mais do que os destroços, vestígios da sua grandesa, e alguns casaes dispersos, até que se fundou e consolidou a colónia portugueza de Villa Viçosa. Fundação do concelho Posto que o nosso primeiro rei cavalgou triumphante pelo Alto-Alemtejo, o domínio dos portuguezes ali circumscreveu-se a Évo- ra, em quanto se não ganhou Alcácer em 1217. Occuparam então os freires d'Aviz o tracto de terra do3 concelhos actuaes de Estremoz e seguintes até o Alandroal, — posto que timidamente, por estarem ainda occu- padas pelos mouros Elvas e Juromenha; mas em 1226 D. Sancho II os expulsou d'aqui e ao mesmo tempo Affonso IX de Leão os ex- pulsou de Badajoz e Merida, além do Caia, pelo que as terras de Villa Viçosa ficaram definitivamente incorporadas na monarchia portugueza. Depois de se erigir o concelho d'Elvas e outros visinhos, chegou a sua vez a Extre- moz em dezembro de 1258, reinando já D. Affonso III, o bolonhez. Borba e Villa Viço- sa ficaram comprehendidas no seu termo, porem os colonos, que affluiram a povoal-o, desde logo foram attrahidos pela bellesa e fertilidade do chão que esta villa hoje occu- pa, ao qual deram o nome de Val -Viçoso— e (segundo se suppõe) quando D. Affonso III passou para Badajoz em fevereiro de 1267, para ali se encontrar com seu sogro Affon- so XI, rei de Leão, alguém lhe pediu que erigisse a povoação do Val viçoso em séde * Romey, Hist. de Hisp, tomo 3.° pag. 216. VIL VIL 1139 de concelho, ao que D. Affonso III deferiu, dando-lhe o nome de Villa Viçosa e assi- gnando-lhe por termo a parte austral do concelho d'Estremoz. E logo os monges de Santo Agostinho, tendo impetrado licença para fundarem um convento em Extremoz, passaram a fundal-o na nova villa, inaugu- rando a construcção no dia 5 de maio d'a- quelle mesmo anno. Data pois de 1267 a moderna Villa Viçosa, e Ião rapidamente se desenvolveu a sua po- pulação, que o mesmo rei, no foral de conce- lho perfeito que lhe deu em 5 de junho de 1270, allude ao facto de se achar a nova villa já povoada e, a pedido dos seus habitantes (quod a me peciistis) lhe concedeu os mes- mos foros que dera a Monsaraz, exemptan- do-os de relego por cinco annos,— dos im- postos de montadigo, vinho carregado, almo- crevaria e odiavas — e dos de portagem em todo o reino,— exempções importantes de que não gosava Extremoz. O padre Carvalho na Clwrographia Por- tugueza e apoz elle outros chorographos dis- seram que no tempo de D. Affonso III se achava completamente destruída a povoação que anteriormente houve no chão de Villa Viçosa, o que é menos exacto. Conserva- vam-se restos d'ella no extremo sul, ou no bairro do Rocio, no chão ainda hoje deno- minado Aldeia,— outr'ora Aldeia dos Bugios, como diz Cadornega na sua Descripção de Villa Viçosa (ms.) alludindo aquelle titulo sarcástico aos mouros que n'ella viviam, já tolerados em communhão civil entre nós desde o reinado de D. Affonso II. Correspondia aquella aldeia ás mourarias e judiarias d'outras povoações— e os seus habitantes tinham também na Almedina a Rua do Bugio ou dos Bugios, para viverem no tempo de guerra. Como o chão da dieta aldeia fosse pouco defensável, por estar em um valle, os ses- meiros ordenaram a fundação da nova villa no morro que lhe ficava ao norte e fizeram a alcáçova no cimo d'e!le, em forma de tra- pesio, — e a cerca na encosta do dicto mor- ro, em forma de quadrado quasi perfeito, com tres portas:— a de Extremoz, a N.,— a tfEvora, a O.— e a de Olivença ou do Sol, a S., todas no meio de torreões. A estas obras de defesa juntou outras el- rei D. Fernando em 1375. Mandou abrir a E. a porta d' Elvas, no meio de duas torres quadradas,— e a O. a da Torre, que tomou o nome da Torre de Me- nagem (homenagem) que o mesmo rei man- dou fazer em frente d'ella com um passa- diço por cima da dieta porta, dando entrada para a torre e ligando-a com a cerca. Mandou também D. Fernando fazer duas torres separadas no muro da cerca, do lado N. e uma outra no lado E., hoje muito des- aprumada e separada do muro, por não ha- ver sido construída juntamente com elle, como foram os torreões primitivos. Nos dois ângulos inferiores, ao norte dos muros, estavam dois minaretes ou atalaias com frestas e óculos por onde as sentinellas espreitavam a campanha. Este antigo Castello ainda existe sem grandes ruinas, posto que, segundo se sup- põe, data do anno 1290. Já perdeu as ameias e parte do parapeito, mas ainda hoje facilmente pode subir-se> como nós subimos, aos seus muros, do alto dos quaes se gosa um panorama esplendido sobre a villa e seus formosos arrabaldes, até grande distancia. São o miradouro mais interessante de Villa Viçosa. Synopse dos fados mais importantes da historia geral d'esta villa 715.— É conquistada pelos mouros. 1217— É reconquistada pelo nosso rei D. Affonso II. 4226. — D. Sancho II expulsa d'aqui os mouros definitivamente. 1267.— Creação d'este concelho por D. Af- fonso III. 1270.— O mesmo rei lhe deu o 1.° foral, no dia 5 de junho, como já dissemos,— e D. Manuel lhe deu foral novo, como logo dire- mos, no anno de 1512. 1297.— Doação do padroado das suas egre- jas á ordem d'Aviz pelo rei lavrador. 1375. — D. Fernando reforça o castello, 1140 VIL VIL augmentando as suas obras de defesa;— ele- va-o a praça de guerra de 1." ordem e o cobs- tilue quartel general da província do Alem tejo. 1381.— Durando a guerra entre Portugal e Hespanha, aqui se reúnem todos os fron- teiros sob o commando de Gonçallo Vasques d' Azevedo, fronteiro-mór, e marcham para Elvas no dia 7 de julho. No inverno chega um corpo de alliados inglezes sob o commando de Maao Borni, os quaes matam Gonçallo Eannes dos Santos; •— vingam-no os seus patrícios fazendo car- nagem nos dictos inglezes. No verão seguinte vieram mais soldados inglezes com o conde de Cambridge e são alojados nos arrabaldes; —marchou o exercito para Elvas; mas pou- co depois fez-se a paz com Castella. 1383-1384. — Morto el-rei D. Fernando, segue Villa Viçosa a causa da independên- cia, acclamando o mestre d'Aviz. O seu fron- teiro ou adail, Alvaro Gonçalves, amigo in- timo de Pedro Rodrigues do Alandroal, mar- cha para Extremoz no mez de março de 1384, com os 30 escudeiros da Villa para se unir ás tropas do fronteiro-mór D. Nuno Al- vares Pereira;— impede a deserção de Gil Fernandes e Martim Rodrigues, d'Elvas,~ e assiste á batalha dos Atoleiros. Depois da Paschoa juntou-se com Pedro Rodrigues do Alandroal e fazem os dois uma entrada em Castella, trazendo grossa presa de gados, que repartem na planície de Pardaes, junto da capella de S. Marcos. Tiram depois o go- verno da praça d'esta villa a Vasco Porcalho; — este, sendo reintegradopelo mestre d'Aviz> prende Alvaro Gonçalves na torre de mena- gem e acclama o rei de Castella; mas foi li- bertado em uma emboscada nocturna perto do Pinhal, quando os commendadores de Alcantara e Calatrava o removiam para Oli- vença,—depois de terem sido derrotados por Pedro Rodrigues, no Alphaval. Em setembro, por traição de Vasco Porca- lho, são mortos Fernão Pereira, irmão do condestavel, e o seu escudeiro Vicente Es- teves, á porta da Torre, onde hoje se vê a capella de Nossa Senhora dos Remédios,— e Alvaro Gonçalves é recolhido no Castello ou- tra vez, como prisioneiro, adquirindo assim ' pelas suas desventuras o epitheto de Coita* do. Em seguida poz D. Nuno cerco a esta villa, mas sem effeito. No anuo seguinte, de- pois da batalha d'Aljubarrota, foge Porcalho para Castella e só então a villa volveu á obediência do mestre d'Aviz. São muito interessantes estes episódios e podem ler-se por extenso na Chronica de D João I por Fernão Lopes, cap. 98-106 e 172 da i.» parte. 1422.— Repassa D. Nuno ao seu neto D. Fernando, conda d'ArraioIlos, o senhorio de Villa Viçosa, com beneplácito d'el-rei,— e o dicto conde depois a elege por seu solar. 1455.— A 25 de maio é Villa Viçosa ele- vada a marquesado na pessoa do mesmo conde, pelo regente D. Pedro 1 em nome de D. Affonso V. Depois, fallecendosem succes- são legitima o marquez de Valença D. Af- fonso, herdeiro presumptivo do ducado de Bragança, passou este para o 1.° marquez de Villa Viçosa, ficando assim esta villa sen- do solar e corte da sereníssima casa de Bra- gança desde 1461, data em que falleceu na villa de Chaves o 1.° duque de Bragança D- Affonso, pae do dicto D. Fernando e filho bastardo d'el-rei D. João I. V. Guarda e Bragança. 1483.— É degollado em Évora o 3.° duque de Bragança, D. Fernando II, e extincto o ducado por el-rei D. João II. 1496.— Restabelece-o el-rei D. Manuel na pessoa de seu sobrinho materno D. Jaime filho do decapitado. 1498.— D. Manuel declarou o mesmo so- brinho herdeiro presumptivo da coroa de Portugal, por não ter filhos do seu 1 • ma- trimonio,— dá-lhe a prerogativa de usar das armas reaes— e de ter estado de príncipe, — o que ficou em vigor para todos os seus successores, não obstante caducar o direito de D. Jaime com o nascimento dos filhos que D. Manuel teve posteriormente. 1501. — D. Jaime dá principio ao paço actual no Reguengo. 0 — Cria-se n'esta época uma ouvidoria ou 1 V. Alfarrobeira, onde se descreve o trá- gico fim d'este infante. VIL VIL 1141 grande comarca, tendo por séde Villa Viçosa e comprehendendo alem d'esta villa: — Bor- ba, Arraiollos, Monsarás, E voramonte, Souzel, Monforte, Villa Fernando, Villa Boim, Alter do Chão, Chancellaria e os concelhos de Margem e Lagomel. Subsistiu esta comarca até 1834, tendo sido transformada em corre- gedoria no tempo de D. Maria I. 1512. — Morte violenta da duquesa D. Leo- nor de Gusmão, (filha dos duques de Medina Sidónia e mulher de D. Jaime) pelo crime de adultério. «Ao cabo de dez annos de matrimonio, um dia foi o duque avisado de que alta noite costumava entrar um homem novo nos quartos da duqueza, subindo por uma das janellas do lado do jardim. Na noite d'esse dia (2 de novembro) o infdliz, surprehendido depois j,de transpor a janella, immediata- mènte caiu morto aos pés do duque. «D. Jaime, cego pelo ciúme, entra furioso no quarto da espúsa;— manda ao seu capel- lão que a confesse— e em seguida, surdo ás vozes da desditosa que protestava pela sua innocencia, com cinco feridas lhe arrancou a vida. «Soube-se depois, que as visitas noctur- nas de Antonio Alcoforado (assim se cha- mava aquelle mancebo) eram para uma das damas da duqueza.* Assim descreve tão triste facto o sr. I. de Vilhena Barbosa, meu bom amigo e mestre, na sua obra Cidades e Villas. . . vol. 2.° pag. 172. V. lambem Montes Claros, no vol. 5.° d'este diccionario, pag. 534, col. 1." — No mesmo anno, em 1 de junho, deu el-rei D. Manuel foral novo a esta villa. 1513. — Preparativos da expedição d'Aza- mor, que o duque D. Jaime vae commandar, levantando muita gente nos seus estados e levando pomposo séquito de cavalleiros. - No seu regresso d'Azamor, reformou a alcáçova, transformando-a em cidadella para armas de fogo, e cingiu a villa com muros novos, tendo as portas seguintes: — a dos Nós, a N., — a de S. Sebastião, a S., — a da Esperança, a E. — e a de Santa Luzia, a 0. das quaes hoje só restam a 1.» e 3." 1537.— Grandes festas para solemnisar o consorcio de D. Isabel, filha de D. Jaime, com o infante D. Duarte, assistindo el-rei D. João III e os infantes D. Luiz, D. Affonso e D. Henrique. No tomo 6.° da Hist. Geneal. se encontra uma minuciosa descripção das dietas festas. 1571.— Foram lambem muito notáveis e fizeram er.co em toda a península a pompa e as festividades com que o duque D. João I recebeu na passagem para Lisboa o cardeal Alexandrino, sobrinho do Papa Pio V e en- viado por elle corno legado aos reis de Fran- ça, de Hespanha e de Portugal. 1580.— Foi surprehendido 0 castello na noite de 21 para 22 de junho, roubado o grande thesouro que os duques ali tinham, e posta a villa na obediência de Filippe II, pelo capitão Cisneros, achando-se a corte ducal em Portel e a villa quasi deserta por causa da peste que então grassava. —1603.— Festas memoráveis pelo casa- mento do duque D. Theodosio II, cuja des- cripção se lé na Hist. Geneal. tomo 6.° 1633.— Novas festas pelo casamento de D. João II, depois rei D. João IV, filho do du- que D. Theodosio, as quaes se acham tam- bém descriptas na mesma Historia Genealó- gica da Casa Real, tomo 7.° 1638.— Tumultos contra o imposto do real d'agua 1 1640.— O duque D. João II é persuadido por Pedro de Mendonça, na Tapada, a accei- tar a coroa real, contribuindo para essa re- solução nomeadamente o seu secretario An- tonio Paes Viegas e a duqueza, sua esposa. Consta que ella, vendo-o periclitante, lhe disse: A morte te espera em Madrid e talvez a encontres em Lisboa, mas em Madrid mor- rerás como vil prisioneiro, e em Lisboa co~ berto d'honras e como rei. 1 O imposto d'este nome foi creado por D. Manuel em 1498, a pedido dos povos de Elvas, para concerto d'um poço que abas- . tecia d'agua aquella povoação; depois se prolongou para a construcçã3 do grande aqueducto da Amoreira, — e em seguida se ampliou a todo o paiz até hoje, em favor do I estado. ! V. Elvas, vol. 3.» pag. 20, col. 1.» e 2.» 1142 VIL Também contribuiu muito para aquella resolução e para o vencimento da causa o dr. João Sanches de Baena, que nasceu em Villa Viçosa, e na egreja da freguezia de S. Bartholomeu, foi baptisado em 1582 e fale- ceu na cidade de Lisboa em 1643, tendo si- do lenle de cânones em Coimbra, juiz da re- lação do Porto e da casa da supplicação, pro- motor das justiças, conselheiro da fazenda» procurador da coroa, desembargador do Pa- ço, aleaide-mór de Villa do Conde, juiz da inconfidência e sempre muito estimado e considerado pelo duque de BragaDça D. João, depois rei D. João IV. O dr. João Sanches de Baena foi um dos mais beneméritos patriotas de 1640 eéhoje muito dignamente representado pelo seu 6.° neto Augusto Romano Sanches de Baena e Farinha, cavalheiro prestimoso e laureado escriptor publico, nascido em 1822 na fre- guezia de Vairão, junto de Villa do Conde, e feito visconde de Sanches de Baena por carta de 13 de fevereiro de 1869, na qual se allude muito distinctamente aos relevantes serviços prestados pelo seu 6.° avô á causa da restauração em 1640. Veja-se n'este diecionario o artigo Lisboa, vol. 4.° pag. 386, col. 1.",— o artigo San- ches de Baena (Joãe) no Diecionario Popu- lar, dirigido pelo sr. Pinheiro Chagas, — e as Memorias histórico- genealógicas dos du- ques portuguezes do século xix pelos srs. João Carlos Feo de Castello Branco e Torres e Visconde Sanches de Baêna, pag. 313, 746, 749 e 767,— Lisboa, 1883. —Parte o duque para Lisboa em 3 de de- zembro do mesmo auno de 1640 e manda conduzir para ali os thesouros da sua casa; — no dia 20 do dicto mez partiu também para Lisboa a duqueza e rainha D. Luisa com a numerosa fidalguia e creadagem da sua casa, perdendo esta villa o seu maior foco de riquesa e d'esplendor. 1 1 Para se formar idéa do que Villa Viçosa perdeu, note-se que os duques de Bragança tinham a sua casa montada eomo a dos nos- sos reis. Servida por grande numero de fi- dalgos com as mesmas qualificações de of- VIL —No dia 7 do dicto mez teve logar a ac- clamação o/Hcial de D. João IV pelo muni- cípio. 1663-64.— Destruição e abandono do For- te de S. Bento, que havia sido feito por D. Jaime ou por D. Theodosio I;— demoliu-se também grande numero de casas e os paços do concelho para se construir a estrella ex- terior do castello, cortinas e meias luas em differentes pontos dos muros de D. Diniz, por se haver perdido Juromenha e passar Villa Viçosa a ser praça da fronteira. 166o.— Bloqueio do castello pelo marquez de Carracena em 9 de junho e levantado no dia 17 do dicto mez com a Victoria de Mon- tes Claros, padecendo muito esta villa por essa occasião. V. Montes Claros, vol. 5.° pag. 534, col. 1/ 1711. — O marquez de Bai, general de Fi- lippe V, estando em Borba em 2 de juuho, manda um parlamentado a Villa Viçosa exi- gindo a sua submissão ao rei castelhano e vinte e cinco mil patacas de contribuição. As auctoridades civis e militares responde- ramlhe negativamente eprepararam-separa o receber, mas elle houve por bem retirar- se sem se abeirar d'esta villa. 1755.— Por occasião do terramoto do 1.° de novembro caiu o tecto da nave central da matriz, matando 29 pessoas do sexo fe- minino e ferindo outras muitas. 1769.— No dia 3 de dezembro um foras- teiro, João de Sousa, ex-soldado da arlilhe- ria d'Elvas, espancou el-rei D. José á porta do Nó, indo para a Tapada. 1801.— Entra na villa uma brigada hes- panhola, achando-se ella desguarnecida— e ficiaes ma iorese menores, observava em tudo o mesmo eeremonial da corte — e chegou a contar oitocentos criados de todas as gra- duações I . . . A ausência dos duques e da sua nume- rosa familia, bem como a de muitas outras pessoas principaes da terra, que alcançaram empregos em Lisboa, deixou a villa quasi deserta. Accresceu ainda a longa e encarni- çada lucta contra a Hespanha e que afugen- tou de Villa Viçosa muitas famílias por não se julgarem seguras em uma terra tão pró- xima da raia. VIL VIL 1143 teve de pagar uma contribuição de 16 con- tos de réis aos invasores, mas não houve effusão de sangue. 1806. — Chegou aqui a família real no dia 18 de janeiro e demorou-se até 22 d'abril, passando aqui a semana santa. 1807. — Em novembro foi levado o the- j souro da capella real para Lisboa, d'onde seguiu com o principe regente para o Bra- zil, ficando apenas em Villa Viçosa as al- faias indispensáveis ao culto. Também prejudicou muito esta villa a longa ausência dos nossos reis, pois não mais a visitaram até depois do seu regresso do Brazil, acerescendo ainda o muito que soffreu durante a guerra peninsular. 1808. — Boubam os francezes a prata das egrejas; amotina-se o povo; — o general francez d'Avril manda de Extremoz um des- tacamento para o castello. Bevolta-se o povo outra vez a 10 de junho; cerca o destaca- mento, mas este é libertado no dia seguinte por ifátorí/, correndo muito sangue. —Antonio Lobo Infante de Lacerda, sar- gento-mór, põe- se á frente dos revoltosos; —forma uma companhia de miqueletes—e organisa a insurreição do Alemtejo, d'accor- do com o general Leite e com o coronel hespanhol D. Frederico Moretti, governador de Olivença. 1815.— Vem aquartelar-se aqui o regi- mento de eavallaria n.° 2. — Creação do exemplo d'esta villa por bulias de Pio VII— e inauguração do mesmo exempto com grande pompa, no dia 19 de de* zembro. 1818.— É instituída a 6 de fevereiro, no dia da coroação d'el-rei D. João VI, a ordem militar de Nossa Senhora da Conceição d'es- ta villa — e passa a mesma Senhora a ser orago da capella Beal, em vez do Doutor Máximo. 1833. — Invasão do cholera morbus em ju- nho e julho, havendo muitos casos fataes. 1834. — Acclamação da rainha D. Maria II em 28 de maio. —São extinctos em julho os 3 conventos de frades;— fecha-se o Collegio dos Reis em outubro;— supprime-se o cabido da Capella Real;— extingue-se a comarca ou correge- doria de Villa Viçosa— e inaugura-se uma época fatal para esta villa!. . . 1835.— É creado um julgado de direito ou pequena comarca judicial n'esta villa, tendo annexos os concelhos de Borba, Bedondo, Alandroal, Juromenha e Ferreira de Terena, — durou porém só dois annos. Foi extincto por decreto de 29 de novembro de 1836, passando então esta villa a fazer parte da comarca judicial d'Estremoz. 1848.— Grande contentamento por fixar n'esta villa o seu quartel o regimento de ea- vallaria n.° 3. 1855— Esplendida festa gratulatoria no dia 1.° de julho pela definição dogmática da Immaculada Conceição da Mãe de Deus, saindo em procissão a padroeira do reino. Foi esta a mais pomposa de todas as fes- tas que por tal motivo se fizeram em Por- tugal. 1875.— É removido d'aqui o regimento de de eavallaria n.° 3— e até hoje (1886) ape- sar das maiores instancias e das mais lison- geiras promessas,— o governo ainda para aqui não mandou corpo algum do nosso exercito. Foi este o ultimo golpe dado em Villa Vi- çosa, pelo que nas suas ruas, outr'ora cheias de vida, hoje cresce francamente a herva! Muito respeitosamente chamamos para este lúgubre tópico a attenção de S. M. el- rei o sr. D. Luiz, como representante, suc- cessor e herdeiro da sereníssima casa de Bragança, ou dos nobres senhorios e dona- tários de Villa Viçosa, os quaes prestaram a esta villa mais serviços e benefícios, quan- do eram simples duques, do que lhe teeni prestado desde 1640 todos os seus successo- res, sendo reist . . . Senhores e donatários de Villa Viçosa D. Brites, filha de Fernando IV de Cas- I tella, foi a 1." senhora donatária d'esta villa, dando-lh'a em dote el-rei D. Diniz, no anno de 1297, quando a dieta senhora casou com o principe D. Affonso, depois rei D. Afibn- so IV. Foi dada também por el-rei D. Fernan- 1144 VIL VIL ào I á rainha D. Leonor Telles de Menezes, em 1372, mas esta mercê não chegou a du- rar 3 annos, porque o rei inconstante, achan- do-se n'esta villa em 3 de janeiro de 1375, deu á dieta raiDha Villa Real de Traz-os- Montes, rehavendo Villa Viçosa para a co- roa. D. Nuno Alvares Pereira foi o seu 3.° do- natário conhecido. Em premio dos seus re- levantes serviços deu-lh'a D. João I em 23 d'agosto de 1385. Do santo condestavel passou ao seu neto D. Fernando, em 1422, e andou na casa de Bragança até se extinguirem de facto no nosso paiz os donatários em 1834,— exce- ptuando o período em que a teve o infante D. Manuel, em seguida á degolação do du- que D. Fernando II. Foram, pois, seus donatários: 1. °— D. Brites. 2. °— D. Leonor Telles de Menezes. 3. °— D. Nuno Alvares Pereira. 4. ° — D. Fernando I (primeiro marquez de Villa Viçosa e filho segundo do 1.° duque de Bragança.) 5. °— D. Fernando II. 6. °— O infante D. Manuel, duque de Beja (1483-1496) por mercô d'el-rei. D. João II. 7. °— D. Jaime, 4.° duque de Bragança, por doação d'el-rei D. Manuel. 8. °— D. Theodosio I. 9. °— D. João I. 10. °-D. Theodosio II. 11. °— D. João II, como duque,— e IV, co- mo rei. Tendo este abdicado a casa de Bragança em seu filho D. Theodosio, dispondo que a dieta casa fosse apanágio dos filhos primo- génitos dos reis brigantinos, conta mais esta villa os donatários seguintes: 12. °— D. Theodosio III. 13. ° — D. Affonso VI. 14. °-D. Pedro II. 15. °— A infanta D. Isabel Josepha e 16. °— O infante D. João, que morreu me- nino, ambos filhos de D. Pedro II. 17. »-D. João V. 18. e —A infanta D. Maria Barbara e 19.o-0 infante D. Pedro, filhos de D. João V. 20. °— D. José I. 21. »— D. Maria I. 22. °— D. José, príncipe do Brazil. , 23. °— D. João VI. 24. °— D. Pedro IV. 25. °— D. Miguel I. D'então para cá ficou subsistindo somente o titulo de marquez de Villa Viçosa na se- reníssima casa de Bragança— e nunea mais o provimento dos cargos públicos, e te, cor- reu pela junta administrativa da mesma casa;— mas foi sempre e é ainda hoje a casa de Bragança património particular dos nos- sos reis, sendo Villa Viçosa o florão da dieta casa, polo que os nossos reis são ainda hoje absolutamente os primeiros proprietários d'esta villa e d'este concelho, como provare- mos em dois traços no tópico seguinte. Para lamentar é, pois, que SS. MM. não se condoam dVsta pobre villa que por tantos títulos deviam estimar e proteger. Mais, — incomparavelmente mais, — de- vem, por exemplo, — a cidade de Lamego ao sr. visconde de Guedes Teixeira— -e a villa de Paredes ao sr. dr. José Guilherme Pacheco,— doÍ3 cidadãos prestimosos, mas que vivem do seu trabalho. 1 Perdoe-nos S. M. a indis- crição do historiador, pois já estivemos em Villa Viçosa e com profunda magoa vimos a herva crescendo nas ruas ! . . . Para suster a decadência d'esta formosa e tão histórica villa, basta o seguinte : 1. ° — Dar-lhe, como já teve, um dos corpos do nosso exercito. 2. °— Fazel-a, como já foi, cabeça de co- marca. E, em vez de decahir, progredirá, apenas se prolongue o caminho de sueste, desde a estação d'Estremoz até á d'Elvas, por Borba, Villa Viçosa e proximidades do Alandroal, — e (melhor ainda) se ligue a estação d'Es- treraoz com a do Crato. Ficaria assim Villa Viçosa em fácil com- 1 V. Lamego e Paredes n'este dieeionario e no supplemento. VIL VIL 1145 municação cora as nossas linhas férreas de leste e norte e poderia levar ao Porto muito azeite, muita cortiça e outros géneros sem ser, como hoje, obrigada a conduções pesa- díssimas até á estação d'Elvas— e a pagar o percurso dos 49 kilometros d'Elvas ao Cra- to, o que representa grande demora, grande despeza e grande peia para as suas transac- ções. Sabemos que os dictos ramaes estão pro- mettidos e estudados, ha muito, e fazemos votos por vel-os realisados sem mais delon- gas, como é de plena justiça. Também sabemos que os dictos ramaes não demandam obras d'arte nem grandes sommas— e dariam muita vida ao Alto-AIem- tejo. Chamamos para este mo- mentoso assumpto a attençào do nosso governo,— dos gran- des proprietários d'esta pro- víncia—e nomeadamente a at- tençào e a benevolência dos nossos reis, como chefes do es- tado e representantes da sere- níssima Casa de Bragança, que muito lucraria com as ditas obras, pois é talvez a maior' proprietária do Alto-Alemtejo. Palacio Real Ergue -se este palácio ao norte da villa sobre o grande Terreiro do Paço, occupan- do as faces N. e O. do mencionado campo, — e é todo de mármore de Montes Claros. Olha para E. a sua fachada principal e tem 4 pavimentos, representando os 4 estylos ar- chitectonicos, pois o 1.° pavimento ao rez do chão é do çstylo dorico,—o 2.° (andar nobre) é do estylo jónico,— o 3.° è do corin- thio — e o 4.° do compósito I .. . Este ultimo pavimento,— espécie de aguas furtadas,— tem apenas 3 desgraciosas janellas, no alto e a meio da grande fachada,— e cada um dos outros tem 23 janellas de frente. A pariu posterior d'este grande edifício olha para os jardins, aos quaes se segue o Reguengo, vasta propriedade com 3 hortas i annexas, formando uma mimosa e bella quinta com portas para o campo do Carras- cal. Na parte que olha para o sul está o Jar- dim do Bosque, onde se acham os Quartos Novos ou Reaes, com janellas de sacada, e frontaria de cimento era 3 andares —a torre da capella— e varias casas de recreio ao fundo, avultando entre ellas a Casa de Lis- boa, junto do Chafariz d'El Rei. O mencionado Jardim do Bosque occupa toda a face N. do Terreiro do Paço e tem sobre elle janellas, das quaes outr'ora as damas assistiam ás justas, cavalhadas e tor- neios, pelo que também se denominou Jar- dim das Damas. Por detraz de tudo isto se ergue a Ilha ou cerrado, onde estão as cavallariças, cochei- ras e moradias dos trintanarios e d'outros servos dos duques. Este palácio, feito em substituição do que esteve no Castello, onde viveram o condes- tavel e os primeiros duques, foi principiado por D. Jaime, no R-guengo, em 1501, e con- tinuado e ampliado pelos seus successores. D. Theodosio II fez a grande fachada de mármore, deixando em meio o 2. 0 pavimen- to, que D. João V acabou, fazendo também grandes obras em todo o edifício. Hoje pouco tem digno de menção interior- mente, mas outr'ora foi luxuosamente deco- rado. Vestiam lhe as paredes das suas nu- merosas salas e quartos preciosas telas de brocados, velludos e guadamecins, bordados a ouro e prata, e cobriam-lhe os pavimentos custosas alcatifas. Nada d'isto hoje lá se en- contra e as salas estão quasi nuas de orna- tos, exceptuando uma de grandes dimensões, denominada a Sala dos Tudescos, onde se vêem os retratos de todos os duques de Bra- gança e de outros príncipes d'esta família pintados a oleo, e em corpo inteiro, por Pe- dro Antonio Ouillar, pintor notável francez ao serviço de D. João V. El-rei D. José I mandou reedificar os Quartos Novos em 1770; — D. Maria I fez parte do 3.° audar da frente e do 2.° das trazeiras, até o ligar aos Quartos Novos;— accrescentou estes e fez também a casa do 1146 VIL jantar, tudo isto pouco antes da troca das Princesas, em 1784. Nos nossos dias apenas se dividiram al- gumas salas em quartos, para melhor ac- eommodação dos hospedes, mas todo o palá- cio se encontra limpo, bem conservado e de- centemente mobilado. A Tapada Real Este grande domínio foi também come- çado por D. Jaime e muito beneficiado e me- lhorado pelos duques seus successores, dis- tinguindo-se entre elles D. João I, que não só lhe annexou muitos prédios pelos annos de 1570, mas fez a egreja de Nossa Senhora de Belém e transformou o palacete em uma vi- venda digna dos duques de Bragança. Seu filho D. Theodosio II fez a capella de Santo Eustáquio — e por ultimo D. João V augmen- tou e beneficiou também a dieta tapada de- pois de 1729, cercando-a de novos muros e fazendo-lhe a porta principal no Outeiro de S. Bento, ficando assim comprehendida na vasta cerca a ermida de S. Jeronymo com o seu grande pinheiral, que já eram da casa de Bragança. Tem este grande prédio cerca de 15 kilo- metros de circumferencia e é guardado por muitos couteiros e porteiros, a pé e a Ca- vallo. Antigamente a Tapada Real, assombro de nacionaes e estrangeiros, e celebrada por Lope da Vega, foi toda dedicada aos praze- res da caça. Tinha extensos bosques, muitas fontes, la- gos, jardins, casas de campo, excessiva abun- dância de veados, corças e javalis, — viveiros d'aves e peixes, etc, — tudo tractado com magnificência verdadeiramente real. Hoje não tem tantos embellesamentos, mas rencie mais, porque separaram para viveiro da ca- ça, de que ainda tem grande copia, um terço do grande prédio, que vedaram com um muro,— applieando os dois terços restantes para a agricultura e creação de gado,— e di- vidiram esse extenso chão em pequenos lo- tes que arrendaram a differentes lavradores. Tem grandes montados de sobro e ainda conserva as fontes, lagos e casas de campo, VIL mas dos seus jardins d'outr'ora apenas res- tam vestigios. Este grande prédio principia a distancia de 400 a 500 metros da extremidade norte do Terreiro do Paço e prolonga-se pelos ter- mos da freguezia de Nossa Senhora da Con- ceição d'esta villa e da de Santa Barbara de Borba. Só a cortiça que produz rende por anno 3 a 4 contos de réis— e a bolota egual quan- tia,— alem das rendas da azeitona, searas, lenha, etc, e dos seus 2 fornos de telha e cal, o que tudo deve approximar-se de dsz contos de réis por anno. Só a Tapada vale bem duzentos contos e devem valer approximadamente egual quan- tia as outras muitas propriedades que a se- reníssima casa de Bragança possue n'esle concelho, taes são: — o Reguengo do Palacio Real,— o de Fatalão na freguezia de S. Ro- mão,—as herdades da Granginha e das Amo- reiras na freguezia das Ciladas,— 2 montes d'El-Rei e 2 hortas (quintas) na freguezia de Bencate!,— a Horta d'El-Rei, e a da Alfava; nos subúrbios da villa tem a Horta às S. Luiz e grande numero de prédios mais peque- nos, olivaes, ferragiaes, um lagar d'azeite a muitos foros, — alem do Palacio Real, do Pa- ço do Bispo e d'outros muitos prédios urba- nos na villa. Também a Casa de Bragança possue mui- tas herdades nos concelhos limilropb.es;;— Borba, Alandroal, Elvas e Estremoz, onde tem alguns almoxarifados especiaes. Do exposto se vê que a Sereníssima Casa de Bragança é talvez, como já dissemos, — a maior proprietária do Alto-Alemtejo e por consequência uma das mais interessadas nos melhoramentos d'esta província. 1 Capella Real Teve principio no paço dos duques de Bra- 1 Diz-se que o maior proprietário do Álem- tejo actualmente é o digno par do reino José Maria dos Santos, de Lisboa, cuja fortuna, se avalia em mais de quatro mil contos dè réis ! . . . V. Villa Real de Traz-os-Monfeí> ml 10.» pag. 1034, coL 2. ' VIL VIL 1147 gança em 1505, por bulia do papa Julio II, a instancias de D. Jaime; o cabido porem foi organisado pelo duque D. João I com aucto- risação do papa Gregorio XIII, creando-se duas dignidades:— deão e thesoureiro-mór, que já existiam, mas sem instituição ponti- licia. O mesmo duque lhe deu por essa oc- casião estatutos, que D. Theodosio II refor- mou. D. João V reorganisou-a em 1735 e a ele- vou á cathegoria de Insigne e Real Colle- giada,— impetrando de Bento XIV a graça de ser o deão sempre um bispo titular. Aos capellães deu as honras de Conegos-capel- lães-fidalgos, — creou as classes de acolylhos, maceiros, custódios e sineiros em vez dos antigos moços da capella — e ornou a com imagens riquíssimas de tamanho natural, de prata,— custosas alfaias e paramentos, — tudo com immensa profusão e grandesa. Deu lhe também novos estatutos, que ain- da hoje se conservam manuscriptos; — refor- mou o edifício da capella, — jimtou-lhe a torre com um carrilhão de oito sinos e re- lógio de horas e quartos com quatro mostra- dores,— e reedificou o antigo palácio da du- quesa D. Joanna de Mendonça, arvorando-o em Paço Episcopal para residência do deão. Clemente VIII, em 1601. exemptou daju- risdieção dos arcebispos esta capella e em 1815, o papa Pio VII, a pedido de D. João VI, a declarou exempta nullius dioecesis e conce- deu ao deão-bispo jurisdicção ordinária em todo o termo de Villa Viçosa í . . , Também por essa occasião o aiesmo rei D. João VI reformou de novo o quadro ca- pitular, passando os capellães antigos á clas- se de cónegos, creando de novo a classe de beneficiados; — quando instituiu em 1818 a ordem de Nossa Senhora da Conceição de Villa Viçosa, deu o habito da Conceição aos cónegos, alem do habito de Chrisío que já tinham desde 1806,— e dea á capella como orago a Virgem da Conceição, em vez do an- tigo orago, que era S. Jeronymo. Antes da reforma de D. loão Vjá a capella havia tido um deão-Mspo sagrado,— D. Fr. Pedro de Santo Agostinho, titular de Cons- tância, que falleceu em 1675 e jaz na casa do capitule do convento dos capuchos, em sepultura brasonada. Depois teve os seguin- tes: 2. °— D. João da Silva Ferreira, titular de Tanger, 1743-75. Jaz no convento de Santo Agostinho. 3. °— D. Vicente da Gama Leal, bispo titu- lar de Hetalonia, 1777-91. 4. °— D. José Nicolau d'Azevedo Coutinho Gentil, titular de Zuara, 1795-1807. 5. °— D. Vasco José Lobo, bispo titular de Olba, 1811-22. 6. °— D. Fr. Manuel da Encarnação Sobri- nho, titular de Nemesis, 1825-34. Por ser muito amigo de D. Miguel, soffreu bastante. Foi primeiramente degradado para Portel e depois removido para Lisboa, onde falleceu em 15 de dezembro de 1846. Foi extincto de facto o exemplo d'esta villa em 1834. O cabido sustentava-se com os dízimos de varias commendas que rendiam cerca de 40:000 cruzados. Extinctos os dízimos em 1834, extinguiu-se também este cabido, e assim acabou a pompa do culto na capella Real. Hoje tem apenas 1 capellão, 1 sacris- tão, 1 relojoeiro e 1 sineiro!... Pela reforma de 1815 o seu pessoal era o seguinte:—! deão, bispo titular e sagrado, — 16 cónegos, todos cavalleiros da Ordem de Christo e da de Nossa Senhora da Conceição de Villa Viçosa, — 16 beneficiados,— 10 aco- Iytos eoreiros, — 2 maceiros,— 3 custódios, —3 sineiros com 2 ajudantes, — 1 relojoeiro, — 2 organistas,— 2 penitenciários e 12 can- tores,— afóra os alumnos do Collegio dos Beis, que vamos já descrever. Hoje nenhuma das sés do nosso paiz, — nem a própria patiiarchal — tem um quadro tão numeroso 1 Com a extincç.ão da real capella perdeu Villa Viçosa um grande elemento de vida. Collegios l.°^-Collegio dos Reis. Teve esta villa 3 collegios:— um dos San- tos Reis Magos, denominado vulgarmente 1148 VIL VIL Collegio dos Reis, — outro de Meninos or- phãos, — e outro $ Artes. De todos o mais im- portante era absolutamente o dos Beis, tam- bém denominado Seminário, depois da re- forma da Capella Real por D. Joào V. Foi este collegio fundado pelo duque D. Theodosio II, que o sustentou á sua custa durante a sua vida e, desejando que elle não acabasse, por sua morte o dotou largamente, como pôde ver-se no seu testamento feito em 1628 e que se encontra no tomo 4.° das Provas da Hist. Genealógica. Alem de muitos bens de raiz especificados, deixou-lhe em globo lodos os que adquiriu no termo de Villa Viçosa, e no de Borba, du- rante os últimos dez annos da sua vida. Era este collegio destinado para a educa- ção dos ministros e músicos da Capella Real, — e o duque D. João II, sendo já rei, lhe deu estatutos próprios, que se encontram no lo- gar citado supra. A principio ensinava-se n'elle instrucção primaria, latim, musica e cantochão; mas, depois que D. João V entregou aos jesuítas a direcção d'elle em 1735, melhorou consi- deravelmente na parte moral, «cientifica e litteraria, bem merecendo o titulo de Semi- nário. Os aluronos internos eram só 12, mas franqueavam-se as aulas ao publico e teve grande numero de alumnos externos. Durava o internato oito annos e á saida se dava aos alumnos um vestuário completo de roupa branca e preta e 24#000 réis em dinheiro. Alem d'isso tinham de futuro pre- ferencia nos concursos para as vagas do ca- bido e coro da Capella Real. O edifício d'este collegio estava e está na Ilha, á entrada de Villa Viçosa, indo d'Es- tremoz. Foi reedificado no tempo d'elrei D. José, pelo quQ ainda se conserva em bom estado sob a posse da Casa de Rragança. Esta em 1848 o cedeu ao regimento de ca- vallaria n.° 3, para hospital de convalescen- ça, o que o damnificou bastante e mais ain- da o estar devoluto desde 1875. Este collegio fechou-se em outubro de 1834 por se recusar a Sereníssima Casa de Bragança a satisfazer as consignações do costume «e não ter o reitor que dar de co- mer aos alumnos 1 . . . >> Em tempo da rainha D. Maria II, por duas vezes a camará e o povo de Villa Viçosa pe- diram a restauração d'este collegio, allegan- do ter elle dotação própria em bens de raiz, que se acham na posse da Sereníssima Casa de Bragança, mas— nada conseguiram I . . . lmmensos fructos se colheram d'este col- legio. São filhos d'elle o cónego Joaquim Cor- deiro Gallão, Fr. José Marques de Santa Rita e Silva, Antonio José Soares, Francisco Pe- res Ailon de Lara, Francisco Antonio Fran- co e outros muitos, alguns d'elles músi- cos distinctos e compositores. Também n'elle frequentou preparatórios um contemporâneo muito illustre de Estre- moz, o sr. dr. e conselheiro Diogo Antonio Palmeiro Pinto, que foi governador civil em Portalegre, presidente da camará dos depu- tados, director da Alfandega do Consumo em Lisboa, etc. 2. °— Collegio das Artes. Estava no convento de Santo Agostinho e foi instituído em 1560 pelo duque D. Theo- dosio I. Não passou de um simples lyceu, onde se leccionava— portuguez, latim, grego e rhe- thorica, mas o plano do fundador eraeleval-o á cathegoria de Universidade. Nos últimos tempos havia n'elle somente duas aulas,— uma de portuguez e outra de latim, regidas pelos frades, que por isso re- cebiam uma pequena gratificação da Casa de Bragança. Aquella3 mesmas aulas se fe- charam approximadamente em 1813, por or- dem da regência de Portugal. 3. °— Collegio dos Meninos Orphãos. Foi principiado por D. Isabel de Lencas- tre, primeira esposa do duque D. Theodo- sio 'I, fallecida em 1558, pois no seu testa- mento deixou á Santa Casa da Misericórdia d'esta villa uma pensão para sustento de dois orphãos;— depois seu marido, no testa- mento com que falleceu era 1563, também ' legou á Misericórdia certo capital para sus- tento de mais 4 orphãos. Estavam estes seis VIL VIL 1149 meninos na casa do capellão-mór da Mise- ricórdia, que recebia da mesma a verba es- tipulada para os alimentos, vestuário e edu- cação d'elles. Foi seu t,° reitor o padre Fr. Manuel Ca- valleiro, do qual tomou o nome a rua pró- xima do collegio da Companhia de Jesus %. Por falta de ulteriores doações e de re- ceita nunca teve casa própria e foi extincto no século xvur, durando ainda assim mais de cento e cincoenta annos. Alcaides -mór es Não está bem averiguado este assumpto. Sueiro Peres foi o alcaide-mór mais an- tigo de. que ha noticia. Era 30 d'outubro de 1297 assistiu como testemunha ao aueto de entrega das praças de Campo Maior e Ouguella, que indevida- mente andavam na posse de Fernando IV, de Hespanha. Depois de Sueiro Peres apenas se encon- tra memoria dos seguintes: 1. °— Pedro Affonso, no anno de 1336, em tempo de D. Affonso IV. 2. °— Gonçallo Rodrigues, em 1367, no principio do reinado de D. Fernando. 3. °— Gonçallo Pires d'Azambuja, em 1370. 4. °— Garcia Pires do Campo, em 1383. 0 Mestre d'Aviz, suspeitando da lealdade d'este alcaide-mór, substiiuiu-o pelo seguinte: 5. ° — Vasco Porcalho, de bem porca e triste memoria, como indicámos supra, na synopse relativa aos annos de 1383-1384. Vide. 6. ° — Affunso Pires Negro, durante o se- nhorio do santo condestavel, tendo sido es- cudeiro d'elle. 7. °— D. Fernando d'Eça, no tempo do du- que D. Fernando II. Era fidalgo de sangue real, descendente d'el-rei D. Pedro I e de D. Ignez de Castro. Sufcedeu«lhe seu filho 8. °— D. João d'Eça. 9. °— Aflonso Vaz Caminha. Falleceu em 1569 e succedeu-lhe seu fi- lho 1 Logo fallaremos d'este collegio, no titulo dos Conventos. VOLUME X 10.°— João de Tovar Caminha. H.°— Thomé de Sousa Coutinho, por no- meação d'el rei D. Juão IV. Tomou posse em 5 de janeiro de 1647 e succedeu-lhe seu filho 12.°— Fernão de Sousa, 1.° conde do Re- dondo (da 2.a série) conservaDdo-se esta al- caidaria na mesma casa até 1834. Ordenanças Esta villa, desde o tempo d'el-rei D. Se- bastião, teve duas companhias de ordenan- ças; mas no anno de 1641, tornando-se pre- ciso firmar a independência do reino, crea- ram-se mais duas companhias n'esta villa, e no seu termo outras duas, denominadas companhias do campo. D'eslas uma linha or- dinariamente a sua séde na parochia de S. Rnmão, comprehendendo também 03 con- tingentes das freguezias de Terrugem e Ci- ladas;—a outra tinha a séde em Pardaes, comprehendendo os contingentes das fregue- zias de S. Braz dos Mattos e Bencatel, pas- sando depois para esta ultima parochia a dita séde. * Formavam as seis companhias o terço de ordenanças de Villa Viçosa, que se conser- vou alé 1834. Cada uma das 6 companhias teve no seu principio apenas um capitão e um alferes; —depois se lhe addicciunou mais um te- nente. O terço era commandado por um capitão- mór, ou por um sargento-mór, com seu aju- dante. O ultimo sargento-mór foi Manuel Diogo da Silveira Menezes, fallecido em 1863. Os soldados não tinham fardamento— e ultimamente nem armas t Cada um levava as que tinha; mas os officiaes fardavam-se de panno verde com golla e canhão encar- nados,—banda, espada curva e chapéu ar- ma lo. Como Villa Viçosa era também cabeça de comarca das villas que o ducado de Bra- gança tinha no Alemtejo, havia também aqui um Capilão-mór e um Sargento-mór do Alar- de, que mandavam em chefe todos os terços da comarca e recebiam um pequeno soldo. 73 1150 VIL VIL O ullimo sargento-mór do Alarde foi Luiz Jorge da Costa Amado, fallecido em 1822. Este terço era de infantaria, mas durante a guerra da restauração também teve uma companhia de ordenanças montadas. Auxiliares Foram creados em 1643, na dieta guerra da restauração, os soldados auxiliares, e des- de 1644 se creou o terço de Villa Viçosa, que era formado por uma companhia d'esta villa com outras da sua comarca, e mandado por um mestre de campo, sempre fidalgo distin- cto e residente em Villa Viçosa. Estes soldados a principio eram infantes e por ultimo caçadores. Passados dez annos creou-se também uma companhia de auxiliares montados, á sua custa, composta de gente d'esta villa e da de Borba, sendo capitão d'ella Estevam Men- des da Silveira. Foi extincta em 1668, no fim da guerra da restauração. Dos auxiliares só o mestre de campo, o sargento-mór e o ajudante recebiam soldo, em tempo de paz. Nos fins do século xviu este terço d'auxi- liares tomou a denominação de liegimento de Milícias de Villa Viçosa — e o seu mestre de campo a de coronel. Reorganisado o nosso exercito em 1808, no começo da guerra da Península, alterou- se o quadro do dicto regimento, aggregan- do-se-lhe companhias das terras mais pró- ximas, sem serem do ducado brigantino, continuando Villa Viçosa a ser a cabeça do dieto regimento, que era de oito companhias. Dava esta villa a l.a,— Borba a 2.a,— Estre- moz a 3.%— o Redondo a 4.",— o Alandroal a 5.»,— Elvas com Villa Boim a 6.» e a 7.» — e Campomaior a 8.a Este regimento (bem como todos os outros de milicianos) tinha em commissão, para melhor disciplina d'elle, um major e um ajudante, sempre offieiaes do exercito da l.a linha, e costumava juntar-se em Elvas todo o regimento na primavera para exer- cícios de manobra. Esta milícia da 2.* linha acabou em 1834. Conventos Teve esta villa 7 conventos, sendo 4 de religiosos:— Sauto Agostinho, S. Paulo, Ca- puchos e S. João Evangelista,— e 3 de frei- ras:—Santa Cruz, Chagas e Esperança. l.° — De Santo Agostinho. É coevo da fundação d'esta villa e foi lhe lançada a primeira pedra no dia 5 de maio de 1267, como já dissemos. El rei D. Diniz o estimava muito, pelo que no seu testamento lhe deixou um legado de 100 libras — e não menos o estimaram os du- ques, pois o elegeram para seu pantheon e o reedificaram por varias vezes. A sua egreja actual é reedificação de D. João IV. Lançou lhe a 1.» pedra em 14 de julho de 1635, mas por causa da guerra da restauração só em 1677 se concluiu, já no tempo de D. Pedro II, collocando-se então os restos mortaes dos duques nos novos tú- mulos da capella mór, que são seis, em for- ma de capellas;— e transferiram se os restos mortaes dos irmãos dos duques para os 4 túmulos do arco cruzeiro, ficando vazio um d'elles por ser (segundo dizem) destinado para os ossos do infante D. Duarte, irmão do restaurador, que ainda hoje se conservam em Milão. No plano do presbyterio estão 2 mais sin- gelos, para creanças,— e no centro do cru- zeiro, em campa lisa, debaixo do zimbório, que é octogonal e tem 4 janellas, está D. Ro- drigo de Lencastre, conde de Lemos e mar- quez de Sarria, parente dos Braganças» É o melhor templo de Villa Viçosa, posto que de uma só nave. As paredes são inte- riormente revestidas de mármore braneo até á cimalha. O frontispício olha para o Ter- reiro do Paço e para o corpo principiai do palácio dos duques;— ó de mármore e; tem duas formosas torres, mediando entre ellas uma varanda com parapeito de marimore rendado. Alem do altar-mór tem 2 no cruzeiiro e mais 6 em outras tantas capellas no c:orpo da egreja, que está bem conservada e na posse da Casa de Bragança. VIL VIL 1151 O convento serve de quartel militar e foi reedificado pela ultima vez no tempo de D. João V, exceptuando o lado mais interior do dormitório. Tem boa cerca e no pateo d'ella estavam as adegas e um lagar d'azeite, que já não existem. Foi o mais rico mosteiro d'esta villa. Em 1808 levaram d'ali os francezes 25 arrobas de prata 1 . . . Pertenciam a este convento uma das her- dades das Torres de Curvo, em Veiros, e a de Lourenço Alcaide, em S. Braz dos Mattos. Ambas eram grangeadas directamente por estes religiosos, que ali costumavam ter sem- pre um frade por director da lavoura, sendo assim as duas herdades duas granjas mode- los ou escolas agrícolas, em que se instruíam os lavradores visinhos, sem que o estado des- pendesse coisa alguma. 2.°— Convento de S. Paulo. Era da congregação da Serra d'Ossa, — es- tava no Rocio— e tinha como orago Nossa Senhora do Amparo. Principiou na quinta da Provença, em Val Bom, por um simples eremitério, fun- dado em 1415 por Pedro Affonso. Tornou-se mosteiro regular em 1439— e em 1590 foi trasladado para o Rocio por Fr. Martinho de S. Paulo, reitor d'elle n'aquelle tempo e fun- dador da nova casa. Duraram as obras 23 annos, por serem feitas com esmolas dos fieis, e só pôde ser inaugurado em 1613. Contribuiu largamente para esta fundação o duque D. Theodosio II, que aforou aos frades o cruzeiro e a capella-mór por cem mil réis annuaes, ura throno de cera e 18 alqueires d'azeite, pelo que lá tinham tri- buna reservada os Braganças, com porta e cocheiras suas no caminho novo do Alan- droal. Era o 2.° convento d'esta villa em gran- desa. O claustro, portaria, sacristia e côro fo- ram sumptuosamente embellesados no pri- meiro quartel do século xvm por Fr. José Gralho, que ali gastou todo o rendimento de um morgado que usufruía. A egreja era um bom templo e tinha altar mór, mais 2 no cruzeiro e 6 capellas late- raes, como a de Santo Agostinho, mas foi profanado em 1864— e hoje se encontra em lamentoso estado!... D'ali passou para o Çollegio, ou matriz de S. Bartholomeu, a confraria do Rosario— e a de S. Chrispim para a egreja de Santo An- tonio. Foi este convento um dos mais infelizes. Serviu de theatro em 1835; — foi quartel d'infanteria n.° 4 em 1835 a 1836— e logo principiou a cahlr em ruinas por lhe have- rem tirado madeiras do telhado, quando n'elle se montou o theatro. Em 1867 foi doado á camará para fazer na cerca o cemitério e para installar na egreja dos frades a municipal de S. Sebas- tião, que desabou em 1858; mas nada d'isto fez; espera-se porém que a camará mande ao menos concertar a egreja, visto receber, atê ha pouco, da cerca 50#000 réis de renda e ser ha muito o pobre edifício do convento a mina d'onde extrahe cantarias e materiaes para as obras publicas, etc, reduzindo-o a um montão de ruinas I . . . Com licença do governo vendeu a camará a cerca a Antonio Lobo Vidigal Salgado, em 1885, por 1:010#000 réis paraapplicar esta receita na construcção de um novo cemité- rio sob a sua administração. 3.°— Convento dos Capuchos, orago Nossa Senhora da Piedade. Teve principio em 1300, ao nascente da villa, onde estão as ruinas da egreja de S. Francisco Velho, junto da Fonte das Lagri- mas, onde o edificou o duque D. Jaime. D'ali passaram os frades para um 2.° con- vento, construído em 1547 pelo duque D. Theodosio I, na baixa do Outeiro do Ficalho. Era também pequeno e estava no meio da cerca do actual, onde chamam o Presépio. Reconhecendo-se n'elle, pela insalubridade do local e pelo afastamento da villa, os mea- mos inconvenientes que determinaram a substituição do 1.°, fundou-se um outro,— o actual,— ao poente da villa, junto da capelía de S. Lazaro, que por essa razão foi demo- lida. Lançou-lhe a 1.» pedra em 26 de julho de 1606 o duque D. Theodosio II, que foi o prim- 1152 VIL VIL cipal bemfeitor e protector (Testes religio- ■■ òt ■ " i Posteriormente foi accrescentado o con- vento para ter a capacidade precisa a uma casa cafitular, como esta foi. A egreja ó pequena e tem apenas tres al- tares; mas tem um vasto alpendre debaixo do côro, fechado por gradaria de ferro— e um elegante frontispício com 3 imagens em nichos,— 2 campanário?,— e um lindo átrio ajardinado, o que tudo torna este convento muito interessante e o mais pittoresco entre todos os de Villa Viçosa. O edifício acha-se ainda em bom estado de conservação, porque um frade leigo, cha- mado João Pedro Serra, velou por eile com todo o carinho muitos annos, tendo as cha- ves em seu poder,— e desde 1863 velam por elle os devotos do Senhor Jesus da Piedade. Alem da festa do Senhor Jesus, fazem-se ainda roais duas festividades n'esta pittoresca e veneraoda egreja:— uma ao Senhor dos Afílictos,— outra á Senhora da Piedade. Este convento, depois da sua extincção, passou, como todos os outros, para os pró- prios nacionaes, e o governo já repetidas ve- zes o poz em hasta publica, mas até hoje (1886)— -ainda ninguém o comprou. í.*—Collegio de S. João Evangelista, casa professa dos jesuítas. Ergue-se no alto da Praça Nova, e foi edi- ficado pelo duque D. Theodosio II sem o con- curso de rnats ninguém, — sendo inaugurado em 1604;— mas faltam-lhe ainda os coru- chéus das torres e a conclusão do claus- tro. Extinctos os jesuítas em 1759, tomou pos- se d'elle a Casa de Bragança— e em 1793 foi dado pelo príncipe regente ás Beatas de S. José, com a obrigação de ensinarem meninas pobres. N'elle se conservam ainda as dietas senhoras. A egreja serviu temporariamente de Ca- pella Real, desde 1806 até 1862,— e desde 1865 n*ella se installou a matriz de S. Bar- tholomeu, como já dissemos. Por estas razões se conservam em bom estado a egreja e o collegio da Companhia de Jesus. 5. °— Convento de Santa Cruz, de religio- sas de Santo Agostinho. Demora na Corredoura e foi o 1.° con- vento de religiosas que houve n'esta villa. Teve principio ali mesmo, em umas casa3 de Mendo Rodrigues de Vasconeellos, capel- lão do duque D. Jaime, deixada? por elle no seu testamento para mosteiro de religiosas, por não ter a villa ainda n'aqueile tempo instituto algum para o sexo feminino, con- tando já tres conventos de frades. Foi sua fundadora Margarida de Jesus Nunes, natural d'esta villa, mas professa no convento de Santa Mónica d'Evora, d'onde veiu com duas companheiras fundar este. O edifício foi feito com esmolas, por falta de padroeiro, e consta que se inaugurou no dia 1 de janeiro de 1530, sendo então de pe- quenas dimensões, por se achar apertado entre diversas easas no centro da villa; mas em 1598 as freiras adquiriram parte da rua da Torre, que lhes vedava o alargamento para o norte, e estenderam mais tarde a casa e cerca até á travessa de Valderrama. Extinguiu-se em 13 de julho de 1883 com a morte da ultima freira. Tomaram conta da egreja, — pequeno tem- plo de 4 altares,— as confrarias ou irmanda- des das Almas e do Bosario, que estavam na egreja do Espirito Santo, e a estas duas pie- dosas corporações se deve a conservação do pequeno templo, no qual repousa em sepul- tura lisa brasonada o tenente general João do Crato da Fonseca. O convento passuu para 03 próprios na- cionaes e consta que o governo vae pol o em hasta publica, dividido em tres lotes, para ter mais fácil venda. 6. " — fíeal Convento das Chagas de Christo de freiras de Santa Clara. Demora no Terreiro do Paço e é obra do duque D. Jaime, mas inaugurou-se depois da sua morte, em 25 de. fevereiro de 1533, com 8 freiras de Santa Clara de Beja. Tem cinco altares a egreja, templo vene- rando, de architeclura manuelina com for- mosos azulejos. Tem dois córos,— alto e baixo, — e n'este ultimo jazem as duquezas de Bragança, fal- lecidas depois da inauguração d'este con- VIL vil ma vento; na egreja se vô, logo á entrada, a campa, do vice-rei da índia D. Constantino de Bragança e de sua esposa. Tem a portaria na rua dos Fidalgos, pre- cedendo-a um pateo com moradias para os servos do convento e um hospício para os tres franciscanos que outr'ora cuidavam do espiritual d'esie convento. Por ali se entrava também para a cerca e para a horta, hoje annexa ao Reguengo do Paço Real, por ter sido comprado pela casa de Bragança o seu domínio util. Será este convento o ultimo a extinguir- se, pois ainda hoje (1886) n'elle vivem duas religiosas professas, alem de diferentes re- colhidas e seculares. O edifício é amplo e de muito solida cons- trueção. 7.°— Real convento de Nossa Senhora da Esperança, também de religiosas clarissas. Demora no extremo oriental do Rocio. Foi principiado na tmti da Cadeia— rua que já não existe,— juQto do Castello, d'onde, passados apenas dois annos depois da sua inauguração, se transferiu em 1553 para o chão que hoje occupa. É obra de D. Isabel de Lencastre, l.a mu- lher do duque D. Tlieodosio I, a qual re- pousa no côro baixo, tendo ao pé de si a campa de sua sogra, a infeliz D. Leonor de Gusmão. , . A egreja é maior que a das Chagas, mas tem o mesmo numero d'altares e, salva a differença da architectura manuelina, eram em tudo semelhantes as egrejas e conventos d'estas duas communidades. A capella-mór foi jasigo dos Lucenas, por doação de D. Theodosio II. Fechou-se este convento no 1.° dia d'ou- tubro de 1866 por sair voluntariamente pa- ra o das Chagas a única religiosa professa que n'elle vivia, — madre Marianna Xavier. Em seguida tomou posse da egreja e a con~ serva com muita limpesa a Ordem 3.» de S" Francisco d'esia villa j cuja capella tinha en- trada pela dieta egreja; mas não lhe deram as alfaias, paramentos e utensilios. Foram distribuídos por outras egrejas. O convento foi posto em hasta publica e comprado pela insignificância de oitocentos mil reis por um especulador, que logo tra- ctou de o demolir e de vender em retalho os seus materiaes 1 . . . D'elle apenas hoje res- tam os destroços e a cerca, já em terceiro possuidor, — graças aos vândalos do sécu- lo xix, o deeantado século das luzesl. . . Assim terminou este venerando mosteiro, que já contava mais de 300 annos d'existen- cia, èí>-0ii$1&ví>l ah 9$ mo / ! Recolhimentos Ha n'esta villa apenas um— de Nossa Se- nhora do Carmo,— de terceiras carmelitas, com votos que duram somente em quanto n'elle se conservam as irmãs, podendo dei- xal-o quando quizerem. O seu direcior e confessor de direito é o prior.de S. Bartholomeu. Teve principio este recolhimento no anno de 1763 junto da ermida de S. José do Car- rascal, sendo sua fundadora D. Violante Per- petua de Jesus, natural de Alcantara de Lis- boa e que falleceu em 1800. Foi abolido em 1769 e restaurado em 1777, quando subiu ao throno D. Maria I. Em 1793, como já dissemos, passaram es- tas senhoras para o extincto collegio dos je- suítas, transformando o seu recolhimento em difftírentes casas d'aluguer, e por ultimo, em 1838, aforaram a cer^a á junta de parochia de S. Bartholomeu, para servir de cemitério parochial. Visa este santo instituto dois fins:— a vida devota e a educação de meninas, para as quaes tiveram sempre eseola franca 6 gra- tuita,—e. também receberam educandas in- ternas, em melhores tempos. A Casa de Bragança dava lhes uma pen- são de 120 alqueires de trigo, mas suspen- deu-lh'a em 1834;— recebem porem o hono- rário de professoras publicas, por carta de lei de 2 de setembro de 1858 e decreto de 22 de fevereiro de 1859. É este pequeno honorário o maior ren- dimento da casa e por isso não pôde susten- tar mais de seis irmansl. . . Tem o titulo de regente a superiora— e è sempre vitalícia. 1154 VIL VIL Nunca teve chronica impressa este reco- lhimento e por isso a estes leves traços jun- taremos os nomes das suas regentes até hoje: 1. *— Violante Perpetua de Jesus Maria, a fundadora. Falleceu em 13 de julho de 1800. 2. »— Feliciana Theresa do Coração de Je- sus. Falleceu em 29 de fevereiro-de 1836. 3. »— Theresa Perpetua de Jesus Maria. Falleceu em 18 de novembro de 1845. 4. *— Maria Theresa. Falleceu em 20 de fevereiro de 1856. 5. »— Marianna de Jesu9. Falleceu em 18 de março de 1860. 6. *— Maria da Lapa. Falleceu em 11 de julho de 1867. 7. "— Agostinha Angelica. Falleceu a 31 de janeiro de 1886. 8. »— Maria dos Prazeres. É a superiora actual e uma das mais di- gnas. Chamamos para tão ulil co- mo piedoso e pobre instituto a protecção das almas boas. Varias egrejas, ermidas e capellas Dizia- se antigamente de Villa Viçosa— que tinha cinco largos e em cada largo tres egrejas:— no Terreiro do Paço a capella real, com o apparato de Sé, e os conventos de Santo Agostinho e Chagas;— na Praça No- va as egrejas do Espirito Santo ou da Mise- ricórdia, de Santa Luzia e do collegio dos je- suítas;—no Rocio a de S. Sebastião e as dos conventos de S. Paulo e da Esperança;— no Carrascal as de S. José, S. João Baptista e Senhora da Lapa;— no Outeiro de Ficalho as de S. Luiz, S. Thiago e Capuchos. Presentemente falta a egreja de S. Sebas- tião, que desabou em 1858 e não foi reedifi- cada, posto que tem padroeiro próprio,— a camará municipal. Acha-se profanada a de S. Paulo, que é também da camará. A de S. Thiago era a mais antiga da villa e consta que foi a sua 1.* matriz; mas hoje apenas conserva a capella-mór, por ter desa- bado o corpo d'ella, que transformaram em um vestíbulo ajardinado. No seu chão esteve o antiquíssimo templo de Prosérpina, que desappareceu ha muito; conserva-se porém no adro, como memoria i commemorativa d'elle, uma lapide com ins- cripção em latim e grego, da qual pôde ver- se uma copia fiel nas Memorias da Academia Real das Sciencias de Lisboa, tom. 1." da 2.4 série, pag. 93. A da Lapa é a mais moderna e a mais formosa de todas. Principiou a sua construc- ção em 1756. Tem apenas dois altares no arco cruzeiro, alem do altar-mór,— bella sacristia,— um ri- co pórtico de mármore— e duas lindas tor- res. Foi feita com esmolas por iniciativa de uma irmandade que ainda hoje a adminis- tra. Á sua direita tinha um jardim; addicciona- ram-lhe ha pouco outro á esquerda—© pro- jectam ainda um terceiro na frente, fucando d'esta forma toda cercada de jardins, to que deve dar grande realce a tão formoso» tem- plo, quando as arvores e arbustos atuingí- rem o seu pleno desinvolvimento. A egreja de S. João Baptista é simgular pela sua planta em forma de cruz grega e pela -sua cúpula de telhas vidradas à mou- risca, terminando em uma lanterna. Dizem que foi fundada pela duquejza D. Catharina, mas n'ella não se vé o escudlo dos Braganças. Tem tres altares. A de S: Luiz é uma pequena capeilla de um só altar, modernamente reedificada* e di- zem ser fundação do licenciado Antomio de Gouveia, secretario do duque D. Theodcosio I, no meiado do século xvi. Alem d'estes 15 templos públicos, t ha na villa mais dois, também notáveis: 1.°— Santo Antonio. Foi fundado pelo duque D. João I, ajppro- ximadamente em 1570, e tem no frontiáspicio o brasão dos Braganças. A sua architeectura é egual á da egreja do Espirito Santoo, em- bora de mai3 pequenas dimensões. VIL VIL 1155 Tem abobada com ornamentação de laça- ria, paredes azulejadas e côro assente em co- lumnas toscanas de mármore. Ali se vé ainda a tribuna dos Braganças, com entrada particular. Capella de Nossa Senhora dos Remé- dios. Demora entre a Torre de Homenagem ou do Caracena, (relógio do concelho) — e a ve- lha cerca de muros, em sitio alto, para servir de capella aos presos da antiga cadeia que estava defronte e foi demolida em 1662. As suas paredes são interiormente reves- tidas com bellos painéis de azulejo, allusivos á Virgem, — e na face exterior da frontaria se vê por cima do pórtico outro painel se- melhante com a imagem da Senhora dos Re- médios. As outras capellas filiaes da matriz e já mencionadas, todas existem, exceptuando duas: 1. *— Santo André, nos coutos occidentaes, junto do caminho de Montes Claros, no sopé da serra do Barradas. Desabou ha mais de um século. 2. »— S. Francisco Velho. Jaz em completo abandono desde 1834. A egreja de S. Bento, a N. da villa, é a Sé das ermidas, pois tem sete altares! . . . Melhorou-a muito no ultimo quartel do século xviii um capellão da Real Capella,— Antonio Luiz Pereira Durão. A de S. Marcos foi profanada ha muitos annos e comprou-a em 1873 ao governo, por 16$000 réis, o dono de um prédio contíguo, morador em Borba, traosformando-a em ca- sa de despejos!.. . Não lhe valeu a importância histórica de ter sido testemunha da repartição da presa de gados, tomados aos castelhanos por Pe- dro Rodrigues do Alandroal e Alvaro Gon- çalves de Villa Viçosa,— repartição que ali os dois fizeram em 1384, ha 502 annos ! Tem esta villa lambem 5 bonitas capellas dos Passos com bons pórticos de mármore: —a i.* no Rocio; a 2.» na rua de Antonio Homem; a 3.» na Praça Nova; a 4.» na Cor- redoura— e a 5.» no largo da Assaboaria. Foram edificadas no ultimo quartel do sé- culo xvi e pertencem á irmandade do Se- nhor dos Passos, erecta na egreja de Santo Agostinho. São também de bello már- more as capellas dos Passos em Borba, mas em todo o nosso paiz as capellas de Passos mais amplas e mais apparatosas são as da villa de Ovar. Misericórdia ■ Está junto da Praça Nova, sobre a qual tem porta a sua egreja, de que é orago o Espirito Santo, mas a entrada principal é pela rua de Três. Foi esta irmandade instituída em 1516, sob a protecção do duque D. Jaime,— e em 152i foi-lhe entregue a administração da alber- garia ou hospital do Espirito Santo, que já existia no mesmo local. O duque D. Theodosio I foi grande bem- feitor desta casa, pois fez o pateo e novas enfermarias, do lado da rua de Três,— e com um legado que lhe deixou em testamento e com outras esmolas do seu filho D. João I o de vários bemfeitores, fez-se a egreja, con- cluindo-se em 1568. Tinha ella sómenle 3 altares, mas, durante o tempo em que foi matriz da parochia de S. Bartholomeu, addi- ciouaram-lhe a capella do Santíssimo e o al- tar das Almas. Esta santa instituição, cujas rendas hoje montam a tres contos de reis, approximada- mente, tem prestado e presta relevantes be- neficios á pobresa. Para não abusarmos da paciência dos lei- tores e dos editoreá, fecharemos aqui este tópico relativo á Santa Casa. Portas dos Nós O duque D. Jaime, fundador do Palacio Real moderno e já descripto, fez junto d'elle o terreiro das casas para servos, adegas e estribarias, denominado Ilha, por ser fecha- do sobre si por uma porta exterior de es- tylo manuelino com tres nós nas batentes, alem de dois nas columnas lateraes e uns letreiros da sua empresa: Depois de vós, nós 1156 VIL VIL depois de nós, vós — querendo dizer que, de- pois da família reinante, eram os Braganças os primeiros cidadãos de Portugal. Vé-se este pórtico sobre a avenida de Borba e foi modernamente fechado com por- tões de ferro, mas já não tem a mencionada inscripção. A dez passos dá mesma porta fez-se pou- co depois outra, — a das muralhas novas da villa, no começo da estrada real de Borba. Deram-lhe também a denominação de Porta do Nó, alludindo á união ibérica de 1580. Foi a dieta porta feita pela Casa de Bra- gança e era por isso a mais ampla e luxuosa de todas as da circumvallação. Os umbrais e sobre-arco de mármore são de peças almofadadas;— tem no fecho o es- cudo brigantino,— e junto da volta do arco duas chapas ou taboletas com as inscripções seguintes : Haec est fatalis nodohum porta JOANNES ME NODO HESPER1AE LIBERAT ENSE POTENS ANNO Solvit Alexander nodum ut rex im peret orbi rex meus vt régis sceptra latentis AGAT 1654 «Esta é a fatal Porta dos Nós. João, com o poder da sua espada, me livrou do nó da Hespanha. «Desfaz Alexandre um nó para imperar como rei na redondesa da terra: o meu rei desata-o para empunhar os sceptros do rei encoberto. Anno de 1654.» Refere-se ao córte do celebre nó gordio por Alexandre Magno, comparando a este o nosso D. João IV, por haver libertado a pá- tria do jugo castelhano, e diz também ser D. João IV o rei encoberto, de que fallavam os sebastianistas. As duas chapas estão em linha horisontal, mettendo-se de permeio a volta do arco, — e em plano superior esião outras duas lapides com o letreiro relativo á eleição da Virgem para padroeira do nosso paiz. Aos lados se vêem duas espheras arnilla- reswN iob uto&it^ 4»*wV\ -4> uu^v...» .$ É pois esta porta um monumento da res- tauração de 1640 por um filho de Villa Vi- çosa. Paços do concelho, pelourinho e relógio Os actuaes paços do concelho estão na Praça Nova, olhando para N. Foram princi- piados em 1754 e concluídos em 1757 á custa do cabeção de toda a antiga comarca de Villa Viçosa. São um soberbo e amplo edifício, com boas salas para as sessões e secretaria da camará, bibliotheca municipal, administra- ção do concelho e repartição de fazenda, — no andar nobre. Nos baixos estão os açou- gues^e a casa do trigo,— e á direita estão a cadeia e a residência do carcereiro, — tudo com serventia pela rua do Cambaia. Os paços antigos estavam na Praça Velha e foram demolidos em 1664 para amplia- mentodas fortificações do castello novo. Ain- da lá se vê o velho pelourinho, que tem hoje base quadrada (a antiga era redonda)— e so- bre ella, em uma peanha azul, se levanta um mGnolilho de pedra azul também, formando uma columna quadrada com os ângulos des- feitos, encimada por uma roca e uma pyra- mide, medindo ao todo cerca de oito metros d'altura. A pequena distancia está na Torre de Ho- menagem o relógio do concelho, denominado Carracena, por ter sido o primeiro sino d'elle partido pelo marquez de Carracena em 1665 a tiros de canhão. Assim o commemora a legenda que se vê no sino actual, feito em substituição d'aquelle. Diz ella : Caracena me quebrou, sendo eu de gran- dêsa tal, que não havia outro que me egua- lasse em todo o reino de Portugal. O velho sino era, n'aquella occasião, des- tinado principalmente para dar o signal de VIL VIL 1157 rebate, quando se approximavam os caste- lhanos. Armas da villa ■ÂiiuM èso* lobKliííjíHiiij»: onuJííi kA skoj» Rb. 0 brasão cTarmas d'esta villa é um Cas- tello de prata entre duas torres também de prata, em campo verde, tendo o Castello por cima da poria as quinas— e sobre elle a ima- gem da padroeira do reino. O castello e as duas torres alludem á ci- dadella actual com os seus dois revelins, ou cubos, em deis ângulos;— as quinas alludem á sua fundação pelos Braganças— e o campo verde ao viço da localidade. É este o brasão legal e antigo de Villa Viçosa, como se vê nas Cidades e Villas do meu bom amigo e mestre o sr. Ignacio de Vilhena Barbosa; mas ha muito que esta villa, — não sabemos porque, — usa do brasão seguinte:— ires castellos d'ouro em campo azul— e nada mais 1 . . . Feiras Ha n'es(a villa tres: — uma cm janeiro, ou- tra em maio e outra em agosto, principian- do todas no dia 29 dos dictos mezes. A de maio, — a primitiva d'esta villa,— é hoje á primeira do Alemlejo em gado, prin- cipalmente vaccum e cavallar. Trocando o duque D. Jaime com acamara a portagem, que era d'elle, pelos direitos das feiras, que eram do concelho, impetrou doi- rei D. João III a creação de uma feira de Santo Agostinho com a duração de oito dias — e mandou fazer á sua custa um abarraca- mento de alvenaria para os mercadores de fazendas de mais preço. O diclo abarracamento já foi na sua maior parte destruído e unido o seu chão ao quin- tal do Palacio do Bispo, que demora ao sul do Terreiro do . Paço. Deixou de servir em 1850, porque, pretendendo a camará esta- belecer o imposto sobre o chão das barracas dos feirantes, não podia cobrai o dos mer- cadores que se acolhiam ao mencionado abarracamento, por ser este propriedade particular, da casa de Bragança. Como a feira de Santo Agostinho não fosse bem frequentada todos os 8 dias, o mesmo duque D. Jaime de novo se dirigiu a el re i para que a dividisse, como dividiu, em duas. Assim se creou a de janeiro, devendo ser die cinco dias, mas dura apenas tres, como as outras, — e iodas hoje se fazem nos campos do Carrascal e do Rocio, como já dissemos. Noticias diversas Jnstrucção publica. — Houve n'esta vilía até 1863 uma aula publica de grammalica portugueza e lingua latina; hoje ha só duas aulas oííiciaes d'iastrucção primaria— uma para o sexo masculino, — outra (a das Bea~ tus do Carmo) para o sexo feminino,— alem de duas ou tres particulares para meninas. Também no momento a camará (honra lhe sejal) tenta crear e já poz a concurso uma aula complementar, vencendo o respe- ctivo professor 250$000 réis por anno. Bibliothecas. — Antigamente contavam-se n'esta villa tres: — uma do convento dos Agostinhos ou gracianos,— outra no dos ca- puchos—e outra no Collegio dos Reis. Hoje ha só uma, — a municipal, nos paços do con- celho, mal accommodada, mal organisada e contando apenas 3:000 volumes. Deve-se aos bons officios de Christovam Avellino Dias, tenente coronel de cavallaria n.° 2, fallecido em 1825 e sepultado no convento dos gra- cianos. Theatros.—Mè hoje apenas houve um n!esta villa, no Palacio dos Corregedores, á Carreira das Nogueiras. Intitulava-se Thea- tro Callipolense e foi feito com uma certa regularidade em 1840, mas acabou em 185i, porque a Casa de Bragança reivindicou a posse do dicto palácio. Houve no convento da Esperança outro» mas simplesmente improvisado, como foi também o de S. Paulo, em 1834 a 1835. Presentemente ha outro, em melhores con- dições, no convento da Sancta Cruz. Philarmonicas. — Ha duas: a Callipolense, organisada em 1850,— e a Esperança, fun- dada em 1870. Sociedades de Recreio.— Duas também: a Sociedade Artística, inaugurada em abril da 1863,— e a União callipolense, fundada em 1878. 1158 VIL VIL Cada uma tem sua orchestra. For/í/fcações.—Conservam-se tanto o Cas- tello antigo, como a cidadella moderna com as suas duas estrellas, mas tudo com algu- mas ruínas e descalabros desde o cerco de 1665. Á cidadella é habitável e habitada por uma família — e lá se aquartelou ainda em 1883 o batalhão de caçadores n.° 5, por occasião da visita de Affonso XII, rei de Hespanha. Minas— Duas de cobre:— uma registrada e outra abandonada. Em 1854 principiou a explorar-se uma d'ouro, denominada Mina da Senhora da Conceição, na quinta do Si- sudo e na coutada do Pinhal, mas não pas- sou de um sonho. Ha n'este concelho, como em outros mui- tos do nosso paiz, grandes jazigos de ferro, mas até hoje ainda nenhum se explorou por falta de combustível. Celleiro commum. — Houve antigamente um n'esta villa, nos baixos da casa da ca- mará, ma? deixou de existir em 1664, no tempo da guerra da restauração. Fundou-se outro no reinado de D. João V, defronte da casa dos Lucenas, no largo de San to Agosti- nho; mas era propriedade particular e aca- bou depois de 1860, sendo então dos Sousas Menezes e tendo mudado para a rua de Santa Luzia. Ambos mutuavam á vintena, ou a 5 p. c — e já nenhum d'elles existe, nem a villa tem hoje algum. V. Montes de Piedade. Telegrapho eléctrico. — Foi estabelecido em 1860 e é de serviço limitado, excepto quan- do aqui se acha a família real. Medidas antigas.— Das lineares o covado era de Om,66— e a vara de lm,095. Nas de líquidos o alqueire ou cântaro era de 8',88 — re o almude em dobro. Nas de seccos era o alqueire de i4',59— e na mesma proporção as suas fracções. Edifícios brasonados. — É para admirar que, sendo esta villa um alfobre de nobresa nos séculos xvi e xvir, hoje n'ella se encon- trem, além do Palacio Real, apenas duas ca- sas particulares com brasões: — uma dos Ma- chados, hoje unida á das Galveias, na Cor- redoura, junto da rua das Cortes;— outra a dos Mascarenhas, fundada ídizem) por Pe- dro Mascarenhas no meiado do século xvr, da qual foi ultimo administrador José Maria Rangel de Quadros Mascarenhas, fallecido em Lisboa, sem successão, em 1883; tendo sido porem aforada, é hoje emphyteuta d'ella Joaquim José Fernandes, negociante e pro- prietário, que a reedificou no sobredicto an- no, com largo dispêndio. São também hoje só tres os edifícios pú- blicos brasonados:— a egreja de Santo An- tonio,—o convento das Chagas — e os paços do concelho. Abundam porem na villa edifícios vene- randos pela sua antiguidade, sendo dignos d'especial menção os seguintes:— a casa dos condes do Redondo, junto da Fonte Pequena, —a de Gomes Freire d' Andrade, pae de Ma- nuel Freire d'Andrade e avô ou bisavô do general Gomes Freire d'Andrade, justiçado em 1817, situada na Corredoura, em frente da dos Mascarenhas. É hoje dos condes de Camarido. A dos Telles de Menezes, na rua dos Fidal- gos, e que é hoje de Ignacio da Silveira Me- nezes;— um pouco a jusante, na esquina da travessa da Amoreira, lado sul, a casa que foi de Ruy de Sousa Pereira;— a que foi de Pedro de Sousa de Rrito, veador da duquesa D. Anna de Velasco, na rua de Santa Lu- zia, defronte^da egreja d'esta invocação. Foi reedificada em tempo de D. João V por Tho- mé José de Sousa e pertence hoje a Thomé de Sousa Menezes, 8.* administrador dos seus morgados;— a dos Viegas, família de grande representação no ultimo século. Ainda se não apagou a fama do seu exquisito jardim sobre o Carrascal. Na Praça Nova— o palácio feito por José Rernardo de Sousa da Camara, sargento-mór nos fios do século xvni. É hoje de Antonio Pereira Nóbrega de Sousa da Camara. Na rua de Antonio Homem— o palácio fun- dado no 1.° quartel d'este século pelo tenente general Diogo da Cunha Sotio-Maior, hoje pertencente ao seu primo e herdeiro Mathias de Castro e Silva Sottomaior. São também muito notáveis o Palacio do Deão, ou do Bispo e o dos Corregedores, per- VIL VIL 1159 tencentes á Sereníssima Casa de Bragança, avultando entre todos os palácios d'esta villa e d'esta província o Palacio Real. Hospedarias.— Tem esta villa apenas duas estalagens e tres ou quatro casas que rece- bem hospedes todo o anno; mas durante as feiras outras muitas casas, nomeadamente as da parte occidental, recebem hospedes e cavalgaduras. Clima.— Ê temperado e muito salubre o d'esta villa e d'este concelho; apenas são co- nhecidas durante o estio as febres intermit- tentes na parte leste e na Tapada Real, pro- venientes dos miasmas da ribeira de Borba, que na estiagem sécca. Contribuições. — No ultimo anno econó- mico pagou este concelho as seguintes: Predial 9:7964490 Industrial 1: 3800831 Sumptuária 194$ 160 Renda de casas 7270236 Decima de juros 6580772 Imposto do sello 1:0400401 Total 13:7970910 Maiores proprietários. - Depois da Casa de Bragança, os 3 maiores proprietários d'esta villa na actualidade são:— Ignacio da Silveira Menezes,— José de Sousa Figueiredo— e João Nepumoceno da Cunha Rivara;— os 6 maio- res proprietários d'este concelho, rielle resi- dentes, são os tres já mencionados — e Anto- nio Carlos de Mattos Azambuja, José Anto- nio Cordeiro Vinagre, todos residentes na villa, — e Antonio Pereira Bom, residente em Bencatel;— e os maiores proprietários d'esta villa e d'este concelho, mas que residem fôra d'elle, são os seguintes: —Duque de Bragança (Lisboa). —Antonio João Marques Pinto (Villa Boim). —Antonio José de Carvalho (Elvas). —Conde das Galveias (Lisboa). —Conde de S. Martinho (Lisboa). — José Antonio Bagulho (Villa Boim). Grandes herdades. — Hoje as 6 melhores herdades d'este concelho são as seguintes: 1.* Tapada Real, nas freguezias de Nossa Senhora da Conceição e de Santa Barbar a de Borba. 2. *— Forte de Ferragudo, na freguezia d e S. Bomão. 3. â — Carvão, na freguezia das Ciladas. k.*—Carvalhaes, na freguezia das Ciladas. 5.»— Pomar d'El-Rei, na freguezia das Ci- ladas. 6/ — Arengosas, na freguezia das Ciladas. Sendo esta ultima a menos importante» rende 8004000 réis livres por anno!. . . Prédios inscriptos na matriz Freguezia de Nossa Senhora da Con- ceição 1 :950 Freguezia de S. Bartholomeu (casas) 492 » de Bencatel 325 » de Pardaes 255 » de S. Bomão 149 » de Ciladas 60 Total 3:231 Bendimento collectavel dos prédios da villa e do conce- lho 73:8624687 Vereadores actuaes: — Antonio José d'Assa Castello Branco, presidente. — Agostinho Augusto Cabral, vice-presi- dente. — Antonio das Neves Tarana, — Manuel Diogo da Silveira Menezes, — Joaquim José Fernandes, —Joaquim da Silva Tavares e —José Maria Bamalho Fallé, vereadores. Mencionaremos também dois callipoleDses, que foram vereadores muitos annos e pres- taram relevantes serviços: 1.°— José de Sousa Figueiredo. Serviu como presidente cerca de 20 annos consecutivos. I 2.°— Thomé de Sousa Menezes, 8.° senhor da nobre casa de Pedro de Sousa de Brito, veador da duquesa de Bragança D. Anna de Velasco. Foi também vereador muitos annos e por vezes presidente. Ambos ainda vivem e são dois cavalheiros muito considerados. 1160 VIL VIL Estação lelegrapho-postal. — A d'e8ta villa tem duas delegações:— uma em Bencatel, outra no Alandroal,— e o seu movimento no ultimo anno (1885) foi este: Emissão de vaies 20:500$000 Rendimento postal 65â000 > telegraphico 1050000 Total 20:670£000 Pessoas notáveis Com rasão se orgulha esta villa de ter da- do o berço a muitas pessoas notáveis pelas armas, pelas letras e virtudes. Só a Casa de Bragança encheria volumes; •—a Bibliotheca Lusitana aponta 50 escripto- res, naturaes de Villa Viçosa, e.o Dicciona rio Bibliographico ainda augmentou aquelle numero. Encontram-se também muitos cal- lipolenses illustres d'ambos os sexos no Jar- dim de Portugal, no Agiologio Lusitano, na Monarchia Portvgueza, na Historia Genea- lógica da Casa Real, no Anno Histórico, nas chronicas dos nossos reis e dos nossos con- ventos— e no Parnaso de Villa Viçosa, de Francisco Moraes Sardinha, escripto em 1618, cujo original se conserva na Biblio- theca Publica de Lisboa; mas a lista mais completa e mais bem orgauisada é a que se encontra nos cinco volumes das Memo- rias de Villa Viçosa, ainda inéditas, es- criptas pelo meu illustrado collega e muito benemérito Cyreneu n'este artigo, osr. Joa- quim José da Rocha Espanca, ao qual devo a finesa de enviar-me um extracto dos cinco volumes das suas Memorias, que representam vinte annos de aturado estudo sobre a loca- lidade e sobre as melhores fontes da histo- ria da sua pátria, pelo que lhe beijo as mãos agradecido. Não posso porém abusar da pa- ciência dos leitores e dos editores e por is com 4:802 cascos; france- zes, véla 1, com 267 cascos; norueguezes, vapor 3, com 514 cascos. Os direitos pagos na alfandega sóbem a cerca de 8:000$000 réis. Concluiremos este tópico dizendo que a producção do vinho em Portugal (exceptuan- do o Alto Douro) foi abundantissima nos últimos dois annos (1884 e 1885);— que a exportação para França é cada vez maior — e que o preço da pipa do vinho verde e ras- cante d'esla província tem regulado por 20 a 25$000 réis,— preço muito remunerador, porque este vinho não demanda grangeio especial. É creado em grandes videiras so- bre arvores que orlam os campos, pelo que lambem lhe dão o nome de vinho de enfor- cado;— e a sua producção é espantosa I Ha exemplos de produzir uma só arvore tres pipas de vinho \;— e no ultimo anno só o concelho de Monsão, cujo vinho é do me- lhor d'esta província, produziu cerca de 20:000 pipas!... Entre os abbades d'esta freguezia, mere- cem especial menção os seguintes: Antonio Rodrigues. Em 14 de fevereiro de 1756 obteve licen- ça para conservar na cgreja o Santíssimo por modo de Viatico. Jeronymo Antonio da Silva. Mandou copiar o tombo d'esta egreja em 1782. Bento Gomes Pereira, pelos annos de 1792. 1 Nas quintas do Alto Douro, hoje phyllo- xeradas e incultas, mas que produziam o vinho mais generoso do mundo, a producção normal era de uma pipa por milheiro, mas por vezes eram necessários tres milheiros de vides para darem uma pipa de vinho!... V. Villarinho de Cotas. VIL VIL 1171 Foi grande bemfeitor d'esla paroehia. João Bernardino Taveira Relvas. Falleceu em 1872 e era um musico dis- tiocto. Domingos da Fonseca Martins, abbade actual. Nasceu na freguezia de S. Miguel de Cho- rente, concelho de Barcellos, no dia 23 de janeiro de 1849 e foi apresentado n'esta ab- badia por decreto de 2o d'outubro de 1882. Tem o curso triennal do seminário braca- rense;— tomou a ordem de presbytero em 14 de dezembro de 1874,— e foi parocho en- commendado na freguezia de S. Miguel de Cabreiros, n'este concelho de Braga. A s. ex.» agradeço a maior parte dos apon- tamentos supra. Também aqui foi encommendado algum tempo o sr. padre Bernardino Pinto d'Arau- jo, excellente pessoa, a quem devo a copia do testamento de D. Joanna de Castro e ou- tras finezas. Nasceu na freguezia de Nine em 1839 e ordenou-se em 1863, tendo também o curso triennal do seminário bracarense. N'esta freguezia não ha hoje bacharéis nem outro presbytero, alem do seu parocho. VILLAÇA,— freguezia extincta e annexa á de Contim, no concelho e comarca de Mon- talegre, província de Traz-os-Monfes. Era seu orago S. Miguel Archanjo. Dista de Montalegre 12 kilometros para O.— e 60 de Braga para N. E. Foi vigairaria ad nulum da apresentação de um cónego da sé de Braga. Em 1668 era esse cónego o rev. Sebastião Barbosa d'Al- meida, abbade das egrejas de Santa Marinha d'Annaes (V. Anães) e S.Miguel de Villaça, vizitador de Entre Homem e Cavado, e valle de Tamel, commissario da bulia da Santa Crusada, etc. Nos últimos annos, antes da extincção dos dízimos, a dizimaria, a S. Joanneira e as pri- mícias rendiam 142$000 réis, cuja terça (47$333 réis) era para a patriarchal— e pa- ra o padroeiro 33:642 réis líquidos. O parocho recebia: — côngrua em dinheiro e guisamentos 36jÍ300 réis,— benesses réis 38#700,— total 75$O0O réis. Esta paroehia foi annexada em 1836 áde S. Vicente de Contim. Apenas comprehien- dia a povoação de Villaça, séde da matriz, com 15 fogos,— e parte da de S. Pedro, com 10 fogos; — total 2o fogos e 1 15 almas. O seu chão é arenoso, exposto ao norte e pouco fértil. Apenas produz centeio, bala- tas, linho e algum milho. Demora na margem esquerda do rio Ca- vado, que a banha ao norte,— e pelo centro d'esta freguezia passa a antiga estrada real de Braga a Montalegre. Aproveitando o ensejo, faremos algumas rectificações e addiçòes ao artigo Contim, freguezia d'este concelho de Montalegre As ultimas 4 linhas do mencionado artigo pertencem ao de Contins, onde se repetem. Foi lapso de composição e revisão. Esta freguezia de Contim era vigairaria collada, annexa da abbadia de Santa Mari- nha de Ferral. Vide. Até 1836 comprehendia apenas a povoa- ção de Contim, séde da paroehia, e parte da de S. Pedro,— esta com 19 fogos e aquel- la com 15; — total 34 fogos e 172 almas. Depois que recebeu a extincta paroehia de Villaça, comprehende a povoação d'ejte nome, a de Contim e toda a de S. Pedro, com o total de 80 fogos e 369 almas. Tem as capellas seguintes: 1. »— S. Pedro, na povoação d'este nome. 2. » — S. Miguel, na povoação de Villaça, e que foi a matriz da extincta paroehia. 3. » — Nossa Senhora de Villa d' Abril, na margem direita do riacho de S. Pedro e na esquerda do Cavado. Pertence a uma irmandade do mesmo ti- tulo, a qual foi erecta, segundo dizem os seus estatutos, em 1688, com prévio consen- timento do abbade de Santa Marinha do Fer- ral, que então era Balthazar Rodrigues de Mello. Tem casa de despacho. Demora esta freguezia de Contim em ter- reno accidentado, ao norte de uma cordi- lheira que se prolonga de Montalegre até Santa Marinha, a S. do Cavado, a O. do ri- i V. Contim e Villaça, vol. 2.° pag. 382. 1172 VIL VIL beiro de S. Pedro e a E. do de Sub-Carva- lho. O seu chào é arenoso, geadeiro, frio, agres- te e pouco fértil. As suas producções são as mesmas da extioeta paròchia de Villaça, — e abunda em gados, por ter muito feno e boas pastagens. Na povoação de S. Pedro ha uma nascente d'agua mineral. Na mesma aldeia nasceu Fr. Balthazar Fernandes, varatojano. Falleceu depois de 1820. Freguezias limilrophes:— Cambeses a NE. —Fiães a S.O.— Sezelhe a N. — e Viade a S.E. Ao meu illustrado collega, o sr. José dos Santos Moura, abbade de Caires, agradeço os apontamentos que se dignou enviar-me l. VILLAR, — Vilula— e Villarinho— foram outr'ora synonimos e diminuitivos de villa, na accepção de granja, casal, herdade ou quinta. Para evitarmos repetições, veja-se o que dissemos no artigo Villa. VILLAR. — Esta palavra por si só designa hoje 121 aldeias, 5 freguezias e muitos ca- saes e quintas do nosso paiz;— e com diffe- rentes sobrenomes designa mais:— 33 fre- guezias e maior numero de casaes, quintas, herdades e aldeias, pelo que só este tópico Villar encheria um volume, se não tivésse- mos de resumir, quanto possível. Que tremenda massuda nos espera! . . . Deus nos dê paciência para levarmos a cruz ao calvário. Bem amargamos a vida que já vivemos, dizendo a sorrir tantas vezes:— Deus nobis hace otia fecitl. . . VILLAR,— aldeia e quinta da freguezia de S. Thiago de Gemieira, concelho de Ponte de Lima, no districto de Vianna do Castello. V. Gemieira, vol. 3.° pag. 265, col. 2.» Comprehende mais esta parochia as al- deias seguintes:— Egreja, séde da matriz, 1 Agora mesmo soube que s. ex.» falleceu em outubro de 1885. A terra lhe seja leve! V. Caires n'este diccionario e no supple- mento. Gemieira, Bragunda, Pombeiro, Cartunih Casaes, Pereiros, Barrio, Moinhos, Hospital, Ribeiro, Regueira, Picoto, Casal, Ponte do Casal, Pôço, Freiriz, Cancella, Pousada, Val- linhas, Thomada, Cachadinha, Beirão, La- meiro e Sus do Monte. A mencionada aldeia de Villar foi no sé- culo xvi muito privilegiada, pois D. Manuel a mencionou expressamente no foral que em 2 de junho de 1515 deu a S. Martinho da Gandara. Liv. de For. Novos do Minho, fl. 65, col. !.• S. Martinho da Gandara, outr'ora sede de concelho, é hoje uma das freguezias que constituem o concelho de Ponte de Lima. O foral de S. Martinho da Gandara ainda se conserva também no archivo da camará de Ponte de Lima, que hoje representa, alem d'outros, aquelle extincto concelho. No dicto foral se mencionam as terras se- guintes: — Alcucerdo, hoje freguezia de Arcozello. — Arcos, hoje a freguezia d'este nome. —Bandara, hoje a freguezia de Brandara. — Barco, hoje simples aldeia da freguezia de Victorino das Donas. —Britandos, hoje a freguezia de Bretian- dos. — Bural, hoje a freguezia de Beiral do Li- ma. — Calheiros, hoje a freguezia d'este nome. — Carvaçam, hoje a freguezia de Cabra- ção. —Casal de Pedro, hoje ? — Cepães, hoje a freguezia de CepÕes. —Fonte Coberta, hoje talvez a aldeia d'es- te nome na freguezia de Serdedello. —Gemieira, hoje a freguezia d'este nome, supra mencionada. — Ginjeira, hoje ? — Gundufe, hoje a freguezia do Gondufe* — Insuella, hoje ? — Labruja, hoje a freguezia d'este nome. — Labrujó, idem. — Lavredas, hoje ? — Monte Rosso, hoje simples aldeia da fre- guezia de Gondufe. —Pereiro, hoje simples aldeia da fregue- zia de Labrujó. VIL VIL 1173 — Porto Bom, hoje ? —Pouzada, hoje simples aldeia da fregue- zia de Refoios do Lima. — Rendufe, hoje a freguezia d'este nome. — Ribeira, idem. —Ribeiro, hoje? —Santa Comba, hoje a freguezia d'este nome. — Santa Eufemia, hoje a freguezia de Ca- lheiros. —S. Gião, hoje talvez a freguezia de S. Julião do Freixo — ou a de S. Julião de Mo- reira do Lima. —S. Mamede, hoje talvez a freguezia de S. Mamede de Arca— ou a de S. Mamede da Seára. — Sobrada, hoje? —Talharedes, hoje a aldeia de Talhare- ses, na freguezia da Ribeira, supra mencio- nada. — Veiga de Faldejães, hoje a aldeia d'este nome, na freguezia de Arcozello. — Villa Chã, hoje talvez a aldeia d'este nome na freguezia de Beiral do Lima. —Villar, hoje a aldeia de que nos oeeu- pamos n'este artigo— e não a freguezia de Villar das Almas nem a de Villar do Monie, das quaes adeante fallaremos, ambas per- tencentes ao actual concelho de Ponte de Lima,— porque a l.a pertenceu ao extincto concelho de Albergaria de Penella,— e a 2." ao da villa de Val de Vez— segundo me in- forma o ex.m0 sr. dr. Luiz de Figueiredo da Guerra, illustrado filho de Vianna, baseado na opinião do sr. Miguel de Lemos, distin- cto archeologo e professor de latira em Pon- te de Lima. Na dieta aldeia de Villar, freguezia de Gemieira, demora a quinta de Villar, men- cionada na Chorogr. Port. tomo 1.° pag. 200, que foi vinculo dos Castros, de Sopegal (Monção). Em 1706 pertencia a Lourenço Pereira de Távora, filho de João Malheiro, — e pelo meiado d'este século xix passou de João Malheiro de Castro para D. Santhiago Garcia y Mendoza, fidalgo hespanhol da pro- víncia da Gallisa, que em 1846, por occasião da guerra civil da Maria da Fonte, emigrou para o nosso paiz,— apresentou-se em Braga como general carlista— e serviu algum tem- po ás ordens de Macdonell, general migue- lista escocez de triste figura l, que o exau- ctorou. D. Santhiago era homem de maneiras dis- tinctas, muito tractavel e bastante illustra- do;— casou em Guimarães com uma irmã do visconde da Azenha, D. Emília Correia, em 1848;— viveu com ella em Vianna e na sua quinta de Villar; — em 1873 foi nomeado cônsul porluguez em Marselha— e em 2 de agosto de 1884 foi nomeado nosso cônsul ge- ral na mesma cidade, onde um mez depois falleceu victima do cholera morbus que ao tempo assolava Marselha. Foi sócio da nossa Academia Real das Sciencias, redactor do Letlies e auctor de vá- rios folhetos: — A Agua, Estatutos da So- ciedade de Agricultura de Ponte do Limaf etc. Falleceu já viuvo e sem successão— e dei- xou boa livraria e alguns bens. Para a sua.biographia, veja-se a Maria da Fonte, interessante publicação do sr. Camillo Castello Branco, Porto, 1885, pag. 219 e se- guintes. Terminaremos dizendo que ainda hoje (1886) no dia da festa de S. Sebastião a Mi- sericórdia de Ponte de Lima distribue aos pobres o bodo instituído no seeulo xvi pelo benemérito Martini Rodrigues de Lima na antiquíssima capella do marlyr, em S.Mar- tinho da Gandara, séde do extincto conce- lho d'este nome, supra mencionado. V. Gandara, vol. 3.° pag. 257, col. 2.a A melhor quinta de S. Martinho da Gan- dara é a de Cartemil, de Francisco Lopes de Calheiros e Menezes, de Vianna;— foi doa Malheiros e lhe adveiu com a legitima da sua mãe. V. Vianna do Castello, vol. X, pag. 346, col. 2.» VILLAR— e Villar de Suso, ou de Cima, aldeias da freguezia de Barro, concelho e- comarca de Rezende, districto de Vizeu, bis- pado de Lamego. 1 V. Porto. vol. 7.° pag. 366 e segg.— e Villa Pouca d' Aguiar. 1174 VIL VIL Alem das duas mencionadas aldeias de Villar, comprehende a dieta parochia de Barrô mais as seguintes: Outeiro, Outeiri- nho, Barrô, Seara, Villarinho, Porcas, Bar- co, Vallonguinho, Couto. Casas,, Quinta, Ber- nardo, Pardelhas, Portigéns, Souto, Pataria, Cettos, Eirinha, Formigai, Fraga, Lages e as quintas da Commenda, Lamas, Torgal, Amô- do, Granja, Botica, Torrão, Fojo, Tapada, Pinheiro, Lagares, etc. Esta freguezia de Barrô é limilrophe da de S. Martinho de Mouros, que foi séde de concelho até 1855 e comprehende as aldeias seguintes:— Cardoso, Feira Nova, Cantim, Concelho, Casal, Matto, Penedo, Povoa, Rua, Testamento, Villa Verde, Castello, Covello, Fonte, Fun de Villa, Portella, Portal, Ponte, Porto de Rei, Lama Grande, etc— e as quin- tas e casaes de— Corredoura, Soenga, Chou- pal, Forcas, Moinhos, Jogo, Feira, Paço, Pa- ço de Cordeiro, Santa Comha, S. Morel, Bairraes, etc. Estas duas freguezias são muito populo- sas e muito importantes. V. Barrô, vol. I.8 pag. 341, col. 2.' — e Martinho de Mouros (S.) vol. 5.° pag. 110. São também parochias muito antigas, an- teriores á fundação da nossa monarehia, pois a de S. Martinho, que foi séde de con- celho, comprehendendo a freguezia do seu nome e as de Barrô, S. Pedro de Paus e S. João de Fontoura, teve foral dado por el-rei D. Fernando, pae de D. Affonso VI de Cas- tella e avô de D. Theresa, mulher do conde D. Henrique. Foi o dicto foral confirmado e ampliado na era de 1149 (anno 1111) pela dieta senho- ra D. Theresa, mãe de D. Affonso Henri- ques;—D. Affonso IV em 1342 mandou re- ver e firmar de novo os seus costumes e fo- ros por Affonso Annes, corregedor no mei- rinhado da Beira, — costumes e foros que fi- caram equivalendo a um novo foral e se acham impressos no tomo IV dos Inéditos de Hist. Portugueza. Finalmente, D. Manuel lhe deu foral novo em 1513. São interessantíssimos os taes foros de 1342. N'elles se faz repetidas vezes menção da freguezia de Barrô e das aldeias de Vil. lar, de que no momento nos oceupamos, — e d'elles se vê claramente o motivo porque os povos em outras eras erguiam as mãos ao ceu quando os reis lhes concediam co- mo concederam ao Porto, Pinhel, Villa Real de Traz-os-Montes, etc, o privilegio de não poderem os fidalgos morar entre elles. Ali se diz, por exemplo:— que os fidalgos costumavam exigir despótica e violenta- mente dos lavradores— vinho, palha, horta- liças, roupa, etc, etc— que, se os pobres la- vradores se recusavam a semelhantes extor- sões, os fidalgos violentamente lhes toma- vam o vinho e sapavam as cubas, destruíam- Ihes as suas hortas, e esvasiavam-lhes os palheiros, não lhes deixando por vezes a pa- lha precisa para alimentação x dos seus ga- dos;—exigiam d'elles toda a qualidade de roupas e não mais lh'as restituíam, ou lh'as entregavam só depois de rotas; — que, se elles se queixavam, os fidalgos os insultavam e maltractavam,— e que, se levavam as suas queixas a juiso, nunca obtinham justiça, pela grande pressão que os fidalgos exerciam so- bre os juizes, doestando-os, ameaçando-os e mettendo-os inclusivamente na cadeia!... A taes prepotências traetou de pôr cobro o benemérito corregedor, impondo em nome d'el-rei grandes penas aos fidalgos por cada vez que ousassem repetil-as; duvidamos po- rem de que elles estivessem pelos auctos, porque eram muitos e muito poderosos. Ali se mencionam os fidalgos do Paço de Fonseca e das quintas e casas do Outeiro, Cantim de Cima, Cantim de Baixo, Cardoso, Paus, Cadafaz, Casal d' Avô e Villarinho, reconhecendo-se-lhe o direito de exigirem palha dos lavradores, mas somente uma fa- xa de cada um,— e se lhes marcaram as al- deias que eram obrigadas a dar palha a ca- da uma das dietas casas nobres. A de Villarinho, por exemplo, só poderia tomar palha nas aldeias de Villar, Villari- nho, Lamas, Outeiro, Pardelhas e Villa Ver- de de Barrô. A de Fonseca nas aldeias de Fonseca, Fei- ra, Maçôrra, Nadaes, Porto de Rei, etc. A de Cantim de Cima na aldeia d'este no- me e nas de Moumiz, Fazamòes e Gotello. VIL VIL 1175 A de Cantim de Baixo na aldeia d'este nome, do Paço para cima, e nas de Cordova e Ferreiros. A de Casal d' Avô nas aldeias da Peneda, Povoa, Celores, Egrejas, Valverde e Azi- nhal. «Item. Porque o dito corregedor achou que nesta terra de S. Martinho, cavaleyros, e rendeyros, e outros podrosos, filhavam (tomavam violentamente) e mandavam filhar pera sy, per sy e per seus homees, galynhas, e patos e carneyros, e leytões e freamas (leiloa*) e cabrytos, e vacas, e boys, e outras cousas pera comer, e pera fazer delas o que querem; e que esto husavam de fazer muyto ameude, e que nunca eram pagados; ou se o eram, que o eram trady (tarde) e mal, e com gram dano daqueles a que o assy to- mavam; mandou e defendeu da parte dei R^y que nenhum nom fosse tam ousado, que, filhasse nenhua das ditas cousas, . . .se- nom hu as venderem, e pagando logo os di- nheiros por elas. . . E qualquer que o dou- tra guysa fezer, e filhar as ditas cousas,. . . que as pague logo com o tresdobro do que valerem. - . E do tresdobro seia huu do do- no da cousa, e outro dei Rey, e outro do concelho.» Outras muitas bellesas análogas se encon- tram nos díctos Foros. Tudo aquillo porem é nada com relação aos excessos de toda a ordem que os grandes senhores, nomeada- mente os de baraço c cutello, costumavam praticar, apropriando-se não só dos bens, mas das pessoas, filhos, filhas e mulheres dos seus vassallos, não hezitando em tirar-lhes inclusivamente a vida, a seu bel prazer l... Mal imagina hoje o nosso povo quanto soffreram os povos em outros tempos. Os fidalgos até por vezes espancavam, mutilavam e matavam as auctoridades e os mordomos d'el-rei, quando transpunham os seus coutos, — segundo se lê a cada passo na Historia de Portugal por Alexandre Hercu- lano, nomeadamente no vol. 2.° pag. 494— 499. VILLAR,— aldeia da freguezia de Fontello, concelho e comarca d' Armamar, districto de Vizeu. V. Fontello, vol. 3.° pag. 209, col. 2.» Pelo recenseamento de 1878 contava esta freguezia 240 fogos e 949 almas. Comprehende as aldeias de Villar, Bal- teiro, Commenda e Serro do Maio, — as quin- tas de Villar, Vista Alegre, Lapa, Bagaun- te 1 e Pedra Caldeira, todas de vinho de em- barque, próximas da margem esquerda do Douro, — e os casaes do Talhadouro e Matt- tosas. Ha na pequena aldeia de Villar differêu- tes quintas, merecendo especial menção, pela excellencia dos seus vinhos e do azeite e fructas variadíssimas e saborosíssimas que produz, a quinta de Villar, pertencente a um distincto cavalheiro do Porto, o sr. Duar- te Huet, a quem foi concedida uma medalha de i.a classe na exposição internacional do Porto em 1865, pela excellente fructa que ali expoz, proveniente d'esta sua quinta. Os pomares são banhados pelo ribeiro de Marrocos, que desagua no Douro, cerca de 500 metros a juzante. Ha ali uma soberba laranjeira que só dá fructo alternadamente,— um anno do lado E. —outro do lado O.— regulando por 7 a 8 mil laranjas a producção annual de cada uma das dietas metades. A serra de S. Domingos, de que já se fal- lou no artigo Fontello, pertence quasi toda a esta parochia;— abunda em granito do me- lhor de Portugal, pelo que d'ali vae a pedra para as construcções mais luxuosas da ci- dade de Lamego, bem como para as d'este concelho d'Armamar e dos da Regoa e San- ta Martha de Penaguião. Estes últimos dois concelhos não teem granito algum e estão todos povoados de pa- lacetes guarnecidos com o bello granito da mencionada serra, pelo que todos os dictos palacetes representam grandes sommas. Só o granito do palacete dos fidalgos de Santa Comba, em Penaguião, distante da serra de S. Domingos cerca de 15 kilome- tros, custou perto de trinta mil crusados ! E 1 Assim se lê na Chorogr. Moderna, mas talvez seja Bagauste. 1176 VIL VIL palacetes como o de Santa Comba são por ali Iriviaes, o que revela a grande riquesa d'aquelles dois concelhos durante a existên- cia da celebre Companhia dos Vinhos do Alto Douro, instituída pelo marquez de Pombal. Veja-se o artigo Victoria (Porto) vol. 10.° pag. 596, col. 1.» e seg. Rakzinski 1 dá em gravura muitos signaes ou caracteres exóticos que se encontram nas paredes da sacristia e da capella de S. Do- mingos, no alto da serra d'este nome, no ter- mo d'esta freguezia de Fontello, desenhados e copiados pelo infeliz barão de Forrester, quando por aqui andou levantando a planta do rio Douro, e que no Douro perdeu a vi- da. V. Villa Secca d' Armamar. Concluiremos dizendo que (segundo nos informam) ha na dieta serra de S. Domin- gos uma extensa galeria que lhe vara o bojo de leste a oeste. Dizem que um cão entrára pela bocca d'ella na pendente sobre o rio Varosa, a montante de Valdigem, e que fôra sair na extremidade opposta junto da povoação de Fontello. Isto nos asseverou um illustrado eccle- siastico de Valdigem, mas quem não acre- ditar não pecca. VILLAR— freguezia do concelho de Ca- daval, comarca d'Alemquer, distrieto e dio- cese de Lisboa, província da Estremadura. Fogos 311,— habitantes 1:197. Orago — Nossa Senhora da Expectação. Priorado. Em 1712 era um simples curato da apre- sentação do prior de Santhiago d'Obidos, — comprehendia as povoações de Villar, Ave- nal, Pereiro, Villa Nova e Togeira,— e con- tava 120 fogos. Em 1768 era curato da apresentação do prior do convento dos Jeronymos de Val Bemfeito e dos beneficiados d'Obidos,— ren- dia para o cura 1 moio de trigo, meio de cevada e 2 pipas de vinho— e contava 93 fo- gos. O censo de 1864 deu-lhe 169 fogos e 844 1 Les Arts en Portugal, pag. 332 e 333. habitantes;— o de 1878 deu lhe 230 fogos e 1:051 habilantes, — e hoje eonta, como disse- mos, 311 fogos e 1197 habitantes. Tem augmentado pois consideravelmente a sua população. I " — Comprehende hoje esta freguezia as po- voações de Villar, sede da matriz, Palhaes, Villa Nova, Arrabalde, Tojeira, Pereiro, Sei- xo e Carvalhal da Serra— a quinta de San- carrão, de D. Felicidade Rosa Pereira de Castro, — a herdade da Marinha, de José Duarte,— e os casaes de Amieira, Ribeira e Pião. Freguezias limitrophes: — Lamas e Pero Moniz, no concelho de Cadaval— e Villa Ver- de dos Francos, no concelho d'Alemquer. Esta freguezia demora ao poente e nas faldas da serra de Monte-Junto,— dista da villa de Cadaval 9 kilometros para o sul, — 26 de Alemquer,— 34 da estação do Carre- gado (a mais próxima) 1 na linha férrea do norte,— 71 de Lisboa— e 334 do Porto. Banham esta freguezia differentes regatos; unidos formam o rio Real, que desagua na lagoa d'Obidos, cerca de 26 kilom. a N.O. Atravessa esta freguezia a estrada distri- ctal a macadam, n.° 83, da estação do Car- regado, por Alemquer e Villa Verde dos Francos, ao Cadaval, servida por diligencias, — e a estrada municipal que liga a povoa- ção de Villar com a de Villa Nova, passando por Palhaes. Templos: — a egreja matriz e duas capei- las publicas,— uma de S. Miguel, na povoa- ção do Pereiro,— outra do Espirito Santo, na povoação de Villa Nova. Nada offerecem digno de menção. Na matriz festeja-se annualmente a pa- droeira e o Santíssimo Sacramento,— e nas capellas os seus oragos. E em cumprimento ! de um antigo voto vae da matriz todos os anno3, no dia 8 de setembro, uma procissão 1 Logo que se abra á circulação a linha férrea de Lisboa à Figueira por Torres Ve- dras,— linha em construcção n'esta data (1886)— deve ter n'ella estação mais pró- xima. VIL VJL 1177 á Senhora da Misericórdia da freguezia da Moita dos Ferreiros, concelho da Lourinhã, distante cerca de 18 kilometros para N. O. Ha nos limites d'esta parochia duas pe- quenas pontes de pedra na estrada distri- ctal,— duas azenhas que só trabalhara no in- verno,—7 moinhos de vento,—! forno de cerâmica e 2 de coser telha. Producções dominantes: — vinho. Também colhe algum azeite, cereaes e frueta. Tem esta parochia uma aula ofíicial de instrucção primaria elementar para o sexo masculino. Comprehende esta freguezia grande parte da serra de Monte Junto, uma das mais no- táveis dafEstremadura, onde se vê umapy- ramide geodésica marcando 666 metros de altitude sobre o nivel do mar. V. Moníe-Junto, vol. 5.° pag. 478, col. 2.* in-fine e segg. Esta freguezia, como todas as d'este con- celho e dos concelhos limitrophes, soíTreram muito por occasião da guerra peninsular, nomeadamente desde que o general Massena acampou com os seus 80:000 homens ao norte das linhas de Torres Vedras, desde outubro de 1810 até março de 1811. Mal se imagina hoje o estado a que fica- ram reduzidos estes povos ! . . . V. Torres Vedras e Gojim. Em maio de 1868 (ha precisamente 18 annos) os habitantes d'esta freguezia de Vil- lar, magoados com as extorsões do escrivão de fazenda, resolveram deixar a sua paca- tez habitual e seguir o exemplo dos povos de Villa Verde, Amares, Terras de Bouro, Povoa de Lanhoso e Villa Nova de Foscôa, — os mais enérgicos e revolucionários de to- do o nosso paiz. Amotinaram-se e no dia 10 do dicto mez marcharam sobre a capital do concelho, dis- postos a incendiar os archivos da fazenda e das outras repartições publicas. Iam em força de mil homens talvez, arma- dos com espingardas, fouces roçadouras, va- rapaus, etc, mas nada conseguiram, porque o administrador do concelho, prevenido a tempo, havia requisitado tropa. VILLAR,— freguezia do concelho e comar- ca de Villa do Conde, districto e diocese do Porto na província do Douro. Orago — Santa Maria (a Expectação de Nossa Senhora.) Abbadia. Em 1706 era do concelho da Maia, co- j marca do Porto e da apresentação do con- vento benediclino de Santo Thyrso com re- serva,— rendia para o abbade, com meios fructos, 160#000 réis,— para os padres da Companhia de Braga I00$000 réis, prove- nientes dos outros meios fructos— e contava 97 fogos e 380 habitantes. Em 1729, segundo se lê na Geographia Hist. de Lima, contava 356 habitantes. Em 1768, segundo se lê no Portug S. e Profano, era da apresentação alternativa do prelado do Porto e do convento de Santo Thyrso,— rendia 500$000 réis— e contava 114 fogos, que deviam corresponder a 470 habitantes, approximadamente. O censo de 1864 deu-lhe 172 fogos e 532 habitantes— e o de 1878 deu-lhe 126 fogos e 602 habitantes. Comprehende as aldeias seguintes:— Vil- /ar,séde da matriz, Rosa, Souto, Pereira, Ou- teiro, Pisão, 1 Real, Soutello e Carrapata,— segundo se lê na Chorogr. Moderna. Em 1758, segundo o D. G. M. 2 tinha esta parochia 3 grandes aldeias: Pereira, — Sou- tello, comprehendendo as de Real e Pirvens, — e Villar, comprehendendo as de Souto, Rosa, Outeiro e Jardim; ma3 hoje Villar é uma aldeia muito pouco populosa. Freguezias limitrophes:— Avelleda, Modi- vas, Canidello e Guílhabreu. Atravessam esta freguezia a estrada real a maeadam n.° 30, do Porto a Valença por Villa do Conde, Povoa de Varzim, etc. — e a linha férrea do Porto a Villa Nova de Fa- malicão, também por Villa do Conde e Po- voa de Varzim, a qual tem a estação de Mo- divas na extremidade N.O. d'esta parochia. 1 Esta aldeia tomou o nome de um antigo pisão, movido pela agua do ribeiro que aqui passa. 2 Diccionario Geographico Manuscripto,— collecção dos relatórios dos parochos, exis- tente na Torre do Tombo. 1178 VIL VIL Dista da mencionada estação 2 kilometros, — 11 de Villa do Conde,— 18 do Porto— e 357 de Lisboa. É uma abbadia rendosa. Teve um grande passal que, pela nova lei das desamortisações, foi quasi todo vendido em hasta publica, mas averbado o seu preço em inscripções ao parocho. Todos os casaes da povoação de Arões> freguezia de S. Gonçalo de Mosteiro, eram foreiros ao abbade de Villar, e só um d'a- quelles casaes (o da Lameira) lhe pagava por anno 11 alqueires de trigo, 11 de pão meia- do (milho e centeio) 1 gallinha e um frango, e de luctuosa outro tanto. É também parochia muito antiga. Foi uma das primeiras que no concelho da Maia teve Santíssimo permanente. D'ella ia por viatico aos povos de varias freguezias cir- cumvisinhas, toes como Villar de Pinheiro, Mosteiro, Avelleda e Modivas. A imagem de Nossa Senhora, orago d'esta parochia, é antiquíssima e de pedra. Diz a tradição que appareceu em um silvado no Campo da Vinha do passal. É hoje parocho d'esta freguezia o rev. An- tonio Martins Gesteira, natural da povoa de Varzim, que foi anteriormente parocho na freguezia de Viatodos. Tomou posse d'esta freguezia de Villar no dia 19 de dezembro de 1881, havendo se collado poucos dias antes. Succedeu ao abbade José Joaquim da Silva Guimarães, bacharel formado em direito, natural da freguezia de Malta, d'este mesmo concelho de Villa do Conde, fallecido em 1864, — e desde o fallecimento d'elle até á collação do parocho actual, foram aqui pa- rochos eneommendados José Moreira Maia, João Luiz de Andrade e José d'Azevedo Maia, natural d'esta mesma freguezia e que se tor- nou benemérito pelas obras e melhoramen- tos que promoveu e conseguiu realisar, taes foram a nova capella-mór, a sacristia e o cemitério. O referido abbade dr. Guimarães havia succedido ao abbade José Joaquim Gonçal- | ves, da congregação de S. Philippe Nery, da ! I cidade do Porto, collado em 5 de fevereiro I de 1837 ». Tem uma boa resideneia parochial, feita pelo abbade José Joaquim da Silva Guima- rães, em substituição da antiga, que eíiava do lado norte da egreja, ligada á velhi ca- pella-mór, para a qual tinha uma tribuna. Junto da antiga residência houve uma ma- gestosa palmeira, da qual hoje apenas res- tam vestígios em uns rebentos que se ^ôem no cemitério. Do alto d'ella se avistava o mar. O chão d'e«ta parochia é saudável e fér- til, banhado por dois ribeiros que regim e moem. Fazem juncção na aldeia de Real, dVsta mesma freguezia, formando o rio de, Lubru- ge, que tem a sua foz no mar, entre às fre- guezias de Lama, na margem esquerda,— e Labruge, na margem direita, — rio de certa importância e que bem mereeia nome pró- prio,—se é que já o não teve. Stria o Cdan- do? Suppõe-se que junto da foz d'este rio hou- ve uma cidade, de que faliam diversos au- ctores, entre elleso padre Francisco do Nas- cimento Silveira nas interessantes notas ao seu Coro das Musas, junto por Vénus na Casa do So/,—1.» parte, pag. 26. Producções dominantes: vinho verde, ce- reaes e hervagens, pelo quw foi muito im- portante e rendosa nVstá freguezia a indus- tria da creação e engorda de bois que ex- portava para a Inglaterra,— industria que decahiu nos últimos annos, d- pois que os Es- tados-Unidos da America do norte se incum- biram de abastecer de carne a Inglaterra, como inundam de cereaes toda a Europa. V. Villar d'Andorinho. Tem esta freguezia uma estação postal na 1 Falleceu no dia 15 de março d'este an- no de 1886 na sua casa e quinta de Villa Pouca, freguezia de Varz-a d' A brunires-, concelho de Lamego, um dn- últimos con- gregados do Porto. Padr • Manuel Ferreira, natural da povoação do Ba ca lar, freguezia I e concelho d'Armamar, tio materno do hu- milde auelor d'estas linhas. VIL VIL 1179 aldeia de Soutello — è appellidos curiosos, taes são: — Pato e Ganso — Pisco e Carriço, — Basto e Ralo,— Teso e Molle,— Fermento e Massa, — Torta e Direita, — Carvalho e Pi- nheiro,— Bacalhou e Peia. José Antonio d" Azevedo Lemos Este preclarissimo varão, que tanto figu- rou na historia moderna de Portugal, nas- ceu em 1 d'outubro de 1786 na povoação de Pereira, d'esta freguezia de Villar, e foi fi- lho legitimo de Antonio d'Azevedo Lemos e de Anna Maria Antunes, ambos da dieta po- voação. Seus paes eram lavradores e tiveram mui- tos filhos, mas (honra lhes sejyt) não des- curaram a educação d'elles. Formaram era direito o Francisco, do qual adiante faltare- mos, e tentavam ordenar o José, de quem no momento nos oceupamos, destinando-o para administrar a casa e amparar os seus nu- merosos irmãos, entre os quaes era o pri- mogénito. Com esse intuito mandaraaQ-n'o para o seminário episcopal do Porto, onde estudou latim, írancez e philosophia com raro aproveitamento. Do Porto passou para o convento do Car- mo de Santarém, onde era frade um seu Uo. Ali estudou pharmacia e outras disciplinas com ariimo.de professar na dita ordem, mas em 1807, indo ver o exercício d'um regi- mento comtmudado pelo futuro conde de Bar bacena, tal eruhusiasmo sentiu pelas ar- mas, que p' dm lh« assentasse praça e logo foi atiendido e muito bem recebido pelo conde de Bar bacena, que o empregou na se- cretaria do seu estado- maior e lhe dispen- sou sempre particular estima. Assentou praça em cavallaria 10 e fez to- da a campanha da peuinsula, assistindo a muitas batalhas e distinguindo-se na dos Pyreueus. Em uma d'ellas (não sabemos bem se foi n'esta ultima) tomou aos franeezes, com grande ousadia, uma bandeira, pelo que, sendo ainda sargento, foi elogiado na ordem do dia e nomeado alferes por disiincção. Logo que se lhe offereceu ensejo, pediu licença e foi a Villar sarprehender seus paes, apresentando-se com as suas dragonas e banda d'alferes, imaginando lisongeal-os,, mas a mãe recebeu-o com friesa, dizendo que mais estimaria vel-o com o habito de S. Francisco e o cordão da ordem. Sorriu-se elle, promettendo voltar a vêl-os sò quando fosse promovido a outros postos, — e assim o cumpriu. Em 1827 já era coronel, contando apenas 41 annos de idade;— em 1830 era brigadei- ro—e em 1832 tenente general. Em 1815 partiu para o Brazil com o con- de de Barbacena, seu velho amigo;— militou com distineção no Bio de Janeiro, no Bio Grande do Sul, no Paraguay, na Bahia e> Pernambuco, e não querendo adherir á in- dependência do império, voltou para a me- trópole com a patente de coronel graduado. Depois dos acontecimentos de 1823, foi nomeado commandante da guarda da poli- cia, hoje guarda municipal, do Porto, cargo- que muito honrosamente oceupou até 1826, retirando-se do serviço militar n'aquella data, por ser opposto as idéas constitucio- naes. Pouco depois da chegada de D. Miguel em 1828, Lemos foi promovido a coronel ef- feclivo e encarregado do commando de in- fanteria n.° 1. Assistiu aos combates da Cruz de Morouços, Marnel e Vouga— e fez Ioda a campanha do cerco do Porto, sendo por ve- zes ferido e em uma d'ellas muito grave- mente na cabeça, pelo que foi levado para a freguezia de Barreiros, onde carinhosamente o tractou e salvou um seu amigo e recebeu amiudadas vizitas dos parentes. Também fez parte da expedição á Tercei- ra e Madeira e, era seguida ao combate da Villa da Praia (11 d'agosto de 1829) regres- sou a Lisboa. Em 1832 foi feito marechal de campo— e> em 1833, em seguida ao incêndio dos arma- zéns da Companhia dos Vinhos, lavrou um protesto contra tão inaudito attentado, pro- testo que assignou cora os cônsules inglez e francez. Em 3 de novembro do mesmo anuo ga- 1180 VIL VIL nhou em Alcácer do Sal uma brilhante Vi- ctoria contra os liberaes, commandados pelo coronel Florêncio. Foi o ultimo commandante em chefe do exercito realista e coube-lhe a dolorosa mis- são de assignar no dia 26 de maio de 1834 a convenção d'Evora-Monte, como repre- sentante de D. Miguel, sendo no mesmo acto representantes de D. Pedro o marechal Sal- danha e o duque da Terceira. As circumstancias não podiam ser mais criticas para o partido de D. Miguel, mas a instancias de Lemos algumas modificações foram feitas na proposta dictada pelos ven- cedores. Foi s. ex.» convidado para adherir ao par- tido de D. Pedro, como adheriram muitos dos officiaes de D. Miguel, mas (honra lhe seja I) não renegou as suas crenças politicas c acompanhou D. Miguel para Turim, onde foi muito estimado por Carlos Alberto, rei da Sardenha. Ali se conservou até 1849, data em que regressou a Portugal, fixando a sua residên- cia em Lisboa, onde casou com D. Bita Fer- reira Pigott, viuva do general Pigott, senho- ra de avultada fortuna. Depois d'uma vida tão accidentada e tra- balhosa, passou o resto dos seus dias muito tranquillo, estimado e respeitado por todos e exercendo a mãos largas a caridade, viven- do alternadamente na rua de Buenos Ayres, n.° 6,— e na sua casa de campo em Bemfica, até que falleceu a 16 de fevereiro de 1870, contando 8i annos deedade. A viuva pouco tempo lhe sobreviveu e ambos jazem no cemitério oriental de Lis- boa, em jazigo próprio. D. Miguel quiz agracial-o com o titulo de conde, graça que elle recusou. Escreveu duas obras:— Rectificação cTal- {juns factos da historia contemporânea — e a Vida de Lord Welington, seu commandante na guerra peninsular. José Antonio d'Azevedo Lemos teve mui- tas irmãs e um irmão mais novo do que elle j 12 annos,— Francisco José d'Azevedo Lemos j —que se formou em direito e, depois de I exercer alguns cargos de confiança, foi juiz de fóra nos Arcos de Val de Vez; rebentan- do porem as luctas entre os liberaes e rea- listas, foi voluntariamente alistar-se nas fi- leiras da legitimidade, sendo seu irmão já coronel e commandante de um regimento. Entrou em vários recontros, ficando em um d'elles estendido no campo com a cabeça mutilada; sendo porem levado para um hos- pital de sangue, sobreviveu e, a instancias do coronel, seu irmão, deixou a carreira militar. Manuel d'Azevedo Lemos, outro irmão do general, ficou senhor da casa da Pereira; — casou e teve entre outros filhos, D. Emilia Maria Dias de Lemos. Casou esta com An- tonio Gonçalves Barroso, de quem viuvou, e hoje (1886) vive com um seu filho, Manuel Gonçalves Barroso de Lemos, na mesma casa da Pereira. Das irmãs do general Lemos casou uma em Villar de Pinheiro e teve, entre outros filhos, — o rev. José Dias da Silva Lemos, actual reitor de Modivas, vigário da vara n'este 2.° districto ecclesiastico da Maia,— e Joaquim Dias da Silva Azevedo e Lemos, ne- gociante em Pernambuco. É também natural d'esta freguezia o rev. José Pereira Baptista Neves, hoje abbade de Lordello de Ouro, junto do Porto, tendo sido anteriormente abbade de Melres, "no conce- lho de Gondomar. É um parodio de bons costumes, inde- pendente e rico, pois herdou boa fortuna de um irmão, negociante no Brazil, e do rev. João Correia do Lago, seu antecessor na ab- badia de Lordello do Ouro. Ao rev. sr. Joaquim Antunes d'Azevedo, natural da freguezia de Villar de Pinheiro e actualmente reitor da de Viila Nova da Te- lha, agradeço os apontamentos que se dignou enviar-me. VILLAR D'ALLEN,— quinta d'este nome na freguezia de Campanhã, bairro Occiden- tal do Porto, — uma das quintas mais notá- veis nas cercanias d'esta cidade, ao norte do | Douro. Bivalisa com a da Lavandeira, na margem sul, freguezia de Santa Eulália de I Oliveira,— quinta muito mais luxuosa e que VIL VIL 118Í foi do bondosisíimo e prestantissimo sr. conde da Silva Monteiro (Antonio da Silva Monteiro) fallecido em 1884 na sua casa da rua da Restauração, que era e é a mais lu- xuosa do Porto x. Esta quinta de Villar d'Allen foi do acre- ditado negociante e benemérito cidadão João Allen2, de quem passou para o seu filho Al- fredo Allen, que em 1866 d'ella tomou o ti- tulo de visconde de Villar d'Allen— cava- lheiro muito illustrado, muito prestimoso e muito considerado pelas suas nobilíssimas qualidades. Qui viget in foliis venit e radicibus hu- mor!. . . É s. ex.a um dos nossos mais distinctos amadores de tloricullura, horticultura e arbo- ricultura—e distinctissimo oenologo tam- bém—pelo estudo e pela pratica, pois é dono da grande quinta do Noval 3, no Alto Dou- ro, e um dos primeiros negociantes de vi- nhos da praça do Porto. Nasceu em 1828;— foi educado em Fonte- nay-aux Roses (perto de Pari?) com o rev. Sacra Família, dr. José da Silva Tavares;— casou em 1851 com D. Maria José Rebello Valente, filha do acreditado negociante e ri- co proprietário José Maria Rebello Valente, 1 De s. ex.a já se fez ligeira menção no ar- tigo Miragaya, vol. 5.° pag. 261, sob o nome de Antonio da Silva Montèiro, na lista dos 40 maiores contribuintes, — e no art. Porlo, vol. 7.° pag. 464, col. 1.", sondo então vis- conde da Silva Monteiro e morador não no largo da Aguardente, como ali se disso por lapso, mas ua rua da Restauração. No supplemento ao artigo Porto lhe dare- mos o logar d'honra, que merece a sua ve- neranda memoria. Depois do conde de Ferreira (V. Campa- nhã) ,foi um dos homens mais prestantes que tem tido o Porlo e cuja morte foi mais vivamente sentida. 2 V. Campanhã, vol. 2.° pag. 59, col. 1.", — Miragaya, vol. 5.° pag. 252, col 2." e seg. — e Porlo, vol. 7.° pag. 494, col. 2.° 3 V. Douro Illustrado, pag. 8i, 92 e 100, onde se encontram tres lindas gravuras re- presentando a mencionada quinta— e pag. 124. onde se encontra a descri peão d'ella. Vide também Villarinho de Cotias n'este •diccionario. VOLUME XI — e tem 2 filhos:— Alberto Rebello Valente Allen, Roberto Rebello Valente Allen,— este solteiro e aquelle casado com D. Laura, fi- lha única de Manoel Pinto Gomes de Mene- zes, director da caixa filial do Banco do Mi* j nho. Entre outras, cabem ao sr. visconde de Villar d'Allen as distineções seguintes: — Ex-director da Associação Commercial do Porto em differentes biennios. — Secretario das primeiras exposições agrícolas do Porto (1857-1863). — Fundador da Sociedade do Palacio de Chrystal do Porto (1863). Á iniciativa e aos relevantes serviços de s. ex." se deve em grande parte a construc- ção do dicto Palacio. —Iniciador e secretario da Exposição In- ternacional Portugueza de 1865— e commis- sario da mesma Exposição, indo á sua custa ao estrangeiro organisar as differeutes com- missòes delegadas, entre ellas a de Paris — com Gervais de Caen e Natalis Rondot. —Como director do Palacio de Crystal, foi ern commissão a Londres, também á sua custa, em 1861, e ali se demorou tres mezes para resolver as grandes difficuldades que se deram com a fallencia do empreiteiro constructor do dicto Palacio, sendo acom- panhado n'essas diligencias pelo seu collega na direcção Francisco Pinto Ressa. — Vereador da camará municipal do Por- to, 4 annos (1866 a 1869). N'esse período, tendo a seu cargo o pe- louro dos arvoredos, creou o Jardim da Cor- doaria ou do Campo dos Martyres da Pa- tria em 1867 a 1868, executaudo-o com a verba em que foi orçada só a vedação do dicto campo. — Vogal do conselho de família por parte dos interdictos, no inventario do Conde Fer- reira (13 annos). j — Commissario régio honorário junto da i Exposição internacional de Vienna, em 1874. i — Encarregado da organisação dos pro- ductos do norte do nosso paiz para todas as exposições internacionaes, especialmente da secção de vinhos. — Membro da Sociedade Humanitária do ! Porto. 75 1182 VIL VIL —Presidente da direcção do Palacio de Crystal, desde 1867 até 1875. — Sócio honorário da mesma Sociedade, eleito em assembléa geral pelos seus servi- ços extraordinários nas exposições agricolas e hortícolas. — Presidente de quasi todas as exposições hortícolas e oenologicas do Palacio de Crys- tal, até 1880. —Vogal e por vezes presidente do conse- lho fiscal da sociedade do dicto palácio. —Fundador do 1.° Orpheon popular por- tuense e escolas de musica populares gra- tuitas (1866 e 1867). — Presidente da Commissão central anti- phylloxerica do Reino (1881)— tendo sido vo- gal da mesma. — Presidente da Commissão central anti- pliylloxerica do norte (1881 a 1884). — Vogal da mesma commissão. sendo exo- nerado da presidência, a seu pedido, e no- meado presidente honorário pelo governo. — Fundador da Fabrica de sulfureto de carbone na Serra do Pilar, conseguida de- pois de grande lucta (1879). — Portaria de louvor (1879) pela installa- ção da dieta fabrica. — Vogal da commissão da cultura do ta- baco no Douro, havendo tomado parte na grande lucta para se obter do governo con- cessão para experiências. —Vogal do Conselho d'Agricultura do dis- tricto do Porto, desde a sua installação. — Fundador do Agricultor Portuguez, jun- tamente com os seus collegas José Taveira de Carvalho, Alfredo Lecocq e Domingos José Salgado (1877)— e collaborador e reda- ctor do mesmo jornal. — Vogal da Commissão de defesa do Dou- ro, eleito no grande comício da Regoa. — Delegado do governo ao Congresso an- ti-phylloxerico de Bordeaux em 1881, — sem gratificação nem despezas de viagem. — Delegado do governo á Convençãó de Berne, no mesmo anno de 1881. — Vogal do 1.° syndicato para a construc- çào do porto artificial de Leixões, desde 1864. —Vogal do 2.° syndicato do mesmo porto com canal, até 1884. I A este syndicato se deve a construeção do dicto porto, em opposição aos acérrimos partidários do porto de Lavradores. Foi presidente d'este 2.° syndicato o be- nemérito conde da Silva Monteiro, já falle- cido, — e engenheiro James Aberceethy, de Londres. — Vice-presidente da Commissão central do norte, promotora da producção e expor- tação de vinhos nacionaes (Decreto de 29 de maio de 1885). — Secretario-gerente e thesoureiro da cai- xa filial do Brazilian Portuguese Bank, no Porto (1863 e 1864)— hoje Banco lnglez do Rio de Janeiro. — Concorrente a todas as exposições agri- colas e vinícolas do seu tempo, nas quaes obteve sempre os primeiros prémios. — Visconde de Villar d'Allen por decreto de 13 de janeiro de 1866, no encerramento da Exposição Internacional do Porto, devida em grande parte aos seus esforços. — É também s. ex.a um distincto amador de musica (violoncellista) havendo tomado parte em differentes concertos de beneficên- cia como solista nos theatros, no Palacio de Crystal, etc. — É finalmente — Official da Legião d'Hon- ra — e Official de Instrucção publica, laurea- do com a Palma de académico na especiali- dade de oenologia, em França,— e Official da Ordem de Leopoldo, da Bélgica. Tem sido também s. ex.* introductor e propagandista do sulfureto de carbone, dos adubos chimicos e d'outros muitos melhora- mentos e benefícios da nossa agricultura e floricultura. Do exposto se vé que o sr. visconde de Villar d'AUen é um cidadão prestantissimo, a quem o nosso paiz, nomeadamente o Porto e o Douro, — muito devem. VILLAR DAS ALMAS,— freguezia do con- celho e comarca de Ponte do Lima, distriCo de Vianna do Castello, arcebispado de Braga, na província do Minho. Abbadia. Orago Santo Estevam. Fogos 115, — habitantes 400. O censo de 1864 deu-lhe 98 fogos e 251 habitantes, — e o de 1878 deu-lhe 111 fogos e 390 habitantes. VIL VIL 1183 Demora esta freguezia na margem esquer- da do rio Neiva, do qual dista a egreja paro- chial cerca da 2 kilometros, — 6 da estação de Tamel (a mais próxima) na linha férrea do Minho —16 de Ponte do Lima,— 18 de Braga,— 20 de Vianna — 66 do Porto— e 403 de Lisboa. Segundo se lê na Chorogr. Moderna, com- prehende esta freguezia as povoações seguin- tes:— Egreja, séde da matriz, — Santo Anto- nio, Freitas, Eido, Eido Velho, Monie, Pe- reiras, Fonte, Alem, Outeiro, Maneja, Talho, Rua, Pégo, Eiras ou Eirós e Cachada ou Queixada. Freguezias limitrophes: — Calvêllo, Gíifar e Sandiães. Producçõesprincipaes: — milho, vinho ver- de e centeio. Esta freguezia pertenceu ao concelho de Albergaria de Penella, extincto por decreto de 24 d'outubro de 1855, data em que pas- sou para o de Ponte de Lima. Também parte da sua população perten- ceu ao extincto concelho de Portella das Ca- bras. Cerca de 3 kilometros ao nascente d'esla freguezia passa a estrada real a macadam de Ponte de Lima a Braga, — e é atravessada pela estrada distrietal n.° 4, de Vianna a Villa Verde, ainda em construcção. Ao ex.mo sr. dr. Luiz de Figueiredo da Guerra, illustrado filho de Vianna, a quem este diccionario tanto deve, agradeço os apontamentos que se dignou enviar-me para a descripcão d'esta e d'outras freguezias do seu districto. VILLAR D'AMARG0, — freguezia do con- celho e comarca de Figueira de Castello Ro- drigo, districto e diocese da Guarda, provín- cia da Beira Baixa. Abbadia. Orago S. Miguel Archanjo. Em 1708 contava 110 fogos;— a Historia Eccles. de Lamego escripta por D. Joaquim d'Azevedo, na 2.» metade do século xviii e publicada no Porto em 1877, deu-lhe os mes- mos 110 fogos e 300 habitantes, no que não ha proporção;— o Portugal S. e Profano em 1768 deu-lhe apenas 88 fogos; — o censo de 1864 deu 1134. 4.» » > . 1217, > 1179. 5.* » » » 1238, 1200. 6° . » » 1238, > 1200. 7.° . » . 1240, » 1202. 8.» » » » 1241, » 1203. 9.» . > » 1249, > 1211. Finalmente a pag. UO, sob o n.° 12 da 4.* collecção especial, menciona um perga- minho muito importante para esta fregue- zia. Lamentamos não o ter á mão. É da primeira metade do século xiv e n'elle se descreve o termo d'esta freguezia n'aquella data. Principia assim: Isti sunt termini de ecclesia sei salvatoris d'avilar que nocitant d'ferveros. . . «Estes são os termos da egreja (freguezia) de S. Salvador de Villar que chamam de Fervevos (Villar d'Andorinho)»— e'descreve em seguida os dictos termos. É pois no cartório da Universidade de Coimbra que se encontram os documentos mais importantes para a historia antiga d'esta parochia, mas quem houver de os con- sultar necessita de saber paleegraphia. 1 Que o tal Andorinho era filho de Domin- gos Diogo de Cornes. Permiltaro-me aventar a supposição de que este fidalgo era gallego, pois junto de S. Thiago de Composteíla, na Gallisa, ha uma povoação importante denominada Cornes e d'ella íomou o nome a 1." estação da linha férrea de S. Thiago a Carril. Nós também hoje temos com o mesmo no- me de Cornes uma aldeia na freguezia de Espiunca, concelho d'Arouca,— e uma aldeia e uma freguezia no coucelho de Villa Nova da Cerveira, em frente da Gallisa. 2 Que o tal Andorinho linha uma irmã chamada Ermesinda. 1194 VIL VIL O rio Febros Banham esta parochia o rio Febros e dif- ferentes regatos seus confluentes. O Febros nasce a N.E. do monte das Ven- das de Grijó, na aldeia das Corgas, fregue- zia de Seixezello, junto da egreja matriz, la- do O., onde tem um grande lavadouro pu- blico;—caminha para leste, engrossando á proporção que avança;— atravessa e fertilisa os campos da formosa ribeira de Seixezello; toca na aldeia do Amial (freguezia do Oli- val) onde atravessa a antiga estrada de Vi- zeu e Arouca, e ali se lhe une um arroio que vem dos montes do Amial, mas que pertence á freguezia d'Argoncilhe! .. .—depois atra- vessa e fertilisa os vastos campos de Lava- dorinhos, oatra aldeia da freguezia de Oli- val, em cujo termo recebe as aguas do Bio de Lobo e outras que descem dos montes de Seixo Alvo, ou Seixalvo, com as quaes en- grossa e principia a mover moinhos; — atra- vessa a povoação da Costa e alguns chãos da freguezia de Pedroso— e logo entra na frfguezia de Villar, banhando a aldeia das Menesas, que devia pertencer á freguezia d'Avintes, porque está na margem direita, e o Febros é officialinente a linha divisória das duas freguezias na extensão approximada de 2 kilometros, desde a aldeia das Menesas, até á de Moinhos;— depois divide a fregue- zia de Avintes da de Santa Eulália de Oli- veira do Douro até que desagua no rio d'este nome, formando na enseada o Esteiro d'A- vintes. Tem de curso total approximadamente lo kilometros,— fertilisa muitos campos— e dá hoje movimento a 164 rodas de moinhos, pertencentes ás freguezias de Pedroso, Vil- lar e Avintes. Já moveu maior numero, mas a cheia de dezembro de Í860 destruiu al guns— e a da noite de 20 para 21 de outu- bro de 1865,— a maior cheia de que ha me- moria no Fe bros,— levou d'envolta 17 rodas de moinhos e varias pontes, destroçando ao mesmo tempo os campos marginaes e cau- sando prejuisos enormes I É muito pittoresco este rio no esteiro de Avintes, principalmente quando as chuvas do Douro o invadem, formando uma enseada de dois kilometros d'extensão para o interior e ficando em uma espécie de promontório o celebre morro do Crasto (Castro) ramifi- cação dos Montes da Matta, d'esta freguezia, — morro gigante de forma pyramidal, apru- mado sobre o Febros e só accessivel pelo la- do sul. É um castello natural muito defen- sável para o tempo d'armas brancas, e o seu nome e a sua configuração indicam ter sido ponto de refugio e defesa em tempos remo- tos. Dista 1 kilometro da margem esquerda do Douro— e do curuto d'elle se gosa um pa- norama interessantíssimo: Ao sopé o rio e o esteiro, bons campos e algumas casinhas alvas de neve; — á esquer- da a linda cerca dos frades da Conceição, hoje quinta do conselheiro Manuel Maria da Costa Leite ';—á direita a vistosa e rica po- voação d'Avintes; — ao norte o rio Douro, aqui manso e pacifico, sempre sulcado por flotilhas de barcos variadíssimos desde os rabellos de longo curso até os botes, guigas e vapores de recreio; — além Douro as po- voações de Campanhã e Valbom, avultando á esquerda o palácio do Freiro— e á direita a quinta das Sele Capellas, da família Mon- tenegro. A pequena distancia do monte do Crasto se ergue a N. o monte do Carcajido, met- tendo-se de permeio apenas o ribeiro de Baisa, confluente do Febros. Do alto d'elle se gosa um panorama semelhante ao do Crasto, mas muito mais amplo. D'ali se des- cobre o Porto e a egreja da Lapa, ficando as duas torres d'este templo em linha tal que a vista atravessa as 2 sineiras lateraes, como se fossem uma só. Este monte é banhado também pelo Fe- bros e pelas enchentes do Douro, do qual fica mais próximo, e parece um marco er- 1 É capitalista e proprietário, lente da Es- cola Medico- Cirúrgica do Porto e director actual da mesma Escola;— rezids no Largo das Virtudes; — é casado e tem successão, — e em julho do corrente anno de 1886 foi no- meado visconde de OHveira. V. Myragaya, vol. 5.° pag. 262, col. 2.* VIL VIL 1195 guido entre as freguezias d'Avintes, Villar e Oliveira. Vamos fechar este tópico dizendo que os visinhos do Febros não conhecem este rio por tal nome, mas pelo de Madrfa. É trivial dizerem: — Vamos ao peixe á Madri'a, — a Atadri'a está secca, etc. Sirva o exposto de rectificação e addita- rnento ao artigo Feveros, vol. 3.° pag. 180, col. 2." Montes Além dos mencionados avulta n'esta paro- chia o Monte Grande, a O. de Villar e de Oliveira— e a S. e O. de Mafamude. Tem differentes sítios com diffcrtentes^no- mes:— Cravellas, Santo Ocidio, onde está uma capella d'esta invocação.— Sardoal, Te- legrapho, onde esteve um lelegrapho antigo de madeira,— Monte de Laborim—Q Serra de S. Thiago, toda de granito e sobranceira ás freguezias de Villar e Oliveira. Tomou o nome de uma capella do apos- tolo, pertencente á ultima freguezia e que tem festa annual com um clamor ou procis- são que ali vae da freguezia de Oliveira, des- de tempo remotíssimo, em cumprimento d'um voto. Do curuto da dieta serra de S. Thiago se descobre um horisonte vastissimo:— a cida- de do Porto, graode extensão do occeano e da costa, desde Leça até Espinho, e muitas terras do interior até os montes de Santo Thvrso, Vallorjgo, Marão, Penafiel e Arouca. É um dos mais interessantes miradouros de Portugal, mas hoje os pinheiros que o povoam tolhem bastante as vistas. Tem o dicto curuto uma pyramide geodé- sica e um marco, onde podem reunir-se e jogar o voltarete, revestidos com as insí- gnias próprias da sua jurisdicção, os paro- chos de Villar, Mafamude e Oliveira, pois divide os termos d'estas 3 freguezias— e al- guém diz que também ali toca a freguezia de Canellas. Lista dos parochos Desde 1617 (não podemos ir mais longe) foram cofiados n'esta freguezia os parochos seguintes: Jeronymo Ayres, de 1617 a 1622. João Leal Franco, de, 1693 a 1635. Pedro Alvares Pereira, de 1637 a 1665. Antonio Aranha Leão, de 1671 a 1709, — ou durante 28 annos,— e conservou se esta egreja na família dos Aranhas nada menos de 143 annos, como os leitores vão ver,pois este, que era, da casa e quinta da Egreja> freguezia de Santo André de Lever, no con- celho da Feira, renunciou no seu sobrinho: Manuel Moreira Leão, filho de Cosme Ara- nha e de D. Maria das Neves. Foi aqui pa- rodio de 1710 a 1733, e renunciou no seu sobrinho: Antonio Aranha Leão, filho de Cosme Ara- nha e de D. Maria Antónia. Foi parocho desde 1734 até 179i,— ou du- rante 60 annos consecutivos ! . . . Era muito virtuoso 1 e falleceu com opinião de santo, tendo renunciado no seu sobrinho: João Moreira Aranha, filho de Manuel Mo- reira Aranha e de D. Anna Maria da Silva. Parochiou desde 1794 até 1814. Foi um parocho benemérito, pois fez a parte nova da residência e, se a morte o não surprehendesse, acabava por certo o edifício, que ficou em meio e é, mesmo assim, uma boa casa. Conservou se pois esta egreja desde 1671 até 1814— ou durante 143 annos!...— na posse dos Aranhas da casa de Lever,— casa que ainda hoje (1886) pertence á mesma família, muito dignamente representada pelo rev.m0 sr. dr. Bernardo Moreira Aranha Fur- tado de Mendonça, que residia na sua casa de Santa Eulália de Pedorido, concelho de Castello de Paiva, e hoje rezide no novo Se- 1 Falleceu depois de 1794, mas foi sus- penso e coagido a renunciar no sobrinho, por estar muito decrépito e não poder já bem cumprir o múnus parochial. Era muito amigo de creanças; costumava tractal-as nas suas doenças, applicando-lhes certas mezinhas, com o que adquiriu grande fama. Jaz na capella-mór da egreja, na sepultu- ra própria dos parochos, e ainda hoje (1886) ali lhe levam de grande distancia as crean- cinhas doentes; — collocam-nas sobre a se- pultura e fazem orações ao finado, conven- cidos de que dentro de. 8 dias ou a creanci- nha morre— ou se restabelece. 1196 VIL minario episcopal de Nossa Senhora do Ro- j sario, fundado pelo eminentíssimo sr. Gar- i deal D. Américo, bispo do Porto, junto da povoação dos Carvalhos, na freguezia de Pe- | droso,— seminário, oDde o sr. dr. Bernardo Aranha, 2.° sobrinho do rev. Joào Moreira Aranha, é professor e vice-reitor. Mas prosigamos com a lista dos parochos d'esta freguezia: Antonio Pedrosa d'Araujo, de 1815 até 1855, ou 41 annos ! . . . Por causa das perturbações religiosas que se seguiram à implantação^do governo con- stitucional, esteve ausente da sua egreja des- de 1834 até 1843, sendo entretanto aqui pa- rochos encommendados José Caetano da Motta e Domingos Alves Lopes, a vergonha do clero. 1 Antonio Joaquim d'Almeida Raposo, de 1855 a 1856. Era muito iltustrado e fui transferido para a egreja de S. Pelagio de Fornos, bispado de Lamego. José Maria Maia, de 1857 a 1882, ou du- rante 25 annos consecutivos, parocho de bons costumes e muito merecimento, hoje abbade da freguezia de Seixas, concelho de Caminha. Antonio de Sá Teixeira Cardoso tem sido aqui parocho encommendado desde 1882 até hoje (1886). O rev. José Maria Maia nasceu em Refoios do Lima a 4 de fevereiro de 1829;— foi alu- mno interno do seminário de S. Caetano, em Braga, de 1842 a 1851:— depois familiar do sr. D. Antonio Bernardo da Fonseca Moniz, então bispo do Algarve;— recebeu em Lis- boa a ordem de presbylero, conferida, pelo flm.mo patriarcha D. Guilherme, em 1853; — 1 Referimo-nos ao padre Domingos Alves Lopes. Acobertado pela politica, foi o açoute dos seus parochianos. Tinha um viver dis- soluto e fez parte da quadrilha que na noite de 2 de fevereiro de 1839 assaltou e roubou a casa do seu visinbo Manuel Martins das Neves; mas acabou miseravelmente em uma enxerga do hospital da Misericórdia. Talis vila, finis ita l . . . VIL n'esse anDO foi despachado capellão militar de Sagres e parocho da mesma villa; — sendo o sr. D. Antonio B. da Fonseca Moniz trans- ferido para o bispado do Porto em 1854, o rev. Maia pediu a sua demissão e em 1856 recolheu-se ao paço episcopal do Porto;— em 1857 foi provido n'esta egreja de Villar, on- de se houve com zelo e dignidade e leccio- nou gratuitamente instrucção primaria 16 annos consecutivos, até que, por instancias suas, foi nomeado para esta freguezia um professor régio. Encontrando a egreja muito pobre de paramentos, abriu uma subscripção entre os seus parochianos e amigos do Porto e conseguiu dotal-a com um palio decente, um paramento completo para as festividades e outros para uso. Muito lhe deve pois esta parochia, mas, desejando]_approximar-se da sua familia e vagando a abbadia de Seixas, para ella se transferiu, collando-se no dia 27 de junho de 1882. Foi- lhe dada a posse no dia 3 de julho do mesmo anno pelo rev. arcipreste de Ponte de Lima, parocho de Refojos de Lima, terra natal do rev. José Maria Maia, assistindo ao acto mais dois arciprestes e muitos cavalhei- ros. Conta hoje pois o rev. Maia 57 annos de idade— e Irinta e Ires de vida parochial !... A Santa No dia 28 de dezembro de 1869, quando se tractava de remover para uma sppultura da egreja matriz uma grande quantidade d'ossos que obstruíam o vão onde trabalham os pesos do relógio, encontrou-se na dieta sepultura um cadáver de mulher ainda com dentes, cabello, mortalha e vestidos em bom estado de conservação. O facto causou alvoroço e logo affluiu mui- ta gente d'esta freguezia, das circumvisinhas e mesmo do Porto para verem a Santa, pois assim denominavam todos aquelle cadáver- De dia para dia augmentava espantosa- mente a concorrência, pelo que a auetori- i dade mandou sepultar novamente o cadáver; ! consta porem que ainda hoje se mostra a VIL VIL 1197 qusm ali vae e que montam a uma somma importante os donativos em hábitos, dinhei- ro, etc, Ignora-se completamente o nome d'aquella mulher e dos seus paes, mas é certo que ja- zia ali ha muitos annos;— o povo, pela sua simplicidade, continua a denominal-a santa e conta muitos milagres, feitos por interces- são d'ella. Também continua a denominar santo o fallecido vigário Antonio Aranha Leão e lhe attribue igualmente muitos milagres. Viação Atravessa esta freguezia pelo Monte Gran- de e pelas povoações de S. Lourenço e Bal- teiro a nova estrada a macadam, de Santo Ovidio ou do Alto da Bandeira (freguezia de Mafamude) na estrada real do Porto a Coim- bra e Lisboa,— para a freguezia de Lobão. No sitio do Padrão Vermelho aquella es- trada entronca na estrada municipal a ma- cadam, que do mesmo ponto da Bandeira se dirige a Lobão, atravez das freguezias de Mafamude, Oliveira e Avintes— e que da fre- guezia de Oliveira dá um ramal para a ma- triz d'esta parochia de Villar d'Andorinho, também ligada por outro ramal com a estra- da a macadam, primeiramente descripta. Tem pois esta parochia hoje boas estradas que a ligam com as parochias visinhas e com Villa Nova de Gaya, com o Douro e com o Porto. Noticias diversas Entre esta freguezia e as de Avintes e Oli- veira houve em outro tempo certa rivalida- de, trocando nomes feios. Costumavam insultar- se chamando rabões aos de Oliveira,— chinos aos d'Avintes— e pardos aos de Villar. — Quando fallece alguém na povoação da Serpente, d'esta freguezia, e se faz o acompa- nhamento, vae apoz elles uma mulher levan- do á cabeça uma grande regueifa e um pipo ou garrafão com vinho para beberete dos convidados. Em outras povoações e fre- guezias d'este concelho de Gaya e d'outros do bispado do VOLUME SI Porto ha o mesmo costume do beberete, e em algumas, como na de Canellas, ha até casa pró- pria no adro, destinada para o dicto beberete e por isso de- nominada casa das pingas. —O vestuário dos habitantes d'esta fre- guezia é o próprio dos arrabaldes do Porto, caprichando as lavradeiras em se carrega- rem d'ouro e de saias nos dias de festa. Por vezes só uma leva vinte saias e dois a tres contos de réis d'ouro em brincos, broches, auneis, relicários, gargantilhas e cordões ! . . . Também no dia da 2.a leitura dos banhos vae a noiva com os parentes a casa do noivo levando uma grande merenda, a que cha- mam o cesto, e muitos foguetes para queima- rem no fim da merenda. —Todas as casas d'esta freguezia revelam pouca antiguidade, exceptuando uma da al- deia de Baiza, pertencente á família Cunhas. Tem na padieira de uma janella uma in- scripção em caracteres exóticos— e na sala da dieta janella interiormente nichos nas pa- redes, cavados na pedra, e pequenas pias» como as de agua benta 1. . • Visitações Ha n'esta parochia um interessante Livro de Visitas, que principia em 1617 e termina em 1864. Como este artigo vae muito longo» extractaremos apenas o seguinte: —Em 24 d'outubro de 1617 o visitador recommendou, entre outras coisas, a esmola para as freiras de Monchique. V. Miragaya. —Em 13 d'outubro de 1619 o visitador elogiou o vigário pelo seu zt\o, etc— e man- dou que os freguezes concertassem a galilé da egreja. Hoje não tem galilé. —Em 10 de julho de 1623 o visitador, no titulo Obras novas da Madre Abbadeça (do convento de Santa Clara, que recebia os dí- zimos d'esta egreja) mandou que desse uma toalha de lavor de fraudes, bem pendente das ilhargas,— e um balduario (talvez livro de ladainhas). —Em 18 de junho de 1630 o visitador ele- 76 1198 VIL VIL vou a 24$000 réis a côngrua do vigário e mandou que se não celebrasse missa sem dois lumes, etc. —Em 17 d'outubro de 1633 o visitador mandou que o vigário, á estação da missa, indicasse aos seus freguezes os caminhos que necessitavam de concerto. Em outr© tempo os nossos bispos obrigavam o povoa con- certar os caminhos — e muitos d'elles se tornaram beneméri- tos despendendo boas sommas em obras publicas, nomeada- mente D. João de Sousa, arce- bispo de Braga, e D. Manuel de Vasconcellos Pereira, bispo de Lamego. V. Villa Real de Traz-os- Montes, vol. X, pag. 931, col. l.a e segg., n'este diccionario — e Lamego e Alvarenga no supplemento. —Em 3 de junho de 1637 o visitador ou- tra vez mandou que os parochianos concer- tassem os caminhos, cada um nas suas testa- das, etc. —Em 13 d'outubro de 1645 o visitador mandou que os parochianos fizessem um frontal de legahira (tecido de lã) para o al- tar da Senhora do Ó. Suppomos que este altar é hoje o de Nossa Senhora da Conceição. —Em 8 de janeiro de 1647 o visitador pediu que soccorressem com uma esmola o padre Manoel de Deus, pobre e cego, resi- dente no Porto. —Em 21 de setembro de 1648 o visitador lamentou que a egreja não tivesse sacristia e ordenou que a madre abbadessa a man- dasse construir. —Em 26 d'outubro de 1650 o visitador, vendo que a madre abbadessa ainda não ti- j nha mandado fazer a sacristã, multou-a em 4$800 réis, somma importante n'aquelle tempo. —Em 29 de junho de 1652 o visitador mandou que festejassem a Senhora do Óno dia da Conceição, como antigamente se fes- tejava n'esta egreja. —Em 9 d'outubro do mesmo anno o vi- sitador mais uma vez mandou que os fre- guezes concertassem os caminhos, cada um nas suas testadas. —Em 20 de novembro de 1653 o visita- dor mandou que revocassem a egreja pela parte de fóra, tomando-lhe os boracos que penetravam dentro ! . . . —Em 1 de dezembro de 1655 o visitador, constando-lhe haver cahido a capella de S. Lourenço, mandou que a madre abbadessa a fizesse reconstruir sem demora. — Em 11 de novembro de 1659 o visita- dor prohibiu que os caçadores fossem á mis- sa levando as armas e os cães, — sob pena de 550 réis por cada infracção. —Em 25 de março de 1665 o visitador elogiou abertamente o parodio pelo seu ze- lo, etc. — Em 30 de novembro de 1671 o visita- dor mandou que os freguezes concertassem os caminhos, aprumassem as arvores, cor- tassem as silvas e. recolhessem as aguas den- tro de 15 dias, sob pena de pagar 200 réis todo aquelle que assim o não cumprisse. —Em 3 de dezembro de 1675 o visitador mandou que no acto do baptismo se dessem ás creanças nomes de santos canonisados, sob pena de 500 réis, pagos pelo minis- trante. Incumbiu também o parocho de expôr aos seus freguezes— que não era licito jurar fal- so para favorecer alguém. Prohibiu também— sob pena de excommu- nhão maior ipso facto incorrendo — levar vi- nho aos arraiaes para vender, por occasião das festas religiosas;— e sob a mesma pena aggravada com 2$000 réis de multa para a Sé e meirinho, mandou que nos domingos e dias santos se não vendesse também vinho no adro e nas proximidades da egreja. O visitador levava estas e outras instruc- ções que omittimos, firmadas pelo bispo do Porto, D. Fernando Correia de Lacerda. — Em 4 de novembro de 1676 o visitador ordenou, entre outras coisas, o seguinte: «O rev. parocho examine as parteiras da VIL VIL 1199 sua freguezia na fórma que devem baptisar em caso de necessidade. . . «Não permitta que clérigo algum masque tabaco nem o tome de pó ou de fumo, antes de dizer missa. . . «Não consinta que na egreja, Adro ou sa- cristia se converse alto, ou passeie, nem se coma ou beba, pois é logar sagrado.» —Em 28 d'outubro de 1681 o visitador mandou transcrever as longas instrucções que levava firmadas e selladas pelo mesmo bispo D. Fernando, das quaes extractaremos apenas o seguinte: «Fomos informados que alguns barbeiros e cirurgiões continuam a dar sangrias sem conta aos enfermos, sem primeiro se lhes administrar os sacramentos... mandamos sob pena de excommunhão maior ipso facto incurrenda, e de dez cruzados, pagos do al- jube, que nenhum barbeiro ou cirurgião dé mais de duas ou tres sangrias a um enfer- mo, sem o parocho lhe administrar o sagra- do viatico, etc. «Mandamos. .. que nenhuma pessoa, ec- clesiastica ou leiga, seeular ou regular, cante chans e notas ou lettras algumas em língua portugueza, castelhana, negra, ou qualquer outra língua vulgar, nas egrejas, ermidas ou procissões, etc.i Pela sua parte o visitador mandou que os mordomos, para irem temperar a alampada do Santíssimo, fizessem uma chave para a porta travessa da egreja, por estarem as ca- sas da residência distantes àHella. Do exposto se conclue que já então a egreja estava no sitio onde hoje se vê — e que para ali foi transferida antes de 1617, pois em nenhuma das visitas que vamos extractan- do se faz a minima referencia a tal mu- dança. —Em 21 d'agosto de 1686, achando-se em Mafamude o bispo D. João de Sousa, acom- panhado por missionários e confessores, an- dando a visitar pessoalmente a sua diocese, ali chamou o parocho e freguezes de Villar d'Andorinho, e/entre outras coisas, lhes or- j denou o seguinte : Que tivessem a egreja mais limpa e se ab- stivessem dos serões; — que o parocho, tendo de baptisar filhos illegitimos, inquirisse quem lhes davam por paes, (?) para se poder aqui- latar os impedimentos, — e que não consen- tisse que na sua freguezia fosse de novo mo- rar mulher solteira, sem lhe constar que era de bom procedimento;— que não consentisse também na sua parochia danças e folias, — e que a madre abbadessa mandasse fazer na capella-mór um retábulo novo á moderna, porque o actual tem só tres tábuas pintadas indecentemente. —Em 7 de novembro de 1687 disse o vi- sitador: «Não tenho noticia do andamento da obra do retábulo; recommendo ao parocho que indague, e, vendo que se não fez, ponha se- questro em todos os fructos da egreja, etc.» Na visitação seguinte já estava feito o re- tábulo. —Em 5 de dezembro de 1694 o visitador censurou asperamente o parocho por con- sentir os serões nas eiras e nas estradas — e os moleiros por moerem e picarem as pe- dras nos domingos e dias santos ! . . . —Em 11 d'outubro de 1699 o bispo D, Fr. José de Santa Maria, achando-se de visita á diocese na freguezia de Oliveira, chamou ali o parocho e freguezes de Villar d'Ando- rinho e, entre outras coisas, mandou que fosse assistir ao ensinamento da doutrina uma pessoa de cada casa, levando em sua companhia os menores. —Em 20 d'oulubro de 1701 o visitador mandou que os freguezes reparassem a pon- te das Chans;— que o Aleixo de Mattos não mettesse a "agua pela estrada. . . sob pena de 100 réis para o cepo— e que mudassem para dentro da egreja a pia da agua benta, que então estava debaixo da galilé. —Em 3 de novembro de 1705 o visitador- prohibiu que as lavadeiras trabalhassem nos domingos e dias santos, sob pena de 100 r3. pela primeira vez e as mais em dobro para o cepo. —Em 3 de novembro de 1707 o visitador prohibiu que os foliões e comediantes leigos cantassem nas missas solemnes e nosofficios de defuntos. 1200 VIL VIL —Em 27 de novembro de 1713 o visita- dor mandou que se concertasse sem demora o tecto da egreja, por estar todo sobre espe- ques. -Em 14 de setembro de 1752 o visitador vendo que a madre abbadessa não tinha mandado reparar a capella de Sr Lourenço, nem feito outras obras que lhe haviam sido ordenadas, lavrou termo de sequestro nos dízimos, que n'esse anno andavam arrenda- dos por 588^500 réis!.. . As dietas obras foram orçadas em 30$000 réis. —Em 8 de dezembro de 1794 o visitador suspendou o venerando reitor Antonio Ara- nha Leão pela sua decrepitude e tremula ida- de e pelas irreverências que pratica cele- brando até ás duas horas da tarde, ete. Mandou que ampliassem a sacristia, por ser pequena,— e elevou a côngrua do paro- cho de 20 a 80$000 réis, attendendo ao au- gmento da população e ao grande rendi- mento dos dizimos, 970$000 réis n'aquelle anno! —Termina finalmente o mencionado livro com o acto da visita de 29 de setembro de 1864. Nessa data o sr. D. João da França Castro e Moura não só visitou pessoalmente esta egreja, mas n'ella celebrou e chris- mou. Desde 1617— e talvez desde epocha muito anterior— nenhum bispo tinha vizitado, nem depois d'elle visitou até hoje pessoalmente esta egreja. Deus o tenha em bom logar ! . . . Aos meus bons amigos e collegas, os re- verendíssimos srs. Manuel Dias Reis de Cas- tro Portugal e José Maria Maia, agradeço os apontamentos que se dignaram enviar-me. O rev. Maia foi aqui parocho 25 annos e é hoje digno abbade de Seixas, como disse- mos supra;- o sr. Castro Portugal nasceu na povoação de Baisa, d'esta parochia, no dia 30 de março de 1836— e ordenou-se em 1869.— É filho legitimo de José Dias dos Reis e de D. Joanna Martins das Neves— e parente próximo do sr. dr. Antonio Joaquim dos Reis Castro Portugal, que foi administrador mui- tos annos do concelho de Villa Nova de Gaya K VILLAR D'AN6UEIRA, — povoação anti- quíssima em Terras de Miranda, hoje re- presentada pela freguezia de S. Cypriana d: Angueira, concelho de Vimioso, ou pela de S. Martinho d'Angueira, concelho de Mi- randa do Douro. V. Angueira n'este dicciooario--e as Dis- sert. Chronol. e Crit. de J. P. R. vol. 3 0 pag 214. D. Sancho I doou a D. Tello a dieta po- voação de Villar d' Angueira: Ego Sancius, Dei gratia, Portugal. Rex, una cum uxore mea, Regina D. Dulcia, et filiis, et filiabus meis . . . Liv. 2." de Doações do Senhor D. Affon- so III. fl. 15, na Torre do Tombo. A mencionada doação não tem data, mas devia ser feita pelos annos de 1195 a 1198,. porque os bispos confirmantes foram:— D. Martinho, de Braga,— D. Martinho, do Por- to,—D. Pedro, de Lamego,— D. Nicolau de Viseu,— D. Pedro, de Coimbra,— D. Sueiro, de Lisboa,— e D. Pelagio, d'Evora, os quaes figuram todos em outro documento do anno 1200 e só conviveram de 1195 a 1204,— e a rainha D. Dulce falleeeu no anno de 1198. Como rectificação aos artigos citados, no- te-se que a freguezia de S. Cypriano d" An- gueira pertence hoje ao concelho de Vimio- so, comarca de Miranda,— e a de S. Marti- nho d' Angueira pertence ao concelho e á co- marca de Miranda também,— não á do Mo- gadouro. Terminaremos dizendo que em todo o nosso paiz não ha hoje povoação ou fregue- zia alguma com o nome de Villar de An- gueira. VILLAR D"AREIAS— couto extincto. Assim se denominava o couto de Cervães (no extincto concelho do Prado, comarca de Vianna, — hoje concelho e comarca de Villa 1 Poucos dias depois de escrevermos este artigo, falleeeu o sr. padre Manuel Dias Reis na praia de Lavadores, freguezia de Santo André de Canidello, onde era capellão e re- zidia. Lux aeterna luceat eil... VIL VIL 1201 Verde) porque comprehendia a parochia actual de S. Salvador de Cervães e meta- de da de S. Vicente d' Areias, no concelho actual de Barcellos. A outra metade da di- cla. parochia pertencia ao couto de Manhente- V. Cervães, vol. 2.° pag. 255,— Manliente, j vol. 5.° pag. 52, col. 2 a— e Cirnas, freguezia j do Minho, concelho de Barcellos (não do Prado) vol. l.° pag. 238-E — col. 1.» De passagem diremos que uma má estrella pesou sobre o tópico Areias. N'elle, em vir- tude da grave doença que ao tempo affligia o meu benemérito antecessor, ha muitos la- psos de redacção, d'a]phabetação e de pagi- nação—lapsos que em grande parte repara- remos no artigo Villar de Frades, onde ha- vemos de descrever também as freguezias de S. João de Areias de Villar e Santa Ma- ria Magdalena de Villar, concelho de Bar- cellos que, tambsm por lapso, não foram descriptas no logar próprio. Não se confunda Villar d' Areias, o couto «xtincto, com Areias de Villar, — freguezia que havemos de descrever em Villar de Fra- des, a qual representa as duas de S. João Baptista e Santa Maria Magdalena de Areias de Villar e tem hoje por matriz a magestosa egreja do extincto convento dos lóios, sede do grande couto de Villar de Frades. VILLAR BARROCO —freguezia do conee- lho de Oleiros, comarca da Certã, districto de Castello Branco, bispado de Portalegre, província da Beira Baixa. Orago S. Sebastião,— fogos 91,— habitan- tes 370. Curato. Em 1708 contava 39 fogos;— era curato da apresentação do prior de Cambas, — e per- tencia ao termo e concelho da Covilhã, cor- regedoria e diocese da Guarda, provedoria de Vizeu. Em 1768 era curato da mesma apresen- tação e diocese;— rendia 10$0Q0 réis, afóra o pé d'aítar,— e contava 34 fogos. O censo de 1864 deu-lhe 79 fogos e 294 habitantes;— o de 1878 deu-lhe 91 fogos e 371 habitantes— e a Memoria de Oleiros, es- cripta e publicada em 1881 pelo sr. D. João Maria Pereira d'Amaral e Pimentel, bispo d' Angra, deu-lhe 74 fogos. É a freguezia menos populosa e menos importante do concelho de Oleiros. Desde 1882, data da ultima circumscri- pção diocesana, passou com todas as d'este concelho para o bispado de Portalegre. Freguezias limi trophes: —Orvalho, Estrei- to, Sernadas e Almaceda. Comprehende as aldeias ou povoações se - guintes:— Villar Barroco, sede da freguezia» com 25 fogos, segundo se lê na Memoria de Oleiros,— Malhadancha com 14,— Povoa da Bibeira com 6,— Valle da Sellada com 1,— Aziral com 3,— Povoa de Cambas com 7— e Villarinho com 18. Villar Barroco demora na pendente 0. da serra do Muradal e tomou o nome de uma profunda e estreita garganta que lhe fica a sopé, por onde corre a ribeira da Malha- dancha, que desagua na margem esquerda do Zêzere, junto de Cambas,— segundo se lê na Memoria de Oleiros, mas o meu mappa differe ura pouco. Dista da margem esquerda do Zêzere 5 a 6 kilometros;— 14 a 15 de Oleiros, para E. N.E.;— 40 de Villa Velha de Rodam, para N.O.— 70 da estação do Peso 1 na linha fér- rea de Lisboa a Madrid por Caceres;— 100 de Portalegre— e 274 de Lisboa, pela esta- ção do Peso. Alem da sua egreja matriz, templo sin- gello, mas muito antigo, ha n'esta parochia 3 capellas:— Bom Jesus, em Villar, — S. Pe- dro, em Villarinho— e Nossa Senhora da Estrella em Malhadancha. Consta que esta ultima foi fundada pelo rev. Manuel d' Almeida, prior de Cambas, fallecido em 1734. Parece que em tempos remotos as povoa- ções que hoje constituem esta parochia per- tenceram á de Cambas. Foi aqui parocho, e muito digno, o rev. Mathias Dias Leitão, natural d'esta fregue- zia,—desde 1815 até 1833;— seguiu-se-lhe o padre Bafael Antunes até 1842;— depois vol- i i É a estação mais próxima, em quanto se não construe a linha da Beira Baixa. V. Vias Férreas. 1202 VIL VIL veu a paroehial— ao rev. Mathias Dias Leitão, que ainda vivia era 1859; — succedeu-lhe um sobrinho — Antonio Dias Leitão; — a este José Lourenço Rodrigues— e a este o rev. João Gaspar, que era aqui paroeho em 1881. A côngrua d'este curato é de 100*000 rs. comprehendendo o pé d'altar, avaliado em 10*000 réis!... Producções dominantes: — azeite, casta- nhas, vinho e cereaes, mas em pequena quantidade. Esta parochia está hoje civilmente unida á do Estreito. VILLAR DE ESSTEIROS.-freguezia do concelho e comarca de Tondella, districto e diocese de Vizeu, província da Beira Alta. Abbadia. Orago S. João Baptista,— fogos 232,— habitantes 1:016. Em 1708 era abbadia do padroado real, —contava 120 fogos— e rendia 200*000 réis. Fm 1768 era abbadia da mesma apresen- tação— e contava 149 fogos. O censo de 1864 deu-lhe 210 fogos e 969 almas— e o de 1878 deu-lhe 229 fogos e 1:011 habitantes. Tem augmentado pois consideravelmente a sua população. Comprehende as aldeias seguintes:— Car- regueiro, séde da freguezia,— Povoa, Casal de Cima, Casal de Baixo, Aldeia i e Freixe- da, todas já mencionadas na Chor. Portu- gueza, bem como a quinta de S. Vicente, com Uma ermida d'esta invocação, — e outra de Nossa Senhora, na Aldeia. Os apontamentos que recebi da localidade mencionam também a aldeia da Venda— e a Chorographia Moderna menciona ainda a po- voação de Alcouce. Freguezias limitrophes:— Nandufe, Santa Eulália e Mosteiro de Fragoas. Demora na margem esquerda da ribeira da Taboaça (uma das nascentes do Criz, af- fluente do Mondego) da qual dista2kilome- tros,— 10 de Tondella para N.,— 22 de Vizeu para S.O. — 28 da estação de Santa Comba, 1 Parece-nos que esta povoação também se denomina Villar. na linha da Beira Alta,— 114 da Figueira, — 164 do Porto— e 293 de Lisboa. Esta parochia é servida pela estrada real a macadam, n.° 8, de Vizeu á Mealhada por Tondella e Santa Comba Dão— e por duas estradas municipaes, a macadam também, partindo uma (Tellas da dieta estrada real atravez d'esta freguezia, para a feira de Cam- pos, distante uns 6 kilomelros. Os seus templos reduzem-se á egreja ma- triz—e 2 capellas,— uma publica, outra par- ticular. A matriz é um bom templo, espaçoso, ele- gante, muito bem situado, com amplas vis- tas, uma linda torre a meio da fronteria com balaustrada nas sineiras, e um adro bonito murado. A capella particular pertence ao lindo pa- lacete brasonado que a nobre familia Ca- lheiros tem na Aldeia ou na povoação de Villar. Foi de Antonio de Mattos Vasconcel- los Mascarenhas e hoje é dos filhos e her- deiros de Antonio Calheiro Pitta de Noro- nha. Tem uma elegante fronteria com escada exterior dupla, bonito pateo com um chafa- riz, capella, jardins e grande cerca, bons campos, vinhedos, matta, pomares, etc, o que tudo fórma uma das primeiras viven- das d'este concelho. A capella publica, simplesmente indicada pelo meu informador, supponho ser a de Nossa Senhora, mencionada pela Chor. Port- na povoação da Aldeia, — e pelo Sancluario Marianno (vol. 5.° pag. 300) com o titulo de Nossa Senhora do Rosario, na povoação e freguezia de Villar de Besteiros, da qual, em resumo, diz o seguinte: É tão antiga que não se sabe quando nem por quem foi fundada primitivamente e, por ser muito pequena, reformaram-n'a appro- ximadamente em 1680, ficando a medir 40 palmos de comprimento e 25 de largura» com um retábulo novo de talha e de obra salomonica, que toma toda a frente, pois não tem capella-mór com divisão, nem outro al- tar alem do da padroeira. Tinha n'aquelle tempo (1716) duas irman- dades:—uma de mordomos de eleição an- VIL nual, que festejavam á sua custa a Virgem do Rosario no seu dia próprio, a i.a dominga d'outubro, com missa cantada e sermão;— a outra irmandade tinha estatutos approvados e não podia comprehender mais de 150 ir- mãos, que eram obrigados a acompanhar com as suas vestes brancas os irmãos falle- cidos e a resar por elles, no dia do seufal- lecimento, um rosário. Em virtude da lettra do estatuto, cada ir- mão tinha tres offlcios de nove lições, sendo obrigados a assistir a elles todos os irmãos sobreviventes e a resar outro rosário. Também a irmandade era obrigada a fa- zer todos os annos um anniversario pelos irmãos fallecidos— e a festejar a sua padroei- ra com sermão, procissão e missa cantada no dia da SeDhora— e com missa cantada so- mente, nos dias da Conceição, Purificação e Encarnação. Tinha n'aquelle tempo um capellão, que celebrava missa todos os sabbados pelos ir- mãos vivos e defuntos— e nos outros dias da semana e nas sextas feiras da quaresma pe- los irmãos fallecidos. E, em cumprimento d'antigos votos, todos os parochianos eram obrigados a ir em pro- cissão, com o seu parocho e cruz levantada, visitar a dieta capella todos os annos duas vezes: — a i.» na dominga in-albis, — a 2 a no dia da Ascenção do Senhor,— sempre de tarde. O chào d'esta freguezia é mimoso e fér- til—e as suas producções dominantes são: —milho e vinho bom de mesa, que actual- mente exporta em quantidade para França, bem como todo o nosso paiz, exceptuando o Alto-Douro, por se acharem os seus vinhe- dos quasi todos anniquilados pela maldita phylloxera. Só um commissario francez comprou já esfanno de 1886 na Bairrada e na Beira cer- ca de 20:000 pipas de vinho!...1 Também esta freguezia produz centeio, castanhas e fructa de todas as qualidades; —tem muitos pinheiraes e cria bastante ga- do lanígero. VIL 1203 Tem uma aula official de instrucção pri- maria para o sexo masculino— e oito rodas de moinhos na ribeira da Taboaça, que uni- da a outras forma o rio Criz, atfluente do Mondego. VILLAR DE CERVOS— aldeia da fregue- zia de Alvarenga, concelho e comarca de Arouca, districto de Aveiro, bispado de La- mego, na província do Douro. V. Alvarenga n'este diecionario e no sup- pleraento, onde ampliaremos consideravel- mente aquelle artigo, rectificando o que o meu benemérito antecessor disse da celebre ponte, attribuidaao imperador Trajano, mas que foi feita nos fins do ultimo século, como já dissemos nos artigos Villa Jusã, vol. X, pag. 772, col. 2.a— e Villa Real de Traz os Montes, no mesmo vol. pag. 931. VILLAR DE CHAM0IM— ou simplesmente Villar,— freguezia do concelho de Terras de Bouro, comarca de Amares, districto e dio- cese de Braga, na província do Minho. Vigairaria;— orago Santa Marinha;— fogos 80,— habitantes 330. Em 1706 era vigairaria da apresentação do mosteiro benedictino de Rendufe,— con- tava 30 fogos— e rendia 40*000 réis para o vigário— e 80$000 réis para o convento. alfandega de Vianna do Castello durante os últimos tres annos. FRANÇA HESP. ING. SUEC. 1883.. 1881.. 1885.. 3.180:081 58:372 17:319 974 72 90 Nota era litros do vinho exportado pela Os valores correspondentes a esses annos são: 1883. 3:300*200; 1884, 994*500; 1885, 211:986*446 réis. Pela alfandega da Figueira da Foz foram exportados em 1885 e em 1886 (até 31 de maio) as seguintes quantidades de vinho, expressas em hectolitros: BRAZIL FRANÇA 1885 129:055 74:279 1886 75:155 425:103 O valor dos vinhos exportados pela Fi- gueira em 1885 sóbe a 138:867*950; e o dos exportados nos cinco primeiros mezes do cor- rente anno (1886) sobe já a 300:232*680 réis. 1204 VIL VIL Pertencia então ao concelho de Bouro, co- marca de Vianna. Em 1768 contava 66 fogos; — o censo de 1874 deu-lhe 73 fogos e 335 (?) habitantes, — e o de 4878 deu-lhe 79 fogos e 326 habi- tantes. Demora na margem esquerda do rio Ho- mem e dista 2 kilometros daséde do conce- lho (a aldeia de Covas, freguezia de Moi- menta) para E.;— 20 da séde da comarca, para N.;— 22 da séde do dislricto, para N. E.;— 77 do Porto— e 414 de Lisboa. Comprehende 4 aldeias:— Motta, Outeiro, Paço e Travaços. Freguezias limitrophes:— Monte, Moimen- ta, Chamoim, da qual tomou o titulo, — e Gondoriz, alem do rio Homem, que lhe corre ao norte. ProdueçÕes dominantes: — milho, centeio, feijões, batatas, vinho, azeite, castanhas e fructa. Templos: a egreja matriz, em bom estado de conservação, — e 2 capellas publicas: — uma de S. Bento, na aldeia de Travaços,-- outra de Nossa Senhora do Livramento, com irmandade própria, junto da povoação do Outeiro, — ambas bem conservadas. A egreja demora no sopé da serra, deno- minada Alto do Seixo, por onde passava a celebre estrada romana da Geira, uma das 5 que de Braga conduzia a Astorga, atra- vessando o Cavado na ponte do Porto, e se- guindo pelas freguezias de Gaires, Paredes Seceas, Souto, Balança, Chorense e esta de Villar, «onde se acha (diz a Chorogr. Mo- derna) um padrão ou marco milliario abaixo do logar de Travaços.» V. Caires, Campo do Gerez, Portella do Homem, Estradas romanas e Geira. O ultimo vigário collado d'esta freguezia foi o rev. Antonio José Gonçalves, fallecido em 19 d'agosto de 1877. N'esta freguezia costumam os parochos receber o seguinte: De cada baptisado ou casamento, um pão trigo de 40 réis— e de cada óbito, no dia do enterro 4/,433 de milho grosso, 2 palmos de rolo de cera e 20 réis em dinheiro,— e pelos bradados ou resa annual 239l,277 de milho grosso,— 60 litros de vinho— e 1$200 réis em dinheiro. Também o parocho recebe de cada fogo, sendo lavrador rico, de l.a classe, — 17',725 de centeio,— 17', 725 de milho grosso— e 2i litros de vinho; — e de cada fogo, rico ou po- bre, tem de oblata, sendo casado, 17',725 de milho grosso,— e, sendo viuvo ou solteiro, 8 litros da mesma espécie. Foram naturaes d'esta freguezia os padres —José Gonçalves da Silva e Manuel Gon- çalves da Silva, irmãos um do outro, e fal- leceram— o i.° no dia 31 de julho de 1879, ás 5 horas da noite, contando 85 annos de idade,— e o 2.° ás 12 horas da noite do mes- mo dia, contando 88 annos de idade. Viviam na companhia um do outro. Falleceu também,— mas na freguezia de Gaires, concelho de Amares, — em outubro de 1885, o rev. abbade d'aquella freguezia, José dos Santos Moura, a quem devo os apontamentos supra e tantos outros com que honrou as paginas d'este diccionario. Deus o tenha em bom logar I . . . VILLAR DE CHAN,— quinta, casa e torre, solar dos Pintos, senhores de Ferreiros de Tendaes. V. vol. 3.° pag. 178, col. 2.a VILLAR CHÃO, — freguezia do concelho e comarca de Vieira, districto e diocese de Braga na província do Minho. Abbadia. Orago S. Paio;— fogos 78, habi- tantes 341. Em 1706 era da apresentação dos arce- bispos,— rendia para os abbades 90$000 réis, — contava 50 fogos — e pertencia ao mesmo concelho de Vieira, mas á comarca de Gui- marães. Em 1768 era da mesma apresentação; — rendia 260$000 réis— e contava 63 fogos. O censo de 1864 deu-lhe 72 fogos e 366 habitantes — e o de 78 a população indicada, supra. Demora esta freguezia na margem direita do Ave, do qual dista 1 kilometro para N.O., — 8 da séde do concelho para S.E.,— 43 de Braga,— 98 do Porto (por Braga)— e 435 de Lisboa. Freguezias limitrophes: — Pinheiro a N.» — Anjos a S.— e Mosteiro a O. VIL VIL 1205 Os apontamentos que se dignou enviar-rae o digno administrador d'este concelho dizem que esta parochia é formada pela aldeia de Villar Chão somente, mas a Chorogr. Mod. dá-lhe as aldeias seguintes:— Villar Chão, a séde da matriz,— Abelheira, Balteiro, Perei- ra, Carreira, Amiã, Lage e Portella ! . . . Não tem estrada algurSa^a maeadam e dista 8 kilometros da mais próxima, a mu- nicipal, que atravessa este concelho e liga a estrada real n.° 28 (de Braga a Chaves) com a districtal n.° 6, de Amares a Refoios. Emquanto a templo?, tem apenas aegreja matriz, bastante singella, mas bem conser- vada. Nunca foi villa, nem tem cemitério, nem festa alguma em dia determinado. Banham esta freguezia:— a ribeira da Abe- lheira, também denominada rio da Pertega, que tem uma ponte d'este nome e desagua no Ave, — e os ribeiros de Canas, Muros e Portosinhos, que desaguam na Abelheira, dentro d'esta parochia. A dieta ribeira move 2 lagares d'azeite e 12 moinhos de cereaes. ProducçÕes dominantes: — milho, vinho, azeite e lã, pois cria bastante gado lanígero. Também abunda em hervagens de semen- te e cria muito gado bovino, que engorda e exportou em grande quantidade, antes de decahir esta industria, que foi muito impor- tante n'esta freguezia e a sua principal fonte de riquesa. V. Villar d'Andorinho. Os habitantes d'esta parochia são hoje bons visinhos, muito laboriosos e muito pa- cíficos, mas em tempos que não vão longe foram minto desordeiros. Costumavam concorrer em grande nume- ro ás festas, feiras e romarias, sempre arma- dos de varapaus, — insultavam e provocavam os povos visinhos — e quasi nunca terminava a festa ou feira sem distribuírem grossa pan- cadaria 1 . . . Esta parochia está na vertente oecidental da serra da Cabreira, onde apascentam mui- to gado cabrum e lanígero e fazem muito carvão que levam para Braga. Tem uma eschola official d'instrucção pri maria para o sexo masculino. Ha nos limites d'esta parochia tres gran- des penedos, denominados Peneios da Pinga, porque um d'elles assenta sobre os outros dois, formando uma espécie de ponte com 3 metros de abertura e 4 d'altura— e está sempre, mesmo na estiagem, vertendo ou pingando agua do tecto ou do penedo supe- rior sobre o dicto vão,— agua que é tida por milagrosa e por isso alguns habitantes d'esta freguezia se banham nella, em um pequeno tanque, que está no dicto vão. Diz a lenda — que S. José, passando por ali, batera com o seu cajado no penedo e que desde então o penedo ficara sempre pingan- do; mas quem não acreditar não pecca. VILLAR CHÃO —freguezia do concelho d'Alfandega da Fé, comarca de Moncorvo, districto e diocese de Bragança, província de Traz os Montes. Beitoria. Orago.— Nossa Senhora da Assumpção, —fogos 134 —habitantes 543. Em 1706 era da apresentação do abbade da villa d'Alfandega da Fé,— tinha 2 ermi- das e 4 fontes, — colhia muito azeite,— con- tava 82 fogos, — pertencia ao extincto con- celho de Castro Vicente, comarca de Mon- corvo— e ao arcebispado de Braga. Em 1768 era da mesma apresentação,— rendia para o seu cura 811000 réis, alem do pé d'altar,— e contava 80 fogos. O censo de 1864 deu-lhe 122 fogos e 537 habitantes— e o de 1878 deu-lhe 132 fogos e 523 habitantes. Até 1882, data da ultima circumseripção diocesana, pertenceu ao arcebispado de Bra- ga, bem como todas as outras freguezias d'este concelho e as dos concelhos de Villa Flor, Carrazeda d'Anciães, etc. V. Villa Real de Traz-os-Montes, vol. 10.» pag. 927, col. 2.» A aldeia de Villar Chão, séde d'esta paro- chia e da sua egreja matriz, demora na mar- gem direita de um regato, affluente do Sa- bor, do qual dista 3 kilometros para O.;— 11 de Alfandega da Fé;— 35 de Moncorvo, para N.E.;— 41 da estação do Pocinho (a mais 1206 VIL VIL próxima) na linha férrea do Douro, prestes a abrir-se á circulação de Tua até á Barca d'Alva e Salamanca (V. Vias Férreas) — 20o do Porio pela estação do Pocinho — e 542 de Lisboa. Producções dominantes: — vinho, azeite e cereaes. Em 1840 pertencia esta paroehia ao con- celho de Chacim, extincto pelo decreto de 31 de dezembro de 1853, pelo qual passou para o de Alfandega da Fé. As suas freguezias limitrophes são: — Cas- tro Vicente, Alfandega da Fé e Sendim da Ribeira, na margem direita do Sabor, — e Pa- radella na margem esquerda d'este rio. N'esta freguezia nem rieste concelho não ha nem toca estrada alguma a macadam ! A mais próxima é a de Mirandella a Mon- corvo, por Villa Flor. Nasceu n'esta freguezia o marechal de campo e fidalgo distinctissimo, Manuel An- tonio Ferreira de Aragão, morgado e senhor da casa de seus paes. Casou com D. Petronilha Laura Pereira de Magalhães, descendente do celebre nave- gador portuguez Fernando ou Fernão de Magalhães que, na opinião mais seguida, era natural da casa da Pereira, da villa e conce- lho de Sabrosa, districto de Villa Real. Foram paes da dieta senhora Antonio Luiz Alvares Pereira Coelho da Silva Cas- tello Branco Magalhães e D. Petronilha Lo- pes d'Aboim e Cunha de Sande Soares Car- reto, filha de D. Eugénio José Lopes d'Aboim e Cunha, e sobrinha do celebre Godói, o príncipe da paz. Do casamento do mareehal de campo Ara- gão com D. Petronilha Laura nasceu o dr Alexandre Manuel Alvares Pereira d'Aragão, F. C. R. cavalleiro da ordem de Nossa Se- nhora da Conceição de Villa Viçosa e repre- sentante da casa de Fernão de Magalhães. Casou em Villa Flor de Traz-os-Montes com a sr.» D. Felicidade Amélia Pinto de Le- mos, sobrinha do general visconde de Le- mos, da qual teve successão. Para evitarmos repetições, veja-se Villa Flor de Traz-os-Montes— e Sabrosa, vol. 8.° pag. 275, col. 2.» e seguintes. VILLAR DE CORREIXE,— freguezia an- tiquíssima, que nos princípios da nossa mo- narchia pertenceu ao celebre convento da Vaccariça, bem como as de Ventosa, Cepins, Monçarros, Barro, Tamengos, Horta, Sanga- lhos, etc. Não sabemos qual a freguezia que hoje representa a de Villar de Correixe, pois não temos alguma ctm este nome. Apenas en- contramos no actual concelho de Penafiel a de Irivo e Coreixas. Vejam-se estas palavras e Vaccariça. VILLAR DE CUNHAS,— freguezia do con- celho e comarca de Cabeceiras de Basto, districto e diocese de Braga, na província do Minho. Vigairaria. Orago S. Lourenço; — fogos 92 —almas 420. Em 1706 era da apresentação do vigário de S. João de Cavez; — pertencia ao concelho de Cabeceiras de Basto, comarca de Guima- rães e contava 32 fogos. O Port. S. e Prof. nem sequer a mencio- nou! O censo de 1864 deu-lhe 82 fogos e 454 habitantes, no que não ha porporção accei- tavel,— e o de 1878 deu-lhe 88 fogos e 477 habitantes, — população muito exagerada também. Comprehende as 3 aldeias seguintes: — Villar, Cunhas e Huz. Freguezias limitrophes:— Samão, Cavez e Rio Douro. Producções dominantes: — muito milho, centeio, feijões, azeite, vinho, fructas e lã> pois cria muito gado lanígero, cabrum, vac- cum, bovino e suino. Banham esta] freguezia o ribeiro do Frei- xo, que tem 2 pontões, e o de Salgueiro, que tem outros 2 pontões, — sendo ambos estes ribeiros confluentes do rio Verea, ou Bersa> que banha também parte d'esta freguezia e morre no Tâmega. A A povoação de Villar, séde d'esta fregue- zia, dista cerca de 3 kilometros da margem direita do Bersa, para O.; — 4 da margem di- reita do Tâmega, ou da foz do Bersa, para N.;— 18 da séde do concelho (S. Miguel de Refoios) para E.N.E.;— 40 de Guimarães;— VIL VIL 1207 70 de Braga;— 96 do Porto, pela linha férrea de Guimarães á Trofa,— e 433 de Lisboa. O chão d'esta freguezia é muito acciden- tado e não tem estrada alguma a macadam. O seu clima na parte alta é frio e áspero, pois defronta com as serras de Barroso, que lhe ficam ao norte; mas na parte baixa, ou nas margens do rio Verça é muito tempe- rado, pelo que as terras da parte da baixa são mimosas e produzem inclusivamente la- ranjas, emquanto que as da parte alta ape- nas produzem centeio, batatas e algum mi- lho. Esta paroehia tem ar puro, boas aguas e é bastante saudável, mas em 1850 pezou cruelmente sobre ella uma epidemia de ty- phos, que matou muitas pessoas, pelo que ainda hoje ali o anno de 1850 é denominado o anno da maligna ! . . . Aproveitando o ensejo, diremos que a maior parte das nossas chorographias dão errada- mente ao mencionado rio Verga, ou Versa o nome de Beça ou Bessa. Assim o denomina- ram a Chorographia Moderna e o meu ante- cessor. V. Beça. Este rio nasce junto de Montalegre;— cor- ta a serra de Barroso de N. a S.— e desagua no Tâmega com 30 a 40 kilometros de eur- so, em grande parte por entre medonhas gargantas de eriçada penedia, e recebe como tributários muitos ribeiros, que na estação invernosa o tornam caudaloso, principal- mente por occasião do desgêlo ou quando se derrete a neve que costuma cobrir as mon- tanhas que atravessa. Este rio corre a espaços por fojos subter- râneos e cria trutas saborosíssimas de gran- de tamanho, principalmente nos taes fojos subterrâneos, — algumas de 2 kilos de peso e de 3 palmos de comprimento. Parecem pes- cadas e costumam caçal-as da maneira se- guinte: Vão de noute;— levam um facho ac- ceso;— collocam-no á porta dos taes fôjos ou cavernas; as trutas correm em direcção á luz — e os pescadores caçam-nas com redes. Assim caçam muitas no termo d'esta pa- rochia. Aqui não ha fidalgos. Todos os habitantes d'esta freguezia são lavradores e pastores, geralmente pobres. A egreja parochial é um templo singello, com altar-mór e 4 lateraes. Ha também n'esta freguezia 2 capellas pu- blicas, ambas bem conservadas:— uma na aldeia de Huz,— outra na de Cunhas, ha pouco reconstruída. O meu informador não disse qual a invo- cação d'ellas. Ha também n'esta freguezia uma escola official de instrucção primaria para o sexo masculino na aldeia de Villar, — um moinho de azeitona em Cunhas,— muitos moinhos de cereaes — e muitos teares em que tecem grande quantidade de estopa e linho. Como esta freguezia é montanhosa, conti- gua á serra de Barroso e abundante de neve e de rebanhos, abundam também n'ella ain- da os lobos, no inverno e mesmo no verão. Em uma correspondência de Ribeira de Pena para o Commercio do Porto, datada de 22 de julho de 1885, se lia o seguinte: «Em alguns sitios, e mesmo em varias po- voações mais montanhosas do conctrlho de Cabeceiras de Basto, téem apparecido for- mosas manadas de lobos, que, com o maior descaramento d'este mundo, passeiam livre- mente, mesmo de dia, junto ás casas de qual- quer cidadão! Ha dias na povoação de Uz» freguezia de S. Lourenço de Villar, dois des- ses animalejos dos bosques appareceram próximo ás casas, entretendo-se a dar caça ás gallinhas* dentro dos eirados I Não tinham medo nem vergonha! A3 mulheres d'aquella terra viram se na dura necessidade de cor- rer á pedrada os taes hospedes que, por pouco mais, entrariam pelas casas dentro, se de quando em quando não fossem escorra- çados por algum fumo da pólvora. Ainda nos fins do mez passado, junto ao rio Mestras, que é um confluente do Tâme- ga, appareceu uma bonita ninhada de pe- quenos lobos, sendo agarrados todos elle3 por dois sujeitos da freguezia de Gondiães. Foi uma excellente caçada.» VILLAR DE FERREIROS,— freguezia do concelho de Mondim de Basto, comarca de Celorico de Basto, districto de Villa Real 1208 VJL VIL diocese de Braga, província de Traz-os-Mon- tes. Abbadia. OragoS. Pedro;— fogos 260,— ha- bitantes 998. Em 1706 era abbadia da apresentação do marquez de Marialva, segundo se iê na Cho- rographia Port. Nada mais diz d'esta paro- chia 1 Pertencia então ao concelho de Mon- dim e á grande comarca de Guimarães. Em 1768 era da mesma apresentação; — rendia 600$000 réis-e contava 188 foges. O censo de 1864 deu-lhe 242 fogos e 938 habitantes,— e o de 1878 deu-lhe 237 fogos e 932 habitantes. Demora esta freguezia cerca de 5kilome- tros a leste da villa de Mondim de Basto;— 6 da margem esquerda do Tâmega, também para E.;— 30 de Guimarães,— e 423 de Lis- boa. Comprehende esta parochia as aldeias se- guintes:— Villar de Ferreiros, a séde,— Vil- larinho, Covas, Pedreira, Cainha, Campos e Villa Chã. Freguezias limitrophes: Mondim de Basto, Bilbó, Ermello, Paradança, Athey, Limões e Cerva. Producções dominantes:— cereaes, vinho, batatas, lã e manteiga, pois cria bastante gado lanígero e muitas vaecas, que produ- zem muito leite, com que fabricam mantei- ga, industria importante na localidade. Também colhe bastante azeite. Esta parochia, se altendermos ao seu ti- tulo, parece que abundou em ferreiros, ou que teve próxima alguma- povoação d'este nome, mas hoje em todo este concelho não ha freguezia nem povoação alguma denomi- nada Ferreiros— -nem memoria de abunda- rem ferreiros por aqui, mas abundaram com certesaem tempos muito remotos, como pro- va o muito escumalho que ainda hoje se en- contra em volta da povoação de Villar. Em 1795 todo este concelho apenas tinha 4 ferreiros *— emquanto que o de Villa Pou- 1 Descripção da Provinda de Traz-os- Montes pelo dr. Columbano Pinto Ribeiro de Castro, juiz demarcante. Bibi Port. Códice \ n.° 486. ca d'Aguiar tinha 32— e o de Villa Rea1 71!... N'aquella data este concelho do Mondim (com a freguezia de Athey) comprehendia: —944 fogos e 3:419 almas;— 41 padres,— 6 negociantes (todos em Athey)— 2 cirurgiões, —6 barbeiros,— 2 boticários,— 283 lavrado- res (proprietários)— 215 jornaleiros,— 42 al- faiates,—8 sapateiros,— 17 carpinteiros,— 5 pedreiros,— 2 ferradores,— 50 fabricantes de courama,—Q almocreves,— 84 criados e 90 criadas. Pastores e moleiros— nem um!. . . Esta freguezia também já pertenceu á co- marca de„Villa Pouca d'Aguiar. Templos:— a egreja matriz, bem tractada e pintada de novo,— e as 5 capellas seguin- tes: l.a— Santo Antonio, na aldeia de Villari- nho. %.*■ — Santo Antonio também, na aldeia de Villa Chã. 3. a — S. João Baptista, na aldeia de Covas. 4. a— S. Sebastião, em Villar, junto da ma- triz. 5. ° — Capella e sanctuario de Nossa Senho- ra da Graça, no alto do monte Farinha, do qual adeante fallaremos. É um lindo templo, todo de cantaria de granito, muito solido e muito bem conser- vado, posto que muito antigo. Foi reedifica- do em 1875 e tem pára-raios, como o de Nossa Senhora da Assumpção de Villas Boas, junto de Villa Flor, para o defender do con- tinuo estrago que recebia dos raios pela sua elevadíssima posição. Tem um adro espaçoso com 2 grandes muros de supporte; — casa contigua para re- sidência do ermitão e acolhimento dos ro- meiros;— outra casa espaçosa, concluída em 1884, — e a O.mma pequena capella, termi- nada ainda no corrente anno de 1886, re- presentando o mysterio da Annunciação com as imagens da Virgem, do Anjo e do Padre Eterno. É um dos primeiros santuários de Traz- os-Montes e muito concorrido todo o anno, principalmente nas duas grandes romarias da Ascenção e S. Thiago. Aqui affluem mui- VIL tos devotos das povoações cir*cumvisinhas até grande distancia, já para cumprirem promessa?, já para gosarem o vastíssimo ho- risonte e o esplendido panorama que offe- rece este santuário, topetando com as nuvens no curuto do monte Farinha, assim deno- minado pela sua forma cónica, semelhando um monte de farinha. Para se formar ideia da sua exposição e altitude, note-se que se avista da estrada velha de Vallongo e da freguezia de Grijó, concelho de Villa Nova de Gaya ! . . . A administração d'este santuário até 176i pertencia alternadamente — um anno ao ab- bade de Villar de Ferreiros, — outro anno ao vigário d'Athey; mas n'aquella data passou a ser administrado por uma commissão pró- pria., por carta do arcebispo de Braga, eem commissões se conserva ainda hoje. Montes Avultam no termo d'esta parochia os mon- tes seguintes: 1. °— Toumillo, ao sul, coberto de medro- nheiros e pinheiros— e também produz ce- reaes. Welle abundam lobos e se encontram ain- da javalis. Separa esta parochia da de Erméllo;— é banhado pelos rios Ollo e Cabril;— tem uma grande depressão em frente da aldeia de Covas, mas depois eleva-se bastante até o Alto da Tonluça. Na pendente sobre o rio Ollo tem. uma for- midável cordilheira de penhascos na exten- são de mais de SOO metros, sendo os dictos morros perpendiculares sobre o rio e tão altos que, lançando-se uma pedra do cume, gasta na descida até á base mais tempo do que o preciso para se resar um Padre Nosso !.. . Esta cordilheira forma no rio Ollo uma catarata medonha de inverno. 2. °— Monte Farinha, a N. de Villar dé Fer- reiros e coroado pela capella de Nossa Se- nhora da Graça. 3. °— Montes Palhaços, a N. E. São notáveis estes montes, porque n'elles se vêem largos cordões de pedra em mon- VIL 1209 tão, ruínas de muros antiquíssimos, que a tradição local diz serem obras dos mouros; — e também dá o nome de Mina dos Mou- ros a uma gruta ou pequena galeria subter- rânea que ali se vê, na qual o povo julga existirem grandes thesouros, guardados por uma moura encantada lindíssima. A estes montes se seguem outros, que di- videm esta parochia das de Cerva e Limões, até se juntarem ao Toumillo, que se estende para os lados de Villa Pouca d'Aguiar. Esta parochia ainda não tem cemitério; mas tem uma aula ofíicial de instrucção pri- maria elementar mixta, para os dois sexos. Banham esta parochia os rios seguintes: 1. °— Rio da Ribeira Velha. Tem uma ponte em Villar e outra em Villarinho. 2. °— Rio Cabrão. Tem uma ponte junto da aldeia de Villa Chã e outra em Covas. 3. °— Rio das Mestras. Tem uma ponte entre Villar e Villar Chã. Todos 3 regam a maior parte dos campos d'esta freguezia; —movem moinhos de ce- reaes e d'azeite; — juntam-se no termo d'esta freguezia e formam o rio Cabril, que rega muitos campos, move muitos moinhos e en- genhos de massar linho — e a distancia de 5 kilometros desagúa no Tâmega, na fregue- zia de Mondim de Basto, que na sua maior parte é regada pela agua que vae d'esta de Villar de Ferreiros em um açude que tem mais de 1 metro de largo e 7 a 8 kilome- tros de comprimento, tocando na povoação de Mondim, onde move 13 rodas de moi- nhos. Ao meu illustrado collega, o rev. Joaquim Maria Bodrigues de Moraes, digno parocho d'e3ta freguezia na actualidade, agradeço os apontamentos que me enviou. VILLAR DE FIGOS,— ou S. Paio de Prin- cipaes de Villar de Figos, — freguezia do con- celho e comarca de Barcellos, districto e dio- cese de Braga, na província do Minho. Vigairaria. Orago S. Paio;— fogos 104,— habitamtes 450. 1210 VIL VIL Em 1706 era vigairaria da apresentação da eollegiada de Barcellos, — pertencia ao termo da villa e concelho de Esposende, co- marca e ouvidoria de Barcellos, provedoria de Vianna, — rendia para o vigário 40$000 réis e para a eollegiada 150$000 réis — e con- tava 70 fogos. Em 1768 era da mesma apresentação; — rendia para o vigário 601000 réis — e con- tava 73 fogos. O censo de 1864 deu-lhe 108 fogos e 413 habitantes, — e o de 1878 deu-lhe 101 fogos e 432 habitantes. Esta freguezia demora na margem esquer- da do Cavado, do qual dista 6 kilometros, — 5 da estação de Laandos na linha férrea do Porto á Povoa de Varzim e Villa Nova de Famalicão, — 8 de Barcellos, — 9 da estação de Barcellos na linha férrea do Minho, — 41 do Porto pela estação de Laundos, e linha férrea da Povoa, — e 378 de Lisboa. Comprehende as aldeias seguintes: Villar de Figos, Aldeia, Outeiro de Cima, Outeiro de Baixo, Hospital de Cima, Hospital de Bai- xo, Egreja, Egreja Velha, Bibeiro, Fonte dos Santos, Outeiro da Egreja, a montante da matriz, e Valle. A maior de todas é a denominada Aldeia, a jusante da matriz. Tendo duas povoações com o nome de Hospital, não tem nem teve nunca hospital algum. Freguezias limitrophes: — Courel e Para- della ao sul, — Milhases ao norte, — Pedra Fu- rada ao nascente, — e Faria ao poente. Produeções dominantes: — cereaes e vinho verde ou de enforcado, mas que teve sem- pre venda fácil, e hoje se exporta em gran- de quantidade para a França. V. Villar de Besteiros e Villa Verde, séde de concelho e de comarca. Também cria bastante gado lanígero e en- gordou muitos bois que exportava por bom preço para a Inglaterra, antes de decahir entre nós aquella industria. V. Villar $ Andorinho. Actualmente não tem estrada alguma a macadam; deve porém passar a pequena distancia d'esta freguezia a estrada munici- pal em construefão de Barcellos para Bates, por Santa Eulália. Também passa a pequena distancia a es^ trada a macadam de Barcellos á Povoa de Varzim. Banham esta parochia dois regatos:— o do Porto e o dos Lameiros, que desaguam no Cavado. Não tem quintas nem edifícios que mere- çam especial menção, posto que ha n'esta freguezia muitos brazileiros1 e lavradores ri- cos, entre os quaes hoje avulta Manuel da Silva de Figueiredo. > Tem uma eschola offlcial de instrucção primaria para o sexo masculino. Lendas Dizem que esta freguezia tomou o nome de Principaes de Villar de Figos, porque os seus habitantes se immortalisaram tomando o Castello da Franqueira aos mouros,— Cas- tello que estava muito próximo, a 1 kilome- tro do distancia para N.E., no monte da Franqueira, mas já no termo da freguezia de Vilhases ou Vilhares (veja se esta ultima palavra) junto do sitio onde hoje se vê a er- mida de Nossa Senhora da Franqueira, que tem festa e romagem no 3 ° domingo d'agos- to e pertence á freguezia de Pereira, por es- tar no termo d'tlla, como provam os mar- cos que se vêem no dicto monte e que divi- dem os terrenos d'aquellas duas freguezias. A tradição local ainda hoje explica a tal façanha do modo seguinte : Tendo os christãos sitiado o castello e de- fendendo-se elle obstinadamente, os habi- tantes d'esta parochia juntaram certa noite um grandejebanho de cabras,— prenderam- lhes nas pontas vellas accesas e, tomando o caminho de Barcellos, marcharam com gran- de alarido sobro o castello,— o que animou os sitiantes e determinou os sitiados a ren- derem-se, imaginando que de Barcellos ha- viam chegado ao acampamento dos christãos grandes reforços. 1 Portugueze3 que foram negociantes no Brazil. VIL VIL 1211 Aos habitantes (Testa parochia, pela sua astúcia, se deveu principalmente a expulsão dos mouros. Foram elles os principaes con- quistadores do castello e por isso se deno- minaram e ainda hoje se denominam Prin- cipaes de Villar de Figos. Um d'elles me contou muito a sério a len- da, como fica exposta. Pedro Gomes Simões Entre os filhos principaes d'esta parochia merece especial menção Pedro Gomes Si- mões. Nasceu no anno de 1700; foi negociante no Brazil, onde adquiriu boa fortuna— e vi- veu os últimos annos no Porto, na freguezia de Miragaya, onde falleceu em 1780, solteiro e contando precisamente 80 annos de idade. Era uma excellente pessoa, muito esmo- ler e muito religioso. Foi o primeiro bemfeitor da egreja de Miragaya, sua pátria adoptiva. Não só a beneficiou com muitas esmolas durante a sua longa, residência, mas n'ella instituiu Laus Perenne semanal em todas as quintas feiras, legando á Confraria do San- tíssimo seis contos de réis para aquelle fim, por escriptura de 4 de setembro de 1776 — declarando que, se houvessem sobras da dieta verba, as fossem unindo ao capital até prefazer dozoito mil crusados de fundo para o Laus Perenne e que d'ahi em deante pode- riam empregar livremente nas obras da egreja ou nas despesas do cullo o que so- brasse do Laus Perenne, — e instituiu a men- cionada confraria por sua testamenteira. A confraria acceitou os legados e os en- cargos e (honra lhes seja!) tem cumprido até hoje com louvor. Ha muito que o capital prefez os desoito mil crusados e com as sobras e outras ren- das tomou generosamente sobre si a fabrica da egreja, que estava a cargo da mitra. E não só tem aformoseado o templo, que é hoje sem contestação um dos mais limpos, mais aceiados e mais bera alfaiados do Porto (V. Miragaya) —mas faz differentes festas an- nualmente com grande pompa— e em 1884 montou á sua custa uma aula de instrucção primaria para o sexo feminino,— aula mo- delo e gratuita, hoje (1886) frequentada por 80 meninas pobres. Graças a tão benemérito bemfeitor, é hoje a confraria de Miragaya uma das mais ricas do Porto. Entre outras muitas alfaias de preço, tem um paleo de lhama de prata bordado a ou- ro, que é um dos melhores do nosso paiz. Com as 8 varas de prata que o sustem e com as 8 lanternas, também de prata, que o acom- panham, custou cerca de tres contos de réis ! O benemérito Simões recommendou que fosse feito o Laus Perenne com toda a de- cência—e a confraria assim o cumpre. Basta dizer-se que os paramentos do celebrante são de lhama de ouro. 1 A confraria, por gratidão, mandou tirar o retrato do seu generoso bemfeitor e collocal-o na sua luxuosa sala de sessões. É uma linda tela de 2m,52 de comprimento e im,54 de largura, com o caixilho. Representa-o em corpo inteiro e tamanho natural, vestido de calção, meia preta, sapa- tos de fivella, espadim, casaco comprido, gravata e punhos brancos, bengala de canna da índia na mão direita, com guarnições de prata. A mão esquerda aponta para um al- tar, onde se vê exposto o Santíssimo:— á sua direita está sobre uma mesa, poisado sobre um papel com fechos de lacre, representan- do o. seu testamento, um chapéu tricórnio, cheio de moedas d'ouro,— e em plano infe- rior se vê no lado opposto um escudete, cin- gido por 2 palmas, com a inscripção se- guinte: Pedro Gomes Simões, na- tural de S. Pato de Princi- paes de Vilar de Figos, ter- mo de Barcellos, Arcebispa- do de Braga, instituidor do Sagrado Lausperenne nesta freguezia ee S. Pedro i 1 E o celebrante, desde 1864, é o humilde auctor d'estas linhas, como abbade da res- i peetiva egreja. ! V. Miragaya, vol. 5.° pag. 250, col. i.» 1212 VIL VIL de Miragaya. Faleceo de idade de 80 annos aos 18 DE 9br.° DE 1780, DEIXANDO A IRMANDADE POR TESTAMENTEIRA. 1 Deus o tenha em bom logar ! Também foi um grande bemfeitor da sua freguezia. Vendo que a egreja parochial era humil- de e muito pequena — uma simples capella de Nossa Senhora do Rosario, que estava na povoação denominada Egreja Velha,— man- dou fazer á sua custa a matriz actual, queé um templo espaçoso, muito decente,— e a sortiu de paramentos e pratas,— ihuribulo, naveta, cálices e uma custodia lindíssima dourada. Também mandou fazer a torre e um bello sino, que tinha excellentes vozes. Foi fun- dido em Braga e diz a tradição que elle, quando fundiam o sino, deitava na caldeira barretinas cheias d'ouro. Beneficiou também as egrejas, suas visi- nhas, e mandou fazer a torre da capella de Nossa Senhora da Franqueira e o sino maior, no qual se vê ainda hoje uma inscripção que diz ter sido mandado fazer em Braga por Pe- dro Gomes Simões. Deixou sobrinhos, que foram os herdei- ros do remanescente da sua fortuna. Ainda ha poucos annos falleceu n'esta freguezia a viuva de um d'elles. Também foi filho benemérito d'esta paro- chia o dr. Paulo da Cruz. Beneficiou a ma- triz dando-lhe sinos e differentes alfaias. As festas principaes que hoje aqui se ce- lebram são a do Santíssimo Sacramento e a de Nossa Senhora do Rosario, no ultimo do- mingo d'abril. Cerca de 1 kilometro ao poente d'esta pa- rochia estava o castello de Faria, de que já se fallou. V. Faria. 1 A inscripção termina com as lettras J. G. F.,— estando as duas primeiras em mo- nogramma. Querem dizer: Joannes Glama fecit,—ou João Glama fez. É este retrato uma das melhores telas de Glama. VILLAR DE FONTE ARCADA— freguezia do concelho e comarca de Moimenta da Bei- ra, bispado de Lamego, districto de Vizeu, província da Beira Alta. Vigairaria: Orago S. Bartholomeu; — fogos 140, habitantes 592. Em 1708 era um simples curato annual da apresentação do reitor de Fontearcada, villa próxima, a cujo termo e concelho per- tencia na comarca (corregedoria) de Pinhel, provedoria de Lamego,— e contava 120 fo- gos. Em 1768 era da mesma apresentação— e contava 116 fogos, segundo se lê no Port. S. e Profano. O censo de 1864 deu-lhe 123 fogos e 483 habitantes,— e o de 1878 deu-lhe 131 fogos e 477 habitantes, — ou mais fogos e menos habitantes do que lhe deu o ceDso de 1864. Nenhum d'elles me satisfaz, porque 123 fogos deviam dar, pelo menos, 500 habitan- tes;—e os 131 fogos deviam dar, pelo menos, 550 habitantes. Estão infelizmente assim as estatísticas of- ficiaes da nossa população I . . . Demora esta freguezia na margem esquer- da do Távora, do qual a egreja matriz dista 2 kilumetros para O.,— 4 da villa de Fonte- arcada para N.O.;— 7 de Moimenta para E.; — 20 da estação do Ferrão (a mais próxi- ma) na linha férrea do Douro;— 35 de La- mego;—45 de Vizeu;— 140 do Porto— e 477 de Lisboa. Além da povoação de Villar, séde da pa- rochia, não comprehende outras aldeias, mas somente alguns fogos isolados Da quinta de S. Vicente e nos moinhos de.Penella, Pinhei- ras, Lapa, Lage da Cadeira e Cú do Inferno (o nome é lindíssimo) na margem esquerda do Távora. Freguezias limitrophes: — Cabaços a N., — Rua a S.,— Baldos e Arcozello a O.,— Escur- quella e Fontearcada a E., alem do rio Tá- vora. Producções dominantes'— vinho bom de mesa, milho, trigo, centeio, linho, azeite e batatas deliciosas, como todas as da margem do Távora. ' Também produz bastante fructa (de ca- VIL VIL 1213 roço. não de espinho)— e tem uma fabrica de telha, de systema rudimentar antiquís- simo. O vinho d'esta parochia e das circumvi- sinhas é verde com relação ao do Douro, mas ainda assim é muito superior ao de Ama- rante e Basto. Templos:— a egreja matriz em bom esta- do—e 2 capellas:— uma publica, de Santa Barbara,— e outra da Senhora da Relva, 1 particular,— ambas abertas ao culto e bem conservadas. Não mencionam outras os apon- tamentos que se dignou enviar-me o rev. pa- rodio; mas a Historia Ecclesiastica da cida de e bispado de Lamego, muito consciencio- samente escripta nos fins do ultimo século por D. Joaquim d' Azevedo (V. Villa Nova d? Ourem) e publicada no Porto em 1877, deu a esta freguezia as capellas seguintes:— Nossa Senhora do Pilar— Senhora da Boa Morte, de Diogo Xavier de Sousa Ferreira, — S.Sebastião,— Santo Antonio, de Bernardo José Teixeira,— e Senhora da Relva, de José Joaquim de Gouveia, de Fontearcada. Também deu a esta freguezia a população de 137 fogos e 365 habitantes, no que não ha proporção alguma! E note-se que o au- ctor era homem muito illustrado e commen- sal do bispo de Lamego, em cujo paço re- sidia e escreveu a sua Historia com elemen- tos officiaes especialíssimos ! . . . Esta freguezia, como já dissemos, era da apresentação do reitor de Fontearcada, mas os dízimos d'ella, bem como das de S. Mi- guel de Freixinho, Santo Estevam de Fer- reirim, Nossa Senhora da Apresentação de Macieira e S. Miguel de Chozendo— todas curatos annuaes da mesma apresentação, — eram da Universidade, bem como os de Fon- 1 Segundo se lê no Sant. Marian. esta er- mida também já teve o nome de Senhora do Valle; — foi feita em 1630,ignorando-se quem a fundou;— em 1721 era administrada pelo dr. Manuel de Gouveia Couraça, clérigo do habito de S. Pedro,— e a imagem da Senhora era de roca e vestidos, mas lindíssima e pe- quena, pois tinha de altura apenas dois pal- mos VOLUME XI tearcada,[Sendim, Paredes da Beira e Rioda- des, freguezias circumvizinhas. No Censual velho do bispado de Lamego e que data dos princípios do século xvi, já se encontra o pequeno e pobre curato de S. Bartholomeu de Villar. Tem feira a 24 d'agosto, dia de S. Bartho- lomeu, junto da matriz, mas n'esse dia a feira mais importante d'esta província é a de S. Bartholomeu em Trancoso, ainda hoje muito notável, posto que não ó a sombra do que foi em tempos mais remotos. V. Trancoso. O Távora aqui é plácido e tem nas suas margens bons campos, mas alguns kilome- tros a juzante, principalmente desde a ponte de Riodades até á ponte do Fumo, corre por entre penedia escalvada, aprumada, nua, me- donha, principalmente quando toca nos ce- lebres Castellos dos Cabris e no S. Pedro Ve- lho, onde se veêm ainda as venerandas ruí- nas do i.° convento de S. Pedro das Águias. V. Távora, rio,— Távora, villa,— e Sendim. De passagem diremos que, visitando em 1883 as ruínas do actual convento de S. Pe- dro das Águias e do convento velho, encon- tramos claros vestígios de quatro construc- ções, — alem da primitiva. D'ellas daremos noticia no supplemento a este diccionario. Nos limites d'esta parochia ha uma so- berba ponte de granito sobre o Távora. Não tem inscripfão nem data alguma, mas é mui- to antiga e não se sabe quando nem por quem foi feita. Demora entre esta freguezia e a de Fon- tearcada e tem de comprimento 120m,60;— de largura 4m,90;— de altura. 10m,80,— e 4 grandes arcos. A tradição local diz que foi feita pelo con- de D. Henrique, nos princípios da nossa mo- narchia. É a maior e melhor ponte de todas as que ha sobre o Távora. Nós conhecemos as seguintes, — todas de granito:— uma na sua foz, outra a do Fumo, na freguezia de Távora, — outra a de Rioda- des, junto da freguezia d'este nome,-- -esta de Villar— a da Villa da Ponte— e outra em 77 1214 VIL VIL Aldeia da Ponte, na estrada a macadam de Lamego a Trancoso e Celorico da Beira. Ha n'esta freguezia uma eschola oífícial dMnstrucção primaria para o sexo masculi- no, montada sobre as ruinas da antiga Ca- pella de 8. Sebastião. Junto d'ella— e em vários pontos d'esta , freguezia— se encontram ainda hoje muitas sepulturas cavadas em rocha. Sepulturas se- melhantes se encontram nas freguezias cir- cumvisinhas, em ambas as margens do Tá- vora, nomeadamente em Sendim no adro e mesmo á porta da egreja matriz. ' Datam, pelo menos, do lempo dos mou- ros. Tem finalmente esta parochia um cemité- rio em boas condições. Não ha n'esta freguezia estrada alguma a macadam. As mais próximas hoje são a de Lamego a Trancoso— e a da Villa da Ponte, partindo d'aquella para Ferreirim, hoje, e que mais tarde talvez se prolongue até á villa de S. João da Pesqueira; mas deve pas- sar a 2 kilometros d'esta freguezia a nova estrada districtal de Vízeu á foz do Távora, por Moimenta da Beira, Távora e Taboaço, prestes a concluir-se,— graças aos esforços dos srs. Macedos Pintos, de Taboaço, cava- lheiros de muito merecimento e grande in- fluencia e que hoje representam a casa mais rica de ambas as margens do Távora. V. Sendim, Taboaço, Miragaya e Vicente (S.) sitio, vol. X, pag. 516, col. 2.» VILLAR FORMOSO— freguezia do conce- lho e comarca d'Almeida, districto e diocese da Guarda, província da Beira Baixa. Abbadía. Fogos 153,— habitantes 642. Orago S. João Baptista. Em 1708 era abbadia da apresentação do bispo de Lamego;— pertencia ao concelho de Castello Bom, comarca e corregedoria de Pinhel, bispado e provedoria de Lamego— e contava 60 fogos. A Historia Ecclesiastica de Lamego, es- cripta por D. Joaquim d'Az,evedonosfinsdo ultimo século e publicada no Porto em 1877 deu-lhe a mesma apresentação, os mesmos 60 fogos e 156 habitantes,, no que não ha proporção, pois 60 fogos dewiara conter, pelo menos, 250 habitantes. Em 1768 o seu parocho era da apresen- tação alternativa do papa e do bispo de La- mego;—rendia 200$000 réis— e contava 56 fogos. A sua população durante 60 annos,— com- prehendendo 18 do governo do marquez de [ Pombal— em vez de augmentar, diminuiu, talvez por causa da guerra com a Hespanha, pois esta freguezia demora na raia. O ceDso de 1864 deu-lhe 103 fogos e 456 habitantes;— o de 1878 deu-lhe 124 fogos e 522 habitantes — e hoje, como dissemos, con- ta 153 fogos e 642 habitantes. Prospéra a olhos vistos desde que princi- piou a construcção da linha férrea da Beira Alta, que lhe deu uma estação própria, es- tação terminus de 1.* classe, e urna delega- ção aduaneira de 1." classe também, — e mais deve prosperar agora, depois que se abriu á circulação em 23 de maio ultimo (1886) a continuação da mencionada linha até Sala- manca, entroncando nas linhas férreas de Salamanca a Madrid e Paris, pelo que a li- nha da Beira Alta, — emquanto se não abrir á circulação a do Douro desde o Tua, onde hoje termina a exploração, até á Barca d'Alva e Salamanca, jà quasi toda feita e prestes a inaugurar-se, l— é a linha que offerece um percurso mais rápido entre Portugal, Ma- drid e Paris. Está pois Villar Formoso em óptimas con- dições de prosperidade. Demora junto da raia, na margem esquer- da da ribeira de Tourões, que nasce nas fre- guezias de Villar Maior e Malhada Sorda;— passa aqui na direcção de S. a N. formando a raia, — e a 20 kilometros de distancia entra no Agueda, que prolonga a linha divisória das duas nações até morrer no Douro entre a nossa povoação da Barca d'Alva e a po- voação hespanhola de Vega dei Torron. Villar Formoso dista apenas 1 kilometro da estação do seu nome na linha da Beira Alta;— 2 de Fuentes de Honor, aldeia hespa- nhola;—14 da villa e praça d'Almeida;— 49 da Guarda;— 203 da estação da Pampilhosa, entroncamento na linha férrea do norte; — 1 V. Vias Férreas. VIL VIL lci!5 254 da cidade da Figueira;— 303 do Porto— e 433 de Lisbea. Freguezias limitrophes:— S. Pedro de Rio Secco a N.;— Freineda a S.;— Fuentes de Ho- nor (em Hespanha) a E. — e Castello Bom a O. Esta freguezia comprehende apenas a al- deia de Villar Formoso— e agora a que ten- de a desenvolver-se em volta da sua estação, que é elegante e espaçosa, com todas as de- pendências próprias d'ella e da delegação da alfandega, — um bom restaurant demr. Claud Thomaz, francez, etc.,— e junto da estação, ha também uma hospedaria de José Antonio Gonçalves, o que tudo representa uma po- pulação importante, pullulando de um mo- mento para o outro. Alem da linha férrea, que põe esta fre- guezia em rápido contacto com todo o nosso paiz e com a Hespanha, Franca, etc, tem uma boa estrada a macadam da sua estação para Almeida, já servida por diligencias. Producções dominantes:— trigo, centeio, cevada, batatas e lã, pois também cria bas- tante gado lanígero. A egreja matriz está bem conservada e é muito antiga. Suppoe-se que foi feita pelos templários. Ha também n'esta freguezia as capellas seguintes: Senhora da Paz, coeva da matriz e também fundação dos templários,— segundo diz a tradição. Consta que junto d'ella houve em tempos muito remotos um convento, de que já se não encontram vestígios. U.»— Santo Christo, também antiga e bem conservada ainda. 3.»— Santa Barbara, em ruínas. N'esta parochia ha uma pyramide geodé- sica na altitude de 782 metros sobre o nível do mar. Esta freguezia tem acompanhado a varia sorte de toda a região do Cima- Côa. Depois da expulsão dos mouros, ficou per- tencendo no temporal ao reino de Leão— e no espiritual á diocese de Cidade Rodrigo. Conquistado o Cima-Côa aos leoneses pelo nosso rei D. Diniz, ficou pertencendo civil- mente a Portugal, mas ecclesiasticameote a Cidade Rodrigo, até que o nosso rei D. João I, por bulia de Bonifacio IX,1 uniu a Portu- gal também a espiritualidade do Cima-Côa, annexando ao bispado de Lamego todas as freguezias d'aquella região que tomaram o titulo de bispado novo. Çonservaram-se unidas ao bispado de La- mego até 1770, data em que se criou o bis- pado de Pinhel, para o qual passaram com outras do de Vlzeu,— e em 1882, data da ul- tima circumscripção diocesana, exlincto o bispado de Pinhel, passaram para este da Guarda. V. Pinhel e Villar d' Amargo. Administrativamente pertenceu esta fre- guezia ao concelho de Castello Bom até 1834, passando em seguida para o d' Almeida, ao qual ainda hoje pertence. Judicialmente pertenceu ás comarcas de Pinhel, Guarda e Sabugal, e desde 1875, da- ta em que se creou a comarca d'Almeida, ficou pertencendo a ella judicialmente tam- bém. Eis aqui muito em resumo as voltas que tem dado esta freguezia— depois da expul- são dos mouros d'estas paragens I. . . É povoação muito antiga, como provam evidentemente as sepulturas abertas em ro- cha encontradas no seu termo e que datam, pelo menos, da occupação árabe. Tem uma escola official d'instrucção pri- maria para o sexo masculino. Esta parochia já se acha mencionada no Censual Velho da mitra de Lamego, feito nos princípios do século xvi. Ali se diz que era da apresentação, colla- ção e confirmação do bispo e que lhe pagava: De confirmação 1 marco de prata,— réis n'aquelle tempo 2^340 De visitação 500 De catedradeguo 60 mais a terça e o dizimo. i Já vimos o original d'esta bulia. Está unido ao Censual Velho da miitra de Lamego e conserva- se na camará ecdeisias- tica d'aquella diocese. 1216 VIL VIL Em compensação não pagava censória, nem morlulha, nem procuração, nem cera, como pagavam n'aquelle tempo quasi todas as outras freguezias do dicto bispado. Quem quizer saber o que eram n'aquelle tempo os direitos denominados censória, ter- ça, murtulha, cathedradeguo, procuração, jantar, vizita, etc, veja no Elucidário de Vi- terbo as palavras Censo e Çathedradego. Esta povoação, por ser aberta e estar pre- cisamente na raia, soffreu muito durante as guerras com a Hespanha desde os princí- pios da nossa monarchia até os fins do ul- timo século, — e muito soffreu também ainda nos princípios do século actual, por occa- sião da guerra da Península. Em 1808, quando o general franeez Loison deixou a praça d'Almeida e andou talando a Beira Baixa;— em 1810, quando Massena, para vin- gar os desastres de Junot e de Soult, inva- diu Portugal com um numeroso exercito, entrando pelo Cima-Côa,— e em 1811 quan- do retirava das linhas de Torres Vedras pelo Cima-Côa, também talando, saqueando e in- cendiando todas as povoações por onde pas- sava. 1 Soffreu esta povoação também muito com a batalha de Fuentes d'Honor, que se feriu aqui nos dias 3 e 5 de maio de 1811 entre o gran- de exercito franeez, commandado por Mas- sena—e o exercito anglo-luso, commandado por Lord Wellington, cobrindo as tropas lit- teralmente esta freguezia 2 e todas as cir- cumvisinhas, tanto portuguezas como hes- panholas, na distancia de legoas! Felizmente as nossas armas levaram de vencida, como no Bussaco, as altaneiras águias francezas, perdendo o exercito anglo- luso apenas 198 homens mortos, 1:028 feri- 1 V. Torres Vedras, Gojim, e Passos da Serra. 2 Aqui teve alguns dias Lord Wellington o seu quartel general— e ainda hoje em* vá- rios pontos d 'esta freguezia, no lado que olha para a Hespanha, se veem restos de mu- ros que, segundo diz a tradição local, foram | baterias montadas para bater os franceses, i Diz mais a tradição— que a grande batalha ! principiou no termo d'esta freguezia. i dos e 294 prisioneiros, em quanto que o exercito franeez soffreu um grande revez e teve de retirar sobre Salamanca, abando- nando a guarnição que tinha na praça d'Al- meida e que depois se evadiu por um feliz accaso— ou por traição d'algueml. . . Tenho sobre a minha banca de estudo a interessante Histoire de la Guerre d'Espagne et de Portugal, durante os annos de 1807 a 1813, escripta pelo coronel inglez John Jo- nes, que tomou parte na campanha, e tra- duzida para franeez e annotada a seu sabor por Beauchamp. Ali (vol. 1. pag. 219 e 220) se descreve o modo como a guarnição franceza se evadiu da praça d'Almeida, na noite de 10 para 11 de maio de 1811, (ha 75 ãnnos); mas te- nho também sobre a minha banca d'esludo um roteiro curioso que pertenceu a José Ma- thias % natural de Vimieiro, concelho d'Ar- raiollos, então sargento de caçadores n.° 4, e que fazia parte das forças sitiantes no acto da evasão, da qual foi testemunha ocular. No dito roteiro se lê, entre outras coisas, o seguinte: «Sahi do hospital em 22 de março de 1811; — estive no deposito de S. Bento 4 dias, e marchei para o exercito. Fui encontrar o meu Batalhão em Cinco Villas, no cerco d'Almeida, e ali estivemos até que os fran- 1 Era o pae do meu benemérito anteces- sor. Assentou praça em 1782 e se conservou sempre na fileira até á convenção d'Evora- Monte. Fez a campanha da Península e as guer- ras civis posteriores;— emigrou varias vezes para a Hespanha;— foi em 1823 com a expe- dição á Bahia, etc.,— e em uma pequena car- teira que trouxe sempre comsigo (é o curioso roteiro supra) ia consignando algumas oc- correncias mais notáveis e — todas as suas marchas e contra-marclias^às terras onde poisava — e as distancias percorridas. Só até o dia 27 de setembro de 1829 tinha elle per- corrido a bagatella de 2:566 legoas por mar — e 2:787 por terra— total 5:353 legoas!... E ainda depois aceresceram as marchas e contra-marchas até á convenção d'Evora- Monte. V. Vianna do Minho, vol. X, pag. 461, coh l.a e segg.— e Vimieiro de Arraiollos. VIL VIL 1217 cezes largaram fogo ás muralhas e fugiram para a Hespanha. Foi uma venda bem co- nhecida, pois no sitio por onde cortaram a linha estavam os nossos soldados todos avi- sados para não fazerem fogo, porque ali ha- vião de passar dois Regimentos inglezes. As- sim passaram os francezes, e de tal fórma que os nossos soldados se envolveram com elles, porque iam muito calados e foram rompendo até que as sentioellas começaram a fazer fogo. «Mais ainda: A minha brigada, tendo ido para Mal Partida, n'essa mesma noite tor- nou para as Cinco Villas, para os francezes passarem como passaram, por Mal Parti- da!... Fomos no seu seguimento, mas só ao outro dia, levando-nos os francezes de dian- teira 9 horas !...•» Do exposto se vê que, assim como foi ta- xada de traição a entrega da praça d'Almei- da aos francezes em 1810,— também ha quem taxe de venda a fuga da guarnição francesa em 1811. Com vista aos nossos histo- riadores. No dia 9 d'abril de 1811 chegou a Villar Formoso Lord Wellington;— aqui teve alguns dias o seu quartel general— &, depois de va- rias evoluções dos dois exércitos, deu em 3 a 5 de maio a grande batalha de Fuentes de Honor, tão gloriosa para elle, como vergo- nhosa para Massena, ficando o nosso paiz desde aquella data definitivamente livre das garras francezas, que tão cruelmente nos trataram desde 1807. M. Alph. de Beauehamp, francez, e por consequência de todo o ponto insuspeito, nas suas annotações á citada historia de John Jones, diz em uma nota (vol. I pag. 221) o seguinte: «O resultado da famosa campanha de Por- tugal foi todo desfavorável para a França, posto que o exercito francez não soffreu em Portugal revez algum.» É assim que se escreve a historial— Mais abaixo, porem, como os leitores vão ver, o mesmo auctor muito a sobre-posse reconhece o desastre do Bussaco. Quando estivemos em Paris e visitámos o celebre Arco da Estrella, onde se acham consignadas todas as victorias de Napoleão K, vimos que na campanha de Portugal apena s mencionaram como Victoria (?) para as ar- mas francezas a tomada d'Almeida em 1810, quando a praça voou pelos ares com a ex- plosão do paiol. Que brilhante feito darmas I . . . Continua Beauehamp dizendo: «Sejamos francos: na dieta campanha de Portugal Massena mostrou-se muito inferior á fama que o precedia e só na retirada pro- vou que era um hábil guerreiro. «Ferido no seu orgulho por ver que o ini- migo, depois de o acossar até á fronteira, sitiou e lhe tomou á sua vista a praça d' Al- meida que elle próprio Massena havia con- quistado (?), determinou-se a dar a batalha de Fuentes de Hunor; não foi porem vHella. mais feliz do que na do Bussaco, e, abando- nando Portugal ao seu adversário, perdeu as boas graças de Napoleão, que lhe tirou o commando e lhe deu um successor menos hábil e mais infeliz ainda.» Posto que só o exercito de Massena,— o fi- lho querido da Victoria !... —perdeu em Por- tugal cerca de 25:000 homens na batalha do Bussaco e nas acções de Pombal, Redinha, Foz d'Arouce, Ponte da Murcella, etc, fique- mos sabendo que as armas francesas du- rante a guerra da Península— não soffreram em Portugal revez algum — e passemos adiante. No dia 24 de março de 1884 deu-se aqui um grande desgosto. Um carreiro ao atravessar com um carro tirado por bois a ribeira de Tourões, saltou para o carro, mas este voltou-se e o matou instantaneamente. Era um homem robusto, de 27 annos apenas. Em março de 188o deu-se também aqui um desgosto, mas de ordem muito differen- te. A nossa guarda fiscal apprehendeu a uín francez, chamado André Pontirame, 1:541 libras— ou 6:799$500 réis— que tentava pas- sar para a Hespanha sem pagar os respe- ctivos direitos. No dia 18 de janeiro do corrente anno (de 1218 VIL VIL 1886 chegou á estação de Villar Formoso S. A. o nosso príncipe D. Carlos em viagem para Hespanha e França, onde por essa oc- casião tractou o seu casamento com a prin- cesa D. Maria Amélia d'Orleans, filha dos condes de Paris. Regressou a Lisboa em março — e no dia 19 de maio 1 aqui passou a mencionada princesa, acompanhada por seus paes e parentes, etc, formando ao todo uma comitiva de 70 pessoas, em um luzido com- boyo especial. O príncipe D. Carlos veiure- cebel-a á estação da Pampilhosa — e d'ali se- guiram todos no mesmo comboyo para Lis- boa, onde, na tgreja de S. Domingos, se realisou no dia 22 o casamento, com extra- ordinária pompa, prolongando-se as festas até o fim do mez, — festas como em Lisboa nunca se viram e que todos os nossos jor- naes minuciosamente descreveram. Em fevereiro d'este mesmo anno de 1886 levantou-se em toda a região norte do nosso paiz o cordão sanitário, que durou 8 raezes alem d'outros 8 em 1884 a 188o. Custou talvez mil contos, mas bem empre- gados foram porque, tendo o cholera-mor- bus feito nos dictos annos milhares e milha- res de víctimas na França e na Hespanha, não entrou em Portugal. Durante o dicto cordão tivemos n'elle 8 a 9 mil soldados e lazaretos provisórios em Villa Real de Santo Antonio, Valença, Mar- vão, Elvas e aqui, em Villar Formoso, — além do lazareto permanente em Lisboa. V. Villa Real de Santo Antonio e Villa Real de Traz-os- Montes. O serviço do cordão sanitário foi muito bem feito, mas era muito duro,* principal- mente no inverno. Na raia marítima cruzavam cinco vapo- res ao longo da costa— e em toda a nossa raia seeea, mesmo nos sitios mais desertos e ásperos, se fez uma continuidade de simples 1 Maio d este mesmo anuo de 1886, pelas 2 horas da manhã;— chegou á Pampilhosa ás 10 horas da manhã do mesmo dia — e a Lis- boa ás 5 e meia horas da tarde do mesmo dia 19, quarta feira. cabanas de palha, como as dos pastores, on" de estavam pequenos grupos de soldados, sempre com sentinellas bradando alerta— noite e dia,— sendo as distancias de uma á outra cabana ião pequenas, que as sentinel- las se avistavam e podiam responder umas ás outras. Alem d'isso havia rondas volantes e con- stantes, — noite e dia; — os comboyos não transpunham a fronteira— e o serviço do cordão era feito com todo o rigor militar. Os soldados tinham ordem para fazer fogo so- bre lodo e qualquer individuo que, depois de admoestado e avisado, tentasse transpor o cordão,— e todo o corpo dos nossos guar- das fiscaes rececebeu ordens terminantes para auxiliar os 8 a 9 mil homens do cor- dão. Os contrabandistas, não podendo estar ociosos tanto tempo, em differentes pontos tentaram romper o cordão— e alguns o con- seguiram por veredas occultas em sitios me- donhos e noites tenebrosas,— mas muitos fo- ram presos e outros corridos a bala e feri- dos, perdendo os gados, tabacos e fazendas que tentavam introduzir. Os soldados eram gratificados, bem ali- mentados e tinham avultadas rações d'aguar- dente, principalmente no inverno, mas com a intempérie e falta de commodos nas pe- quenas barracas muitos adoeceram e sof- freram sesões e sarna, moléstias felizmente estranhas ao nosso exercito— em tempo nor- mal. No dia 23 de maio de 1886, em seguida á passagem da princeza D. Maria Amélia de Orleans, inaugurou-se a exploração da linha férrea, em continuação da nossa linha da Reira Alta, desde a estação de Villar For- moso até Salamanca, benzendo solemnemente as machinas o bispo de Salamanca. Na passagem da princesa D. Maria Amé- lia d'Orleans foi-lhe offerecido pelos photo- graphos do Porto— Emilio Biel & C.a — um precioso álbum com primorosas photogra- phias de todas as estações d'esta linha da Beira Alta, das suas pontes, d'outras obra» VIL VIL 1219 d'arte e dos sítios mais pittorescos que atra- vessa. Na l.a pagina se lia em caracteres artisti- camente desenhados a dedicatória seguinte: «A sua alteza real a princeza D. Maria Amélia de Orleans ao entrar na sua futura pátria, respeitosamente offerecera os proprie- tários da photographia real, do Porto, Emi- lio Riel & C.a.» Seguem-se 40 vistas dos seguintes pontos da linha : Estação da Figueira, tunnel das Alha- das, estação da Pampilhosa, estação do Lu- so, ponte das Várzeas, tunnel Grande, Sal- gueiral, ponte Hilijoso, ponte Trezoi, tunnel de Trezoi, estação de Mortágua, ponte de Mortágua, Mortágua, ponte da Breda, ponte do Cris, tuunel do Monte dos Lobos, ponte do Coral, Valle do Dão, ponte do Dão, esta- ção do Dão, estação de Mangualde, tunnel de Abrunhosa, quinta das Barracas, Valle do Mondego, estação de Gouveia, ponte Laga- nhorda, ponte perto de Fornos, ponte de Muchagata, ponte da Jejua, Celorico, estação de Celorico, entre Pinhel e Guarda, estação da Guarda, ponte Noemi (ferro), vista da Cerdreira, ponte da Fraga, ponte do Côa e estação de Villar Formoso. VILLAR DE FRADES,— ou S. Salvador de Villar de Frades, — e Areias de Villar, ou S. João $ Areias de Villar de Frades,— e Ma- gdalena de Villar, ou Santa Maria Magda- lena de Villar de Frades— freguezia do con- celho e comarca de Barcellos, districto e diocese de Braga, província do Minho. Abbadia que representa hoje tre3 paro- chias. Orago S. Salvador. Os das outras 2 fre- guezias eram S. João Baptista e Santa Maria Magdalena. Fogos (das 3 freguezias hoje unidas)— 160; habitantes 675. Em 1706 as 3 freguezias, cora a de S. Thiago de Encourados, (V.) formavam a ab- badia (couto) de S. Salvador de Villar de Frades, ou do celebre convento dos loyos} cujo reitor apresentava curas ou vigários nas 3 restantes e todas 4 eontavam 200 fo- gos,— segundo se lê na Chorographia Por- tugueza. ' Em 1768, segundo se lê no Fort. Sacro P. Profano, a freguezia de S. Salvador de Vil- lar de Frades contava oitenta fogos, — com- prehendendo talvez as freguezias de S. João Baptista e Santa Maria Magdalena de Areias de Villar, pois não se encontra menção d'el- las no Port. S. e Profano; menciona porem a de S. Thiago de Encourados, com 87 fo- gos, vindo por consequência a ter as 4 fre- guezias supra— 167 fogos, o que mal pôde crer-se, contando ellas já em 1706, como diz Carvalho,— 200 fogos ! . . . A Geographia Histórica de D. Luiz Cae- tano de Lima nem sequer fez menção do Couto de Villar de Frades, nem da ouvido- ria de Barcellos, quando no vol. 2.° pag. 475 a 524 deu (?) a população da província de Entre Douro e Minho. O censo de 1864 deu á3 freguezias de S- João e Santa Maria Magdalena de Areias de Villar, já então unidas e comprehendendo também a de S. Salvador de Villar,— 132 fo- gos e 651 habitantes — e o de 1878 deu ás mesmas 3 freguezias, que já então formavam como formam hoje, só uma,— 150 fogos e 654 habitantes. Esta freguezia que nós denominamos S- Salvador de Villar de Frades (logo diremos porque) demora na margem esquerda do Ca- vado, do qual a sua matriz (a egreja do ex- tracto convento) dista approximadamente 1 kilometro para S. E.;- 6 de Barcellos para E.;— 9 de Braga para O.;— 5 da estação de Barcellos na linha férrea do Minho;— 56 do Porto— e 393 de Lisboa. Comprehende na circumscripção da antiga parochia de S. Salvador o convento e a cer- ca, hoje quinta de Villar de Frades, bem como a sumptuosa egreja do convento, sede e matriz da actual parochia;— na circum- scripção da extincta parochia de Santa Ma- ria Magdalena (VAreias de Villar as povoa- ções de Estrada, Bouça, Magdalena, Aldeia e Monte,— e na circumscripção da freguezia de S. João d' Areias de Villar as povoações de Villar, Quintão, Caslopo, Loureiro, S. Se- bastião e Quintella. Este tópico de Areias, Villar de Areias 1220 VIL VIL Villar de Frades e Areias de Villar de Fra- des é um labyriDtho para os chorographos extranhos á localidade. N'elle se perdeu o meu antecessor e não sabemos a sorte que nos espéra, posto que lhe havemos prestado toda a attenção. Salvo o respeito devido á memoria do meu benemérito antecessor, se este diccio- nario estivesse desde o seu principio a nosso cargo, nós teriamos descripto no tópico Areias a freguezia de que no momento nos occupamos e lhe daríamos o titulo legal que tem de Areias de Villar de Frades; mas o meu antecessor deu ao concelho de Barcel- los apenas a freguezia de Areias (orago S. "Vicente) confundindo -a com a de S. Thiago - de Areias, concelho de Santo Thyrso (adian- te rectificaremos este e outros lapsos que se encontram n'aquelle tópico) e deu ao conce- lho do Prado outra freguezia de S. Vicente de Areias, não existindo já semelhante con- celho;—e não descreveu esta de S. João Ba- ptista e Santa Maria Magdalena de Areias de Villar— ou simplesmente (e melhor talvez) — de S. Salvador de Villar de Frades. E elle estava convencido de que a descre- veu, pois em uma nota á margem do artigo Villar de Frades e Areias, freguezia, no Fla- viense, de que fazia uso, disse: «Já está em Areias, menos o convento.» Oxalá estivesse, porque nos poupava bom trabalho ! . . . Mas passemos adiautee tractemos de des- enredar a meiada, consoante permittirem as nossas débeis forças. Houve aqui um antiquíssimo convento benedictino, que no século xv foi dado aos loyos, como adiante mostraremos em tópico separado. Denominou- se Convento de Villar de Frades, — ou dos beguinos ou homens bons de Villar. Foi o 1.° que os loyos, cónegos de S. João Evangelista, tiveram no nosso paiz, Tão notável em breve se tornou, que foi egreja parochial e cabeça d'um couto que em 1697 comprehendia nada menos de 15 freguezias, todas da apresentação do prelado ou reitor do convento, que era o abbade da freguezia de S. Salvador de Villar e de to- das as outras, nas quaes tinha curas, apre- sentados e collados por elle,— segundo se lê na chronica da ordem, Ceo Aberto na terrat pag. 397 a 401. * As taes 15 freguezias eram riaquella data as seguintes: 1. a— S. Salvador de Villar, cuja matriz era a própria egreja do convento. 2. " — S. João d' Areias de Villar, a prender com a de S. Salvador e com a cerca do eon- vento, para E. Foi unida ao convento pelo arcebispo D. Fernando em 1439, em virtude da renuncia que. fez d'ella o abbade Alfonso Annes to- mando o-habito dos loyos. 3. " — Santa Maria Magdalena d' Areias de Villar, a prender também com a de S. Sal- vador e com a cerca do convento, para O. 4-a— S. Bento da Várzea (hoje Várzea e Crujães) que também havia sido convento benedictino e que dista do convento de Vil- lar apenas uns 3 kilometros para 0. também. 5.a— S. Miguel de Rcriz, hoje Roriz e Qui- raz, distante do convento cerca de 6 kilome- tros para N. 7. a— S. Thiago de Encourados, a leste d3 convento. 8. *— Santa Maria de Moure, 7 kilometros para O. Os loyos obtiveram estas ultimas 3 egre- jas no anno de 1771, em troca da de Cal- vello. 9. ' — Santa Leocadia de Pedra Furada, cerca de 12 kilometros para 0. do convento. 10. " — S. Jorge d'Ayró, cerca de 3 kilome- tros para S. Foi unida ao convento no anno de 1454, em virtude da renuncia do seu abbade João Antunes do Salvador, que tomou também o habito dos bons homens. 11. " — S. Martinho d"Ayró, já então anne- xa á de S. Jorge d'Ayró. 12. " — Santa Maria de Gotos, cerca de 15 kilometros a O. do convento. Foi unida a elle no anno de 1481, em virtude da renun- cia do seu abbade Diogo Annes, que também preferiu o habito dos bons homens de Villar. 13. » — S. Martinho de Manhente, na mar- gem direita do Cavado, a N. do convento. 1 Veja-se a palavra Grillo n'este diccio- nario. VIL VIL 1221 Foi também mosteiro benedictino, extin- cto em 1403. E achaodo-se reduzida a sim- ples abbadia secular, o papa Nicolau V, a instancias da rainha Santa Isabel, concedeu bulia para se unir ao convento de Villar, mas o arcebispo D. Fernando, que ao tempo andava desavindo com os bons homens, op- poz-se e a deu a um seu fâmulo, Diogo Af- fonso; morto porem D. Fernando, o arcebis- po D. Luiz Pires acceitou a bulia e em 1480 de bom grado uniu ao convento esta egreja com a seguinte, sua aonexa. 1 i.a — S. Vicente d3 Areias. V. Manhente. IS.*— Santo Emilião de Mariz, cerca de 15 kilometros para O. do convento, na mar- gem direita do Cavado também. Foi unida em 1507 pelo papa Julio II, a instancias do cardeal d'Alpedrinha D. Jorge da Costa. Ê isto o que se lé na chronica citada su- pra, mas a Chorogr. Portugueza deu ao couto de Villar de Frades em 1706 as 19 fregue- zias seguintes:— S. Salvador (a séde)— S. João d'Areias, Santa Maria Magdalena, En- courados, Adães, Ayró (S. Jorge), Várzea, Moure, Goyos e Pedra Furada— todas 10 da apresentação do convento de Villar— e Bru- fe, Carvalhas, Carvalhal, Rio Covo (Santa Eulália), Alvellos, S. Thiago de Castellões, Mogege, Pereira e Remelhe,— apresentadas per differentes padroeiros. Do exposto se vé que entre as muitas fre- guezias que este convento apresentava, as 2 mais próximas eram as de S. João e Santa Maria Magdalena d' Areias de Villar;— sup- primida não sabemos quando a egreja da Magdalena, foi unida á de S. João, que ficou representando as duas,— e em 1834, sendo extincto, com todos os outros conventos do nosso paiz, este de Villar, extíncta ficou a freguezia de S. Salvador, matriz do couto e de todas as freguezias que o constituíam, pelo que a freguezia de S. João, que era até ali um simples curato da apresentação do reitor do convento, abbade da freguezia de S. Salvador e de todas as do grande couto, absorveu o convento e com elle a sua ma- triz. Ficou pois desde aquella data repre- sentando as freguezias de S. João, Magdale- na e Salvador — e, como tivesse á sua dispo- sição 3 egrejas, arvorou em matriz & matriz do couto— a egreja do extineto convento, por ser a melhor de todas— templo vasto, elegante, sumptuoso, esplendido, sem con- testação ainda hoje um dos primeiros tem- plos do nosso paiz I . . . Deixou também a mesquinha residência de S. João d' Areias e trocou-a pela parte do magestoso convento mais próxima da egreja. Ora, tendo escapado ao grande cataclismo a veneranda egreja de S. Salvador de Villar de Frades e sendo hoje a matriz d'esta paro- chia, que representa os tristes curatos deS. João e Santa Maria Magdalena de Areias de Villar— e a própria abbadia de S. Salvador de Villar de Frades, amiga e histórica ma- triz do grande couto, — e tendo hoje o seu abbade a residência parochial no próprio convento, — é de rigorosa justiça que esta pa- rochia se intitule Abbadia de S. Salvador de Villar de Frades, — ou Abbadia de Villar de Frades,— orago S. Salvador. A congregação de Villar de Frades Com o tristíssimo reinado de D. Fernan- do I (1367-1383) e com as porfiadas guer- ras subsequentes, campeava altiva a desmo- ralisação em Portugal, abrangendo todas as classes, inclusivamente o clero. Não corriam melhor os tempos em 1420, quando viviam em Lisboa 3 sacerdotes de grande illustra- ção e raras virtudes:— o dr. João Vicente, conhecido por Mestre João, lente de medi- cina na Universidade de Lisboa, onde nas- cera em 2 de março de 1380 (sendo seus paes Estevam Rodrigues Macieira e D. Ma- ria Ponce);— Martim Lourenço, doutor em theologia pela mesma Universidade,— e D. Affonso Nogueira, formado in utroque jure pela Universidade de Bolonha. Costumavam elles reunir-se em casa do seu commum amigo Lourenço Aunes, prior de S. Julião e sacerdote exemplar também. A todos quatro horrorisava a desmorali- sação da sociedade e do clero e, com o lou- vável intuito de a combaterem, resolve ram. 1222 VIL VIL deixar os commodos e o bulício da corte e ir missionar na aldeia. Foram primeiramente para a freguezia dos Olivaes, cujo prior os convidou e rece- beu com alvoroço. Ali se uniram a elles mais 3 presbyteros de muito merecimento:— o mencionado prior de S. Julião, — Joanne Joan- i nes, irmão d'elle, — e João Rodrigues; — e pouco depois se lhes uniram mais 3:— Affon- so Amado, Rodrigo Annes e Martim João. Resavam em côro, viviam em commum, tendo por chefe e superior o Mestre João» prégavam e doutrinavam, confessavam, sus- tentavam-se de esmolas que pediam pelo amor de Deus, vestiam grosseiro panno par- do e viviam a vida mais penitente e aus- tera. O povo adorava-os e vinha de grandes dis- tancias, mesmo de Lisboa, para os ouvir e admirar tanta abnegação, mas o prior dos Olivaes um bello dia, não sabemos bem por- que, expulsou-os da sua egreja e da sua re- sidência. Foi esta a primeira contrariedade que se oppoz á nascente congregação — e maiores contrariedades se lhe seguiram. Deixando a egreja dos Olivaes, dispersa- ram-se. O prior de S. Julião voltou para a sua egreja;— o irmão foi viver com os eremitas da serra d'Ossa;— os outros volveram ás suas occupações; mas conservaram-se firmes no seu santo propósito os quatro seguintes: — D. Affonso Nogueira1, Martim Lourenço,2 João Rodrigues 3 e o Mestre João, guia e director 1 Filho de paes nobilíssimos e primorosa- mente educado, foi bispo de Coimbra e ar- cebispo de Lisboa. V. Ceo Aberto na Terra, pag. 638 a 656. 2 Filho de paes nobres e ricos, foi educa- do na corte de D. João I, que depois o no- meou seu prégador;— o Santo infante D. Fernando o estimava como irmíio e o esco- lheu para seu confessor e seu esmoler. Fal- leceu com opinião de santo em Lisboa, em 1446. V. Ceo Aberto na Terra, pag. 611 a 638. 3 Foi confessor de 2 reis e mestre de 2 príncipes, etc. Chronica citada, pag. 754 e segg. de todos, que se encaminhou com elles para o Porto. Ali se apresentou ao bispo D. Vasco, seu conhecido, pois já o havia tractado de uma enfermidade em Lisboa. O bispo reee- beu-os carinhosamente e os recolheu na egreja de Campanhã, junto do Porto, i Ali se installaram, proseguindo com a vi- da penitente que viveram nos Olivaes; o po- vo os estimava muito também, mas em breve . D. Vasco foi transferido para Évora e o cura de Campanhã immediatamente os expulsou da sua egreja. Martim Lourenço retirou-se para uma er- mida dos arrabaldes do Porto, e D. Affonso Nogueira para casa da sua família; — mas o Mestre João ainda não esmoreceu com esta nova contrariedade. Tendo por companheiro unicamente João Rodrigues, marchou para Braga e ali se apresentou ao arcebispo D. Fernando da Guerra; expoz-lhe a sua resolução e as con- trariedades que soffrêra; o arcebispo o at- tendeu e hospedou no seu próprio paço; prometteu-lhe a primeira egreja que vagasse na sua diocese — e cumpriu, pois vagando a egrtja de Villar de Frades, deu-lh'a e n'ella o collou em 1425. A dieta egreja era ao tempo abbadia se- cular, mas tinha sido convento benedictino fundado, segundo se suppoe, pelo venerável arcebispo S. Martinho de Dume, em 566; — foi restaurado em 1070, depois da perdição da Hespanha, por Godinho Viegas, ascen- dente dos Azevedos1 e bisneto de D. Arnal- do de Baião; estavam porem n'aquella data (1425) tanto a egreja como o extincto con- 1 Também no anno de 1104 D. Gotina, fi- lha do 2.° matrimonio de D. Adozinda, mãe de D. Godinho Viegas, fez uma amplíssima doação ao mesmo convento, — e D. Sancho I o coutou e lhe concedeu grandes privilégios a instancias de D. Pedro Salvadores, descen- dente do mesmo D. Godinho, como se lê na chronica da congregação, pag. 363. Foram sempre os Azevedos grandes pro- tectores d'este convento e é por isso que n'elle tiveram muitos privilégios e assento no côro. Ainda hoje (1886) lá se vêem duas cadeiras na ordem superior com as armas dos Azevedos,— uma águia. VIL VIL 1223 vento, em mísero estado;— a egreja reduzida a um pequeno e pobre templo; — o mosteiro a uma easa muito singella — e tudo em ruí- nas; mas o Mestre João gostou do local e da cerca e tudo transformou em praso breve. Deixou era Villar o seu fiel companheiro Joào Rodrigues; foi a Lisboa; chamou os seus antigos congregados, que de prompto se lhe uniram; expoz-lhes a ultima occorren- cia— e logo marcharam com elle para Villar: —D. Affonso Nogueira, Lourenço Annes, Martini Lourenço, Rodrigo Amado, Affonso Pedro e Martim João. Ali renovaram logo os santos exercícios que tão dedicadamente e com tanta abnega- ção haviam iniciado nos Olivaes e Campa- nhã. Discorriam esmolando, pregando e con- fessando pelas terras eircumvisinhas, gran- des e pequenas, incluindo Barcellos, Guima- rães, Braga e Porto. Visitavam as cadeias, confortando os presos e repartindo com el- les tudo o que o povo lhes dava; prégavam nas egrejas, nas praças, nos campos e largos públicos — e o povo corria em montão a ou- vil-os, principalmente quando pregava Mar- tim Lourenço, que era um orador distin- ctissimo. Em breve se espalhou por toda a provín- cia a fama dos bons homens de Villar (as- sim os denominava o povo) e tal era o seu prestigio que as pessoas mais distinctas se lhes curvavam— e dentro em pouco se lhes uniram presbyteros bem collocados, taes fo- ram o chantre da Sé de Braga1 e os abba- des de Calvello 2 S. Paio de Midões e Santa Maria de Goyos, tomando o habito grosseiro 1 Vasco Bodrigues, denominado arcebispo pequeno, por ter sido muitos annos gover- nador do arcebispado de Braga, etc. V. Agiol. Lusit. tomo i.° pag. 452. 1 Gonçalo Dias de Barros, que vivia muito licenciosamente. Era rico e deu aos congregados a sua ab- badia e toda a sua fortuna, sem reservar coisa alguma para si. Tomou o habito,— re- colheu-se ao convento e ali se regenerou acabando santamente. O Mestre João, sendo já bispo de Viseu, foi assistir-lhe aos últimos momentos. Agiol Lusit. tomo 2.» pag. 622. i dos bons homens de Villar e renunciando I n'elles as suas abbadias, com o que a nas- | cente congregação prosperou muito. O Mestre João lhes deu estatutos; vestiam burel ou saragoça; professavam pobresa, castidade e obediência; resavam as horas canónicas em côro; trabalhavam no gran- geio da cerca e nas obras do convento— e viviam santamente em commum, á imitação do Redemptor e dos seus apóstolos e discí- pulos. Em 1429, estando traetado o casamento da infanta D. Isabel, filha do nosso rei D João I, com Philippe, o Bom, duque de Bor- gonha, conde de Flandres, etc, e preparan- do-se a grande armada que a devia condu- zir, D. João I chamou a Lisboa o Mestre João e o seu companheiro dr. Martim Lourenço para acompanharem a infanta. Obedeceram elles e entretanto D. Affonso Nogueira, obti- da licença do Mestre João, seu superior, par- tiu para Boma a visitar os sanctuarios da Itália. Seguiu a infanta, acompanhada por seu irmão o santo infante D. Fernando, pelo Mes- tre João, Martim Lourenço e luzido séquito. Chegaram com feliz viagem a Borgonha; o duque os recebeu com alvoroço; fesiejaram- se os desposorios com grande pompa— e, pas- sados dias, o Mestre João, aproveitando o ensejo, partiu com Martim Lourenço para Roma, a fim de dispor o estabelecimento de- finitivo da sua congregação,— e tudo correu á medida do seu desejo. Achava-se então á frente da cúria romana o cardeal de S. Clemente, Gabriel Condel- mario, que o recebeu e tractou não como pretendente, mas como amigo, depois que reconheceu a illustração e virtudes do Mes- tre João Vicente e soube que pretendia con- solidar uma congregação em tudo semelhan- te á de S. Jorge d' Alga, que elle próprio car- deal havia recentemente fundado em Venesa, sua pátria. Feliz coincidência I O próprio cardeal apresentou o nosso Mes- tre João ao Papa Martinho V que, achando- se já favoravelmente disposto, o recebeu af- 1224 VIL VIL fectuosamente e promelteu deferir, como de- i feriu, apenas recebesse de Portugal as infor- mações que urgentemente pediu ao bispo de Vizeu,— e logo mandou lavrar um breve de confirmação,— em 20 de janeiro de 1431. Mandou o mestre João para Villar o seu companheiro Martini Lourenço com a feliz nova, para animar os seus congregados, não o acompanhando por ter ainda pendentes da cúria certos negócios complementares; sue- cedeu porem que, passado pouco tempo (em 20 de fevereiro de 1431) falleceu o papa Martinho V, sendo rapidamente eleito Dapa no dia 3 de março do mesmo anno o cardeal Gabriel Condelmerio, tomando o nome de Eugénio IV. amigo particular do Mestre João, pelo que o penhorou com finesas de toda a ordem. D. Affonso Nogueira, na sua viagem álta- Jiíi, foi a Venesa ver a Congregação de S. Jorge d' Alga, e tanto sympathisou com ella que trouxe os seus estatutos e um dos hábi- tos d'aquelles congregados. Não sympathisa- ram menos com o dicto instituto e com o habito azul celeste os congregados de Villar e por isso rapidamente escreveram ao Mestre João, que ao tempo ainda se achava em Re- ma, pedindo-lhe que sollicitasse para elles o mesmo habito e a mesma regra dos cóne- gos seculares de S. Jorge. Annuiu o Mestre João promptamente— e promptamente annuiu o novo papa também, por ter sido, como já dissemos, o fundador da congregação d'Alga. Expediu logo novo breve confirmando a congregação, de Villar com o titulo de Cóne- gos seculares de S. Saloador de Villar, com o mesmo habito., a mesma regra e as mes- mas graças, privilégios e indulgências da sua tão querida congregação d'Alga, e a exemplou da jurisdicção dos arcebispos bra- carenses, declarando-a immediata á Santa Sé;— nomeou o Mestre João prelado perpe- tuo da mesma congregação com poderes de núncio apostólico, relativamente aos negó- cios d'ella,— e, vagando por essa occasião a mitra de Lamego, deu-lh*a. Alem d'isso, na despedida deu-lhe por sua própria mão também o habito azul dos seus congregados. Retirou se o Mestre João, confundido e satisfeitíssimo I Foi recebido com alvoroço pelos seus companheiros de Villar; — lan- çou-lhes a todos o habito azul; — deu lhes constituições; — fez eleger novo prelado— e em 1432 ou 1433 recolheu se á sua diocese de Lamego, da qual em 1440, muito contra a sua vontade, foi transferido para a de Vizeu, onde expirou com opinião de santo, em 30 d'agosto de 1463, contando 83 annos de idade. Foi um bispo modelo, denominado bispo azul, porque nunca deixou o habito azul dos seus cónegos. Foi este convento de Villar o 1.° convento e a 1." séde da congregação;— o 2.° foi o de Recião, junto de Lamego;— o 3.° foi o de Santo Eloy, em Lisboa, para onde transfe- riram a séde da congregação e do qual lhes proveiu o titulo de Loyos. Tiveram estes congregados diversos no- mes:—o 1.°, dado pelo povo, foi o de Begui- nos 1 ou Bons homens de Villar;— o 2.° foi o de Congregados de S. Salvador, dado por Martinho V;— o 3.° foi o de Cónegos secula- res de S. Salvador, dado por Euçenio IV, a pedido do Mestre João;— o 4.° foi o de Có- negos seculares de S. João Evangelista, dado por Pio II, a instancias d'el-rei D. Affonso V e de sua mulher a rainha D. Isabel, por ter particular devoção com o Evangelista, — e o 5.° e ultimo foi o de Loyos. Quando a nova congregação, em virtude do breve de Eugénio IV, se julgava mais 1 No século xm denominavam-se beguinos os religiosos leigos ou conversos de S. Do- mingos e S. Francisco, que se sustenta- vam de esmolas. Houve muitos institutos de beguinos e de beguinas em toda a Europa e na Hespanha. A principio viveram santa- mente, mas com o tempo degeneraram, — foram extinctos— e alguns queimados pelos inquisidores. Em Portugal tiveram o nome de beguinos apenas os eremitas da serra d'Ossa e os bons homens de Villar. É muito digno de ler-se sobre o assumpto o que se encontra no Elucidário de Viterbo sob a palavra— Biguinos. VIL tranquilla, nomeadamente por se ver exem- I pta da jurisdicção do ordinário, maiores tri- | bulações a envolveram. O arcebispo D. Fernando da Guerra de- clarou-lhes guerra d'exterminio e tentou ex- pulsal-os da sua diocese, tachando-os de in- gratos aos muitos benefícios que lhes havia dispensado. Julgou uma affronta o irem sollicitar do Papa a exempção; cortou relações com el- les; — não deu cumprimento ao breve — e in- timou-lhes mandado de despejo. Seguiu-se porfiada lucta, em que o arce- bispo empenhou todo o seu alto valimento e, como elles não cedessem, aineaçou-os com a força. Valeu-lhes em tão negra conjunclura a decidida protecção de D, Affonso J, duque de Bragança, que então vivia no seu palácio de Barcellos e que os amava como filhos. JNão só tomou a seu cargo todas as despe- zas do pleito, que durou annos, mas empe- nhou também todo o seu valimento era fa- vor dos seus bons homens e contra o pode- roso arcebispo. Escreveu lhe varias cartas exprobando- lhe a duresa com que tractava os pobres congregados e em uma, entre outras coisas, lhe disse: — que ao pontífice e não a elle cum- pria resolver a pendência; — que era impró- prio d' um prelado soccorrer-se ao direito da força — e que, se persistisse em levar por diante as ameaças, elle duque lhe certificava que o acharia no convento de Villar em pes- soa, disposto a perder a vida em defesa dos congregados. O arcebispo hesitou, mas um bello dia re- solveu-se a marchar em som de guerra pes- soalmente com os seus belleguins, archeiros e homens d'armas contra Villar. Prevenido o duque D. Affonso, armou logo todos os seus criados e grande numero de vassallos, — correu em defesa dos seus bons homens— e, apenas ehegou ao convento, man- dou por um mensageiro dizer ao arcebispo — que, se não voltasse immediatamente para i Braga, lhe poria na cabeça em logar da mi- J tra um capacete de feiro, ardendo em fogo, \ visto elle se fazer soldado, sendo arcebispo. I O arcebispo retrocedeu;— depois veiu a I VIL 1225 um accordo e lhes dispensou grandes favo- res. O convento Os congregados transformaram completa- mente o mesquinho cenóbio dos bentos, ve- nerando pela tua antiguidade. Ainda encontraram na cerca pinheiros e castanheiros gigantescos de corpulência tal que, tentando mandar para o Porto o tronco de uma d'aquellas arvores, tiveram de desis- tir, por serem necessar.as 24 juntas para a conducção. Tres homens com os braços abertos não abraçavam o tronco d'alguns pinheiros. Embellesaram muito a cerca, abrindo di- versas ruas orladas de flores e arbustos, e enchendoa de capellas, revestidas de con- chas e mosaicos, destacando-se entre todas a do Presépio— e a do Passarinho. Esta ultima foi feita pelos congregados no sitio onde, segundo dizem as chronicas e a tradição, esteve um abbade santo, da ordem dos bentos, extactico cento e tantos annos, sem ser visto de ninguém, absorto pelo can- tar de um passarinho, até que, voltando a si e ao convento, o encontrou completamento transformado e habitado não por monges bentos, mas pelos cónegos d'habito azul. Elles o reeeberam com assombro;— con- tou-lhes tudo — e poucos dias depois falle- ceu I . . . A dieta capella foi demolida pelo 1.° dono d'este convento— Balthasar José Martins, — muito depois da exlincção das ordens reli- giosas. Em 1697 o convento compunha-se de 4- dormitórios:— um a leste, outro ao sul, ou- tro ao poente, outro, então denominado o novo, sobre o terreiro dos Cab«daes, — e em correspondência com elle se propunham fa- zer outro, cujos alicerces já estavam aber- tos. Da portaria até o projectado dormitório também já tinham feito cinco arcos mages- tosos e a meio d'elles um grande pórtico, encimado por um nicho com a estatua do Mestre João, com mitra e bago. O chão do claustro era todo coberto de 1226 VIL lisonja? de jaspe e no meio tinha um grande chafariz de 2 taças com 4 bicas em cada uma. A livraria era uma bella casa, que tam- bém servia d'aula, e tão espaçosa que n'ella se celebraram capítulos geraes;— e pelo in- terior do convento corria uma levada que movia 2 azenhas K No convento viviam ordinariamente 60 cónegos e numero quasi egual de criados e serviçaes, eomprehendendo pedreiros, car- pinteiros, ferreiros, sapateiros e alfaiates para serviço da casa, por estar em sitio ermo. Tinham também os cónegos nas immedia- ções do convento 3 quintas:— a de S. Mar- tinho, a do Quintorio e a de Manhente,—e no Tio, ao fundo da cerca, varias azenhas, uma barca de passagem e engenhos para caçar peixes:— salmões, relhos, trutas e lampreias, —sendo o rio coutado, desde Barcellos até o poço do Lago, que tinha 18 braças d'al- tura, — diz a chronica 2. Não sabemos que obras se fizeram no convento desde 1697, mas sabemos que, ape- sar do vandalismo que pesou sobre todos os do nosso paiz, em seguida á extincção das ordens religiosas, o edifício é espaçoso e fe- lizmente está bem conservado ainda. Tem o aspecto d'um grande palácio qua- drangular, com extensos dormitórios, cente- nares de cellas e um soberbo refeitório, que foi ladrilhado com grandes pedras de gra- nito, hoje empregadas em eiras dos lavrado- res circumvisinhos. Tem interiormente umacapella muito ele- gante, muito bem tractada ainda e ornada com riquíssimos painéis. 1 N'esta data (agosto de 1886) a camará de Barcellos tracta de organisar uma biblio- theca municipal com alguns milhares de vo- lumes que pertenceram á livraria d'este con- vento e que a dieta camará linha amontoa- dos, cobertos de pó e roidos do caruncho, «m uma sala escura, posto que a maior parte desappareceu com o grande cataclismo da extincção das ordens religiosas. Acordou tarde, mas antas tarde do que nunca. 2 O Cavado foi outr'ora navegável até aqui —segundo se lê nas Memorias tfArgote, vol. %° pag. 529. VIL Extinctas as ordens religiosas, foi este convento comprado pelo rico negociante do Porto, Balthasar José Martins, que por sua morte o deixou á Misericórdia do Porto e esta depois o vendeu á ex.ma sr.a D. Marga- rida Alves, viuva, também do Portp, por quantia relativamente baixa, ficando -lhe o metro quadrado a 40 réis approximadamen- te, eomprehendendo o convento. É hoje dos filhos e herdeiros da dieta se- nhora—Joaquim Domingos Ferreira Car- doso e José Domingos Ferreira Cardoso,— que (honra lhes sejal) teem o edifício muito bem reparado e a grande cerca muito bem agricultada. A cerca é fertilissima; tem talvez 6 kilo- metros de circumfereneia;— é toda murada e banhada por um ribeiro que nasce na pró- xima freguezia de Martim,— vai engrossan- do com diversos arroios,— passa na fregue- zia de Encourados, cujos lavradores, por contracto muito antigo, se utilisam da agua d'elle em certos dias no verão --e desagua no Cavado. A cerca produz 30 a 40 pipas de vinho ver(je —40 a 50 carros de milho,— muito feijão, muita fructa e muitos melões espe- ciaes pelo seu particular sabor e grandesa. Bivalisam com os da freguezia da Pousa, que são considerados os melhores do Minho, posto que em vários chãos d'esta freguezia de Areias de Villar e da de Encourados se colhem melões eguaes aos da freguezia da Pousa. São também pertença d'esta grande quinta 3 azenhas no Cavado, 1 engenho de maçar linho e 3 engenhos de pesca, onde caçam muitas lampreias e alguns salmões. Entre os muitos melhoramentos que esta grande quinta recebeu dos seus actuaes pro- prietários, merece menção uma bella estra- da que a poz em communícação com a es- trada a macadam de Braga a Barcellos, que passa a pequena distancia. A egreja Posto que este artigo vai tão longo, não podemos deixar de offerecer aos leitores um esboceto d'esta egreja, pois é pela sua archi- VIL vil m tectura, dimensão e tradições um dos tem- plos mais notáveis do nosso paiz. É toda de granito porphroide do moDte da Penida, que atravessa esta parochia, — o gra- nito melhor d'esta província, tão alvo e fino que parece mármore. Sustenta vantajosa- í mente o confronto com o granito de S. Gens, nos arrabaldes do Porto, e com o de S. Do- mingos, nos arrabaldes de Lamego. D'ali foi a pedra para o pedestal da memoria de D. Pedro V e para outras obras de Braga, posto que o dicto monte está a 11 kilometros de distancia. A egreja olha para o poente e ladeiam-lhe a fronteria 2 grandes torres, uma ainda in- completa e a outra com bons sinos e relógio, occupando cada uma cerca de 36 metros quadrados de terreno, afora as paredesl... Entra-se para ella, como para a dos ben- tos, no Porto, por um espaçoso átrio, sobre o qual está o grande côro;— seguem-se o corpo da egreja, o cruzeiro e a capella-mór, descrevendo no seu todo a forma da cruz la- tina. Tem de comprimento o átrio até á porta principal 8m,90;— d'ali até o cruzeiro, inclu- sivé, 28->,80;— do cruzeiro até o altar da ca- pella-mór 24m,67— e d'ali até á extremidade do templo 5 metros, sendo por consequên- cia o seu comprimento total 67m,37. De largo tem 40 metros até á capella-mór — e esta 20 metros,— sendo de uma só nave e de estylo golhico. A parte mais custosa e mais notável d'este grande templo é o tecto, todo de abobada de granito finíssimo, primorosamente trabalha- do. A abobada ébastante abatida eparece sus- tentada por uma infinidade d^arcos que se ramificam e cruzam, formando uma grande rede, sobresaindo nos pontos de intersecção e em outros, pedras lavradas e circulares, á maneira de estrellas. É tão alta, que nas paredes laterae3 tem ! duas ordens de frestas,— 6 por cada lado. j Ignora-se quando foi feita, mas, pelo que se lé na chroniea da ordem, é com certesa anterior a 1697, data era que o chronista es- creveu; tinha porém n'aquelle tempo maior numero d'altares,— ao todo 15,— emquanto que hoje tem apenas 10. A chroniea diz que tinha no cruzeiro 4 altares, em quanto que hoje tem só 3,— e que tinha no corpo da egreja 10 altares, em- quanto que hoje tem apenas 6. Foi feita no tempo do benemérito arcebis- po, de Braga D. Diogo de Sousa (1505 a 1532) ao qual se deve a capella-mór. . O côro tem 12 melros de comprimento,— 9«,10 de largura,— 52 cadeiras em duas or- dens,—uma balaustrada para o lado interior — e para o lado exterior uma grande sacada, encimada por uma fresta— e 2 janellas aos lados. Tem um órgão magnifico de força de 24, com 16 registros para a mão direita e 14 para a esquerda. Já em 1697 dizia d'elle o chronista: the o órgão melhor da Hespanha e contam os nos- sos velhos, que da Igreja de Santiago de Ga- liza se mandou offerecer por elle quanto os Padres pedissem. Foi obrado por certo ho- mem insigne n'aquella arte, chamado Mes- tre Lobo.* Logo que se entra na egreja pela porta principal, vé-se á esquerda o baptistério em um vão coberto de abobada e n'elle a pia baptismal, muito bem lavrada. Do lado op- posto ha um vão igual com porta para o claustro, que os frades não concluíram. Serve actualmente de cemitério o seu chão — e no pavimento superior está a residên- cia parochial. Em seguida áquelles 2 vãos estão 3 ca- pellas de cada lado, todas de abobada de pe- dra e com as paredes forradas de azulejo. Em frente da 1.»— ao lado esquerdo de quem entra,— vé-se no pavimento da egreja a inscripção seguinte: S.a de Manuel Lo- pes LOVREIRO DA FREG.» DE MOVRE PARA ELLE E SEUS DESCENDENTES 1762 Na 2.* capella se vê no azulejo da parede do lado do evangelho: D. Antonio Corari. Cardeal. Ostient. nepote. 1228 VIL VIL do S.m° P." Gregorio 12 Q POR SVA MVITA. VIRTVDE. E SANTID.e DEI XOV O PALACIO DE ROMA. E SE METEO NA NOSSA CONGREGAÇÃO E no azulejo do lado opposto: O P. Afonso. Nogeira. hvm dos n. P.06 fvndadores. o qval foi a Roma. e al- CANCOV. O HABITO. DE QVE HOJE VZAMOS. DIVINAL. MENTE. dado. pela. Virgem. M.a S. Nossa, e nossas constitvisois. bp.° de Coimbra, e arcebp.0 de Lisboa. Junto das dietas inscripeões estão pinta- das no azulejo as figuras dos indivíduos, a quem ellas se referem;— e o mesmo se dá nas outras capellas. Na 3.» se lô no azulejo, do lado da epis- tola: O. V. P. Antonio da Con- ceição. N.al DA VILLA. DO PONBAL. QUE. SERVIA A NOSO. SNOR. NESTA. SA- GRADA. CONGREGAÇÃO. POR ESPAÇO. DE 50 ANNOS. FANECEO. DE IDADE. DE 80 AN." a 12. DE MAIO. de 1602. Está sepvltado no convt.0 de s. bento. de Xabregas. No azulejo do lado opposto se lè: O. P. João. Roiz. 2.° ge RAL DESTA CONGREGAÇÃO. QVE. NÃO ASEIT0V. O BD.° DE Co- 1NBRA. POR SVA MT.» HU MILDADE. SENDO. PROMOVIDO. NELE. POR EL REI. D. AFONSO. 5. DE QVEM HERA. CONFESOR. e da Rainha. D. Izabel. SVA MOLHER. Passemos agora para o outro lado da egreja. A 1.» capella, entrando, pertence á fami- i lia Magalhães, de Barcellos, e tem no centro uma sepultura com a inscripção seguinte: S.a de Diogo de Villas Boas Caminha e sevs svcesores deste morgado 1645. Na 2." capella se lô no azulejo do lado da epistola: Noso. P. S. Lovuenso ívstiniano. patriarca. de Veneza, hvm dos n0sos fvndadores de s. Jorge, em Alga. em Itália. Na parede do lado opposto se lê o se- guinte: . Gregorio. 12. svmmo Pontífice, chamado, an tes angel0cotes. hv, dos P.os FVNDADORES. DA NOSSA. CONGREGAÇÃO. DE S.- JORGE DALGA. EM VENEZA. A 3." capella d'este lado é em tudo seme- lante ás outras— e, nas paredes que separam do cruzeiro as duas mais próximas, estão es- cadas de pedra, por onde se sobe para os dois púlpitos, que são revestidos de boa ta- lha dourada e ficam em frente um do outro. Nas extremidades lateraes do cruzeiro se vê da parte do evangelho a capella do San- tíssimo—e do lado da epistola uma porta que dá para a sacristia, para o claustro (hoje cemitério) e para a residência parochial. No mesmo cruzeiro se vêem mais 2 alta- res ainda, voltados para o corpo da egreja, aos lados da entrada para a capella-mór; e no vão do cruzeiro se encontram diversas se- pulturas com inscripções muito gastas. Ape- nas podem ler-se as seguintes : 1.» Aqvi ias HO CORPO DO BISPO Falecev em Braga AOS 6 DE 7B.ro DE 1596 VIL VIL 1229 2.» S.a de Dona Christi na da Gama Prado mulher qve foi de bel- CHIOR Riscado de Ro- A capella-mór tem de cada lado 3 gran- des frestas envidraçadas e 4 grandes painéis, dois dos quaes estão completamente apaga- dos. Tem mais 2 ordens de assentos para o clero — e estantes na ordem superior. A sacristia, elegante e com muita luz, é primorosamente estucada e ladrilhada com lusangos de lousa preta e branca, em xadrez. Tem de comprimento 13m,20;— de largura 7m,91;— 4 grandes frestas á esquerda de quem entra, e do lado opposto 4 grandes telas re- presentando os 4 evangelistas. Teve também de cada lado 3 grandes espelhos, — ao todo 6; mas hoje tem só 2, aehando-se os restan- tes a ornar casas particulares?!... Tem mais dois grandes gavetões ao longo das paredes, cobertos por duas enormes tá- buas, medindo uma 9m,76 de comprimento e 0m,93 de largura, — e a outra 9ra,33 de com- primento e 0m,98 de largo. Ao fundo tem um altar com esta inscri- pção: Peobet autem se ipsum ho- mo: ET SIC DE PANE ILLO EDAT, ET DE CÁLICE BIBAT. S. Paulo ad Cor. Ú, 28. Já em 1679 tinha esta egreja muitas relí- quias e muita prata, avultando 3 lampadá- rios da capella-mór, sendo o do meio como o mais alto homem (diz a chronica) — muitos castiçaes, thuribulos, navetas, pixides, go- mis, tocheiros, custodias e cruzes, entre el- las uma de tamanho descommunal — e «em todas estas peças, sendo de prata fina, e an- tiga (já em 1697, diz a chronica) he sem du- vida mais preciosa a obra, que a matéria.»1 1 Possuia também esta egreja o cálix e a patena com que o arcebispo S. Geraldo di- zia missa. O cálix tinha em volta as figuras e os nomes dos dose apóstolos— e a patena o Agnus Dei. VOLUME XI Tudo se evaporou, não sabemos quan- do!... N'esta egreja repousavam também já em 1697 muitas pessoss da nossa primeira no- bresa, taes eram as seguintes: — D. Godinho Viegas e sua mulher D. Maria Soares; D. Pe- dro Salvadores e sua mulher D. Sancha Mar- tins, Nuno Aranha, alcaide-mór de Pombal, sobrinho do arcebispo D. Diogo de Sousa; D. Theresa de Mendonça e seus descenden- tes; D. Leonor de Lemos e seu sobrinho Fer- não Pereira, senhor d'Angeja; Diogo Lopes Homem, commendador de S. Romão; Gaspar Pereira e sua mulher D. Angela de Sá; Diogo Correia, da casa de Farelães, descendente de D. Paio Peres Correia, e outros muitos fidal- gos d'aquella nobilíssima casa; Joanne o Po- bre e o abbade santo, etc. Quem pretender mais noticias da congre- gação, do convento e da egreja de Villar de Frades, leia a Benedictina Lusitana, tom. i.° pag. 316 a 320, — e a chronica Ceo aOerto na Terra, pag. 209 a 401,— e 551 a 656. Uma das grandes vantagens que offerecia esta congregação era o egresso e regresso, como por vezes nos disse o sr. D. José de Moura Coutinho, benemérito bispo de La- mego (V. Telho) que foi cónego secular de S. João Evangelista, ou padre loijo, no con- vento de Santa Cruz d'aquella cidade. Se os dictos cónegos necessitassem de sair do seu convento por qualquer motivo justo, como saiu o sr. D. José de Moura Coutinho para occupar o logar de deão e depois o de bispo d'aquella cidade, podiam regressar quando muito bem lhes approuvesse,— dado que não tivessem commettido certa ordem de faltas. Rectificações Como já dissemos em Villar d' Areias, e no principio d'este artigo Villar de Frades, o meu benemérito antecessor foi muito infeliz no tópico Areias. N'elle se encontram lapsos de paginação, d'alphabetação e de redacção, alguns dos quaeâ elle reconheceu e deixou indicados, para os reparar no supplemento. Os typographos, — não sabemos porque fa- talidade,—repetiram a numeração da pagina 78 1230 VIL VIL 238 do 1.° vol. (Vide) nada menos de 48 ve- zes, com o addicionamento das 24 lettras do nosso alphabeto, desde A a Z, primeiramente singellas e depois dobradas, — comprehen- dendo na dieta serie o tópico Areias. Foi esta a 1.» infelicidade; seguiu-se-lhe logo a da alphabetação, ficando Areia e Areias antes de Arega e Aregos, devendo fi- ear depois d'estes últimos 2 artigos. Agora a 3.» desgraça: Havendo no concelho de Barcellos 2 fre- guezias com o nome de Areias, — a de S. Vi- cente—e a de S. João e Santa Maria Magda- lena de Areias de Villar, que nós descreve- mos sob o titulo Villar de Frades, — o meu benemérito antecessor deu ao concelho de Barcellos apenas uma, — a de S. Vicente de Areias (pag. 238— F— col. 1.») confundindo-a com a de S. Thiago d' Areias, na margem di- reita do Ave, concelho de Santo Thyrso, (V.) em quanto que a de S. Vicente $ Areias, concelho de Barcellos, está na margem di- reita do Cavado. Dê-se pois áquelle artigo a epigraphe se- guinte : Areias, freguezia do concelho e comarca de Santo Thyrso, districto do Porto, diocese de Braga *, na província do Douro. Abbadia. Orago S. Thiago;— fog03 142, — habitantes 513 K Demora na margem direita, do Ave—e a sua egreja parochial dista de Santo Thyrso 3 kilometros para N.,— 34 do Porto, pela li- nha férrea de Guimarães,— e 371 de Lisboa. 1 Pela ultima circumscripção diocesana, feita em 1882, das 32 freguezias que hoje constituem o concelho de Santo Thyrso, fi- caram pertencendo à diocese de Braga ape- nas 5: — esta de S. Thiago de Areias, a de S. Miguel d' Aves, a de S. Miguel de Lamas, a de Santa Eulália da Palmeira e a de S. Mar- tinho de Sequeiro. As 27 restantes ficaram pertencendo ao bispado do Porto. V. Villarinho, freguezia do concelho de Santo Thyrso. 2 Esta freguezia é a que o meu antecessor descreveu a pag. 238— E, — col. 1.* in prin- cipio. Fica assim rectificado também aquelle ar- tigo. Tudo o mais que se lê n'aquelle artigo pó- VILLAR DE LAGOANÇA,— ou simples- mente Lagoança. Assim se denominava no século xm a fre- guezia de Lagoaça, concelho de Freixo de Espada á Cinta, quando D. Diniz lhe deu fo- ral, no dia 26 d'abril de 1286. V. Lagoaça. VILLAR DE LEDRA,— freguezia extincta, que em 1706 pertencia ao termo da villa e concelho de Mirandella, comarca da Torre de Moncorvo, província de Traz-os-Montes. Contava então 30 fogos, uma capella e cinco fontes; — era da apresentação do reitor de Mascarenhas e fazia parte da commenda d'este nome. Em 1768 era ainda curato da mesma apresentação; pertencia á mesma commenda e á diocese de Miranda (hoje Miranda e Bragança);— tinha como orago S. Miguel; — rendia para o seu cura i0#500 réis, alem do pé d'altar, — e contava 34 fogos. Mais tarde foi reunida á freguezia de Car- valhaes (V. vol. 2.6 pag. 132, col. 1.*— e hoje está unida com a de Carvalhaes á de Nossa Senhora da Encarnação da villa de Miran- della, concelho e comarca d'este nome, dis- de ficar, — exceptuando as ultimas 4 linhas, que pertencem á freguezia de Areias, orago S. Vicente, concelho de Barcellos, a qual o meu antecessor descreveu a pag. 238—-E, — dando a como pertencente ao concelho do Prado, extincto ha muito. Demora ella na margem direita do Cava- do e tem por freguezia limitrophe a de Ma- nhente, mas não está annexada a ella. São ambas autouomas e fronteiras á de S. Sal- vador de Villar de Frades, mettendo-se de permeio só o rio. A mencionada freguezia de S. Vicente de Areias, concelho de Barcellos, conta hoje 82 fogos e 370 habitantes. Note-se também que o monte de Penide ou da Penida não está n'esta parochia de S. Vicente d'Areias, como disse o meu anteces- sor,— mas na de S. João d' Areias de Villar, ou de S. Salvador de Villar de Frades, na outra margem do Cavado como já dissemos. Ficam assim rectificados aquelles 3 arti- gos. Finalmente com relação ao artigo Areias (S. João de) pag. 238 — F — col. 2.*, veja- se também o artigo João (S.) d" Areias, vol. 3.° pag. 412, col. 2.» VIL VIL 1231 tricto e diocese de Bragança, em Traz os Montes. A extincta egreja matriz de S. Miguel de "Villar de Ledra dista 5 a 6 kilometros da villa de Miraodella para N. E.— e outros 5 kilometros da estrada real a macadam de Mirandella a Bragança, para N. As producções dominantes da extincta parochia sãó:— azeite, cereaes, vinho bom de mesa e lã, pois cria bastante gado lanígero. O seu terreno ó fértil e cria também muita caça. Note-se que esta parochia extincta de Villar de Ledra, nenhuma relação tem com a de Fornos de Ledra, também hoje extincta, da qual se fallou no vol. 3.° pag. 219, col. i.a e havemos de faltar mais detidamente no supplemento, porque está ali um dos dois importantes recolhimentos de Oblatas do Me- nino Jesus, fundados pelo benemérito bispo D. Antonio Luiz da Veiga Cabral e Cama- ra 1. Villar de Ledra pertence, como Já disse- mos, ao concelho e comarca de Mirandella, — e Fornos de Ledra pertence ao concelho e comarca de Macedo de Cavalleiros,— distan- do as duas povoações uma da outra cerca de 17 kilometros. Parece que ambas as freguczias tomaram o nome de uma povoação denominada Le- dra, mas hoje na província de Traz-os-Mon- tes não ha memoria de tal povoação I. . . 2 Ao meu venerando amigo, o sr. Emiliano Antonio de Sousa, de Vinhaes, agradeço os apontamentos que se dignou enviar-me. Segundo se lé na Chorographia Moderna, também foram unidas á mencionada fregue- 1 V. Villa Verde, freguezia do concelho e comarca de Mirandella, vol. X, pag. 1097, col. 1 » e seg. 2 Nos princípios da nossa monarchia de- nominou-se Laedra um districto ou territó- rio importante da província de Traz-os-Mon- tes, o qual demorava entre Bragança e Mi- randella, segundo se lé na Hist. de Port. de Alexandre Herculano, vol. 2.* pag. 427. Áquelle districto de Laedra pertenciam Fornos de Ledra e Villar de Ledra. zia de Carvalhaes as freguezias de Villa Nova e Contins. V. Villa Nova, (a !.«) n'este diccionario, vol. ti,» pag. 799, col. 2.» Representava pois 4 freguezias a de Car- valhaes, hoje unida á de Mirandella— e esta ficou representando cinco; mas, como já se lhe haviam unido ha muito os curatos de Bronceda, Chellas, Freixedinha e Val de Ma- deiro, que foram parochias independentes, representa hoje a freguezia e villa de Miran- della—pelo menos— dei freguezias ! Este bispado de Bragança é um Iabyrin- tho para os chorographos, como já dissemos e provámos n'este vol. XI, pag. 1099, col. 2. 8 VILLAR DA LOMBA,— freguezia do con- celho e comarca de Vinhaes, districto e dio- cese de Bragança, província de Traz-os-Mon- tes. Reitoria. Orago — Santo André, apostolo; — fogos (com a de S. Jomil, sua annexa) 160,— ha- bitantes 680. Esta parochia é relativamente moderna. Foi criada pelos annos de 1840 sobre a al- deia de Villar, que era da freguezia de S. Jo- mil, hoje d'este concelho de Vinhaes, mas pertencia ao concelho de Sanlalha, extincto por decreto de 31 de dezembro de 1853, pelo qual passou para o de Vinhaes, bem como esta freguezia de Villar de Lomba. Do exposto se vê o motivo por que esta parochia de Villar da Lomba não se encon- tra na Chorographia Portugueza, — nem no Port. S. e Profano. O censo de 1864 deulhe 92 fogos e 421 habitantes, — e o de 1878 deu-lhe 96 fogos e 415 habitantes. Tem hoje annexa a freguezia de S. Jomil, orago S. Pedro, á qual o censo de 1878 deu 50 fog03 e 218 habitantes. V. Jomil (S.) vol. 3.° pag. 419, col. 1.» Representa pois esta freguezia 2, forma- das por 2 povoações, — Villar da Lomba e S. Jomil, as quaes até 1840 formavam a fregue- zia de S. Jomil. Também hoje tem annexa administrativa- mente a povoação de Ferreiros, que pertence ecclesiasticamente á freguezia de Edral. Vide. 1232 VIL VIL Junte-se este meandro ao labyrintho das freguezias d'este bispado. Demora esta freguezia de Villar da Lomba e S. Jomil na margem esquerda do rio Men- te, que desagua no Rabaçal,— este no Tua— e o Tua no Douro. A matriz de Villar da Lomba dista do rio Mente 2 kilometros, paraE.; — 3 da margem direita do Rabaçal, para 0.; — 5 da confluên- cia do Mente com o Rabaçal, para N.;— 7 da raia de Hespanha, aqui formada pela fregue- zia de Villar Secco da Lomba,— e 20 de Vi- nhaes, para O. ProducçÕes dominantes: — cereaes de pra- gana, batatas, castanhas e algum azeite. Também produziu em quantidade vinho de mesa, do melhor d'este concelho, mas hoje pouco vinho produz, depois que a invasão phylloxerica destroçou os vinhedos da maior parte d'esta província e que eram a princi- pal riqueza d'ella K Os d'esta freguezia e d'este concelho eram exportados para a Hespanha, ou reduzidos a óptima aguardente, que ia para o Porto. Também é mimosa de peixe dos dois rios que a banham— e nos seus montes se cria muita caça grossa e miúda: — perdizes, coe- lhos, raposas, lobos e javalis. Ao sr. Emiliano Antonio de Sousa, de Vi- nhaes, agradeço os apontamentos que se di- gnou enviar-me. VILLAR DE MAÇADA, — villa exlincta, hoje simples freguezia do concelho e comar- ca d'Alijó, districto de Villa Real, diocese de Lamego, província de Traz-os-Montes. Reitoria. Orago Nossa Senhora da Conceição, — se- gundo se lê no Mappa das Novas Dioceses, publicado em 1882, mas a Chorog. Port. deu- Ihe como orago Santa Maria ,— o Port. S. e Profano deu-lhe como orago Nossa Senhora da Assumpção. O mesmo orago lhe deram Bettencourt e Almeida. Fogos 480,— habitantes 2:100. Em 1706 era vigairaria collada, annexa á 1 V. Villa Flor e Villa Real de lraz-os- Montes,— Villarinho de Cotias e Villarinho de S. Romão. reitoria de Tres Minas; — pertencia ao termo do concelho e ouvidoria de Villa Real, pro- vedoria de Lamego — e contava 230 fogos. Em 1768 era vigairaria da mesma apre- sentação do reitor de Tres Minas, — rendia para o seu vigário 50$000 réis, alem do pé d'altar — e contava 309 fogos. O censo de 1864 deu-lhe 445 fogos e 1788 habitantes— e o de 1878 deu-lhe 472 fogos e 1:854 habitantes. Foi villa e séde de concelho extincto por decreto de 31 de dezembro de 1853, pelo qual passou para o de Alijó. Ha n'este concelho hoje 4 freguezias muito importantes: — Sanfins do Douro, Favaios, Alijó e esta de Villar de Maçadarsendo a de Sanfins a mais populosa e hoje absoluta- mente a mais rica d'este concelho e d'esta comarca, pois conta cerca de 540 fogos com 2:400 habitantes; — colhe muito azeite, mui- tos cereaes e batatas, e ainda no ultimo anno de 1885 produziu cerca de 2:000 pipas de vinho, — mais vinho do que nenhuma das freguezias de ambas as margens do Alto Douro ! . . . Alem d'isso não tem casas nobres. A sua propriedade está muito dividida e muito bem agricultada; — os seus habitantes vivem sem fausto,— são muito laboriosos, muito trabalhadores e exploram em grande escala a industria de carrejões de vinho e aguar- dente em carros tirados por bois, no que empregam mais de 50 juntas e apuram muito dinheiro. E são elles ha muito de pelle diabi, — a gente mais desordeira de todo o Alto- Douro ! . . . Por vezes tem ido armados insultar e pro- vocar as villas circumvisinhas:— Favaios, Provezende, Sabrosa e Alijó, trocando fogo com ellas e havendo ferimentos e mortes!... Ainda no anno ultimo, — 1885,— porque o redactor do Correio d' Alijó, com aprumos de livre pensador, os metteu a ridículo e cha- mou estúpidos e fanáticos, por elles venera- rem como santo um seu visinho que falle- ceu em Braga e foi moleiro, — um bello dia foram ás 10 horas da noite armados e em grande bando procurar o dicto redactor na sua própria casa, a meio da villa d' Alijó, hoje a séde d'este concelho e d'esta cornar- VIL VIL 1233 ca, dispostos a tirar-lhe a vida, valendo-lhe o não o encontrarem em casa nem no bilhar da villa, onde o procuraram também 1... Com os taes meus amigos ninguém brinca no Alto Douro. Brincou o redactor,— mas ia pagando com a vida a brincadeira t . . . Desculpem-nos a digressão. Demora Villar de Maçada na margem es- querda do rio Pinhão, do qual a sua matriz distará 1 kilometro;— 10 de Sabrosa para N.; — li de Favaios, para N. O.;— 14 de Alijó; — 24 da estação de Pinhão (a mais próxima) na linha férrea do Douro; — 32 de Villa Real; —151 do Porto— e 488 de Lisboa. Além da povoação de Villar de Maçada, a sede da egreja matriz, eomprehende as al- deias seguintes:— Cabeda, Sanradella, For- mestes e Francellos; — a quinta do Rio, na margem esquerda do Pinhão e que é do pa- dre Antonio do Rio, e a de Fornos, que foi da família Passos Pimenteis e é hoje de D. Emilia Passos Pimentel e de seu marido, eujo nome ignoro. Além d'estas, que são as principaes, eom- prehende outras muitas. A Chorogr. Mod. menciona as seguintes: — Ribeira, Tojaes, Marinha, Moura, Banha, Ranginha, Braga, Justes, Boa Vista e Tenraes. Producções dominantes: — vinho, casta- nhas, balatas, cereaes e azeite. O vinho era a sua producção principal, mas infelizmente a phylloxera e os outros muitos inimigos das videiras que assolam no momento o nosso paiz, nomeadamente o Alto Douro, teem causado já também gran- des prejuízos nos vinhedos d'esta parochia e d'esta província todal Pelo arrolamento official da exiincta Com- panhia dos Vinhos do Alto Douro, relativo ao anno de 1840, produziu esta freguezia 818 pipas,— e a tal de Sanfins 2:174. Bom tempo era esse 1 Freguezias limitrophes:— Villa Verde, S. Lourenço, Parada de Pinhão e Sanfins do Douro. A povoação de Villar de Maçada é grande e bonita— e tem muitas casas nobres, entre as quaes avultam as seguintes: Da família Pizarros, hoje unida aos Portocarreiros do palácio da Bandeirinha no Porto, actualmente representada pela viuva e filhos de João Pinto Pizarro da Cunha Por- tocarreiro, que falleceu em Coimbra no anno do 1885 e jaz no mauzoleu da sua família no cemitério oriental do Porto. V. Miragaya, yol. 5.° pag. 271, col. 2.»— e Porto, vol. 7.° pag. 519 a 525. Se o palácio das Sereias^ ou da Bandeiri- nha, ó um dos mais notáveis do Porto, o que esta nobre família aqui possue é talvez maior,— está muito bem tractado e bem con- servado,— tem uma linda capella,— bons jar- dins e uma cerca espaçosa, que é uma gran- de quinta. Comprehende bellos campos re- gadios e muito férteis, muito arvoredo fru- ctifero e grandes vinhedos. Contíguos a este palacete e a esta quinta estavam o palacete e a quinta que foram dos morgados de Villar de Perdizes, com uma linda capella, denominada Capella de Bor- ba, o que tudo passou por compra para os Pizarros Portocarreiros e forma uma das melhores vivendas da província. Só uma vinha, que está junta aos dois pa- lacetes tem produzido alguns annos 50 pi- pas de vinho ! . . . A capella mencionada é de custosa archi- tectura e tem um lindo retábulo de talha dourada. Ambos estes palacetes são brasonados. 2." — Dos Pintos Pizarros. É um bom edifício, também brasonado. Foi do 1.° e único barão da Ribeira de Sabrosa, Rodrigo Pinto Pisarro, de quem já se fallou nos artigos Ribeira de Sabrosa l, vol. 8.° pag. 183, col. Ia— e Villa Real de Traz-os -Montes, vol. 11.° pag. 964, col. 2.a e seg. para onde remettemos os leitores. O barão teve 6 irmãs e 5 irmãos, — total li. Dos irmãos elle e mais 2 (Gaspar e José Maria) eram formados— e foram também mi- litares elle e mais 2— o Francisco e o Anto- nio. Também foram muito liberaes o barão 1 Quinta na margem direita do Pinhão e não do Corgo, como por lapso ali se escre- veu. 1234 VIL VIL 6 o Fernando,— e muito realistas os outros 4 irmãos, mas sempre irmãos modeilo, muito amigos e muito dedicados. Viviam juntos» mas nunca discutiram politica, e deu-se com elles o seguinte facto. Sendo preso como liberal o barão, foi met- tido no castello de S. Julião da Barra. Em- penhou-se muito pelo livramento d'elle o ir- mão Gaspar Homem Pinto Pisarro, que ao tempo era corregedor em Braga e, como os realistas não quizeram annuir ás suas ins- tancias, foi muito espontaneamente encer- rar-se na meáma prisão e ali se conservou ao lado d'elle até que o pozeram em liber- dade. O barão era o 4.° na ordem do nascimen- to. Antes d'elle nasceram o Antonio e 2 ir- mãos, mas, como o Antonio fallecesse ainda em vida do pae, foi o barão quem succedeu no vinculo e morgado da Bibeira de Sabro- sa, do qual foi 8.° administrador; fallecendo porem solteiro e sem descendência, succe- deu-lhe seu irmão Gaspar, que foi o 9.° ad- ministrador do dicto morgado. Casou com D. Francisca Pinto de Queiroz, da villa de Favaios, mas não teve filhos, pelo que lhe succedeu seu irmão Fernando, que foi o 10.° administrador do dieto morgado, mas falle- ceu em 1876 sem successão, pelo que ficou representando esta nobre casa o sr. Sebas- tião Maria da Nóbrega Pioto Pizarro, de Villa Beal, sobrioho do barão e filho de uma irmã que ali casou. Extinctos os vínculos, foi vendida a quinta da Bibeira de Sabrosa e passou a extranhos. N'ella tinham e existe ainda uma capella de forma circular, muito antiga, com£a invoca- ção de Santa Agueda, — e, desde tempos re- motos, costumam as mulheres, a quem falta o leite, ir comer a herva que nasce em volta da dieta eapellinhal. . . 3.*— Dos Pintos Pimtnteis, ramo dos Pin- tos Pisarros e dos Pisarros Portocarreiros, — edifício brasonado também. O ultimo representante d'esta nobre famí- lia foi Ignacio Pinto Pimentel, casado com D. Maria Angelina de Castro Pereira, irmã de Manuel de Castro Pereira, que foi minis- tro d'estado, embaixador, etc— homem mui- to illustrado, muito excêntrico, muito eco- nómico e grande proprietário nos concelhos da Pesqueira e de Carrazeda d'Anciães. V. Villarinho da Castanheira. Ignacio Pinto Pimentel teve os filhos se- guintes : 1. °— José Pinto Pimentel de Castro, bacha- rel formado em direito. Casou com D. Maria Henriqueta Pisarro, filha de Thomaz Homem Cortez Pisarro, de Gouvinhas do Douro, e tiveram uma filha e herdeira, D. Maria Angelina, a qual casou em Sabrosa com o senhor da nobre Casa da Capella, — Francisco Teixeira da Gama Lobo, e teve muitos filhos, um dos quaes casou com sua prima... filha de Luiz de Castro Pe- reira, sobrinho e herdeiro do mencionado ministro Manuel de Castro Pereira. V. Sabrosa, vol. 8.» pag. 274, col. 2.» 2. "— Dionizio Pinto Pimentel de Castro Pe- reira. Foi tenente do exercito de D. Miguel, con- vencionado em- Evora-monte; conserva se ainda solteiro— e vive na aldeia da Ceara, freguezia de Poyares, no concelho da Begoa. 3. °— Manuel Pinto Pimentel de Castro Pe- reira. Casou em Gouvinhas do Douro, com D. Bibiana Pinto Pereira de Barros, filha e her- deira de Antonio Teixeira Catharino de Ma- galhães e de D. Bita Pereira de Barros,— e teve —D. Maria Anna Pinto Pimentel, ainda solteira. V. Villa Verde, freguezia do concelho de Alijó. Templos A egreja matriz. Tem uma só nave, mas ó um templo es- paçoso, elegante e bem tractado, com altar mór e 4 lateraes, todos de boa talha antiga dourada,— um lindo tecto de madeira apai- nelado, e to3o cheio de pinturas a oleo, — 2 púlpitos,— grande e bello côro, — uma boa torre, — adro fechado sobre si — e em volta d'elle um grande campo, que também deno- minam adro, onde se faz uma feira mensal de gado bovino, suino e cavallar e d'outros géneros, no dia 26, tendo em volta alpen- VIL VIL 1235 dres ou cobertos, uns da junta de parochia j e outros particulares, para os feirantes. 2.° — Sanctuario de Santa Barbara, no alto i da serra d'este nome, distante de Villar de Maçada 2 kilometros. Tem uma grande capella decanta Barba- ra—e outra mais pequena, dedicada ao Se- nhor Caído; um bello adro com arvoredo— e festa com romaria em julho. É um dos pontos mais alegres e vistosos da província. D'ali se descobrem 24 fregue- zias só em Traz-os-Montes,— a estrada de Villa Real a Bragança, no sitio da Valsa,— e grande extensão da província da Beira. 3»— Capella da Senhora do Fundo, sin- gella, muito antiga e publica. Demora entre o cemitério e a egreja pa- rochial. 4.°— Capella de Borba, que foi dos morga- dos de Villar de Perdizes e é hoje dos Pi- sarros Portocarreiros. Particular e já mencionada. Tem esta freguezia um bom cemitério, com sôco de granito, grades exportas de ferro. Foi acabado em 1883 e demora no cami- nho de Cabeda, a 100 metros approximada- mente da egreja matriz. Villar de Maçada tem duas fontes publi- cas:—uma de charco, mas de excellente agua e abundantíssima, cujas vertentes for- mam dois grandes regos permanentes, com lavadouros, regando e fertilisando em se- guida magnificas lameiras, denominadas li- nhares, que produzem muito milho, herva- gens e linho. A outra fonte denominada Fonte da Ca- lheira, está no caminho de Sanradella e não é tão abundante. Tem esta freguezia 3 pontes sobre o Pi- nhão:—2 de pau e muito antigas, — outra moderna e de granito, recentemente feita na estrada real n.° 39, de Villa Real a Freixo de Espada á Cinta, por Sabrosa, Favaios, Alijó, Carraseda d' Anciães, etc— e que atra- vessa esta freguezia de Villar de Maçada, achando-se construída desde Villa Real até aqui; e em construcção até Favaios— e já servida por diligencias desde Villa Real ato Sabroaa. Tem esta freguezia também muitos moi- nhos de cereaes no Pinhão, e na villa 2 para azeite. Clima temperado e muito saudável,— o que não succede em todo este valle do Pi- nhão, pois alguns kilometros a jusante, prin- cipalmente desde Val de Mendiz até o Douro, o terreno é ardentíssimo no verão. Tremem ali de sezões os gatos, as gallinhas e os cães, — derrete-se a solda das vazilhas de lata, — destempera-se o fio dos instrumentos de cor- te, expostos ao sol — e estalam as pedras (schisto) com a acção do calor,— mas em com- pensação os seus vinhedos produziam o vi- nho mais generoso do Alto Douro, que só ti- nha rival no das quintas do Roncão, d'este mesmo concelho, junto da estação de Cottas. Era finíssimo todo o vinho desde a Pedra Caldeira até á Foz do Tua, na margem di- reita do Alto Douro;— e na margem esquer- da, principalmente na? gargantas do rio Tor- to, o vinho era lambem muito bom, mas o melhor, absolutamente o melhor de todo o Alto Douro, era o de Val de Mendiz e do Ron- cão,—antes da invasão phylloxerica, pois actualmente pouco vinho já produzem aquel- las afamadas regiões, achando- se até já in- cultas e abandonadas algumas das suas quin- tas I . . . V. Villarinho de Cottas e Villarinho de S. Romão. Pessoas notáveis Com rasão se orgulha esta parochia de ha- ver produzido muitas pessoas notáveis pelas armas, pelas lettras e virtudes e pelos altos cargos que exerceram. Para formarmos uma extensa lista, bas- tava percorrer as arvores genealógicas das nobres famílias Pisarros, Pintos Pisarros e Pintos Pimenteis, entre os quaes avultou n'este século o morgado e barão da Ribeira de Sabrosa, que foi deputado ás cortes, mi- nistro, presidente de ministros, general de brigada e homem honradíssimo sempre, mas por isso mesmo, tendo herdado vínculos e morgados de seus maiores, pouco mais dei- xou do que dividas! . . . Por cartilha diametralmente opposta se 1236 VIL VIL guiou um seu visinho e contemporâneo, que, nascendo pobre como Job, adquiriu e legou a bagatella de cinco mil contosl. . . Chamava-se elle José Maria Pinto da Guer- ra, por alcunha O Guerra sapateiro Adquiriu a fortuna no Brazil, mas porque bulias? Ouçamos os jornaes da epocha: «Morreu no dia -3 do eorrrente 1 no Rio de Janeiro o opulento capitalista, ali conhecido por Guerra sapateiro. Era uma individuali dade excêntrica. Chamava-se José Maria Pin- to Guerra e nascera de paes incógnitos na freguezia de Villar de Maçada, concelho de Alijó, em Portugal. Quando chegou ao Rio de Janeiro esta- beleceu-se com uma pequena loja de sapa- teiro. N'um dia descobriu que tinha ganho pouco mais de um conto de réis. Comprou então uma venda. Quando conseguiu ter um capital de dez contos de réis, começou a ne- gociar em escravos. Deu-se bem, foi augmen- tando o seu pecúlio, e entendeu que o género daria mais por atacado. Começou então a im- portar escravos e mesmo a ir buscal-os á Africa, para o que comprou dois navios. Contrariado o trafico, deitou-se a comprar massas fallidas. Teve alguns desgostos, de- vendo-se notar que em muitas demandas elle era parte, procurador e advogado. Vendo que esse negocio tinha os seus con- tras, voltou a negociar em escravos e a fa- zer algumas operações de juros, módicos: dois ou tres por ceDto ao mez. Ao mesmo tempo fazia-se proprietário e accionista de bancos e companhias. Assim conseguiu uma fortuna de cerca de 5.000:000^000 réis. Nos últimos tempos tinha medo que o en- venenassem, e dizia sempre aos que elle ha- via contemplado:— o que vocês querem é que eu feche o olho, seus ladrões 1 . . . Diz-se que um dos contemplados tomou tal susto quando um dia se zangou o finado com elle, que teve uma febre e morreu. 1 Maio de 1882. Diversos indivíduos pediam "lhe, quando o viãitavam, para contemplar certas institui- ções de caridade. E elle dizia: Pois sim.. . sim. . . merece- o. . . merece-o. . . lá voucon- templal-a. E lá era chamado o cônsul por- tuguez para approvar testamento ou novo codicilio. «"Nos últimos tempos os médicos eram os seus herdeiros em vida. Por uma noite de insomnias e de dores, um medico recebeu 6:000$000 réis. Um outro fazia-lhe visitas repetidas a 500$000 réis. Se vive mais cinco annos, consumiam-lhe o que havia ganho e aecumulado em mais de meio século. Nos últimos annos sentiu que a vida de celibatário não podia ser o complemento da sua existência. Pensou em casar-se. Chegou mesmo a apaixonar-se por uma respeitável senhora viuva e muito conhecida na socie- dade fluminense. A mais de um amigo quei- xava-se da ingratidão d'ella em não querer- lhe acceítar a mão. . . e os 5:000 contos. Teve uma criada que o não podia aturar, e que lh'o dizia com uma franqueza de quem não sabia o que valiam 5:000 contos. Elle respondia sempre: — «Senhora, veja o que faz. . . olhe que dá um pontapé na sua felicidade e de toda a sua geração.» Por occasião da crise bancaria, que deter- minou a quebra da casa Souto e outras, pos- suía elle, em uma das casas fallidas avultada sornma. Indo saber do dono d'essa casa em que estado estavam os negócios, encontrou-o chorando, encarou o friamente, e disse-lne: «Homem, que eu chorasse, vá, porque sou o roubado, mas você ? I . . . » Era avesso a subscripções. Recebendo uma vez um bilhete de cadeira para um beneficio em favor d'uma sociedade de beneficência, conservou-o sobre a secretaria e, quando a directoria d'aquella sociedade se apresentou para receber a importância respectiva, en- tregoa-lhe o próprio bilhete. Sendo-lbe objectado que se tractava de uma obra de caridade, respondeu:— «Ah' conheço essa tal senhora, chamada Carida- de, e sei que se lhe abrir a minha porta uma vez, nunca mais me larga. Passe muito bem. VIL VIL 1237 Uma bella occasião appareceu vestido com elegância que espantou os conhecidos e os que não desejavam vel-o tão perdulário. Quando lhe perguntaram o que queria dizer tanto luxo, respondeu: São uns ladrões; le- vam me um dinheiro fabuloso por tudo isto; j querem acabar como pouco que tenho. E con- tinuava a resmungar:— que ladrões!. . . A respeito de coisas intelleetuaes tinha opinião muito singular. Quando queria ex- primir a sua admiração por um homem de lettras, por um orador ou jornalista, empre- gava uma phrase profundamente significa- tiva: —Oh l é um excellente typographo ! Testamento t Deixou vários legados importantes a al- gumas instituições de beneficência: cinco prédios á ordem do Carmo; tres á ordem terceira de S. Francisco de Paula; a chácara e todos os prédios que lhe pertenciam na praia de S. Christovão, á Misericórdia do Rio de Janeiro; 58 contos a varias irmandades d'aquella capital e 10 contos4 moeda brazi- leira, á do Santíssimo de Villar de Maçada; 10 á Beneficência portugueza; 150 contos para 30 expostas dg Rio de Janeiro; 40 con- tos para 20 expostas da Misericórdia de Lis- boa; 34 contos para os pobres de varias fre- guezias do Rio; 6 contos ao vigário Esco- bar; 20 coutos ao asylo profissional de be- neficência portugueza; deixou livres cinco escravos, dando 500$000 réis a cada um; cerca de 200 contos em vários legados a pes- soas de sua amisade; 40 contos á esposa do sr. barão Wildick, cônsul de Portugal, etc. Instituiu herdeiros do remanescente os seus testamenteiros, os srs. Ventura José da Cos- ta, João Teixeira de Barros e Domingos Ro- drigues de Carvalho.» Posto que este artigo vae já muito longo, não podemos resistir á tentação de esboçar a biographia do mais benemérito filho d'esta parochia e orgulho d'esta província : O barão da Ribeira de Sabrosa Rodrigo Pinto Pizarro de Almeida Carva- lhaes, primeiro barão da Ribeira de Sabro- | sa, oitavo senhor do morgado d'este nome, e nono do monte de Calvos e Soutelinho Do- mezij, commendador das ordens de Nossa Senhora da Conceição de Villa Viçosa e de S. Bento d'Aviz, condecorado com a meda- ! lha da guerra de Montevideu, e grão-cruz da legião de honra em França, brigadeiro do exercito nacional e real, do conselho de S- M., ministro e secretario d'estado honorário, etc, nasceu aos 6 d'abril de 1788 nesta fre- guezia de Villar de Maçada. Seus paes foram Francisco Pinto de Almeida Carvalhaes e D. Antónia Maurícia da Nóbrega Pizarro. Frequentou as escolas de instrucção pri- maria e secundaria com singular aproveita- mento e desde então se conheceram os ex- traordinários talentos, que depois foram de tão grande proveito para a nação e para o throno. Ao principio destinaram-n'o seus paes para a vida ecclesiastica, e até chegou a entrar no collegio dos Loyos; mas, vendo que a sua inclinação o chamava a outro gé- nero de vida, resolveu-se a seguir a carreira das armas, assentando praça no regimento de infanteria n.° 5. Serviu com muita dis- tincção na guerra peninsular, e depois fez parte da divisão de voluntários reaes d'el- rei. São muito conhecidas do exercito por- tuguez a bravura e intelligencia que desen- volveu na vida militar. Passou do Rio da Prata a servir no Mara- nhão ás ordens de Bernardo da Silveira Pinto da Fonseca, visconde da Várzea. Adquiriu ali tão grande popularidade que, por occa- sião de se proclamar n'aquella província os mesmos princípios, que no Porto haviam si- do proclamados em 24 d'agosto de Í820, foi nomeado membro do governo provisório,- que ali se organisou. Voltando a Lisboa foi um dos que mais contribuiu para que nos fins de maio e começo de junho de 1823 não se restabelecesse o governo absoluto, e para que el rei, o sr. D. João VI, desse á nação uma constituição modelada pelos princípios sustentados por Benjamin Constant. A pro- clamação do sr. D. João VI, de maio de 23, é obra de Pinto Pizarro. D. João Vi não pôde cumprir a sua real promessa, mas é certo que Pinto Pizarro 1238 VIL VIL desde 1823 até 1826 procurou com risco de sua vida tornar constitucional o governo d'estes reinos I Adoptada pela nação portugueza a carta constitucional de 29 d'abril de 1826, e de- clarada regente do reino a sereníssima se- nhora infanta D. Isabel Maria, foi pelo mi- nistro Saldanha nomeado Rodrigo Pinto Pi- zarro, então tenente coronel, chefe da 1." direcção do ministério da guerra. Brilhante foi n'essa época a carreira ministerial do no- bre marechal Saldanha; mas é sabido que Pinto Pizarro o ajudou poderosamente com as suas luzes, conselho e trabalhos. Logo que o regente D. Miguel começou a dar indícios de querer usurpar a corôa da Senhora D. Maria II, foi Pinto Pizarro um dos primeiros que procurou inutilisar aquel- la tentativa, pelo que teve de emigrar para Inglaterra, d'onde acompanhou os generaes que no Belfast vieram desembarcar no con- celho de Bouças, para ajudar os portuenses na revolução de 16 de maio de 1828. Foi Pinto Pizarro pela junta provisória encarre- gado de manter a auctoridade d'el-rei o sr. D. Pedro IV, na quartel general do duque de Palmella, e retirou-se novamente em com- panhia do seu general para Inglaterra. A alçada miguelista condemnou-o á morte, e mandou que a sua cabeça fosse cortada e es- petada em alto poste na praia de Bouças t ! Desde 1828 até 1834 esteve emigrado. Fez parte da expedição á Ilha Terceira e a3sigoou o famoso protesto de 1829. O collegio eleitoral da província do Douro o elegeu deputado ás cortes de 1834, mas a camará não approvou a sua eleição, por mo- tivos que andam impressos e pouco honram a maioria d'aquelle tempo. O ministério Saldanha o nomeou gover- nador civil de Villa.Real, mas não acceitou' a commissão, por motivos muito honrosos para s. ex.* Em 1835 foi eleito deputado pela provín- cia de Traz-os Montes e durante toda a le- gislatura advogou com o maior zêlo os inte- resses de todo o paiz e particularmente os da proviocia que representava; mas, dissol- vidas as camarás em 1836, a província, cu- jos interesses tanto defendeu, não teve uma cadeira de deputado para dar-lhel . . . Por occasião da revolução de 9 de setem- bro de 1836 subiram ao poder os seus ami- gos e logo o nomearam administrador geral de Bragança, cargo que acceitou e desem- penhou, deixando de si grata memoria. Eleito deputado ás cortes constituintes, prestou apoio leal e consciencioso aos seus Íntimos amigos Sá da Bandeira, Vieira de Castro e Passos (Manuel), merecendo pela sua prudentíssima e nobilíssima conducta as sympathias de toda a camará, até dos seus adversários políticos. Em 1838 foi nomeado commandante da 5.* divisão militar e outra vez administra- dor geral de Bragança— e n'esse mesmo an- no foi eleito senador pelos círculos eleitoraes de Guimarães e Bragança. Em 18 d'abril d'aquelle mesmo anno foi elevado á presidência do conselho e formou o ministério, a que deu o seu nome, proce- dendo com tal desinteresse, atilamento e pa- triotismo que foi considerado como um dos mais hábeis estadistas da Europa, no seu tempo. A maior parte da sua correspondência di- plomática anda impressa e não ha ninguém que ao lel-a se não ufane de ser portuguez; mas uma influencia estranha... privou o nosso paiz dos serviços de s. ex.» no dia 26 de novembro de 1839. Dissolvida a camará dos deputados, mui- tos círculos o quizeram eleger seu represen- tante em 1840, cabendo essa gloria ao cir- culo d' Aveiro. Nas camarás prestou por essa occasião re- levantes serviços ao paiz, combatendo as ne- fastas propostas do ministério de 26 de no- vembro com o seu raro atilamento politico. Finalmente, fechada a sessão de 1840, vol- veu á sua terra natal para se restabelecer de certo incommodo. . . no seio da familia que o idolatrava, e fazer companhia á sua cari- nhosa mãe, mas infelizmente foi roubado ás esperanças de todos no dia 8 d'abril de 1841, E parece que o illustre barão presentiu a morte, pois na manhã d'aquelle dia fatal recommendou a um seu confidente que dis- VIL VIL 1239" tribuisse por certas famílias pobres de Lis- boa uma somma que tinha a receber do es- tado,—deu a uma irmã dinheiro para dis- tribuir pelos seus visinhos pobres, como era costume seu, augmentando a quantia por ser quinta feira santa;— jantou muito satisfeito com a família e foi para a Casa da Fonte, das suas primas e visinhas Pintos Pimenteis. Apenas ali chegou, achou- se incommoda- do. As primas quizeram logo pedir soccorro, mas elle conteve-as, rogando-lhes que se ca- lassem para não assustarem a sua família; augmentando porem o incommodo, chama- ram logo um medico; veiu elle rapidamente» mas não pôde valer-lhe. Ás 4 horas e 3 quartos da tarde d'aquelle mesmo dia,— 5o minutos depois do ataque? —uma apoplexia pulmonar o matou 1 Perdeu a coroa um conselheiro leal;— o paiz um dos seus mais prestimosos servido- res;— o exercito um ministro hábil;— o par- lamento um orador distincto; — a litteratura um eximio cultor;— a boa sociedade um ca- valheiro estimabilissimo— e o Douro um dos seus filhos mais beneméritos, ainda hoje pranteado por todos,— sem distincção de côr politica. Depois de morto mais augmentou ainda a sua popularidade, e para isso contribuiu o dizer-se francamente— que foi envenenado pelos inglezes, porque em 1839, sendo pre- sidente do conselho de ministros, ministro da guerra e interino dos negócios estran- geiros, exigiu terminantemente da Inglaterra a somma que prometteu pagar-nos pela ce- dência de certas ilhas, etc. Constou mais— que viera já de Lisboa en- venenado e que, apenas chegou á sua casa de Traz os-Montes, recebera uma carta ano- nyma em que se lhe dizia — que fizesse as suas disposições, porque os seus dias esta- vam contados!. ■ . Para a sua biographia como homem pu- blico, veja-se a noticia necrologica inserta no Diário do Governo de 13 de maio de 1841 — e o Elogio Histórico por Almeida Garrett, nas Memorias do Conservatório, tomo II; — e emquanto ás perseguições que soffreu em 1829 a 1834, vejam-se os papeis que publi- cou e que se encontram na extensa lista das suas obras, indicada por Innocencio Fran- cisco da Silva, no seu Diccionario Bibliogra- phico, tomo VII, pag. 179 a 181. Villar de Maçada é povoação muito antiga e importante desde tempos remotos, pois já no século xiii D. Affonso III, estando em La- mas d'Orelhão, hoje concelho de Mirandella,. lhe deu foral, no dia 2 de maio de 1233. Livro II de Doações do Sr. Rei D. Affonso- III, fl. 66, in-fine,— e Livro de Foraes anti- gos de Leitura Nova, fl. 131, col. 1.* Franklin não lhe deu foral novo nem nós o conhecemos. Do exposto se vê que esta povoação já existia no século xm, mas temos provas da sua existência em 1198, pois segundo se lê- na Historia de Portugal por Alex. Hercula- no, vol. 2.° pag. 86 (nota) D. Sancho I, estan-' do em Mirandella, deu o reguengo de Villar de Maçada a Garcia Mendez em julho d'a- quelle anno. Gaveta 3." Maço 6.°, n.° 11 do Archivo Na- cional. Com relação ao dieto Garcia Mendes se lê- nas Memorias Histórico- Genealógicas dos Du- ques Portuguezes por João Carlos Feo e vis- conde de Sanches de Baena1, o seguinte: tXI. D. Garcia Mendes de Sousa, Rico Ho- mem de sangue, e como tal confirma vários foraes em 1205, 1210, e 1219; do Conselho dos Reis D. Sancho I, D. Affonso e D. San- cho II, dos quaes houve algumas mercês. Achou-se na tomada de Silves com El-Reí D. Sancho I, que lhe deu em 1198 o reguengo de Villar de Maçada, na terra de Panoias ou de Villa Real Morreu a 20 de abril de 1239 e jaz no claustro do mosteiro d'Alcobaça. ..» Não só existia pois Villar de Maçada em 1198, mas era reguengo, ou propriedade da coroa. 2 Este D. Garcia Mendes de Sousa era filho 2.° do conde D. Mendo de Sousa, chamado o 1 Memoria relativa aos duques de Lafões, n.° XI, pag. 135. 2 Dissertações Chronol. e Crit. de J. P. Ri- beiro, tomo 2.° pag. 291. 1240 VIL VIL Sousão, mordomo-mór d'el-rei D. Sancho I, etc, e que foi depois d'elle o maior e mais honrado homem que havia em Portugal I... Estes Soares tiveram o seu primeiro solar na terra de Panoias, de que foram senho- res, bem como d'outros muitos, pelo que um filho natural e herdeiro de D. Vasco Mendes de Sousa, irmão de D. Garcia Mendes de Sousa, tomou o nome de Ruy Vasques de Panoias, por lhe caber a maior parte da sua legitima na terra de Panoias. Concluiremos mencionando uma lapide que foi encontrada aqui e que prova a exis- tência d'esta povoação já no tempo dos ro- manos, pois tinha a dieta lapide a inscripção seguinte: Jovi. 0PT1M. M. Alivs rebvrrvs eedidi votvm Albocello Portugalliae Inscriptiones romanas, pagina 300, n.° 722, e pag. 339. VILLAR MAIOR —viila extincta, hoje sim- ples freguezia do concelho e comarca do Sa- bugal, districto e diocese da Guarda, provín- cia da Beira Baixa. Reitoria. Orago S. Pedro;— fogos 200,— habitantes 850. Em 1708 era villa, reitoria e séde do con- celho do seu nome na comarca ou correge- doria de Pinhel, provedoria e bispado de Lamego;— contava 120 fogos;— era da apre- sentação do ordinário — e o seu reitor apre- sentava curas nas 3 freguezias seguintes:— Badamalos, Bismula e Malhada Sorda. Em 1768, segundo se lê no Port. S. e Pro- fano, esta freguezia era um simples curato da apresentação do vigário de Malhada Sor- da, ^rendia para o seu cura 50$000 réis — e contava 175 fogos. O censo de 1864 deu-lhe 171 fogos e 699 habitantes,— e o de 1878 deu-lhe 191 fogos e 680 habitantes. 1 Foi lapso do auctor, pois a Hist. Eccl. de Lamego, escripta approximadamente n'a- quelle tempo, menciona as freguezias de Ba- damalos, Bismula e Malhada Sorda como simples curatos da apresentação do reitor de Villar Maior, e diz que este era apresentado pelo bispo de Lamego. Alem da villa, comprehende apenas uma aldeia, denominada Arrifana, que o meu in- formador chama annexa, como se fôra ou- trora freguezia independente, mas não en- contramos menção d'ella em parte alguma. Por estes sitios apenas ha uma freguezia de S. Martinho de Arrifana, pertencente ao concelho da Guarda, mas dista de Villar Maior cerca de 30 kilometros para O. N. O., em- quanto que a mencionada aldeia dista de Villar Maior apenas 3 kilometros para N. Demora Villar Maior em sitio alto, alegre e vistoso, muito defensável para os tempos d'armas brancas, e mais ainda por estar en- tre dois rios, — na margem esquerda do rio Cesarão, que banha os seus muros,— e na direita do rio denominado Porlo do Sabugal (diz o meu informador) ou ribeira ^Alfaia- tes, porque vem da villa d'Alfaiates e cerca de 2 kilometros a juzante de Villar Maior desagua no Cesarão, que 2 a 3 kilometros a juzante da confluência da ribeira d'Alfaia- tes desagua no rio Côa, affluente do Douro. Villar Maior dista da ribeira d'Alfaiates 1 kilometro para E.;— 12 da estação da Cer- deira, a mais próxima, na linha da Beira Alta;— 25 da villa do Sabugal, para N. E.; —35 da Guarda, para E. S. E.;— 239 da Fi- gueira;—306 do Porto— e 430 de Lisboa. Esta freguezia não tem estrada alguma a macadam construída nem projectada. Todas as suas estradas são os mesmos barrancos dos princípios da nossa monarchia, mas tem uma boa ponte de pedra de tres arcos sobre o rio Cesarão,— e n'este mesmo rio 11 moi- nhos de cereaes. Parochias limitrophes:— Badamalos a O., —Bismula a S , — Malhada Sorda a N. — e Al- deia da Ribeira a E. Producções dominantes:— cereaes, bata- ! tas e lã, pois cria bastante gado lanígero. Também abunda em caça miúda: coelhos, lebres e perdizes. Templos i.°—A cgreja parochial, toda de granito com bons retábulos de talha dourada nos al- VIL VIL 1241 tares e um soberbo tecto de abobada de gra- nito também. É o melhor templo dos povos da raia, até grande distancia. %.°—Egreja da Senhora do Castello, que foi a !.• matriz. Está muito arruinada. 3. °—Egreja da Misericórdia, antiga e bem conservada ainda. 4. °— Capella, do Senhor dos Âfflictos, bem tractada e bem conservada. Tem luzida festa, hoje a principal d'esta parochia, na 1* dominga de setembro. 5. °— Capella do Espirito Santo. 6. °— Capella de S. Sebastião,— ambas mui- to antigas, e completamente arruinadas. Esta freguezia tem acompanhado a sorte de todas as do Cima-Côa, ou da margem di- reita do Côa. Foi conquistada aos mouros no anno de 1139 pelos reis de Leão;— o nosso rei D. Di- niz a conquistou depois aos reis de Leào no anno de 1296, ficando temporalmente obe- decendo a Portugal e espiritualmente ao bis- pado leonez de Cidade Rodrigo, até que o nosso rei D. João I a uniu espiritualmente ao bispado de Lamego;— no século xvm pas- sou para o bispado de Pinhel— è[ em 1882, extincto o bispado de Pinhel, passou para o da Guarda. V. Villar Formoso e Villar d' Amargo. Judicialmente pertenceu á provedoria de Lamego e á corregedoria de Pinhel, ^de- pois passou para a comarca de Trancoso— e por ultimo para a do Sabugal. Segundo se lê no Censual velho do bispa- do de Lamego, que data dos princípios do século xvi, esta freguezia n'aquelle tempo era da apresentação do convento de S. Vicente de Fóra e da confirmação dos bispos de La- mego, aos quaes pagava a terça do seu ren- dimento, mais: De confirmação 1 marco ou. . . 2£3i0 réis De visitação 500 » De cathedradego 180 » Depois ficou sendo da apresentação e col- 1 V. vol. 7.° pag. 67, col. 2.a ilação dos bispos de Lamego, até que passou para o bispado de Pinhel. Também no século xvi teve annexas as freguezias de Malhada Sorda, Bismula e Na- ve de Haver, como diz o mencionado Cen- sual. Esta villa teve foral velho, dado em Coim- bra por D. Diniz, a 27 de novembro de 1296. Liv. II de Doações do Sr. Rei D. Dinis, fl. 130, col. 1.» E teve também foral novo, dado por D. Manuel em Santarém, no dia 1 de junho de 1510. Liv. de Foraes Novos da Beira, fl. 21. Vejam- se também os Artigos da Portagem e outros^direitos no Liv. 46 dos Tombos, no Armário 17, fl. 62. Teve também esta villa carta de povoação dada no Sabugal no anno de 1232, a 6 de agosto, por D. Affonso IX, rei de Leão, como se lê na Monarch. Lusit. parte V, pag. 239, v., col. 1.*;— e na col. 2.» diz— que el-rei D. Fernando, o santo, de Castella, filho d'aquelle D. Affonso IX, para engrandecer a villa do Sabugal lhe deu por termo esta de Villar Maior, etc. a 6 d'abril do anno de 1241. Do exposto se vê que, passados 614 annos, voltou de novo esta freguezia para o conce- lho do Sabugal, pois o concelho de Villar Maior foi extincto por decreto de 24 d'outu- bro de 1855, pelo qual passou para aquelle. Villar Maior foi villa e concelho, como acabamos de dizer, até 1855. Ainda conserva a sua antiga casa da ca- mará e cadeia, mas transformadas em escola official de instrucção primaria para os dois sexos;— e também conserva ainda o seu ve- lho pelourinho, bem como o seu castello e os muros que o circumdavam, — e alguns lan- ços do muro que cercava toda a villa. Estas obras de defesa datam de tempos muito remotos, talvez anteriores á occupa- ção árabe, pois é certo que por aqui estan- ciaram os mouros, godos e romanos, como provam differentes sepulturas abertas na ro- cha, que ainda hoje se vêem por estes sitios, bem como as moedas romanas que por aqui se teem encontrado;— soffreu porem muito 1242 VIL VIL esta povoação com as guerras que assolaram o nosso paiz, nomeadamente na expulsão dos mouros, e que deixaram o Cima- Côa deserto. Seguiram-se depois as guerras entre Leão e Portugal, que também pesaram rude- mente sobre o Cima-Côa até o reinado de D. Diniz, sendo esta povoação uma das qúe mais soffreu por esiar muito próxima da raia. Depois surgiram as guerras contra Cas- tella,, que ainda se repetiram nos fins do ul- timo século r, e por ultimo a guerra da pe- nínsula, que açoutou barbaramente estes sí- tios em 1810, quando o general Massena marchava sobre Lisboa,— e mais ainda quan- do em 1811 retirava sobre a Hespanha, sa- queando e assolando todas as terras que atravessava, não poupando esta pobre villa. Por ultimo também soffreu immenso com a batalha de Fuentes de Honor, que se feriu a pequena distancia d'estes silios, estenden- do-se até aqui o movimento das tropas. V. Villar Formoso. Já nem hoje se sabe ao certo quem tomou primeiro aos mouros esta região do Cima- Côa 2 e menos ainda quem fez os muros de Villar Maior. Suppõe-se que foram feitos por D. Affonso IX de Leão em 1230, e com cer- tesa foram reconstruídos e ampliados por D. Diniz, em 1296 3. D'elles se encontra na Tor- re do Tombo um desenho fiel feito á penna por Duarte d' Armas, no século xvi, o qual desenhou também os castellos do Sabugal, Castello Mendo, Castello Bom, Almeida, Cas- tello Rodrigo e todas as outras nossas forta- lesas da raia, n'aquelle tempo,— desenhos 1 V. Villa Velha de Rodam, n'este XI vol. pag. 1082, col. 2.» e seg. 2 A Monarch. Lusit. depois de dizerno logar citado — que foram os reis de Leão, sustenta que foram os portuguezes, mas que depois o Cima-Côa passou para os leoneses até o reinado de D. Diniz; e desenvolve um gran- de apparato du erudição em prova de tal asserto; Alexandre Herculano, porem, na sua Hist. de Port. tomo 2.° pag. 429 e 430, refuta aquella opinião e sustenta que nós nada ti- vemos no Cima-Côa até o reinado de D. Di- niz. 3 Hist. de Port. por Alex. Herculano, tomo II, pag. 113,— e Poblacion G. de Espana, fl. 145, v. e 146. hoje muito curiosos e que se guardam em um livro na Torre do Tombo. V. Rakzinske, Les Arts, pag. 231 — e Dictio- naire.. . du Portug. pag. 73. Duarte d'Armas estava ao serviço d'el rei D. Manuel e, por ordem d'elle, alem dos cas- tellos supra indicados, desenhou os seguin- tes:— Moura, Mértola, Castro Marim, Alcou- tim, Nodel, Mourão, Monsaraz, Terena, Ser- pa, Juromenha, Olivença, Elvas, Alandroal, Arronches, Ouguella, Monforte, Assumar, Alegrete, Campo Maior, Alpalhão, Marvão, Nisa, Portalegre, Castello Branco, Castello de Vide, Segura, Montalvão, Idanha Nova, Sal- vaterra, Pena Garcia, Monsanto, Penamaior, Freixo de Espada á Cinta, Mogadouro, Pe- nas Roias, Vimioso, Miranda do Douro, Bra- gança, Vinhaes, Outeiro, Chaves, Monforte de Rio Livre, Portello, Montalegre, Piconha, Monção, Melgaço, Castro Laboreiro, Valença do Minho, Lapella, Villa Nova da Cerveira, Caminha, Cintra e Bareellos. Ha n'esta villa dois bons edifícios braso- nados:— um era dos condes de Tavarede e hoje é de João Antonio Reboacho, para quem passou por compra;— outro pertence a Fran- cisco Pessanha Vilhegas do Casal, pelo seu casamento com D. Virgínia, filha da viscon- dessa da Quinta do Ferro, 1 a cuja família pertenceu desde tempos remotos a dieta casa. São ambas muito antigas e no balcão da primeira se vê em lettra gothica uma inscri- pção que o meu benemérito informador não pôde ler. Merece lambem especial menção a casa que é hoje de Manuel Antonio Simões e que foi anteriormente de Luiz de Bastos, tendo sido outr'ora muito privilegiada, pois consta que todo o criminoso que se abeirasse d'ella não podia ser preso. É brasonada e muito antiga. As ruas principaes d'esta villa são a da Mizericordia, a Direita e a do Paço. 1 Esta grande quinta demora na fregue- zia de Rio de Mel, concelho de Trancoso. V. Villar Torpim n'este diccionario — e Rio de Mel no supplemento. VIL VIL 1243 Tem uma pequena praça arborisada. Ha também aqui, a distancia de 1 kilome- tro da villa, uma mina de cobre em explo- ração. A antiga comarca ou provedoria de La- mego estendia-se desde Arouca e Sobrado de Paiva, ao poente, até á Barca d'Alva, a leste, prolongando-se d'ali para o sul, pela raia alé Alfaiates, coroprehendendo o extin- cto concelho de Villar Maior, pelo que nos fins do ultimo século, quando D. Maria I mandou concluir a ponte d'Alvarenga sobre o rio Paiva, por meio de uma derrama so- bre as comarcas da Feira e de Lamego, tam- bém o concelho de Villar Maior, que ao tem- po comprehendia apenas a parochia da villa e as de Badamalos, Bismula e Malhada Sor- do, teve de pagar 20$000 réis para as obras da dieta ponte d' Alvarenga, distante d'aqui mais de 150 kilometros para O.N.O. O de Almeida pagou 18#000 réis O de Castello Bom 12#800 » O de Alfaiates 14^000 » O de Castello Rodrigo 600000 » V. Villa Real de Traz-os- Montes, vol. XI, pag. 931— e Alvarenga bo supplemento. Foi natural d'esta villa D. Gaspar do Rego da Fonseca, filho de Daniel do Rego e de D. Leonor da Fonseca, doutor em cânones pela Universidade de Coimbra, provisor, vi- gário geral e visitador dos bispados de Coim- bra, Guarda e Lisboa, por nomeação do sr. D. Affonso Furtado de Mendonça, quando prelado das dietas dioceses, que o tinha sem- pre comsigo e o propoz ao papa Urbano VIII, em 1630, para seu coadjutor, com o titulo de bispo de Targa. Vagando em 1635 a diocese do Porto, por fallecimento do benemérito bispo D. Fr. João de Valladares, foi D. Gaspar do Rego n'ella provido em 1637 e foi um prelado virtuo- âissimo e de muito critério. Resava em côro e comia em refeitório com os seus familiares, transformando o seu paço em um convento rigoroso;— no provimento dos benefícios ecclesiasticos nunca deu pre- ferencia aos seus domésticos, mesmo quando fossem iguaes em merecimento aos outros concorrentes, porque (dizia elle) se tornaria suspeitosa a preferencia, por serem familia- res seusl. . . Este virtuoso prelado falleceu de um an- traz maligno na garganta, em Lisboa, no dia 13 de julho de 1639,— diz Agostinho Rebello da Costa,— mas D. Joaquim d'Azevedo na sua Historia Ecclesiastica da cidade e bispa- do de Lamego, pag. 239, diz que falleceu em 1638. Foi sepultado na capella-mór dos frades carmelitas, em Lisboa, e esereveu sobre os isentos de Malta e das egrejas de Braga. Quando D. Diniz tomou aos leoneses o Cima-Côa, era senhor das villas e castellos d'AImeida, Alfaiates, Monforte, Castello Bom, Castello Rodrigo, Sabugal e Villar Maior — e de quasi todo o Cima-Côa— D. Sancho de Ledesma, filho do infante D. Pedro, tio de D. Fernando II de Leão e de D. Margarida de Narbona,— sendo D. Sancho, por conse- quência, primo co irmão do mencionado rei D. Fernando e do nosso rei D. Diniz. An- teriormente esta villa e grande parte do Ci- ma-Côa foram da ordem militar de S. Julião do Pereiro, depois ordem d'Alcaotara. V. Cinco Villas e S. João do Pereiro. Mais tarde foram condes e senhores d'esta freguezia de Villar Maior os Telles da Silva, depois marquezes de Penalva e d'Alegrete, cuja ascendência pôde vêr-se na Chorogra- phia Portugueza, vol. 2.° pag. 318. Vejam-se também n'este diccionario os ar- tigos Alegrete e Penalva do Castello. Esta freguezia de S. Pedro de Villar Maior foi commenda da ordem de Christo e uma das muitas de que era commendador D. Nuno Caetano Alvares Pereira de Mello, 6.° duque de Cadaval, 8.' marquez de Ferreira e 9.° conde de Tentúgal, fallecido em 14 de fevereiro de 1837. Esta commenda era hereditária na casa de Cadaval. V. Memorias Histórico -genealógicas dos Duques Porluguezes do século xix pelos srs. J. Carlos Feo e Visconde de Sanches de Baena, pag. 6, 8, 73, 78, etc. 1244 VIL VIL VILLAR DO MONTE— aldeia da freguezia j de S. Lourenço d'Asmes, concelho de Val- I longo, dístricto do Porto. Em junho de 1885 foi concedida proviso- riamente á sr.a D. Virgínia Sehrech a pro- priedade de uma mina de carvão e ferro, si- tuada na dieta aldeia. V. Asmes (S. Lourenço de) n'este diccio- nario e no supplemento, onde desenvolvere- mos largamente aquelle artigo. De passagem diremos que atravessam aquella importante freguezia-as nossas linhas férreas do Minho e Douro e que está n'ella a estação de Ermezinde, entroncamento das duas linhas. Também comprehende o convento da For- miga, ou da Mão Poderosa, ou Mão Pedrosa, que foi dos frades grillos (Agostinhos des- calços) e que é hoje um importante e muito acreditado collegio de jesuítas. VILLAR DO MONTE,— freguezia do con- celho e comarca de Barcellos, districto e dio- cese de Braga, província do Minho. Vigairaria. Orago S. Salvador;— fogos 58, habitantes 270. Em 1706 era vigairaria dos tercenarios da Sé de Braga;— rendia para elles 30$000 réis e para o vigário 25, além do pé d'altar; con- tava 47 fogos— e era uma das freguezias do termo da villa e ouvidoria de Barcellos. Em 1768 era da apresentação do vigário da Sé de Braga;— rendia para o seu paro- dio 60$000 réis— e contava 56 fogos. O censo de 1864 deu-lhe 64 fogos e 250 habitantes,— e o de 1878 deu-lhe 56 fogos e 258 habitantes. A povoação de Villar do Monte, séde d'esta freguezia, demora a N.O da villa de Barcel- los, da qual dista 6 kilometros— 7 da sua estação na linha férrea do Minho;— 20 de Braga pela estrada real a macadam e 33 pela linha férrea;— 58 do Porto— e 395 de Lisboa. Alem da povoação de Villar do Monte, comprehende as seguintes:— Paço, Feiteira, Bouça, Cheira, Gasa Nova, Aldeia e Souto. A Chorogr. Moderna menciona mais: — Ou- teiro, Manello, Gandarella— e os casaes de ] Gandra, ou Lagos, e Cotarejo. Os meus apontamentos mencionam tarn- I bem a quinta da Boa Morte, que é da fami- milia Simões, de Barcellos. Freguezias limitrophes: — Santa Leocad>a, a N.;— Creixomil, a S.;— Santa Maria do Ab- bade, a E. — e Villa Cova, a O. Emquanto a templos, alem da sua egreja matriz, tem apenas a capella da Boa Morte. A festa principal que hoje aqui se celebra é a do Santíssimo Sacramento. Banha esta freguezia o ribeiro d'Antast que move 5 moinhos, — tem uma ponte de- nominada do Espanedeiro — e morre no Ca- vado. Producçòes dominantes:— milho e algum vioho, mas pouco e muito verde. Também engorda bois que exporta para a Inglaterra, mas esta industria, que já foi muito rendosa, está hoje decadente. V. Villar d' Andorinha. Ha n'esta freguezia uma eschola official de instrucção primaria para o sexo masculino — e um monte, denominado de S. Mamede, com uma pyramide geodésica. Passa n'esta freguezia a estrada real a ma- cadam. n.° 30, do Porto a Vianna, por Bar- cellos. Clima temperado e saudável. VILLAR DO MONTE, — freguezia do con- celho e comarca de Macedo de Cavalleiros, districto e diocese de Bragança, província de Traz-os-Montes. Reitoria. Orago S. Martinho, fogos 61, — habitantes 259. Em 1706 estava annexa á reitoria de Ma- cedo de Cavalleiros;— contava 40 fogos — e pertencia ao termo da cidade e ouvidoria de Bragança, bispado de Miranda. Em 1768 era ainda um simples curato da mesma apresentação do reitor de Macedo de Cavalleiros no mesmo bispado de Miranda; —rendia para o seu cura apenas 6$000 réis, além do pé daltar— e contava 48 fogos. O censo de 1864 deu-lhe 98 fogos e 269 almas;— o de 1878 deu-lhe 65 fogos e 269 almas— e hoje, pelos meus apontamentos, conta 61 fogos e 259 almas,— total— uma mi- séria I Não pode sustentar a sua autonomia I e demanda ser annexada, como outras mui- i tas d'este concelho, pois das 38 freguezias, VIL VIL 1245 que hoje o constituem, 17 não contam 100 fogos, cada uma!. . . Na sua máxima parte são muito pouco populosas as freguezias d'este districto e bis- pado de Bragança. Contrastam com as do districto e diocese do Algarve, como já dis- semos nos art. Villa Verde, freguezia do con- celho de Mirandella,— e Villa Verde, fregue- zia do concelho de Vinhaes, para onde re- mettemos os leitores. Esta pequena freguezia é formada unica- mente pela povoação do seu nome, que está a N. e na falda da serra de Bornes. Dista de Macedo de Cavalleiros 5 kilometros para S.S.E.;— 35 de Bragança;— 60 da Foz do Tua, estação da linha férrea do Douro e entron- camento da linha de Mirandella pela margem esquerda do Tua, prestes a concluir-se; — 199 do Porto— e 536 de Lisboa. Freguezias limitrophes:— Macedo de Ca- valleiros a N.N.O.;— Grijó a sudoeste;— Ol- mos a sue6te— e Castellãos a N.N.E., á qual devêra annexar-se por ser a freguezia mais próxima, pois dista d'ella 2 a 3 kilometros. Passa aqui a estrada districtal a macadam n.° 24. Banham esta freguezia differentes regatos e dois ribeiros, que a pequena distancia en- tram na ribeira do Ginço, confluente do Sa- bor. É bastante fértil o chão d'esta freguezia; produz muitos cereaes, castanhas, batatas, linho, azeite, fruetas e algum vinho de mesa, de boa qualidade l. Também cria bastante gado bovino e la- nígero. A povoação é muito pittoresca, cercada de frondoso arvoredo,— e o seu clima é tem- perado, mas pouco saudável, porque tem próximos vários pântanos, que viciam a athmosphera e são o foco das epidemias que teem assolado esta aldeia e obstado ao des- envolvimento da sua população ?. 1 É bom, mas o melhor vinho d'este con- celho e da parte alta d'esta província é tal- vez o da freguezia das Arcas. 2 Não obstante a insalubridade d'esta pa- rochia, um filho d'ella, que tinha sido guar- VOLUME II Esta freguezia passou da comarca e ouvi- doria de Bragança para o concelho de Cha- cim, extincto por decreto de 31 de dezem- bro de 1853, pelo qual passou para o de Ma- cedo de Cavalleiros, que absorveu o de Cha- cim. Os seus templos reduzem-se a egreja pa- rochial e duas capellas publicas, — todos singellos e sem coisa alguma digna de men- ção. O melhor edifício d'esta parochia é o col- legio que foi dos jesuitas, hoje propriedade e habitação da familia Pimenteis. Está bem tractado e bem conservado. VILLAR DO MONTE,— freguezia do con- celho e comarea de Ponte de Lima, districto de Vianna do Castello, arcebispado de Braga, Abbadia. Fogos 70, habitantes 296. Orago S. João Baptista. Em 1706 era abbadia do concelho e termo da villa dos Arcos de Val de Vez, comarca de Vianna, e da apresentação dos viscondes de Villa Nova da Cerveira;— rendia 120^000 réis— e contava 70 fogos, dos quaes perten- ciam 2o ao termo da villa de Ponte do Lima. Eram os que estavam a S. e O- d'esta fre- guezia. Em 1768 era da mesma apresentação; — rendia os mesmos 120$000 réis— e contava 54 fogos,— deduzidos talvez os que perten- ciam ao termo de Ponte de Lima. O censo de 1864 deu-lhe os mesmos 54 fogos e 251 habitantes,— e o de 1878 deu-lhe 65 fogos e 226 habitantes. Comprehende as aldeias de Villar do Mon- te, séde da egreja matriz,— Penedo, Pombei- ra, Rego, Costa, Rodo, Resteva, Cabo, Alem do Rio, Egreja e Cruz. Demora na pendente occidental da serra da Cruz Vermelha na margem direita do Lima, do qual dista 7 kilometros para N.N.O. —12 de Ponte de Lima paraN.N.E.;— 35 de Vianna; — 117 do Porto pela estação de Vian- na, e 454 de Lisboa. da da alfandega, falleceu no dia 29 de março de 1884 no Azylo Maria Pia, em Lisboa, contando 110 annos de edade ! . . . 79 1246 VIL VIL Freguezias limitrophes:— Miranda e Rio- frio, do concelho dos Arcos, a E.;— Labrujó, a N.; — Barrio e CepÕes, a O.— Calheiros e Refojos, a S. — pertencendo as ultimas 5 ao concelho de Ponte de Lima. ProdueçÕes dominantes: — milho, centeio e batatas. Também cria gado lanígero. O seu terreno é muito accidentado, por estar na encosta da grande serra da Cruz Vermelha, a qual offerece panoramas varia- dos e esplendidos e largo horisonte. D'ella se avista perfeitamente o littoral do atlân- tico desde Vigo até o Porto;— ao sul, sueste e nascente as serras de Lindoso, Gerez, Ma- rão e Estrella— e outras de Gallisa, Leão e Castella. Diz a tradição que esta freguezia foi fun- dada por 12 pastores da freguezia de Ca- breiro, concelho dos Arcos de Val de Vez, que por estes sitios costumavam passar a maior parte do anno, apascentando os seus rebanhos e, tentados pela fertilidade do solo e vastidão dos montados, aqui se estabele- ceram definitivamente. O clima é hastante áspero, mas saudável. Ao norte d'esta freguezia e a pouca dis- tancia d'ella passa a estrada a maeadam, de Ponte de Lima a Paredes de Coura, ainda em construcção. Ao meu bom amigo e Cyreneu, o sr. dr. Luiz do Figueiredo da Guerra, illustrado fi- lho de Vianna, agradeço os apontamentos que se dignou enviar-me. VILLAR DE MOUROS, — freguezia do con- celho e comarca de Caminha, districlo de Vianna do Castello, arcebispado de Braga, província do Minho. Reitoria. Fogos 230,— habitantes 990. Reitoria. Em 1706 era vigairaria da apresentação do chantre de Braga; — rendia para o seu vi- gário 1201000 réis e os dízimos, majs de 300$000 réis, metade dos quaes iam para a mesa arcebispal e a outra metade para os capellães de S. Pedro de Rates, na mesma Sé; — pertencia ao mesmo concelho de Cami- nha, então comarca de Vianna — e contava 230 fogos,— a mesma população d'hoje. Em 1768 era da mesma apresentação;— rendia para o seu vigário, também denomi- nado reitor, 250$000 réis— e contava 188 fogos,— população muito inferior á de 1706. O censo de 1864 deu-lhe 197 fogos e 873 habitantes,— e o de 1878 deu-lhe 229 fogos e 982 habitantes,— população inferior tam- bém á de 1706. Do exposto se vé que nos últimos 180 an- nos a população d'esta freguezia, longe de augmentar, se conservou estacionaria— e por vezes baixou muito, o que prova que o seu clima é pouco saudável, como se lê nos apontamentos que o sr. dr. Luiz de Figuei- redo da Guerra se digoou enviar-me, em- quanto que os apontamentos que recebi tam- bém do sr. João Affonso da Monteira dizem que é muito saudável e o melhor possível o clima d'esta parochia «por ter muito arvo- redo e estar completamente expurgada de focos de infecção, dizendo os velhos — que não se recordam de haver n'ella a mais pe- quena epidemia!» Por seu turno diz o sr dr. Luiz de Figueiredo da Guerra:— «O ter- reno d'esta parochia é fértil e muito abun- dante d'aguas, o qtfe a torna um pouco se- zonatica». Demora esta freguezia em um valle nas duas margens do rio Coura e na esquerda do Minho, distando a sua egreja parochial approximadamente um kilometro do ponto mais próximo na margem direita do Coura; —2 da estação de Lanhellas, a mais próxima na linha férrea do Minho;— 3 da margem es- querda do rio d'este nome;— 7 de Caminha, pela estação de Lanhellas; — 23 de Valença; —30 de Vianna;— 87 de Braga;— 111 do Porto — e 488 de Lisboa. Comprehende duas grandes aldeias: — Vil- lar de Mouros, a séde da parochia, — e Mari- nha, que antigamente foijuradia (?) — segun- do se lê nos apontamentos do sr. J. A. Mon- teira. Também o seu nome de Marinha pa- rece revelar a existência de marinhas ou salinas em outros tempos nas margens do Coura, — salinas talvez hoje transformadas em campos, como se transformaram ou- tras muitas no littoral do nosso paiz, v. g. em Mattosinhos. junto da foz do Leça, em Massarellos, junto da foz do Douro,— em Ta- VIL VIL 1247 varede, junto da foz do Mondego, — em Villa Real de Santo Antonio, janto da foz do Gua- diana, etc. Também suppomos que a aldeia de Villar de Mouros revela a permanência dos mouros n'estes si tios. A elles se attribue a fundação de uma antiquíssima torre, denominada tor- re dos mouros, e que esteve no sitio que ain- da hoje conserva o seu nome. Foi demolida em 1838 e empregada a sua pedra nos pe- gões da ponte que então se fez na foz do Coura, junto de Caminha. Por ella passa a estrada real a macadam, n.° 23, de Caminha a Melgaço, por Valença. Não se confunda a dieta ponte com outra que ha sobre o Coura, alguns kilometros a montante, no termo d'esta freguezia, pois esta ultima, se não data do tempo dos mou- ros, vem com certesa dos princípios da nossa monarchia e promette longa duração, porque ainda está muito solida e bem conservada. Tem 3 grandes arcos de pedra ogivaes e 2 intermédios, mais pequenos, sem data nem inscripção alguma. Freguezias limitrophes: — Seixas, Cami- nha, Villarelho, Arga, Argélia, Venade, Co- vas e Soppo. Cortam esta freguezia duas estradas a ma- cadam:— a districtal n.° 1, de Caminha a Melgaço, por Paredes do Coura, ainda em construcção, — e uma municipal que parte d'aquella, no limite d'esta parochia, e en- tronca na real n.° 23, de Caminha a Melgaço por Valença, — na freguezia de Seixas. Producções dominantes: — milho, vinho verde, de boa qualidade, principalmente o branco, e muita madeira e lenha de pinho, que exporta em grande quantidade para as freguezias limitrophes. Também abundam n'esta parochia magni- ficas hervagens de semente, com que engor- da muitos bois que exporta para a Inglater- ra, posto que no momento esta industria se acha bastante decadente. V. Villar ftAndo- rinho. Ha também aqui mais industrias de certa importância:— a de moagem de cereaes,— - a da queima do bagaço para fazerem aguar- dente,— a do fabrico de telha, louça branca e sal, — a de serragem de madeira em um engenho movido por agua, — e a de cutilaria, bastante aperfeiçoada e muito acreditada. Vão d'aqui muitos artigos d'esta industria para a Galliza, para Caminha e mesmo para Lisboa. Banha esta freguezia, como já dissemos, o rio Coura (veja-se esta palavra) que desagua no rio Minho entre as freguezias de Cami- nha e Seixas. Fertilisa extensos campos n'es- ta parochia de Villar, que por elle exporta muita lenha, madeira, cereaes e outros arti- gos, pois o Coura é navegável por espaço de 6 kilometros e move n'esta parochia grandes azenhas para moagem de cereaes, montadas no leito d'elle, alem dos 12 moinhos da quinta da Várzea, de que logo faltaremos, e que no dialecto d'esta provincia^denominam Barzea ou Barze. É muito antiga esta parochia. Além da sua ponte ainda existente, e da celebre torre dos moufos, demolida no 2.° quartel d'este século, como já se disse, — torre que, na opinião do sr. dr. Luiz de Fi- gueiredo da Guerra, foi selar dos Mendes, teem apparecido em differentes pontos d'esta parochia sepulturas abertas em rocha (ainda se encontram algumas no adro da matriz, a 44 centimetros de profundidade) moedas ro- manas e outros vestígios de remota oceupa- ção, principalmente no monte do Crasto (Castro) ramo do de Goyos. Ali "se vêem restos de fortificações e de edifícios de forma circular e se encontra a cada passo fragmentos de cerâmica romana e objectos prehistoricos. Ainda ha poucos annos alli appateceu um bello machado de bronze, que hoje faz parte da interessante collecção de prehistoria que possue o sr. dr. Luiz de Figueiredo da Guerra. D'esta freguezia se encontra também men- ção em vários documentos dos séculos xi e xii, — e sabe-se que nos princípios da nossa monarchia foi couto pertencente ao bispo de Tuy, mas não nos consta que tivesse foral próprio. Pelo menos FraDklin não o menciona. Segundo se lê na Chorogr. Port. este couto de Vilter de Mouros foi dado ao bispo e Sé 248 VIL VIL de Tuy, pelo nosso primeiro rei D. Affonso Henriques e por sua mãe, a rainha D. The- resa, no dia 3 de setembro do anno de 1125, — e já no anno de 1071 el-rei D. Garcia ti- nha dado o mesmo couto á dieta Sé e ao seu bispo D. Jorge. O mesmo se lè na Espana Sagr. tomo 22, pag. 66, n.° 12,— e nas Diss. Chronol. e Crit. de João Pedro Ribeiro, tomo 4.e, pag. 148, in principio. Ha n'esta parochia jazigos de ferro e uma mina simplesmente registrada. Templos 1. °—Egreja matriz, ampla, antiga e bem tractada. Foi transferida para o chão que hoje oc- cupa 1 no anno de 1553 e sagrou-a o arce- bispo de Braga D. Balthasar Limpo, sendo aqui parocho um seu sobrinho, de nome Belchior; mas a torre que se ergue a meio do frontispieio foi feita ou reconstruída em 1768. Tem altar-mór com a imagem da pa- droeira,—e 5 lateraes:— Santo Nome de Deus,— Senhora do Rosario, onde hoje se ve- nera também a imagem do Coração de Je- sus,—Santo Antonio— Almas,— e Coração de Maria, altar m< derno. 2. °— Capela de Santo Amaro. 3. °— Capella de S. Sebastião. 4. °— Capella de S. Braz. 5. ' — ^Capella da Senhora do Crasto, no pico do monte d'este nome, todas publicas. 6. °— Capella do Senhor Bom Jesus dos Pas- sos, pertencente á irmandade d'este titulo, 7. °— Capella de Santa Quitéria, perten- cente á quinta do Crasto. 8. °— Capella de Santo Antonio. 9. s— Capella da Senhora da Lapa. 10. ° — Capella de Sunta Luzia. 11. °— Capella da Senhora do Bom Successo. Estas ulumas 5 são particulares. A capella de Santo Amaro tem altar-mór, com a imagem da Stnhora da Peneda,—e 2 lateraes:— um com a imagem de Santo Ama- ro,—outro com a de S. Bento. 1 Os nossos beneméritos informadores não disseram onde estava a egreja velha. A capella do Senhor dos Passos, denomi- nada egreja nova, tem egualmente 3 altares; —no mór a imagem do Senhor crucificado, — em um dos lateraes a da Senhora da As- sumpção—e n'outro a de S. Paio. As outras capellas teem um só altar, mas todas se acham abertas ao culto e bem tra- ctadas. As festas principaes d'esta freguezia são as de Endoenças, ou da semana santa, a ex- pensas do povo e de um legado perpetuo de 90$000 réis, deixado para aquelle fim por D. Maria do Carmo de Brito, de Vianna do Castello. Também aqui se faz com grande pompa todos os annos a procissão dos Santos Pas- sos, pela irmandade própria, sendo numero- sa a concorrência de fieis dos povos d'este coocelho e mesmo da Galliza. Quinta da Barze (Várzea) É a melhor propriedade particular d'esta freguezia; — demora emre as povoações de Marinha e Villa'" de Mouros; — tem um ve- nerando palacete brazonado, muito antigo — e foi cabeça d'um morgado instituído em 1621 a favor de Migml d'Andradeda Gama- Com o casamento de D. Antonio Mauricio de Sousa Amorim, entraram os Amorins, oriun- dos da Galliza, no vinculo de Villar de Mou- ros, e foi aquelle fidalgo quem restaurou a casa, ennobrecendo-a com a capella e obras de grande vulto,— e sua bisneta D. Maria do Carmo de Brilo a deixou em 1868 a um bis- sobrinho e actual possuidor d'esta grande quinta, o sr. Jos-é da Cunha Guedes de Brito e Sá Soltomaior. Um dos mais intelligentes e beneméritos administradores d'este vinculo foi Lourenço da Gama e Andrade, que mostrou a esta fre- guezia e a esta província o grande partido que podíamos tirar dos nossos rios e ribei- ros, aproveitando convenientemente as suas aguas, ainda hoje quasi todas em abandono I Captou a distancia de 10 kilometros da sua quinta as aguas do Coura, junto da ca- pella de S. João d'Arga; — conduziu-as em uma grande levada de canos de pedra até o alto de uma encosta— e na pendente da dieta VIL VIL 1249 encosta monlou 12 moinhos de cereaes e um lagar d'azeite, movidos pela dieta agua. Tam- bém hoje ali se vê um engenho de serrar madeira com o mesmo motor. Alem d'isso transformou em bellos campos e prados re- gadios muitos hectares de terreno árido, a juzante da dieta levada, augmentando assim muito consideravelmente o valor e rendi- mento d'aquelles chãos e da sua quinta. Fez mais um homem só do que teem feito muitos dos nossos municípios, que luctam com falta d'agua, tendo bons manancíaes a menos de 10 kilometros. Com vista á camará da Re- goa, d'essa formosa villa, prin- cesa do Douro, que tem um or- çamento de vinte e tres contos de réis e absoluta falta d'agua> tanto potável como de rega, distando do rio Corgo menos de tres kilometros? !. . . Duas levadas, semelhantes áquella, foram feitas por duas freguezias nossas e d'ellaa tiram grande utilidade. XJ Villa Cova a Coelheira, vol.XI, pag. 707, col. 2." — e Alvarenga n'este diccionario e no supplemento. Ha n'esta freguezia, na margem esquerda do Coura, um espaçoso e lindo campo, de- nominado Campo do Casal ou da feira, junto da capella de Santo Amaro, em sitio ameno e muito pittoresco. Tem uma bonita alame- da de faias e ali se faz uma feira de gado a 28 de cada mez. Ha também n'esta freguezia um bom ce- mitério. Está junto da egreja matriz;— foi feito em 1884;— tem uma boa fronteria com um gran- de portão de ferro — e grades de ferro tam- bém na sua circumftrencia. Em uma das faces exteriores da matriz ha uma inscnpção em lettra gotbica, mas nenhum dos meus informadores se dignou «nviar-me copia delia. Ha também n'esta freguezia dois bons es- tabelecimentos commerciaes de mercearia, pannos de lã, algodão, etc. Causou grande prejuiso n'esta parochia e nas circumvisinhas o temporal de 25 de no- vembro de 1876, sendo offkialmente ava- liado em 1:147$000 só o prejuiso que esta parochia soffreu. V. Riba d' Ancora, vol. 8.° pag. 168. Fecharemos este artigo mencionando um facto que se deu n'esta parochia em março de 188o e que muito a consternou toda: Vivia aqui um pobre homem, já decrépi- to, de 70 annos e entrevado, por nome João Romão. Tinha por companheira unicamente uma filha, e um dia pedia lhe elle que lhe accendesse uma candeia e a pendurasse no leito onde jazia inerte. Aeeedeu a filha e em seguida foi para um moinho distante. Pouco depois notou-se que saia da casa muito fumo e n'ella havia in- cêndio; correram logo muitas pessoas para verem se o extinguiam e salvavam o desdi- toso velho, mas, a despeito de todos os es- forços, a casa foi pasto das chammas, bem como o pobre velho, sem que podessem va- ler-lhe. Não se explica a consternação d'este bom povo, quando, exhausto o incêndio, depara- ram com o cadáver do infeliz septuagenário reduzido a carvão I . . . Pelo meiado do ultimo século foi parocho d'esta freguezia, e parocho muito illustrado, o rev. João Affonso de Suusa. V. Insua, vol. 3. 6 pag. 397, col. l.a— e com relação ás salinas de que fizemos menção supra, veja-se o artigo Caminha, vol. 2.°, pag. 57, col. 2." in principio. Aos srs. João Affonso da Monteira e dr. Luiz de Figueiredo da Guerra, illustrado fi- lho de Vianna, a quem este diccionario tanto deve, agradeço os apontamentos que se di- gnaram enviar-me. VILLAR DE MDRTEDA, — freguezia do concelho, comarca e districto de Vianna do Castello, arcebispado de Rraga, na provín- cia do Minho. Abbadia. Orago S. Miguel;— fogos 82,— habitantes 340. Em 1706 era abbadia da mitra, tendo es- tado annexa á parochia da Montaria,— e con- tava 40 fogos. 1250 VIL VIL Em 1768 era abbadia da mesma apresen- tação;—rendia 120$000 réis— e contava 43 fogos. O censo de 1864 deu-lhe 63 fogos e 341 habitantes,— e o de 1878 den-lhe 75 fogos e 328 habitantes. Comprehende as aldeia? ou povoações se- guintes: Villar de Murleda, sède da paro- chia, Orbideiro, Paço, Rodo, Casal e Pereiro- Demora esta freguezia nas vertentes da serra d'Arga e na margem direita do Lima, do qual a séde da parochia dista cerca de 6 kilometros para N.N.O.; — 12 de Vianna para N.E.;— 94 do Porto— e 431 de Lisboa. Freguezias limitrophes:— Amonde, Mon- taria, Nogueira e Meixedo, todas do conce- lho de Vianna,— e S. Pedro d'Arcos, do con- celho de Ponte de Lima. Producções dominantes: — cereaes e vinho verde. Também cria gado lanígero. No monte do Crasto 1 (Castro) limite d'esta parochia, se encontram vestígios de remota occupação: — restos de muralhas, moedas ro- manas e cavas de exploração de minas. Demora também n'esta freguezia e em parte da de Nogueira a grande matta das Corredouras, que foi dos religiosos domini- cos de Vianna e é hoje dos herdeiros de José Joaquim Valladares, de S. Salvador da Torre. É o maior pinheiral de todo o concelho de Vianna. Corta esta freguezia um ribeiro que nasce na serra d'Arga e morre no Lima. Ao sr. dr. Luiz de Figueiredo da Guerra, illustrado e benemérito filho de Vianna, agra- deço os apontamentos que se dignou en- viar-me para a descripção d'esta parochia. VILLAR DE NANTES —freguezia do con- celho e comarca de Chaves, districto de Villa Real, diocese de Braga, província de Traz- os-Montes. Reitoria. Orago o Salvador;— fogos 180, — habitantes 745. Em 1706 era vigairaria da casa de Bra- gança,—pertencia ao termo da villa de Cha- ves e á comarca e ouvidoria de Bragança; 1 Almeida deu a este monte o nome de Montechristo. — comprehendia as povoações de Villar de Nantes com 80 fogos, — Nantes com 56— e Outeiro Joào com 30,— total 166. 1 Em 1768 era vigairaria collada da mesma apresentação,— rendia 100$000 réis— e con- tava 185 fogos. O censo de 1864 deu-lhe 158 fogos e 624 habitantes,— e o de 1878 deu-lhe 160 fogos e 672 habitantes. Comprehende hoje as aldeias seguintes: — Villar de Nantes, a séde, com 80 fogos, — Nantes com 65, — Fonte Carriça com 20— e Valle da Zirma com 15. Paroehias limitrophes:— Chaves, Noguei- ra, Samaiões, Cella e Eiras. Producções dominantes: — centeio, trigo,, batatas, milho, cevada, feijões, castanhas, vi- nho, grão de bico, excellente madeira de cas- tanho e muita fructa de caroço de óptima qualidade. Demora esta freguezia na formosa veiga de Chaves, ao fundo da serra do Abrunhei- ro, notável pela sua vegetação e pela grande quantidade de castanheiros que a povoam e produzem muita castanha e muita madeira, considerada como a melhor de Portugal. A povoação de Villar de Nantes, dista da villa de Chaves 4 kilometros para S.S.E.; — 2 da estrada real a macadam de Chaves a Villa Pouca d'Aguiar, para S.E.;~65 de Villa Real;— 92 da estação da Regoa, na li- nha férrea do Douro;— 196 do Porto— e 533 de Lisboa. Estas distancias devem mo- dificar-se, logo que se cons- truam as linhas férreas em pro- jecto e estudos: de Chaves pe- los valles do Tâmega e do Paiva até Vizeu— e de Chaves pelo valle do Corgo, Regoa e La- mego até Vizeu também. 1 É isto o que se lê na Chorographia Por- tugueza, mas ha muito que foi annexada á freguezia de Samaiões a exlincta parochia, hoje simples aldeia, de Outeiro Jusão (V.) e não Outeiro João, como diz Carvalho. Perdeu pois esta parochia de Villar de Nantes a dieta aldeia do Outeiro, mas em compensação recebeu outras, que havemos de indicar. VIL VIL 1251 Esta parochia está muito bem servida de estradas a maeadam, poisé atravessada pela de Chaves a Valle Passos, por Carrazedo de Montenegro, — e pela de Chaves a Mirandella, — passando a l.a ao norte d'esta freguezia— e a 2.* ao sul. Também passa junto d'ella, a distancia de 2 kilometros, como já dissemos, a estrada real a maeadam de Chaves a Villa Pouca d'Aguiar, seguindo d'ali para Guima- rães, por Basto— e para a Regoa, por Villa Real. Templos 1° — A egreja parochial. É antiga, mas está bem conservada e tem altar-mór e dois lateraes. 2. °— Capella do Espirito Santo, publica» também muito antiga e já mencionada na Chrogr. Port. Teve outr'ora luzidas festas e grande ro- magem, mas hoje tem apenas missa cantada e sermão na dominga do Pentecostes. Está na aldeia de Villar de Nantes. 3. ° — Capella de SanVAnna, também pu- blica. Demora na aldeia de Nantes e foi reparada em 1884 pelo benemérito bispo de Macau, D. Antonio Joaquim de Medeiros, de quem logo fallaremos. 4. °— Capella de Santa Barbara, na aldeia do Valle da Zirma. É particular e pertence á família Leites, hoje representada por Alvaro de Magalhães, em virtude do seu casamento em primeiras e segundas núpcias com duas senhoras d'a- quella familia. 5. °— Capella de Nossa Senhora do Soccor- ro, no logar de Nantes e também particular, mas com porta franca ao publico. Era do Hospício de Convalescença, que ti- veram aqui os frades do convento de S. Fran- cisco de Chaves, e estava unida ao dicto Hos- pício, que foi fundado em 1677 a 1678, go- vernando a província da Soledade o segundo ministro provincial d^lla, Fr. João da Barca- Tem 4 cellas, varanda, cosinha, refeitório e outras ofíicinas, bons pomares de fructa, hor- tas, flores e abundância d'excellente agua. A capella tem um só altar com a imagem da padroeira, feita em Braga pelos annos de 1690,— sino e sacristia,— e foi a dieta ima- gem alvo de grande devoção d'este povo e dos circumvisinhos. Tanto a capella como o Hospício perten- cem hoje ao sr. José Solari Allegro. Pessoas notáveis Nasceu n'esta parochia, no dia 15 d'outu- bro de 1846, D. Antonio Joaquim de Medei- ros, bispo de Macau, filho legitimo de Au- gusto Joaquim de Medeiros e de D. Theresa de Jesus. Tendo frequentado alguns estudos em Braga, entrou no Collegiodas Missões Ultra- marinas de Sernache do Bom Jardim em 17 d'abril de 1866, onde muito se distinguiu pelo seu talento, applicação e estudo, sendo laureado em humanidades e obtendo sempre o 1.° premio nas aulas theologicas. Nos torneios litterarios que então se fa- ziam com graude pompa no dicto collegio por occasião das festas do Mez de Maria, em maio, e da Immaculada Conceição, em de- zembro, tornou-se muito notável D. Antonio, principalmente em uma festa de Nossa Se- nhora da Conceição, a que assistiram alem das primeiras pessoas da localidade, os srs. D. José Luiz Alves Feijó, bispo que foi de Bragança, Carlos José Caldeira e o Pro-Nun- cio apostólico Mattéra, os quaes, ao verem o modo brilhante como o sr. D. Antonio de- fendia a sua these, não poderam conter-se e de simples espectadores passaram a arguen- tes. Tomou a iniciativa o Pro-Nuncio, fican- do tão satisfeito que no fim da argumentação, cheio de enihusiasmo, estendeu a mão ao seu vencedor, felicitando-o com estas palavras: muito bem, muito bem, sr. Medeiros!. .. Concluída a sua ordenação, foi nomeado professor do seminário de Macau, para onde partiu a 7 d'abril de 1872, e ali prestou re- levantes serviços como professor e reitor, apesar das grandes contrariedades eom que luctou. Nomeado visitador das egrejas de Timor, partiu para ali em novembro de 187o. En- controu aquella Missão na maior decadência; 1252 VIL VIL mas rehabilitou-a á custa de insano traba- lho e de sacrifícios de toda a ordem. Regressou aTimorem abril de 1877, acom- panhado d'alguns padres do Collegio das Mis- sões e, como vigário geral e superior da di- eta Missão, immortalisou o seu nome. Edifíeou residência para os missionários e collegios de ensino,— proveu as egrejas e escholas— e lançou os fundamentos da egreja de Dilly, hoje uma das melhores da Occea- nia, etc. Pelo seu não vulgar merecimento, o nosso governo em 1882 o apresentou coadjutor do arcebispo de Gôa, sendo logo confirmado pela Santa Sé como bispo titular de Thermopil- las, e sagrado em 15 d'abril de 1883, na Sé primacial de Gôa. Traclou logo de visitar as egrejas d'aquelle arcebispado, mas, aggravando-se-lhe os pa- decimentos contrahidos no clima de Timor, teve de regressar á metrópole para se resta- belecer. FiDalmente, por decreto de 29 d'agosto de 1884 foi apresentado bispo de Macau, para onde, pouco depois de confirmado, partiu. Foi confirmado no consistório publico de 13 de novembro de 1884;— partiu para Ro- ma no dia 3 de fevereiro de 1885, pelo san- tuário de Lourdes, onde se demorou um dia e oito em Roma, sendo affectuosamente re- cebido por Sua Santidade Leão XIII;— foi a Nápoles ver o Vesúvio e as ruínas de Her- culanum— e seguiu para Macau, onde entrou em março do mesmo anno, sendo recebido com grande pompa. É um prelado verdadeiramente apostólico pelo seu zelo, prudência e sabedoria. As suas pastoraessão um modelo de uneção religiosa. Macau, até hoje, (setembro de 1886) teve os 18 bispos seguintes: 1. °—D. Belchior Carneiro, jesuíta, de 1566 a 1583. Morreu com fama de santidade. 2. °— D. Fr. Leonardo de Sá, até 1599. 3. °— D. Fr. João da Piedade, até 1623. 4-° — D. Diogo Correia Valente, jesuíta, até 1633. 5. ° — D. Fr. Bento de Christo, até 1642. 6. °— D. Philippe Marino, jesuíta, pelos an- nos de 1671. I 7.°— D. João do Casal, até 1735. 8. ° — D. Fr. Eugénio Trigueiros, até 1741. 9. ° — D. Fr. Hilário de Santa Rosa, até 1750. 10. ° — D. Bartholomeu Mendes dos Reis, até 1772. 1 11. °— D. Alexandre da Silva Pedrosa Gui- marães, até 1782. 12. ° — D. Fr. Marcellino José da Silva, ate 1800. 13. ° — D. Fr. Manuel de S. Galdino, até 1805. 14. ° — D. Fr. Francisco de Nossa Senhora da Luz Chacim, até 1828. 15. ° — D. Nicolau Rodrigues Pereira de Borja, até 1845. 16. °— D. Jeronymo José da Matta, até 1859. 17. °— D. Manuel Bernardes de Sousa En- nes, desde 1870 até 1883. Foi transferido em 1883 para Bragança— e em 1885 para Portalegre, onde actualmente rezide. 18. ° — D. Antonio Joaquim de Medeiros, o bispo actual, sem contestação um dos mais dignos pela sua illustração e virtudes. Vindo á sua terra natal em agosto de 1884, ministrou o Chrisma a milhares de pessoas na vasta egreja matriz de Chaves, por occa- sião da pomposa festividade que no fim do dicto mez se celebrou ali, na egreja do con- vento das religiosas capuchas, ao Santíssimo Coração de Maria. Nasceram também n'esta parochia e na mesma aldeia de Nantes os 3 irmãos seguin- tes:— José Celestino da Silva, capitão de ca- vallaria da Guarda Municipal de Lisboa, — o rev. Julio Celestino da Silva, professor de geographia e historia no Lyceu nacional de Braga e no seminário da mesma cidade, ca- lendarista do arcebispado, etc. — e Antonio Celestino da Silva, que foi em Braga tam- bém professor de desenho no Lyceu e em vários estabelecimentos de instrucção secun- daria,— no Collegio Académico, no Collegio de Nossa Senhora do Sameiro, etc, deixan- do viuva e filhos é profundas saudades a to- dos quantos tiveram a ventura de o conhe- cer. Nasceu a 13 de junho de 1843;— frequen- tou em Braga o curso do Lyceu, obtendo VIL VIL 1253 honroso diploma; — passou depois para a Eschola Polytechnica do Porto, na qual fez acto do i.° anno;— em seguida assentou pra- ça, mas, sendo 1.° sargento, pediu baixa e matriculou-se na Academia de Bellas Artes, em Lisboa, na qual seguiu os cursos de pin- tura histórica e architectura, obtendo hon- rosas distincções. Vagando a cadeira de de- senho no Lyceu nacional de Braga, foi n'ella provido e regeu-a muito proficientemente 5 annos, sendo ali collega do seu irmão Anto- nio, mas falleceu quasi repentinamente no dia i6 de junho de 1885, em Braga, contan do apenas 43 annos 1. . • Era um cavalheiro de muito merecimento. Também viveram n'esta freguezia de Vil- lar de Nantes e aqui falleceram os seguin- tes senhores : 1. ° — Alexandre da Costa Leite, general re- formado, natural da freguezia de Samaiões e que militou com bravura na guerra penin- sular e nas guerras civis posteriores, em pró da causa liberal. 2. °— O dr. Antonio da Costa de Lima Lis- boa, natural de Ponte de Lima e que foi cor- regedor, etc. Casou n'esta freguezia de Villar de Nan- tes com uma senhora da família Carmona. Banha esta freguezia um ribeiro que des- agua na margem esquerda do Tâmega e tem 4 kilometros de curso. Alem das povoações supra mencionadas, comprehende esta parochia as quintas da Matta, Seixal, Campo da Roda, Senhora da Lapa e o casal da Ribeira d'Avellãs. Fabrica-se nesta parochia telha de boa qualidade e muita louça de barro preto, que exporta para os concelhos limitrophes e para o distiicto de Bragança. É óptima para cosinha. Terminaremos dizendo que esta freguezia outr'ora foi denominada Varzena, segundo se deprehende do Livro Fidei. V. Varzena. Ao meu illustrado collega, o rev. sr. Ma- nuel Henrique da Silva Machado, digníssimo reitor de S. Martinho de Bornes, agradeço os apontamentos que se dignou euviar-me. VILLAR D'OSSOS,— freguezia do conce- lho e comarca de Vinhaes, districto e dio- cese de Bragança, provincia de Traz-os-Mon- tes. Abbadia. Orago S. Cypriano; — fogos 124, habitantes 660, divididos pelas 3 aldeias se- guintes:— Villar d' Ossos, a séde da matriz, com 66 fogos,— Lagareí 'lios (V.) parochia ex- tineta, com 34 fogos, — e Zido, antigamente Izedo, com 24 fogos. Em 1706 a povoação de Lagarelhos era freguezia independente e contava 50 fogos; — e a povoação de Villar d' Ossos era abba- dia da mitra no termo e concelho de Vi- nhaes, comarca e diocese de Miranda, e con- tava com a aldeia de Zido 66 fogos. Em 1768 Villar d'Ossos era um simples curato da apresentação do abbade de Moi- menta, freguezia deste mesmo concelho, — recebia o cura 8£000 réis, além do pó dei- tar,—e contava 50 fogos. O censo de 1864 deu lhe 114 fogos e 586 habitantes— e o de 1878 deu-lhe 118 fogos e 628 habitantes,— comprehendendo as povoa- ções de Zido e Lagarelhos. Banha esta freguezia uma grande ribeira confluente do Rabaçal, que morre no Tua, e demora a povoação de Villar d'Ossos na margem direita da mencionada ribeira, dis- tando de Vinhaes 7 kilometros para N.O.; —40 de Bragança;— 111 de Miranda do Dou- ro;—108 de Mirandella, por Bragança;— 158 da estação de Tua na linha férrea do Douro pela linha férrea do Tua, prestes a coneluir- se; — 297 do Porto, pelas linhas férreas do Tua e Douro,— e 634 de Lisboa. Freguezias limitrophes:— Candedo, Tra- vanca, Paçó e Villa Verde. Producções dominantes: — milho, trigo, centeio, batatas, castanhas e lã, pois tem muitas hervagens e cria bastante gado de toda a qualidade. Também ha nos seus montes abundância de caça grossa e miúda, incluindo raposas e lobos. Templos l.° — A egreja matriz. É de uma só nave; em altar-mór e 2 la- 1254 VIL VIL teraes, — côro é tribuna particular do pala- cete dos Bacellares, viscondes de Montale- gre, com rótulos para a capella-mór,— e um bom adro com grades de ferro. É muito antiga e está limpa e bem con- servada. 2.°— Capella do Santo Christo, na mesma povoação de Villar a" Ossos. É publica e está hoje no cemitério paro- chial, que se fez em volta d'ella. '3.° — Egreja de S. Pedro em Lagarelhos e que foi a matriz da extincta parochia d'este nome. 4. ° — Capella de Nossa Senhora das Neves, na povoação de Lagarelhos. É publica. 5. ° — Capella de S. Thiago, na povoação de Zido. É também publica. Ha n'esta freguezia, na povoação de Villar d' Ossos, um bom palacete brasonado, solar da nobre familia Pintos Bacellares, viscon- des de Montalegre, hoje habitado pelo sr. Manuel de Mello, da Espinhosa, junto da villa de Trovões, concelho da Pesqueira, por haver casado com a ex.m* sr.a D. Ignez Cân- dida Pinto Bacellar, neta do penúltimo vis- conde de Montalegre, Luiz Vaz Pereira Pinto Guedes, sobrinho do ultimo visconde de Mon- talegre—Francisco Vaz Guedes Dacellar. Foi i;° visconde de Montalegre o tenente general Manuel Pinto Bacellar de Moraes Sarmento, senhor da casa de Villar d' Ossos. Fallecendo sem filhos varões, succedeu- lhe sua filha e herdeira — D. Ignez Cândida Pinto Bacellar. Casou ella com Luiz Vaz Pe- reira Pinto Guedes, filho segundo da casa do Arco, em Villa Beal— que foi marechal de Campo e 2.° visconde de Montalegre. Tiveram Francisco Vaz Guedes Bacellar e Manuel Pinto Vaz Guedes Bacellar1. D'estes 1 Tiveram também uma filha, D. Carolina Vaz Pinto Bacellar, que casou com seu pri- j mo Gaspar Bibeiro, da Dobre casa de Santa Eulália, no concelho de Ceia. A dieta senhora falleeeu em Villar d'Os- sos, deixando dois filhos: — Manuel, que fal- leeeu de tenra idade,— e Luiz Bibeiro Pinto Bacellar que vive ora na sua casa de For- nos do Pinhal, freguezia d'estenome, conee- lho de Val Passos,— ora na de Santa Eulá- lia, de Ceia. 2 filhos o l.° foi 3.° e ultimo visconde de Montalegre. Falleeeu solteiro e sem succes- são em 1835, na idade de 21 annos, sendo já tenente coronel de cavallaria na conven- ção d'Evora Monte (1834) pelo que lhe suc- cedeu seu irmão Manuel Pinto Vaz Guedes Bacellar. Casou este com sua prima D. Anna Caro- lina Augusta Vaz Guedes Pereira Pinto Tel- les de Menezes e Mello, senhora da casa de Mo de Moinhos, freguezia d'este nome, con- celho de Penafiel, e herdeira da de Villa Garcia, em Amarante, por seu pae— Miguel Vaz Pereira Pinto Guedes, — filho de José Vaz Pereira Pinto Guedes, 1.° visconde de Villa Garcia e irmão do 2.° visconde de Montalegre. D'este consoreio houveram 17 filhos, entre elles os seguintes : —Luiz Vaz, 2.° visconde de Villa Garcia; — Manuel Pinto. Casou com uma filha do visconde da Bou- ça;— é hoje também visconde d'este titulo — e vive na freguezia da Bouça, concelho de Mirandella. —D. Ignez Cândida Pinto Bacellar, men- cionada supra, e casada com Manuel de Mello Vaz de Sampaio, da Espinhosa. V. Villa Garcia, vol. XI, pag. 763, col. 1." — e Villa Real de Traz os-Monles, no mes- mo vol. pag. 996 e seg. Veja-se também a Memoria e exposição authentica da conducta civil e militar de Luiz Vaz Pereira Pinto Guedes, visconde (2.°) de Montalegre, desde 1821 até 1823,— publicada em Lisboa, na Impressão de João Nunes Esteves, em 1823. Aquella Memoria defende o diclo mare- chal, 2.° visconde de Montalegre, das censu- ras que lhe irrogaram os emulos e que de- terminaram o seu tio marechal Silveira, | conde de Amarante e marquez de Chaves, a tirar-lhe em Zamora o commando do regi- mento de cavallaria n.° 6, que fazia parte da divisão, com que o marechal Silveira aecla- mou em 1823 el-rei D. João VI, na provín- cia de Traz-os-Montes. Temos sobre a nossa banca d'estudo um exemplar da dieta Memoria, mas possuímos VIL VIL 1255 outra, muito mais extensa e mais explicita sobre o assumpto. É a historia fiel, minuciosa e muito con- scienciosa da dieta revolução de Traz-os- Montes e da divisão do Silveira desde o seu pronunciamento em Villa Real, no dia 23 de fevereiro de 1823, até que regressou da Hes- panha. Foi escripta pelo rev. dr. Antonio dos San- tos Leal, de Moncorvo, abbade de Quinehães} no concelho de Fafe, dezembargador da re- lação ecclesisstica de Braga, deputado sup- plente ás cortes de 4822 e ultimamente go- vernador do bispado de Pinhel, onde falle- ceu. Era homem muito illustrado e muito rea- lista;— acompanhou a dieta divisão, como addido ao estado-maior;— foi secretario par- ticular do Silveira; — escreveu differentes proclamações que ao tempo se distribuíram e quando o morgado de Matheus, depois conde de Villa Real, D. José Luiz de Sousa, quartel mestre general e coronel ajudante do general Silveira, foi por este enviado co- mo parlamentario ao commandante em chefe das tropas francezas realistas que entraram em Hespanha n'aquelle anno, foi o rev. dr. Antonio dos Santos Leal nomeado secreta- rio do morgado de Matheus, etc. Ninguém pois mais competente do que elle, para escrever sobre o assumpto, como escreveu, a Memoria que possuímos e que in- felizmente ainda se conserva manuseriptal N'ella descreve tudo o que observou e pre- senciou, — inclusivamente as intrigas entre os officiaes superiores da dieta divisão, — qualifieando-os todos com a maior imparcia- lidade e tractando alguns bem duramente'.... Ali se encontram noticias muito interes- santes para a historia d'aquella revolução e d'aquella divisão, — noticias em grande parle ignoradas até hoje. O citado ms., foi por nós comprado no lei- lão da grande livraria do dr. Vieira Pinto; — ó um folio em bella calligraphia;— está completo e luxuosamente encadernado em marroquim— e de bom grado o facultaremos a quem deseje consultal-o. Tem esta freguezia de Villar d' Ossos re- sidência parochial e uma boa horta conti- gua. Também teve um pequeno passal, que por ordem do governo foi vendido em hasta publica e convertido o seu producto em in- scripções, averbadas ao abbade, que recebe o juro, — 48$000 réis annuaes, — alem de 180$000 réis de coDgrua em dinheiro — e das offertas, que eonsistem em um alqueire de centeio de cada fogo. O abbade actual é hoje também arcypreste de Vinhaes. Terminaremos mencionando outra família nobre que ha n'esta freguezia, na povoação d'Ossos,— é a familia Machado, hoje muito dignamente representada pelo sr. José An- tonio Machado e pela sua ex.raa esposa D. Maria Eugenia de Moraes Campilho, irmã dos morgados Campilhos de Vidago e de Vi- nhaes. Villar d' Ossos é terra muito antiga, ante- rior ao século xn, pois já no anno de 1159 Fernando Godoniz doou ao convento da Cas- tanheira, bispado de Astorga, uma herdade que tinha era Villar d'Ossos, junto de Vi- nhaes, em terr-a de Bragança. Viterbo, lettra X. Ao sr. Emiliano Antonio de Sousa, vene- rando ancião e muito illustrado filho de Vi- nhaes, hoje residente em Mofreita, agradeço os apontamentos que se dignou enviar-me. VILLAR D'OURO,— aldeia da freguezia de Ervões, concelho e (hoje também) comarca de Val Passos. V. Ervões. Comprehende mais esta freguezia as po- voações seguintes:— Lamas, Alpande, Val- longo de Cima, Vallongo de Baixo, Alfonge, Sadoncelhe— e 15 moinhos na grande ri- beira que banha esta freguezia e desagua no Rabaçal, confluente do Tua. VILLAR D'OURO,— aldeia da freguezia de Espadanedo, concelho e comarca de Macedo de Caválleiros. V. Espadanedo, vol. 3.° pag. 59, col. 2.a Comprehende esta freguezia as aldeias se- guintes:— Espadanedo, séde da paroehia, — Villar tíOuro, Vallongo, Cabanas, Soutello, í ou Soutello de Pena Mourisca, paroehia ex- tracta, e Bouzende, outra paroehia extincta, cujo orago foi Santa Isabel. 1256 VIL VIL VILLAR DWRO,— freguezia extincta, ho- l je simples aldeia da freguezia de S. Pedro Velho, concelho e comarca de Mirandella. V. S. Pedro Velho, vol. IX, pagina 18, co- lumna 2.» Comprehende esta freguezia as povoações seguintes:— S. Pedro Velho, — Villar d'Ouro e Ervideiro, que outr'ora foram parochias independentes e pertenciam ao concelho da Torre de D. Chama, exiineto pelo decreto de 24 d'outubro de 1855", pelo qual passou para o de Mirandella. A povoação de S. Pedro Velho demora en- tre os rios Rabaçal e Tuella, que formam o Tua. Dista 4 kilometros da margem esquer- da do 1.°. — 1 l/2 da margem direita do 2.°; —6 da villa de Mirandella para N.; — 56 da estação da Foz do Tua na linha férrea do Douro;-— 195 do Porto— e 532 de Lisboa. VILLAR DO PARAÍSO,— freguezia do con- celho de Villa Nova de Gaya, comarca, dio- cese e districto do Porto, na província do Douro. Abbadia. Orago S. Pedro,-— fogos 800,— habitantes 3:350. Em 1708, segundo se lé na Chor. Port. era um simples curato da grande comarca e ouvidoria da Feira— e contava 90 fogos I... Em 1768 era curato da apresentação de D. Maria Camello de Miranda Sarmento e Castro, morgada d'esta parochia; — o seu cura recebia apenas o rendimento do pé d'altar, — e contava 180 fogos. No pequeno período de 60 annos a sua população dupli- cou I... O censo de 1864 deu-lhe 533 fogos e 2:414 habitantes. Em menos de 100 annos a sua população subiu approxi- madamente ao triplo 1... O censo de 1878 deu-lhe 647 fogos e 2:52i habitantes, — e hoje, conta 800 fogos e 3:350 habitantes. Nos últimos 22 annos offerece pois um augmento de 267 fogos e 935 habitantes— e só nos últimos 8 annos o augmento da sua I população foi de 153 fogos e 826 habitan- tes I .. . Do exposto se vê que poucas freguezias ruráes do nosso paiz terão prosperado tanto como esta— e nunca teve tanta vida como na actualidade. O seu chão é vasto, fertilissimo, mimo- síssimo e abundantíssimo d'agua potável e de rega;— produz muito vinho, muito pâo, muita fructa e muita hortaliça, vendendo tudo facilmente e por bom preço no Porto, inclusivamente a salsa, industria antiga, em que se empregam muitas mulheres d'esta parochia, pelo que as denominam sahinhas. Também abunda em hervagens, com que engorda muitos bois para a Inglaterra e sus- tenta muitas vaccas, que produzem muito leite, que manda para o Porto e Villa Nova de Gaya, apurando só n'este artigo contos de réis por anno. Produz também grande quantidade de ex- cellenles morangos, que manda para o Porto e para Lisboa, onde teem venda fácil e por bom preço. Também se faz aqui muita telha, em cujo fabrico emprega muitos braços e apura mui- to dinheiro, — e tem. boas pedreiras de gra- nito para construcções, esteios de ramadas e parallepipedos \ o que representa um ca- pital importante. Abundam também aqui pedreiros, carpin- teiros e outros artistas, muitos d'elles mes- tres d'obras, que no Porto ganham muito di- nheiro;— e também nos armazéns de vinhos de Villa Nova de Gaya se empregam centos de filhos d'esta parochia; mas o que nos úl- timos tempos mais vida lhe tem dado é o grande numero de brazileiros, filhos d'ella que teem ido explorar fortuna pelo com- mercio no Brazil, muitos dos quaes teem voltado ricos e dotado e embellesado esta freguezia com vistosos e luxuosos palacetes e estabelecimentos commereiaes de toda a ordem. 1 Pequenos cubos de granito duríssimo, com que hoje se veem calcetadas as ruas principaes do Porto. Os taes parallepipedos vão d'esta parochia e da de Canellas, sua limitrophe. VIL VIL 1257 Também aqui hoje se vêem muitos edifí- cios novos e elegantes, feitos por differentes proprietários e mestres d'obras. Contribue também muito para a prospe- ridade d'esta freguezia o seu intimo conta- cto com a cidade do Porto, da qual dista apenas 6 a 8 kilometros, achando-se ligada com ella por boas estradas a macadam e pela linha férrea do norte. Eis o motivo porque esta parochia, deno- minada^ com rasão, Villar do Paraíso, tanto tem prosperado e prospéra, — contrastando com a maior parte das nossas freguezias ru- raes, nomeadamente com as do malfadado districto de Bragança, hoje as mai3 pobres de Portuga!, por não terem linhas férreas nem estradas a macadam ou meios de com- municação cora os centros commerciaes do nosso paiz, e porque a maldicta phylloxera anniquilou os vinhedos, que eram a sua prin- cipal riqueza. V. Villa lieal de Traz-os-Montes, vol. XI, pag. 1016. Além da pequena povoação da Egreja, sé- de da sua matriz, comprehende esta paro- chia as aldeias segui utes:— Cadavão, Cha- morra, Corugeira, Estrada, Covinhas, Mon- te, Novias, Calçada, S. Caetano, Junqueira, Guardai, Capella, Jardim, Agro, Outeiro, Ilha, S. Maninho, Rasa, Telheira, Calçada e Villar, ou Villar de Baixo, que também é nome commum d'esta freguezia, desde tem- pos remotos, assim como também se deno- minou e denomina ainda hoje Villar de Çi- ma a parochia de Villar de Andorinho, sua visinha e limitrophe, distante apenas 2 a 3 kilometros para E. As outras freguezias limitrophes são:— Villa Nova de Gaya a N.;— Gulpilhares a S.; — Magdalena (vulgo Madanéla) a O.;— Ca- nellas e Mafamude a E. Occupa esta freguezia uma area de 6 ki- lometros d'extensão de N. á S. tendo apenas 2 a 3 de largura, de E. a 0., sendo o seu chão levemente ondulado e bastante húmi- do, o que a torna pouco saudável. Ainda no ultimo anno (1885) pesaram cruelmente so- bre ella as bexigas e mataram muitas crean- ças. Felizmente está toda coberta de luxu- ' riante vegetação, que atenua e neutralisa os miasmas dos seus pequenos pântanos. A egreja parochial dista 3 kilometros da estação de Valladares, na linha férrea da norte, para E.;— 6 de Villa Nova de Gaya, para S.;— 8 do Porto;— 138 de Valença do Minho — e 335 de Lisboa. Templos 1. " — A egreja matriz. Logo a descreveremos. 2. ° — Capella de S. Martinho, na aldeia d'este nome, a mais importante e mais cen- tral d'esta parochia e que parece uma villa, povoada de muitos prédios novos e elegan- tes, duas pharmacias e bons estabelecimen- tos commerciaes. A capella está muito bem tractada e é quasi tão espaçosa e talvez mais antiga do que a egreja parochial, mas com as diver- sas reeonstrucções alteraram muito a sua architectura, dando-lhe inclusivamente um pórtico rectangular em vez do pórtico ogi- val que tinha. N'ella se diz missa nos domingos e dias sanctificados— e aos domingos se faz junto d'ella um mercado de diversos géneros. Tem festa apparatosa com romagem no dia do seu orago. Ê publica. Devia estar aqui a egreja parochial. 3. ° — Capella de S. Caetano, também pu- blica. Está em sitio pittoresco, vistoso e muito alegre, no alto do pequeno monte de S. Cae- tano, junto da povoação do Guardai. É maior e mais elegante do que a egreja matriz; — tem torre e sinos; — ján'ella se ce- lebram os officios religiosos e se faz pom- posa festa annual com romagem, posto que ainda não esteja concluída. Demora no local onde esteve uma pe- quena ermida da mesma invocação, e tem sido feita pela povo, nomeadamente pelos habitantes da visinha aldeia do Guardai, on- de ha muitos pedreiros que nas obras d'ella costumam trabalhar nos domingos. A egreja parochial demora em sitio quasi 1258 VIL VIL ermo na estrada a macadam que do Alto da Bandeira conduz a Espinho. Recommenda-se unicamente pela sua an- tiguidade e foi de architectura manuelina, mas perdeu as feições próprias com as ulti- mas reconstrucções e com a muita cal e ar- gamaça em que a envolveram os vândalos do século xix, substituindo o seu bello pór- tico de ogiva por outro rectangular, ete. A torre foi construída em 1883 a 1884. Demora no meio de largos campos em um morro de penedos de granito duríssimo e ás- pero, como o de Canellas, de que se fazem os taes parallepipedos e esteios para rama- das. Sobe-se para ella por 2 lanços de esca- daria, tendo o primeiro 14 degraus,— 12 o segundo— e a meio um patamar. Tem contigua e ligada a ella uma casa brazonada, também muito velha, que foi so- lar dos Camellos, morgados d'esta freguezia, os quaes outr'ora apresentavam o cura ou vigário, a quem davam unieamente o rendi- mento do pé d'altar, — liam as estações aos freguezes e comiam os benesses da egreja por breve pontifício, como disse o padre Carva- lho no artigo Villar d'Andorinho, confun- dindo aquella parochia com esta de Villar. Nas grandes festas os dictos morgados sentavám-se na cadeira, parochial com a es- tola aos hombros e a chave do sacrário pen- dente do pescoço. Oh t têmpora, oh t mores ? . . . Também consta que obtiveram o senhorio d'esta egreja por escambo feito com os fra- des cruzios de Grijó, aos quae3 cederam certo couto para poderem dar aqui os dias santos — e que os dictos frades (cónegos re- grantes) os recebiam debaixo do palio quan- do iam visitar o convento de Grijó, — dislinc- ção raríssima e honrosissimà, — si vera est fama, — pois o convento de Grijó não era de frades borras, capuchos ou mendicantes, mas de cónegos regrantes, — a ordem mais aristocrata que teve o nosso paiz. Eram to- dos fidalgos de fure e os únicos religiosos que em Portugal recebiam com a profissão o tractamento de Dom?. . . A capella-mór da egreja é talvez única no seu género em todo o nosso paiz. Tem 2 arcos cruzeiros e 2 altares-mores, sendo o corpo da egreja de uma sónavel... O arco cruzeiro, em vez de comprehen- der todo o vão da frente da capella-mór, di- vide se em 2 arcos, que assentam nas pare- des lateraes e em uma columna que tem ao centro, ficando amplo todo o vão da capella- mor e dividido apenas o tecto em 2 lindos cumes d'abobada de pedra, formados cada um d'elles por 4 arcos que partem da dieta columna e das 3 paredes dacapella; — e dos 8 ângulos d'estes 4 arcos partem 8 aduellas que formam os 2 cumes do vão total, termi- nando em ogiva. Nunca vimos coisa semelhante! Mais: Na parede que fórma o fundo da capella estão na mesma linha e no mesmo plano os 2 altares mores, olhando para o corpo da egreja pelos dois vãos dos 2 arcos cruzeiros, tendo cada um d'estes 2m,10 d'abertura e 4m,40 daltura. Dos 2 arcos aos 2 altares o vão é de 4 metros; — e dos 2 arcos até á porta principal tem de comprimento a egreja 13m,6o— e de largura 8m,80. São modernos e differentes no estylo os retábulos dos 2 altares, e d'estes o do lado do evangelho é dedicado ao Santíssimo Sa- cramento— e o do lado da epistola à Senhora do Rosario. O vão da capella-mór, de uma á outra das paredes lateraeá, é de 6m,60 — e todo amplo, como fica dicto. No corpo da egreja ha 2 altares lateraes, 1 púlpito e côro. Em 1875 uma toupeira, rompendo o chão junto do altar-mór do Sacramento, levantou algumas moedas de cobre e depois no mes- mo local appareceram mais 25, todas muito antigas e que não foram classificadas. Ha n'esta egreja dois túmulos com bra- zões, encostados ás paredes e pertencentes aos antigos morgados de Villar. 1 1 É considerada representante dos dictos morgados a ex.ma sr.a D. Almira de Castro Almeida, casada com o sr C irlos Alberto de Almeida, moradores actualmente na rua da Liberdade, n.° 59, freguezia de Miragaya, no Porto. VIL VIL 1259 O mais próximo do cruzeiro tem uma por- tada de mármore branco e a inscripçào se- guinte, em letras inclusas, bastante maltra- ctadas e diffieeis de ler: Aqui jaz Dona Maria, de Castro, molher do sor. Fernando Camello, que santa gloria tem. esta casa com elle fez e do tou a sua filha d. an- TÓNIA (ÃT.a). A portada do 2.° é de cal e cimento e n'elle se vê uma inscripçào semelhante, que principia assim: Aqui jaz Fernão Ca- mello 1546. Em plano superior se vê na parede um brasão com 3 conchas e aves. Quintas Ha n'esta paroehia varias quintas esplen- didas, avultando entre ellas as seguintes: 1. a— Da Formiga, brasonada. Pertence ao visconde de Proença Viei- ra, que foi presidente da camará de Villa Nova de Gaya, deputado ás cortes, etc. Tem uma linda casa nobre acastellada in- tra-muros, um lago, um moinho, bons jar- dins, pomares de fructa e grande malta de eucalyptos, austrálias, araucárias, etc, bel- las ramadas com vides, extensos campos e formosos passeios. 2. " — Do Almeida Cimpos. É um prédio luxuoso também, com muita agua, soberbos tanques, ramadas, jardins, bons campos e grande matta. 3. 8 — Do Guardai, prédio espaçoso e de muito valor também. 4. " — Da Capella—outro prédio soberbo, pertencente a Manuel Ribeiro. 5. a — Da Telheira, junto da povoação da Rasa. Ttm um bom lago, bellos jardins, grande pomar de larangeiras e d'outras arvores fru- ctiferas, extensas ramadas, campos, etc. 6. *— Da Ilha. Tera um grande souto de carvalhos e n'elle um soberbo manancial d'agua, que fertilisa extensos campos. Atravessa esta freguezia de N. a S. na ex- tensão approximada de 6 kilometros, a es- trada a macadam, denominada estrada de baixo, que partindo da estrada real do Porto a Coimbra, entroncando no Allo da Ban- deira, junto de Santo Ovidio, segue para o Corvo e praia de Espinho. Passa-lhe um pouco a leste a dieta estra- da real do Porto a Coimbra e Lisboa, aqui denominada estrada de cima, — e um pouco ao poente passa a linha férrea do norte, para a qual teoi uma bella estrada a macadam, que partindo da estrada de baixo, — do largo de S. Martinho, vae em linha recta â estação de Valladares, distante do dicto largo pouco mais de um kilometro. Ha n'esta freguezia na grande aldeia de S. Martinho, uma succursal da Companhia União popular penhorista,— uma Associação humanitária de soccorros mútuos, que em 1884 a 1885 distribuiu pelos seus associa- dos i:350$000 réis, — e ha também uma es- cola esplendida, montada em um elegante edifício, mandado fazer pelo conselheiro, ca- pitalista e proprietário, o sr. Antonio Ma- nuel da Fonseca, benemérito filho d'esta pa- roehia e acreditado negociante no Brazil. Depois de feito o edifício e de mobilada a escola, entregou-a ao governo e a dotou com 8 inscripções do valor nominal de um conto de réis cada uma, para do seu rendimento se darem 2Q0£000 réis annuaes ao profes- sor,— 30$000 réis para limpesa e conserva- ção da escola— e 101000 réis para 2 pré- mios annuáes aos alumnos que mais se dis- tinguirem. Foi inaugurada com grande pompa a di- eta escola no dia 2o de julho de 1880, sendo extraordinário o concurso do povo, por ser domingo, dia feriado. Os nossos parabéns ao seu benemérito fundador. Casos tristes Na noite de 26 d'outubro de 1884, depois de uma altercação ao jogo em uma taberna 1260 VIL VIL entre Francisco Salvador Nunes, trolha, e | Joaquim Francisco, pedreiro, ambos d'esta freguezia, o 2.° crivou de facadas o 1.°, junto da capella de S. Martinho, matando-o ins- tantaneamente. O reu foi preso no dia seguinte e julgado mezes depois no 2.° districto criminal do Porto, sendo condemnado a 8 annos de pri- são cellular ou a 12 de prisão maior, sellos e custas do processo. Na madrugada do ultimo dia de fevereiro de 1876 um pavoroso incêndio reduziu a cinzas n'esta parochia um bom prédio e um grande estabelecimento commercial que ti- nha na loja, com artigos de mercearia, pe- tróleo, pólvora, etc, causando prejuisos ava- liados em 9 a 10 contos de reis. Acudiram as bombas de Villa Nova de Gaya e a dos Bombeiros Voluntários do Por- to, mas apennas poderam salvar os prédios visinhos. O dono da casa e a familia a custo se sal- varam, saltando pelas janellas,— e quebrou uma perna um homem que trabalhava na extincção do incêndio. Era natural d'esta freguezia o conselheiro e capitalista Antonio Manuel da Fonseca, fallecido a 8 d'agosto de 1882 em Lisboa, onde foi director da Companhia das Aguas. As lavradeiras (mulhe res do campo) d'esta freguezia e das circumvisinhas são das mais formosas dos arrabaldes do Porto; — usam pequenos chapéus de paono preto grosso, cir- cuitados de grandes borlas de sêda preta; — pequenas chinellas de couro com ponteira de verniz; — grandes lenços de seda ou de algo- dão estampado a cores vivas, debaixo do chapéu e sobre o peito; — muitos cordões de ouro de lei no pescoço; — grandes brincos d'ouro nas orelhas— e um monte de saia8 até 20 a 22!... V. Villar d'Andorinho. Também entre as industrias d'esta fregue- zia muitas mulheres se occupam em tirar (dobar) seda. Esta parochia não tem residência nem passal. É hoje seu parocho Silvestre Au- gusto d'Almeida Pinto, natural de Sinfães e que foi capellão militar,— irmão do sr. dr. I Antonio Augusto d'Almeida Pinto, professor no Lyceu central do Porto. Ao dicto sr. padre Silvestre, abbade d'esta freguezia, devo a inolvidável finesa de não me fornecer apontamentos alguns para a descripção d'ella; — nem sequer me respon- deu,— apesar de reiteradas instancias mi- nhas e de vários amigos meus e d'elle, du- rante dois annos ? 1 . . . Deus lhe dé o que lhe falta 1 . . . Tem esta freguezia um Club de inslrucção e recreio, inaugurado no dia 3 de junho do corrente anno de lb86. Também tem, ha muito, cemitério paro- chial e escolas officiaes de instrucção prima- ria para os dois sexos. Ao meu bom amigo e collega, o rev. sr. Manuel Dias Reis Castro Portugal, benemé- rito filho de Villar d'Andorinho (V.) agra- deço penhorado os apontamentos que se di- gnou enviar-me para a descripção d'esta freguezia, — apontamentos que s. ex." (honra lhe sejal) ali foi colher expressamente para me obsequiar e vingar do inqualificável mu- tismo do sr. padre Silvestre. Agora mesmo acabo de sa- ber que o rev. sr. Manuel Dias Reis Castro Portugal falleceu em junho do corrente anno de 1886. Deus o tenha em bom lo- gar ! . . . VILLAR DE PERDIZES, — freguezia do concelho e comarca de Montalegre, districto de Villa Real, diocese de Braga, província de TrazosMontes. Orago — Santo André Apostolo. Vigairaria. Fogos 130,— habitantes 540. Em 1706 era vigairaria collada da apre- sentação do reitor de S. Miguel de Villar de Perdizes, — pertencia ao termo e concelho da villa de Montalegre, comarca e ouvidoria de Bragança — e contava 100 fogos. Em 1768 era da mesma apresentação; — rendia para o seu vigário 100$000 réis— e contava 105 fogos. VIL VIL 1261 O censo de 1864 deu-lhe 122 fogos e 460 habitantes,—e o de 1878 deu-lhe 126 fogos e 524 habitantes. Demora esta freguezia na raia, em terre- no peuco accidentado, no Valle de Villar de Perdizes e ao nascente da serra de Larouco, entre os ribeiros de Porló e Cabana, e é or- mada pela única povoação de Santo André, que dista da villa de Montalegre il kilome- tros para E.N.E.;— 2o de Chaves para O.N.O.; — 83 de Braga para N.E.; — 138 do Porto— e 475 de Lisboa. Freguezias limitrophes: — Gralhas, Padro- nellos, Solveira e S. Miguel de Villar de Per- dizes. Pelo norte confina com o valle da G ir on- da, diocese de Oivnse, na Gallisa. Producções dominantes:— milho, centeio, batatas, hervagens e bastante fructa de ca- roço, muito ordinária. Também produz algum vinho verde e cria bom gado vaccum. Data de tempos muito remotos esta po- voação, mas foi nma simples aldeia da paro- chia de S. Miguel de Villar de Perdizes até que em 1700 foi arvorada em vigai raria, com parocho próprio, tendo sido feita a sua egrc-ja em 1698. Fez parte da antiga Honra de Villar de Perdizes ; — era casal cerrado l—e pagava juntamente com a povoação de Solveira, hoje também parochia independenie,— 10$560 rs. Desde 1S41 foi do concelho e julgado de Ervededo, extincto por decreto de 31 de de- zembro de 1853, pelo qual passou para o de Montalegre. Banham-n'a os dois mencionados ribeiros — Porto e Cabana, que dão origem a um braço do Rio Tamegi,— correndo o i." dá O. a E.— e o 2.° de N. a S. Ambos criam tru- tas, bogas e outros peixes miúdos,— e regam e moem. 1 Para evitarmos repetições, veja-se o ar- tigo Montalegre, vol. V, pag. 444, col. 2.a, onde se mencionam estes e-os outros casaes cerrados ou reguengos, d'este concelho — e os grandes privilégios e exempções que os nos- sos reis lhes concederam em differentes da- tas. VOLUME XI Foi natural d'esta freguezia o dr. Domin- gos Manuel Annes Coutinho, que nasceu a 16 de novembro de 1789 e falleceu em Lis- boa, victima da febre amarella, em 1857. Era formado em cânones pela Universi- dade de Coimbra;— foi commissario geral do exercito anglo-luso, na guerra da península, — e depois administrador de um dos bairros de Lisboa, etc, mas por morte de D. João VI abandonou a politica e os seus cargos pú- blicos e tractou somente da administração dos seus negócios, adquirindo boa fortuna. Era um cavalheiro probo e muito servi- çal, principalmente para os seus patrícios, que n'elle encontraram sempre o mais des- velado e desinteressado protector. VILLAR DE PERDIZES, — freguezia do concelho e comarca de Montalegre, districto de Villa Real, diocese de Braga, província de Traz os Montes. Orago S. Miguel. Reitoria. — Fogos 196, habitantes 830. Em 1706 era vigairaria da mitra, segundo se lô na Chor. Port.;— pertencia ao termo e concelho de Montalegre, comarca de Bra- gança,—e contava 190 fogos, — alem da po- voação de Santo André com 100 fogos e da de Sobreira com 80,— diz Carvalho, mas foi lap30, porque ao tempo a i.» d'estas duas povoações já se havia emancipado e consti- tuído em parochia independente, em 1700. A 2 a emancipou-se em 1796. Veja se o artigo antecedente e Solveira. Em 1768 era reitoria da mesma apresen- tação;— rendia para o seu parocho 35011000 réis— e contava 264 fogos, segundo se lê no Port. S. e Profano, comprehendendo a po- voação da Solveira, que pouco depois se emancipou O censo de 1864 deu-lhe 181 fogos e 778 habitantes,— e o de 1878 deu-lhe 194 fogos e 710 habitantes. Demora esta freguezia na raia da Galliza; — é formada hoje pela única povoação do seu nome, dividida em 3 bairros:— Caria, Sameiro e Cimo de Villa,— distando de Mon- talegre 15 kilometros para E.N.E.;— 20 de Chaves para O.N O.;— 86 de Braga para N.E.; 80 1262 VIL VIL — 141 do Porto e 478 de Lisboa por Braga: mas, logo que se coDstrua o camiDho de ferro de Chaves pelo valle do Tâmega até o Douro \ hoje em estudos, aquelle itinerário e aquellas distancias devem soíírer grande modificação. Freguezias limitrophes: — Santo André de Villar de Perdizes, Solveira, Sarraquinhos, Mêxide e Soutellinho da Raia, todas portu- guezas, mais 2 hespanholas: — Videferre, ao nascente, e Bouzães, no valle da Gironda, ao norte, ambas do bispado de Orense, na Gal- lisa. Producções dominantes: — centeio* milho, feijões, batatas, muita fructa de caroço, her- vagens, castanhas e algum vinho verde, sen- do o da parte oriental quasi maduro. Também cria bastante gado lanígero e vaccum, da raça barrozã, — e é mimosa de caça, nomeadamente de perdizes, pelo que se denominou Villar de Perdizes. Está em terreno arenoso e húmido, em um grande valle que se estende a nordeste da villá de Montalegre,— desde Meixedo até Meixide, na margem esquerda do riacho da Assoreira, uma das nascentes do Tâmega. Banham também esta freguezia, correndo na direcção de S.O. a N.E., mais 2 ribeiros: — Inçadas e Porlo d' Arcos, que reunidos ao Assoreira formam a origemoccidental do Tâ- mega,— regam, moem e criam peixe miúdo. É bastante frio e áspero o clima d'esta parochia; — não tem estrada alguma a maca- dam nem sequer esperanças de so ver livre dos medonhos barrancos e precipícios do tempo dos mouros. Os seus habitantes em geral são pobres. Outr'ora teve uma casa nobre e muito rica, —a dos celebres morgados de Villar de Per- dizes, de quem adiante fallaremos, mas hoje 1 Esta linha, segundo o projecto, deve atravessar o Douro e seguir pelo valle do Paiva até Viseu; também trazemos em es- tudos outra linha de Chaves a Viseu por Villa Real de Traz os-Montes, Regoa e La- mego,— e outra de Lamego a entroncar na linha da Beira Alta, em Villa Franca das Neves. V. Vias férreas n'este diccionario e do suppleraento. só tem uns seis ou oito lavradores remedia- dos. Industria nenhuma, além da lavoura e da criação de gado vaccum. Também aqui não ha minas em explora- ção nem simplesmente registradas. Templos 1. °—A egreja matriz. Demora em sitio alto e vistoso, um pouco distante da povoação, para O. É um dos templos mais antigos d'esta província e está bem tractado e bem con- servado. Diz a tradição que foi fundado pela cele- bre Maria Mantella, mas tem sido reedifica- do differentes vezes, datando a ultima de 1797. Teve muita prata, mas foi toda roubada pelos francezes na guerra da península. Tem altar-mór e quatro lateraes, torre e 2 sinos. 2. ° — Capella de Nossa Senhora da Saúde. Está em uma veiga, cerca de 1:500 me- tros a O. da povoação, e foi mandada fazer pelo reitor d'esta freguezia, Pedro d'Araujo, em 1660. N'ella ha uma irmandade de S. João e Al- mas, com estatutos approvados por D. Luiz de Sousa, arcebispo de Braga, em 9.0 de de- zembro de 1678. 1 É fabricada pela dieta ir- mandade e tem festa com romaria na 2." oi- tava do Espirito Santo e nos dias 24 de ju- nho e 8 de setembro, costumando haver por essaoccasião grandes desordens, muita pan- cadaria, ferimentos e mortes! . . . Na romagem de 24 de junho de 1881, por exemplo, travou- se a desordem entre o povo e os guardas da alfandega; estes mataram dois homens e ficaram outros muitos feri- dos. O Sancluario Marianno, vol. 7.° pag. 438, diz que esta irmandade tem por bulia apos- tólica o jubileus para 5 festividades da pa- droeira;— que a knagem d'esia media cerca de 4 palmos d'altura;— que tinha o Menino Jesus sobre o braço esquerdo — e que a maior festa e romagem se faziam na 2." oitava de Pentecostes. VIL VIL 1263 3. °— Capella de Santa Marinha. É publica, fabricada pelos freguezes, e es- tá também fóra da povoação em um monte junto dâ raia. 4. °— Capella do Dom Jesus. Demora no bairro de Cimo de Villa e foi feita pelo rev. reitor d'esta parochia— Pedro Correia,— no anno de 1678. É actualmente propriedade do rev. Sebas- tião Coutinho Sant'Anna. 5. ° — Capella de Santa Cruz. Pertence á amiga casa dos morgados de Villar de Perdizes e n'ella está o Santíssimo Sacramento, para maior commodidade do parocho e da freguezia. ^."—Capella de Nossa Senhora das Neves. Demora entre os bairros de Caria e Sa- meiro. É publica. Em tempos remotos esta freguezia com- prehendeu as povoações de Santo André de Villar de Perdizes, Solveira e Meixide, que depois se arvoraram em freguezias indepen- dentes, com parochos próprios, mas estes até 1834 eram apresentados pelo reitor de S. Miguel de Villar de Perdizes, que recebia as primícias do pão e vinho e bodos d'esta parochia e das suas filiaes, o que tudo mon- tava a 400$000 réis, pagando porém d'elles uma pensão de 50$000 réis— não sabemos a quem. Esta freguezia de S. Miguel de Villar de Perdizes foi commenda, cujos commendado- res recebiam metade dos dízimos d'esta pa- rochia e das suas filiaes, bem como das de Meixide e Soutellinho da Raia. A outra me- tade dos dízimos de todas as parochias men- cionadas era dos fidalgos ou morgados de Villar de Perdizes. Esta parochia pertenceu ao extincto con- celho de Ervededo e á comarca de Chaves, desde 1841 até 1853, data em que pelo de- creto de 21 de dezembro do dicto anno pas- sou para o concelho de Montalegre. Teve uma feira no dia 13 de cada mez, concedida por D. João VI em 1817, mas tal feira extinguiuse ha muito. Nunca teve foral próprio. Pelo menos Franklim não o menciona; mas foi terra muito privilegiada em outros tempos, porque formava com Santo André e Solveira uma das seis honras de Barroso. As outras eram: Gralhas, Meixedo, Padronellos, Padroso e Tourem. Para evitarmos repetições veja-se o artigo Montalegre, onde, a pag. 443, col. 2." e 444, col. i.a, se mencionam as dietas honras e os seus grandes privilégios, confirmados por D. Diniz em 5 de maio de 1325— e por D. João I em 1430, — e ainda acerescentados por el-rei D. Manuel em 1514, por terem a seu cargo os habitantes das dietas aldeias a guarda do Castello de Picônha. Ha n'esta freguezia uma delegação da al- fandega de Chaves, — uma eschola official de instrucção primaria para o sexo masculino, —uma pharmacia,— um facultativo,— um ta- lho de carnes verdes ou açougue, differen- tes tavernas e alguns estabelecimentos com- merciaes pouco importantes. Fidalgos de Villar de Perdizes Em outubro de 1551, Antonio de Sonsa, capellão e fidalgo da casa do duque de Bra- gança e abbade d'esta freguezia, instituiu e dotou o Hospital e capella de Santa Cruz, mencionada supra, dando lhe porbulla apos- tólica todo o rendimento d'esta sua egreja, que então orçava por 7o5£uOO réis por an- no,— somma importante n'aquelle tempo, — vinculando a dieta capella e impondo aos seus administradores e successores a obri- gação de terem n'ella sacrário e dois capel- lães que ali celebrassem missa diária pelo instituidor e seus successores, vencendo ca- da um dos dictos capellães 3$U00 réis por anno e 30 alqueires de pão. Determinou mais que no dicto hospital houvesse uma botica e que na dieta casa ou albergaria se recebessem, agasalhassem e tractassem nas suas doenças os peregrinos pobres de S. Thiago de Compostella, Nossa Senhora dos Remédios, Bom Jesus do Lima e Crucifixo de Orense;— que levassem a Ca- vallo os doentes para o hospital de. Chaves ou para o de Monte Rei, junto de Verim, — e que os seus successores, logo que as ren- 1264 VIL VIL das do vinculo augmentassem um terço, ca- sassem uma orphau K O rev. Antonio de Sousa, benemérito ins- tituidor, serviu muitos annos os duques D. Jaime e D. Theodosio e d'elles recebeu de moradias e mercês em dinheiro grandes sommas, com que comprou muitos bens, como consta de uma escriptura feita em Braga no dia 15 de dezembro de 1557. Nomeou seu herdeiro e administrador d'este vinculo : Fernão de Sousa, moço fidalgo da casa d'el-rei. Ainda vivia em 1565. Succederam-lhe os seguintes administra- dores : 2. °— Alexandre de Sousa Pereira, filho de Antonio de Sousa Pereira. Sentou praça em 1658 e morreu no cerco da praça d'Elvas. em 14 de janeiro de 1659, quando o conde de Cantanhede. D. Luiz An- tonio de Menezes, bateu e derrotou os cas- telhano?, commandados por D. Luiz Mendes d'Aro, marquez dei Carpio. V. Elvas, vol. 3.°, pag. 18 col. 2.» 3. °— Antonio de Sousa Pereira, filho de Alexandre de Sousa Pereira. Nasceu na sua casa de Villar de Perdizes e militou 22 annos, desde 8 d'abril de 1661 até o dia 7 de dezembro de 1683, chegando ao posto de marechal de campo. Assistiu á batalha de Montes Claros em 17 de junho de 1665, e n'esse mesmo anno os hespanhoes lhe incendiaram a casa de Villar de Perdizes. 4. °— Antonio de Sousa Pereira, filho do antecedente. Nasceu em Chaves, — foi capitão de cavai- los, — e militou' desde 14 de fevereiro de 1701 até 15 d'abril de 1738. 5. ° — Alexandre de Sousa Pereira, filho do antecedente. Nasceu em Villar de Perdizes e militou desde 29 d'agosto de 1706 até ,1713, data em que falleceu. Em 1708 defendeu admiravelmente o Por- Liv. do3 cap. de Vizitas de 1658. to de Sarraquinhos, impedindo a entrada dos hespanhoes para os logares da Chã. 6. "— Alexandre de Sousa Pereira Couti- nho, irmão do antecedente. Por sentença do Juiso das Justificações prometteram lhe os serviços de seu pae An- tonio de Sousa, de seu avô Alexandre e de seu bisavô Antonio e por elles se lhe passou carta de alcaide-mór do Castello de Picô- nha em 20 d'agosto de 1779, por falleci- mento do ultimo alcaide-mór— Alexandre de Gusmão. 7. ° — João Antonio de Sousa Pereira Cou- tinho, filho do antecedente. Foi alcaide-mór de Pieônha, por carta de 22 de dezembro de 1800— e falleceu em maio de 1826. 8. ° — Amónio de Sousa Pereira Couti- nho. Não adiantam mais os nossos apontamen- tos. Esta família foi muito importante e muito rica, pois como já dissemos no artigo S. Vi- cente da Chã, vol. X, pag. 534, col. 1.»,— um dos fidalgos de Villar de Perdizes foi o her- deiro principal do celebre Domingos Mendes Dias, por alcunha o Manteigueiro, que tendo sido marçano e aguadeiro falleceu nos fins do ultimo século em Lisboa, deixando uma fortuna de dois mil e seiscentos contos de réis, somma fabulosa n'aquelle tempo ! . . . A nobre casa de Villar de Perdizes está em ruinas;— tinha uma boa cerca — e é hoje tudo dos herdeiros de João Lopes de Freitas, da villa de Montalegre, que a houve por emprasamento de 60 annos. Do hospital não ha memoria. A capella ainda existe, bera conservada e aberta ao culto. O cordão sanitário Esteve aqui em 1885 a 1886 um dos mui- tos postos militares do cordão sanitário que o nosso governo montou em toda a raia ter- restre e marítima do nosso paiz contra o cholera morbus, que ao tempo assolava cruelmente a Hespanha e que (mercê de Deus I . . .) nos poupou e não fez em Portu- gal uma única victima, em quanto que na VIL VIL 1265 França, Itália e Hespanha matou milhares de pessoas. 1 Para evitarmos repetições vejase os ar- tigos Villa Real de Santo Antonio, vol. XI, pag. 919, col. I.*,— Villa Real de Traz-os- Montes, do mesmo vol. pag. 1038, col. 2." — e Villar Formoso. Era este posto de Villar de Perdizes for- mado por 60 praças d'infanteria, dispersas ao longo da raia em pequenas cabanas de colmo, desde fevereiro de 1885 até março de 1886,— e soffreram muito, principalmente no inverno, porque foi muito áspero e muito rigoroso n'estes sítios, chegando por vezes a neve a attingir 2 metros d'altura;— mas (honra ao nosso exercito!) os soldados tudo supporlaram corajosamente- e o serviço do cordão foi feito com todo o rigor militar! N'este posto deram-se dois factos interes- santes: 1. °— .Marchando em certo dia de Chaves para aqui o 2.° sargento d'infanteria 19, José Augusto dos Santos, encontrou na veiga de Soutello 8 hespanhoes, que muito astuta- mente haviam transposto a linha. Posto que o sargento ia só, deu-lhes ordem de prisão. Responderam-lhe 3 dos hespanhoes, mos- trando-lhe 5 marcos d'ouro e offerecendo- lh'os para que os deixasse seguir. O sargento despresou a offerta e repetiu a ordem de prisão, intimando-os para que seguissem deante d'elíe para Chaves e aper- rando a arma contra elles. Fugiram 3, mas levou os 5 restantes até Chaves, onde os en- tregou á auctoridade administrativa. 2. °— Em 21 de julho de 1885 chegou aqui o fornecedor do cordão sanitário com diver- sos géneros sujeitos ao imposto do real aná- gua 2 e destinados para o destacamento. 1 Só na Hespanha, segundo se lô ua esta- tística official, desde 5 de fevereiro até 14 de dezembro de 1885, o numero das pessoas atacadas pHa epidemia foi de 338:685, das quaes falleceram 119:620. Em Vallencia falleceram 21:012 pessoas, —em Saragoça 12:788,— em Granada 10:285 — e em Murcia 7:376. Também foi muito grande a mortandade em Madrid e em outras povoações da Hes- panha. 3 V. Elvas, vol. 3.° pag. 20, col. 1." in fine. Os guardas fiseaes, sabendo que o forne- cedor não havia pago o respectivo imposto, apprehenderam aquelles géneros, mas o ca- pitão do destacamento, apenas teve noticia do facto, obrigou os guardas a entregar-lhe os géneros apprehendidos. Os guardas accederam á imposição da força, mas depois seguiram-se protestos e reclamações interessantes. Com a duresa do serviço adoeceram mui- tos soldados, pelo que se montou aqui tam- bém uma enfermaria regimental. Estes sitios foram oecupados desde tem- pos muito remotos. Não longe d'esia povoação de Villar de Perdizes se encontrou no monte de Reme- seiros um penedo de 10 palmos de compri- mento, 8 de largura e 6 d'altura com a se- guinte inscripção romana. 1 Inac conducta. conservanda Ol. IN. AC. COKDUCTA. P. MlCI INVOLV. . 10. QUAECUQUE RESAE. Mil A-S. SI. SIQUI. EA-S. V. S. E. V. IANCE-CI. Argote, confessa que não pôde interpre- tar a dieta inscripção, e diz parecer-lhe in- dicar que estava ali alguma fazenda ou her- dade e que o dono ou cultivador delia es- crevera no penedo aquellas lettras rogando pragas aos passageiros que lhe roubassem os fructos da dieta propriedade!. . . Concluiremos dizendo que já nos princí- pios da nossa monarchia formavam a raia de Portugal n'estes sitios até Bragança as mesmas povoações que a formam hoje. V. Hist. de Portug. por Alexandre Hercu- lano, vol. 2.° pag. 427. VILLAR DE PEREGRINOS— freguezia do concelho e comarca de Vinbaes, dislricto e diocese de Bragança, província de Traz-os- Montes. Abbadia. Orago — S. Salvador ou o Salvador, segun- i Memorias d' Argote, vol. 3.° pag. 354,— Portugaliae Inscriptiones, pag. 112, n." 251, e Noticias archeologicas de Portugal, pelo dr. Híibner, pag. 90 (traducção da Academia). 1266 VIL VIL do se lé nos censos de 1864 e 1878, — no Diccionario d' Almeida, — Flaviense, — Betlen- court, — Portugal S. e Profano, etc, mas a Chorog. Port. e a Chorog. Mod. dão-lhe como orago S. Justo 1 . . . Fngos 70— habitantes 330, (dizem os apon- tamentos que recebi da localidade)— com- prehendendo a povoação de Villar de Pere- grinos, sede da parochia, e a quinta de S. Cibrainho, com 40 fogos, — e a povoação de CidÕes, parochia extincta e hoje sua anne- xa, com 30. V. CedÕes. Total uma miséria! Note-se que a quinta de S. Cibrainho conta hoje apenas 1 fogo, mas já foi uma aldeia de certa importância, pois em 1706 contava 10 fogos — e posteriormente contou 14. Tem decrescido, pois, em vez de augmen- tar, a população d'esta freguezia. Em 1706 só a povoação de Villar de Pe- regrinos contava 40 fogos;— a de CidÕes, já então sua annexa, contava 22,— e a de S. Ci- brainho 10,— sendo por consequência a po- pulação total d'esta freguezia 72 fogos em 1706,— em quanto que hoje conta apenas 701... O censo de 1864 deu-lhe 72 fogos e 362 habitantes — e o de 1878 deu-lhe 74 fogos e 34o habitantes. Freguezias limitrophes:— Nunes a N.; — Edrosa a S.E.;— Penhas Juntas a S.;— Ousi- lhão a N.E. — e a 0. o rio Tuella que, de- pois de se lhe unir a ribeira do Rabaçal, forma o Tua, confluente do Douro. A povoação de Villar de Peregrinos demo- ra na margem esquerda do Tuella, do qual dista 4 kilometros para o nascente, — 10 de Vinhaes para o sul;— 20 de Bragança;— 33 de Mirandella;— 85 da estação do Tua, na linha férrea do Douro, pela linha da de Mi- randeila, prestes a abrir-se á circulação; — 224 do Porto pela linha férrea do Tua— e 561 de Lisboa. Esta freguezia, approximadamente até 1854, pertencia ao concelho e comarca de Bragança, d'onde passou para o concelho e comarca de Vinhaes. Era da apresentação da mitra de Miran- da, hoje Bragança, e em 1768 rendia para o I seu parocho 200^000 réis— e contava 47 fo- J gos, comprehendendo então somente a po- J voação da Villar de Peregrinos e a de S. Ci- brainho, mas recebendo os dízimos da ex- tincta parochia de Nossa Senhora da Assum- pção de Cidões, onde o abbade de Villar de Peregrinos apresentava um cura, a quem dava apenas 6$000 réis de côngrua e o pé d 'altar. Também esteve annexa algum tempo a esta freguezia de Villar a extincta parochia de Nossa Senhora de Melhe, que anterior- mente foi uma annexa da de Rebordãos e hoje é uma simples aldeia da freguezia de Edrosa. Desgraçada provincial... Para evitarmos repetições e novas lamen- tações, veja-se Villar do Paraíso e Villa Ver- de do concelho de Vinhaes, tomo XI, pag. 1099, col. 2.a De passagem diremos que o padre Carva- lho deu á extincta e pobre freguezia de Me- lhe como orago Nossa Senhora — em quanto que o Port. S. e Prof. lhe deu como orago S. Martinho l . . . V. Edrosa. Esta freguezia não tem nem espera ter estrada alguma a macadam. É atravessada pela de Vinhaes á Torre de D. Chama, es- trada do antigo systema e medonha como todas as d'esta província, exceptuando as amostras que possue da moderna viação. V. Villa Real de Traz os- Montes, vol. XI, pag. 1018, col. 1." Confinando com o Tuella, rio volumoso e muito caudaloso no inverno, não tem nem teve nunca ponte alguma sobre elle; mas, como os habitantes d'esta freguezia tenham muitos interesses na margem opposta do Tuella, atravessam-n'o de um modo curio- síssimo— em uma enorme escadade madeira, lançada sobre elle e presa a uma arvore com um cadeado de ferro, para que o rio nas en- chentes não a leve, pois cobre-a durante muito tempo no inverno, ficando interrom- pida a communicação entre as duas mar- gens até baixar a corrente e poderem da novo armar a escada! E em Miranda, Villarinho dos Gallegos e VÍL VIL 1267 n'outros pontos da extremidade leste da raia d'esta província, limitada pelo Douro, como não teem ponte sobre elle nem podem arran- jar escada que alcance as duas margens, atravessam no suspensos em uma corda, que estendem de uma á outra margem, indo os pobres transeuntes (sauve qui peut\...) mettidos em ceirões de esparto, ou amarra- dos á dieta corda por outra corda. Assim atravessam ali o Douro homens e mulheres, gado suino e lanígero, etc. Só nos ceriões da Africa e n'esta malfa- dada província se encontram hoje,-- -em ple- no século xix — pontes de tal systema! . . • V. Villarinho dos Gallegos. Emquanto a templos tem esta freguezia tres: — a egreja matriz actual, — a da extincta parochia de CidÕes— e a capella de S. Jorge na quinta de Cibrainhos. A matriz actual foi feita nos princípios d'este século; — está bem conservada e limpa; — é bastante espaçosa — e tem uma só nave, altar-mór e 2 lateraes, um dedicado a Nossa Senhora do Rosario, outro a S. Justo,— o padroeiro que alguns chorographos, com o padre Carvalho, deram a esta freguezia. A imagem da Virgem do Rosario ó uma primorosa esculplura. A egreja tem no alto da fronteria um cam- panário com 2 sinos — e junto d'ella está o pequeno cemitério parochia!, medindo ape- nas 6 a 7 metros quadrados ! . . . A egreja de Cidões é uma humilde capella de uma só nave e com um só altar, dedica- do á Assumpção da Virgem. N'ella se vê uma formosa pia baptismal antiquíssima de bello mármore. Foi de um convento que em tempos mui- to remotos existiu no monte do Franco, ter- mo d'esta parochia de Cidões, e do qual apenas hoje restam algumas paredes des- mantelladas no sitio de S. Namedio, corru- pção de S. Mamede, — titulo do pobre con- vento,— segundo se suppõe — (diz o meu il- lustrado informador) — pois não ha memoria de tal convento, nem se sabe a que ordem pertencia. O meu informador, que é o sr. Emiliano Antonio de Sousa, de Vinhaes, conta cerca de 80 annos e acerescenta que na sua mo- cidade ouvira dizer a differentes anciãos que o dicto convento foi de templários, que d'aqui passaram para Valhadolid,— e que assim o conuvam seus avós! . . . Também consta que o dicto convento foi matriz d'este povo e dos circumvisinhos, co- mo prova a pia baptismal que se guarda n'eíta egreja de Cidões. Também n'ella ha um cálix de prata e uma cruz parochial que pela sua singelesa revelam muita antiguidade e consta terem pertencido ao mesmo convento, do qual muito provavelmente esta freguezia tomou o nome de Villar de Peregrinos, porque os templários costumavam ter nos seus con- ventos hospitaes ou albergarias para pobres e peregrinos. É também muito antiga a capella de S. Jor- ge na quinta de S. Cibraiuhos; — está bemeon- servada e aberta ao culto;— n'ella se festeja annualmente o padroeiro, a 4 d'abril, com romagem, havendo por essa occasião também feira de gado, principalmente lanígero, cu- jos pastores ou conductores, apenas se ap- proximam da capella, descobrem-se e fazem a sua oração— e, acto continuo, dão nove voltas em redor da capellinha, cada um com o seu rebanho t Esta parochia tem uma sofírivel casa de residência com sua horta e um pequeno passal,— e o parocho tem 170£000 réis de côngrua e as offertas:— um alqueire de cen- teio de cada fogo,— além do pé d'altar, que é insignificante, por ser a freguezia pouco populosa e muito pobre, pois com a invasão phylloxerioa perdeu o vinho, que constituía a sua principal riqueza. As suas producçòes dominantes hoje são: —centeio, trigo, batatas, castanhas, peras, cerejas, maçans, hortaliça e mel de óptima qualidade. Também cria bastante gado ca- vallar, muar, azinino, bovino, suino, laníge- ro e cabrum, por ter grandes montados. É também mimosa de coelhos, lebres, per- dizes, leixugos, raposas e lobos, no inverno. Ern melhores tempos, quando os abbades d'esta freguezia tinham coadjutores, costu- 1268 VIL VIL mavam estes ensinar instrncção primaria; mas hoje é tal a falta de clero que uma gran- de parte das freguezias d'esta e d'outras províncias nem parodio próprio teem e me- nos ainda coadjuctores, pelo que ha muito esta parochia não tem esehola alguma nem sequer de instrucção primaria!. . . O clima d'esta parochia é saudável e va- ria com a altitude,-- sendo mais quente do que frio na margem do Tuella e muiio ás- pero nos montes e serras. Ao meu venerando amigo, o sr. Emiliano Antonio de Sousa, agradeço os apontamen- tos que se dignou enviar me. VILLAR DE PINHEIRO, — freguezia do concelho e comarca de Villa do Conde, districto e diocese do Porto, província do Douro. Abbadia. Orago Santa Marinha; — fogos 168— habitantes 715. E?n 1633 era vigairaria annexa ao con- vento beuedictino de Vairão,— rendia para as freiras 100$000 réis— e contava 216 ha- bitantes. Em 1706 era abbadia da apresentação do convento de Moreira, — rendia para o abbade 120^000 réis e outro tanto para as freiras de Vairão, que recebiam 2 partes dos dízimos; —contava 80 fogos— e pertencia ao grande concelho ria Maia, comarca do Porto. Em 1768 era da apresentação do papa, do bispo do Porto e do prior do convento cru- zio de Moreira;— rendia 280*000 réis— e contava 101 fogos. Em 1857 contava 150 fogos e 580 habi- tantes. O censo de 1864 deu-lhe 152 fogos e 622 habitantes,— e o de 1878 deu-lhe 160 fogos e 701 habitantes. Demora esta freguezia entre o Porto e Villa do Conde;— é atravessada pela estrada real a macadam n.° 30, do Porto a Valença, e pela linha férrea do Porto á Povoa de, Var- zim e Villa Nova de Famalicão, na qual tem estação própria, denominada Villar do Pi- nheiro, a N.O. d'esta freguezia, distando a egreja paroclml cerca de 1 1>2 kilometros da mencionada estação;— 13 de Villa do Conde | para S.S.E ;— 16 do Porto para N.N.O.;— 45 de Villa Nova de Famalicão pela menciona- da linha férrea;— 143 de Valença do Minho — e 356 de Lisboa, Comprehendeasaldeiasseguintes: — Egre- ja, a séde da matriz,— Povoa, Venda, San- gemil, Senra, Tezo, Carvalhido, Travessa, Real e Cestêlo,— diz o meu illustrado infor- mador, mas a Chorog. Mod. menciona tam- bém as aldeias de— Agra de Baixo, Rio, Ara- das, Cavadinhas e Aguas Férreas. Freguezias limitrophes:— Mosteiro* e Santa Maria de Villar a N.; — Gemunde a E.;— - Villa Nova da Telha e Moreira a S.,— e Avel- leda a O. Producções dominantes: — milho, vinho, trigo, centeio, cebola?, nabos e fructa. O vinho é verde e rascaníe ou de enfor- cado, mas teve sempre venda remuneradora e fácil— e hoje mais do que nunca, por ser exportado para França, em grande escala. V. Villa Verde, séde do concelho e da co- marca do seu nome, vol. XI, pag. 1105, col. 2.a in fine, e seg. Também esta parochia abunda em herva- gens, com que engorda muitos bois, que ex- porta par a Inglaterra, industria que foi mui- to rendosa nas nossas províncias do Minho e Douro, mas que hoje infelizmente se acha em pronunciada decadência. V. Villar di Andorinho. Esta parochia pertencia ao concelho da Maia, mas, a requerimento de muitos dos seus eleitores, passou para o concelho de Villa do Conde em 1870, por decreto de 11 de maio do dicto anno. Atravessam esta freguezia dois ribeiro» anonymos que movem diversos moinhos, fer- tilisam os seu3 campos e desaguam no rio de Labruge, um pouco a jusante da ponte da antiga estrada do Porto para Villa do Conde-, O meu benemérito antecessor denomi- nou-os^ Pena e Lagiellas, por banharem as aldeias d'estes nomes, pertencentes á fregue* zia de Avellêda, — e disse que desaguavam no mar, o que foi lapso. V. Avellêda, conce- lho de Villa do Conde. A egreja matriz demora junto da estrada real n.° 30. Não é muito espaçosa, mas está VIL VIL 1269 bem situada e bem tractada,— tem bons pa- j ramentos e alfaias e ricas peças de prata, | posto que desappareceram outras muitas que em 1807 foram enviadas para o Porto por ordem do príncipe regente, depois rei, D. João VI— e não mais voltaram,— suppon- j do-se que as roubariam os francezes. Em frente da egreja ha um espaçoso ter- reiro arborisado, onde em 28 de junho de 1872 os habitantes d'esta freguezia e das cireumvisinhas — Mosteiro e Avelleda,— pa- ra solemnisarem a visita de S. M. el-rei o sr. D. Luiz, acompanhado por seu irmão o in- fante D. Augusto, na sua passageai para Villa do Conde, Povoa de Varzim, Barcel- los, Vianna, Ponte de Lima, Braga, Guima- rães, Amarante, Regoa e Villa Real, 1 fize- ram uma apparatosa exposição do seu gado bovino gordo, destinado para embarque. Apresentararn-se magnificas juntasde bois, garridamente enfeitadas, avultando entre el- las uma que chamou a attenção de todos, inclusivamente de S. M„ pelo que o rev. João Francisco Pinto, abbade de Avelleda, imme- diatamente a comprou e que muito genero- samente a offe.receu a S. M., dignando-se o mesmo augusto senhor acceital a. Na matriz d'esta parochia se fez com gran de pompa, durante alguns anno?, no terceiro quartfl d'este século, a festividade de S. Bartholomeu no domingo seguinte ao dia do mesmo apostolo, 24 d'agosto, sendo muito notável a esplendida e custosa illuminação. Comprehendia mais de 2:000 lumes de va- riadas cores, artisticamente distribuídos pela frente da egreja e pelo largo fronteiro em arcos e obeliscos de madeira (nós os vimos) que se guardavam e augmentavam da um anno para o outro, tudo á custa de amado- res e devotos, nomeadamente do sr. José Francisco da Silva, abastado lavrador d'esta parochia. Em freguezias ruraes difíicilmente se verá 1 O sr. D Luiz embarcou na Regoa e se- guiu pelo Douro para o Porto, onde havia deixado sua esposa, a sr.a D. Maria Pia, que o foi esperar e receber no Palacio do Frei- xo, em Campanhã,— palácio que ao tempo era o mais luxroso do Porto. j illuminação tão apparatosa. Rivalisava com a da grande festa do Senhor do Calvário, de Gouveia, na Beira Baixa, e que é, ha muitos anno?, a illuminação mais notável de toda aquella província, i V. Gouveia, villa da Beira Baixa, n'este diceionario e no supplemento. Ha n'esta parochia 1 uma capella dedicada aos Santíssimos Corações de Jesus e Maria e teve aunexo um collegio de meninas po- bre?, dirigido por Irmãs Hospitaleiras, sen- do tudo fundado tm 1877 a 1878 pela sr.a D." Maria da Gloria Allen Urcullu Ribeiro, viuva de Manuel Theotoruo Ribeiro de Cas- tro e filha de D. José de Urcullu, natural da Hespanha, onde militou na guerra da penín- sula, e que depois, perseguido por opiniões politicas, emigrou para Portugal, onde viveu muitos annos e falleceu em 8 de julho de 1852. Era homem muito illustrado, cavalleiro da ordem de Christo, sócio correspondente da Real Sociedade Geograpkica de Londres e das de Pari?, Rio de Janeiro, etc. Publicou varias obras em he?panhol— e em portuguez as seguintes:— Tractado dementar de Geo- graphia... em 3 vol. (1835-1839) 8.° gr. com estampa?, obra ainda hoje muito esti- mada;— Grammatico, inglesa para uso dos portvguezes (1830);— Catltecismo da doutri- na christã.. . (1851);— e O livro dos meni- nos . . . A mencionada senhora vivia n'aquelle tempo em uma quinta que possue aqui e foi auxiliada no seu empenho por diHV.re.ntes vi.-inhos e outros devotos. Hoje (1886) vive no Porto e tem, entre outros filho*, um pres- bytero de muito merecimento, doutorado em theologia pela Universidade Pontifícia Gre- goriana de Roma, em 1885. É vice-reitor do Seminário episcopal do Porto, homem muito illustrado e primoroso escriptor publico. Chama-se Theotonio Manuel Ribeiro Viei- ra-de Castro— e foi-lhe dada em património a mencionada quinta do Padinho. Esta freguezia chamava-se cutr'ora Villar 1 Na quinta do Padinho. 1270 VIL VIL de Porcos e já existia no século xr, pois em 1074 Sendino Rodrigues e sua mulher Gen- dina Paladiniz deram a terça parte que ti- nham no padroado da egreja de Santa Ma- rinha de Villar de Porcos, bispado do Porto, (eslá averiguado ser esta) a Trutezindo Gut- teres e a sua mulher Guntrode— pro bara- lia,' que abuimus super nostra haeredilate cum nostras gentes: et fecestes ad nos ibi grande alhia. Isto é:— que lhes davam a terça do pa- droado d'esta egreja pelos serviços que lhes haviam prestado na contenda qua tiveram por causa de certa herdade e era remune- ração d'outros benefícios. E no anno de 1075 Diogo Olidiz deu ao mesmo Tructesindo Guterres a porção que tinha na mesma egreja de Villar de Porcos — pro plagas, et feridas malas, que fecemus ad vestros mallados, et non habuimus ande tilas penture. V. Alhia e M alado em Viterbo. Ainda nos princípios do sec. xvi conserva- va o mesmo nome de Villar de Porcos, segun- do se lè no foral que D. Manuel deu ao con- celho da Maia em 15 de dezembro de 1519, sendo porém feio e porco tal nome, no uips- mo século xvi tornou o de Villar de Pinhei- ro,— ou por deferência para com o sr. D. Rodrigo Pinheiro que então (1562 a 1572) era bispo do Porto, — ou por haver aqui al- gum pinheiro enorme,1 — ou por ambos os motivos. É certo que já nos princípios do sec. xvn se denominava Villar de Pinheiro, como se lê no Catalogo dos Bispos do Porto, publica- do em 1623. Na era de LX1II Abon Arigutinizi e Froila Popizi fizeram uma certa transacção sobre propriedades que possuíam em Villar de 1 Ainda hoje se encontram enormes pi- nheiros n'esta freguezia e uas cireumvisi- j nhãs. Na de Aguas Santas, por exemplo, ha j dois, cujo tronco tem 4 metros de eircura- ! ferenria ! . . . E são piuheiros bravos (pinus marítima) cujos troncos não costumara en- grossar muito. Ora se isto se dá hoje, em 1886, não admira que em outros tempos, quando todo o nosso paiz era muito mais povoado d'arvoredo, se encontrassem por es- tes sitios pinheiros muito maiores. Porcos, na Maia. V. Dissertações de João P. Ribeiro, tomo 1.° pag. 206, n.° XIII. Na era de 1340 (anno 1302) D. Berioge- ria Ayres doou ao bispo do Porto D. Giraldo as egrejas de Cedofeita, Lavra, Santa Maria de Villar de Porcos, etc, etc. Dissertações de João P. Ribeiro, tomo 5.° pag. 63. Nos princípios da nossa monarohia houve uma Villa de Porcas no concelho de Sinfães. Suppomo3 ser hoje a aldeia de Porcas da freguezia de S. Thiago de Piães, n'aquelle concelho. V. Dissertaçõas de João P. Ribeiro, vol. 5.° pag. 237; — temos ainda hoje no nosso paiz varias aldeias com os nomes de Porco, Porca e Porcas — e no concelho da Guarda a freguezia do Porco e a de Porcas. Tem esta freguezia um bom cemitério pa- rochial, onde se vêem tres elegantes mau- zoleus. Foi construído em 1879 e benzido solemnemenle no domiDgo da Paixão, 3 de abril de 1881, pregando o rev. Francisco José Patrício, da cidade do Porto, distincto orador sagrado. O chão d'esta parochia foi quasi todo de naturesa de prasos de vida, de que eram di- rectos senhores os conventos de Moreira, Santo Thyrso, Arouca, Lorvão, Vairão e Al- moster. Os parochos d'esta freguezia tiveram, além dos dízimos, um grande passal, mas tudo cedeu em eras remotas um dos parochos ao convento de Vairão, reservando para si e seus succesores apenas a terça do rendi- mento total d'esta abbadia, pelo que as re- ligiosas de Vairão tinham a seu cargo a fa- brica d'esta egreja e ainda em 1841, pouco antes da extincção dos dízimos, restauraram á sua custa a rezidencia parochial, uma das melhores d'este3 sitios. Ha n'esta parochia excellentes aguas fér- reas, muito medicinaes. Foram descobertas por um antigo abbade e gosam de grande credito para o trata- mento de certas doenças, posto que, segun- do consta, perderam algumas das suas pro- priedades desde 1863, quando se abriu a estrada em plano superior á nascente das aguas e as encanaram para outro local. VIL VIL 1271 São 3 as bicas ou nascentes, cada uma j com graduação diversa, e nota-se que as di- etas nascentes são mais fortes e abundantes no verão do que no inverno I . . . Faz-se uso d'estas aguas bebendo-as no local e em pontos distantes, conduzidas em garrafas. Brotam na pequena povoação de- nominada Aguas Férreas. Entre os edifícios particulares d'esta fre- guezia avulta a Casa da Morgada í, edifício espaçoso e um dos melhores das circumvi- sinhanças. Pertence hoje ao sr. José Anto- nio de Sousa Dias, irmão de Manuel de Sousa Dias, tabellião em Gondomar, n'este distri- cto. Abbades d'esta parochia Occorrem-nos os seguintes: 1. ° — David Bezerra Cabral. 2. ° — Manuel Moreira. 3. °— Miguel d'Araujo Leite. 4. °— Leonardo Francisco d'Almeida. 5. ° — Agostinho André de Barros, pelos annos de 1653, data em que emprasou o campo da Searinha, pertença do seu passal, a Domingos da Costa por 10 alqueires de pão, ou ISO réis por cada um. 6. ° — Balthasar Antonio, natural de Ge- munde. Foi aqui abbade desde 1671 até 1702. 7. ° — Antonio da Costa, natural de Gou- vães da Serra, em Traz-os-Montes. Foi aqui abbade pelos annos de 1714 e re- signou em seu sobrinho, o padre Alexandre da Silva, com a reserva de 45 escudos d'ouro da camará e tâjulios ou oitenta mil réis da moeda por tugueza n'aquelle tempo. 8.8— Alexandre da Silva, mencionado su- pra. Ainda era aqui abbade em 1754. 9. °— Dr. Manuel Mendes Vieira, successor do antecedente. Foi aqui abbade 15[annos. 10. °— D. José da apresentação Lobo, suc- cessor do antecedente. 1 É appellido de família, não titulo de no- bresa, posto que os donos rJ'ella são lavrado- res ricos e muito considerados na locali- dade. Foi abbade lo annos e lambem vigário da vara e visitador no disiricto ecclesiastico da Maia, examinador synodal, etc. Tinha sido cónego regrante no convento de Moreira e d'ali trouxe para esta parochia uma relíquia do Santo Lenho, com previa auctorisação do sr. D. João Bafael de Men- donça, enlão bispo do Porto. 11. °— Manuel Dias Bamalho d'01iveira, successor do antecedente. Era natural de Villa Nova da Telha e foi aqui abbade 45 annos 1 . . . 12. °— Antonio Piuto Moreira, natural da freguezia de Barqueiros, concelho de Mezão- frio. Falleceu em 3 de janeiro de 1854, íendo sido aqui abbade 20 annos. Era tio do conselheiro e dr. José Julio de Oliveira Pinto, meu contemporâneo na Uni- versidade e talento verdadeiramente supe- rior, bacharel formado em direito, deputado ás cortes, ofíicial maior da secretaria da jus- tiça, etc, infelizmente morto em um duello no vigor da edade, quando tinha deante de si o mais auspicioso futuro!.. . V. Barqueiros, vol. l-° pag. 336, col. 2." tn fine. 13. °—Manuel Francisco dos Santos, natu- ral de Villa Nova da Telha, onde nasceu na aldeia de Cambados em 10 de dezembro de 1811, sendo tilho de José Francisco dos San- tos e de Custodia Theresa de Jesus. Collou-se em 20 de julho de 1854 e é o rev. abbade actual,— venerando ancião de 75 annos de idade e que hoje, 21 de julho de 1886, conta precisamente 32 annos de vida parochial K É bastante, mas o meu bom ami- go dr. Fr. José Caetano Lopes Bandarra, vi- gário de' Longroiva, já conta cerca de 80 annos de idade e 50 de vida parochial,— ainda escreve com firmesa e diz missa lodos os dias ! . . - V. Villa Nune n'este diccionario, e Lon- groiva no supplemento. 1 Se eu attiDgir a mesma idade (duvido muito 1 . . . ) contarei 46 annos de vida paro- chial, pois já conto 25 e nasci em 1832. V. Corvaceira e Miragaya, vol. 5.» pag. í 250, col. 1.» 1272 VIL VIL Pessoas notáveis D. Fr. João Moreira, bispo do Cabo Verde, filho de Manuel Moreira e de Andresa João. Nasceu em 1688 na aldeia da Povoa d'esta freguezia e, tendo sido religioso da provín- cia da Soledade e guardião em vários con- ventos da sua ordem, foi eleito bispo de Ca- bo Verde por el-rei D. João V, em 16 de ju- nho de 1742;— foi sagrado na Sé pairiarehal de Lisboa cm 17 de fevereiro de 1743, do- mingo da sexagésima;— partiu para a sua diocese em 1 1 de março de 1 744;— chegou ali em 28 do dicto mez, sahbado de ramos;— fez a sua entrada solemne na terça feira da semana santa;— governou aquelle bispado 2 annos— e falleceu em 13 d'agosto de 1746, contando 58 annos de idade. 2 °— Fr. João da Trindade, religioso agos- tinho descalço, ou grillo. Professou no convento da Mão Poderosa, .ou da Formiga, junto da actual estação de Ermezinde, na parochia de S. Lourenço de Asmes, em 17 de março de 1790. 3. °— Fr. Manuel de Santa Marinha, tam- bém frade grillo. Professou no mesmo convento em 1 de fe- vereiro de 1791. 4. °— Joaquim Antunes d'Azevedo, o meu illustrado collega e benemérito informador. É actualmente reitor de Villa Nova da Telha. Nasceu n'esta parochia, na aldeia de S. Gemil, em 18 de maio de 1828, sendo filho legitimo de José Antunes d'Azevedo, mili- ciano na guerra da península, vereador da Maia, etc, e de D. Maria Joaquina de Jesus, da^casa do Talho, em S. Romão de Vermoim. Estudou preparatórios no collegio da For- miga e no Lyceu do Porto,— e philosophia com D. Francisco da Piedade da Silveira Mourão i. Cursou as aulas theologicas do Paço Episcopal do Porto, onde se ordenou, recebendo o presbyterato nas têmporas de setembro de 1852. Em janeiro de 1854 foi encarregado da encommendação d'esta fre- 1 V. Nicolau (S.) do Porto, vol. 6.° pag. 54, col. 1.» in fine e segg. guezia de Villar de Pinheiro, onde se collou em junho do mesmo anno, e em 1864 pas- sou p3ra a reitoria de Villa Nova da Telha. O seu irmão mais velho, Manuel Antuaes d'Azevedo, ficou na casa paterna de S. Ge- ntil; casou com D. Maria d'Azevedo Maia. de Modivas, irmã de Antonio d'Azevedo Maia, abbade de Beduido em Estarreja, — e teve, entre outros filhos, Antonio Antunes d'Aze- vedo, que foi alumno do Lyceu do Porto, onde obteve varias distineções, e já tem o curso completo do Seminário do Porto, onde tenciona ordenar- se. O nosso biographado é também irmão de Antonio Antunes d'Azevedo, o qual casou em Vermoim, eom sucessão,— e de/José An- tunes d'Azevedo, casado com D. Anna Maria d'OIiveira Azevedo, pharmaceutica appro- vada, com pharmacia no logar do Sameiro, freguezia de S. Gonçalo de Mosteiro, e tem suecessão também. Os irmãos do nosso biographado, — José e Antonio, — teem sido vereadores, — este na Maia,— aquelle em Villa do Conde. 5. °— José Dias da Silva Lemos, sobrinho do general Jo«é Antonio de Lemos, de quem já se faltou em Santa Maria de Villar, fre- guezia d'este mesmo concelho de Vdla do Conde. O rev. José Dias da Silva Lemos é reitor actual de Modivas e vigário da vara no dis- tricto ecclesiastico da Maia 6. ° — Antonio José da Costa Nabiça, filho de José Francisco da Costa e de Antonio Ma- ria de Jesus. Nasceu na aldeia da Povoa, n'esta fregue- zia, em 15 d'agosto de 1814, e cegou àegota serena, contando apenas 4 annos de idade. É este um dos homens mais notáveis que tem produsido esta parochia, este concelho e o nosso paiz, pois sendo completamente cego desde a idade de quatro annos e não tendo saído d'esta parochia nem frequenta- do aulas ou instituto algum de instrucção, é o auctor da maior parte dos versos" que o povo do Minho lé e canta e que teem dado bom lucro aos editores e aos vendedores das publicações de cordel. São composições ligeiras e incorrectas, VIL VIL 1273 mas muito lidas e estimadas pelo povo — e teem editor sempre certo e venda fácil. Occorrem-nos as seguintes, todas impres- sas no Porto : O vinho e a agua; dialogo. A curxija e o morcego; dialogo. O mocho e o cuco; dialogo. Reflexões moraes do alheu agonisante; dia- logo religioso. A Raposa e o Ouriço cacheiro, fabula mo- ral. Concilio entre as quatro estações do anno; dialogo. Impertinências de velha, entre tia e sobri- nha; dialogo. Baile de Entrudo; entremez. Entretenimentos da Infância; dialogo re- ligioso. Resultado da loucura; comedia. O criado tonto e a velha louca, lambem comedia. O Douro com prelenções de casar, entre- mez. A guerra dos Cães e Gatos. A sfiude e a doença, dialogo. O repolho e a Nabiça, dialogo em 4 folhe- tos. Cantigas ao desafio — e outras poesias va- riadas. Até onde iria este pobre homem, se ti- vesse estudos e vista e vivesse em um outro meio ? Couta hoje 72 annos de idade e é um ve- lho de bons costumes, muito tractavel e bas- tante syinpathico. Não o conhecemos pessoalmente, mas te- mos no nosso álbum a sua photographia. Foram também naluraes d'esta parochia dois mestres pedreiros de fama:— Domingos Pires de Mattos e Domingos da Costa Ne- ves. O 1.° fez a capella-mór da egreja actual de S. João da Foz do Douro, mandada con- struir pelos frades de Santo Thyrso, em 1712,—o 2.° fez entre outras obras a egreja actual de Santa Cruz do Bispo, no concelho de Bouças, mandada reconstruir por D. An- tonio de Sousa, bispo do Porto. Facto tristíssimo Na madrugada do dia 26 do janeiro de 1834 (era um domingo) chegou aqui era observação uma força liberal, vindo do Por- to, e, defrontando com alguns soldados de cavallaria miguelista, estes debandaram aos primeiros tiros dos liberaes, deixando feri- dos um dos seus. Ficou a povoação attonita com aquelle inesperado tiroteio na estrada publica, — e dois filhos d'esta parochia, Manuel Moreira e Antonio Domingos Gomes, moços valentes e muito estimados, pertencentes ás primeiras famílias da terra, tuppondo que alguma das quadrilhas de salteadores, que ao tempo in- festavam a Maia, tive3.«e assaltado algum viandante ou algum visinho, correram ao lo- cal, para verem se podiam defender os ag- gredidos. Foram logo presos pela tropa e conduzidos para o Porto com o ferido, mas não chegaram ao Porto, porque a dieta força na ponte de Moreira fuzilou barbaramente aquelles tres infelizes e os lançou depois ao Leça. Desgraçados tempos ! . . . Ao meu bom amigo o eollega o rev.mo sr. Joaquim, Antunes d'Azevedo, illustrado filho d'esla parochia, agradeço os apontamentos que se dignou enviar- me. VILLAR DE PORRO,— freguezia do con- celho de Boticas, comarca de Montalegre* distrieto de Villa Real, diocese de Braga. Vigairaria. Fogos 101,— habitantes 480. Orago— Santa Maria sob o titulo da As- sumpção. Em 1706 era um simples curato;— per- tencia ao concelho de Montalegre, comarca e ouvidoria de Bragança; — contava 66 fo- gos na aldeia de Villar de Porro— e 16 na de Carvalho,— total 82 fogos. Em 1768 era da apresentação do mosteiro benedictino de Refuios de Basto;— rendia para o cura 8^000 réis, além do pé d'altar — e contava 73 fogos. O censo de 1864 deu-lhe 10o fogos e 421 habitantes,— e o de 1878 deu-lhe 99 fogos e 492 habitantes. Demora esta freguezia na margem direita 1274 VIL VIL do rio Bessa, 1 confluente do Tâmega, e com- prehende apenas a aldeia de Villar de Por- ro, sede da parochia,— e a de Carvalho, am- bas mencionadas supra, distando a i.a 2ki- lometros da margem do rio Bessa;— 8 -de Boticas para O.S.O.;- 20 de Montalegre para S— e 70 de Braga. . Emquanto a templos tem a pequena e po- bre egreja matriz em Villar de Porro— e uma capella de S. Matheus na povoação do Car- valho. Banha esta parochia o Bessa, que rega, moe e cria peixe miúdo. O chão d'esta parochia é bastante plano, abrigado por altos momes ao norte e aberto ao meio dia. Produz muito milho, centeio, feijões, batatas e muita castanha de excel- lente qualidade. Nos últimos annos da dizimaria, esta pa- rochia rendia para o seu vigário 48^000 réis em dinheiro;— 1 almude de vinho, 1 alqueire de trigo e 1$200 réis para guisamentos;— benesses 48£000 réis;— total 97^200. Em tempos remotos esta freguezia, bem como as de Curros e Codeçoso de Canedo, fo- ram annexas ou filiaes da de S. Salvador de Canedo, que por seu turno era abbadia do padroado real, e o seu abbade apresentava curas nas tres annexas. Depois, por doação de um rei nosso, 2 passou a mencionada ab- badia para os frades benedictinos de Befoios de Basto, que por bulia apostólica a consti- tuíram commenda sua,comprehendendo esta freguezia de Villar de Porro e as outras duas annexas, ficando por cabeça da dieta com- menda a egreja de Canedo, cujo parocho d'ahi em deante foi simplesmente reitor, apresentado pelos dictos frades, que lhe da. vam apenas 50 alqueires de pão, e 10$000 réis; — e a um cura ou coadjutor outros 10$000 réis e 20 alqueires de pão meado. Deu-se isto de 1428 em diante. 1 Alguém denomina este rio Bersa. V. Villar de Cunhas e Villarinho da Mó. 2 Alguém diz que foi doação de Vasco Gonçalves Barroso, 1° marido*de D. Leonor d'Alvim, casada em segundas núpcias com o santo eondestável D. Nuno Alvares Pereira. V. vol. 8.» pag. 355, col. 2.» O reitor apresentava curas n'esta fregue- zia de Villar de Porro e nas outras filiaes de Canedo. A tal commenda era importante. Nos úl- timos annos da dizimaria o seu rendimento approximava-se de 1:500^000 réis, dando os frades ao reitor da matriz apenas 50$ 160 réis em dinheiro— e 101 $600 réis em géne- ros e passal;— ao todo 151$760 réis. V. Canedo n'este diccionario, vol. 2.° pag. 85, col. 2."— e no supplemenlo, onde amplia- remos consideravelmente aquelle artigo. Villar de Porro confina a leste com a fre- guezia de Curros— ao norte com a de Beça; —ao poente com a de Covas— e ao sul com a de Canedo,— todas do concelho de Boti- cas. Terminaremos pedindo que dêem a esta pobre freguezia outro qualquer nome, pois o de Villar de Porro é mais indecente e mais porco do que o de Villar de Porcos, dado outr'ora á freguezia antecedente, hoje Villar de Pinheiro. P. S. Esta freguezia de Villar de Porro, apesar do seu nome indecentíssimo, data de tempos muito remotos e já no século xm tinha certa importância, pois D. Affonso III, estando em Guimarães, lhe deu foral no dia 28 de maio de 1258. Liv. I de Doações do Snr. Bei D. Affon- so III. fl. 30, col. 2.» in médio. VILLAR DO REI,- freguezia do concelho e comarca do Mogadouro, districto e diocese de Bragança, província de Traz-os-Montes. Reitoria. Orago S. Pedro;— fogos 65,— ha- bitantes 280. Em 1768 era um curato da diocese de Braga, e da apresentação da corôa;— perten- cia ao concelho do Mogadouro, comarca de Miranda; rendia para o seu cura 30$00O rs. — e contava 43 fogos. O censo de 1864 deu lhe 59 fogos e 234 habitantes,— e o de 1878 deu-lhe 70 fogos e i 287 habitantes. í E uma parochia insignificantíssima, como a maior parte das d'esta província, nomea- damente d'este concelho de Mogadouro, pois, VIL VIL 1275 contando 34 freguezias, tem apenas 3:813 fogos e 16:042 habitantes. Das suas 34 freguezias 9 não contam 70 fogos— e 18 contam menos de 100 fogos, ca- da uma; — 7 não contam 150 fogos;— de 15*0 a 200 fogos tem apenas 5 freguezias;— e com mais de 200 fogos tem somente 4 freguezias, sendo a mais populosa a da villa do Moga- douro, que tem apenas 259 fogos ! . . . Contrastam as freguezias d'este bispado e d'este districto de Bragança com as do bis- pado e districto do Algarve, nomeadamente as d'este concelho do Mogadouro, com as do concelho de Loulé, que tendo apenas 7 fre- guezias conta 7:100 fogos e 31:923 habitan- tes?!... O que abunda n'este bispado e n'este dis- tricto de Bragança, nomeadamente n'este concelho do Mogadouro e nos de Mirandella e Villa Flor, são freguezias annexas, por não poderem sustentar a sua autonomia. E esta desgraça vem de longe, pois as 31o fregue- zias, que pela nova circumscripção diocesa: na de 1882 constituem a diocese de[Bragan- ça, representam mais de 100 freguezias an- nexas I . . . Total:— uma pobresa franciscana. V. Villa Real de Traz-os-Montes, Villa Verde, de Mirandella, Villa Verde de Vinhaes — e Bragança no supplemento a este diccio- nario. Prosigamos. Demora esta freguezia nas faldas da serra do Suralhão e comprehende apenas a povoa- ção de Villar de Rei, que dista G kilometros da villa do Mogadouro para S,E.;— 8 da mar- gem direita do Douro para RO ; — 40 da es- tação da Barca d'Alva (a mais próxima) na linha férrea do Douro, prestes a abrir-se á circulação;— 45 da de Miranda para S.O.; — 80 de Bragança para S.;— 241 do Porto— e 578 de Lisboa. Não ha n'esta freguezia nem n'este con- celho,— nem nos 4 concelhos limitrophes (Miranda, Vimioso, Alfandega da Fé e Freixo d'Espada á Cinta) estrada alguma a maca- dam. Todas as suas estradas são ainda os me- donhos barrancos do principio da nossa mo- narchial. . . ProducçÕes dominantes :— trigo, cenleio, batatas e Ian, pois cria bastante gado laní- gero, muar e bovino da raça mirandesa, tão estimada, qus n'esia província se tem ven- dido a junta dos dictos bois por 60 a 70 li- bras 1 . . . Paroehias limitrophes:— Mogadouro, Val de Porco, Villa dos Sinos, Villa d'Ala e Vil- larinho dos Gallegos. Ha n'esta parochia duas minas de chumbo, hoje em abandono, mas que foram explora- das ainda n'este século. Ainda lá se vêem a3 minas dos fornos em que se apurava o minério. Com relação a estas minas é muito digna de ler- se a Memoria sobre as pesquisas e lavra dos veios de chumbo de Chacim, Souto, Venlozello e Villar de Rey, na provinda de Traz-os-Montes, por José Bonifacio d'Andra- da e Silva, formado em philosophia e direito pela Universidade de Coimbra, sócio e se- cretario perpetuo da Academia Beal das Seiencias de Lisboa, dezembargador da re- lação do Porto, intendente geral das minas, etc, etc. Nasceu no Brazil, então colónia nossa, em 1763;— falleceu em 1838; — foi uma illustra- ção superior e um escriptor distinctissimo, como pode ver-se no Diccion. Bibi. de Inno- cencio. Na dieta Memoria 1 se lê o seguinte: «Ao mesmo tempo que se examinaram os veios de Venlozello,2 não me esqueci de mandar também pesquizar uma mina velha, que me constava haver em Villar de Rey. Esta mina jaz no sitio chamado o Prado de Reys, distante um quarto de legoa da povoa- ção, e do logar de Ventozello quasi legoa e meia. «Os antigos tinham aberto um soeavão ou valia de 12 braças de comprido ao longo do 1 V. Memorias da Academia R . das Seien- cias de Lisboa, l." serie, tomo V, parte II, pag. 77 e seg. 2 V. vol. X, pag. 285, col. 1." n'este dic- cionario. 1276 VIL VIL veio, e funda 15 palmos; eslava porem aban- donada, talvez porque n'esta altura a gale- ria de chumbo era em pouca quantidade, e se achava muito disseminada na gauga ou matriz quartzosa. Nos lados d'esta escavação achão-se ainda agora montinhos de pedaços de quartzo, que contem muitas partículas de galena o poderão ser aproveitadas no pizão ou engenho de pilar, que se deve construir. «Como a lavra regular d 'esta mina me pa- receo fácil e rendosa, ordenei que se apro- fundasse um poço de pesquiza para melhor se examinar a naturesa e possança do veio, que corre de Sudoeste a Nordeste. Com ef- feito este se abriu quasi no fim da escava- ção antiga para o Sudoeste; e até á altura de 15 palmos mostrava ter sido já bólido o ter- reno; mas d'ahi para bnixó appareceo o veio intacto, que consta de quartzo com galena em ninhos de palmo, e palmo e meio de diâ- metro, alternando com camadas de grossura de dois palmos de huma ocra amarellada, que involve pedaços de chumbo verde cris- tallisado. «Mais para baixo continua o veio com a grossura de quasi 3 palmos; e consta de ganga quartzosa alvadia com listras de quar- tzo branco e galena disseminada em massas pequenas e grandes, ás vezes já tão consi- deráveis, que pesa cada pedaço 3 arrobas. «Estas massas ou rins de- galena achão-se cobertas ordinariamente de hum oxydo de chumbo amarellado, que contem algum fer- ro. Ha toda a esperança que aprofundando- se mais e mais, este veio augmente de pos- sança e de ricmesa. «A galeria é lamellosa, de laminas finas e cruzadas, cuja estructura a faz mais escura e menos brilhante que a g;.lena ordinária. Alguns ocos ou drusas d'esta galena são Tur- rados de chumbo branco eristallisadó, e ás vezes apparece em manchas chumbo negro. «Pelo ensaio alguns pedaços de mineral do mineral bruto di rão por cento, huns por outros, 4o até 50 de chumbo; mas este chum- bo he mais pobre em prata que o das minas de Ventozello. «Nas visinhaDças d'esta miDa e no cir- cuito de meia legoa ha difíerentes arvore- dos e matas, quaes são as de Passó, Villa- dalla, e a grande mata da Nogueira, que tem 4 Iegoa.s d'extensão.» VILLAR DE SANCERIZ,— ou de S. Ceriz —ou de S. Cyriaco,— villa e freguezia extin- cta, hoje simples aldeia da freguezia de Ma- cedo do Matto, concelho e districto de Bra- gança. Suppomos que é a freguezia mencionada pelo meu benemérito antecessor sob o titulo Ceriz (S.) pois não temos hoje villa, fregue- zia nem simples aldeia com o nomo de Vil- lar de Sanceriz—mme que lhe dá Fran- klim, bem como um foral de D. Diniz, da- tado de Bragança a 30 de dezembro de 1284, 1 —foral differente dos 2 que lhe deu o meu antecessor ! . . . V. Ceriz (S.)— e Macedo do Matto. Aproveitando o ensejo acerescentaremos com relação a esta ultima freguezia o se- guinte: Conta hoje 120 fogos e 506 habitantes;— foi abbadia da apresentação do ordinário e esteve algum tempo annexa á de Baguáxe, ambas do concelho de Izeda, que foi extin- cto pelo decreto de 24 d'outubro de 1855, passando a 1." para o concelho de Bragança — e a 2.* para o de Macedo de Cavalleiros. A povoação de Macedo ou Macedinho do Multo, séde d'esta paroenia, dista 8 kilome- tros da margem direita do Sabor para 0. — e 25 de Bragança para S. Comprehendtt mais esta freguezia as po- voações de Frieira e S. Ceriz, ou Villar de S. Ceriz, que foram outr'ora viJlas, fregue- zias e sédes de concelhos próprios perten- centes á comarra de Miranda;— depois pas- saram para o concelho de Izeda comarca de Chacim até 1855, data em que foi extincto o concelho de Izeda, e passaram para o con- celho > comarca de Macedo de Cavalleiros, mas, dpsde que foram extinctas e annexas á freguezia de Macedo do Matto, ficaram per- tencendo ao concelho e comarca de Bra- gança. Em 1840 a freguezia de S. Ceriz ou de Villar de S. Ceriz eslava annexa á de Frieira. 1 Gaveta 15, Maço 3, n.° 4. VIL VIL 1277 Do exposto se vê que esta freguezia de Macedo do Matto, que nunca foi villa nem concelho, representa hoje 2 villas e 2 conce- lhos, contando apenas 120 fogos I . . . Bellesas do districto de Bragança e que bem provara o que já dissemos d'elle nos artigos Villar de Rei, Villa Verde de Miran- delia, Villa Verde de Vinhaes e Villa Real de Traz-os-Montes. VILLAR SE CCO,— freguezia do concelho de Vimioso, comarca de Miranda do Douro, bispado de Bragança, província de Traz-os- Montes. Abbadia. Orago S. Thiago;— fogos 71,— habitantes 309. Em 1768 era da apresentação alternativa do ordinário da diocese, de Miranda e do commendador maltez d'Algoso, ao qual per- tencia só 4 mezes; — rendia 200$000 réis— e contava 75 fogos. O censo de 1864 deu-lhe 65 fogos e 295 habitantes,— e o de 1878 deu-lhe 71 fogos e 309 habitantes. É parochia muito antiga, mas uma das menos populosas d'este malfadado districto, pelo que já nem parocho próprio tem, mas um simples encommendado. Para evitarmos repetições e novas lamentações, i,vejam-se os artigos Villar de Rei, Villa Verde de Mirandella, Villa Ver- de de Vinhaes— e Villa Real de Traz-os-Montes, vol. XI, pag. 1016 e 1017. Em 1706 pertencia ao termo, concelho, comarca e diocese de Miranda e era abba- dia da mitra. Comprehende apenas a povoação de Vil- lar Secco, disseminada por uma campina na extensão de tres kilometros, em sitio húmi- do e frio, na margem esquerda da ribeira de Genisio, confluente da Angueira, bem co- mo esta do rio Sabor. Dista 11 kilometros de Miranda do Douro paro O.N.O.;— 15 de Vimioso para E.S.E.; —40 de Bragança para S.S.E.;— 70 de Mi- randella, por onde faz caminho para o Por- to;—120 da estação de Tua na linha férrea I VOLUME XI do Douro, pela linha de Mirandella;— 259 do Porto— e 596 de Lisboa. Freguezias límitrophes:— Caçarelhos, Ge- nisio, Malhadas e S. Pedro da Silva. Producções dominantes: — cereaes, batatas e lã, pois cria bastante gado lanigero, muar e bovino da excellente raça mirandesa pura, não sendo raro vender-se por 60 a 70 libras uma só junta dos dictos bois, creados n'esta parochia. A egreja matriz é um bom templo. Tem campanário— e a pequena distancia demora o cemitério. Ha também nesta freguezia 2 capellas: — uma de S. Sebastião,— outrá do Espirito Santo, com irmandade própria. Ambas são publicas e estão bem conservadas. Banha esta parochia a ribeira de Genisio, na qual tem 4 moinhos de cereaes. Ha n'esta freguezia uma casa nobre, que foi de Carlos de Macedo e Vasconcellos, ca- pitão de milícias e coronel de voluntários, — irmão de José Maria de Macedo e Vasconcel- los, capitão de cavallaria,— e de Antonio de Macedo e Vasconcellos, major de cavallaria também. Ha finalmente n'esta parochia uma fonte publica antiquíssima, cuja cortstrucção se at- tribue aos mouros. É de granito. Também esta freguezia não tem estrada alguma a macadam, mas só barrancos e pre- cipícios coevos da dieta fonte, ou do tempo dos mouros. Os abbades d'esta freguezia apresentavam outr'ora o parocho da de Villa Chã da Ri- beira, (V.) hoje simples povoação da fregue- zia de Santa Marinha de Uva, n'este mesmo concelho. Terminaremos dizendo que esta freguezia de Villar Secco era uma das que formavam o extineto concelho d'Algoso. VILLAR SECCO,— villa extincta, hoje sim- ples freguezia do concelho de Nellas, co- marca de Mangualde, districto e diocese de Viseu, província da Beira Alta. Orago— Nossa Senhora da Expectação;— fogos 260,— habitantes 1:096. Curato. 81 1278 VIL VIL Em 1768 era da apresentação do abbade de Santar;— pertencia ao concelho de Senho- ria), comarca de Vizeu;— rendia para o cura 8$000 réis, alem do pó d'altar— e contava 123 fogos. O censo de 1864 deu-lhe 256 fogos e 1:031 habitantes,— e o de 1878 deu-lhe 270 fogos (cifra exagerada) e 1:072 habitantes. Comprehende apenas a aldeia de Villar Secco, bonita e vistosa povoação com bons editícios e muito bem situada, formando uma espaçosa rua ao longo da estrada districtal a macadam n.° 44, de Viseu á villa de Geia, que atravessou esta povoação de norte a sul, cortando na villa de Nellas a estrada real a macadam n.° 48, da Figueira a Mangualde, por Foz-Dão. Dista 4 kilometros da estação de Nellas (a mais próxima) na linha da Beira Alta, para N O.;— os mesmos 4 kilometros da villa de Nellas, pois a estação*toea|nas casas da villa;— 10 de Mangualde para S.O. pela es- trada real a macadam— e 13 pela linha fér- rea;— 71 da estação da Pampilhosa;— 122 da Figueira;— 177 do Porto— e 300 de Lisboa. Freguezias limitrophes:— Nellas, Moimen- ta, Senhorim, Lobelhe do Matto, Espinho, Alcafache, Santar e Carvalhal Redondo. Producções dominantes : — vinho, milho, trigo, centeio, azeite, feijões, fructa varia- díssima e Ian, pois também cria bastante gado lanígero. O vinho, como vinho de pasto ou de mèsa, é de superior qualidade, bem como todo o da lindíssima e fértil zona do valle do rio Dão, nomeadamente das freguezias de San- tar, Nellas, Carvalhal Redondo e Senhorim, muito estimado em todo oiiosso paiz e mes- mo nos paizes estrangeiros, particularmente em França, para onde nos últimos annos tem sido exportado em grande quantidade e por bom preço ! . . . Banha esta freguezia o ribeiro do Corgo, que a kilometro e meio de distancia desa- gua na ribeira de Santar, confluente do rio Dão. Tem nos limites d'esta parochia uma pon- te, 2 moinhos de cereaes e 1 d'azeite, mas trabalham somente no inverno. Templos:— a egreja parochial e3 capellas particulares, achando-se uma interdicta e duas abertas ao culto. Celebram-se na matriz as festas do San- tíssimo Sacramento, Senhora do Ó, no 3.° domingo d'agosto, Santa Luzia, S. Sebastião, Menino Jesus, S. Braz e Santo Antonio. Edifícios brasonados : 1.°— A casa que foi de- Antonio Teixeira de Carvalho, de Viseu, hoje de sua filha D. Maria da Gloria Teixeira de Carvalho, casa- da em primeiras núpcias com o 1.° barão de Prime, da mesma cidade, e em segundas nú- pcias com José Porphirio de Campos Rebel- lo, de Lisboa, feito barão, depois visconde e por ultimo conde de Prime. V. Prime, vol. 7.°, pag. 673. / 2.°— A casa que foi de Miguel Antonio Ponees de Carvalho, hoje de sua irmã D. Maria da Gloria de Mello e Lima. 3.° — A casa de Antonio d'Albuquerque e Brito da Silveira Labalh, neto e successor do grande patriota Miguel Antonio Pereira Tenreiro d'Albuquerque. Foi capitão mor, coronel e inspector geral das milícias de Mangualde e por oceasião da guerra da pe- nínsula armou e equipou á sua custa uma companhia, com que bateu os francezes na Ponte Palhez, sobre o Mondego, no caminho de Mangualde para Gouveia, pelo que o ge- neral Bersford, commandante de um dos corpos do exercito anglo-luso, o elogiou em uma ordem do dia. Ha n'esta parochia duas aulas offlciaes de instrucção primaria elementar para os dois sexos. Esta povoação data de tempos remotíssi- mos, como provam differentes sepulturas que n'ella se teem encontrado, abertas na rocha, e que se attribuem á occupação ára- be. Ainda hoje aqui se vêem 2 das mencio- nadas sepulturas. Também esta povoação foi villa e algum tempo séde do extincto concelho de Senho- rim, hoje substituído pelo de Nellas. A easa da camará foi vendida — e o pelou- rinho foi derrubado para alinhamento e pas- sagem da estrada districtal de Viseu a Ceia- VIL VIL 1279 V. Nellas, Senhorim e Villa Ruiva de Se- i nhorim. Segundo se lé no Diccionario Geographico Manuscriplo, 1 que se guarda na Torre do Tombo, os alicerces das casas d'esta fregue- zia assentam sobre mármore, talvez na acce- pção de granito, que é a pedra dominante n'esta região. Também o mesmo diccionario menciona as aldeias d'Algirão, Povoa de Luziannes, Carvalhal e Villa Ruiva como pertencentes n'aquella data a osta freguezia de Villar Secco, mas ha muito que nenhuma d'ellas lhe pertence. Esta villa nunca teve foral próprio. Pelo menos Franklim não o menciona; mas era comprehendida nos foraes do extincto con- celho de Senhorim, do qual fez parte e foi algum tempo inclusivamente a séde, como já dissemos. . Para evitarmos repetições, vejam-se os ar- tigos Nellas, Senhorim e Villa Ruiva de Se- nhorim, onde se acham mencionados os di- ctos foraes. , Foi natural d'esta freguezia e aqui falle- ceu no dia 23 de novembro de 1874 o dr. Antonio Maria d'Albuquerque do Couto e Brito, juiz de direito aposentado com hon- ras de desembargador. Serviu 6 annos em "Viseu e foi um magistrado recto e digno. No dia 8 d'agosto de 1884 um pobre jor- naleiro d'esta freguezia, Joaquim Paes Lou- reiro, tendo uma espingarda na mão com a boeca do cano voltada para si, teve a infe- licidade de disparal-a, ficando tão grave- mente ferido que no dia seguinte morreu. O Santuário Marianno (vol. 5.° pag. 411) diz com relação a esta parochia em resumo o seguinte : A vida de Villar Secco fica no concelho de Santar, concelho tão antigo que el-rei D. Alfonso Henriques lhe deu foral velho e D. Manuel lhe deu foral novo. Nada mais diz a este res- 1 Collecção dos relatórios enviados ao go- verno pelos parochos em 1758. peito o auctor do Santuário Marianno e Franklin não men- ciona semelhantes foraes. Tem Villar Secco uma só freguezia que, haverá cem annos, 1 foi erecta por um bispo de Vizeu sobre uma antiquíssima capella de Nossa Senhora da Expectação, poraue a sua velha matriz de Santar demorava a meia lé- gua de distancia (bons 3 kilometros para N. N. 0.) mettendo-se de permeio um rio de difficil passagem no inverno. A dieta capella estava em sitio alto, ale- gre e vistoso a menos de um tiro de espin- garda da povoação;— tinha como orago a mesma Senhora;— media de comprimento 90 palmos e de largura 27; — tinha capella-mór com seu retábulo e no meio d'elle, em um nicho, a imagem da Senhora, — mais 2 alta- res lateraes no corpo da capella. A dieta imagem representava a Virgem sentada, tendo o Menino Jesus nos braços; —era de pedra, mas boa esculptura — e na posição em que se achava media 3 palmos de altura. Tinha n'aquelle tempo (1716) uma irman- dade e uma confraria próprias, que festeja- vam a padroeira em dias differentes: — a ir- mandade no primeiro domingo depois da Assumpção; — a confraria em 18 de dezem- bro, dia|da Expectação de Nossa Senhora. A primeira festividade tinha como parte integrante uma procissão que percorria o povoado, acompanhando-a muitos devot03 cora grande numero de fogaças de pão co- sido e em grão. A irmandade foi erecta approximadamente era 1660 e os seus estatutos foram confirma- dos pelo dr. João d'Almeida Loureiro, pro- visor sede vacante, em 1665. Tem muitas in- dulgências concedidas pelo papa Alexan- dre VII. O parocho d'esta freguezia era n'aquelle tempo (1716) apresentado pelo abbade de 1 Approximadamenteem 1616, pois aquel- le vol. do Santuário Marianno foi publicado em 1716. 1280 VIL VIL Santar e corriam por conta d'este e dos pa- dres de S. Jeronymo do convento de Coim- bra as despezas da fabrica, dando o abbade um terço e dois terços os dictos padres, por- que estes recebiam duas partes dos dízimos d'esta freguezia e da de Santar, emquanto que o abbade recebia apenas uma. O Sant. Marianno accrescenta ainda: tHe tradição constante que o logar de Se- nhorim fôra antigamente Villa (o que pa- rece se confirma com lhe chamarem ainda hoje — 1716 — o Lugar da Villa) e que d'este Lugar se mudára a Cadêa, e o Pelourinho para o Lugar de Villar Secco, aonde ainda hoje (1716) está: e que isto fizerào os Fidal- gos da Gasa de Santar, D. Luis da Cunha e D. Pedro da Cunha. E seria porque em Vil- lar Secco terião casas, seria melhor sitio, e haveria mayor povoação, e assim para a honrarem mais, disporião esta mudança. E sem duvida por esta causa (se é que a mu- dança se não fez depois de ser levantado o Lugar á dignidade de Villa) os Prelados de Vizeu farião a erecção da nova parochia.» V. Senhorim e Villa Ruiva de Senhorim, vol. XI, pag. 1055, col. 2." VILLAR SECCO DA LOMBA ,— villa ex- tincta, hoje simples freguezia do concelho e comarca de Vinhaes, districto e diocese de Bragança, província de Traz-os-Montes. Abbadia. Orago S. Julião;— fogos 114, — habitantes 518. Em 1706 era villa, abbadia e sede do con- celho do seu nome, comarca e bispado de Miranda, — sendo seus senhores os condes de Athouguia, mas a apresentação d'esta egreja era do ordinário;— rendia 200$000 réis— e contava 60 fogos,— não comprehendendo tal- vez, como hoje comprehende, a povoação de Passos. Em 1768 era da apresentação alternativa do papa e do bispo de Miranda; — rendia 400$000 réis — e contava 35 fogos,— segundo se lê no Port. S. e Prof. O censo de 1864 deu-lhe 101 fogos e 460 habitantes,— e o de 1878 deu-lhe 112 fogos e 507 habitantes : A povoação de Villar Secco da Lomba, de- mora na raia, em sitio quasi plano entre os dois grandes rios Mente e Rabaçal, que uni- dos formam o Tua. Dista da margem esquer- da do 1.° 2 kilomelros paraE.; — 3 da mar- gem direita do 2.° para O. — e 30 de Vinhaes para O.N.O. Alem da povoação de Villar Secco da Lomba, séde da paroehia, comprehende ape- nas a de Passos ou Paços, freguezia extin- cta. Tem hoje annexa civilmente a freguezia de Gestosa, que em 1840 lhe estava annexa para todas os effeitos e pertenciam então ambas ao concelho de Santalha, extincto pelo decreto de 31 de dezembro de 1853, em virtude do qual passaram para o de Vi- nhaes. A matriz d'esta parochia é um templo de- cente, de uma só nave e sem coisa alguma notável. O parocho tem uma boa casa de re- sidência e passal. — 165 mil réis de côngrua e as offertas, que consistem no seguinte:— um alqueire de pão de cada fogo. Tem a povoação de Paços uma capella pu- bliea, dedicada a Santo Antonio. O chão d'esta parochia é fértil e produz bastantes cereaes, batatas, castanhas, legu- mes, hervagens e là, pois cria gado de to- das as espécies. Também produziu excellente vinho de mesa em quantidade, antes da invasão phyl- loxerica anniquilar, como anniquilou comple- tamente os seus vinhedos e a maior parte dos d'esta província, tendo n'esta data man- chados e seriamente ameaçados todos os res- tantes do nosso paiz. Também esta freguezia é mimosa de peixe do rio Monte e de caça grossa e miúda: — perdizes, coelhos, lobos e raposas. Esta villa e este concelho de Villar Secco da Lomba tiveram foral velho, dado por D. Diniz, e foral novo, dado por el-rei D. Ma- nuel, segundo se lê na Chorographia Portu- gueza, mas Franklimnão os mencionou, por- que talvez não existam na Torre do Tombo. Em 1706 eomprehendia este concelho as freguezias seguintes: Villar Secco da Lomba (a séde)— Quiraz, — Villarinho, já então curato annexo e hoje VIL VIL Í28i simples povoação da freguezia de Quiraz, — Pinheiro Novo, Gestosa, S. Romão de Edral, S. Jomil, hoje parochia independente e então curato annexo á freguezia de Edral, bem como o curato de Frades, hoje simples al- deia da mesma freguezia de S. Romão de Edral. Ao sr. Emiliano Antonio de Sousa, vene- rando ancião de Vinhaes, agradeço os apon- tamentos que se dignou enviar-me. VILLAR DE SEROIA,— ou simplesmente Seroia, ou Seroa, e também Poupa— fregue- zia do concelho de Paços de Ferreira, co- marca de Lousada, districto e diocese do Porto. Orago S. Mamede,— fogos 140,— habitan- tes 600. Ao que o meu benemérito antecessor disse d'esta parochia no artigo Seroa (Vide) ac- creseentaremos o seguinte : Em 1623, segundo se lê no Catalogo dos Bispos do Porto, era denominada S. Mamede de Soroja, — pertencia ácamarcaecclesiastica de Penafiel,— contava 160 habitantes,— e es- tava annexa á freguezia de Penamaior. Em 1706 era um simples curato da apre- sentação do reitor de S. Martinho de Frazão, a cuja reitoria estava annexa; — pertencia á Honra de Frazão, concelho de Refoios de Riba d' Ave, comarca e diocese do Porto. — e contava 60 fogos. Em 1729, segundo se lê na Geographia Histórica de D. Luiz Caetano de Lima, tomo 2.°, escripto n'aquella data (V. pag. 116) e publicado em 1736, contava 242 habitantes. Em 1857, segundo se lê no Almanach Ec- clesiastico do bispado do Porto, pertencia ao 5.° districto da comarca ecclesiastica de Pe-' nafiel;— contava 140 fogos e 536 almas; — era seu cura-parocho, não collado, Raymun- do José Coelho de Carvalho, pregador,— e tinha elle de côngrua 104$800 réis, sendo 41 $600 de pé d'altar, benesses, etc.,— e réis 63$200 de derrama em dinheiro. O censo de 1864 deu-lhe 115 fogos e 461 habitantes,— e o de 1878 deu-lhe 126 fogos e 446 habitantes. Não tem passal nem residência. Comprehende as aldeias seguintes:— Ou- teiro, séde da parochia, — S. Mamede, Villar , Poupa, Paço, Costa, Souto, Gandarinha, Campo Meão, Pousada, Rouça, Mônha, S. Si- mão e Arroteia. Demora o logar do Outeiro 1 kilometro a N.O. da estrada de Paços de Ferreira para Vallongo, junto de um monte onde se vê uma pyramide geodésica na altitude de 374 metros sobre o nivel do mar. Dista de Paços de Ferreira 7 kílometros para S.O.;— 10 da estação de Vallongo na li- nha do Douro, para N.E.;— 26 do Porto— e 363 de Lisboa. Freguezias limitrophes:— Alfena, Agrella, Rebordosa, Arreigada e Frasão. Producçõès dominantes:— eereaes e vinho verde, oa de enforcado. Antes de se desenvolver no nosso paiza viação a macadam e accelerada, havia n'esta parochia e nas circumvisinhas muitos almo- creves, nomeadamente na povoação da Pou- pa, os quaes percorriam Portugal todo, sen- do conhecidos por almocreves da Poupa, pelo que esta e outras freguezias do conce- lho de Paços de Ferreira tiveram a denomi- ção commum de Poupa, devida aos seus al- mocreves, muitos dos quaes fizeram boas fortunas *. Também na dieta povoação houve uma es- talagem muito conhecida e que hoje é uma simples habitação particular. Abundam também hoje ainda n'esta pa- rochia indivíduos que se empregam na con- ducção de fazendas e mercadorias em car- ros tirados por bois, entre o Porto e o con- celho de Paços de Ferreira. Ha n'esta freguezia, junto da aldeia da Poupa, uma capella notável, dedicada ao Se- nhor do Calvário e muito antiga. Principiou por um simples cruzeiro de granito, exposto ao ar livre, tendo em um dos lados a imagem do Redemptor, muito grosseiramente esculpida; tornando-se, po- 1 Também nas villas de Távora e Foscôa, no Alto Douro, e em outras muitas povoa- ções do nosso paiz, houve almocreves no- táveis. Nós ainda conhecemos alguns. 1282 VIL VIL rem, alvo de grande devoção, cobriram o cruzeiro e a dieta imagem com uma cúpula de pedra, firme sobre quatro arcos. Au- gmentando a devoção e as esmolas dos fieis, taparam tres dos dictos arcos, ficando o ul- timo servindo de arco cruzeiro, — e construí- ram em seguida a elle uma linda capella muito alta, com 12 metros talvez de compri- mento, coro, púlpito, um pórtico elegante muito ornamentado e sacristia espaçosa, com bancadas de pedra ao longo das paredes in- teriormente, boas alfaias, etc. Foi o padropirc pomposamente festejado muitos annos com grande romagem, haven- do por essa occasião avultadas offertas de dinheiro, cordões e outros objectos d'ouro — e juntas de bois. Com a decadência da al- mocrevaria, decahiram as dietas festas e ro- magens, mas ainda hoje è grande a devoção com o Senhor do Calvário e tem festa an- nual, feita d'um modo curioso: O juiz, a seu arbítrio, convida os padres, o pregador, a musica, etc. Feita a funeção por conta d'elle, compra uma boa porção de regueifas e de vinho; — leva tudo para uma casa ad hoc, denominada casa da confraria, junto da egreja; — convida todos os homens da parochia — e ali, ao som da musica, devo- ram as regueifas todas, por vezes mais de 60, — esvasiam o pipo, — e depois todos os convivas ou mordomos dão muito esponta- neamente ao juiz da festa, tanto como elle deu quando mordomo: — 1 $000 réis e por ve- zes mais, cada um;— nomeiam logo ali novo juiz — e assim se faz a festa todos os annos ! É uma contribuição original e espontânea que pesa sobre esta freguezia desde tempos muito remotos e que todos os parochianos pagam com muita satisfação. VILLAR DO TELHADO— freguezia anti- quíssima, que outr'ora existiu no Campo de Coimbra. V. Telhado, o 4.°, vol. IX, pag. 528, co- lumna 2.a VILLAR THOMÉ. — Assim se denominava outr'ora uma povoação, que ^uppomos ser a hodierna Villar Jorpim, pois estava, como está esta, entre a freguezia de Reigada, con- celho d' Almeida, e a de Vermiosa, concelho de Figueira de Castello Rodrigo. Da dieta aldeia ou freguezia de Villar Thomé ou de Pedro Thomé, se acha noticia na doação que na era de 1228 (anno 1190) fez aos cónegos regrantes de Santa Cruz de Coimbra Affonso IX, rei de Leão, quando ainda o Cima-Côa era leonez. V. Hist. de Portug. por Alexandre Hercu- lano, vol. 2.° pag. 430,— e a Chronica dos Cónegos Regrantes por Fr. Nicolau de Santa Mari3, pàrte 2." pag. 169, onde se encontra a mencionada doação na sua integra. A doação das dietas terras e d'outras que os mencionados cónegos possuíam em Villar Thomé foi confirmada por D. Fernando, filho de D. Affonso IX, em 1237 de Christo; de- pois os cruzios de Coimbra as cederam acs de Cidade Rodrigo, exceptuando as terras de Fátima, na freguezia de Val de Coelha, pelo que esta parochia ficou sendo apresentada pelos cónegos regrantes de Santa Cruz de Coimbra, depois que o Cima-Côa passou para o domínio portuguez. V. Villar a" Amargo, Villar Formoso— e Villar Torpim. VILLAR DO TORNO,— freguezia do con- celho e comarca de Lousada, districto e dio- cese do Porto, província do Douro. Orago Santa Marinha; — fogos 106,— habi- tantes 450. Abbadia. Em 1706 era da apresentação do ordiná- rio;— rendia para o abbade 160$000 réis e 50$000 réis para os padres da Companhia de Jesus, do collegio de Braga, que tinham a terça do rendimento;— pertencia ao couto de Travanca, no extincto concelho de Santa Cruz de Riba-Tamega, comarca de Guima- rães,—e contava 70 fogos. Também pertenceu ao extincto concelho de Unhão, comarca de Penafiel. Em 1768 era da mesma apresentação; — rendia para o seu abbade 200$000 réis— e contava 71 fogos. O censo de 1864 deu-lhe 78 fogos e 323 habitantes,— e o de 1878 deu-lhe 104 fogos e 348 habitantes. Comprehende as aldeias seguintes:— Ase- nha, Agros, Barral de Cima, Barral de Bai- xo, Barreiros, Boucinhas, Castanheira, Bom Viver, Casal, Casaes, Covanco, Cima (Cimo) VIL VIL 1283 de Villa, Egreja, Devesa, Forno, Eido, Fon- te de Cima, Fonte de Baixo, Outeiro, Mer- cê, Portella, Roças, Villar, Taverna, Trovoa- da—e as quintas de Cima de Villa, perten- cente a D. Joaquina Emilia Pereira de Quei- roz,— Etdo, pertencente a José Maria Rodri- gues de Carvalho,— Casaes, pertencente a José Moreira Mendes,— e Villar, de Julio Au- " gusto de Castro Feijó. Freguezias limitrophes:-- Travanca a E.; Cahide de Rei a S.;— Alentem a O.— e S. Pedro Fins do Torno a N. Producções dominantes: — milho, vinho verde {rascante ou de enforcado) trigo, cen- teio, batatas, feijões, linho, fructa, hervagens, hortaliça e algum azeite. Também engorda bois, que manda para a Inglaterra, posto que hoje esta industria se acha muito decadente. V. Villar dSAndorinho. Em compensação nunca vendeu tão bem 0 seu rascante. V. Villa Verde, villa e séde do concelho. Demora esta freguezia na margem esquer- da do Sousa, do qual a egreja matriz distará 1 kilometro;— 3 da estação de Cahide (a mais próxima) na linha férrea do Douro; — 7 de Lousada para S.E.;— -11 de Penafiel;— 50 do Porto pela estação de Cahide — e 387 de Lisboa. Banha esta freguezia um ribeiro que nasce junto da Torre de Villar,— atravessa a fre- guezia d'Alentem— e desagua no rio Sousa, dentro da soberba quinta d'Alentem, da qual adeante íailaremos. Rega e move um moinho — e terá 1 kilo- metro de curso. A egreja paroehial tem altar-mór e 2 la- teraes, — está bera conservada — e é antiquís- sima a sua capella-roór. O corpo da egreja foi reconstruido ha poucos annos. Ha também n'esta freguezia uma capella particular, pertencente ao sr. Julio Augusto de Castro Feijó, dono da quinta de Villar. No artigo viação esta parochia e este con- celho contrastam com as parochias e conce- lhos do malfadado districto de Bragança. Tanto este concelho de Lousada, como os seus limitrophes—Penafiel, Paredes e Paços de Ferreira— estão cortados em todas as di- recções por magnificas estradas a macadam e pela linha férrea do Douro, emquanto que no districto de Bragança ainda hoje {credite posteril) não se vê um kilometro de estradas a macadam em muitos dos seus concelhos, — taes são Vimioso, Mogadouro, Alfandega da Fé e Freixo d'Espada á Cinta;— o de Mi- randa tem apenas uma leve amostra de 2 a 3 kilometros— e o de Moncorvo apenas 5 a 6 kilometros na estrada para Villa Flor e Mirandellal . . . E que melhoramentos pôde esperar um districto que não tem um jornal único t . . . Desculpem-nos a digressão e fallemos d'esta freguezia de Villar do Torno. Passa-lhe ao nascente a estrada real a ma- cadam do Porto á Regoa por Penafiel e Ama- rante;—ao norte a municipal de Lousada á Senhora Apparecida — e a sul e sudoeste a linha férrea do Douro e a estrada districtal de Felgueiras á estação de Cahide, na men- cionada linha férrea. Ha também n'esta parochia muita nobresa, ricos proprietários e bons edifícios, taes são: 1. ° — A Casa de Villar. É brazonada e a melhor d'esta freguezia, posto que ainda não está completa. Foi de José Maria de Sousa Pereira— e é hoje de Julio Augusto de Castro Feijó. 2. ° — A casa de Cimo de Villa. É brasonada lambem;— foi de Joaquim Januário Teixeira da Silva Queiroz— e per- tence actualmente á sr.a D. Joaquina Emilia Pereira de Queiroz. 3.0 — Casaes, de José Moreira Mendes. 4.° — Eido, de José Maria Rodrigues de Carvalho. g.o — ^om Viver, de Autonio Pinto Fer- reira de Magalhães. 6.°— Fonte de Cima, da sr.a D. Maria Julia Pereira de Queiroz. 7,0 — Trovoada, de João Carlos d'Arro- chella. 8.o — Casa do Torno, pertencente a José de Sousa Guedes. Não ha feiras n'esta parochia, mas tem a da Senhora Apparecida a distaneia de 1 ki - 1284 VIL VIL lometro apenas, na freguezia de S. Pedro Fins do Torno. Avultam n'esta parochia de Villar 3 mon- tes:— Casaes e Trovoada a E. — e Castilho a N. Parece que esfultimo teve outr'ora al- gum castello ou atalaia, como revela o seu nome de Castilho, caslrello ou pequeno Cas- tello; mas hoje a única velharia d'esta paro- chia e que revela a sua remotissima occu- pação, é a Torre dos Mouros Ergue-se no outeiro assim denominado, junto da povoação da Senhora Apparecida; — está entre os dois valles da Portella e do Torno; — dizem ser obra dos mouros; — tem i8m,0 d'altura e 9n,,5 de largo,-- -um pequeno pórtico,— 5 andares, com bonitas salas, que recebem luz de seteiras esguias, abertas nas 4 faces, — e termina em um eirado com va- randa de pedra e esplendidas vistas. Pertenceu á quinta da Fonte de Baixo, que foi com outras muitas propriedades dada em dote á sr." D. Maria de Jesus de Castro Cal- das Pereira, em outubro de 1851, quando ca- sou com José Joaquim da Motta, da casa de Ferreiros, freguezia d'Arnoia, concelho de Celorico de Basto. Falleceu elle em 1880 dei- xando muitas dividas, pelo que a viuva, para salvar a grande casa de Ferreiros, vendeu a mencionada quinta da Fonte. Por essa occasião (1881) o sr. visconde d'Alentem comprou a dieta torre com o terreno adja- cente e (honra lhe seja!) mandou-a restau- rar e a transformou em um minarete lindís- simo, sem lhe alterar as feições, pelo que hoje se acha muito bem conservada. Quando s. ex.a a comprou, tinha somente as paredes denegridas. Ha também n'esta freguezia um serro de- nominado Eira dos Mouros — e na parochia d'Alentem, vísinha e sua annexa, ha também uma velharia muito interessante, denomina- da Lagar dos Mouros, o que tudo prova que os mouros tiveram demorada residência n'estes titios. Tem finalmente esta parochia 2 aulas of- ficiaes d'instrucção primaria para os dois sexos. Clima temperado e saudável. Tudo o que deixamos exposto refere-se á freguezia de Villar de Torno; — fallemos ago- ra da freguezia de Alentem, sua limitrophe e annexa, apenas indicada pelo meu ante- cessor no artigo próprio. Alentem Ao que o meu benemérito antecessor disse d'esta parochia no vol. l.epag. 111, aceres- centaremos o seguinte: Pertence também ao concelho e comarca de Lousada, districto do Porto e por conse- quência á província do Douro, não á do Mi- nho,—e, desde 1882, data da ultima circum- scripção diocesana, pertencem ambas, e to- das as d'este concelho, ao bispado do Porto também. Anteriormente eram da diocese de Braga, que pela dieta circumseripção perdeu estas e outras muitas egrejas em favor dos bispa- dos do Porto, de Bragança e de Lamego. V. Villa Real de Traz-os-Montes, vol. XI, pag. 927, col. 2.a Conta hoje esta parochia de Alentem 72 fogos e 293 habitantes. Em 1706 era vigairaria do convento de Caramos; — pertencia ao concelho de Unhão, comarca de Guimarães;—tinha o nome de Santa Maria d'Arentey 1 — e contava vinte e tres fogos. Em 1757 era da mesma apresentação dos cónegos regrantes do mosteiro de Caramos; —rendia para o seu vigário 23^000 rs., alem do pé d'altar — e contava 21 fogos. O censo de 1864 deu-lhe 59 fogos e 283 habitantes,— e o de 1878 deu-lhe 69 fogos e 247 habitantes. É e foi sempre vigairaria — e tem como orago S. Mamede. Pertenceu, como já dissemos, ao extineto concelho de Unhão, comarca de Guimarães; — depois passou para a comarca de Penafiel e correição de Barcellos — e por ultimo para o concelho e comarca de Lousada. Em 1834 foi annexada á freguezia de Vil- lar do Torno; — cobrou depois asuaautono- 1 Chorographia Port. vol. l.° pag. 128, — e Chorogr. Mod. vol. 2.° pag. 677. VIL VIL Í285 mia, mas, passado pouco tempo, volveu a ser annexa de Villar de Torno, como é pre- sentemente. A egreja parochial é pequena e muito an- tiga, exceptuando a capella-mór, que foi re- formada nos fios do ultimo século por D. Chrystovam d'Almeida Soares, bispo de Pi- nhel, do qual adeante fallaremos. Demora em um pequeno valle, junto da serra da Cumieira e da margem esquerda do Sousa. Dista 2 kilometros da estação de Cahide, a mais próxima, na linha férrea do Douro; —6 de Lousada para S.E ;— 49 do Porto pela estação de Cahide— e 386 de Lisboa. Freguezias limitrophes: — Villar de Torno, Cahide, Macieira, Avelleda, Cernadello e S. Pedro Fins do Torno. Comprehende as aldeias seguintes: — S. Mamede, Agros, Herdade, Outeiro, Grades, Ruivos, Penão de Baixo, Penão de Cima, Bouça Negra, Pereiros, Soutello, Formigai, Souto, Cruzeiro e varias quintas, avultando entre ellas a Quinta e casa oV Alentem Pertence esta formosa e magestosa vivenda ao sr. visconde d'Alentem, Antonio Barreto d'Almeida Soares de Lencastre, bacharel for- mado em direito e um dos maiores proprie- tários d'este concelho. Nasceu n'esta freguezia, na sua grande ca- sa d'Alentem, no dia 14 de junho de 1835; formou-se em 1857 e foi eleito deputado ás cortes em 13 de março de 1870, 9 de junho de 1871, 21 d'agosto de 1881 e 12 de junho de 1884. É um cavalheiro estimabilissimo, e de grande influencia eleitoral no seu conce- lho, procurador á junta geral do districto, F. C. C. R. por herança de seus maiores e 1.° visconde d'Alentem por alvará de 26 de novembro de 1873. Vive no seu palácio d' Alentem e casou com sua prima D. Caro- lina Cândida Pinto Malheiro, da nobre casa da Costilha em Santo André de Chrystellos, n'este mesmo concelho de Lousada. Tem um filho e uma filha ainda solteiros — e uma outra filha já casada. Entre os seus nobres ascendentes avulta D. Chrystovam d'Almeida Soares, 1.° bispo de Pinhel, onde falleceu, tendo nascido na sua casa d'Alentem. V. Pinhel, vol. 7.° pag. 62, col. 2.a O palácio d'Alentem ó absolutamente a pri- meira casa d'esta freguezia e d'este concelho. Foi principiado pelo mencionado bispo de Pinhel e reedificado e concluído pelo actual sr. visconde; — tem uma fachada com 32 me- tros de comprimento,— 20 de fundo e 22 grandes janellas na frente— grandes salas, — muitos quartos— e 30 a 40 camas sempre feitas para os hospedes, pois é a maior hos- pedaria d'este concelho e dos circumvisi- nhos 1 .'. . É brasonado e tem uma linda Ca- pella muito antiga com uma inscripção gra- vada em lettras d'ouro n'uma grande pedra, — inscripção muito extensa e que menciona os breves pontifícios que lhe concederam vários privilégios e indulgências em favor da família d'Alentem in perpetuum, bem co- mo auetorisação para ter sacrário e Santís- simo permanente. A cerca d'este palácio é uma grande quin- ta muito mimosa e fértil, que tem kilome- tros de circumferencia e produz milho, vi- nho, trigo, centeio, linho, hervagens, horta- liça e grande variedade e quantidade de fructa. Tem um ramal de estrada a maca- dam que a liga directamente á estação de Cahide, — e tocara em differentes pontos d'es- ta grande quinta — a estrada real do Porto á Regoa por Penafiel e Amarante,— a distri- ctaLde Cahide a Felgueiras — e a municipal de Lousada por Soutello á Senhora Appare- cida, a entroncar na estrada real supra. Banham esta paroehia e a grande quinta d'Alentem o ribeiro que nasce na freguezia de Villar de Torno e desagua no Sousa,-- bem como este rio, que limita a N. e 0. esta freguezia e a mencionada quinta e tem aqui, no sitio da Amieira, uma ponte, denominada ponte da Amieira, reconstruída pela camará quando fez a estrada municipal de Lousada á Senhora Apparecida. Em uma parte da grande quinta d'Alen- tem está hoje montada a quinta districtal, com officinas próprias, por arrendamento, \ 1286 VIL VIL — e n'essa parte tem a grande quinta duas casas cora 12 rodas de moinhos, movidos pela agua do Sousa, que move também mais 6 rodas na quinta de Ruivos, dentro d'esta freguezia. Está na grande quinta d' Alentem, na parte hoje occupada pela quinta districtal, o cele- bre lagar dos mouros, cavado a picão na ro- cha e comprehendendo um lagar com sua dorna ou lagareta, — construeção antiquíssi- ma, geralmente attribuida aos mouros. Tem esta freguezia uma aula official de instrueção primaria para o sexo masculino, montada em casa própria, feita em 1885 na aldeia de Soutello, junto da estrada munici- pal de Lousada á Senhora Apparecida. Alem da egreja parochial e da capella da casa d'Alentem, ha n'esta freguezia oulra ca- pella, dedicada a Santa Philomena e man- dada construir ha poucos annos pelo actual sr. visconde d'Álentem no monte do Penedo da Saudade, um dos sítios mais pittorescos d'esta freguezia. Na egreja parochial se fazem com pompa todos os annos os offieios de quinta feira santa pela confraria do Santíssimo, em cum- primento d'um legado que lhe deixou D. Chrystovam d' Almeida Soares, bispo de Pi- nhel. VILLAR TQRPIM— freguezia do concelho e comarca de Figueira de Castello Rodrigo, distncto e diocese da Guarda, província da Beira Baixa. Reitoria. Orago Nossa Senhora dos Pra- zeres;— fogos 250 — habitantes 1:130. Em 1708 era vigairaria da apresentação do bispo de Lamego e commenda da ordem de Christo; — pertencia ao termo e concelho de Castello Rodrigo, corregedoria de Pinhel, provedoria de Lamego, — e contava 210 fo- gos. Em 1768 era vigairaria da mesma apre- sentação,— rendia para o seu parocho 10$000 réis — e contava 183 fogos, segundo se lê no Port. S. e Profano. A Hist. Eccl. de Lamego, escripta nos fins do ultimo século por D. Joaquim d'Azevedo, abbade resignatario de Sedavim, deu-lhe 210 fogos e 632 habitantes. O censo de 1864 deu-lhe 227 fogos e 895 habitantes,— e o de 1878 deu-lhe 235 fogos e 917 habitantes. Esta parochia é formada unicamente pela povoação de Villar Torpim,— povoação mui- to antiga, bem arruada, com uma boa egreja e alguns edifícios notáveis, pelo que nos custa a crer que nunca fosse villa nem ti- vesse foral 1 Pelo menos Franklin não o men- ciona nem nòs encontramos noticia d'elle em parte alguma. Demora na antiga estrada d'Almeida para Castello Rodrigo e deve passar aqui, ou muito perto, a estrada districtal amacadam em via de construeção d' Almeida para a barca e estação do Pocinho na margem es- querda do Douro, por Villa Nova de Foscôa. Não tem quintas nem herdades habitadas e dista 7 kilometros de Castello Rodrigo para S.— bem como da margem esquerda da ri- beira d'Aguiar, para 0.-- -e da margem di- reita do Côa, para E.N.E.; — 9 de Figueira de Castello Rodrigo para S .;— 20 da estação da Rarca d'Alva, na linha do Douro, prestes a abrir-se á circulação;— 25 da estação de Pinhel, na linha da Beira Alta;— 48 da Guar- da;—221 do Porto, pela estação da Barca d'Alva;— 392 de Lisboa pela linha da Beira Alta— e 558 pela do Douro. Freguezias limitrophes:— Castello Rodri- go a N.;— Reigada a S.;— Vermiosa a E.— e Colmeal a O. e O.N.O. Producções dominantes :— trigo, centeio» azeite,eexcellente vinho de mesa, lã e queijo» pois cria bastante gado lanígero. Também abunda em caça— perdizes, coe- lhos e lebre?,— betardas, que ninguém co- me—e cegonhas, queninguem mata,porque, longe de prejudicarem a lavoura, prestam- lhe grandes serviços, sustentando-se quasi exclusivamente de reptis. As cegonhas e betardas encontram-se n'esta província e nas do Alemtejo e do Al- garve. Não no3 recordamos de as ver nas outras nossas províncias. Costumam as ce- gonhas fazer o ninho e a creação no alto das torres. Também por estes sítios ha muitas pou- pas e pegas. VIL VIL 1287 Costumam aqui matar as betardas d'um modo curioso: Formam um pequeno quadrado com 4 cancellas dos curraes do gado lanígero e, quando morre algum cabrito ou cordeiro, lançam-n'o dentro do quadrado. As betardas, que são carnívoras e teem vista de lince, cahera de chofre sobre o cordeiro ou cabri- to, mas, não podendo levantar o vôo sem darem uma corrida d'alguns metros, apenas os pastores as vêem no pequeno recinto, ap- proximam-se e matam-nas a pau, porque ellas, tentando fugir, batem nas cancellas e não podem erguer o vôo. A egreja matriz ó um templo rico e vasto, com preciosas decorações de talha antiga dourada,— altar-mór e 4 lateraes,— e boas pinturas a oleo em parte do tecto da capella mór, sendo de madeira lisa a parte restante- Também esta povoação teve 3 capellas pu- blicas, S. Pedro, Santo Christo e S. Miguel— mas foramdemolidas. Hoje tem somente duas particulares, em bom estado de conservação — e outras duas publicas,— S. Sebastião, res- taurada em 1885 — e Santo Antonio, em via de restauração no momento. Das 2 capellas particulares— uma, deno- minada do Morgado, é contigua á egreja ma- triz,— tem communicação com ella— e um mauzoleu em que repousa um guerreiro, de appellido Aguilar, segundo se lê na inscri- pção esculpida junto da figura do tal heróe, que o representa em corpo inteiro, armado e deitado sobre o mauzoleu. A outra capella tinha como orago Santo Antão e pertenceu à sr.a D. Josepha Marian- na de Campos e Almeida, que a comprou e n'ella erigiu sumptuoso mauzoleu ao seu ma- rido José Alexandre de Campos, cujos res- tos mortaes em 1852 para ali foram trasla- dados da sepultura em que jazia no adro da egreja matriz, onde ao tempo se faziam e ainda hoje (1886) se fazem os enterramen- tos, por falta de cemitério parochial. O dicto sr. dr. José Alexandre de Campos falleceu aqui em 21 de novembro de 1850. V. Sabugal e Pinhel. Fazem-se aqui differentes festividades e duas romarias, em cumprimento de antigos votos:— uma vae á freguezia de Cinco Vil- las, distante 5 kiloraetros, na quarta feira da primeira semana de- Paschoa, — a outra vae á Senhora de Monforte, freguezia do Col- meal, na segunda feira da Paschoela. Ha hoje aqui feira mensal. Foi creada em outubro de 1884 e inaugurada em 13 de ja- neiro de 1885. Entre os edifícios particulares d'esta po- voação avulta, pelas suas dimensões, antigui- dade e architectura, o palacete que foi da no- bre família Saraivas, da quinta do Ferro 1 e diz a tradição que foi construído por um dos seus ascendentes, rico homem de pendão e caldeira, emblemas que ainda hoje se vêem no brasão que tem sobre o seu pórtico lu- xuoso e muito ornamentado. O dicto palacete é de architectura compó- sita,—está bem conservado ainda— e foi fei- to, não sabemos quando, por Sebastião Sa- raiva, ascendente dos Saraivas da nobre ca- sa e quinta do Ferro, na freguezia de Rio de Mel, hoje pertencente á sr.a D. Maria do Car- mo Saraiva, viuva e com filhos, irmã e her- deira do ultimo morgado Antonio Saraiva, fallecido ha annos. Na 1.» metade d'este século D. Maria An- tónia Saraiva, contando 40 a 50 annos de idade e vivendo na quinta do Ferro com seu irmão Caetano Saraiva, morgado e senhor da casa n'aquelle tempo, casou com o dr. José Pinto, da Lezíria, e como pertencesse á dieta senhora o casal de Villar Torpim, fo- ram para ali viver e habitaram alguns an- nos o magestoso palacete. Fallecendo a dieta senhora sem successão e sem testamento, passou o palacete para o morgado da quinta do Ferro, Antonio Saraiva, que o vendeu a Jacyntho Saraiva, das Freixedas, com o qual não tinha parentesco algum;— e Jacyntho Saraiva, fallecendo solteiro e sem successão, deixou-o ao seu sobrinho dr. Aurelio Qui- rino Saraiva Pacheco, actual possuidor do venerando palacete. 1 V. Rio de Mel, freguezia do concelho de Trancoso, n'este diccionario e no supple- mento, onde fallaremos da grande quinta e do grande roubo que n'ella se fez, pouco de- pois de 1834. 1288 VIL VIL Esta povoação nunca foi murada nem aeastellada, mas no. tempo da guerra dos 27 annos, ou da restauração, algumas obras de defesa se fizeram era volta da sua egreja ma- triz, eomo em volta da de Esealhão e de to- das ou quasi todas as da raia. Das dietas obras de defesa hoje apenas se conserva a tradição e o nome de reducto. Ha n'esta povoação ura bom largo com bons edifícios e ruas amplas soffrivelmente alinhadas, mas ainda calcetadas pelo antigo systema. Banham esta freguezia 2 ribeiros;— um nasce no termo da Reigada,— outro no de Castello Rodrigo, e juntam-se a i kilometro de Villar Torpim, formando a ribeira do Avelar, que desagua no Côa. O 1.° move n'esta freguezia 2 moinhos de cereaes e 1 de azeitona. Esta parochia, por ser quasi fronteiriça e estar entre as praças d'Almeida, ao sul, e Castello Rodrigo, ao norte, soffreu muito durante as guerras entre Portugal e Hespa- nha e ultimamente na guerra da península. Ainda em 1844, quando o general conde do Bomfim, depois da revolução de- Torres Ve- dras, se apoderou da praça d'Almeida e o nosso exercito a sitiou, esteve aqui em Vil- lar Torpim o hospital militar dos sitiantes no magestoso palacete dos Saraivas. V. Almeida e Villar Maior. Ha n'esta freguezia uma philarmonica ou banda marcial de curiosos, desde 1873. Pessoas notáveis Poderíamos alongar muito a lista das pes- soas notáveis, filhas d'esta parochia, se a vi- zitassemos e folheássemos as genealogias das suas casas nobres, nomeadamente a do ve- nerando palacete que foi dos Saraivas, mas, para não nos fatigarmos nem fatigar os lei- tores, mencionaremos apenas as pessoas se- guintes: l.*— Barão de Villar Torpim, Francisco José Pereira. Foi cavalleiro da ordem de S. Bento de Aviz, condecorado com a cruz da campanha da guerra peninsular, com a medalha de commando na batalha de Orthez, e por S. M. Cath. com a de Albuera — governador das armas do Porto, general do exercito, etc. Nasceu n'esta freguezia a 12 d'outubro de 1783 e casou em 15 de janeiro de 1804 com D. Maria José de Sá Pereira, filha de Anto- nio Domingos de Sá, tenente coronel de in- fanteria, e de D. Rosa Marinha d' Andrade. Alem d'outros filhos, tiveram — D. Marian- na Amália e D. Anna Cândida. A l.a nasceu em 1808 e ainda ha poucos annos vivia na praça d'Almeida, sendo já viuva do marechal de campo Joaquim Anto- nio de Abreu Castello Branco, do qual teve filhos;— a 2." nasceu em 1805 e casou com Jeronvmo de Gouveia Sarmento, capitão de infanteria, natural de Moimenta da Beira, que, tendo seguido o partido realista, era já tenente coronel na convenção d'Evora-Monte e foi covardemente apunhalado e morto jun- to de Coimbra, pouco depois da convenção, quando seguia viagem para a sua casa. So- breviveu bastantes annos a viuva, que fixou o seu domicilio no seu casal de Távora, con- celho de Taboaço, e deixou os filhos seguin- tes: —Carlos de Gouveia Sarmento, que vive em Lisboa, casado e com successão; —D. Maria, que vive em Lisboa também, já viuva e com successão; —D. Emilia, que vive em Távora, ainda solteira; —D. Henriqueta, que falleceu solteira; — Antonio, que vive no Porto, (ainda sol- teiro também) e — Jeronymo de Gouveia Sarmento Falcão, que vive em Almeida, onde casou e é muito estimado e considerado. Não tem filhos. O l.B e único barão de Villar Torpim era filho de Francisco José Pereira, major de in- fanteria, natural d'Almeida, e de D. Marian- na Victoria Ferreira Cardoso, natural d'esta freguezia. Teve os irmãos seguintes:— Anto- nio Jacyntho, que foi padre,— e Matheus An- tonio, que foi uma excellente pessoa e paga- dor do exercito. Residiu em Bragança mui- tos annos e depois em Lisboa, onde falleceu, deixando uma filha e herdeira, casada com VIL VIL 1289 seu primo Carlos de Gouveia Sarmento Fal- cão, supra mencionado. 2.a— Matheus Antonio d' Almeida, natural d'esta freguezia, cavalheiro de muito mere- cimento e rico proprietário. Casou na villa do Sabugal com D. Caetana Manoella de Campos, filha do dr. João de Campos, capitão-mór d'aquella villa, e teve dois filhos que foram cavalheiros distinctis- simos, ambos muito illustrados e muito no- táveis:—o dr. José Alexandre de Campos e Almeida, que nasceu no Sabugal em 1794 e falleeeu n'esta parochia de Villar Torpim, na sua casa materna, em 1850,— e o dr. Pe- dro Balthasar de Campos, que nasceu tam- bém no Sabugal em 1795 e falleeeu em Pi- nhel a 22 de dezembro de 1870. Para evi- tarmos repetições, veja-se a biographia do 1.° no artigo Sabugal, vol. 8.°, pag. 293, col- i." e segg. — e a biogr aphia do 2.° no artigo Pinhel 1 vol. 7.° pag. 93, col. l.a e segg. Era também natural d'esta parochia um celebre Godinho, que no 2.° quartel d'este século foi escrivão da superintendência da alfandega no districto de Castello Branco,— homem de estatura agigantada, muito paci- fico e muito prudente, mas dotado de força hercúlea! Ahi vão duas sortes características d^elle: Um dia, estando a fazer serviço em certo mercado da raia, viu um homem com uma tenda e, suspeitando que fosse contrabando, approximou-se d'elle e tractou d'inspeccio- nar o que vendia. O tendeiro, sem mais com- primentos, lançou mão de uma clavina que tinha debaixo da tenda, disposto a desfechar sobre o Godinho, mas este rapidamente le- vantou-o pelas pernas e, como se fosse um 1 Este longo artigo,— que bastante trabalho nos deu, — M escripto por nós em 1876, quando visitámos o Cima-Côa, e por nós of- ferecido aô nosso benemérito antecessor, que Deus haja. Recebemos de bôa fonte os apontamentos relativos ao dr. Pedro Baltha- sar de Campos, hoje porem sabemos que elle foi baptisado no Sabugal, mas nasceu na villa e praça d' Almeida, onde sua mãe,achan- do-se no ultimo período de gravidez, foi fa- zer uma vizita e o deu á luz. manequim de palha, duas vezes bateu com elle e com a clavina horisontalmente no chão, deixando-o estatelado I . . . Outro dia, encontrando-sena feira de Man- gualde com o celebre Manuel Soares d'Al- bergaria, da Rede1, fidalgo distincto, mas muito desordeiro e muito valente, que ali fôra da sua casa de Oliveira do Conde, só para ostentar valentias e fazer desacatos, disse-lhe o Albergaria:» — Teem-me contado tantas proesas suas, que desejo ver até onde chega a sua decantada força.» O Godinho desculpou-se muito modesta- mente, mas continuando as instancias do Ma- noel Soares e atravessando no momento o campo da feira um carro tirado por bois, conduzindo uma pipa cheia de vinho, o nosso heroe pegou com toda a delicadesanas che- das do carro e o suspendeu por um pouco, ficando as rodas soltas. Pararam os bois com a extraordinária des- locação do peso e, ficando absorto o boieiro, olhando para elle pasmado, disse-lhe o Go- dinho : — Isto é uma brincadeira; — recue os bois um pouco. O homem obedeceu e entretanto o Godi- nho recuou também, levando o carro com a pipa suspenso nas mãos até que o collocou outra vez sobre o rodai— e disse ao coudu- ctor que seguisse. O Manuel Soares ficou muito satisfeito e convencido de haver encontrado um homem mais valente do que elle. Isto nos contou o sr. Miguel Antonio de Almeida Crespo, da Cogulla, concelho de Trancoso 2, cavalheiro respeitabilissimo e que tractou e conheceu muito de perto os dois. Esta povoação é muito antiga, e já era 1 V. Villa Jusã, vol. XI, pag. 774, col. l.a — e Rêde, n'esle diccionario e no supple- mento, onde havemos de fazer largas recti- ficações e ampliações áquelle artigo. V. também o artigo Villa Marim, pag. 785, col. 2.» 2 V. Villa Garcia e Freixial vol. XI, pag. 765, col. 1.». in-fine,—e Cogulla n'este dic- cionario e no supplemento. 129 VÍL VIL uma das principaes do Cima-Coa nos prin- j cipios do século xi, quando os reis de Leão conquistaram e tomaram aos mouros esta e outras muitas povoações que hoje são de Portugal, como se lê na historia dos go- dos: E. M. LXXVII capiuntur in Extrema- ãurii multae populationes eis & citra, per villam Tvrpini, Talmeida, Egitania, & us- que ad ripam Tagi. Em vulgar:— «Na era de 1077 (anno 1039) se ganharam aos mouros muitas povoações na Extremadura d'aquem e d'alem, por Vil- lar Turpim, Almeida e Idanha, até ás mar- gens do Tejo». 1 Foi esta conquista ou correria feita por D. Fernando Magno, rei de Leão, e já n'a- quelle tempo esta parochia tinha certa im- portância, pois na chronica dos godos é a única povoação mencionada ao norte d'Al- meida com o próprio nome de Villa Turpi- ni— villa ou Villar de Turpino, ou Turpim, pelo que o fallecido dr. Pedro Balthasar de Campos dizia que o nome de Torpim ou Tur- pim lhe provem d'um seu antigo senhor, chamado Turpino; mas vulgarmente dão-lhe o nome de Torpim, como patronímico de Tor- pes. Também antigamente se denominou Vil- lar Thomé (V.) por ser de Pero Thomé. Também esta povoação de Villar Torpim foi commenda da ordem do |Pereiro, com- menda que no tempo d'el-rei D. Diniz pas- sou para a ordem de Christo, quando a or- dem do Pereiro se uniu á hespanhola ^Al- cantara. V. Cinco Villas,— Sabugal (vol. 8.° pag. 297, col. 2.")— e S. João 2udo Pereiro, (vol. 9 ° pag. 10, col. 2.a Data pois de tempos muito remotos esta povoação de Villar Torpim, mas foi muito mais antiga, talvez anterior á oceupação ro- mana, uma povoação que existiu cerca de 2 kilometros para E.,— como diz a tradição lo- cal e provam differentes objectos prehistori- cos que ali se teem encontrado. Esta freguezia pertenceu ecclesiastica- 1 Monarchia Luzit. parte 5.a fl. 239, co- lumna 2.a 2 Leia-se S. Julião. mente ao bispado de Vizeu, do qual passou para o de Caliabria, *— d'este para o de Ci- dade Rodrigo,— d'este para o de Lamego,— do de Lamego para o de Pinhel— e do de Pi- nhel para o da Guarda em 1882, data da ul- tima ctrcumseripção diocesana. Temporalmente pertenceu ao reino de Leão com todo o CimaCôa até o reinado de D. Diniz, data em que ficou pertencendo a Portugal. Civil e judicialmente pertenceu ao conce- lho de Castello Rodrigo, corregedoria de Pi- nhel e provedoria de Lamego,— depois passou para o concelho de Figueira de Castello Ro- drigo, comarca de Trancoso, — depois vol- veu para a comarca de Pinhel, de novo res- taurada, — e por ultimo passou para o con- celho e comarca de Figueira de Castello Ro- drigo, depois que este concelho se elevou a séde de comarca judicial de 3." classe, por decreto de 12 de novembro de 1875. Em Junho de 1876 pesou sobre esta fre- guezia e sobre as circumvisinhas d'este con- celho, bem como sobre as do concelho d'El- vas, uma medonha praga de gafanhotos, que devoravam todos os renovos dos campos, pelo que se empregaram na apanha e des- truição d'elles milhares de pessoas e vários contingentes de tropa, mandados pelo nos- so governo. No concelho d'Elvas as auctoridades pa- gavam a 60 réis o kilo dos gafanhotos, pre- ço bastante remunerador, pelo que muita gente se empregava na apanha d'elles. Em julho de 1885 pairou sobre esta fre- guezia uma trovoada medonha. Causou bas- tante prejuiso nos campos e por essa occa- sião uma faisca eléctrica matou instantanea- mente um pobre homem dos muitos que an- davam ceifando trigo a leste da povoação VILLAR DA VEIGA— freguezia do conce- lho de Terras de Bouro, comarca de Vieira, districto e diocese de Braga, província do Minho. Reitoria. Orago Santo Antoni©,— fogos 174,— habitantes 730 Em 1706 era vigairaria annexa á fregue- 1 V. Senhora do Campo. VIL VIL 1291 zia de S. Martinho da Ventosa, cujo abbade apresentava o vigário e recebia metade doã dízimos, pertencendo a outra metade ao abbade de S. João da Cova; — era do ex- tincto concelho de Ribeira de Soaz (hoje in- corporado no de Vieira) comarca de Gui- marães,—e rendia 40$00O réis para o vigá- rio e outros 40 p3ra cada um dos 2 abba- des, segundo se lê na Chorog. Port. que não lhe assigna população. Em 1768 era um simples curato da apre- sentação dos abbades de S. João da Cova e S. Martinho da Ventosa;— rendia para o cura 7sã000 réis, alem do pé d'altar,— e con- tava 88 fogos. O censo de 1864 deu-lhe 1S1 fogos e 600 habitantes; o de 1878 deu-lhe 168 fogos e 717 habitantes— e hoje (1886) conta 178 fo- gos e 730 habitantes permanentes, poiscom- prehende as celebres Caldas do Gerez, das quaes adeante fallaremos, onde tende a des- envolver-se uma grande povoação e já hoje ua estação balnear, de junho a setembro, se encontram centenares de pessoas de todos os pontos do nossso paiz. Em 1706 pertencia,, corno já dissemos ao extinto concelho de Ribeira de Soaz, co- marca de Guimarães; — pelos decretos de 21 março e 7 d'agoslo de 1835 passo» para a' concelho e julgado de primeira instancia da Povoa de Lanhoso; — em 1839 já era outra vez da comarca de Guimarães; — pelos de- cretos de 28 de dezembro de 1840 e 18 de março de 1842 ficou pertencendo ao julga- do e concelho de Vieira, comarca da Povoa de Lanhoso; — pelo decreto de 24 d'outu- bró de 1855 passou para o concelho e jul- gado de Terras de Bouro, comarca de Vil- la Verde, — e finalmente por decreto de 12 de novembro de 1875 fleou pertencendo ao concelho de Terras de Bouro, ao julgado de Ventos^ e á comarca de Vieira. Comprehende esta parochia 3 povoações: — Villar da Veiga, séde da matriz, — Caí- das do Gerez— e Ermida. A povoação de Villar da Veiga conta cerca de 130 fogos. É hoje a mais populosa das 3, — segue-se em população a da Ermida — e depois a das Caldas, fòra de tempo de ba- nhos, porque durante a estação balnear sup- planta as outras duas e todas as d'este con- celho e d'esta comarca, pois é uma das pri- meiras estancias thermaes do nosso paiz, de- pois de Vizella e das Caldas da Rainha, que pela sua população permanente e extraor- dinária concorrência de banhistas são hoje os nossos dous primeiros estabelecimentos thermaes. São também muito concorridos os estabe- lecimentos de Luso, Molledo, Vidago, Pedras Salgadas, Felgueira, Monchique e Aregos, mas todos são ardentíssimos no verão, em quanto que estas Caldas do Gerez, alcando- radas na grande serra e cercadas de frondoso arvoredo, offerecem na estiagem uma tem- peratura deliciosa e ares e agua purissimos) como não se encontram em Cintra nem no Bom Jesus do Monte em Braga. Accresce ainda a excellencia das suas aguas medicinaes, que para o tratamento de dispepcias e doenças do fígado são únicas em todo o nosso paiz e talvez em toda a Eu- ropa Foram estas aguas conhecidas no tempo da occupação romana; depois, com as guer- ras que se seguiram, ficaram em completo abandono ; — el-rei D. João V mandou aqui fazer uma capella e mais algumas obras nos princípios do ultimo século, mas ainda em 1860 aqui não vivia permanentemente nin- guém. Apenas no verão aqui se formava um pequeno povoado de banhistas, que lucta- vam com todo3 os descommodos e a muito custo transpunham a escabroza e medonha serra. Nos últimos annos aqui se viam já uns 8 a 9 moradores permauenle3 e umas 10 a 12 casas, mas esse numero augmentou de dia para dia depois que em 1885 se fez a formosa estrada a macadam, servida por diligencias diversas e por trens de toda a or- dem, de Braga até aqui. O estabelecimento balnear, propriamente dicto, ainda está mal montado, por desleixo da camará de Bouro, a cujo município es- tas aguas pertencem, mas já aqui se encon- tram bastantes casas novas, algumas parti- 1292 VIL VIL culares, outras destinadas para os banhistas, e tres hotéis muito decentes, denominados — Grande Hotel do Gerez, — Hotel Central — e Hotel Luso Brazileiro, todos sempre cheios de hospedes durante a quadra dos ba- nhos. 1 A ultima correspondência d'estas cal- das para o Commercio do Porto, datada de 25 de julho de 1886, indicava os nomes de todos os hospedes que no momento habita- vam os 3 hotéis, dando ao i.° 74— ao 2.° 89— eao 3.» 71— total 234. E note-se que para os hotéis vão somente os banhistas que dispõem de meios, sendo infelizmente muito maior o numero dos des- protegidos da fortuna e que se accomodam em mais humildes quartéis. Do exposto se vé a importância e concor- rência d'esta pittoresca estação thermal no momento e quanto é auspicioso o seu futuro. Com relação á montanha do Gerez e á temperatura e composição chimica d'estas aguas, etc. V. Gerez. A povoação de Villar da Veiga demora na margem direita do Cavado, do qual dista meio kilometro para N.; — 5 a 6 das povoa- ção das Caldas, pora S.;— 9 da séde da co- marca para N.O.;— 12 da séde do concelho para E.N.E.;— 15 do ponto mais próximo na raia da Galliza, para S.;— 30 de Braga para M.E.;— 85 do Porto— e 422 de Lisboa. Freguezias limitrophes: — Campo, Covide e Rio Calvo n'este concelho de Terras de Bouro,— e Cabril no concelho de Montalegre; —a N. e N.E. a montanha do Gerez— e a S. o rio Cavado. Producções dominantes:— milho, centeio, batatas, feijões, vinho, azeite e fructa. Também cria muito gado bovino e laní- gero na serra do Gerez e tem ali abundân- cia de caça grossa e miúda, — perdizes, le- bres, coelhos, águias, corças, cabras monte- ses e lobos cervaes. 1 No momento acham-se em construcção vários edifícios, sendo um d'elles destinado para hotel. Promette ser o mais amplo de todos e deve inaugurar-se no anno próximo futuro. É também mimosa de peixe do rio Ca- vado. Templos:— a egreja matriz em Villar da Veiga— e duas capellas publicas:— Santa Marinha na povoação da Ermida— e Santa Eufemia na povoação das Caldas. Esta ul- tima é real;— foi construída em 1730 a 1735 á custa do povo por mandado d'el-rei D. João V— e tem capellão próprio com pode- res quasi parochiaes desde o dia de S. João até o de S. Miguel, com o ordenado de réis 90$000 pagos pela camará de Bouro. Durante aquelle período de tempo é elle quem administra os sacramentos na dieta povoação e prezide ás festas religiosas e aos enterramentos que se fazem na capella, sem dependência nem intervenção do reitor de Villar da Veiga, o que não deixa de ser cu- rioso e tem dado occasião a factos interes- santes. Mencionaremos apenas um dos mais re- centes: Em princípios de setembro do ultimo an- no (1885) andando 4 homens a escavar um grande penedo que estava em uma horta juoto d'esta povoação, o penedo deslocou-se e matou quasi instantaneamente um dos di- ctos homens. A auctoridade local (um simples cabo de policia) ofíiciou logo ao regedor de Villar da Veiga, distante mais de 5 kilometros, para que désse as providencias necessárias. O re- gedor participou o caso ao juiz ordinário e este deu ordem para que se levantasse o ca- dáver e fizessem o enterro como podessem ou quizessem, visto não haver suspeitas de cri- me. O regedor transmittiu a ordem ao seu cabo, mas não se incommodou a subir a montanha nem se importou com a guarda e enterramento do cadáver. O caso não era simples, porque desde 24 de junho até 29 de setembro não pode o parodio de Villar da Veiga exercer aqui acto algum do seu ministério sem consentimento do capellão das Caldas e, quando morre algum paro- chiano, vae o capellão acompanhar e cadá- ver até á extremidade d'esta aldeia e ali o entrega ao parocho para este o fazer condu- I zir á egreja parochial, em forma dos privi- VIL VIL 1293 legios supra, concedidos por el-rei D. João V e que foram confirmados ainda ha poucos annos, por causa de certa pendência entre o capellão e o parocho; mas o capellão só den- tro d'esta aldeia pôde exercer actos paro- chiaes. Pediu-se ao capellão que removesse o ca- dáver para a casa do fallecido ou para qual- quer outra até se fazer o enterro, mas o ca- pellão não consentiu, por estar fóra do limite d'esta aldeia. Por seu turno o parocho e o regedor sò no dia seguinte compareceram, e assim esteve o cadáver dois dias e duas noites no campo, exposto á intempérie, cora grave risco da saúde publica. Na povoação de Villar da Veiga creou-se em 1884 uma feira quinzenal, muito impor- tante. Além do rio Cavado, que banha pelo sul esta freguezia, separando-a das de S. João da Cova e Louredo, banham esta freguezia de Villar da Veiga, o rio Caldo e o rio das Cal- das. Este nasce a uns 12 kilometros de dis- tancia na Portella de Leonte,— corre na di- recção N.S. — e desagua no Cavado, um pou- co a jusante da povoação de Villar da Vei- ga;—aquelle desagua no rio das Caldas. Atravessa esta freguezia a estrada distri- ctal de Barcellos a Montalegre, na direcção O. a E.— e um ramal da foz do rio Caldo para as Caldas. Houve n'esta freguezia, pelo meiado d'este século, um homem, por alcunha o Rei Preto, que se tornou tristemente notável. Foi ladrão assassino, salteador e o terror d'esta paro- chia e das eircumvisinhas alguns annos, mas talis vita, finis ita ! . . . Tendo-se refugiado na Galliza, foi ali prendel-o um grupo de visinhos seus e fu- zilaram-no junto da Portella do Homem. O clima d'esta parochia é saudável, mas varia muito com a exposição e altitude do terreno. É temperado na parte baixa, principal- mente nas margens do Cavado; — nas encos- tas do Gerez é áspero— e nas cumiadas da grande montanha é desabrido e insupporta- vel no inverno — e mesmo na primavera e no outono. VOLUME XI Diário philosophico da Viagem ao Gerês que por mandado de Sua Alteza Real o Se- reníssimo Senhor Dom Gas- par, Arcebispo e Senhor de Braga Primaz das Hespanhas fizerão O Dr. Manuel Joaquim Maya Coelho, incumbido das observa- çoens mathematicas, e Joaquim Vicente Pereira d' Araujo das phi losophicas no anno de 1182 Assim se intitula um interessante ms. de 29 paginas, que temos sobre a nossa banca de estudo e que é uma descripção ligeira, mas muito conscienciosa, da montanha e das Caldas do Gerez e d'esta freguezia de Villar da Veiga, em 1782. Não podemos resistir á tentação de fazer um pequeno extracto do pobre folheto, que está completo, muito bem escripto, assignado pelo excursionista Joa- quim Pereira d'Araujo e talvez ainda inédi- to, pois não encontramos menção d'elle nem do seu illustrado auctor no diccionario de Innocencio. Fallando da serra, diz que nos montes da freguezia de S. João da Cova (hoje do con- celho de Vieira) na margem esquerda do Ca- vado, encontrou dispersos muitos cristaes (cristalus montanus ápice único) denomina- dos pelos habitantes pedras contra o trovão, e bazaltos negros, luzentes, cristalisados, que provavam evidentemente a existência d'um vulcão hoje extincto. A mesma conclu- são tirou d'outras pedras encontradas na serra do Gerez, que se ergue sobre a mar- gem opposta do Cavado. Ali- reconheceu a celebre estrada romana da Geira;— menciona differentes lanços- com mais de 15 pés de largura, ainda bem lagea- dos, e 22 marcos miliarios que encontrou, achando-se a maior parte d'elles derruba- dos. Menciona também as ruinas de 2 pontes de cantaria: — uma sobre o rio Forno, con- fluente do rio das Caldas, no sitio denomi- 82 1294 VIL VIL nado Albergaria,— ponte que ao tempo es- tava sub9lituida por outra de madeira,— e a %* no Porto de S. Miguel, na passagem do rio Homem, a um quarto de legoa da raia, que ali tem por balisa uma cruz. Esteve na grande várzea de Leonte, que é (diz elle) funda, espaçosa e dá passagem atravez da serra para a Galliza. Na dieta vár- zea encontrou ainda os re9tos de duas gran- des trincheiras, que nós fizemos com pedra e terra, cortando de um ao outro monte o grande valle, para estorvar a passagem dos gallegos; — e junto das dietas trincheiras, uma das quaes eslava na Portella de Leonte, encontrou ainda duas casas, que foram quar- téis da tropa, mas que ao tempo eram habi- tação dos pastores. Diz que na serra encontrou grandes veios de granito com muito spato e quartzo,— sta- talactites com base de quartzo e concreções de cristaes,— peírosíto esverdeada com crus- ta quartzosa, — a mesma pedra opaca com laminas conjuntas, — uma composição de spato e malachites, com uma superfície de mina de cobre,— um grande veio de porphy- do com spato scintillante, vermelho e branco, tendo de comprimento mais de uma legoa, — muita variedade de plantas, — carvalhos eolossaes, etc. Fallando das Caldas, diz que a povoação estava sobre o rio do seu nome entre duas grandes serras,— uma ao nascente, outra ao poente, seguindo aqui o rio de N. a S., en- costado á serra que lhe fica a O.;— que a po- voação tinha n'aquella data (1782) 70 a 80 casas de um só sobrado, bastante grosseiras, mas caiadas por dentro e destinadas para quartéis dos banhistas nos 3 mezes do verão, servindo as lojas para curraes do gado no inverno. Os banhos eram 8, cada um sobre si, em pequenas casas pyramidaes, encostadas á montanha de leste, da qual brotavam as aguas com differentes graus de calor. A meio de cada uma das dietas casas e9tava o tan- que, havendo em roda espaço suffieiente pa- ra se despirem e vestirem os doentes. O i.° banho, contando da extremidade N., chamava-se Forte, por áer a sua agua a mais quente;— o 2.°, Contra- forte, era pouco fre- quentado e abastecia o 3.°, chegando ali a agua menos quente. O 4.° era o da Figueira, cuja agua esfriava no tanque, mas era quen- tíssima na sua nascente. 5. °— Do figado. Tinha uma nascente muito froixa, pelo que a sua agua esfriava muito com a demora em encher o tanque. 6. °— Da Bica, assim denominado por cor- rer para elle agua por uma bica de pedra. A sua agua era mais quente do que a do banho do Figado, e por isso com a d'elle se temperava a d'este. 7. °— Das Almas. . . O 8.° esteve junto do adro da capella, mas n'aquelle tempo já não existia, por terem feito no chão d'elle uma casa, entupindo-o. Todos os banhos se achavam immundos, mal calafetados e sem portas ! . . . Diz que estas aguas foram descobertas approximadamente em 1699 por Manuel de Faria. 1 ao tempo cirurgião, morador em Co- vide, freguezia (hoje) do concelho de Terras de Bouro, e as applicou a vários doentes que faziam poços e se banhavam n'ellas; — que D. João de Sousa, 2 então governador das armas d'esta província, vendo o grande par- tido que muitos doentes tiravam d'estes ba- nhos, mandou fazer atravez da serrania uma estrada para cavalgaduras, liteiras e carros, em substituição das perigosas e estreitas sendas dos rebanhos e pastores, tornando estas aguas muito mais accessiveis, pelo que a concorrência de prompto augmentou,— e que D. João V mandou aqui fazer 6 tanques, a capella, um hospital e uma ponte sobre o Çavado— consignando 70$000 réis para um capellão— e 40#000 réis para um medico e ura cirurgião, pagos pelas comarcas de Gui- marães, Porto e Vianna, a— e dedicou a ca- 1 Fr. Chrystovao dos Reis, carmelita e bo- ticário em Braga, nas suas Reflexões expe- rimentaes que em 1779 publicou relativa- mente a estas aguas, diz que o tal cirurgião de Covide se chamava — Manuel Ferreira de Azevedo. 2 Era irmão do marquez das Minas. 3 Não menciona a de Braga. VIL VIL 1295 pella a Santa Eufemia, por ter esta santa sido martyrisada n'aquella serrania; mas que infelizmente já em 1782 a ponte e o hos- pital tinham desapparecido;— os salários do capellão eram mal pagos;— os doentes já não tinham medico nem cirurgião, — e a policia dos banhos era detestável 1 As pessoas nobres ou ricas mandavam guardar os banhos por criados seus arma- dos e, só depois de tomarem muito pausa- damente banho, é que o povo podia banhar- se ! . . . «Tudo occasiona magua (diz elle); mas não podem sem tremer, e espantar o animo verem-se os doentes pobres, descalços, e des- pidos, unicamente com a cabeça entrapada e o corpo coberto com um capote, irem de suas casas, que são as mais distantes, tomar o banho em horas pouco convenientes, e re- colherem-se da mesma maneira, expostos a constipações». Os mais ricos iam em uma cadeirinha in- decente. Não ha^ia na localidade botica nem loja alguma de commercio;— a venda dos géne- ros de primeira necessidade era monopólio de certos especuladores— e, se alguém ten- tasse vendel-os mais baratos, era preso pelo almotacé e posto fóra da povoação?! . . . Agora o mais interessante : Villar da Veiga A povoação das Caldas pertence á fregue- zia de Villar da Veiga, que tem (diz o auctor do folheto, referindo-se ao anno de 1782) 148 homens e 175 mulheres,— total 323 ha- bitantes, em 92 fogos, constituindo uma pe- quena republica, «similhante á de nossos pais, antes que conhecessem o jugo romano, gótico e arábigo». «O governo he democrático, e as dicizoens confiadas ao conselho e prudência dos an- cioens, são sagradas . . . «Tem 7 tribunaes, e em cada hum pre- zide um velho, assistido de 6 homens, a que chamão homens d'accordo. No regimento de tão pequeno estado se occupão 7 juizes e 42 homens d'accordo. «Cada tribunal exerce differentes func- çoens. . . «O 1.° he o do Juiz da Igreja, aonde se tractão negócios respectivos á Igreja. «O 2.° he do Monteiro, em que se julga das montarias. «O 3.° das Vaccas, que apena e despena os vaqueiros e se informa da sua conducta na guarda do gado. «O 4.° e S.° das Cabras. «O 6.° do Lagar do azeite, em que se dis- põem da cultura e feitura do azeite. «O 7.° he do Lugar, onde tratão negócios particulares, sobre obras, distribuição de ter- ras para cultura, etc. «Vão aos chamados (dizem elles) e cada tribunal tem lugar próprio. Para o do Mon- teiro são convocados ao som de buzina; para os outros ao som de frautas diversas. A qua- lidade das penas são muitas vezes canadas de vinho. « São estes povos muito zelosos de suas mu- lheres e filhas. Olhar para ellas hum estranho é offendel-os, pelo que ha poucos annos (re- fere-se a 1782) passando qualquer pessoa a elles desconhecida, como o objecto zelado chegasse a ser visto pelo tranzeunte, convo- cava-se o povo de repente, hum e outro sexo se armava com armas de fogo, paus.e pe- dras, e expelião o pobre estrangeiro. Anto- nio Soromenho d'01ivaes, abalizado sacer- dote, sendo seu vigário, os dissuadio d'esta temeridade, e em assembleia pactuarão ces- são de hostilidades, o que d'ahi em diante fielmente cumprirão, porque as suas pro- messas são invioláveis! «Para as serras mandão gados, a que el- les chamão vezeiras, do 1.° de junho athe8 de septembro, . . .bois e vaccas. Os vaquei, ros se obrigão a dar conta delias sans e sal- vas, e se o lobo ferio alguma, de que se lhe occasiona a morte, paga sua estimação. Em hua palavra — só a morte natural izenta o pastor da entrega da cabeça. Quando o va- queiro tem duvida em pagar a multa, he chamado perante o seu senado, e accordão; sentindo-se gravado, apella para a Ribeira ?, 1 Freguezia de S. Matheus da Ribeira, con- concelho de Terras de Bouro. 1296 VIL VIL onde ha a mesma politica,— e em casos se- melhantes os da Ribeira apellão para Vil- lar...- «As decisoens dos seus mayores estão es- critas em 7 livros de papelão, e cada hum dos 7 ancioeos guarda o seu, e o faz invio- lável. «A educação fizica, com que crião os seus filhos he bem capaz de os fazer robustos, brigozos, ágeis, e inclinados á agricultura, e a todo o trafego. Exercitão-se em atirar á espingarda (cada casa tem seu armazém J) bem como a subir ás arvores e fragas, des- cer sem resvalar, fazer montarias, etc. Seus alimentos são simples, e o vestuário gros- seiro. O luxo ainda não viu este paiz, nem o das Caldas o tem enfraquecido ou affemi- nado. Colhem muito centeyo, milho, sazo- nadas fructas, bom vinho, azeite, linho etc. Trigo não, pois affirmão ser impróprio para aquella terra. Fazem muito carvão das urzes da serra, de que tirão grandes lucros, e feito- rizão-no quando a agricultura dá descanço; pescam a tralho, e pluma, bogas, e trutas no rio das Caldas, e á rede no Cavado, sal- moens, lampreias, etc, e cação no monte viados, javalis, carvi-cabras, açores, perdi- zes, coelhos, lebres, etc. — tem muitas col- meias nos montes, de que extrahem abun- dância de mel, e tem também muitos reba- nhos de ovelhas, todas pretas. Não me dis- seram o motivo de regeitarem as de outra cor.» Fecharemos aqui o extracto, bemdizendo a memoria do aucter do ms. que tão fiel- mente copiou a indole, usos e costumes des- tes povos nos fins do ultimo século,— indole, usos e costumes que hoje' devem estar com- pletamente mudados com os melhoramentos da viação e com o grande eentro de vida das suas Caldas. Deviam ser muito semelhantes a indole, usos e costumes d'outros povos do Gerez, Barroso e Lindoso, no Minho,— Gralheira, Mezio, Caramulo, Monte do Muro e Serra da Estrella, na Beira, mas infelizmente ninguém Talvez deposito d'armas. os copiou e descreveu como o benemérito Joaquim Vicente Pereira de Araujo copiou e descreveu os d'esta freguezia de Villar da Veiga, pelo que jazem no olvido I. . . Terminaremos dizendo que o sr. dr. Ri- cardo Jorge, lente da Escola Medico-Cirur- gica do Porto, visitou as Caldas do Gerez em agosto do anno de 1886,— estudou e analy- sou as suas aguas — e propõe-se escrever e publicar uma Memoria sobre ellas; entre- tanto veja-se o Ensaio physico-medico das Caldas do Gerez, por J. A. da Fonseca Be- nevides,— Noticia topographica e physica do Gerez e das suas aguas thermaes pelo dr. José Pinto Rebello de Carvalho,— o Âquile- gio Medicinal,— Reflexões já citadas — e sobre tudo a interessante Analyse das Aguas Mineraes do Gerez, escripta pelo visconde de Villa Maior em 1851 e publicada pela nossa Academia Real das Sciencias no vol. 15.» das suas Memorias, tomo 3.8 da 2.* série, parte II. É o trabalho mais completo que até hoje se tem publicado sobre o assumpto. Á ultima hora acabamos de saber que se montou uma linha telephonica entre as di- tas Caldas e Braga. VILLARANDELLO,— freguezia do conce- lho e comarca de Val Passos, districto de Villa Real, diocese de Braga, província de Traz-os-Montes. Beitoria. Orago S. Vicente;— fogos 310, — habitantes 1280. Em 1706 era vigairaria de Malta, da com- menda de S. João da Corveira; — pertencia ao concelho e termo de Chaves, ouvidoria e co- marca de Bragança— e contava 152 fogos. Em 1768 era da mesma apresentação; — rendia para o seu vigário 40$000 réis— e contava 220 fogos. O censo de 1864 deu-lhe 279 fogos e 1:160 habitantes— e o de 1878 deu-lhe 292 fogos e 1:221 habitantes. É formada pela povoação de Villarandel- lo, que se divide em 5 bairros ou grupos, todos em volta da egreja matriz:— Bairro do Outeiro, da Cruz, de Baixo, da Rua e da La- vandeira ou Alevandeira, como dizem na lo- calidade. Demora na estrada real n.° 38 de Chaves: VIL VIL 1297 a Moncorvo por Mirandella e Villa Flor,— e dista 8 kilometros de Val de Passos para N.; — os mesmos 8 da margem direita do Raba- çal, que, unido ao Tuella, forma o Tua; — 21 de Chaves para S.E.;— 22 de Mirandella para N.N.O.;— 70 da estação do Tua, -hoje a mais próxima, na linha férrea do Douro, pela linha do Tua, prestes a abrir- se á cir- culação;— 209 do Porto— e 546 de Lisboa. Freguezias limitrophes:— Val Passos, Er- vões, Alvarelhos, Santavalha, Possacos e Fornos do Piohal. Producções dominantes: — centeio, trigo, milho, batatas, castanhas, vinho, azeite, fru- ctas e hervagens. O seu vinho era de boa qualidade, como vinho de mesa, mas com a invasão phyllo- xerica hoje pouco vinho produz. V. Villa Flor e Villa Real de Traz-os-Mon- tes. Banha esta freguezia um ribeiro, que move alguns moinhos de cereaes e desagua no Ra- baçal. Esta freguezia pertenceu, como jà disse- mos, ao concelho de Chaves, comarca de Bragança;— depois passou para o concelho e comarca de Chaves— e por ultimo para o concelho e comarca de Val Passos. Os seus templos reduzem-se á egreja ma- triz e 3 capellas publicas. A egreja é bastante antiga, principal- mente a capella-mór, que tem um soberbo retábulo de talha dourada. As capellas são: 1. * — Santo Antonio. 2. * — Espirito Santo. Em volta d'ella está hoje o cemitério pa- rochial. 3. a— S. Sebastião,— a. mais antiga talvez. Todas estão bem tractadas e bem conser- vadas, assim como a egreja. A festa principal que hoje aqui se celebra é a de Santa Barbara, no ultimo domingo de agosto. Ha n'esta freguezia uma escola official de instrucção primaria para o sexo masculino, — uma feira mensal no dia 9,— mercado to- das as quintas feiras— e 3 hospedarias. Foi esta parochia saqueada na noite de 15 de novembro de 1846 pelas tropas do gene- ral, barão e ultimamente conde do Casal, em seguida ao ataque de Valpassos. 1 V. Villa Verde, séde do concelho,— e Val de Paços. Tem Villarandello uma boa rua, formada pela estrada real que a atravessa,— um gran- de campo onde se faz a feira, — e um largo, o adro da matriz. Ha no termo d esta parochia uma penha colossal, denominada Penide. Segundo resa ainda hoje a tradicção lo- cal, foi esta povoação de Villarandello uma das mais antigas d'esta província. Argote no vol. 3.° das Memorias de Braga aponta um marco milliar que existiu n'esta povoa- ção. Ainda hoje lá se vê. Tem cerca de lra,50 d'altura e a inscripção que pode ler-se no 7.° vol. d'este diccionario, pag. 123, col. 2.* Ali se mencionam também as ruinas de uma povoação antiquissima que existiu no alto de um monte a pequena distancia de Villa- randello, no sitio ainda hoje denominado Ci- vidade. É certo que por aqui passava uma das vias militares romanas de Braga para As- torga, por Salamonde, Ruivães, Villarinho do Arco, Chaves, S. Lourenço, Villarandello , Possacos, Pineto, Val de Telhas, Complutica, serra de Senabria, ete. 2 Da dieta estrada ainda hoje se vê n'esta povoaçãofo dicto marco milliar inteiro e fra- gmentos d'outros. Também se vê em Possacos, freguezia li- mitrophe, um fragmento d'outro marco mil- liar em uma eira, com a inscripção já indi- cada no artigo Possacos (V.)— e Argote no vol. 1.° das suas memorias, pag. 298, cita ou- tra lapide que ali se encontrou na quinta do Padre Antonio de Sousa, com a inscripção seguinte : 1 Alem do saque, praticaram toda a casta d'excessos, ultrajes, ferimentos e mortes!... 2 Vide Itinerário do Imperador Antonino, n'este diccionario, vol. 3.° pag. 401. 1298 VIL VIL Imp. Cp. L : : : Sovans. E. Ne : : : : : t : Ope. I : : : : A Nada mais podia ler-se, por estar a pedra partida. Veja-se também o 2." vol. das Memorias d'Argote, pag. 494, 589 e 607 — e no Portu- galiae Inscripliones Romanae a inseripção n.° 148. Em dezembro de 1885 houve aqui uma grande desordem entre um bando de moços que regressavam de Val Passos, onde tinham ido tirar a sorte para o serviço militar. Ficaram alguns feridos e um d'elles mor- to,—e em seguida foram presos e mettidos na cadeia 11. VILLARELHO,— nome de algumas aldeias e freguezias nossas. Dizem uns que Villar, Villarinho, Villa- relho, Villarandello e Villula são quasi sy- nonymos e significam pequena villa ou pe- queno povoado;— pretendem porem outros que Villarelho quer dizer villa velha. Sustentaram grande polemica sobre o as- sumpto, nas columnas do Pero Gallego, jer- nal de Vianna, o sr. dr. Luiz de Figueiredo da Guerra e o sr. José Leite de Vasconcel- los. Salvo o respeito devido a tão illustres con- tendores, inclinamo-nos para a opinião do primeiro. VILLARELHO,— freguezia do concelho e comarca de Caminha, districto de Vianna, diocese de Braga, província do Minho. Vigairaria. Orago Nossa Senhora da En- carnação;— fogos 97, — habitantes 450. Em 1706 era vigairaria annexa á reitoria da villa de Caminha, cujo reitor apresentava o vigário;— rendia para este 50$000 réis, sendo os dízimos dos prestimonios; *— per- tencia ao concelho e termo de: Caminha, co- marca de Vianna, — e contava 70 fogos. Em 1768 era da mesma apresentação;— rendia 40$000 réis— e contava 60 fogos. O censo de 1864 deu-lhe 86 fogos e 377 1 V. Insua, vol. 3.° pag. 397, col. 2.a in- prmcipio. I habitantes; — o de 1878 deu-lhe 116 fogos (parecem-nos fogos de mais) e 531 habitan- j tes ,— e hoje, segundo as informações do seu ! rev. parocho, tem, como já dissemos, 97 fo- gos e 450 habitantes. Demora esta freguezia ao sul e txtra mu- ros da villa de Caminha, da qual é um ar- rabalde, depois que a villa se murou, tendo sido anteriormente a matriz d'ella, pelo que a procissão de Corpus Chrisii da actual villa de Caminha foi sempre e vae ainda hoje á matriz de Villarelho, também denominada hoje ainda egreja velha. Dista da matriz actual de Caminha, tem- plo manoelino venerando, cerca de 1 kilo- metro para S.;— 22 de "Vianna;— 104 do Por- to—e 441 de Lisboa. Comprehende as aldeias seguintes:— Vil- larelho, séde da parochia, cuja matriz está contigua ao fosso e aos muros da villa actual de Caminha (extremidade S.) que outr'ora se estendia pela encosta do monte de Santo An- tão, comprehendendo tudo o que hoje é de Villarelho. Mais claro: A villa de Caminha localisou- se na extremidade N. da freguezia de Villa- relho, no pontal formado pelos rios Coura e Minho, roubando a Villarelho todo o chão intra muros. Comprehende também Villarelho as po- voações de Fonte da Villa, Olheiro, Pombal e Portella, já deseripta no vol. 7.° pag. 248, col. 2.s in fine. Ha n'esta parochia boas quintas, taessão: 1. » — Vallindo. Pertence ao dr. João Xavier Torres e Sil- va, que a herdou de sua mãe, a qual a com- prou aos herdeiros de José Antonio d'Aze- vedo. Fica assim rectificado o que se lê no ar- tigo Portella, freguezia de Caminha. Vide, 2. *— De S. Roque. Foi do 2.° barão de S. Roque, — José de Oliveira Torres, — e é hoje do commendador Antonio Agostinho Coelho da Silva, recebe- dor desta comarca e provedor da Misericór- dia de Caminha. 3. a— A que foi de Bento Thomaz, hoje de D. Claudina Cardoso. VIL VIL 1299 4.«_ A de Santo Antonio do Moniz. É pequena e assumiu o nome de uma ima- gem de Santo Antonio que tem sobre a porta da entrada, em um nicho —imagem de pe- dra e muito querida do povo, que toma o santo como seu protector contra as molés- tias do gado suino e vaccum. Esta quinta foi do dr. Gonçalo Xavier da Silva, distincto advogado e homem de gran- de erudição, natural da villa de Caminha e que muito a enobreceu, deputado as cortes de 1826 e escriptor publico. Falleceu em 5 de novembro de 1843, per- dendo Caminha o seu filho mais illustrado e a província um dos jurisconsultos mais distinctos. Publicou em 1822 o Elogio Histórico de Luiz do Rego Barreto, em um folheto de 67 paginas, mas escreveu muitas obras que não lograram ver a luz da publicidade,— umas porque ficaram incompletas,— outras porque depois da sua morte perderam algumas fo- lhas. Andava escrevendo um diecionario por- tuguez, que ficou nas lettras FRE. Também viveu muitos annos n'esta fre- guezia de Villarelho, em uma casa e peque- na quinta que fez junto do baluarte de S. Rodrigo e da cerca do convento das freiras de Santa Clara, o dr. Sebastião Luiz da Silva Faria, que foi talvez o 1.° jurisconsulto da província no seu tempo. Falleceu em 1883. Atravessam esta freguezia de S.O. a N.E. a estrada real a macadam n.° 4, de Villa Nova de Famalicão, por Vianna, a Caminha e Valença,— e a linha férrea do Minho;— e de N.O. a S.E. a estrada districtal n.° 1 de Caminha á villa de Coura. Freguezias limitrophes:— Venade a S.E.; —Azevedo a S.;— Christello a S.O.;— Cami- nha a N — e alem do Coura, Seixas e Villar de Mouros. Producções dominantes: —milho, trigo, centeio e vinho verde. Tem muitas fontes d'exeellente agua e bom clima. A egreja parochial é pequena mas muito antiga e de uma só nave. Tem 3 altares:— o mór, onde está o Santíssimo e a imagem da padroeira,— e 2 lateraes:— um da Senho- ra do Amparo— outro do Immaculado Co- ração de Maria. Ha também n'esta parochia as 5 capellas já mencionadas no artigo Portella, citado supra;— note-se porém que a de Nossa Se- nhora da Graça não é publica, mas particu- lar;—pertence a Domingos José de Sousa; —está em uma pequena quinta— e tem porta para o caminho publico. A de S. Sebastião tem festa annual, mas a festa mais apparatosa que hoje se faz n'es- ta freguezia é a da padroeira, no dia 8 de setembro, com procissão, musica, extraor- dinária concorrência de povo, leilão de fo- gaças, etc. Além das capellas mencionadas no artigo Portella, também houve outra n'esta fregue- zia, dedicada á Senhora da Bonança. Esta- va na praia e foi demolida por fálta de meios, mas ainda se conserva e venera na egreja parochial a imagem da dita Senhora. Esta fregrezia teve, mas já não tem, resi- dência nem passal. Um filho d'esta freguezia legou para re- sidência dos parochos d'ella uma boa casa com quintal, impondo-lhes a obrigação de dizerem pela almad'elle 12 missas annuaes; mas em 1834, quando tomou posse d'esta egreja o encommendado Manoel Martins, achou em tal atrazo o cumprimento d'aquel- le legado, que o valor das ca9as e quintal não chegariam para satisfazer o grande nu- mero de ^missas que os seus antecessores deixaram de celebrar. Celebrou as elle to- das, mas ficou considerando as casas e quin- tal como propriedade sua e assim passaram para os seus herdeiros. Foi uma perda sen- sível para esta parochia, pelo que não mais houve presbytero que n'ella quizesse collar- se, pois, alem de ter uma pequena popula- ção, os seus habitantes são quasi todos po- bres, porque a maior parte do seu terreno pertencea estranhos, nomeadamente aos ha- bitantes de Caminha; e a Caminha terá em breve de annexar-se, como já por vezes se tentou, por ser parte integrante d'aquella 1300 VIL VIL villa, como já dissemos, e não haver paro- cho, mesmo encommendado, que n'ella quei- ra residir. Muitos annos foi curada por presbyteros rezidentes em Caminha. O seu parocho actual reside na freguezia de Venáde. Tem uma fabrica a vapor na estrada real de Vianna a Valença. É propriedade do sr. Manuel Lourenço Pereira de Magalhães— e presta grandes serviços a esta paroehia e ás cireumvisinhas, pois móe eereaes, serra ma- deira e prepara linho No anno ultimo esteve parada algum tem- po, porque rebentou a caldeira, matando in- felizmente duas creanças, sendo uma del- ias filha do próprio director da fabrica, o sr. João Lourenço Gavinho, irmão do pro- prietário d'ella. Entre esta freguezia e a de Venade está o monte de Santo Antão, onde ha minas de ferro e d'outros metaes, que ainda não fo- ram exploradas. O dicto monte tomou o nome de uma an- tiquíssima capella de Santo Antão que se er- guia no ponto mais alto e da qual hoje ape- nas restam vestígios. D'ali se gosa um panorama esplendido sobre Caminha e seus arrabaldes, dominan- do grande extensão do Atlântico, d'esta pro- víncia e da Galliza, o forte da Insua, as mar- gens do Coura e do Minho, etc; mais visto- so porém è ainda o píncaro de Santa Tecla, que lhe fica defronte e onde nós já esti- vemos, na fóz do Minho, margem direita gallega, junto da villa da Guardia. D'ali se vê o sanctuario do Bom Jesus do Monte e o templo da Senhora do Sameiro. Junto das ruínas da mencionada capella de Santo Anlão se encontra uma mamoa com vestígios de uma anta—e a pequena distancia outra, no sitio denominado Poço da Chã ou Cova do Armada, como afíirma o sr. dr. Sarmento, distincto archeologo da cidade de Guimarães, que já visitou o dicto monte. Se a pequena povoação da Portella, hoje pertencente a esta freguezia, já foi paroehia I independente, i ha muito que se ach i unida a esta de Villarelho e por isso cabj a a esta freguezia tudo o que o meu bom minteces- sor disse no artigo Portella, já citado.). Vide. Apenas deverão fazer-se as rectificações in- dicadas n'este artigo Villarelho, nototando também que o pinhal do Camarido aãião está n'esta paroehia, mas na de Christeilolo, sua limitrophe, e na do Molledo;— é atravessado de S. O. a N. E. pela estrada real n.« 4 6 e pela linha férrea; — foi semeado por D. Liriniz; — pertenceu aos marquezes de Villa R«a)al, du- ques de Caminha;— depois passou p;para a casa do infantado — e d'esta para a onrôa. V. Camarido, Caminha e Portella. Ao sr. dr. Luiz de Figueiredo da Guíuerra» illustrado filho de Vianna, agradeço 03 s apon- tamentos que se dignou enviar-me. VILLARELHO DA RAIA, ou simplesremente Villarelho, — freguezia do concelho eeoiomar- ca de Chaves, districto de Villa ReaLU, dio- cese de Braga, província de Traz-os-Moíontes. Abbadia. Orago S. Thiago Apostolo;o;— fo- gos 210, habitantes 898, divididos pelslas al- deias seguintes: — Villarelho, a sede, 3, com 129, Villameã da Raia com 30,— Villaiarinho do Extremo com 36— e Cambedo (a j, parte portugueza) com 15. Em 1706 era abbadia da mitra no t< termo e concelho de Chaves, comarca de Bragigança, — e contava 66 fogos nas aldeias de \ Villa- relho, Cambedo e Villarinho somente,}, pois Villameã era curato da mitra,— tinha a como orago Santa Comba— e contava 40 fogegos. Em 1768 Villarelho, Cambedo e VilTillari- nho eram da apresentação alternativiva do papa e da mitra;— rendiam para o abibbade 600$000 réis— e contavam 77 fogos,— em- quanto que Santa Comba de Villameã eiera ao tempo vigairaria da apresentação da caramara ecclesiastica de Braga;— rendia para o o seu vigário 50$000 réis— e contava 41 fogDgos 2. 1 Duvidamos, posto que assim o affir3rmou o meu benemérito antecessor, baseadolo não sabemos em que. 2 Em 1884 Manuel Lopes Ferreira, d d'esta povoação de Villa Meã, matou barbarammente sua mulher Delfina Affonso, mas foi prereso e condemnado na pena de 25 annos de dedegre- do em Africa. VIL VIL 1301 O censo de 1864 deu ás 2 parochias, já unidas sob o titulo de Villarelho, 189 fogos e 772 habitantes;— o censo de 1878deu-lhes 121 fogos e 966 — e os apontamentos, que re- cebi e que julgo muito auctorisados, dão-lhe 210 fogos e 898 habitantes, como já disse- mos. Esta freguezia demora na raia, em terreno plano, na margem direita do rio Tâmega, do qual dista a egreja matriz apenas 1 kilome- tro para O.;— 10 da praça hespanhola de Monte Rei e da villa de Verim que lhe fica próxima, para S.;— 11 de Chaves para N.; —84 de Villa Real de Traz-os-Montes;— 111 da estação da Regoa, a mais próxima, na li- nha férrea do Douro;— 215 do Porto, pela estação da Regoa, *— e 552 de Lisboa. Confina com as freguezias de Outeiro Sec- co, Villela Secca e Ervededo, a S. e S.O.— — Soutellinho a O.,— todas 4 portuguezas e d'este concelho de Chaves; — a N. com a de Oimbra e a E., alem do Tâmega, com as de Mondim, Fezes de Bajo e Fezes de Arriba, todas 4 pertencentes ao bispado de Orense. Producções dominantes : — centeio, trigo, feijão, chicharos, vinho, batatas, algum azei- te e lã, pois cria bastante gado lanigero. Banham esta parochia 2 ribeiros:— um nasce no monte da Forreça, termo de Cam- bedo;— é abundante d'agua;— rega parte da veiga de Villarelho, onde fica toda a sua agua no verão, mas no inverno entra na Gal- liza a N.E. de Villarelho; — atravessa o termo de Rabal— e desagua no Tâmega, junto da povoação d'aquelle nome, tendo em Portu- gal 3 pontões. O outro ribeiro desagua também no Tâ- mega. Nasce este rio na Galliza, nas faldas da serra de Larouco, em uma fonte denomina- da Tâmega, da qual tomou o nome; — banha a villa e a veiga de Verim, separando-as da encosta e praça de Monte Rei, que fazia pen- dant com a nossa praça de Chaves; — tem entre Verim e a dieta encosta uma ponte de 1 Logo que se construa a linha férrea de Chaves pelo valle do Tâmega, hoje em estu- pedra de 5 arcos na estrada nova a maca- dam de Zamora a Orense, — e entra em Por- tugal pela formosa veiga de Chaves, que é continuação da de Verim, banhando na veiga de Chaves as freguezias de Villarelho, Ou- teiro Secco e Chaves, na margem direita, — e na esquerda as freguezias de Lama d' Ar- cos, Faiões, Villar de Nantes e Samaiões, ca- minhando de norte a sul. V. Tâmega. A povoação de Villarelho, por estar muito próxima da raia, soffreu sempre muito du- rante as porfiadas guerras entre Portugal e Hespanha, nomeadamente na guerra da res- tauração, que durou 27 annos ! . . . Por vezes foi saqueada e destruída pelos hespanhoes e em 1647 intentaram estes fa- zer aqui um forte, mas o governador d'esta província, Rodrigo de Figueiredo, oppoz-se e lhes frustrou o intento. • Foi sempre povoação aberta, mas em tem- pos muito remotos teve uma atalaia, que foi demolida já depois do meiado d'este sé- culo, para se fazerem, como fizeram, com a grossa cantaria d'ella os muros do cemitério parochial. No chão que oceupou se vê hoje uma py- ramide geodésica. Também houve em tempos muito remotos uma fortalesa no sitio denomiDado o Cas- tello. Foi demolida ha muito e ainda hoje se vê parte da sua cantaria no muro que véda uma propriedade próxima. Também no termo de Cambedo, a 3 kilo- metros de distancia, se vê no cume do monte Vamba restos de muralhas antiquíssimas, talvez do tempo dos mouros ou dos roma- nos. Templos 1.° — Egreja matriz de Villarelho. Foi reedificada em 1698, como prova a dos, seguirá por esta linha, deixando a es- tação da Regoâ, quando se dirija ao Porto; mas, logo que se construa a linha da Regoa a Villa Real e Chaves pelo valle do Corgo, hoje em estudos também, seguirá por esta ultima linha, quando se dirija para a Regoa, Lamego e Beira. 1302 VIL VIL data, que se vê na parte exterior da parede, lado norte,— e já n'este século foi parcial- mente reedificada também. É um templo modesto, mas decente; tem altar-mór, onde está o padroeiro, e 2 late- raes:— um dedicado á Senhora de Guada- lupe,—outro a Santo Antonio. 2. ° — Egreja de Santa Comba, em Villamea e que foi a matriz d'esta parochia, hoje ex- tincta. 3. ° — Capella de Santa Catharina. Capella de Nossa Senhora das Neves. Ambas são publicas e estão na aldeia de Villarelho,— a I.» a N. e a 2.» a E. 5. °— Capella de S. Gonçalo d' Amarante, na aldeia de Carnbêdo, cerca de 5 kilometros ao norte da matriz. 6. ° — Capella de S. Pedro Apostolo, na al- deia de Villarinho. Ambas são publicas e muito pobres. 7. °— Capella de Nossa Senhora do Rosa- rio, na mesma aldeia de Villarinho * 8. ° — Capella de SanVAnna, em Villameã. Estas 2 capellas estão mencionadas na Chorographia Portugueza, mas talvez já não existam, porque o meu benemérito informa- dor não as menciona. Ha também ao sul de Villarelho, na antiga estrada de Chaves, um nicho com a imagem de Jesus crucificado, que o povo denomina Senhor das Almas, venerando-o com muita devoção. Da imagem de Nossa Senhora de Guada- lupe que hoje se vê na matriz, em um altar lateral, do lado da epistola, diz o Santuário Marianno (vol. 7.° pag. 429) em resumo o seguinte: Em 1721 estava no altar-mór, também do lado da epistola; — era de vulto e madeira es- tofada;—tinha 4 palmos d'altura;— susten- tava nos braços o Menino Deus — e era alvo de grande devoção dos povos circumvisi- nhos, tanto de Portugal, cómoda Galliza. No anno de 1661, quando os hespanhoes saquearam esta povoação e incendiaram a matriz, um soldado gallego tomou a imagem da Senhora nos braços, a pretexto de sal- val-a do incêndio,— fugiu com ella para a Galliza, e collocou-a na egreja da Senhora das Neves em Veiga de Lila; mas i pouco tempo depois volveu para a egreja de Villa- relho. Tinha pomposa festa no primeiro doomingo de maio. Estes sitios foram habitados desdee tem- pos muito remotos e claramente desdee a oc- cupação romana, como arrabalde que? eram da grande cidade Aguae Flaviae, hojee Cha- ves. Datam d'esse tempo talvez a celebrre ata- laia, de que já fizemos menção, e um í cippo quebrado que, segundo diz Argote naas suas Memorias de Braga, vol. 3.° pag. 270, , se via na aldeia de Villarelho, com a inscripçção se- guinte: C. Covne Ancus Fuscie CLU N. XL La: : C iv V. S. C. xxx k. S. E. Aqui jaz Caio Cneu Anco, filho de Fvusco. . . Na mesma povoação existiu na caasa de Domingos Lopes Fuseiro outro cippoo com esta inscripção: I. 0. M Voi soi Mil. Leg vh GE. F. JULINO E APR. Parece que tracta de um soldado < da le- gião 7.» Gemina e de um Julino, cavaralleiro da ala pretoriana. 1 A freguezia de Santa Comba de Vilillameã foi extincta e annexada a esta de Vi.lhlarelho em 1847, sendo;"o seu ultimo paroclhao Luiz da Fonseca Andrade, — e parocho ecncom- mendado d'esta de Villarelho, então > vaga, Fr. Antonio Botelho, de Villa Real. A freguezia de Villela Secca este;vve ou- 1 Húbner, Noticias archeologicas (dde Por- tugal, pag. 89, na traducção da Acaiddemia. VIL VIL 1303 tr'ora também annexa á de Villarelho, e os parochos d'esta apresentavam os d'aqaella, arbilrando-lhes côngrua e recebendo os dí- zimos; tornou-se porem independente, ha muito. Parte da povoação de Cambedo ficou'per- tencendo civilmente a Portugal e a esta fre- guezia de Villarelho pelo tractado interna- cional de 1864, mas obedecendo espiritual- mente ao bispo de Orense, como obedece ainda boje, com grave incommodo dos seus habitantes, pois o em.m0 sr. cardeal D. Amé- rico esqueceu-se de mencionar aquelle gru- po de habitantes portuguezes, quando era 1882 deu execução ás bulias pontifícias para o arredondamento das nossas dioceses. Tem esta freguezia boa casa de residên- cia parochial— e contou sempre parochos distinctos. Alguns foram commissarios do santo officio, escriptores públicos e visita- dores. Poderíamos dar uma lista d'elles desde 1620, pois vão até aquella data os livros do registro parochial, mas para não fatigarmos os leitores mencionaremos apenas um dos seus abbades mais distinctos: Albito Buella Nasceu na Galliza em 1791 e falleceu em 1862 n'esta paroehia. Era homem muito illuãtrado, doutor em philosophia e escriptor publico, dotado de grande talento e prodigiosa memoria. Por causa das convulsões politicas do seu paiz, passou para Portugal e tomou activa parte nas nossas questões dynasticas de 1820 a 1834, seguindo as ideias absolutas, pelo que teve de emigrar para a Hespanha com a divisão do general Silveira em 1823, em seguida á revolução de Traz-os- Montes. V. Villa Real de Traz-os-Montes, vol. XI, pag. 1020, col. e Moncorvo no supple- mento a este diccionario. Em 1830 foi-lhe dada a encommendação da egreja de Santa Marinha, de Lisboa, cujo prior jazia na Torre de S. Julião, onde fal- leceu. Passado algum tempo foi provido na ab- badia de S. Miguel de Rebordosa/ concelho de Paredes, no bispado do Porto, da qual passou para esta de Villarelho em 1848 e n'ella foi parocho até 1862, data em que fal- leceu. Foi acérrimo apologista do sr. D. Miguel, mas, depois que viu a causa d'elle morta, passou a defender com egual acrimonia a sr." D. Maria II ?! - - . Publicou a Defesa de Portugal em 1831 a 1833,— semanário politico e moral, 2 vol. 4.°— e ultimamente, quando já era liberal in nomine, collaborava no Povo Legitimista, jornal de Lisboa. Uns e outros poderiam dizer-lhe: Sic valeas, ut farina es ! . ■ . Succedeu-lhe o abbade Joaquim Esteves, natural de Serraquinhos, concelho de Mon- talegre. Gollou-se em outubro de 1874 e falleceu em junho de 1877. É agora aqui parocho, e muito digno e considerado, o rev. sr. Rodrigo de Campos Sanches, natural d'esta mesma freguezia. O rendimento d'esta egreja pode orçar-se em 300^000 réis, provenientes do pé d'altar, —primícias do vinho, centeio e trigo,— offer- tas de centeio— e 2i$000 de derrama em di- nheiro. Tem alem d'isso boa residência parochial. N'esta freguezia não toca estrada alguma a macadam. A mais próxima ó a de Chaves a Verim, que segue pela margem opposta, esquerda, do Tâmega, a distancia de poucos kilometros, — estrada suavíssima e toda tão plana que aborrece, como nos succedeu quando fa percorremos e visitámos Verim em setembro de 1883. Ha n'esta> freguezia aguas mineraes alca- lino-gazosas, muito semelhantes ás de Verim, na Galliza, e ás de Ben- Sande, (no concelho de Villa Flor), Vidago e Pedras Salgadas. Estas aguas de Villarelho também se de- nominam aguas de Verim e brotam junto do sitio denominado Campo Redondo, a O. de Villarelho, a E.. de Cambedo e a S. de S. Si- brão, na Galliza, distando approximadamen- te 1 kilometro de qualquer das menciona- das aldeias. 1304 VIL VIL Estão mal aproveitadas;— jorram de uma fonte singela;— são alcalino-gazosas— frias — e a sua temperatura regula por 16 graus centígrados, sendo a da athmosphera de li graus, segundo se lê na descripção do sr. dr- Agostinho Vicente Lourenço. V. Verim, vol. X, pag. 306, col. 2.» De passagem diremos que as celebres aguas alcalino-gazosas do Verim gallego, destinadas para banho, brotam na veiga de Verim, cerca de 2 kilometros a N. da po- voação,— e as destinadas para beber brotam a menos de 2 kilometros para E. da mesma povoação de Verim, no fuado de uma pe- quena quebrada. As primeiras estão no mais completo e triste abandono, dentro de um pequeno re- cinto, vedado por um muro a esboroar-se, com uma porta desmanteliada. O estabele- cimento balnear (credite posteril) reduz-se a 3 pequenos tanques de pedra descobertos e com o fundo cheio de lodo,— aos lados pe- quenas e immundas barracas de madeira com grandes fendas,— 3 tinas de lata e 2 de paul. . . Completa o trem balnear uma panella de ferro, exposta ao ar livre, na qual se aquece a agua para os banhos de tina, que custam 2 a 3 reales (90 a 130 réis) mas já se paga- ram a pezeta (180 réis) cada um. Os de charco são gratuitos. Em todo o immundo quinteiro e na sua circumferencia até grande distancia não se vê uma única arvore. Parece que o sol der- rete as pedras! Não exageramos. As aguas para beber estão em melhores condições. Brotam de duas fontes na base de um obelisco a meio de um recinto circular, bem lageado de pedra e com assentos também de pedra em toda a circumferencia, achando-se ligado este recinto com a estrada real de Zamora por uma ampla e formosa avenida, de 300 metros talvez sobre 8 de largura,, em linha recta e com suave declive, muito bem traçada e muito bem arborisada por 4 or- dens d'arvores em toda a sua extensão, for- mando uma linda rua com 2 passeios ate- raes, terminando no obelisco da fonte, que lhe serve de remate e se vê do alto da gran- de avenida, apenas se deixa a estradx de Zamora. O obelisco termina em uma pyramida de 4 Taces com 4 inscripções. A que defnnta com a formosa avenida é muito lisonjeira para Portugal, pois diz: A ESPENSAS DEL Ge NERAL PORTUGUEZ, 1.° Conde d'Amarante l. Ano 1815. A segunda diz: Restaurada pela Villa de Verim Ano 1855. A terceira : Termo communal de Aredes. A quarta : Aguas acidulo- al- calinas analisadas por el Dr. Casares. Ano de 1854. Em plano um pouco superior á fonte está uma casa para o engarrafamento — e do ou- tro lado da quebrada um pequeno jardim e uma pequena alameda, tudo em abandono e cheio d'hervasl. . . Desculpem-nos a digressão. No dia 4 de julho de 1886 pesou sobre esta freguezia uma medonha trovoada e por essa occasião uma faisca eléctrica matou duas mulheres. Ao meu bom amigo e collega, o rev. sr. Henrique da Silva Machado, digníssimo rei- tor de S. Martinho de Bornes, agradeço os apontamentos que se dignou enviar-me. VILLAR ELHOS, — freguezia do concelho de Alfandega da Fé, comarca do Mogadou- ro, districto e diocese de Bragança, provín- cia de Traz-os-Montes. 1 V. Villa Real de Traz-os-Montes, vol. XI, pag. 1019, col. 2.a in-fine e seg. VIL VIL 1305 Vigairaria. Orago S. Thomé;— fogos iii, —habitantes 490. Em 1706 era da apresentação do dom ab- bade do convento cistersiense do Bouro; — pertencia ao termo e concelho d'Alfandega da Fé, comarca de Moncorvo, diocese de Braga,— e contava 70 fogos, Em 1768 era da mesma apresentação; — rendia para o pobre vigário 8#600 réis, alem do pé d'altar,— e contava 78 fogos. O censo de 1864 deu-lhe 91 fogoá e 412 habitantes» — e o de 1878 deu-lhe 107 fogos e 533 (1) habitantes. Demora em sitio ardente no alto do gran- de valle da Villariça e na margem esquerda da ribeira d'este nome, da qual dista 2 kilo- meiros para o nascente;— 8 d'Alfandega da Fé para O.N.O.; — 11 da margem esquerda do Tua e da linha férrea d'este nome, para E.;— 12 de Villa Flor para N.E.; — 35 da villa do Mogadouro para O.; — 50 da estação do Tua, na linha férrea do Douro, pela linha do Tua, prestes a abrir-se á circulação; — 189 do Porto — e 526 de Lisboa. Comprehende apenas 2 aldeias; — Villare- Ihos, a séde da paroehia, — e Santa Justa, parochia extincta, que em 1706 contava 25 fogos e era também da apresentação do dom abbade do mosteiro de Bouro. Ha também n'esta parochia duas grandes quintas: — Pae-voia (?) pertencente a Camillo de Mendonça, — e Olival d'El-Rei, perten- cente a Antonio Caetano d'01iveira, de Mon- corvo, um dos primeiros proprietários d'este districto, dono das quintas da Silveira e do Rego da Barca, na Villariça, onde já tem co- lhido 500 pipas de vinho, etc. — e também possue uma grande casa na freguezia de Santa Comba, concelho de Villa Flor, e em Moncorvo. Fregueziaslimitrophes:— Alfandega da Fé, Santa Comba, Villares e Pombal. Producções dominantes: — azeite, vinho, trigo, milho, feijões, melões, hortaliça e lã, pois cria bastante gado lanígero. O seu azeite, como todo o d'este valle da Villariça, é do melhor de Portugal e tem esta parochia um olival soberbo, que é o melhor da Villariça. Denomina-se Matta de Villare- Ihos e comprehende cerca de 5:000 oliveiras compactas, pertencentes a diversos. A egreja matriz é um templo singelo com 1 campanário e 2 sinos e um adro pequeno aberto. Fazem-se ainda hoje dentro d'ella os en- terramentos. Ha n'esta freguezia também 3 capellas pu- blicas e 1 particular;-r-esia pertence ao pa- lacete brazonado que foi dos morgados de Villarelhos e é hoje de Camillo de Mendon- ça, da nobre casa dos Mendonças de Abrei- ros, por haver casado com uma filha natu- ral e herdeira de parte da grande casa do ultimo morgado de Villarelhos, Francisco Antonio Pereira de Lemos, fallecido em 25 d'outubro de 1883 e que foi deputado ás cortes, presidente da camará municipal d'es- te concelho, etc, cavalheiro muito tractavel e muito caritativo. As outras capellas são: Santa Justa (a velha matriz) na aldeia d'este nome. Senhora das Annuncias (?) entre as po- voações de Villarelhos e Santa Justa. Santo Antão, no caminho do Pombal. A Chor. Port. mencionou 4 capellas na freguezia de Vil- larelhos—e uma na de Santa Justa,— total 6 capellas, alem das 2 egrejas parochiaes. Banham esta parochia a ribeira da Villa- riça—e um ribeiro que vem da freguezia do Pombal e desagua na Villariça. Begam, mas não moem, nos limites d'esta freguezia. Villarelhos, ecclesíasticamente, pertenceu ao arcebispado de Braga até 1882, data da ul- tima circumscripção diocesana;— adminis- trativamente foi sempre do concelho ^Alfan- dega da Fé;— judicialmente pertenceu á co- marca de Moncorvo, da qual passou para a de Chacim, e d'esta para a do Mogadouro. Não tem estrada alguma a macadam. Os edifícios prineipaes d'esta parochia são: — a casa que foi de Francisco Antonio Pereira de Lemos e é hoje dos seus herdei- 1306 VIL VIL ros, Camillo de Mendonça e Maouel da Costa Pessoa, irmão do 3.° conde de Vinhaes, Si- mão da Costa Pessoa Pinto Cardoso, *— e a que foi do morgado de Rio Torto, hoje dos seus herdeiros. Ambas são brasonadas, mas a 2." está em ruinas. Tem esta parochia uma aula ofíicial de instrucção primaria para o sexo masculino — e uma feira annual, denominada de S. Thomé, no dia do padroeiro, 21 de dezem- bro. O nome ofíicial d'esta parochia é Villare- Ihos, mas alguém a denominou já Villarelho e Villarelho.. No dia 23 de junho de 1885 pesou sobre este concelho, nomeadamente sobre esta fre- guezia e sobre a de Pombal, uma trovoada medonha, acompanhada de graniso, que des- troçou os vinhedos e todos os renovos dos campos, causando prejuisos avaliados em muitos contos de réis. VILLARES, ou Villares de Murça, — fre- guezia do concelho de Murça, comarca de Alijó, districto de Villa Real, diocese de La- mego, província de Traz-os-Montes. Reitoria. Orago Nossa Senhora das Neves; —fogos 126— habitantes 540. Em 1768 era vigairaria da apresentação do reitor de Tres Minas;— contava 101 fogos — e rendia para o vigário 60$000 réis. O censo de 1864 deu- lhe 123 fogos e 506 habitantes,— e o de 1878 deu-lhe 129 fogos e 485 habitantes. Pertenceu ao concelho d'Alfarella de Jal- les, extincto por decreto de 31 de dezembro de 1853, pelo qual passou para o de Murça. Demora parte d'esta freguezia em alta campina e partej em agreste montanha, na margem direita do rio Tinhella (confluente do Tua) do qual dista 3 kilometros para O.; —7 de Murça para N. O.;— 21 d'Alijó;-32 da estação do Pinhão (a mais próxima) na 1 V. Vinhaes. O mencionado Manuel da Costa Pessoa casou com a ex.m" sr.a D. An- tónia de Vasconcellos Pereira de Lemos, so- brinha e herdeira principal do morgado de Villarelhos, Francisco Antonio Pereira de Lemos. linha férrea do Douro ; — 159 do Portelo — e 496 de Lisboa. Comprehende as aldeias seguintes:-— Vil- lares, séde da parochia, — Asnella e F Fonte Fria. Não tem quintas nem casaes dignenos de menção. Freguezias limitrophes:— Carvas, Fii^iolho- so, Alfarella e Jou. Esta ultima demoiora na margem esquerda do Tinhella. Producções dominantes: — centeio, n milho, batatas, castanhas e lã, pois tambemm cria bastante gado lanígero. Também produziu algum vinho, umas a phylloxera destroçou completamente osos seus | vinhedos, como a maior parte dos> 6 d'esta I província, principiando pelos do Douroro, pelo \ que esta freguezia, que foi sempre p pobre, j mais pobre ficou. Os seus templos reduzem-se á egnejejama- i triz e duas capellas publicas, que nadada teem digno de especial menção. Banham esta freguezia o Tinhella e e 2 ri- beiros que nascem nos montes d'Alfairerella de Jalles e desaguam no Tinhella. Não mmovem moinhos, nem azenhas, nem fabricais.is. Sim-j plesmente regam alguns campos. Não tem estrada alguma a macaalaiam. Os seus caminhos são os mesmos barramencos do] tempo dos mouros. Não tem edifícios dignos de mençiãoão, nem cemitério. Os enterramentos fazem-sseje aind na egreja parochial. É povoação muito antiga. No sitio de Valbom, cerca de 3 Ikikilom tros a N. da matriz, no alto de urm n monte sobranceiro ao Tinhella, estão as ruiiuinas def um Castello antiquíssimo, de cantarha ia lavra» da,— e, a juzante d'aquellas ruinass, s, se vá junto do rio Tinhella o busto de uimma mu- lher, esculpido em um grande penecdGdo. O clima é áspero e frio. Terminaremos dizendo que esta p>aDarochia pertenceu á comarca de Villa Pouca dl\d'Aguiai antes de passar para a de Alijó— ee e á dio| cese de Braga até 1882, data da ultiinima cir cumscripção diocesana. VILLARES ou Villares de Trancossoso e Ma çal da Ribeira, freguezia do concellhcho e co VIL VIL 1307 marca de Trancoso, districto e diocese da Guarda, província da Beira Baixa. Abbadia. Orago Nossa Senhora da Graça; —fogos 116 na antiga parochia dos Villares e 42 na de Maçai da Ribeira, sua annexa, — total 158 fogos e 650 habitantes. Em 1708 esta freguezia de Villares era um simples curato annexo á egreja de Santa Maria de Guimarães da Villa de Trancoso e da apresentação do respectivo abbade;— per- tencia ao concelho de Trancoso, comarca ou corregedoria de Pinhel,— e contava 84 fogos, — emquanto que a parochia de Maçai da Ri- beira, orago Nossa Senhora da Conceição, era na mesma data abbadia do padroado real,— pertencia ao mesmo concelho e co- marca,— contava 30 fogos,— e eram ambas do bispado de Vizeu. Em 1768 a freguezia de Villares era um curato da mesma apresentação e da mesma diocese;— rendia para o cura 30$000 réis — e contava 80 fogos,— emquanto que Maçai da Ribeira era abbadia do padroado real e da mesma diocese de Vizeu; — rendia réis !50#000— e contava 34 fogos. O censo de 1864 deu a Villares HO fogos e 411 habitantes— e a Maçai da Ribeira 37 fogos e 128 habitantes;— o censo de 1878 deu ás duas parochias, já civilmente unidas, 155 fogos e 582 habitantes. Ha muito que a freguezia de Maçai da Ri- beira (V.) estava civilmente unida a esta de Villares e não v. v. como por lapso o meu antecessor disse, mas por decreto de 3 de fevereiro do corrente anno de 1886 ficou annexada e unida civil e ecclesiasticamente a esta de Villares, com a denominação, com - mum de Nossa Senhora da Graça de Villa- res. Absorveu, pois, o curato de Villares a abbadia de Maçai da Ribeira. Comprehende as aldeias seguintes:— Vil- lares, séde do antigo curato e da abbadia actual, Broca e Maçai da Ribeira, abbadia extincta. Freguezias limitrophes:— Maçai do Chão (concelho de Celorico da Beira) Villa Franca das Naves e Carnicães do concelho de Tran- coso, Bouça, Cova e Serejo, do concelho de Pinhel. Producções dominantes: — vinho bom de mesa ou de pasto, azeite, centeio, milho, fei- jões, batatas, castanhas e lã, pois também cria gado lanígero. Esta parochia pertencia ao bispado de Vi- zeu;— em 1770, data da creaçào do bispado de Pinhel, ficou pertencendo a este bispado, — e em 1882, datada ultima circumscripção diocesana, que extinguiu o bispado de Pi- nhel, passou para o da Guarda. Demora esta freguezia na margem esquer- da da Ribeira de Maçoeime, confluente do Côa, da qual dista 1 kilometro a egreja de Villares para O.S.O.; — 2 da estação de Villa Franca das Naves (a mais próxima) na li- nha da Beira Alta;— 10 e Trancoso para S. E.;— 25 da Guarda pela estrada a maca- dam e 32 peia linha férrea; — 239 do Porto — e 363 de Lisboa pelas linhas da Beira Alta e do Norte. Estas distancias devem variar logo que se construa a linha férrea projectada e em es- tudos, tendente a ligar a linha da. Beira Alta com a do Douro e a estação de Villa Franca das Naves com a da Regoa, pelas proximi- dades de Lamego, Moimenta da Beira e Trancoso. Tem esta freguezia duas egrejas: — a ma- triz de Nossa Senhora da Graça, templo es- paçoso, bem tractado e um do3 melhores d'este concelho;— a de Nossa Senhora da Conceição, extincta matriz de Maçai da Ri- beira,— e uma capella publica de Nossa Se- nhora da Graça. Banham esta parochia a ribeira de Ma- çoeime e alguns pequenos regatos que des- aguam na mencionada ribeira;— e atraves- sam esta freguezia a linha da Beira e a es- trada a macadam em construcção de Tran- coso á Barca d' Alva. Tem esta parochia uma azenha para moer azeitona — e uma eira para malhar e seccar o pão, — eira notável, por ser muito espaçosa e tanto que n'ella se malha o pão de toda a freguezia, — e por ser formada de uma só pe- dra,— um penedo immenso com a superfície plana e óptima exposição. Está junto da aldeia de Villares e vê-sa perfeitamente, como nós já a vimos, da linha 1308 VIL VIL férrea, que passa a menos de i kilometro de distancia.' Ergue-se a N. d'esta freguezia a serra da Broca. Nada tem digno de menção. Ha finalmente n'esta parochia uma nas- cente d'aguas sulfúreas frescas, de que os povos da circumvisinhança fazem uso para tractamento do rheumatismo e de moléstias cutâneas. Foi natural d'esta parochia Fr. Domingos de Santa Maria, religioso agostinho descalço (grillo) de muita illustração e virtude. Professou no convento de Monsaraz no dia 17 de junho de 1677. No mesmo anno professaram na dieta or- dem 23 religiosos. O dia 29 de junho de 1885 foi um dia de regozijo para os habitantes d'esta parochia, porque, andando em visita á sua diocese o sr. D. Thomaz, bispo da Guarda, e tendo vi- zitado nos dias 21 e seguintes as restantes freguezias do arcyprestado d'Alverca, no mencionado dia 29 vizitou pessoalmente esta de Villares, que pertenceu ao dito arcypres- tado. Aqui, como em todas as outras freguezia9 que acabava de visitar, foi pomposamente recebido com musica, foguetes e flores; — jantou com a sua comitiva na casa do rev. abbade Francisco Ferreira d Albuquerque; por essa occasião brindou ao clero d'este arcyprestado, agradecendo as demonstrações de consideração e estima com que tanto o confundira, — e seguiu para Trancoso, onde chegou pelas 9 horas da noite do mesmo dia, sendo esperado a distancia por muitos ca- valheiros|e habitantes da villa, que o acom- panharam com uma philarmonica. Toda a villa estava illuminada e subiram ao ar nnuitas girandolas de foguetes. No dia seguinte fez a sua entrada solemne e deu principio á vizita d'aquelle arcypres- tado. V. Trancoso n'este diccionarío e no sup- plemento. VILLAKES— ou Villares da Villariça, — freguezia do concelho de Alfandega da Fé, comarca do Mogadouro, distrieto e diocese de Bragança, província de Traz- os Montes. Reitoria. Orago Santa Catharina; — fog09 130,— habitantes 560. O censo de 1864 deu-lhe 120 fogos ( e 540 habitantes,— e o de 1878 deu-lhe 128* fogos e 550 habitantes. Comprehende as aldeias seguintes:-; — Vil- lar de Baixo, séde da freguezia, com 60 fo- gos;— Villar de Cima com 40, em plaanoum pouco superior, distando de Villar de i Baixo cerca de 400 metros, — e Colmeaes, ccom 30 fogos, distando da matriz cerca de 3 ktilome- tros de caminho péssimo, pelo que aas pes- soas que ali fallecem são ali mesmo ; sepul- tadas na capella de S. Lourenço, , antiga matriz d'esla aldeia, que foi outr'ora ( curato e ainda hoje se chama annexa. V. Colmêas. Villar de Cima em 1706 contava 10) fogos, 2 capellas e 2 fontes e, segundo se 3 lê na Chor. Port. parece que também foi currato da apresentação do abbade da villa d'A!faandega da Fé. Villar de Baixo n'aquelle tempo ccontava 46 fogos; — tinha uma egreja parochiaal, 2 er- midas e 5 fontes — e era da apresentaação do mosteiro cysterciense de Bouro. Em 1768, segundo se lé no Portugqal S. e Profano, parece que Villar de Cima, , Villar de Baixo e talvez a aldeia de Colmeeaes já constituíam esta freguezia, ali denonminadá Villares, bispado de Miranda, mas tinnha co- mo orago S. Bartholomeu apostolo; — era da apresentação do reitor de Ala; — «tsenu cura tinha 6$000 réis de côngrua, alem ddo ren- dimento do pé d'altar, — e contava 188 fogos apenas !. . . Segundo se lé no Mappa EstatisUtico do 1840, — na Chorographia Moderna, vvol. 1.* publicado em 1874, — e na Estatística % Paro- chiai (collecção dos relatórios dos panrochos, existente na secretaria da justiça e < que se refere a junho de 1862) — esta fregueszia de- nominava-se Villar de Baixo e tinhata como* orago S. Bartholomeu, mas depois ( que se*; lhe annexou o Villar de Cima, tomaou das duas povoações de Villar o titulo dee Villa- res e substituiu o seu antigo orago, S S. Bar- tholomeu, por Santa Catharina. Iststo não* se harmonisa muito bem com o qque se» VIL VIL 1309 lê no Portvgal S. e Profano, que jàem 1 768 lhe deu o titulo de Villares, tendo ainda en- tão como orago S. Bartholomeu. Talvez que ainda n'aquella data não comprehendesse os 2 Villar es e Colmeaes, porque a sua popu- lação total era de 18 fogos apenas; mas o Port. S. e Profano também não menciona aquellas 2 povoações como parochias inde- pendentes. Valha-nos a Senhora do Monte do Car- mo I . . . Demora esta freguezia em terreno alto, vistoso, alegre e saudável no cimo do valle da Villariça, nas faldas da serra de Bornes ou da Burga, precisamente na estrada de Mi- randella para Alfandega da Fé, entre a ri- beira da Burga, que nascena freguezia d'este nome e banha a dos Villares pelo nascente, — e ribeira de Villar que a banha pelo poente, — as quaes a distancia de 2 kilome- tros de Villar de Baixo se unem e formam a ribeira de Santa Comba, principio da gran- de ribeira da Villariça, confluente do Sabor. O Villar de Baixo, que não se encontra nos meus mappas, dista 10 kilometros d'Al- fandega da Fé, para O. N. O.;— 12 da esta- ção de Villa Flor na licha férrea do Tua, prestes a abrir-se á circulação, para E.;— 15 de Villa Flor para N. E.;— 35 do Mogadouro para O. N. O.;— 45 da estação do Tua na linha férrea do Douro;— 184 do Porto— e 521 de Lisboa. Freguezias limitrophes: — Santa Comba, Villarelhos e Pombal. Producçòes dominantes : — azeite, vinho, trigo, amêndoas, óptimas laranjas, hortaliça e lã, pois também cria gado lanígero. O seu vinho era excellente como vinho de pasto, mas hoje está reduzido a zero, porque a invasão phylloxerica destroçou os seus vi- nhedos. Também produz muita cortiça, porque abunda em sovereiros e pinheiros. Só um pinhal pertencente ao visconde de Paradinha vale mais de 30 contos de réis ! . . . Em Villar de Baixo tem 2 fontes d'arco de pedra,— ambas com muita agua potavtl — e uma d'ellas com tanque e lavadouro. ' VOLUME XI I Segundo se lê algures, os habitantes d'esta povoação teem os dentes negros e podres com a maléfica influencia da agua da fonte denominada Fontareja, que abastece a maior parte do povoado. Clima saudável '. Não ha memoria de en- trar aqui epidemia alguma. Contrasta n'este ponto com a baixa da ribeira da Villariça, onde, como logo diremos, tremem sesões os gatos, as gallinhas e 03 cães!... O aspecto dos Villares é lindíssimo, por ter boa exposição e bons edifícios, quasi to- dos caiados, avultando entre elles a casa que foi do capitão-mór d'Alfandega da Fé, Ma- nuel Joaquim de Sousa Pimentel, — a dos herdeiros de* Manuel Caetano Beymão — e á de José Saraiva, de Almendra. Todas 3 são brasonadas. A povoação de Villares (Villar de Baixo) nunca foi murada nem teve as honras de villa, mas abundou sempre em nobresa e famílias imporlantes de appellidos Botelho, Beymão, Sousa, Miranda, etc. Também consta que no Villar de Cima houve 6 casas nobilíssimas de cavalleiros de espora dourada!... Assim o aííirma ainda hoje a tradição local. É certo que cutr'ora se viveu esplendi- damente aqui. Os Villares eram uma corte na aldeia, — o rendez-vous da nobreza cir- cumvisinha. A egreja parochial é um bom hmplocom altar-mór e dois lateraes, alem da capella do Senhor da Cruz, unida á egreja, e com porta interior para ella. A egreja está muito limpa e muito bem conservada, porque foi ha pouco tempo soa- lhada de novo a madtira e cantaria, e res- taurada com um importante legado que lhe deixou o vigário Carriço, de Villar de Baixo. Alem da capella do Senhor da Cruz, ha n'esta povoação, e já no caminho de Santa Comba, uma capella de S. João Baptii-ta com galilé,— e houve outra com a invocação de S. Roque, mas pelo meado d'este século a 1 Assim o diz o meu informador, mas se- gundo se lê algures, também aqui não fal- tam sezões ! . . . 83 1310 VIL VIL família Miranda, hoje representada pelo vis- conde de Paradinha e que tem aqui um grande casal, demoliu-a, ou fez com que al- guém a demolisse, e incorporou o seu chão na quinta que aqui possue. Ha também no Villar de Cima 2 capellas: — uma de Santa Marlha, no centro da po- voação,— outra da Senhora do SoccorrOi em um alto a montante da dieta villa. Está mui- to bem tractada e pintada de novo— e tem lu- zida festa com romagem no mez de setem- bro. Ha também na povoação dos Colmeaes a capella de S. Lourenço, — e em Villar de Bai- xo um grande cruzeiro de pedra na estrada- rua denominada do Cruzeiro e que é a me- lhor da povoação. Esta freguezia pertenceu á grande comar- ca de Moncorvo, da qual passou para a de Mirandella e dVsta para a do Mogadouro. Tem residência, mas não tem cemitério. Os enterramentos ainda hoje se fazem na matriz. Ha no termo d'esta parochia varias minas registradas— e uma de galena (?) e outros metaes em via de exploração. As trovoadas aqui não costumam causar da beira-mar para E.;— 2 de Nevogil- de para N. E.;— 2 de Ramalde; — 2 de Lor- dello; — 3 de Mattosinhos— e 5 do Porto. O chão d'esta freguezia é suavemente on- dulado, mimoso, saudável e fértil. Produz muito milho, vinho verde, frueta, hortaliça e hervagens, pelo que lambem engorda mui- to gado bovino, que exporta para a Inglater- ra, posto que hoje esta industria se acha decadente. V. Villar de Andorinho. Na manhã de 9 de julho de 1884, atra- vessando a povoação da Villarinha uma lei- teira, de nome Joaquia Reivas, ainda joven, um seu conversado, louco de ciúmes, dispa- rou sobre ella á queima-roupa um tiro de rewolver, ferindo-a mortalmente. Concluiremos dizendo que em todo o nos- so paiz não ha outra povoação com o nome de Villarinha. Temos muitas denominadas Villarinho, mas Villarinha só esta. Conversados E' costume em volta do Porto, n esta fre- guezia de Aldoar e em toda a província do Minho, entreterem-se os filhos e filhas do campo (maneis e lavradeiras) com reque- bros e amabilidades, conversando ou na- morando francamente desde a infância em toda a parte, de noute e de dia,— nas ruas, na lavoura, nos araiaes e nas feiras. Estão por vezes horas e horas conversan- do em prosa e em verso delambido, coi- sa muito interessante para os estranhos á classe- Conversam por entretenimento e simples distracção, muitas vezes sem intenção de ca- sarem,—outras vezes por affeição e paixão. Conversam ordinariamente elles e ellas com quem lhes apraz—e é luxo e capricho — terem muitos conversados, em quanto sol- teiros. Nem os paes d'ellas se offendem e magoam com isso, uma vez que o conversado seja forma do seu pé, ou da sua igualha, — isto é: — moço com quem possa vir a casar. Ai delias, se as virem a conversar com os , VIL 1317 casaquinhas ou janotas da cidade, — e ai d'el- les, se os apanham a geito !. . . Ha também conversados ou namoros nas aldeias que nem casam nem se desligam du- rante muitos annos, o que é um castigo para as pobres moças, porque vivem presas ao massador que as requesta, expostas a ficar inuptas e a descrédito, insultos, affronlas e desgostos, como succedeu á da Villarinha. Também consta que os maneis, ou moços do campo, em outro tempo eram todos dis- cípulos de Platão, extremamente pudibun- dos e honestíssimos nos seus namoros, em- quanto que hoje (graças ao progredior e aos jornaes de 10 réis!) todos lêem pela cartilha de Zola e não faltam por lá desgosiosl. . . VILLARINHO, ou Villarzin ho,— Este ter- mo foi outr'ora, como villar, diminutivo de villa, na accepção de aldeia, povoação, ca- sal ou quinta, mas ha muito designa tam- bém parochias, povoações importantes e vil - las na accepção hodierna. Para evitarmos repetições, vejam-se os ar- tigos Villar e Villa. VILLARINHO,— aldeia e freguezia. Temos em Portugal 76 aldeias, 15 fregue- zias, 8 casaes e3 quintas com o nome de Yil- larinho, mas, para não fatigar os nossos lei- tores, mencionaremos apenas os Villarinhos seguintes : VILLARINHO, — aldeia da freguezia de Barrô, concelho de Rezende, distncto de Vi- zeu, província da Beira Alta. V. Villar, aldeia da mesma freguezia de Barrô. VILLARINHO,— aldeia da freguezia de Ca- pelludos, concelho e comarca de Villa Pou- ca d'Aguiar. V. Capelludos. O censo de 1864 deu a esta freguezia 235 fogos e 1:097 habitantes— e o de 1878 deu- lhe 258 fogos e 1:178 habitantes. Comprehende as aldeias seguintes: — Ca- pelludos, séde da parochia,— Freixrda, Vil- larinho, Adegos— e as quintas e casaes se- guintes, quasi todos habitados : — Lama da Bouça, Vallongo, Cocheiro, Bubana, Porto do Carro, Paço, Regada, Assureira, Bouças, Avi- lhão e 3 moinhos na margem esquerda do Tâmega. 1318 VIL Suppomos que a povoação de Villarinho, j hoje pertencente a esta freguezia, é uma das que foram comprehendida9 no foral que D. Manuel deu á villa de Aguiar da Pena, hoje representada pela de Villa Pouca d' Aguiar. Vejam-se estes dois artigos. Segundo se lê nas Inquirições de D. Af- fonso III, fl. 77, 78 e 80,— e na Historia de Portugal, de Alexandre Herculano, tomo 2.° pag. 496, a mencionada aldeia de Villarinho denominou-se Povoa de Villarinho; — foi fun- dada em terreno furtado á coroa, — e, deman- dando o juiz Gonsalvinus aquelle terreno, Gonçalo Nunes matou o. Foi lhe tomado por D. Sancho II. bem como Villa Pouca d'Aguiar, também fundada em terreno da coroa, ou reguengo, mas o mesmo rei depois restituiu as duas povoações á família do assassino, dando-as em prestamo a D. João Fernandes e a D. Nuno Fernandes d'Orzibon, casados com duas tias de Gonçalo Nunes. Tal era a prepotência dos fidalgos e ricos - homens n'aquelle tempo I . . . Alexandre Herculano (logar citado) apon- ta outros muitos factos semelhantes, ainda mais escandalosos. Fui natural d'esta freguezia de Capelludos o tristemente celebre Luiz Antonio Alves, por alcunha o Negro, salteador e assassino e que foi o ultimo carrasco que houve no nos- so paiz. Para evitarmos repetições, veja-se o ar- tigo Villa Pouca d' Aguiar, vol. 10 pag. 906, col. 1 4 VILLARINHO,— aldeia da freguezia de Ca- cia, concelho, comarca e districto d'Aveiro, diocese de Coimbra. V. Cacia, vol. 2.°, pag. 26, col. 1 4 Pela ultima circumscripção diocesana de 1882 foi supprimida a diocese d'Aveiro, pas- sando esta freguezia de Cacia e outras mui- tas da extincta diocese para a de Coimbra ; — as restantes passaram para a diocese do Porto. Comprehende esta parochia as aldeias se- guintes:— Cacia, a séde da freguezia,— Quin- tão, Sarrazolla, Povoa do Paço e Villarinho. N'esta ultima aldeia deu-se em 14 de junho VIL de 1875 um facto digno de mensão e que um- jornal de Aveiro descreveu nos termos se- guintes : Quando, em cumprimento de um voto, se se celebrava na capella de Villarinho uma fes- ta a Santo Antonio, inflammaram-se muito* foguetes e uma porção de pólvora que esta- vam junto da capella, a qual se encheu litte- ralmente de fumo e correu imminente risco de ser pasto das chammas. O povo que a en- tulhava ficou tranzido de susto e tratou de fugir, mas com a precipitação muitas pessoas foram a tropel ladas e chamuscadas e outras ficaram feridas. Durava ainda a missa, mas o pregador já tinha concluído o sermão e estava no peque- no côro. Era elle o rev. Manuel Simões Jú- nior que, vendo-se asfixiado pelo fumo e não podendo fugir pela porta do côro, pre- cipitou-se sobre o pavimento da capella, fi- cando sem sentidos, mas, depois que respi- rou a*r livre, volveu ao estado normal. Felizmente o fogo não se eommunicou ás decorações e armação da capella, aliás faria muitas victimas. VILLARINHO, — freguezia do concelho e comarca de Villa Verde, districto e diocese de Braga, província do Minho. Reitoria. Orago S. Mamede;— fogos 106 — habitantes 458. Em 1706 era viga iraria da apresentação do reitor de Caldellas, quando não renun- ciava; — pertencia ao extincto concelho de Pico de Regalados, comarca de Vianna ; — era annexa á reitoria de Caldellas,— e con- tava 80 fogos. Em 1768 era da mesma apresentação; — rendia para o seu vigário 40$000 réis— e con- tava 50 fogos,— segundo se lê no Port. S. e Profano. O censo de 1864 deu-lhe 91 fogos e 334 habitantes— e o de 1878 deu-lhe 81 fogos e 355 habitantes. Pertenceu ao concelho de Pico de Regala- dos até 1855, data em que foi extincto aquel- le concelho e passou para o de Villa Verde. Esta freguezia demora em terreno suave- mente ondulado, mimoso e fértil, na margem direita do rio Homem, do qual dista cerca VIL VIL 131& de 3 kilometros para N. O.; — i a E. da es- trada real a macadam n.° 3, do Porto a Va- lença do Minho por Braga, Villa Verde e Monsão; — 10 de Villa Verde, para N. N. E.; —21 de Braga;— 76 do Porto e 412 de Lis- boa. Comprehpnde as aldeias seguintes:-Egre- ja, séde da parochia, Escada, Santar, Valli- nhos, Real, Paulo e Pomar. Freguezias limitrophes: — Saúde, a E.; — Athaes, a N.;— Pico (S. Christovam) a S.;— e S. Miguel de Prado, a O. ProdueçÕes dominantes: — milho, conteio, feijão, vinho, azeite e fructa. Atravessa esta freguezia de N. a S. um ri- beiro que, depois de engrossar com outros, desagua no rio Homem, confluente do Cava- do, no sitio da Malveira, ou Malbeira, segun- do o dialecto minhoto. Templos 1. ° — A Egreja matriz. É muito antiga e acha-se em deplorável estado 1 Tem confraria do Santíssimo, erecta por Antonio de Lima Abreu, F. C. R. e senhor da nobre casa e quinta do Paço, freguezia de Athaes. 2. °— Capella do Horto. 3. ° — Capella do Senhor da Cana Verde. 4. ° — Capella do Encontro. 5. ° — Capella do Calcaria, ou Santa Luzia. Todas estas quatro capHlas são publicas. Ha lambem nVsta parochia differentes ni- chos com alguns Passos do R^demptor e que dão muito brilho á procissão de Passos, a mais apparatosa que se faz n'esta freguezia e nas circumvizinhas, de dois em dois an- nos. Pessoas notáveis — Dr. Joaquim Antonio de Meirelles, da aldeia de Santar. Concluiu a sua formatura em direito ci- vil e canónico no dia 13 de junho d« 1770; — casou com D. Custodia Serqueira Lobo e teve entre outros filhos o seguinte: — Dr. Jacome Antonio de Meirelles, bacha- rel formado em direito e que nasceu em 8 d'abril de 1784. Antes de se matricular na Universidade de Coimbra estudou theologia eom muito aproveitamento no collegio do Populo, em. Braga, — e concluiu a sua formatura em & de junho de 1812. Exerceu vários cargos municipaes e o de juiz muitas vezes com a maior dignidade ;. foi superintendente das decimas, quintos e novos impostos no extiocto concelho do Pico de Regalados e nos de Villa Garcia, Terras de Bouro, Santa Martha de Bouro, Amares e seus respectivos cotos, sempre com a maior inteiresa e augmento da real fazen- da, sem escandalisar nem maguar pessoa alguma, pelo que era geralmente estimado e considerado por clero, nobresa e povo. Differentes vezes lhe offereceram colloca- ção na magistratura, antes de 1834, mas. nunca o poderam resolver a abandonar a sna casa e a sua família. Foi durante quarenta e tantos annos advo- gado e tão distincto que recebia consultas de toda a comarca de Vianna e das circum- visinhas. inclusivamente de Braga, do Porto, e de Lisboa!. . . Escreveu e publicou na typographia bra* carense em 1846 um Repertório Jurídico, or- ganisado por ordem alphabetica, era 2 voL 4.°, tendo o 1.° 282 paginas, e o 2.° 382. É obra de muito merecimento. Compre- hende muitas occorrencias forenses mais importantes, — algumas alterações da Refor- ma Judiciaria e da Novíssima, um appendi- ee explicativo das mais communs abrevia- turas das Lettras da Sagrada Penitenciaria — e outro appendice com os deveres da ma- gistratura. Escreveu também como additaro °i \< seu Repertório — Consultas Jurídicas Prati- cas, obra interessantíssima que deixou em ms. e comprehende 158 consultas importan- tes, tratadas com amplo desenvolvimento, indicando as opiniões dos mais abalisados jurisconsultos e emittindo a sua. È um trabalho muito semelhante ao que deixou o distinctissimo advogado de S. Ro- mão de Armamar, Dr. João Marta Mergu- lhão Neves Cabral, ao seu jllustrado ama- nuense e amigo, Joaquim Ferreira dos San- 1320 VIL VIL tos Rego, hoje sollieitador no Porto,— tra- balho pelo qoal já lhe offereceram seis cen- tos mil réist . . . V. liomão (S.) de Armamar e — Moimenta da Beira. O dr. Jacome Antonio de Meirelles, foi, como o seu collega e contemporâneo dr. Mergulhão, um cavalheiro estimabilissimo, de bons costumes moraes, religiosos e civis, — sempre amante da paz e tranquillidade publica, e falleceu no dia 12 de maio de 1853. i Deixou entre outros os filhos seguintes: — Dr. Antonio Miguel de Meirelles, bacha- rel formado em direito. Concluiu a sua' fortuua pouco antes da morte de seu bondoso pae; — vive na casa paterna — e tem sido varias vezes juiz de di- reito substituto na comarca de Villa Verde. — José Manuel de Meirelles, hábil phar- maceutico, estabelecido na freguezia de Fer- reiros, em Amares, — e o — Rev. Balthazar José de Meirelles, resi- dente no patriarchado. São 3 cavalheiros de muito merecimento. Qui viget in foliis venit e radicibus hu- mor!. . . VILLARINHO, — ou Villarinho das Fur- nas,— freguezia extincta, huje simples aldeia da freguezia de S. João do Campo, concelho de Terras de Bouro, comarca de Villa Verde. V. Villarinho das Furnas. VILLARINHO, — freguezia do concelho e comarca de Santo Thyrso, districto e dio- cese do Porto, na província do Douro. Reitoria;— orago S. Miguel;— fogos actual- mente 220,— almas 900. Em 1706, segundo se lê na Chorographia Portugueza, contava apenas 70 fogo.*;— em 1729, segundo se lê na Geogr. Hist. de Lima, contava ISO fogos e 357 almas,2— e em 1768 segundo se lê no Portug. S. e Prof. era da 1 O dr. João Maria Mergulhão Neves Ca- bral, primo do humilde auctor d'estas li- nhas, falleceu no dia 21 de novembro de 1883. 2 Não ha proporção entre os fogos e almas, — nem é crivei que em 23 annos (de 1706 a 1729) esta freguezia subisse de 70 fogos a 150! apresentação do mosteiro de Landim— e con- tava 159 fogos. O Maviense em 1852 deu/lhe 189 fogos; —o censo de 1864 deu-lhe 190 fogos e 704 habitantes,— e o de 1878 deu-lhe 217 fogos e 767 habitantes. Augmentou pois a sua população desde 1706 até hoje, ou nos últimos 180 annos,— 150 fogos. Passou alem do triplo. Pertenceu civilmente ao termo e á grande comarca de Guimarães; — depois passou para o cjucelho de S. Thomé de Negrellos,— e, extincto este concelho pelo decreto de 24 de outubro de 1855, pasmou para o de Santo Thyrso. Eeclesiasticamente foi do arcebispado de Braga até 1882, data em que pela ultima circumscripção diocesana passou para o bis- pado do Porto com todas as freguezias do actual concelho de Santo Thyrso, exceptu- ando as de Areias, Aves, Lama, Sequeiro e Palmeira, que ficaram pertencendo ao arce- bispado de Braga, por estarem na margem direita dos rios Vizella e Ave, que ao norte são a linha divisória da diocese do Porto 1- S. Miguel de Villarinho está na margem esquerda do Vizella, do qual dista (a egreja parochial) cerca de 1 e meio kil.ometro; — 2 e meio da estação de Lordello (a mais pró- xima) na linha férrea de Guimarães;— 15 de Santo Thyrso, para E.;— 46 do Porto— e 383 de Lisboa. Freguezias limitrophes: — S.. Salvador e S. Martinho do Campo, S. João de Vizella, S. Thiago de Lustosa e S. Mamede de Negrel- los. Comprehende 8 povoações ou aldeias:— Mosteiro, séde da freguezia,— Burgo, Eiró, Villa Lobos, Agoeiro, Paradella, S. Silvestre, Lage— e as quintas seguintes: 1.»— Mosteiro, hoje de Manuel Neto Gui- marães. 1 Esta linha não comprehende todo o Ave, mas só a parte a juzante da freguezia de S. Miguel das Aves,— ou depois que recebe em si o Vizella. VIL VJL 1321 2 '—Burgo, hoje de Antonio Barbosa Coe- lho. 3.a— Quinta, hoje de Antonio da Silva Ma- chado. k.*—Idanha, hoje de D. Joanna Ferreira da Cunha. 5.a— Abrego, hoje de Antonio Augusto Al- ves Monteiro. A Chorographia Moderna do sr. João Ma- ria Baptista menciona também os casaes de Choto, Abrego, Bufo, Chadeiro, Casa Nova, Campo, Agoeiro, Quinta e Lage— e trinta e tres aldeias, que são com toda a certesa al- deias de mais 1 Os seus templos reduzem-3e á egreja ma- triz, da qual adeante faltaremos,— e a 2 ca- pellas publicas:— uma de Nossa Senhora das Dores, na aldeia de Paradella— outra de S. Pedro, na serra d'este nome, a N. E. da ma- triz,— capella muito antiga, já mencionada pelo padre Carvalho, !— e junto d'ella se viam ruinas de fortificações que o povo attribuia aos mouros,— diz elle. Banha esta freguezia peio lado N. o Vi- zella, que morre no Ave, a distancia de 12 kilometros, e não tem pontes nos limites d'esta parochia, mas somente 5 moinhos e azenhas com muitas rodas e um engenho de maçar linho. Producçòes dominantes: — vinho verde e cereae3. Tem uma aula official de instrucção pri- maria para o s^xo masculino. Alem do monte de S. Pedro, a leste, ha também n'esta freguezia o de Regadas, a sul. Clima bom. Não ha aqui doenças predo- minantes. Os tres primeiros proprietários d'esta fre- guezia na actualidade são:— Antonio Barbo- sa Coelho, Antonio da Silva Machado e An- tonio Augusto Alves Monteiro. É seu parocho actual o rev. Joaquim Do- mingos Machado. A egreja matriz Da Real Associação dos Architectos civis e ' Da capella de S. Pedro só existem hoje os alicerces. 1 Archeologos portuguezes, da qual temos a honra de ser o mais obscuro sócio, acaba- mos de receber o n.e i do seu Boletim (5 0 vol. da 2.* série) com uma bella photogra- phia representando a egreja de que no mo- mento nos occupamos, — egreja interessan- tíssima pela sua arehitectura e antiguidade, como se vê do artigo que no mesmo numero do Boletim mencionado publicou o sr. Joa- quim Possidouio Narciso da Silva, nosso bom amigo e mestre, fundador e presidente d'a- quella Real Associação. O mencionado artigo é textualmente o se- guinte: «A remota egreja de Villarinho de S. Ro- mão,1 na província do Douro, districto de Santo Thyrso, (aliás concelho de Santo Thyr- so, districto do Porto) é um dos poucos exemplares do typo da arehitectura Roman que existem, em Portugal, do século xii; per- tencendo ao numero dos cem edifícios reli- giosos que foram construídos durante o rei- nado do prim iro soberano de Portugal, D- Affonso Henriques. 2 Não somente por esta circumstancia, mas pela origem da sua ar- ehitectura, a mais remota que ha no reino5 se faz recommendar, tanto para servir de estudo architectonico, como para a historia artística e archeologica de Portugal. «Examinando a photogra phia que repre- senta fsle edifício religioso, nola-se lhe um aspecto severo, porem característico do atra- so civilisador na fundação da monarchia, em que a rudez do povo curava mais de conso- 1 Salvo o respeito devido ao meu sábio presidente, amigo e mestre, não posso dei- xar de dizer que esta egreja se deriominou sempre e denomina ainda hoje — egreja de S. Miguel de Villarinho. A de Villarinho de S. Romão pertence ao concelho dn Sabrosa, districto de Villa Beal, província de Traz-os-Moutes. Desculpe-nos s. ex.» por quem é. 2 Esia egreja, segundo se lê na Chronica dos Cónegos Regrantes por D. Nicolau de Santa Maria, tomo 1.° pag. 318, col. 2.a foi feita antes do anno 1070 e é por consequên- cia anterior ao século xii e ao reinado de D. Affonso Henriques (1139-1185). Ouira vez peço desculpa ao meu sábio amigo e mestre." 1322 VIL lidar o domínio real no território conquis- tado pelo seu audaz esforço e fortalecido pela crença de cumprir um dever sagrado em resgatar da heresia dos sectários do Ko- rant os povos que elles tinham subjugado na Lusitânia; pensando unicamente em fa- zer triurophar a lei de Chrislo, não cuidava de mais nada, nem mesmo lhe sobrava o tempo n'esta imperiosa lucta que tinha em- prehendido para implantar a fé no paiz, em- presa que coubera ao poderoso descendente do conde D. Henrique. Portanto não se es- Iranha que a edificação singular d'este edi- fício possa indicar também a inferioridade em que estava a civilisação do povo que ti- nha erguido esse sanctuario para n'elle ren- der louvores ao Ente Supremo pelas suas viclorias, que deveriam estender-se por todo o paiz para engrandecimento da fama na- cional e para gloria de Deus. «Serve, pois, este edifício de proveitoso ensino, por apresentar o estylo correspon- dente á architeetura designada Roman, que servia de transição da architeetura romana para a ogival; devendo-se particularisar no que a faz distinguir dos outros typos, afim de nos inteirarmos das principaes formas que caraeterisam a architeetura d'esta epo- «ha. «A primeira cousa a notar é ter todas as suas aberturas de volta inteira ou semi-cir- cular; não ter cornija o frontispício, e o es- pelho que dá luz á nave ser um simples olho de boi, apresentando uma forma rudimentar. «A egreja é precedida da galilé, servin- do-lhe de adro coberto; as janellas íeem a fórma de frestas, pela sua pouquíssima lar- gura; a torre é de fôrma quadrangular e de limitada altura e construída com excessiva solidez, ficando coberta por um telhado py- ramidal. A sua construcção foi executada *5om apparelho pequeno; tendo as juntas das pedras bastante largura e cheias d'argaroa- ça. A fachada da egreja ficou sem decoração alguma, assim como o portal principal indica tudo ser a construcção mais primitiva d'esta architeetura. «No interior ainda mais nua apparece, VIL sendo composta de uma só nave, separado o altar-mór pelo arco triumphal de egual feitio que a arcada da galilé, havendo ape- nas duas inscripções já mutiladas que, por incompletas, não se podem ler, excepto na torre, onde é legível o nome do devoto que a mandou con>tiuir. «Serve de fregu^zia, e como a junta de parochia tem poucos meios, eis o motivo porque este edifício ^e tem salvo de não lhe alterarem o caracter da sua architeetura. É o caso de se repetir: ha males que. . . «Como d'este typo existem tão poucos edi- fícios, cremos que será para estimar offere- cer aos nossos leitores um exemplar digno da sua altenção. J. da Silva.» Até aqui o nosso sábio presidente, amigo e mestre que (hocra lhe seja í) levado pela sua dedicação aos nossos monumentos ar- cheologicos, foi expressamente visitar esta egreja. Nós ainda não a vimos, mas pelos apoutamentus que d'ali nos furam enviados, aeereseenlaremos o seguinte : • Tem inuriormente 30m,0 de comprimento e 6ra,60 de largura. No arco cruzeiro se vê gravada a data 1692, junto da imagem do padroeiro, que é de tamanho natural e mede im,60 de al- tura. Tem um púlpito, altar-mór com um bom retábulo de talha antiga— e 3 altares late- raes:— Nossa Senhora do Rosario e S.Rraz, antigos e com irmandades próprias,— e Se- nhor Jesus, modrrno, feito em 1866,— todos tres com festa annual. Não tum torres, mas somente por cima do cabido um torreão feito em 1870— e n'elle dois sinos que foram refundidos em Braga quando se fez o torreão. O cabido, antiga casa do capitulo, está junto á egreja;— dá communicação para ella e para o claustro — e tem interiormente I0m,0 de comprimento e 7m,20 de largura. Em uma das paredes lateraes d'esta egreja se vê do lado exterior, junto da porta tra- vessa, uma inscripção em caracteres hoje to- talmente indecifraveis,~-à\z o meu informa- dor. O sr. Joaquim Possidonio Narciso da VIL VJL 1323 Silva indicou mais duas no artigo supra, mas não as copiou. O convento Esta egreja, segundo se lê na Chronica já, citada e na Chorographia Portvgueza, tomo 1." pag. 112, foi convento de cónegos regran- tes de Santo Agostinho, tendo sido anterior- mente abbadia secular muito rica, fundada para sua sepultura por uns fidalgos da ge- ração dos Fafes, descendentes de Fafes Sar- razim de Lanhoso, rico-homem que pereceu junto de Coimbra na batalha de Agua de Maias, 1 ferida entre D. Garcia rei de Por- tugal e da Gallisa, e seu irmão el-rei D. San- cho de Cantella. D. Fafes Luz, neto d'aquelle heroe, também foi rn-o-homem ealferes-mòr do conde D. Henrique, pae de D. Affonso Henriques. , Passados tempos depois da fundação da dieta egreja, o seu abbade Gonçalo Annes Fafes fundou junto d'ella um convento de clérigos, cónegos regrantes de Santo Agos- tinho, ao qual applicou as rendas da sua ab- badia,— tudo com previa auclorisação de D. Diogo Fafes, padroeiro da mesma egreja,— e do arcebispo de Braga D. Pedro, também có- nego regrante, que o nomeou abbade do mesmo convento, emquanto vivo fosse. Principiou a construcção do convento (não da egreja) no anno de 1070 ejá no de 1074 2 estava concluído e habitado por dez cóne- gos, os quaes todos assignaram com o seu abbade D. Gonçalo Annes Fafes a doação que o padroeiro da dieta egreja D. Diogo Fa- fes, por não ter successão, fez de todos os 1 V. Benedict. Lusit. tomo 2.° pag. 194,— e o Nobiliário do Conde D. Pedro, tit. 20, § 3.° 2 É isto o que se lê na Chronica dos Có- negos Regrantes, mas a Chorographia Por- tugueza diz que as obras principiaram em 1170 e se coucluiram em 1174. Merece-nos mais credito a Chronica, posto que João Pedro Ribeiro equipara Fr. Nico- lau de Santa Maria a Fr. Bernardo de Brito e Lousada. No fim d'este artigo provaremos eviden- temente que este convento é anterior ao an- no de 1120. | seus bens ao dicto convento, recolhendo-se I a elle em seguida e n'elle acabando os seus dias. A doação é do theor seguinte: « Do ad ipsam Ecclesiam Sancli Michaelis de Vilharinho. . .» Em vulgar: — iFaço doação á Egreja de S. Miguel de Villarinho de todos os meus bens e riquesas e de tudo o que me perten- ce, para que o seu abbade Gonçalo Annes, que é da geração dos Fafes, e os cónegos da mesma egreja tenham a sustentação neces- sária, emquanto perseverarem no dicto mos- teiro segundo o instituto e regra de Santo Agostinho, e para que me recebam e reco- lham em sua compauhia, não só na vida, mas também na morte, etc.» Foi feita esta doação no mez de julho de 1074. Eis o principio d'este convento e a causa porque os seus primeiros prelados tiveram o titulo de abbades. Foram elles D. Gonçalo Annes e seu successor D. Garcia Eriz, como consta do epitaphio da sua sepulura, que está mettida na parede da capella-mór (diz a Chronica) e é o seguinte: ' Era M. C. C. VI. obiit Garcia Eriz, Abbas de Villarinho. tNa era de 1206 (anno 1168) falleceu D Garcia- Eriz, abbade de Villarinho.» Passados tempos, foi dado aos prelados d'este convento o Ululo de D. Prior, — titulo muito honroso e único entre todos os con- ventos de cónegos regrantes do nosso paiz} o que revela a grande consideração de que este convento gosou. Pelos annos de 1405 era D. Prior d'este convento D. João Gonçalves da Camara, que fez n'elle algumas obras, taes foram a torr& e o campanário dos sinos, como prova a ins- cripção que se vê na torre, do lado do claus- tro (diz a Chronica) e é a seguinte: Na era de M. CCCC. XLIII (anno de 1405) mandou fazer este campanário D. João Gonçalves, D. Prior. 1324 VIL Foi este D. Prior sepultado no claustro, á direita da porta do cabido, ou Capitulo dos Cónegos (diz a Chronica) mandado por elle fazer também;— e á esquerda da mesma por- ta jaz o D. Prior D. Vasco de Sousa, seu successor. Também foi aqui D. Prior D. João Fer- nandes d'Almeida, da casa dos condes (de- pois marqu^zes) d'Abrantes, o qual mandou fazer e collocar no altar-mór uma imagem do padroeiro S. Miguel, toda de bronze (?) — e fez também o retábulo do mesmo altar, como se vê das letras que tem nas fasquias (diz a Chronica). Succodeu-lhe D. Luiz d'Almeida, seu so- brinho, que jaz na capella raór em sepultura rasa com o epitaphio seguinte: Aqui jaz D. Luiz d'Al- meida, D. Prior d'este MOSTEIRO. FALECEO A 23 d'Ahbil DE 1565 ANNOS. O ultimo D. Prior d'este convento foi D. Luiz d'Azevedo, 1 que falleceu a 26 de julho de 1610— data em que este convento se uniu á congregação dos cónegos regrantes d'este reino, sendo prior geral da mesma congre- gação D. Miguel de Santo Agostinho, que no- meou a D. Estevam dos Martyres primeiro prior trienal d'este convento. É isto o que se lé na Chronica da ordem, mas a Chorographia Porlugueza offerece al- gumas variautes. Diz que D. João Gonçalves da Camara, D. Vasco de Sousa, João Fernandes Farto, D. João Fernandes d'Almeida, D. Luiz d'AI- meida e D. Luiz d' Azevedo não foram pro- priamente priores ou prelados d'elle, mas/í- dalgns commendatarios,2 o que faz grande difTerença e explica até certo ponto o motivo 1 Era irmão do venerável D. Ignacio de Azevedo, martyr e provincial da Companhia de Jesus,— e dè D. Francisco d'Azevedo. se- nhor da quinta de Barbosa..— e de D. Jero- nyino d'Azevedo, vice-rei da índia,— e de D. João d'Azevedo, capitão-mór de Sofala,— to- do* filhos de D. Manuel d'Azevedo. 2 Os commendatarios foram um dos maio- VIL porque não foi restaurada a egreja primi- tiva nem ampliado o convento. E exlinctos os commendatarios, foram as retdas d'este pobre convento unidas ao de Landim, tam- bém de cónegos regrantes. Em 1706 habitavam este desgraçado con- vento de S. Miguel de Villarinho apenas dois frades:— um presidente e um recebedor, que recebia os dizimos e sabidos d'esta freguezia e da de S. Thiago da Carvalhosa, concelho de Paços de Ferreira, alem da renda dos grandes passaes que esta parochia tinha. Tirada a côngrua d'aquelles dois religio- sos e a do cura que administrava os sacra- mentos aos parochianos, todas as sobras iam para o convento de Landim. Extinctas finalmente as ordens religiosas em 1834, volveu esta egreja a ser, como pri- mitivamente foi até 1070,— simples egreja parochial. No Catalogo dos Pergaminhos do Cartório da Universidade de Coimbra, feito em 1880 pelo sr. Gabriel Pereira, distincto liiterato e areheologo, se mencionam vários pergami- nhos pertencentes a este convento, taes são os seguintes: Século XVI N° 35,— anno 1432— Casaes em Fontam, na Carvalhosa... teigas de milho pela me- dida nova, etc. N.° 36 ,— anno 1450.— Provisão do Vigário Geral de Braga, confirmando. João Vasques, cónego do mosteiro de Villa Nova de Muhia (Moinha) em prior d'este de S. Miguel de Villarinho com dispensa da constituição que prohibe dar o governo do mosteiro a quem res flagellos que pesaram sobre os conven- tos! Eram fidalgos, a quem os nossos reis da- vam em remuneração de serviços as rendas dos conventos, pelo que muitos d'estes, aliás riquíssimos, tiveram de fechar-se por falta de meios, pois todas as rendas eram poucas para sustentarem o luxo, o fausto e os ca- prichos dos taes zangãos e parazitas, seus commendatarios. V. Benedict. Lusit. tomo 2.° pag. 230,— e particularmente o Preludio II, pág. 410. VIL VIL 1325 não souber ler, cantar e entender latim, ao menos ao pé da lettra. Oh t têmpora, ohl mores t. . . N.° 37,— anno 1469.— Bulla para posse do priorado a Pedro Egidio, religioso do mos- teiro de Grijó. N.° 212,— anno 1488.— União d'este con- vento de Villarinho ao de Roriz. Mau fado perseguia este pobre convento de Villarinho?!. .. 3.a Collecção especial Pergaminhos mui volumosos N.° 6,— era 1367,— a pag. 107 do Catalogo: Sentença n'urna questão entre os mostei- ros de Lordello, Villarinho, Santo Thirso e Ferreira— e certos cavalleiros e escudeiros que exigiam certas pensões e direitos. É composto de 4 pelles em mau estado. Nas Dissert. Chronol. e Crit. de João Pe- dro Ribeiro, tomo 2.° pag. 25o a 258, se en- contra também um documento curioso, que prende com este convento. É um compro- misso que em 24 d'agosto do anno de 1387 celebraram no convento de S. João depen- durada os prelados e religiosos dos dois mencionados conventos e dos de Riba d'Ave, Cette, Bastello, Pedroso, Ancede, Paço de Sousa, Travanca, Villela, Villa Boa do Bispo, Mancellos, Pombeiro, Roriz, etc, obrigan- do-se a suffragarem todos o religioso que fa- lecesse em qualquer dos dictos conventos. Era então prior d'este de Villarinho D. João Gonçalves. Finalmente as mesmas Dissertações, tomo 5.° pag. 5-6, mencionam outro documento interessantíssimo para a historia d'este con- vento. É uma bulia de Cállisto II, datada do anno 1120, na qual se faz menção dos con- ventos de Rio Tinto, Pombeiro, Santo Thyr- so, Arnoia, Burgães, Antime, de Fraixino, de Salt io, de Redentis, de Macanarus, Man- cellos, Várzea, Villa Cova de Tellões, Villa Boa do Bispo, Soalhães, Rial, Ancede, S. Joãof Paço de Sousa, Entre Ambos os Rios, Aguas Santas, Pedroso, Cedofeita, Bouças, Vairão, Leça e d'este de Villarinho, o que prova evi- dentemente que a fundação d'este convento é anterior ao anno 1120» VOLUME II Concluiremos dizendo que nos principios do século xiv foi padroeira e herdeira na- tural d'este e d'outros muitos conventos D. Beringeíra Ayres, a qual em 12 d'agosto do anno 1302 doou a D. Geraldo, bispo do Porto, o padroado e jurisdicção que tinha n'este convento de Villarinho e nos conventos e egrejas de S. Croyo, Tareco, Victorino das Donas, Villar de Frades, Britiande, Cedofei- ta, Villar de Poreos, 1 Nevogilde, Sobrado, Santa Cruz do Douro, S. Lourenço de Pa- noias, Pombeiro, Santo Thyrso, S. João de- pendurada, Villela, Tibães, Paço de Sousa, etc, etc, reservando para si a doadora os conventos de Ancede, Tarouquella e Travan- ca e os casaes e honras das quintas leigas. A tal sr.a D. Reringeira era mais rica do que eu t V. Censual do Cabido do Porto, fl. 86 in fine; mas como os illustres cónegos portuen- ses, desde que Alexandre Herculano visitou o seu archivo, resolveram não mostrar a mais niDguem o Censual (7! ) vejam-se as Dissertações Chronologicas e Criticas de João Pedro Ribeiro, tomo 5.° pag. 63 e 64. VILLARINHO, — freguezia do concelho e comarca de Villa Nova de Famalicão. V. Villarinho das Cambas. VILLARINHO D' AGRO CHÃO, — freguezia do concelho e comarca de Macedo de Caval- leiros, districto e diocese de Bragança, pro- víncia de Traz-os-Montes. Abbadia. Orago Santo Antão;— fogos 87, —habitantes 360. Em 1706 pertencia ao termo e concelho da villa de Nuzellos, comarca de Moncorvo, bispado de Miranda;— o seu parocho era cura da apresentação do abbade de Nossa Senho- ra da Assumpção de Nuzellos; — tinha uma capella e 6 fontes— e contava 62 fogos. Em 1768 era abbadia do mesmo bispado de Miranda e da mesma apresentação;— ren- dia réis 200£000— e contava 68 fogos. O censo de 1864 deu-lhe 123 fogos e 354 habitantes, comprehendendo annexas, não sabemos quaes. 1 Hoje freguezia de Villar de Pinheiro, concelho de Villa do Conde, como já disse- mos no artigo próprio. Vide. 84 1326 VIL VIL Em 1862 estavam espiritual- mente annexas a esta fregue- zia as de S. Mamede â'Agro- chão e S. Martinho de Erve- dosa, concelho de Vinhaes,mas o censo de 1864 deu-as como freguezias independentes, — a 1.» com 147 fogos e 588 habi- tantes,—a 2.» com 153 fogos e 644 habitantes. O censo de 1878 deu a esta parochia de Villarinho 91 fogos e 351 habitantes. Contava então este concelho de Macedo de Cavalleiros 38 freguezias com 4:492 fogos e 18:566 habitantBS. Das 38 fre- guezias 16 não contavam 100 fogos cada uma— e todas as outras menos de 200 fogos, exceptuando 3: — Ala com 210, — Lama Longa com 212 — e Macedo com 259. São muito pouco populosas quasi todas as freguezias d'este districto de Bragança. V. Villa Verde, freguezia do concelho e comarca de Vi- nhaes, vol. XI. pag. 1099 co- lumna 2.» Comprehende esta parochia apenas a al- deia de Villarinho tfAgrochão, que demora em sitio alto, alegre, vistoso e saudável, na margem direita da ribeira de Nuzellos, con- fluente dp Tuella, da qual dista 3 kilome- tros para 0.; — 7 da margem esquerda do Tuella para E.;— 22 de Macedo de Cavallei- ros para N. N. O.;— 28 de Bragança;— 40 de Mirandella; — 90 da estação do Tua na linha férrea do Douro, pela linha férrea do Tua, prestes a abrir-se á circulação;— 229 do Porto— e 566 de Lisboa. Freguezias limilrophes : — Arcas, Lama Longa e Penhas Juntas. Producções dominantes:— cereaes, casta- nhas, batatas, azeite e lã, pois cria bastante gado lanígero e bovino. Antes da invasão phylLoxerica destroçar como destroçou os seus vinhedos, também produzia excellente vinho de mesa, em gran- de quantidade. O vinho d'esta parochia, da de Lama Longa, sua limitro- phe, e da de Arcas era o me- lhor do alto d'esta província de Traz-os-Montes. Os seus templos reduzem-se á egreja ma- triz e 2 capellas publicas. Nada teem digno de especial menção. A festa principal é a do padroeiro. Esta parochia em 1840 pertencia ao con- celho da Torre de D. Chama, extincto por decreto de 24 d'outubro de 1855, pelo qual passou para o concelho e comarca de Ma- cedo de Cavalleiros, tendo pertencido á co- marca de Mirandella. Banha esta parochia a ribeira de Nuzellos, na qual tem 2 moinhos. Não ha n'esta freguezia estrada alguma a macadam. A mais próxima é a real n.° 6, de Mirandella a Bragança. Também aqui não ha escola alguma,— nem sequer de instrucção primaria elementar ! Com vista aos illustres ve- readores de Macedo de Caval- leiros. VILLARINHO DO ARCO — ou Villarinho dos Padrões— aldeia da freguezia da Venda Nova, concelho e comarca de Montalegre, districto de Villa Real, diocese de Braga, província de Traz-os-Montes. Orago S. Simão;— fogos 67,— -habitantes 306. Esta freguezia foi simplesmente indicada pelo meu benemérito antecessor. V. Venda Nova, vol. X, pag. 278, col. 2.» Aproveitando pois o ensejo de fallarmos de uma das aldeias que a constituem, pre- encheremos o vácuo d'aquelle artigo, con- soante o permittirem os nossos limitados re- cursos. Vários escriptores dão a esta freguezia o nome de Codeçoso do Arco e sob elle já foi descripta pelo meu antecessor no vol. 2.° VIL VIL 1327 pag. 313, eol. 1."; mas ha muito que official- mente é denominada Venda Nova — e tem sido sempre parochia autónoma, ou inde- pendente. Demora em terreno arenoso, exposto ao N. e por consequência frio, na margem esquer- da do Begavãó (uma das nascentes do Ca- vado) do qual dista cerca de i kilometro para S. E.;— 28 de Montalegre para S. O.;— 57 de Braga;— 112 do Porto— e 449 de Lis- boa. Comprehende as aldeias seguintes: — Ven- da Nova, séde da parochia, — Codeçoso do Ar- co, ou Codeçoso da Venda Nova,—Sangui- nhedo e Villarinho do Arco, ou Villarinho dos Padrões. Freguezias limitrophes: — Pondras e Salto, d'este concelho de Montalegre; — Cerdedo, do concelho de Boticas; — Campos, do de Vieira,— e a N. e N. O. o rio Regavão, pois esta freguezia está no angulo formado pelo Regavão, que a banha a N. — e pelo ribeiro da Ponte do Arco, que a banha a 0. e des- agua no Regavão, correndo até aqui de E. a O. — e aquelle de S. a N. Producções dominantes: — centeio, bata- tas, castanhas, algum milho e lã, pois cria bastante gado lanígero e bovino. Também é mimosa de peixe do rio Rega- vão— e tem nos seus montes abundância de caça. Em 1708 esta freguezia estava annexa á de Santa Marinha do Ferral, que demora na outra margem (direita) do Regavão; — per- tencia ao termo e concelho de Montalegre, comarca (ouvidoria) de Bragança — e con- tava 26 fogos. Em 1757 era ainda curato annexo a Santa Marinha do Ferral, cujo abbade apresentava o cura, a quem dava de côngrua 6^000 réis alem do. pé d'altar, — e contava 30 fogos. O censo de 1864 deu-lhe 59 fogos e 291 habitantes, — e o de 1878 deu-lhe 65 fogos e 305 habitantes. Em 1852, segundo diz o Flaviense, era do concelho e comarca de Montalegre; — o meu illustrado informador diz que desde 1841 até 1853 era da comarca de Montalegre, mas do concelho de Ruivaes,— e a Chorographia Mo- derna diz: «Em 1840 pertencia ao concelho de Ervededo, extincto pelo decreto de 31 de dezembro de 1853, pelo qual passou ao de Montalegre.» Nos últimos annos da dizimaria (1833 a 1834) era vigairaria ad nutum, annexa a Santa MariDha do Ferral, cujo abbade rece- bia os dízimos e dava de côngrua ao vigário 40 alqueires de centeio e 39$000 réis em di- nheiro,- além de 42$500 réis que tinha de benesses. O meu illustrado informador, apoiado na tradição local e em alguns vestígios, diz que a egreja parochial esteve outr'ora no fundo da Veiga de Codeçoso do Arco, hoje Venda Nova, povoação antiquíssima, pois (segundo se suppõe) foi a velha cidade romana, deno- minada Presidium. Também data de tempos muito remotos a aldeia de Sanguinhedo, que foi parochia in- dependente, hoje extincta e annexa a Code- çoso do Arco ou Vendas Novas. É certo que passava aqui uma das vias militares romanas que de Braga conduziam a Astorga. Esta seguia por Chaves e o seu trajecto era com pequena differença o da nossa velha estrada real de Braga a Chaves, hoje substituída pela estrada real a macadam n.° 28, prestes a concluir-se e que atravessa também esta parochia. Da velha estrada romana aqui se encon- tram ainda hoje (1886) alguns marcos mil- liarios, ou padrões, e mais se encontravam ainda no ultimo século. Para evitarmos repetições, veja-se— Code- çoso do Arco, vol. 2.° pag. 313, col. I.4;— Sanguinhedo, vol. 8.°, pag. 393, col. l,a tam- bém e seg.; — Estradas romanas, vol. 3.°— as Memorias d'Argote, tomo 2.° pag. 534, 554, 574, 580 a 587 e 561— e tomo 3.° pag. 194 a 202,— e n'este diccionario o artigo Iti- nerário do Imperador Antonino. Dos dictos marcos milliarios tomou e conserva ainda hoje o nome de Villarinho dos Padrões uma das aldeias d'esta fregue- zia. Alem dos 5 padrões já descriptos no ar- I tigo Sanguinhedo, o Portugaliae Monumenta 1328 VIL VIL colheu de Argote os seguintes, todos encon- trados n'esta freguezia: 1. ° Ti. Caesr Divi F Divi Ju li. nep. Pont max imp cos V. TRI. P0T Brac. Aug XX 2. » Ti Claudius Aug Germanig Pont. Max imp. iii. trb pot iii Brac. Aug XX 3. ° X X X 1 1 1. 4.» M. P. XLII. Na aldeia de Villarinho dos Padrões ainda hoje (1886) se yéem 2 dos dictos marcos, ser- vindo de pilares de uma varanda em uma estalagem. Vias militares romanas Eram duas as que seguiam de Braga por Chaves, para Astorga, — e o seu traçado era o seguinte : i.« Braga» Aréas, Carvalho. Pinheiro, Par- dieiro, Cruz de Real, Confurco, Espinedo, Zebral, Bustello, Linhares, Cruz de Penas- caes, Amear, Bezerrellos, Covello do Monte, Ailhó (hoje Atilleô) Carvalhelhos, Quintas, Boticas de Barroso, Granja, Sapiães, Casas Novas, Ribeira de Curalha, Casas do Monte e Chaves. A nova estrada real a macadam n.« 28, de Braga a Chaves, segue o mesmo trajecto des- de Sapiães até Chaves. 2.» Braga, Aréas, Carvalho, Pinheiro, Penedo, Gavinheiras, Salamonde, Ruivães, Boticas de Buivães, Santa Leocadia, Ponte do Arco, Vil- larinho dos Padrões, Codeçoso do Arco ou Venda Nova (Presidium dos romanos) Porto de Carros, Lama do Carvalhal, Subilla, Brêa ou Vréa, Pedreira, Gêa (por baixo de La- drugães) Villa da Ponte, Cruz de Leiranco, Penedones 1 Berezes ou Beireses, e também Perezes e Peireses, 2 Portella de Urzeira, 3 Casaes, * Viduellos, Costellães, Ervededo e Chaves. Luctuosas reminiscências Ha n'esta freguezia da Venda Nova uma ponte de granito sobre o ribeiro da Ponte do Arco, na estrada nova a macadam, ponte muito antiga e que dava passagem á velha estrada real e talvez á estrada romana. Nos fins do ultimo século esta ponte foi theatro de scenas horrorosas I Passando aqui um estudante, natural da freguezia de Calvão, concelho de Chaves, vindo de Coimbra em goso de férias, foi aqui roubado e barbaramente assassinado, por levar um bonito annel d'ouro e ter dicto na 1 Até aqui segue com pequena differença o mesmo trajecto a nova estrada real a ma- cadam;— de Penedones vae ao Alto de Mor- gada, Portella do Brunhedo, Ponte Pedri- nha, Casas Novas, Cruz dos Pardieiros, Cha- ves. 2 Alguém diz que foi pago e outros que- rem que fosse cidade. V. Vicente da Chã (S.) vol. X, pag. 527, col. 2.» in fine. 8 Entre Meixedo e Codeçoso da Chã. O que se lê no ultimo tópico do artigo No- gueira, vol. 6.° pag. 106, col. 1." — e no vol. 7.° pag. 252, col. 2.»— art. Portella de Or- zeira, — deve ser corrigido pelo que se lê no art. Rio Caldo, vol. 8.» pag. 190, col. 2.* 4 Por estes sitios não se conhece local ou povoação com o nome de Casaes; denomi- navam-se, porem, Casaes, as povoações de Gralhas, Payo, Mantella, Soutello de Leiran- co, Silveira, Meixide, etc, por terem o pri- vilegio de Casaes cerrados. V. Montalegre, vol. 5.* pag. 444, col. 2.» VIL VIL 1329 estalagem de Ruivães, quando pagou a conta da despeza: «Ora graças a Deus, que ainda me restam 30$000 réis!»— isto por gracejo, pois só lhe restavam 30 réis. 1 Os assassinos, morto o pobre estudante, seguiram pelo ribeiro do Arco acima até um moinho que está junto do Pomar da Rainha e ahi venderam a João Alves, fallecido ha annos, o chapéu da victima. Foram presos, julgados e condemnados á morte, em Montalegre e, depois da execução, as cabeças estiveram no alto de postes, na mesma ponte, até serem devoradas pelo tem- po e pelos bichos. Os salteadores e assassinos eram gallegos. Mais sangue Dos últimos indivíduos justiçados em Por- tugal nas províncias do norte depois de 1834, 2 o ante-penultímo— José Fernandes Begueiro, solteiro e jornaleiro, — era natural d'esta freguezia da Venda Nova, ou de Code- çoso do Arco, onde nasceu em 1815, filho de Senhorinha Fernandes Begueira, viuva. Accusado de haver barbara, aleivosa e traiçoeiramente assassinado e roubado em abril de 1838, na serra das Alturas de Bar- roso, Igaacia Joaquina, viuva de Antonio José da Costa, e o menor Francisco, ambos da cidade de Braga, o juiz de direito de Mon- 1 Antes inculcasse pobresa, como fez um lavrador do Douro, meu visinho, que indo do Porto com 600$000 réis e tendo de atra- vessar a serra de Amarante até Mezãofrio por caminho que então era um covil de sal- teadores, muito de propósito ia tão mal ves- tido que, chegando a uma estalagem e fin- gindo-se doente, mandou matar uma galli- nha, mas a estalajadeira não se moveu. Ins- tando o bom do homem, disse-lhe ella com asperesa: — E quem é que me paga ? —Eu sou um desgraçado, respondeu elle, mas julgo que ainda bei-de ter um pinto (480 réis) para pagar a gallinha. E, depois de muito rebuscarias algibeiras, deu-lhe o pinto. Ficou a mulher espantada e só então se moveu. Si non ê vero . . . 2 Foram em numero de 16, — 4 justiçados no Porto— e 12 fóra do Porto. V. Victoria, vol. X, pag. 604, col. i.* e segg. talegre, por sentença de 21 de janeiro de 1840, o condemnou a soffrer a pena de morte na forca, erguida no Campo do Toural da villa de Montalegre,— sentença que a relação do Porto confirmou em accordam de 12 de agosto de 1842. Recorrendo de revista, foi- lhe esta negada pelo supremo tribunal em accordam de 12 de maio de 1843— e por por- taria de 28 d'agosto de 1844 se communi- cou ao presidente da relação do Porto que S. M. não houve por bem usar da sua real clemência em favor do reu. Foi justiçado na Praça do Toural, em Mon- talegre, no dia 17 de setembro de 1844. Relação do Porto, cartório do escrivão Al' buquerque. Na Revista Universal JJsbonense, tomo IV, pag. 142, pôde ler-se na sua integra a sen- tença que o juiz de direito de Montalegre, dr. João Carlos d'01iveira Pimentel, deu con- tra o reu. Não a transcrevemos por ser muito longa. N'ella se diz, entre outras cousas, o se- guinte:—que o reu íoi preso em uma taver- na da Venda Nova no dia 25 de maio de 1838, armado com um pau de choupa e uma faca de ponta;— que desde a sua infância se tinha associado com ladrões, salteadores e assassinos, e que por seu turno padecia a nota de ladrão, salteador e assassino;— que o jury deu como provado o crime com to- das as circumstaneias aggravantes do libello accusatorio, etc. De uma Carta ou Memoria que sobre o assumpto escreveu um contemporâneo do reu, que lhe assistiu no oratório, extracta- remos o seguiute: O reu foi conduzido da cadeia da Relação do Porto para Montalegre por uma escolta de infanteria n.° 2. Seguiu a estrada de Rui- vães e, quando passou na Alturas, junto do local onde fez as duas victimas, tirou o cha- péu e orou largo tempo. Chegou a Montalegre no dia 13 de setem- bro de 1844, pelas 10 horas da manhã;— en- trou logo na prisão, com muita presença de espirito, comendo e fumando, como se não pensasse na sua triste sorte,— e declarou que eram inúteis as cautellas para se não suici- I dar, porque queria morrer como christão. 1330 VIL VIL No dia 15 chegaram a Montalegre os exe- cutores;— estava elte jantando, mas, ven- do-os, entristeceu- se e não acabou o jantar. Era meio dia. Á uma hora foi intimado para entrar no oratório. Despediu-se das pessoas que atravez das grades o observavam, pe- dindo perdão a todos e que orassem pela sua alma. Em seguida entrou resoluto no oratório. Havia o juiz de direito sollicitado do rev. arcypreste 4 ecclesiasticos para ministrarem ao infeliz os soccorros da nossa religião. Acudiram promptamente os rev.08 Manuel Caetano, parocho encommendado em Santa Maria de Gralhas, — João Gonçalves, parocho de Sarraquinhos e J. Baptista Rosa. Confessou-se; ouviu com muita compun- ção as praeticas dos rev.08 ecclesiasticos;— comeu e dormiu n'aquella noite, mas muito sobresaltado. No dia 16 commungou;— ouviu 3 missas; — comeu alguma coisa, mas foi perdendo as forças e deitou-se. Perlo da noite, muito con- pungido, declarou que eram muitos os seus peccados e que só um Deus de infinita mi- sericórdia os podia perdoar. Pediu aos sa- cerdotes presentes que lhe contassem os mys- terios da paixão de Jesus e a conversão de algum santo peccador, beijando sem cessar um crucifixo, bebendo amiudadas vezes agua fria e revelando grande abatimento. De noite dormiu um pouco mais soeega- do;— contava muito attento as horas que soa- vam no relógio da torre e dizia aos assisten- tes quanto a vida se lhe ia encurtando. Rompeu a manhã do dia fatal. Não come e só se refrigera com agua fria; — mostra-se resignado e reconcilia-se duas vezes. «Dão li e meia; chega a irmandade da Misericórdia e os executores com a alva e corda; entram e não desanima; vestem-no; cingem-lhe o baraço, elle presta-se com toda a resignação e os ajuda a accommodar as voltas da corda na prisão das mãos. Saem para a praça do Toural;— forma-se o prés- tito . . . .e segue acompanhado pelas aucto- ridades, pelos 2 executores, vestidos de ca- , saco e calça preta, e por uma força militar de 50 homens, em quanto outros 50 de po- licia formavam armados em volta do patí- bulo, que se ergueu a meio da praça.» Dirigiram-se á capella de S. Sebastião na dieta praça, onde o capellão da Misericórdia celebrou missa e o padre Manuel Caetano fez uma commovente allocuçâo ao reu e ao povo,— e caminharam para o patíbulo. Jfunto d'elle o reu novamente , se reconciliou e? ajoelhando sobre uma taboa, conservom-se firme um quarto de hora sem desfallecer; — ouviu depois a sentença quft o escrivão do processo leu; — pediu agua— e o padre Rosa com uma breve e pathetica oração o animou a subir. Simões, o executor mais novo, o esperava já no cimo do patíbulo; sobe o padecente, acompanhado pelos padres Gonçalves e Rosa , — e senta-se nos degraus superiores. D'ali mesmo o padre Gonçalves, com os olhos ma- rejados de lagrimas, recitou de impnoviso um pathetico discurso que muito commioveu p numeroso auditório, mais de 5:000 pes- soas que entulhavam a praça, terminiando por pedir em nome do padecente peredão a todos, á mãe, a uma irmã e parentes, ami- gos, justiça, etc. O padecente de novo pediu agua e diepois I elle próprio, com voz sonora e intelliígivel, 1 pediu também perdão a todos;— disse aadeus 1 ao mundo; — implorou a protecção de Maria 1 Santíssima, para que lhe alcançasse a imise- 1 ricordia do seu amado filho, cujas clhagas 1 elle padecente abrira;— cedeu eustosamiente 1 o crucifixo que levava nas mãos;— o algoz I lançou-lhe o capuz— e> execução fo)i ra- 1 pida. A dieta Memoria conclue dizendo: «O executado nasceu em abril de 1Í815 e 1 contava apenas 22 annos quando foi p)reso; 1 não recebeu educação alguma moral, jposto ] l que dizia pesar-lhe o não ter seguido oss con" 1 selhos de sua mãe. Entregue muito noivo ás 1 paixões e vícios, havia-se amestrado nto cri- 1 me. Julga-se ter praticado outros asssassi- I nios, mas nada declarou, nem mesmo ods que ] lhe fizeram culpa. Em todo o tempo doo ora- 1 tório e execução mostrou bons senlimaentos ] VIL VIL 1331 e felizes lembranças, grande humildade e santidade. Se a educação cultivasse aquella indole, talvez fosse um homem virtuoso e um excellente cidadão.» Agora o meu illustrado informador í. «Já que vem de molde, permittam-me que exponha um facto, tal qual me foi narrado por um dos sacerdotes que no oratório as- sistiu ao suppliciado. Foi o rev. João Gon- çalves, reitor de Sarraquinhos, venerando ancião fallecido em 12 de junho de 1883. «Na noite de 16 de setembro de 1844, vés- pera do dia da execução, (disse elle)--en- contrando-me bastante fatigado com o tra- balho do dia no oratório, pedi a um dos meus collegas para me substituir por algum tempo. Assim m'o prometteu e fui deitar-me um pouco. Adormeci logo, mas em breve acordei sobresaltado; sentei- me no leito e, lançando os olhos por toda a sala do tribu- nal que servia de dormitório, com surpresa vi os meus collegas dormindo profunda- mente I «Levantei-me logo; atravessei a sala onde estava a força militar, e esta dormia tam- bém;— dirigi-me ao. oratório e encontrei o reu só, de joelhos e como que em extasis^ com os olhos fitos em um crucifixo, balbu- ciando algumas orações. Saudei-o commo- vido e elle me disse: —Padre, se a Rainha Nossa Senhora me perdoasse, eu não aeceitava o perdão. —Não só acceitaria o perdão (repliquei eu)— mas até se evadiria, se podesse. —Tanto não me evadiria que, offerecen- do-se-me occasião para isso, a não aprovei- tei. Já estive na rua e voltei para a prisão. «Objeetei-lhe que na sala contigua estava a força militar e ao fundo da escada uma sentinella. —As praças que ali estavam na sala (res- pondeu elle) dormem todas— e o fundo da escada não tinha sentinella. Já vê, pois, que, i Foi o rev. José dos Santos Moura, dignís- simo abbade de Caires, a quem este diccio- nario tanto deve, e que infelizmente falleceu em outubro de 1885. V. Caires n'este diccionario e no sup- plemento. se não fugi, foi porque não quiz nem quero. Sinto- me contricto e arrependido dos meus crimes e, d'elles perdoado pela infinita mise- ricórdia de Deus, espero estar com elle no paraíso brevemente, em quanto que fugindo tinha de andar escondido, sobresaltado e, associando-me talvez ás más companhias d'outr'ora, tornar-me-hia reu de mais cri- mes e desamparado da graça de Deus. «Dicto isto, beijou o crucifixo e chorou. «Aproveitando tão boas disposições, de novo o exhortei á confiança na misericórdia divina e louvei ao Senhor pela conversão de um tão grande criminoso. «Depois, para me certificar de uma reve- lação tão estranha, sahi do oratório e vi que eflectivamente as praças todas dormiam e não estava sentinella na escada 1. . .» Continua o meu illustrado informador: «O mesmo dignissimo sacerdote, João Gon- çalves, confessou e acompanhou ao suppli- cio um outro infeliz, por alcunha o Pintor, de Villar de Perdizes, que foi fusilado em Chaves, por crime de deserção, pouco tempo depois da triste secena de Montalegre. Aquelle desertor era um homem perverso e duas vezes havia tentado assassinar o men- cionado sacerdote, a quem na hora extrema escolheu para confessor. Altos juisos de Deus?!...» Rectificações . A Portella de Rebordellos, de que se fez menção no vol. 7.° pag. 253, col. 1.% devia estar n'esta freguezia da Venda Nova, ou nas suas proximidades— e não na freguezia e concelho de Boticas, como disse o meu be- nemérito antecessor no logar citado. A nossa asserção baseia- se nas rasões se- guintes: 4 .a_porque na freguezia e no concelho de Boticas (de Barroso) não ha sitio algum de- nominado Portella de Rebordellos— nem me- moria de apparecerem ali marcos milliares. 2.a —Porque uma das inscrípções dos mar- cos encontrados na Portella de Rebordellos dizia que d'ali a Braga eram 5 léguas— e i outra marcava XXXV mil passos ,— distan- 1332 VIL VIL cia que não corresponde á de Braga a Boti- cas de Barroso, que regula por 12 léguas, ou 60 kilometros. 3.»— Porque nas proximidades da villa de Boticas não ha povoação alguma denomina- da Campos, emquanto que a meia légua da freguezia da Venda Nova, para poente, se encontra na estrada de Braga a povoação e freguezia de Campos— junto do sitio deno- minado Botica de Ruivães, que dista de Bra- ga cerca de 6 legoas, ou 30 kilometros para N. E.,— distancia qne mais se approxima da dos taes marcos milliares. Fecharemos este artigo bemdisendo a me- moria do nosso illustrado e benemérito in- formador,—o rev. José dos Santos Moura, fallecido em outubro de 1885. Deus o tenha em bom logar 1 • . . VILLARINHO DAS AZENHAS,-freguezia do concelho de Villa Flor, comarca de Mi- randella, districto e diocese de Bragança, província de Traz-os-Montes. Vigairaria. Orago Santa Justa;— fogos 72, —habitantes 310. Em 1706 era vigairaria do termo e con- celho de Villas Boas, comarca de Moncorvo, arcebispado de Braga, e da apresentação do reitor dos Valles, termo e concelho de Cha- ves (hoje concelho e comarca de Val Passos) —os seus dízimos eram repartidos pela terça do arcebispo de Braga e pela commenda de S. Nicolau dos Valles;— tinha 2 capellas e 3 fontes— e contava apenas 30 fogos. Em 1768 era curato da mesma apresen- tação;—o cura recebia 14$600 réis, alem do pé d'altar,— e contava 32 fogos. O censo de 1864 deu-lhe 61 fogos e 189 habitantes,— e o de 1878 deu-lhe 71 fogos e 243 habitantes. Esta parochia é formada pela única po- voação de Villarinho das Azenhas, que de- mora em sitio fundo, abafado e ardentíssimo no verão, a sopé de uma Íngreme encosta na margem esquerda do Tua, do qual dista apenas 400 a 500 metros— e approximada- mente egual distancia da linha férrea do Tua, para S. E.;-10 de Villa Flor para N.O.; —37 da foz do Tua e da estação d'este nome na linha férrea do Douro;— 176 do Porto— e 513 de Lisboa. Freguezias limitrophes:— Villas Boas, Mei- relles e Ribeirinha, annexas de Villas Boas, as quaes fecham em uma espécie de meia lua o pequeno terreno de Villarinho a N.E.S. e E- e a N. O. o Tua. Producções dominantes:— óptimo azeite em grande quantidade, vinho bom de mesa, cereaes e fructa. Também é mimosa de caça miúda, de pei- xe do Tua — e de sesões, por estar em sitio fundo, abafado e ardentíssimo no verão. Banham esta parochia o Tua e alguns pe- quenos ribeiros que desaguam no Tua, no qual tem desde tempos muito remotos va- rias azenhas, das quaes tomou o nome de Villarinho das Azenhas. São hoje as 4 se- guintes:— Azenha Nova,— das Tres Rodas, — da Amieira— e das Regadas. Os 3 primeiros proprietários d'esta fre- guezia hoje são: — Antonio do Nascimento de Almeida e Costa, José Pegado e Antonio Pin- to Soares. Templos 1 . » — Egreja parochial. A primeira esteve no sitio ainda hoje de- nominado Egreja Velha, cerca de 800 me- tros distante de Villarinho, pelo que, achan- do-se arruinada e sendo humilde e pequena, a deixaram e arvoraram em matriz uma Ca- pella que estava na povoação, no sitio que hoje occupa. Foi reedificada e accrescentada em 1716. Tem campanário com 2 bellos sinos— e den- tro d'ella se fazem ainda hoje os enterramen- tos, por falta de cemitério, o que muito au- gmenta a insalubridade d esta parochia. 2. °— Capella do Espirito Santo. Demora ao fundo da povoação de Villari- nho. É publica. 3 ° — Capella de Nossa Senhora dos Remé- dios, também publica, cerca de 2 kilometros a leste de Villarinho, em sitio alto e vistoso, nas faldas da serra do Pharo, — serra que está defronte da de Nossa Senhora da Assumpção de Villas Boas e que deve ter approximada- mente a mesma altura. VIL VIL 1333 V. Villas Boas, freguezia do concelho de Villa Flor. A dieta capella dos Remédios tem altar- mór e 2Iate raes, lodos muito singelos,— e um pequeno campanário com uma sineta. Festejam a padroeira no primeiro domin- go depois da Natividade de Nossa Senhora, havendo por essa occasião uma insignificante romagem. 3.°— Capella das Onze Mil Virgens. . Demora na povoação;— é particular;— está em minas — e pertence ao primeiro proprie- tário d'esta freguezia, — Antonio do Nasci- mento d'Almeida e Costa. N'esta parochia não ha minas em explo- ração nem simplesmente registradas, mas deve ter importantes jazigos de ferro, por- que no seu termo, na pendente da serra do Pharo sobre a margem esquerda do Tua, bro- tam muitas nascentes d'aguas férreas, que até hoje não foram analysadas. Mencionare- mos apenas duas: — a do Ribeirão, a S. O. de Villarioho,— e a d' Agua de Lã. 1 Esta ultima abunda em magnesia e os ha- bitantes de Villarinho a aproveitam para uso domestico. Suppomos que estas aguas são congéne- res das thermaes de Carlão e S. Lourenço, que brotam alguns kilometros a jusante nas margens do mesmo rio Tua, — e é provável que sejam devidamente analysadas e apro- veitadas, logo que se abra ao transito a li- nha férrea do Tua, quasi concluída, e que atravessa as dietas nascentes. V. Vias Férreas, vol. X, pag. 478, col. 1.» Aproveitando o ensejo, — acerescentaremos o seguinte : Linha da Foz do Tua a Mirandella —Contracto provisório:— 24 de dezembro de 1883. — Approvação:— carta de lei de 26 de maio de 1884. —Contracto definitivo:— 30 de junho de 1884. 1 É possível que o neme seja outro e que eu não decifrasse bem os apontamentos que recebi. —Concessionário: — Conde da Foz, que depois organisou a Companhia Nacional de Caminhos de Ferro, á qual traspassou os seus direitos. —Inauguração dos trabalhos:— 16 d'ou- tubro de 1884. —Extensão da linha:— 54 kilometros. — Obras d'arte:— 6 túneis com a extensão total de 522 metros;— 2 viaduelos de ferro e 4 pontes, tendo de extensão total os 6 tabo- leiros 220 metros. — Estações:— Foz-Tua, na linha do Douro, em que entronca;— Tralhariz, Amieiro, S. Lourenço, Brunheda, Abreiro, Villarinho (das Azenhas) — Cachão (estação de Villa Flor, distante cerca de 11 kilometros para N.E.)— Frechas e Mirandella,— estação ter- minus actual, emquanto esta linha se não prolonga até á de Zamora, pelas proximi- dades de Bragança. Deve abrir-se á circulação no corrente anno de 1887. Depois de vários contra-projectos, o seu traçado seguiu a margem esquerda do Tua. A estação de Villarinho dista da Foz do Tua 36 kilometros. Fica assim rectificado o que d'esta linha dissemos no ar- tigo Vias Férreas. O Tua, a montante d'esta freguezia de Villarinho, corre plácido, tem margens mi- mosas e rega bons campos, mas desde Vil- larinho até o Douro o seu leito é muito pe- dragoso, apertado, agreste e fundo e des- creve a cada passo o bello-horrivel em ca- choeiras medonhas e pégos de grande altura, tal é mesmo aqui, junto de Villarinho, mas no termo da freguezia de Valverde (margem direita) a Ola do Piago, — e no termo de Vil- larinho, no sitio da mencionada Azenha das Tres Rodas, o pégo das Taimas, junto dos fertilissimos campos d'este nome. V. Tua n'este diccionario e no supple- mento. Concluiremos dizendo que esta freguezia tem estado por vezes annexa á de Villas Boas, mas hoje é independente e tem paro- cho próprio encommendado,—o rev. Feli- 1334 VIL VIL ciano d'Almeida Ramires, venerando ancião, pois já conta mais de 70 annos de idade. Ao meu bom amigo e cyreneu, o sr. An- tonio José de Moraes, de Carrazeda d'An- ciães, mas residente em Villa Flor, agradeço os apontamentos que se dignou enviar-me. VILLARINHO DO BAIRRO,— villa extin- cta, hoje simples paroehia do concelho e co- marca da Anadia, districto de Aveiro, dio- cese de Coimbra, província do Douro. Priorado;— fogos 611,— habitantes 2:550. Orago— S. Miguel. Em 1708 era priorado da apresentação da casa de Bragança e villa pertencente á extin- cta comarca de Esgueira, cujo provedor en- trava n'esta villa por correição, bem como o ouvidor de Barcellos1;— alem da egreja pa- rochial tinha 2 capellas publicas— e contava' 160 fogos. Em 1768 era priorado da apresentação da coroa;— rendia 25O$O0O réis— e contava 27 fogos (?) segundo se lê no Portug. S. e Pro- fano, x O censo de 1864 deu-lhe 501 fogos e 2:011 habitantes— e o de 1878 deu-lhe 551 fogos e 2:271 habitantes. Em 1840 pertencia ao concelho de S. Lou- renço do Bairro, extincto pelo decreto de 31 de dezembro de 1853, pelo qual passou para o da Anadia. Demora em terreno suavemente ondulado, mimoso e fértil, na estrada districtal a ma- cadam de Luso a Mira e dista da estação de Mogofores, na linha férrea do norte, 6 kilo- metros para 0. S. O.;— 9 e meio da villa da Anadia, séde do concelho e da comarca, pa- ra O. N. 0.;-33 de Coimbra;— 100 do Porto — e 251 de Lisboa. Comprehende as aldeias seguintes:— Vil- larinho do Bairro, séde da paroehia,— Paço, Pedreira, Torres, Lameirinhas,Pontena, Moi- nho do Maio, Vendas de Samel, Quinta da Alegria, Quinta do Perdigão, Chepar de Bai- xo, Chepar de Cima, Bemposta, Levira, Mou- ta Redonda, Banhos, Ribeirinho, Azenha, Arrqta, Freixo, Mellada e Quinta do Pomo. 1 Foi villa e priorado da sereníssima casa de Bragança durante séculos. Producções dominantes: — vinho, milho, arroz, fructa e hortaliça. O seu vinho é óptimo, como vinho de me- sa, pois esta freguezia faz parte integrante da Bairrada, uma das nossas primeiras re- giões vinícolas e hoje (1887) uma das mais ricas, porque produz grande quantidade de vinho e nos últimos annos todo tem sido ex- portado por bom preço 1 para França,— bem como todo o da Beira, da Extremadura e do Minho, depois que a maldieta phylloxera ani- quilou os nossos vinhedos do Alto-Douro e os da França; mas infelizmente já todos os vinhedos da Bairrada, da Extremadura e da Beira se acham ameaçados de morte pela mesma praga I Também n'esta região vinícola da Bair- rada, nomeadamente nas freguezias de An- cas, Tamengos, Mogofores, Ois do Bairro, S. Lourenço do Bairro e n'esta de Villarinho do Bairro tem causado muitos prejuisos nos úl- timos annos a pyrale, ou lagarta da vinha, e uma epiphytia muito semelhante à da dia- galves, ílagello da nossa Extremadura. Esta paroehia é atreita a pneumonias. Em uma correspondência de 7 de janeiro de 1874, enviada d'aqui para um jornal de Aveiro, se lia entre outras coisas o seguinte: t As pneumonias agudas tem causado aqui uma mortandade, como não ha memorial Raro é o dia, em que não ha uma victima; e tem havido dias de duas. O povo anda ater- rado, porque o fúnebre toque do sino todos os dias lhe vem trazer a triste noticia de que mais um nome se riscou do rol dos vi- vos. A irmandade das almas está enterran- do os pobres, porque o único coveiro que aqui havia, também já suecumbiu: e o phar- maeeutico da terra, por nome Antonio dos Santos, também já não existe 1 Corta na ver- dade os fios da alma vêr uns poucos de me- ninos chorando sobre o cadáver de um pae que era o seu amparo, ou sobre o cadáver de uma mãe, que, já viuva, era o seu único arrimo! Até á hora em que estou escrevendo, 3 1 Tem-se vendido aqui a pipa de 600 li- tros por 30 a 36 mil réis! . . . VIL VIL 1335, da tarde, já se deram hoje á terra mais duas victimas. Se isto assim continuar, teremos de pedir providencias ás auctoridades, e á misericórdia do Altíssimo. A maior parte dos que são aeeommettj- dos pelo flagello duram só 3 a 4 dias; ou- tros, que parece estarem a salvo, recahin- do, morrem quando já se não espera.» Também as febres inlermittentes são um flagello n'esta freguezia, por ter muitos ar- rosaes. V. Vil de Mattos. Em abril de 1884 pesou sobre esta fregue- zia uma medonha trovoada, caindo por essa occasião muitas faíscas eléctricas, uma das quaes matou instantaneamente uma pobre mulher. Esta parochia foi villa e teve foral dado em Lisboa por el-rei D. Manuel, a 6 de março de 1515. Livro de Foraes Novos da Extremadura, fl. 164, col. i.» Freguezias limitrophes: — Mamarosa, Bo- lho, Ois do Bairro, S. Lourenço do Bairro, Ventosa e Covões. Alem da sua egreja matriz tem 11 capei- las publicas e 2 particulares. São as seguin- tes : 1. " — Espirito Santo. 2. " — Senhora do Livramento. 3. " — S. Bartholomeu. 4. a— S. Gregorio. 5. a— S. Geraldo. 6. *— Santa Marinha. 7. *— Senhora da Conceição. 8. a— Senhora das Febres, alvo de grande veneração, porque as febres, eomo já disse- mos, são o maior flagello que açoita esta freguezia. 9.8— .S. João. 10. "— Santa Mana Magdalena. 11. a — Senhora da Boa Morte. 12. " — Senhora dos Banhos. 1 Todas teem annualmente festa própria— e esta ultima 3 com romanas. Na séde da parochia ha uma feira men- sal. 1 O meu informador não mencionou a 13.a Tem differentes ribeiros e regatos que re- gam e moem,— e muitas fontes publicas de charco, de poço e de bica, sendo a agua ge- ralmente boa. Tem uma fabrica de louça amarella— e não tem edifícios notáveis— nem cemitério parochial l ... Os enterramentos são feitos no adro da egreja matriz, onde ainda ha poucos annos se encontravam muitas moedas de 3 réis que os antigos costumavam metter nos bolsos dos finados para pagarem ao celebre Caronte, barqueiro da fabula, a passagem para os Campos Elysios ! . . . Não era muito cara a passagem. Bem mais gastámos nós em 1880 para vi- sitarmos os Campos Elysios de Paris. Tem finalmente esta parochia duas aulas officiaes de instrucção primaria para os dois sexos. Nada resta da sua casa da camará, da ca- deia e do pelourinho, porque foram demoli- dos quando se fez a estrada districtal a ma- cadam. É hoje aqui parocho e arcypreste, aliás muito digno, o rev. sr. Joaquim Gomes dos Santos, que nasceu na freguezia de Vallongo do Vouga, concelho d'Agueda, no dia 6 de junho de 1830; — recebeu todas as ordens em Lamego;— celebrou a primeira missa em 20 d'agosto de 1853;— por decreto de 11 de de- zembro de 1858 foi apresentado na egreja do Troviscal, então diocese d'Aveiro, hoje de Coimbra,— e por decreto de 14 de julho de 1859 foi apresentado n'esta de Villarinho e n'ella se eollou em 15 de dezembro do mes- mo anno. Aproveitando o único ensejo que se nos offerece de faltarmos do concelho da Anadia no texto d'este diccionario, acrescentare- mos ao artigo próprio (V.) o seguinte : Comprehende 12 freguezias:— Ancas, Ar- cos, Avelãs do Caminho, Avelãs de Cima, Mogofores, Moita, Ois do Bairro, Sangalhos, S. Lourenço do Bairro, Tamengos, Villa No- va de Monsarros e esta de Villarinho do Bair- ro, com o total de 3:946 fogos e 16:016 habi- tantes,—segundo o recenseamento de 1878. 1336 VIL VIL No ultimo anno económico de 1885 a 1886 pagou as contribuições seguintes. Predial 10:026*237 Industrial '1:933*866 Renda de casas e sumptuária.. 734*306 Decima de juros 810*203 Sello de verba 496*580 Sello de conhecimentos 323*387 Somma 14:324*579 Os seus 3 maiores proprietários na actua- lidade são os ex.me" srs.— Marquez da Gra- ciosa,—dr. Alexandre de Seabra — edr. Fran- cisco Cancella, da freguezia dos Arcos. A producção principal d'este concelho é o vinho. No ultimo anno (1885) anno muito abundante, produziu talvez mais de 11:000 pipas de 600 litros; — esfanno produziria metade— e em annos regulares costuma pro- duzir 6 a 8:000 pipas. No anno ultimo vendeu quasi todo o seu vinho para França, a preço de 30 a 36*000 réis a pipa, — e para a França foi também no mesmo anno vendida e exportada a maior parte do vinho da Bairrada, da Beira, da Extremadura e do Minho. Sò desde outubro de 1885 até julho do anno de 1886 foram exportadas pela estação de Mogofores 8:800 pipas, pela da Mealhada cerca de 12:000— pela de Cantanhede 7:000 e pela da Oliveira do Bairro 1:500,— quasi todas para a França. É muito prospero o estado d'este conce- lho e de toda a região vinícola da Bairra- da no momento, mas essa prosperidade ten- de a declinar porque os seus vinhedos, bem como os da Beira e da Estremadura, já es- tão manchados e seriamente ameaçados pela maldita phylloxera— e poucos dos seus pro- prietários se teem resolvido a combatel-a com o sulphureto de carbone, que é o me- lhor insecticida até hoje descoberto. V. Villarinho de Cottas, Villarinho dos Freires, Villarinho de S. Romão e Villa Real de Traz-os- Montes, vol. XI, pag. 1012, col. 2.* e segg. Ao sr. Albano Coutinho, illustrado viticul- tor d'este concelho e distincto escriptor pu- blico agradeço os apontamentos que se di- gnou enviar-me. Nasceu s. ex.» em Lisboa na freguezia do Coração de Jesus aos 5 de dezembro de 1848 e foram seus paes Albano Affonso d'Almei- da Coutinho1 e D. Anna Luiza d'01iveira Gadanho, Foi alumno do nosso Instituto Geral de Agricultura, mas interrompeu o seu curso em 1868 para ir viver com seu pae, que en- tão fixára a sua residência em Mogofores, onde falleceu em 7 de março de 1876. Debutou no jornalismo aos 18 annos, pu- blicando na Gazeta de Portugal em 1867 uns interessantes folhetins, e tem posteriormente collaborado em outros muitos jornaes polí- ticos, scientiflcos e litterarios de Lisboa, Porto, Coimbra e Aveiro, taes são:— As Eco- nomias, Tribuno Popular, Districto d' Avei- ro, Gazeta do Povo, Diário Mercantil, Ar- chivo Popular, a Republica Portugueza, Diá- rio da Tarde, Gazeta Muzical, Democracia, Jornal da Tarde, Commercio do Porto, Com- mercio Portuguez, o Século, a Justiça Por- tugueza, o Povo, o Jornal de Horticultura Pratica, a Vinha Portugueza, etc. Em 1879 escreveu uma comedia original em 3 actos, — a Filha do commendador, — que foi representada com applauso na inaugura- ção do theatro da Anadia, em abril do di- cto anno— e em 1881 publicou em volume, sob o titulo Ócios (Porto, typographia Lusi- tana) a maior parte dos seus escriplos que andavam dispersos. Casou em 1879 com a sua prima D. Fran- cisca Affonso Coutinho;— t«m apenas uma filha;— vive em Mogofores concentrado na vida agrícola e da família— e é um dos mais distinctos vogaes da commissão anti phyllo- xerica da Bairrada, sua pátria adoptiva. VILLARINHO DAS CAMBAS, — freguezia do concelho e comarca de Villa Nova de Fa- malicão, districto e diocese de Braga, pro- víncia do Minho. Abbadia. Orago o Salvador;— fogos 102, —habitantes 450. 1 Veja -se o Appendice ao Diccionario Bi- bliographico de Innoeencio. VIL Em 1706 era abbadia da mitra;— rendia i20#00O réis;— pertencia ao julgado de Ver- moim, eomarea e ouvidoria de Barcellos; — contava 52 fogos— e tinha como orago S.João — segundo se lê na Çhor. Portug., vol. pag. 323, mas suppomos que foi lapso,— e por lapso também diz o sr. João Maria Ba- ptista na sua Chorogr. Mod. (tomo 2.° pag. 550) que o padre Carvalho na Chor. Port- não fez menção d'esta freguezia sob o titulo de Villar inh o de Cambas. Solatium est miseris sócios habere l. . . Em 1768, segundo se lê no Port. S. e Pro- fano, esta freguezia denominava-se Villari- nho de Cambas; — tinha como orago o Salva- dor;— era abbadia da apresentação da mitra; — contava 52 fogos— e rendia 300^000 réis. O censo de 1864 deu-lhe 91 fogos e 324 habitantes;— o de 1878 deu-lhe 77 fogos e 317 habitantes— e hoje, segundo diz o seu rev. abbade, conta 102 fogos e 450 habitan- tes I .. . Demora esta freguezia na estrada a maca- dam de Villa do Conde para Villa Nova de Famalicão, entre os rios Este e Ave. Dista da estação de Villa Nova de Fama- licão (a mais próxima) na linha férrea do Minho 4 kilometros para S. O.;— 5 de Fama- licão também para S. O.;— os mesmos 5 da margem direita do Ave para N. e lambem 5 da margem esquerda do rio Este para S.E.; —18 de Villa do Conde para E.N.E.;— 26 de Braga; — 37 do Porto — e 374 de Lis- boa. Comprehende as aldeias seguintes: — Vil- larinho das Cambas, séde da parochia, — Egreja, Monte, Nasce-Agua, Padrão, Eiras, Eirado, Vigia, Casermo, Barranhas, Paço, Chãos, Venda, Cruz, Espide, Santo, Cancel- la, Outeiro, Outeirinho, Bouça, Barrinho, Lagoas, Pena, Vessadinha e Lameiro. A Chorogr aphia Moderna menciona mais as seguintes:— Parada, Pedra d'Anta, Pom- balinho e Souto. Ha também n'esta parochia uma quinta importante, denominada ^Outeiro, perten- cente ao sr. Antonio Fernandes Ilhão. Freguezias limitrophes:— Fradellos a O.; VIL 1337. — S. João do Callendario a E.;— Gemunde Cavallões e Gondifellos a N. — e Bibeirào a S. Producções dominantes: — milho, vinho verde, hervagens, fructa e madeira de pinho em grande quantidade, pois tem vastos pi- nheiraes. A egreja matriz é notável pela sua anti- guidade e pelas suas riquíssimas decorações de obra de talha dourada e pinturas a oleo no tecto da capella-mór, representande a transfiguração e outros mysterios do Salva- dor, orago d'esta freguezia, — e no tecto do corpo da egreja 15 painéis restaurados em 1733 e que também representam vários mys- terios de Christo. Ha também n'esta egreja imagens de boa esculptura. As festas principaes que hoje aqui se ce- lebram são duas:— S. João Baptista, a 24 de junho,— e Nossa Senhora da Paz, no dia da Assumpção. Banha esta freguezia o ribeiro de Villari- nho, que desagua no Ave, a 5 kilometros de distancia. Bega, moe e abunda em peixe miúdo, no- meadamente trutas. Foi muito importante n'esta freguezia a industria da engorda de bois para a Ingla- terra,—industria decadente na actualidade. V. Villar d'Andorinho. Em compensação nos últimos annos tem vendido por bom preço todo o seu vinho para a França, nomeadamente para Bordéus. V. Villa Verde, séde de concelho e co- marca. É muito antiga esta parochia, como pro- vam a sua egreja matriz e as suas ricas de- corações—e melhor ainda as sepulturas e ossadas que teem apparecido no Campo da Junqueira, pertencente á grande quinta do Outeiro, na povoação d'este nome, — campo, onde, segundo diz a tradição, houve um convento antiquíssimo de frades bentos, que o abandonaram e se transferiram para o de S. Simão da Junqueira, próximo de Villa do Conde e distante d'esta freguezia cerca de 10 kilometros para O. S. O. V. Junqueira, freguezia, Douro, vol. 3.' pag. 427, col. 2.» 1338 VIL VIL Era o dieto campo foreiro ao mencionado convento, pelo que em 1834, sendo extinctas as ordens religiosas, passou aquelle fôro pa- ra a fazenda nacional, e em 2 d'outubro de 1857 o governo o poz em hasta publica e o comprou pela quantia de 68$ 110 réis Anto- nio Fernandes Ilhão, dono da mencionada quinta do Outeiro, e que já era emphyteuta do dicto campo. Alguém diz que o convento benedictino e depois cruzio de S. Simão da Junqueira foi primitivamente fundado no dicto campo, mas nem a Benedictina Luzitana, nem a Chronica dos Cónegos Regrantes dizem coisa alguma a tal respeito. N'esta parochia ha grandes jazigos de ferro. Por decreto de 31 d'agosto de 1878 foram reconhecidos como proprietários legaes de uma mina de ferro, sita na aldeia de Espido, Sebastião Maria dos Santos, Francisco José d'01iveira, João Gomes Ferreira e o padre Antonio da Silva Ferreira, mas até hoje não deram principio á exploração; — e na quinta do Outeiro brotam aguas ferruginosas em terreno em parles muito escuro e n'outras avermelhado, o que parece revelar também jazigos de carvão e ferro. Clima temperado e saudável. Doenças predominantes— pneumonias no inverno. A rezidencia parochial é muito antiga e está muito arruinada com o peso dos sécu- los. Por occasiâo do grande terramoto de 1750 estalou a soleira da porta principal da ma- triz d'esta parochia e ainda se conserva fen- dida. Abbades Até 1542— Manuel Dias. >> 1590— Francisco Soares, que foi tam- bém cónego da Sé do Porto. Até 1612— Estevam da Costa. b 1648— Gaspar Gonçalves de Figuei- redo. Até 1685— Joaquim de Sá. » 1714— Luiz de Sá. » 1736— Manuel Ferreira da Cruz. Até 1776— José Freire da Costa. » 1813— Ignacio Ribeiro de Queiroz. » 1845 — Pedro Ignacio Rodrigues da Costa, visitador. Até 1850— Joaquim Pereira de Vascon- cellos Carneiro. Até 1852— Antonio JoséRernardo de Car- valho. Desde 1852— Joaquim Alves da Silva. É o rev. abbade actual. Esta freguezia ainda não tem cemitério* Os enterramentos são feitos no adro. Alguém nos disse que esta parochia se de- nominava Villarinho das Campas, o que foi para nòs uma surpreza; mas é certo que vulgarmente e offlcialmente se denomina Villarinho das Cambas e assim a denomina- ram a Chorographia Portugueza, o Portugal Sacro e Profano, o Flaviense, etc. Ao sr. Joaquim Azuaga, digníssimo dire- ctor da estação de Villa Nova de Famalicão na linha férrea do Minho e redactor princi- pal da Alvorada, interessante jornal littera- rio que se publica na mencionada villa, agra- deço os apontamentos que se dignou en- viar-me. VILLARINHO DAS CAMPAS. — Leia-se Villarinho das Cambas. Vide. Em todo o nosso paiz uão temos aldeia nem parochia alguma denominada Campas ou Villarinho das Campas. VILLARINHO DA CASTANHEIRA,— villa extincta, hoje simples freguezia do concelho de Carrazeda d'Anciães, comarca de Mon- corvo, districto e diocese de flraganç.a, pro- víncia de Traz-os-Montes. Abbadia. Orago Santa Maria Magdalena; —fogos 262,— habitantes 1:080. Em 1706 era villa da coroa e cabeça de ■ uma grande abbadia da opção do cabido e mais ecclesiasticos do côro da Sé de Draga, a cuja diocese pertencia ecclesiasticamente — e judicialmente á comarca de Moncorvo; — era séde do concelho do seu nome e tinha 2 juizes ordinários, vereadores e juiz dos or- phãos com seus officiaes, 1 capitão-mór e 1 sargento-mór, aos quae9 obedeciam 3 capi- \ tães de 3 companhias de ordenanças da villa VIL VIL 1339 e seu termo. Comprehendia este as 8 fregue- zias seguintes (além da séde) -.--Pinhal, 1 (do Douro) — Castedo, Carvalho d'Egas, Lousa, Seixo de Manhoses, Val de Torno, Gavião, hoje simples aldeia da freguezia de Seixo de Manhoses, — e Lagoa, hoje simples aldeia tam- bém da freguezia de Val de Torno. Os parochos d'estas 8 freguezias eram to- dos apresentados pelo abbade de Villarinho da Castanheira, mas o cabido de Braga re- cebia os dízimos de todas, inclusivamente da de Villarinho, — dízimos que andavam então arrendados por 64O#0O0 réis. Ao tempo contava esta parochia 200 fo- gos—e rendia para o abbade 150$000 réis. Em 1768 era abbadia da mesma apresen- tação— e contava 201 fogos. O censo de 1864 deu-lhe 221 fogos e 877 habitantes,— e o de 1878 deu-lhe 260 fogos e 1:015 habitantes. A povoação de Villarinho da Castanheira demora em um planalto alegre e vistoso na antiga estrada de Anciães para Moncorvo e dista 5 kilometros da margem esquerda do Douro para N.; — 6 da estação de Freixo de Numão (a mais próxima) na linha férrea do Douro;2— 12 de Carrazeda d'Anciães para 1 A Chorogr. Portugueza não diz qual era a invocação d'esla parochia e por isso não sabemos se se referia á de Pinhal do Douro, orago o Espirito Santo, — ou á de Pinhal do Norte, orago Nossa Senhora das Neves,— hoje ambas d'este concelho; menciona porem outra freguezia com o mesmo nome de Pi- nhal, e da apresentação do abbade de Mar- zagão, no termo da extincta villa d'Anciães e pertencente á commenda de S. João Ba- ptista de Marzagão, o que nos leva a crer que á villa e termo de Villarinho da Casta- nheira pertencia então a freguezia de Pinhal do Douro — e á villa e termo de Anciães a de Pinhal do Norte. O Port. S. e Prof. também diz que a freguezia de Pinhal, orago Nossa Senhora das Neves, era apresentada pelo pa- rocho de Marzagão. V. Pinhal do Douro e Pinhal do Norte. 2 Esta linha vem do Porto e acompanha a margem direita do Douro até passar em um tunnel de 700 metros o Cachão da Valleira; — depois, um pouco a montante (kil. 132) passa para a outra margem (esquerda) do Douro em uma ponte de 7 vãos com a ex- S. E.;— 15 de Villa Flor para S.S.O.;— 24 de Moncorvo para 0. N. 0.; — 171 do Porto— e 508 de Lisboa. Freguezias limitrophes:— -Val Torno, Lou- sa, Castêdo, Fonte Longa, Mourão e Seixo d'Anciães. O clima d'esta parochia é temperado e sau- dável na parte alta, mas na margem do Dou- ro e nas suas Íngremes encostas é arden- tíssimo no verão e um medonho viveiro de sezões! Costuma ali o thermometro subir a 40 graus á sombra, quando na villa mar- ca 20 1 A baixa é uma verdadeira zona tórrida, como toda a margem direita do Douro desde a Begoa até á Barca d'Alva,— emquanto que a parte alta d'esta freguezia e d'este conce- lho é fresca, muito habitável e fórma a região denominada Terra Fria, ou Frieira, em op- posição á Terra Quente, comprehendida nos concelhos de Murça, Alijó e Mirandella. A parte alta é abundantíssima de agua potável e de rega, — emquanto que a baixa no verão só tem a agua do Douro e alguns charcos pestilentos. A parte alta produz vinho, trigo, milho, azeite, muitas batatas e castanhas, — em quanto que a baixa apenas produz magni- fico azeite em grande quantidade, amêndoas, sumagre e centeio. Também produzia bastante vinho supe- rior, antes da phylloxera destroçar os seus vinhedos, como destroçou quasi todos os do Alto Douro e d'esta província transmontana, achando-se também no momento (agosto de 1886) infelizmente já manchados e seria- mente ameaçados todos os outros vinhedos do nosso paiz. V- Villarinho do Bairro, Villarinho de Cot- ias, Villa Flor e Villa Real de Traz-os-Mon- tensão total de 412m,50. — e segue d'ali sem- pre pela margem esquerda d<» Douro até á Barca d'Alva, onde entra aa Hespanha, se- guindo até Salamanca., etc. Está aberta á circulação até á Foz do Tua, mas ainda este anno de 1886 deve abrir-se ao transito até á estação do Pocinho ou de Moncorvo, — e em 1887 ficará aberta ao tran- sito até Salamanca. V. Vias Férreas. 1340 VIL VIL tes e Villarinho de S. Romão, vol. XI, pag. 1012, col. 2." e segg. Esta parochia, alem da villa de Villarinho da CastaDheira, não comprehende outras po- voações, mas somente 4 fogos na grande quinta de Lovazim, 3 nos moinhos do Couto e 3 na quinta e nos moinhos da Cova Es- cura. Alem d'estas duas quintas, merecem espe- cial menção também a da Telhada, perten- cente a Sebastião d'Azevedo Lobo, de Seixo d'Anciães, cuja producção é azeite (5 a 6 pi- pas)— e a dos Lagares, pertencente ao padre José Maria d'Aguílar, da freguezia das Sei- xas, concelho de Foscôa. A de Lovazim é hoje absolutamente a pri- meira e a mais importante d esta freguezia e d'este concelho e uma das primeiras do Alto Douro e d'esta província,1 porque a sua producção dominante foi sempre azeite; — costuma produzir a bagatella de 80 a 100 pipas de 550 litros por anno;— tem 25 a 30 mil oliveiras, — 2 casas de habitação brazo- nadas e 19 com abegoarias e outras offici- nas; mede 5 kilometros ao longo do Douro, no qual tem as azenhas de D. Maria com 3 rodas de moinhos que andam arrendadas por 100 alqueires de pão,— apascenta 1:000 cabeças de gado lanígero;— produz também 1:000 a 1:500 medidas de centeio de 15 li- tros e 20 a 30 arrobas de amêndoa, 2— Tem finalmente 1 forno de telha na margem do Douro e magnificas lodeiras que, plantadas de vides, podem dar 100 a 200 pipas de vi- nho por anno?!. .. Este magnifico prédio com alguns outros mais pequenos que o seu feliz proprietário 1 D'ella tomou o nome de Lovazim um dos pontos do Alto Douro. Tem o n.° 74 na lista que sob o titulo Pontos do Douro (V.) pu- blicamos no vol. 7.° pag. 199 col. 2." Não se confunda com o ponto n.° 16 da mesma lista, denominado também Lovazim, junto de uma quinta de egual nome, na fre- guezia de S. Thomé de Covellas, concelho de Baião, defronte da parochia e do concelho de Rezende. 2 Ha n'esta província proprietário que co- lhe mais de 400 arrobas d'amendoa por an- no I . . . possue n'este concelho, paga 222#400 réis de contribuição predial. Só por esta quinta offereceu cem contos de réis o fallecido par do reino Francisco José da Silva Torres, segundo marido da sr.* D. Antónia Adelaide Ferreira, representante da opulenta casa Ferreirinha, da Regoa, ava- liada em seis mil contos ? !. .. 1 Foi dono d'esta quinta e d'outras muitas na província da Beira, nomeadamente em Freixo- de Numão, sua terra natal, Manoel de Castro Pereira de Mesquita, ministro da rai- nha D. Maria II. Fez a expedicção de Mos- cou e na guerra da península montou á sua custa e commandou uma companhia de ca- vallos. Nasceu em 1778;— casou em Lisboa com D. Maria Clara Braamcamp, irmã de Ansel- mo Braamcamp, e— já viuvo e contando 85 annos de idade,— falleceu a 16 d'agosto de 1863 na rua do Calvário, freguesia de Mira- gaya, no Porto, onde jaz em deposito, no cemitério oriental, até que seja trasladado, como determinou, para a sua capella de Vil- larinho da Castanheira. 2 Não deixou successão, pelo que instituiu universal herdeiro o seu sobrinho Luiz de Castro Pereira, residente em Freixo de Nu- mão. É casado e tem duas filhas : — D. Guilhermina de Castro Pereira, ca- sada com o seu primo Joaquim Augusto de Sá Menezes, do Villarôco, e—D. Maria da Purificação de Castro Pereira, casada com o seu primo Sebastião Teixeira Lobo Pigarro 1 V. Villa Real de Traz-os-Montes. vol. 11.° pag. 1013, col. 1." Entre as muitas quintas que esta família tem no Alto-Douro avulta na margem es- querda, em frente d'este concelho de Carra- zeda d'Anciães e quasi defronte da quinta de Lovazim, a magestosa quinta do Vesúvio, que é absolutamente a primeira do Alto e Baixo Douro. V. Vesúvio. 2 V. Freixo de Numão no supplemento a este diceionario; — entretanto podem ver-se as Memorias Histórico- Genealógicas dos Du- ques Portuguezes do século xix por J. Carlos Feo e visconde Sanches de Baêna, pag. 644, 645 e 646 (nota). VIL VIL 1341 e Castro, da nobre Casa da Capella, era Sa- brosa. Templos Alem da egreja matriz, que é um bom templo com altar mór e 4 lateraes, ricamente decorados com talha antiga dourada,— tem esta freguezia as 10 capellas seguintes : 1. »— Senhora da Fé, na extremidade da villa, indo para Carrazeda. Tem um só altar com a arvore de Jessé e 12 imagens nos 12 braços de granito. É de for- ma redonda, como um pombal, e antiquíssi- ma, com portas d'arco de volta inteira; — está em sitio muito vistoso;— é publica— e d'ali se descobre Villa Flor e grande parte d'esta província de Traz-os-Monies, da Beira e muito terreno da Hespanha. 2. a— Nossa Senhora da Assumpção, em um morro a N. da villa, d'onde se descobre um vasto horisonte. É também publica, singella e moderna; — está bem conservada, mas não tem festa nem romaria. 3. a— S. Sebastião, ao sul da villa, no ca- minho de Moncorvo. É também publica, singella e aberta ao culto. 4. a— Santo Antonio, dentro da villa. É publica e tem porta d'arco de volta in- teira e campanário. 5*— Senhora do Rosario, também na villa, com porta d'arco de volta inteira e campa- nário. Publica e aberta ao culto. .a— S nhor do Calvário, também na villa. Foi particular, mas hoje é publica e está em frente da de Nossa Senhora do Rosario. 7. " — Senhora da Purificação. É particular e brasonada, pertencente a um dos palace- tes da família Castro Pereira e foi cabeça de vinculo. 8. " — Santa Luzia, também brazonada e pertencente á grande quinta de Lovazim da mesma família Castro Pereira. Também foi vincular. 9. * — profanada, na mesma quinta de Lovazim. 10. * — S. Bartholomeu. É publica. VOLUME SI Feiras Tem uma mensal, no primeiro dia de cada mez. Em gado bovino da raça mirandesa, cru- sada com a raça gallega, é a primeira da província,— mais importante do que as de Chacim, Bragança e D. Chama. Por vezes n'ella se reúnem a um tempo mais de 2:000 cabeças de bois? I . . . O preço de cada junta nos ultimo» annos tem regulado aqui por 20 a 40 libras, mas algumas se tem vendido por ò'0 a 60. Viação Esta freguezia não tem estrada alguma a macadam — e este concelho tem apenas uma que faz parte da de Villa Real a Freixo de Espada á Cinta por Sabrosa, Alijó, Foz Tua, Carazeda d'Anciães, ponte da Junqueira, Moncorvo, etc. N'este concelho está construída desde a Foz do Tua até Carrazeda d'Anciães. Também este concelho comprehende cerca de 12 kilometros da linha férrea do Douro — e um troço da linha férrea do Tua. Pessoas notáveis Pela sua virtude— o capitão mór Manoel Antonio Pimentel e Castro — e pela sua in- quebrantável rectidão o juiz Francisco Va- nim de Castro. Poderíamos levar muito longe esta lista folheando as genealogias das muitas famí- lias nobres que atè hoje tem tido esta villa, com os appellidos de Almeida, Pinto, Cas- tro, Pereira, Mesquita, Botelho, Mello, Ten- reiro, Tavares, Magalhães, Abreu, etc. Ainda conserva 6 edifícios brasonados: 1. ° — A casa que foi de Manoel de Castro Pereira e que é ainda hoje absolutamente a primeira da villa. 2. ° — A casa que foi de João Evangelista Nogueira, hoje dos herdeiros de Joaquim Lo- pes Cardoso. 3. °— A que foi do capitão mór Manuel Antonio Pimentel e Castro e que é hoje de João Gomes Ferreira. 85 1342 VIL VIL 4.° — Outra que foi do mesmo capitão mor e é hoje de D. Maria Eugenia d' Azevedo Lobo. ò\° e 6.°— As duas casas brasonadas da quinta de Lovazim, que foram do mencio- nado Manuel de Castro Pereira e são hoje do seu sobrinho e herdeiro Luiz de Castro Pereira. Os antigos paços do concelho d'esta villa foram comprados por um individuo que os reedificou e transformou era habitação par- ticular. Teem na frente um bom largo, que foi a antiga Praça. O pelourinho também já desappareceu. Banham esta freguezia o Douro e 2 ribei- ros que desaguam no Douro, denominados — ribeiro de Valdranje e do Couto. Tem este ultimo uma ponte que dá passagem para o Douro e para a grande quinta de Lovazim; — rega e move 3 moinhos;— o de Valdranje rega e move 2 moinhos; — e o Douro, nos li- mites d'esta parochia, tem 3 moinhos nas Azenhas de D. Maria, pertencentes á quinta de Lovazim. Ha n'esta freguezia uma aula offlcial mixta de instrucção primaria para os dois sexos. Esta parochia pertenceu ao concelho de Villarinho da Castanheira, de que foi a séde, extincto pelo decreto de 31 de dezembro de 1853, pelo qual passou para o de Carrazeda d'Anciães. Também pertenceu ao arcebispado de Braga até 1882, data da ultima [circums- cripção diocesana, em virtude da qual pas- sou para o bispado de Bragança com todas as freguezias que eram do arcebispado de Braga na margem esquerda do Tua e que obedeciam ao vigário geral de Moncorvo, comprehendendo este concelho de Carrazeda d'Aneiães e os de Villa Flor, Alfandega da Fé, Moncorvo, Mogadouro e Freixo d'Espada á Cinta, hoje todos do bispado de Bragança. Também perdeu em favor do bispado de Lamego, desde a margem direita do Tua até á esquerda do rio Corgo, os concelhos de Sabrosa e Alijó e parte dos da Regoa, Pena- guião e Villa Real de Traz-os-Montes. V. Villa Real, vol. 11.° pag. 927, col. 2.« Antiguidades Esta povoação data de tempos muito re- motos, como provam os 3 dolmens que ain- da hoje aqui se encontram: 1. ° — Na planície alta, denominada Couto, cerca de 3 kilometros ao sul da matriz no caminho de Cabeça Boa. É um dolmen ainda com ara, assente so- bre 3 grandes pedras, a meio da planície. A ara tem cerca de 2m,25 em quadro; — as pedras em que assenta avultam sobre a superfície do solo cerca de 3 metros; — o todo forma uma espécie de casa térrea com en- trada do lado norte — e junto d'este dolmen ha era communicação com elle um caminho subterrâneo, coberto por lageas também de granito e que dá saida para o campo. 2. °— N'este mesmo sitio do Couto. Já não tem ara. 3. °— Junto do caminho do Moncorvo, á es- querda indo de Villarinho de Castanheira e distante d'esta villa cerca de 4 kilome- tros. Também já não tem ara, mas só grandes pedras toscas de granito a prumo. O povo denomina estes dolmens Palas Mouras e está convencido de que encerram grandes thesouros, guardados por mouras encantadas, que alguém jura ter visto na manhã de S. João; mas quem não acreditar não pecca. No mencionado sitio do Couto ha uma notabilidade d'outra ordem : — o Casta- nheiro do Gaiteiro, assim denominado por- que, segundo diz a lenda, nelle se refugiou in illo tempore um tocador de gaita de folie, perseguido pelos lobos, que se acercaram do castanheiro e miravam o tocador, como que aguardando a descida d'elle para o devora- rem. Vendo-se o homem livre dos dentes das feras, lembrou-se de soprar ao folie e de to- car a gaita. Feliz lembrança, porque os lo- bos apenas ouviram tão estranho som, bate- ram em debandada I Ficou o bom do homem satisfeitíssimo;— desceu bemdizendo a lem- brança—e, divulgando-se a historia, todos d'ahi em diante a contavam sempre que VIL VIL 1343 viam o castanheiro, pelo que ainda hoje se denomina Castanheiro do Gaiteiro. Vae pelo mesmo preço. Esta villa nunca foi murada, mas, segun- do se lè na Chor. Port., teve um castello, que já em 1706 estava em ruinas. Suppomos que este castello demorava no alto do monte ou serra que avulta entre esta parochia e a da Lousa. D'ali se descobrem terras dos 14 bispados seguintes: — Braga, Bragança, Porto, Lame- go, Vizeu, Guarda, Coimbra, Samora, Sala- manca, Cidade Rodrigo, Placencia, Coria, Orense e Tuy. Teve esta villa 4 foraes: Dado por D. Affonso II em 6 de de- zembro de 1218. Liv. II de Doações do Sr. Ret D. Affon- so II, fl. 61,— e Liv. de Foraes antigos de Lei- tura Nova, fl. 124, v. col. 1." 2. °— Dado por D. Diniz, estando na Guar- da, em 22 de julho de 1287. Liv. I." de Doações do Sr. Rei D. Diniz, fl. 204, v. col. l.a— e Gav. 15, Maço 9, n.° 21. 3. °— Dado por D. Pedro I em Braga, a 12 de junho de 1363. Gav. 15. Maço 8, n.° 19. 4. ° — Dado em Lisboa por D. Manuel a 13 de julho d« 1514. Liv. de Foraes Novos de Trás os Montes, fl. 22, v. col. 1.» Poucas villas do nosso paiz tiveram tan- tos foraes como esta, o que prova que foi uma villa muito importante I . . . Entre os muitos privilégios concedidos pelos seus foraes, um d'elles era o seguinte: O cavalleiro que perdia o seu cavallo ficava escuso do serviço— não por um anno, con- forme o costume geral,— mas durante cin- co!... Historia de Portugal de Alexandre Her- culano, tomo 4.° pag. 326. Devia ser muito interessante a collecção dos seus 4 foraes, mas infelizmente jazem no sancta sanctorum da Torre do Tombo. Foi senhor d'esta villa o celebre vice-rei da índia Lopo Vaz de Sampaio. V. Anciães n'este diccionario e no supplemento. Curiosa estatística Segundo se lê na Descripção da Provinda de Traz os Montes pelo dr. Columbano Pinto Ribeiro de Castro (Códice n.° 486 da Biblio- i lheca Munip. Port.) o extincto concelho de j Villarinho da Castanheira contava em 1796 I a população seguinte: Fogos 927, homens 1:760, mulheres 1:566, habitantes (total) 3:321; barbeiros 3, pe- dreiros 14, sapateiros 21, alfaiates 29, pin- tores 1, moleiros 2, presbyteros seculares 19, presbyteros regulares (frades) 8, pessoas lit- terarias (?) 8, sem occupação ti6, negocian- tes 17, cirurgiões 5, boticários 1, lavradores 213, jornaleiros 509, carpinteiros 24, ferrei- ros 6, ferradores 3, pastores e almocreves 0, criados 16, criadas 37. Do antigo castello de Villarinho da Cas- tanheira dizia um documento de Moncorvo de 1370 o seguinte : «E não tinha o castello de Villarinho agua nenhua, nem almazem, nem açalmameqto nenhum.» No anno de 1372 el-rei D. Fernando I deu à villa de Moncorvo toda a jurisdiccão das villas de Moz e Villarinho da Castanheira, porque os de Moncorvo lhe peticionaram di- zendo:—que o seu termo, tendo sido mui grande, se achava muito reduzido no mo- mento, em rasão dos julgados e terras que os nossos reis lhe haviam tirado, com o que a villa se achava desfaleçuda e temia graves damnos, quando fosse atacada pelos inimi- gos. E que agora mesmo (1372) tinha sido cercada e combatida por muitas companhas d'elles, que lhes queimaram os arrabaldes, roubaram os gados e fizeram outros muitos damnos, e comtudo elles defenderam a villa até que os inimigos se auzentaram, emquanto que os de Moz e Villarinho da Castanheira se entregaram, sem serem combatidos, etc, pelo que pediam a el-rei lhes desse a juris- dicção civil e crime dos dictos logares e con- celhos. El-rei promptamente deferiu, atlendendo aos relevantes serviços que tinha recebido e esperava receber dos de Moncorvo e ao grande deserviço dos dictos logares; — mas 1344 VIL VIL como havia de defender- se o pobre Castello de Villarinho, se, como já dissemos, elle não tinha agua, nem almazem, nem açal- mamento nenhum? VILLARINHO DE COTAS.-freguezia do concelho e comarca d'Alijó, districto de Villa Real, bispado de Lamego, província de Traz os Montes. Vigairaria. Orago Santo Antonio;— fogos 52 —habitantes 180. Em 1706 era da apresentação do parocho de Favaios, a cuja vigairaria estava annexa; — pertencia ao termo da villa, comarca e ou- vidoria de Villa Real;— tinha uma capella da invocação de Nossa Senhora do Couto — e contava 25 fogos. Em 1768 era vigairaria da apresentação dos arcebispos de Braga;— rendia para o seu parocho apenas 10$000 réis, além do pé d'al- tar,--e contava 23 fogos. O censo de 1864 deu-lhe 57 fogos e 222 habitantes,— e o de 1878 deu-lhe 55 fogos e 161 habitantes. A saa população tende a diminuir, por causa da grande calamidade que assola o Alto Douro, nomeadamente esta freguezia e as circumvisinhas, como logo mostraremos. Alem da povoação de Villarinho de Cotas, séde da freguezia, comprehende apenas a povoação da Orgueira (sò para os effeitos ci- vis) com 17 fogos, i— e varias quintas de vi- nho, hoje todas phylloxeradas e quasi todas incultas, mas que antes da invasão phyllo- xerica produziam muito vinho do mais ge- neroso do Douro, de Portugal e do mundo! Mencionaremos apenas as seguintes : 1. "— De José Silvério da Silva, de Celei- ros, e que foi do conde de Villa Pouca. 2. a— A que foi do conselheiro Basilio Al- berto Teixeira Cabral, hoje dos seus herdei- ros. 3. a— De José Maria da Veiga Cabral de Sampaio, de Casal de Loivos. 4. a— De Luiz Teixeira Mourão, de Casal de Loivos também, hoje toda inculta. 1 Ecclesiasticamente pertence a Casal de Loivos. i 5.»— De Antonio Teixeira Cavalleiro, de Villarinho de Cotas. 6. " — De D. Francisca de Sousa Veiga, tam- bém de Villarinho. 7. *— De José Correia, de S. Martinho de Anta, concelho de Sabrosa. 8. " — De Bento Teixeira, também de S. Mar- tinho d'Anta. 9. "— De Manuel Carlos de Magalhães, de Alijó. 10. a— De Francisco Julio d'Aguiar, da al- deia da Povoa, annexa á freguezia de Cotas. 11. " — De D. Margarida de Menezes e Mel- lo, de Villarinho de Cotas. 12. a— A que foi de D. Marianna Jordão, do Porto. 13. a— A que foi do general José Paulino de Sá Carneiro e que fazia parle da legitima de sua esposa D. Marianna de Mendonça Ca- bral, parenta próxima do poeta Francisco José Cabral, de quem logo fallaremos. 14 . "— A que foi do morgado Manuel Alves de Meneses Abreu, de Villarinho de Cotas, hoje domiciliado no Alemtejo ! . . . Note-se que todas estas 14 quintas demo- ram no Roncão, n'essa zona privilegiada que produzia o vinho absolutamente melhor do Alto Douro. Denomiaa-se Roncão o terreno cortado de norte a sul pelo ribeiro da Povoa, que des- agua na margem direita do Douro, alguns kilometros a montante do Pinhão. O dicto ribeiro é a linha divisória entre as freguezias de Cotas e Villarinho de Cotas, pertencendo a esta as quintas da margem direita— e áquella as da margem esquerda. Pelo facto de serem as que produziam o vi- nho mais generoso do Douro estão todas completamente phylloxeradas;— quasi todas incultas;— muitas abandonadas— e algumas já pertencem ao Ranço Hypothecario ! . .. Infeliz Douro 1 . . . O sr. Luiz Teixeira Mourão mandou al- gumas amostras de vinho da sua quinta n.° 4 á exposição internacional de Paris em 1867 e obteve a medalha d'ourol Também concor- reu ás exposições internacionaes de Vienna d'Austria e da Philadelphia, nas quaes obte- ve igualmente as primeiras distincções. Tal VIL VIL 1345 «ra a excellencia e superioridade do vinho da sua quinta do Roncão, — hoje completa- mente phylloxerada, abandonada e incul- ta!-.. Veja-se o Douro lllustrado, onde o sr vis- conde de Villa Maior, de pag. 116 a 120, descreveu com mão de mestre o clássico Roncão e muitas das suas quintas mais no- táveis, entre as quaes avultam as da Roma- neira, Sibio, Malheiro, D. Ismenia, dos Reis ou do Abbade, etc, e que nós não descre- vemos, porque não pertencem á freguezia de Villarinho de Cotas. Prosigamos. Demora a povoação de Villarinho de Co- tas em sitio relativamente alto, Íngreme, ar- dente e schistoso, na margem direita do Douro e na esquerda do Pinhão, confluente do Douro. Dista do rio Pinhão 2 kilometros paraE.; —2 e meio do Douro para N.; — 3 da esta- ção de Cotas na linha férrea do Douro, para N.N.O.;— 5 da do Pinhão para* N.N.E., pela nova estrada a macadam;— 6 da villa de Fa- vaios para S.S.O.;— 8 da villa d'Alijó, tam- bém para S.S.O.;— 132 do Porto, pela esta- ção do Pinhão,— e 470 de Lisboa. Freguezias limitrophes:— Casal de Loivos, Val de Mendiz, Cotas e Favaios. Producções dominantes: — outr'ora vinho generosíssimo e azeite superior também; — hoje azeite, pouco vinho, algum centeio e nada mais I Outr'ora foi uma povoação muito rica, por que produzia 500 a 600 pipas de vinho do mais generoso e mais caro do Alto Douro, — vinho que alguns annos se vendeu a réis 100$000 a pipa de 550 litros em mosto emquanto que hoje é infelizmente uma das povoações mais pobres, depois que a raaldi- cta phylloxera anniquilou os seus vinhedos, que eram toda a sua riquesa, a sua produc- ção principal e por assim dizer única. E não se pôde substituir por outra equivalente, porque o seu chão é muito árido, — schistoso e ardentíssimo no verão. Tremem ali de se- 1 Ainda esfanno de 1886 aqui se vendeu algum em mosto a 90$000 réis a pipa. sões os gatos, as gallinhas e os cães, — esta- lam as pedras com o calor, — derrete- se a solda das vazilhas de lata, destemperam-se os instrumentos de fio expostos aos raios do sol,— e todas as arvores, inclusivamente as oliveiras, juncam de folhas a terra no verão. Só as vides se conservavam viçosas n'aquella zona de fogo e produziam o mais bello Port Wine, inveja do mundo inteiro !. . . Antecipando-se bastante aqui a maturação das uvas, os seus proprietários (honra lhes seja I) não antecipavam as vindimas. O vi- nho perdia em quantidade, mas ganhava em qualidade. Quando colhiam as uvas estavam quasi todas em passa, tão doces como arrobe. Mal podiam comer-se e, quando os feitores não vigiavam muito de perto as vindimadeiras, furtavam arrobas de passas. As vindimadeiras usavam por vezes nava- lhas pesadas ou facas de ferro para corta- rem as uvas, mas, depois de humedecerem as mãos no mosto, embora as abrissem e voltassem para o chão, as facas e nava- lhas ficavam presas e como grudadas com colla I Os homens conduziam ás costas em gigos as uvas para os lagares. Costumavam trazer as pernas nuas do joelho para baixo e hú- midas com o mosto que escorria dos cestos; para descançarem pousavam-nos de longe em longe nas paredes das vinhas, e, como estas em geral são de schisto miúdo, por ve- zes, ao tomarem de novo os cestos á9 cos- tas, collavara-se-lhes ás pernas fragmentos de schisto de volume considerável e não se desprendiam facilmente. Tal era a espessura e adherencia do mosto 1 . . . Ainda o lagar não estava cheio, já o mosto principiava a ferver e, apenas se fazia o córte das uvas, o vinho fervia em cachão; — todo o congo vinha logo á superfície e for- mava uma densa manta. Não succedia como succede em outras regiões vinícolas, onde são precisos muitos dias de trabalho para se desenvolver a fervura. E que aroma não exhalava o mosto dos grandes lagares t Sentia-se por vezes a 1 ki- 1346 VIL VIL lometro de distancia e dentro da casa dos lagares o cheiro suíTocava! Lançado o mosto nos toneis, por vezes transudava atravez das fendas da madeira, mas não corria como corre o das outras re- giões vinícolas. Condensava-se como assu- car em ponto alto e tocando-se-lhe com um dedo formava fio até 6 decimetros d'exten- são — e mais, como nós, quando criança ex- perimentámos muitas vezes em uma quinta qu« temos no Alto Douro, l— quinta de bom vinho também, mas muito inferior ao d'esta freguezia. Para se formar idéa da superioridade d'este vinho, note-se que, sem outro adubo alem d'aguardente, pôde atravessar séculos, tornando-se cada vez melhor. Já hoje o de 1815 se paga a 9$000 réis o litro— e, se appareeesse á venda vinho do tempo da instituição da companhia criada pelo marquez de Pombal (1756) valeria o li- tro 3 a 4 libras I ... 2 Costumava carregar-se no verão e, como por vezes os armazéns distavam do Douro 3 a 6 kilometros de péssimo caminho e a con- ducção era feita em carros tirados por bois e, por consequência, muito morosa, as pipas chegavam ao caes ardendo e o vinho a fer- ver dentro d'ellas 1 Não exageramos. Nós mui- tas vezes, cofiando o ouvido ás pipas, ouvimos o marulhar da fervura ! Assim estavam no caes sobre a areia can- dente e expostas á tisneira do sol por vezes oito dias, até se completar a carregação do barco; — no barco seguiam para o Porto, sem- pre da mesma fórma e sem abrigo algum.— e do Porto iam para a Inglaterra, para a 1 Campo Velho, no valle do Tedo, hoje também toda phylloxerada e quasi toda in- culta e perdida! . . . V. Villa Real de Traz-os-Montes, vol. XI, pag. 1U14. 2 Com relação á celebre Companhia dos Vinhos veja-se o artigo Victoria, freguezia do Porto, vol. X, pag. 597, col. 1.* e segg. America, para a índia, ela, podendo dar tres voltas ao globo sem o vinho desmerecer. Pelo contrario — melhorava sempre, sendo o de torna-viagem uma especialidade distincta 1 D'esse licor dos deuses produziu esta pa- rochia em 1840—503 pipas;— este concelho d'Alijó 10:232— e o de Sabrosa 10:873, i— total 21:105 pipas de 550 litros cada uma, em quanto que no ultimo anno de 1885 os dois concelhos (na região do vinho fino) nã© produziram talvez 2 000 pipas. Estão per- dendo pois só estes dois concelhos mai3 de 17:000 pipas ou de 850 contos de réis por anno, calculando-se a pipa a 50$000 réis, — preço muito inferior ao d'alguns annos. Para evitarmos repetições, veja-se o ar- tigo Villa Real de Traz-os-Montes, vol. XI, pag. 1012, col. 2." e segg. Os lagares N'esta freguezia e em todo o Douro os la- gares são de pedra:— uns de granito, mais ou menos luxuosos, — outros de schisto, por vezes esplehdido, que dá tampos de 6 a 7 melros de comprimento sobre 1 de largo e 18 a 20 centímetros d'espessura 2 Ordinariamente são de 15 a 20 pipas de lotação e teem sempre annexos outros mais pequenos, alem das dornas ou lagaretas, também de pedra. Para espremer-se o cango teem um feixe, enorme trave de castanho, firme na parede posterior do lagar e que o atravessa a meio, sobrepujando ainda alguns metros e ficando sempre a parte mais grossa na extremidade exterior, a qual ainda, para augmentar a força da alçaprema, addieciooam o peso, — uma pedra enorme que pesa ordinariamente duas toneladas. E por meio do fuso, que ó um grande parafuso de madeira, assente so- bre a dieta pedra e preso a ella d'um modo especial, jogando em uma concha também de madeira, mettida horisontalmente na ca- beça do feixe, elevam este até á extremidade 1 Extracto fiel do arrolamento official da extincta Companhia dos Vinhos do Alto- Douro. 2 V. Villa Nova de Foscôa, vol. XI, pag. 839, col. 9,* e seg. VIL VIL 1347 do grande parafuso — ou levantara e suspen- j dem a pedra, como bem lhes apraz. Juntam o cango era quadrado no meio do lagar; cobrem -do com tábuas; — sobre estas atravessam malhaes até tocarem no feixe er- guido à maior altura; — depois, movendo o fuso era sentido inverso, levantam o peso, ficando o feixe assente sobre os malhaes e formando uma alçaprema tal que por vezes arruina a parede posterior que segura a ou- tra extremidade do feixe 1 O processo é rude, mas dá bom resultado. O cango fica secco e duro como pedra, mas nos últimos annos em algumas quintas mais luxuosas este processo foi substituído por prensas aperfeiçoadas, de diversos sys- temas. Pisa das uvas Até hoje n'esta freguezia e em todo o Dou- ro as uvas teem sido pisadas por homens, a pé nú, e costumam gastar com esta operação dois dias e duas meias noites, — serviço muito duro e sempre bem pago, principalmente o do córte ou da primeira noite, que é feito por um numero d'homens correspondente ao numero de pipas da lotação do lagar, — por vezes 30. Formam em cordão ou columna cerrada, muito unidos, assentando os braços nos hom- bros uns dos outros; — eollam-se a um dos tampos do lagar e vão marchando muito mo- rosamente e sempre em columna firme até á extremidade opposta, levantando as per- nas a toda a altura do volume das uvas e cortando-as com os pés nus, até estes bate- rem no fundo do lagar. Feito assim o córte, debandam, — tocara, dançam e cantam, mas empenhando-se sem- pre em trazerem submersa a manta ou o cango que o mosto fervendo repelle até á superfície. É uma lucta constante e fatigante, pelo que nos dias de lagarada o tractamento dos pobres homens é sempre melhor e alem d'isso lhes dão repetidas doses de vinho e de aguardente, pelo que muitas vezes se em" briagam e travam grandes desordens, que rendem facadas, pancadas, tiros, ferimentos e mortes, porque ali nunca intervém a au- ctoridade. Só impera a força dos desordei- ros e dos feitores, que são escolhidos ad hoc e andam sempre bem armados \ . . . O Alto-Douro foi sempre muito desor- deiro, não tanto pela indole dos seus habi- tantes, como por ter longos tractos de ter- reno deserto, habitado apenas temporaria- mente por milhares de trabalhadores que, attrahidos pela earestia dos jornaes, affluem de grandes distancias, inclusivamente da Gallisa; 1 e, como ali se lhes não pede do- cumentos alguns, mas sómeote aptidão e vi- gor, a grande colónia de jornaleiros do Douro abundou sempre em refractários,, de- sertores e malfeitores de toda a ordem, — inclusivamente ladrões e assassinos, pelo que os feitores e caseiros, para se fazerem respeitar e para conterem as demasias d'aquella medonha troupe, são sempre ho- mens destemidos, — andam sempre bem ar- mados—e teem quasi todos já passaporte para a Africa ? t. . . As quintas do Alto Douro eram como as carvoarias do Alto Alemtejo e como as li- nhas férreas em construcção: — grandes coutos de homisiados. Se antes da invasão phylloxerica se pren- desse a um tempo todos os jornaleiros das quintas do Alto Douro, podia encher- se de criminosos um grande naviol E, se n'aquella vasta região se erguessem tantas cruzes quantas as mortes que ali se teem feito, toda eila seria um vasto cemitério e justificaria plenamente o clássico anexim: — No Douro tudo é bom, menos o que falia. Distinguiram-se mais tristemente as po- voações de Castanheiro do Sul, Valença do Douro, Casaes e Villa Nova de Foscôa, na margem esquerda do Douro, — e Covelli- nhas, Provezende, Sanfins, Carvalha d'Egas e outras, na margem direita. Contribuía muito para a exaltação e ex- cessos a superioridade e abundância do vi- nho, pois ali qualquer pequena porção em- briagava, pelo que as desordens, ferimen- i V. Villa Real deTraz-os-Montes, vol. XI, pag. 1:016, col. 1." e sua respectiva nota. 1348 VIL VIL tos e mortes abundavam sempre no acto da9 carregações. Que o digam os caes de Bagauste, Folgosa, Tello, Espinho, Valença, Bateiras", Corgo, Covellinhas, Gouvinhas, Donello, Pinhão, Roncão e Tua, onde se car- regava a maior parte do vinho do Alto Douro e se fizeram centos de mor tes ? 1. .. Também contribuía muito para taes ex- cessos o não haver no Douro, como no Mi- nho, o costume de saldar contas a pau, mas a faca, a fouce, culello de póda ou clavina. Em todo o Alto Douro não ha um único jogador de paul Ali o pau é só brinquedo de creanças; mas diffieilmeute se encontrará uma casa sem fouces e armas de fogo — e todo o jornaleiro costuma trazer comsigo o seu cutello de póda, sempre bem afiado e que é uma arma terrível ! . . . 1 Se os bexigueiros do Porto fizessem no Douro as sortes com que costumam diver- tir-se nos grandes arraiaes das cercanias, insultando e provocando os pacíficos lavra- dores,—ou se os valentões do Minho, os grandes jogadores de pau, varredores de feiras, fossem ao Alto Douro ostentar valen- tias, — podiam ter a certesa de que a maior parte d'elles lá ficava !. . . Os habitantes do Alto Douro são muito tractaveis, muito generosos e muito obse- quiadores, mas com elles ninguém brinca impunemente. Quem quizer viver no Alto Douro neces- sita de ser bem educado e muito prudente, — e não insulte nem provoque ninguém, aliás ! . . . Desculpem-nos tanta digressão, porque 1 Nos últimos annos, aproximadamente desde 1870, grande parte da póda no Douro é feita com thezouras francezas, mas até ali usavam cutellos pequenos e baratos, de 160 a 300 réis cada um, muito elegantes e muito differentes dos cutellos U9ados na Estrema- dura, no Minho e nas outras províncias. Tinham peito convexo e muito arqueado, — gavête em linha recta, terminando em ponta viva, — e peta, espécie de maehadi- nha, nas costas; — e tanto o peito como o gavête eram de fino aço e cortavam como uma lanceta. A pôda no Douro foi sempre rotineira, mas feita com todo o esmero I estamos fallando de uma das freguezias do Alto Douro, — região importantíssima e ex- cepcional, — e quizemos aproveitar o ensejo de dar algumas noticias d'ella no texto d'este diccionario, visto que o meu anteces- sor não a conhecia, como nós a conhece- mos, 1 e por isso muito pouco disse d'ella e dos seus usos e costumes. V. Douro n'este diccionario e no supple- mento. Prosigamos com Villarinho de Cotas : Templos 1. ° — Egreja matriz. É pequena, bastante antiga e suppõe-se ter sido feita no século xví, pois n'ella se vê á data 1568, A capella-mór é mais moderna. Foi reedificada no ultimo século pelo bene- mérito arcebispo de Braga D. Fr. Caetano Brandão. Tem este templo altar-môr e 2 lateraes. 2. ° — Capella de Nossa Senhora do Couto. Suppõe-se que data de 1650; está inte- riormente revestida d'azulejo antigo — e no seu adro se fez outr'ora uma feira annual no dia de Nossa Senhora dos Prazeres, — 2.» feira da paschoéla. 3. a — Capella de Santo Apolinário. É particular e vinculada, pertencente aos herdeiros de Manoel da Cruz Castello Bran- co, pae do advogado Manoel Alves de Me- neses Abreu. Foi edificada em 1771. Pessoas notáveis 1. ° — Jose Antonio Lopes da Veiga. Foi cavalleiro-fidalgo e commendador da Ordem de Christo. Falleceu aqui no 3.° quartel d'este século, tendo casado em primeiras núpcias com D. Francisca Baptista, viuva do poeta Fran- cisco José Cabral, de quem adiante falta- remos. 2. ° — Antonio Teixeira Cavalleiro, hoje o primeiro proprietário d'esta freguezia, — 1 Ê quasi nossa terra natal, pois nasce- mos no coração do Douro. V. Corvaceira, Penajoia e Miragaya, vol. V, pag. 250, col. 1." VIL VIL 1349 excellente pessoa, muito bondoso, muito ser- viçal e grande influente politico. 3. ° — Dr. José Maria Avelino a" Amorim, medico distincto. 4. ' — O morgado Manoel Alves de Menezes Abreu, cavalheiro respeitabilissimo, não tanto pela sua antiga linhagem, como pela integri- dade e nobresa do seu caracter. 5. ° — João Antonio Duarte que foi phar- maceutico na Africa e tem sido o pae e am- paro dos seus visinhos pobres nas suas doenças, tractando-os com o maior carinho e fornecendo-lhes remédios e dietas. 6. ° — Firmino José Duarte, sobrinho do antecedente. Foi negociante na Africa e no Brazil. onde arranjou boa fortuua, salvando-se da crise phylloxerica, desgraça do Douro. Reside no Porto. 7. ° — Francisco José Cabral, escriptor pu- blico, boticário e poeta. D'elle disse Innocencio F. da Silva, no seu Diccionario Bibliographico : «segundo consta, foi natural da província de Traz-os- Montes, ignorando-se as demais cireumstan- cias da sua vida. E — Elegia á morte de Bento de Queiroz Pe- reira Pinto Serpe e Mello, Lisboa, 1816, 8.° de 15 pag. — Apologia da Religião, Lisboa, 1817, 8.° de 14 pag.» A isto se reduz tudo o que disse Inno- cencio! Vejamos se podemos adiantar al- guma coisa mais. A tradição local, o testemunho de vários parentes que ainda existem — e octogená- rios que de perto o conheceram dizem que elle nasceu n'esta freguezia, na qual viveu e falleceu em 11 de maio de 1820, sendo um dos primeiros proprietários d'esta freguezia, pharmaceulico e casado com D. Francisca Baptista, da qual deixou successão: — dois filhos legítimos, — Ignez, que nasceu em 13 ■de janeiro de 1796— e Hypolito, que nasceu i em 31 d'agosto de 1798. Tudo isto é bem averiguado e provado, pois em 1879 o reverendo Francisco Anto- nio de Sousa Brito, que foi paroeho d'esta freguezia muitos annos, a pedido nosso re- volveu o archivo parochial e nos mandou certidões authenticas do assento d'obito do poeta e do baptismo dos seus dois filhos, — certidões que logo daremos na sua integra; — nào encontrou porem o assento do ba- ptismo do poeta, postoque revolveu o ar- chivo desde o anno de 1740. Talvez o não encontrasse (diz o sr. padre Brito) por estar a letra de muitos assentos completamente apagada e esvaida; mas, inquirindo os pa- rentes do poeta e visinhos octogenários, soube que elle, quando falleceu em 1820» contava cerca de 50 annos de idade. Nasceu pois aproximadamente em 1770;— contava 26 annos quando nasceu a sua filha Ignez — e 28 annos quando nasceu o seu filho Hy- polito. Certidões I «Francisco José Cabral, casado que foi n'esta freguezia de Villarinho de Cotas, fal- leceu da vida presente aos onze de maio da era de 1820 com todos os sacramentos da Santa Madre Egreja, como é costume ser, a Sagrada Communhão, e Extrema Uncção, e o ajudei a bem morrer. Não fez testamento; está enterrado n'esta egreja. E para constar fiz este assento, dia, mez e anno, ut supra. O Paroeho João Manoel Teixeira.» Livro d'obitos de Villarinho de Cottas, fl. 10, v. II «Ignez, filha legitima de Francisco José Cabral e de sua mulher Francisca Baptista, d'esta freguezia de Santo Antonio de Villa- rinho de Cottas, neta paterna de Antonio José de Sampaio e de sua mulher Anna Ma- ria Cabral, e materna de André Baptista e de sua mulher Maria Dias, estes de Sa- piaens, freguezia de S. Thiago de Mon- droens, 1 nasceu a 13 de janeiro de 1796 (e seis) e foi baptisada em casa, e no mesmo dia, por Luiz Alvares Mourão, da freguezia de S. Bartholomeu de Casal de Loivos, 2 o 1 Concelho de Villa Real de Traz-os- Monles. 2 Freguezia limitrophe, distante cerca de 1 «/2 kilometro para S. S. O. 1350 VIL VIL qual mesmo foi padrinho ; e, sendo exami- nado por mim José Fernandes, parodio d'esta freguezia (de Villarinho de Coitas) achei que tinha féito sacramento valido. Re- cebeu os Santos Óleos em o dia vinte e cinco do dicto mez. Por verdade fiz este as- sento, de que foram testemunhas Luiz An- tonio d'Abreu, clérigo secular d'esta fregue- zia, e Antonio d'Abreu, e Manoel de Mattos. Luiz Antonio d'Abreu; Antonio d'Abreu; Manoel de Mattos; o parocho José Fernan des.» Archivo parochial da mesma freguezia, fl. 53, v. III «Hypolito, filho legitimo de Francisco Joíé Cabral e de sua mulher Francisca Baptista, d'esta freguezia de Santo Antonio de Villa- rioho de Cottas, neto paterno de Antonio José de Sampaio e de sua mulher Anna Ma- ria Cabral, da villa de Favaios, e materno de André Baptista e de sua mulher Maria Dias, da freguezia de S. Thiago de Mon- j droens, nasceu em o dia trinta e um do mez d'Agosto de mil setecentos noventa e oito, e foi baptisado por mim o padre Luiz Anto- nio d'Abreu, parocho d'esta mesma fregue- zia, e lhe puz os Santos Óleos, em o dia seis do mez de setembro do dito anno. Foram padrinhos o Padre Francisco da Graça Ca- bral e sua irmã D. Antónia Cabral, da villa de Favaios, tios do dicto baptisado, e forão testemunhas o Reverendo Luiz Antonio da Cunha e Antonio d*Abreu. Dia, mez e era. ut supra. O parocho Luiz Antonio d'Abreu; o reverendo Padre Francisco da Graça Ca- bral; Luiz Antonio da Cunha; Antonio d'Abreu.» Archivo parochial da mesma freguezia, fl. 59, v. Do exposto se vé que o poeta Francisco José Cabral era filho de Antonio José de Sampaio e de Anna Maria Cabral, da villa de Favaios, onde em 1798 viviam parentes seus, entre elles 2 irmãos: — Padre Francis- co da Graça Cabral e D. Antónia Cabra!;— e casou (não sabemos quando nem onde) com Francisca Baptista, filha de André Ba- I ptista e Maria Dias, da freguezia de Mon- drões, concelho de Villa Real de Traz-os- Montes. A sua filha Ignez casou em Casal de Loi- ros e não teve suecessão;— o filho Hypolito casou em Alijó com D. Margarida Alves Seabra, irmã do dr. José Gomes Ribeiro, lente de medicina na Universidade de Coim- bra. O dicto Hypolito José Cabral, por desgos- tos de família, suicidouse, afogando-se. D. Francisca Baptista, viuva e principal herdeira do poeta, passou a segundas nú- pcias com o commendador José Antonio da Veiga; — e este por seu turno passou a se- gundas núpcias também, deixando á viuva uma boa casa, comprehendeodo a maior parte dos bens que foram do poeta Fran- cisco José Cabral, porque a viuva deste, pelo facto de sobreviver aos seus dois filhos, que falleceram sem suecessão, tinha rehavido quasi toda a casa do poeta e legou todos os seus bens ao seu segundo marido José An- tonio Lopes da Veiga. A viuva d'este — D. Francisca de Sousa Veiga de Magalhães, — natural de Villa Pouca d'Aguiar e possuido- ra de todos os bens da casa do seu marido, co.mprehendeDdo os do poeta Cabral, — ainda existe;— não tem filhos— e rezide no Porto. Anecdotas N'esta povoação e nas circumvisinhas ain- da se contam muitas anecdotas do excên- trico poeta, que Deus haja, pois falleceu co- mo bom catholico, tendo recebido todos os sacramentos, apesar de ser um grande phi- losopho de ideias avançadas e de vida dis- soluta, qual outro Bocage, de quem foi con- temporâneo, confrade e tão amigo, que, de- sejando conhecel-o pessoalmente, um bello dia montou no seu rucinante com uma gran- de borracha de vinho a tiracollo 1 e foi até Lisboa, onde se apeou á porta do seu alter ego, Manuel Maria Barbosa du Bocage, que o recebeu com intimo jubilo e hospedou co- mo pôde. 1 As suas paixões dominantes eram tres: — versos, mulheres e vinho. Sendo casado, tinha tres amantes I . . . VIL VIL 1351 Passados alguns dias em grande baechanal, o poeta de Villarinho vendo se já sem vin- tém, disse-lhe que mandasse deitar uma ra- ção mais avultada ao cavallo, porque no dia seguinte partiria. —Ração ao cavallo ? — Sim; — ao meu cavallo. —Aonde irá elle!— accrescentou o Bocage rindo. Para te dar de comer, vendi-o logo que chegaste. Não se magoou o Cabral com isso e par- tiu a pê com o criado. A distancia de algumas legoas de Lisboa, disse-lhe o criado que eram horas d'almoço, mas o poeta não respondeu. D'ahi a pouco tornou o criado a pedir-lhe de comer, — e elle moita I Continuou o criado a instar, gritando, in- sultando-o e ameaçando-o, pelo que o pobre poeta se esgueirou para uma grande quinta próxima e principiou a passeiar n'élla em diversas direcções. Veiu logo um criado da quinta perguntar-lhe o que pretendia. Também não respondeu nem interrompeu os seus passeios imaginários.' O dono da quinta, vendo o disparate do intruso, ordenou-lhe que saisse immediata- mente, aliás o correria a chicote. Approxi- mou-se então o poeta, como se nada tivesse ouvido, e, ostentando vastos conhecimentos de botânica e geologia, principiou por elo- giar a quinta e concluiu a sermôa dizendo que era uma soberba propriedade, mas que tinha um grande defeito, muito fácil de re- mediar. —Que defeito é esse ? — perguntou-lhe o fidalgo. —Falta d'agua. — Bem o sei; mas quet fazer? —Com pequena despeza (disse-lhe cate- goricamente o poeta) eu me comprometto a explorar aqui agua sufficiente para regar toda a quinta e mover algumas rodas de moinhos 1 Ficou o fidalgo muito satisfeito e, conven- cido de que o intruso não era um doido, como lhe parecêra, mas um homem de illus- tração superior, mandou o entrar no seu pa- lacete;— palestraram muito; — deu-lhe um bom almoço e 4#800 réis por conta da explo- ração que o nosso poeta prometteu iniciar em praso breve. Assim arranjou dinheiro para a jornada, mas o fidalgo não mais o lo- brigou ! . . . Era um grande proprietário, mas péssimo administrador. Passava a maior parte do tempo mettido na sua pharmacia, que tinha em uma loja immunda, e estava sempre a fazer versos a tudo e por tudo, mesmo avi- ando as receitas, a que nunca ligou impor- tância e tanto que por vezes attestava as garrafas dos remédios com ourina ? !. . . Das suas composições poéticas apenas pu- blicou as duas já mencionadas. A Elegia dedicada ao capilão-mór Bento de Queiroz, de Favaios, abre com o soneto seguinte : Em um carro tirado por Arpias, Divaga a Morte sobre a terra, e mares, Fervem lhe em torno trágicos azares, Torvas Esfinges, lívidas, sombrias: Vibra a foice cruel nas mãos ímpias, Nivela os thronos c'os humildes lares, Solta medonhos turbilhões nos ares, Lança tudo o que existe ás campas frias. Debaixo de seus pés Queiroz baqueia; Em hora triste, em hora malfadada, Da vida se lhe rompe a frágil teia. Descança a alma na Sião Sagrada, 0 corpo fica sobre a terra feia, Pasto de bichos, reduzido a nada. A Elegia começa assim : I Que negro pasmo minha vista embaçal Armas cobertas de horroroso luto 1 O motivo de tal Metamorfoze Quem o pôde dizer com o rosto enxuto ? 1 II Por lei, de que mortal nenhum se esquiva, Finalizou Queiroz; que perda ingente 1 A torva, carrancuda Libitina Guerra declara a tudo o que é vivente. 1 L'Homme frissone à l'idée de la mort. (Nota do auctor) Young. 1352 VIL VIL iii Em feia estancia, em erma penedia, Entre a Esposa e o Irmão, que ali concorre, Com Deus no coração, com Deus nos lábios, Olhando para o Ceo suspira e morre. IV Que é cTelle? aonde está?— não posso achai- lo!... Ja é cinza na fria sepultura; Em fumo se tornou uma existência, Que merecia ter perpetua dura. V Este bom cidadão, bom pai e esposo Que suspiros do peito nos arranca I Mirrou-se aquella mão, que dadivoza A todos foi clemente, a todos franca. E assim prosegue até á quadra 46 e ul- tima. Bonitos versos I Ainda hoje qualquer dos nossos poetas se ufanaria assignando-os. Improvisos O povo ainda hoje repete, entre outros, os seguintes : INDO PARA A ERVEDOSA Em certa casa entrei Com a fome que levava, E á mesa me encostei. Só c'uma febra vermelha Que no prato achar pude, Enguli uma botelha A fazer uma saúde. Enguli uma botelha E um garrafão rubicundo, Fui ao monte dos Cazaes, 1 Puz-me a governar o mundo. A UMA VIUVA SUA VISINHA Toda a viuva nova e rica Que entra na egreja attenta, Direita lança agua benta 1 Pequena povoação no caminho da Erve- dosa. Ao seu marido na cova Com a pontinha do dedo, — Casa cedo. A UM CAÇADOR DE FAVAIOS Sustentar doze cadellas, Um sacador, um furão, Só por n'uma ocfasião Ir ao monte com ellas, E caçar coelhos poucos, — Ê de loucos. A UM ENFATUADO EM NOBRESA Ao fidalgo da carroça Que também quer senhoria, Sem se lembrar que algum dia Seu pai andou de coroça E sua mãe de tamanca, —Boa tranca. Era sempre rogado para os outeiros por occasião das eleições de abbadessas nos con- ventos de Villa Real e de Murça. Gostava do divertimento e ficava sempre como um cacho I Certo dia, regressando de um outeiro que teve logar no convento das freiras de Mur- ça, vinha tào quente da orelha e tão entre- tido a fazer versos que, apeando-se na ponte de Murça, o cavallo soltou a cabeçada, — fi- cou mansamente pastando— e o bom do poeta foi andando, cantarolando e versejando com as rédeas do cavallo na mão e o freio e ca- beçada de rastos até á villa de Favaios, dis- tante cerca de lo kilometros 1 Chegando ali, bateu á porta dos seus parentes e, vindo um criado abrir-lh'a. entregou-lhe as rédeas, di- zendo-lhe que arrumasse o cavallo. Ficaram ambos attonitos por verem so- mente as rédeas e o freio e, partindo logo o moço em procura do cavallo, foi dar com elle ainda pastando junto da dieta ponte!... Cazimiro Eugénio de Sousa Cabral, 3.° primo do nosso poeta, morador em Alijó, possue o retrato d'elle pintado a oleo. Era também primo do poeta o dr. e con- selheiro Bazilio Alberto Teixeira Cabral, que morreu em 1877, sendo presidente do su- VIL premo tribunal de justiça e deixando uma fortuna superior a 200 contos em dinheiro, alem de boas propriedades em Murça e Vil- larinho de Cotas. Outro primo, — Fernando Cabral, — era j também poeta, muito excêntrico e musico i distincto. Tocava toda a casta de instrumen- I tos; — tinha uma sala cheia d'elles — e a ma- j nia de que estava sempre doente, pelo que mandava todos os dias comprar garrafas de remédios,— mas cheirava-os, provava-os e atirava logo com elles e com as garrafas á rua, dizendo: não prestam I Gastou com isto contos de réisí. . . Também nunca pegou em dinheiro, rece- ando que lhe communicasse alguma doen- ça,— e pelo mesmo motivo Dunca tolerou que pessoa alguma mettesse os dedos na sua caixa do rapé 1 Data de tempos antiquíssimos esta povoa- ção de Villarinho de Cotas, como provam as ruinas de um caslello que existiu no alto de um pequeno monte, contíguo á povoação, cerca de 500 metros a O.,— monte quasi todo actualmente plantado de vinha. O povo attribue aos mouros a fundação do dicto caslello, mas com certesa data de tempos muito mais remotos, porque ali se teem encontrado muitas moedas romanas, sepulturas de tijolo e muitos fragmentos de cerâmica antiquíssima. Outro caslello semelhante existiu junto de Casal de Loivos, freguezia próxima e limi- trophe. É certo que os romanos por aqui tiveram demorada residência, como provam as dietas moedas e ruinas e as inscripções encontra- das em Favaios e Villar de Maçada. Vide. Os frades loyos do Porto receberam al- gum tempo os dízimos d'esta e d'outras fre- guezias circumvisinhas. Até 1882, data da ultima circumscripção diocesana, esta freguezia e todas as d'este | concelho d'Alijó, bem como as dos conce- lhos de Sabrosa, Murça, Villa Flor, Alfan- dega da Fé, Carrazeda d'Anciães, Moncorvo, Mogadouro, Freixo d'Espada á Cinta, Villa Real e parte das dos concelhos da Regoa e VJL 1353 Penaguião, pertenciam ao arcebispado de Braga. V. Villa Real de Traz os Montes, vol. XI, pag. 927, col. 1.» Antes da invasão phylloxerica, esta pe- quena freguezia costumava render para o parocho 300^000 réis annuaes— e teve pa- rochos collados até 1851. O ultimo foi João Manuel Teixeira. Lenda A tradição local diz que, quando os mou- ros tomaram a villa de Favaios, os seus ha- bitantes se dispersaram e. fundaram as po- voações de S. Bento, Cotas e Villarinho de Cotas, tendo por egreja matriz commum a estes 3 povos a capella da nobre quinta de S. Jorge, 1 hoje da família Sepulvedas e que foi antigamente passal da egreja de Favaios. Expulsos os mouros, voltaram para Fa- vaios os habitantes da aldeia de S. Bento. Os de Villarinho e Cotas não quizeram largar os seus novos domicílios, mas formaram com a villa de Favaios muito tempo uma só fre- guezia, até que se arvoraram aquellas duas povoações em parochias independentes, mas filiaes da de Favaios. E em signal de sujei- ção, desde tempos antiquíssimos costuma- vam ir— e vão ainda hoje— ali, no dia de S. Jorge, em cuja capella os habitantes de Co- tas e Villarinho de Cotas pagam um vintém de conhecença ao reitor de Favaios. Isto é curioso e até certo ponto confirma o qne diz a lenda. Os maiores proprietários d'esta freguezia na actualidade são os seguintes:— Antonio Teixeira Cavalleiro,— a viuva de José Anto- nio Lopes da Veiga,— Manuel Alves de Me- neses Abreu,— Dr. José Maria Avelino de 1 A dieta capella é um templo antiquíssi- mo e foi efectivamente outr'ora a matriz de Favaios e dos povos circumvisinhos. Ainda conserva a pia baptismal e um tumulo com uma inscripção dos princípios da nossa mo- narchia. De tudo já demos copia e larga no- ticia para a Real Associação dos Archiiectos civis e Archeologos portvguezes, da qual te- mos a honra de ser o mais obscuro sócio, e de tão interessantes velharias fallaremos no supplemtnto ao artigo Favaiosl 1354 VIL VIL Amorim, — João Antonio Duarte e Firmino j José Duarte. VILLARINHO DA COVA DA LUA,— fre- guezia extincta no concelho, comarca, dis- tricto e diocese de Bragança. Tinha como orago S. Cypriano ou S. Cy- prião; — em 1706 contava 60 fogos e já es- tava, como esta hoje, annexa á de Espinho- sella. Em 1768 era curato da apresentação do abbade de Espinhosella; — rendia para o cura 811000 réis, além do pé d'aliar,— e contava 49 fogos. Á mesma freguezia de Espinhosella foram também unidas a de Cova da Lua, orago Santa Comba, — e a de Terroso, orago S. Thomé, que foi abbadia da mitra. Comprehende pois a freguezia de Espinho- sella, orago Santo Estevam, — as povoações de Espinhosella, séde da parochia,— Terro- so, Cova da Lua e Villariuho da Cova da Lua, sédes das 3 freguezias extincias. Representa pois a freguezia de Espinho- sella nada menos de quatro freguezias — e também já teve e não sabemos se tem ainda annexa a freguezia de Gondesende, que em 1878 contava apenas 83 fogos! É assim este malfadado districto e bispa- do de Bragança. V. Cova da Lua, Espinhosella, Terroso e Villa Verde, freguezia do concelho de Vi- nhaes, vol. XI, pag. 1099, col. 2.» VILLARINHO DOS FREIRES, — freguezia do concelho e comarca da Regoa, districto de Villa Real, bispado de Lamego, província de Traz-os-Montes. Vigairaria. Orago Nossa Senhora das Ne- ves;—fogos 300,— habitantes 1:400. Em 1706 era vigairaria da Ordem de Malta e da apresentação do balio de Leça; —pertencia ao termo de Villa Real, arce- bispado de Braga ;— tinha 100 fogos — e de- nominava-se Nossa Senhora das Neves de Freirias, — segundo se lê na Chor. Portu- guesa. , O Portug. S. Profano nem sequer fez menção d'esta freguezia I Em 1832, segundo se lê no Flaviense, contava 208 fogos e pertencia ao concelho do Canellas, extincto pelo decreto de 31 de dezembro de 1853, pelo qual passou para o da Regoa. O censo de 1864 deulhe 251 fogos e 1:044 habitantes,— e o de 1878 deu lhe 238 fogos e 1:122 habitantes. Demora esta freguezia no coração do Dou- ro,— n'essa privilegiada e abençoada região comprehendida no vasto triangulo formado por Lamego, Villa-Real e Mesão frio, l— em terreno mimosissimo, extremamente fértil e de grande valor, como todo o do concelho da Regoa, ainda hoje povoado de luxuosos vinhedos, de quintas soberbas e de vistosos palacetes na margem direita do Douro e na esquerda do Corgo, distando de qualquer d'estes dois rios cerca de 4 kilometros (do Corgo para L.— e do Douro para N.);— 5 da Regoa para N. E.;— 17 de Lamego;— 20 de Villa Real,-109 do Porto— e 446 de Lisboa. N'esta abençoada freguezia não ha um pi- nheiro, nem um carvalho, nem um casta- tánheiro ou sovereiro, nem um palmo de terreno inculto. Parece toda um vasto jar- dim, esmeradamente cultivado. Tal é o sur- prehendente aspecto dos seus riquíssimos e compactos vinhedos e dos seus mimosos pomares de laranjeiras, pereiras, macieiras, figueiras, damasqueiros, etc, etc, que pro- duzem a fructa mais saborosa de Portugal, destaeando«se no meio de tão vasto jardim os palácios e quintas dos seus felizes donos. Só esta comarca da Regoa, formada pelo concelho do seu nome e pelos de Mezão-frio e de Santa Martha de Penaguião vale bem metade da província do Alemtejo. Aqui não ha charneca nua, nem terreno de pousio. Todo o seu chão, — encostas, montes e valles,— é mimosissimo e fertilis- simo, — um luxuoso vinhedo cerrado que no anno de 1840, não sendo o mais abundante, produziu 30:213 pipas de vinho de 550 li- tros cada uma, 2 — vinho quasi todo de em- barque ou de feitoria, 3 como é todo o d'esta 1 V. Villa Jusã, vol. XI, pag. 770 e 771. 2 Extracto fiel do arrolamento da Compa- nhia Geral dos Vinhos do Alto Douro. J V. Villa Jusã, logar citado. VIL VIL 1355 paroehia de Villarinho dos Freires, que no dicto anno produziu 1:992 pipas, tendo pro- duzido alguns annos 2:200 a 2:400 ?! . . . É uma freguezia riquíssima— e o seu vi- nho é do melhor do concelho da Regoa, por- que está na margem esquerda do Corgo e por consequência na região do Cima-Corgo ou do Alto-Douro, — a clássica região do vi- nho fino, posto qne ao passo que se avança para leste ou para o Alto-Douro, o vinho vae subindo em qualidade até o Pinhão, Roncão e Tua, a zona dos vinhos mais pre- ciosos do Douro, de Portugal e do mundol É um néctar dos deuses o vinho d'aquella região, mas infelizmente está toda phylloxe- rada e quasi toda inculta,1 emquanto que n'esta freguezia e n'esta comarca da Regoa, como o terreno é mais fundo, mais fresco e mais forte, grangeado a capricho e tractado com o sulfureto de carbone, o melhor antí- doto até Jwje conhecido contra a maldicta phylloxera, os vinhedos, embora todos man- chados e ameaçados, ainda se ostentam vi- çosos e produzem bastante viuho. Comprehende esta parocbia as aldeias se- guintes:— Villarinho, a séde, — Prezegueda, Santo Xisto, Granja, Escavedas, AlvaçÕes do Corgo e muitas quintas, quasi todas habita- das. Mencionaremos algumas. l.a — Vallado, da opulenta casa Ferreiri- nha, da Regoa, hoje representada pela sr.» D. Antónia Adelaide Ferreira, viuva em pri- meiras núpcias de seu primo Antonio Ber- nardo Ferreira, e em segundas núpcias do par do reino Francisco José da Silva Tor- res, natural da freguezia dos Dois Portos, concelho de Torres Vedras. Vae esta quinta até á margem esquerda do Corgo, onde tem um pomar de laranjei- ras que é o maior e melhor de todo o Alto Douro e produz laranja finíssima, que se vende por bom preço. Em todo o Alto Douro, mesmo na zona mais ardente, — Pinhão, Roncão e Tua,— que produz o vinho mais generoso do mundo, a laranja é finíssima, embora em diminuta quantidade, porquê os pomares demandam V. Villarinho de Cotas. rega e ali ha muito pouca agua; mas a la- ranja mais fina de todo o Alto Douro e de todo o nosso paiz é sem contestação a de S. Mamede de Riba-Tua, criada entre fragoedo. Alem de ser muito saborosa, tem a casca tão fina que uma laranja, caiado da altura de um metro, estala e rebenta ! V. Villa Real de Santo Antonio, vol. XI, pag. 918. col. 1." O pomar d'esta quinta é o maior e mais lindo de todo o Douro, porque os seus ri- quíssimos proprietários construiram ao lon- go da margem esquerda do Corgo, que o rega, um grande muro de supporte e sobre elle nivelaram e formaram um extenso cam- po, que encheram de laranjeiras. Juntd d'este lindíssimo pomar construi- ram também outr'ora um luxuoso estabele- cimento de moagem, mas no inverno de 1822 a 1823, desabando sobre a outra mar- gem (esquerda) do Douro grande parte da quinta de Melres, incluindo a casa, perten- cente aos Portocarreiros do palácio da Ban- deirinha, no Porto, a agua do Douro com o grande volume do entulho {credite posleril) —subiu a enorme altura no rio Corgo, fron- teiro á quinta de Melres; — cobriu aquelle estabelecimento de moagem — e na vasante levou-o d'envolta no medonho turbilhão, dei- xando apenas uma parte do açude, que ain- da hoje lá se vé. Também por essa oceasião a agua do Douro subiu até á casa da quinta da Vacca- ria, pertencente aos Cunha Reis. de Braga, na foz e margem esquerda do Corgo, — inun- dou os armazéns — e derribou os cyprestes que tinha no terreiro!. . . Da grande ponte de pedra, recentemente construída sobre a foz do Corgo na estrada nova a macadam, hoje ainda em construc- ção, da Regoa a Sabrosa, um pouco a mon- tante da ponte da linha férrea, vê-se as quin- tas do Vallado, Vaccaria e Melres, onde se deu tão extraordinário phenomeno, que mal se acredita hoje ! V. Poiares, vol. 7.° pag. 121, col. 2.»— m fine,-~Porto, no mesmo volume, pag. 519 e segg. — e Villa Real de Traz os Montes, vol. XI, pag. 1013, col. 1.* e sua respectiva nota. Alem do seu lindíssimo pomar compre- 1356 VIL VIL hende esta quinta grandes vinhedos e tem bons armazéns e outras offieinas e um pa- lacete brazonado, com capella. 2. a — Vallado, também, de Antonio Pinto Champalimaud, de Cidadelhe, concelho de Mezãofrio. 3. »— Paredes, pertencente a Joaquim José Alves de Figueiredo Feio, de Villa Real, que n'ella reside. 4. » — Pitarrella, que foi de Affonso Bote lho e é hoje de sua filha D. Anna Leopol- dina Botelho de Sampaio e Sousa, de quem logo fallaremos. É uma das melhores propriedades d'es!.a parochia. 5. » — Firvida, pertencente ao já meneio nado Joaquim José Alves de Figueiredo Feio. Q.*—Porlella, pertencente a Victorino Pe- reira de Sousa, da aldeia de Santo Xisto. 7. ' — Cavouco, pertencente a José de Bar- ros Carvalhaes. 8. * -Portello, pertencente ao meu bom amigo e contemporâneo na Universidade, o dr. Antonio Avelino Correia de Carvalho Pe reira. Vasconcellos, filho de Avelino Correia Pinto de Carvalho Vasconcellos, natural da povoação de Britello, freguezia da Cumieira, concelho de Sania Martha de Penaguião. 9. » — Ponte, que foi de José d'Almeida Al- coforado e é hoje de João de Barros Carva- lhaes. Edifícios mais notáveis, brazonados 1. ° — O que foi do capitão-mór de orde- nanças Manuel de Mesquita Pimentel e Cas- tro, hoje de seu neto Padre Frederico Au- gusto de Magalhães Barroso. 2. ° — O que foi do dr. Manuel Xavier Vaz de Carvalho, hoje dos herdeiros deAdolpho de Gouveia Vaz de Carvalho, procurador á junta geral do districto, etc. 1 3. »— O que foi de João de Carvalho Vaz, hoje de sua mulher D. Rosa de Carvalho. Estes 3 na povoação da Prezegueda. 1 Era um cidadão prestantissimo, falleceu porem no dia 2 de junho de 1885, deixando viuva e filhos. 4.6— O da grande quinta do Vallado, per- tencente a D. Antónia Adelaide Ferreira. 5. ° — O da quinta da Ponte, que foi do mor- gado José d'Almeida Alcoforado; — depois passou para a sua mulher, tristemente co- nhecida por D. Rosa da Ponte, que pela sua stulta vaidade e péssima administração mor- reu pobre como Job ! . . . Pertence hoje esta quinta a João de Bar- ros Carvalhaes. Edifícios não brasonados 6. " — O palacete denominado Casa Grande, que foi de Affonso Botelho de Sampaio e Sou- sa, da Prezegueda, hoje de sua filha D. Anna Leopoldina Botelho de Sampaio e Sousa. Para evitarmos repetições, veja-se o ar- tigo Villa Real de Trazos-Montes, vol. XI, pag. 1008, col. 2." e segg.,— e Sabrosa, vol. VIII pag 274, col. 2.»— m fine. 7. °— O palacete que foi de João Henrique de Sousa Guedes, hoje do seu filho Henri- que Pereira de Sousa Guedes. 8. °— O palacete de Victorino Cardoso Pin- to de Barros. 9. ° — O palacete que foi do commendador Maximiano Pinto de Frei ta-* Vaz, de quem passou para o mencionado Adolpho de Gou- veia Vaz de Carvalho. Demoram estes últimos 4 edifícios na im- portante aldeia da Prezegueda. 10. °— O palacete de Antonio de Barros Carvalhaes, em Villarinho. 11. °— A casa de Luiz dos Santos Pereira, em Villarinho também. Templos 1. " — Egreja matriz, elegante e de moder- na construeção, bem conservada e bem al- faiada. N'ella se acha erectá uma importante ir- mandade das Almas, que tem como padroei- ro Santo Estevam. O cemitério parochial dista da egreja cerca de 500 metros para S. 2. °— Capella de Santo Amaro, na povoa- i ção da Granja. 3. °— Capella de S. João, na aldeia de Santo Xisto. VIL VIL 1357 4. " — Capella de S. Barlholomeu, em Alva- ções de Tanha. 5. ° — Capella de S. Pedro, em Esca vedas. \ Todas 4 são publicas. 6. ° — Capella de SanfAnna, na grande quinta do Vallado, de D. Antónia Adelaide Ferreira. 1.*— Capella de Nossa Senhora da Concei- ção, na quinta de Paredes. 8. °— Capella de Nossa Senhora dos Remé- dios, no palacete que foi de Affonso Botelho, na Prezegueda. 9. °— Capella de Nossa Senhora do Carmo, no palacete que foi de Adolpho de Gouveia. 10. ° — Capella de Santa Ritta de Cacia, também na Prezegueda, pertencente ao dr. Vietorioo Cardoso Pinto de Barros, da Ra- goa. — Capella de S. Jorge, no sitio da Re- torta, pertencente a Miguel Pinto, da povoa- ção de Villarinho. 12. °— Capella de S. Francisco, na quinta da Ponte. 13. ° — Capella de Nossa Senhora da Guia, em Alvações de Tanha, na casa de Francisco d' Azevedo Alpoim. 14 °— Capella de Nossa Senhora do Car- mo, na quinta do dr. Antonio Avelino, de Britello. Estas ultimas 9 capellas são particulares e todas se acham abertas ao culto. A festa principal é a da padroeira, Nossa Senhora das Neves. Banham esta freguezia o rio Corgo, con- fluente do Douro;— o rio Tanha, que des- agua no Corgo a distancia de 5 kilometros, no sitio de Firvida1; — um ribeiro que nasce em Poyares no sitio de Refojos, em uma pro- priedade de Jorge Augusto Ferreira (irmão do humilde auctor d'estas linhas) e desagua 1 O Tanha nasce na aldeia de Iodares, freguezia de Val de Nogueira; — corre na di- recção S. O.;— passa nas freguezias de An- drães, Nogueira e Abbaças, todas do conee- lho de Villa Real; — atravessa depois esta de Villarinho— e desagua na margem esquerda do Corgo, tendo de percurso total cerca de 20 kilometros. Rega, moe e cria bastante peixe miúdo. VOLUME XI no rio Tanha depois de atravessar as povoa- ções de Santo Xisto e Villarinho; — e outro ribeiro denominado Fundogas, que nasce também na povoação de Poiares,— atravessa a da Prezegueda— e morre também no Ta- nha. Ha n'este rio e nos mencionados ribeiros 4 pontes de pau e os moinhos seguintes para cereaes: Um com 5 rodas, — outro com 4 rodas, — outro com 3, — outro com 3 — e outro com 2t — todos estes em Villarinho; — nas Escave- das um com 3 rodas, outro com 2 e outro com outras 2; — no sitio das Firvidas um com 3 rodas e outro com 2; — no sitio da Ponte um com 4 rodas, — e no sitio das Quelhas, em Alvações de Tanha, outro com 2 rodas, — total 12 moinhos com 35 rodas para ce- reaes— e 2 azenhas para moer azeitona, mo- vidas por gado. Producções dominantes:— vinho, azeite e fructa variadíssima,— tudo de qualidade su- perior. Freguezias limitrophes: — Poiares a S. e E. — S. Pedro de Nogueira a N.;— Alvações do Corgo— e S. Faustino do Peso da Regoa a O. Passa n'esta freguezia a nova estrada dis- trictal a macadam em via deconstrucção da Regoa para Sabrosa. Em 1844 um pavoroso incêndio reduziu momentaneamente a cinzas o palacete da Retorta, de José Joaquim Pereira, que u'elle ao tempo vivia e nada salvou, sendo avalia- do o prejuiso em mais de doze contos de réis ! . . . Ha n'esta freguezia um morro muito pit- toresco e de forma cónica, denominado Muro do Crasto (castro) que, segundo diz a tradi- ção, foi castello dos mouros. Era muito defensável para o tempo der- mas brancas e com certesa foi occupado e fortificado desde tempos muito remotos, pois ali se tem encontrado muitas moedas roma- nas, sepulturas de tijôlo, fragmentos de ce- râmica, escumalha de forjas e pequenas pias de granito, pedra estranha na localidade, etc. Parece uma mamoa céltica gigantesca, — um monte artificial, — e está hoje todo de vi- nha até o curuto, que dista da povoação de 86 1358 VIL VIL Villarinho dos Freires pouco mais de 1 ki- lomeiro e tem na base, do lado sul, a povoa- ção de Santo Xisto. Ergue-se entre o rio Tanha e o ribeiro de Refojos. ' Ha finalmente n'esta freguezia duas aulas oíiieiaes de instrueção primaria elementar para os dois sexos. Esta freguezia denominou- se Villarinho dos Freires, porque foi dos templários, ou freires da ordem do Templo, dos quaes pas- sou para os cavaleiros ou freires da ordem de Malta, com o mosteiro que os templários tinham na freguezia de S. Miguel de Poya- res, visinha d'esta de Villarinho,— mosteiro que os freires de Malta arvoraram em séde de uma commenda riquíssima, comprehen- dendo esta freguezia de Villarinho e ou- tras. Em 1532 a mencionada commenda era da ordem de Malta e rendiam os seus dízi- mos a bagatella seguinte:— 5:000 alqueires de pão,— 1:000 de vinho,— 500 de azeite— e 500 de castanhas, — alem de muitos fo- ros!... V. Poiares, vol. VII, pag. 116, col. 2.*— e a Descripção do terreno em volta de La- mego duas legoas, escripta pelo cónego ter.- reDario Ruy Fernandes em 1532 e publi- cada pela Academia Real das Sciencias no tomo V dos Inéditos de Hist. Portugueza, em 182 i. Em 1290, segundo se lê nas Inquirições d'Ei-rei D. Diniz, já a dieta commenda de Poiares era da ordem de Malta. V. Feira em Viterbo. De passagem diremos que, sendo os tem- plários extinctos em 1311, el rei D. Diniz muito astutamente fundou a ordem de Chris- to e a dotou com todos os bens que os tem- plários tiveram em Portugal, mas não pas- sou para os cavalleiros de Christo a grande commenda de S. Miguel de Poiares, porque já era da ordem de Malta,— não sabemos bem desde quando nem por que titulo. A ordem de Malta, de Rodes, ou do Hos- pital, nasceu na Palestina em 1104;— foi ap- provada pelo papa Paschoal II em 1113,— e a ' ' rainha D. Theresa, depois da morte do seu marido o conde D. Henrique, aadmittiuem Portugal pelos annos d* 1112 a 1116. A primeira casa que teve no nosso paiz foi o convento, depois baliado, de Leça, que em 1800 rendia cerca de doze contos de réis; —depois teve por cabeça o Grão Priorado do Crato, que no tempo d'el-rei D. Alfonso V apenas rendia 600#000 réis;— no tempo de D. Manuel já rendia sete contos— e em 1800 rendia vinte e quatro contos de réis, que equivaliam a mais de trinta contos de réis da nossa moeda actual; mas já estava unido á grande casa do infantado desde 1789, por breve do papa Pio VI, de 24 de novembro do dicto anno. V. Crato, Leça do Balio— e a Memoria His- tórica do Mosteiro de Leça por Antonio do Carmo Velho de Barbosa,— trabalho muito consciencioso e muito minucioso, como tra- balho especial que é— e escripto sobre a lo- calidade. Esta parochia de Villarinho dos Freires, até 1882, data da ultima circumscripção dio- cesana, pertencia ao arcebispado de Rraga. VILLARINHO DAS FURNAS, — freguezia extincta no concelho de Terras de Bouro e ha muito annexa á de S. João do Campo. Passava n'esta freguezia, hoje simples po- voação de Villarinho das Furnas, a celebre estrada da Geira, de Braga a Astorga. Era a ultima povoação portugueza em que tocava a dieta estrada, que pouco adiante se mettia na Gallisa. Nole-se que Villarinho das Furnas de- mora na margem direita du rio Homem — e S. João do Campo na margem esquerda. VILLARINHO DOS GALLEGOS,— fregue- zia do concelho e comarca do Mogadouro, districto e diocese de Bragança, província de Traz os Montes. Curato amovível. Orago S. Miguel. — fogos 206,— habitantes 850. Em 1706 pertencia ao mesmo concelho e comarca do Mogadouro. Nada, absolulameute nada mais diz d'esta parochia a Chorogr. Portugueza — e o Port. S. e Profano nem sequer a mencionou!... Em 1852 o Flaviense deu-lhe 124 fogos; o censo de 1864 deu-lhe 168 fogos e 695 ha- VIL bitantes,— e o de 1878 deu-lhe 204 fogos e 819 habitantes. Não comprehende aldeias. Tem apenas annexa desde 1883 a pequena povoação e freguezia de Villa dos Sinos com 38 fogos e já descripta. Vide. Demora a povoação de Villarinho dos Gal- legos na margem direita do Douro, do qual dista 1 e meio kilomeiro para N; — 14 do Mogadouro para S. E.; — 40 da estação da Barea d'Alva-(a mais próxima) na linha fér- rea do Douro, prestes a abrir-se á circula- ção desde Tua até Salamanca; — 80 de Bra- gança;— 245 do Porto—e 582 de Lisboa. Fréguezias limitrophes: — Bruço ou Bur- çó, Villar do Rei, Villa d'Alla, Ventozello— e Aldeia d'Avila, em Hespanha, alem do Douro. Producções dominantes: — trigo, centeio, vinho, azeite, batatas e muita lã, pois cria muito gado lanígero e também muar e bo- vino da raça mirandesa. É também mimosa de caça miúda e de peixe do Douro. Não ha n'esta freguezia, nem n'esle con- celho, nem nos de Freixo de Espada á Cinta e Vimioso estrada alguma a macadam 1. . . A leste, sul e sueste de Bragança este malfadado districto apenas tem dois kilo- metros de estrada a macadam construídos junto de Miranda, na estrada real n.° 9, de Miranda a Celorico da Beira, pela estação e barca do Pocinho; — todas as outras suas es- tradas são ainda hoje os mesmos barrancos dos princípios da nossa monarchia 1 V. Villa Real de Traz-os-Montes, vol. XI, pag. 1016, col. 1.» e 2.» Esta parochia tem apenas 1 templo: — a sua egreja matriz, e na sua annexa dois: — a matriz e uma capella de Santa Barbara, — todos singelos e humildes, mas em bom es- tado de conservação. Não tem edifícios notáveis, brasonados ou sem brasões. Approximadamente em 1869 pesou sobre esta freguezia uma medonha trovoada, que fez grandes prejuízos. Tem duas aulas officiaes de instrucção primaria para os dois sexos. VIL 1359 O Douro no limite d'esta freguezia e des- de o alto de Miranda até á Barca d'Alva corre fundo e precipitado por entre penhas- cos medonhos. Aqui por exemplo as mar- gens são formadas por enormes roehedos de desmedida altura. Também desde que no alto de Miranda entra em Portugal, até á nova ponte do caminho de ferro a montante do Cachão da Valleira, não tem ponte al- guma e desde o Alto de Miranda até a Barca d'Alva apenas tem 3 barcas de pas" sagem: — uma junto da villa da Bemposta, — outra junto da villa de Lagoaça— e outra no Saltinho, concelho de Freixo d'Espada á Cinta. Nos longos espaços intermédios, como em Miranda e aqui, atravessam o Douro ainda hoje (credite posteri I) .em cordas lançadas sobre o abysmo e presas a grande altura nas duas margens. Em Miranda a passagem é feita por este rudimentar processo dentro de um ceirão de esparto suspenso em duas cordas paral- lelas. No dicto ceirão podem ir a um tempo 4 pessoas— e também n'elle passam porcos, cereaes e gado lanígero. O cavallar, muar e bovino tem de contornar a raia, na distan- cia de legoas. Aqui, em Villarinho dos Gallegos, a pas- sagem é mais simples ainda e feita por meio de uma corda única, retesada sobre o abys- mo. Prendem os passageiros (sauve qui peutl...) de um modo especial com um laço de outra corda, suspenso n'aquella,— e com o auxilio de outra corda, presa ao dicto laço, dois homens que estão nas duas mar- gens arrastara o laço com o passageiro ou com o fardo de uma até à outra margem 1... Quando tal ouvi sensi in fronte meo se ar- ripiare cabellos 1 mas um filho da localidade nos disse que a passagem é commoda e que, se estivéssemos habituados a fazer a traves- i Tem hoje 4 a jusante, e nos princípios da nossa monarchia teve outra, da qual ain- da restam claros vestígios, entre Mesãofrio e Barrô. Para evitarmos repetições— V. Barqueiros, Barrô, Villa Jusã e Villa Real de Traz-os- Montes, vol. XI, pag. 932, col. M e segg. 1360 VIL sia, como elles estão, até havíamos de gos- tarei... Oh 1 Deve ser fresca e pittoresca no ve- rão—e mais aiDda no inverno, quando o Douro bramir com fúria lá em baixo, espu- mando ao despenhar-se por entre aquella medonha penedia;— e mais fresca deve ser a passagem, quando a grande corda estale e o pobre transeunte se desfizer em massa informe na penedia do leito, no verão,— ou mergulhe e desappareça na torrente, quando o Douro no inverno vae alto e medonho. E quantas vezes não lerá estalado a dieta corda ? I . . . Terminaremos este tópico dizendo que no rigor da estiagem o Douro no termo d'esta freguezia também pode atravessar-se a pé enxuto (?) no sitio da Pena Porreira, (o no- me é decentíssimo !) em um grande esten- dal de penedos informes que tem no leito, mas a passagem ali não é menos divertida nem menos perigosa 1 Demanda tíbias altas; — vigor, agilidade e levesa— e muita pratica de tal exercício cho- reographico, para se não partirem as cos- tellas ou o toutiço nas fragas ou não se to- mar algum banho nos poços. Esta povoação é uma das mais ricas do concelho do Mogadouro, por ser muito tra- balhadora e muito dada a negócios decom- missão e conta própria. Negoceia fortemente em azeite, lã, couros curtidos e gado lanígero, muar e vaccum da raça mirandesa, que é a mais estimada em Traz-os-Montes. Ha aqui vaccas de 20 a 30 libras cada uma— e singeis de 60 a 70 libras?!... Muitos habitantes d'esta povoação, levados pelo seu génio trabalhador e industrioso, costumam percorrer em cata de algum lucro com o seu negocio de lã, couros, amêndoa e azeite não só esta província toda, mas gran- de parte do nosso paiz e da Hespanha, mon- tados em soberbas mulas que vencem 10 a 12 das nossas antigas léguas de 8 a 10 kilo- metros por dia, atravez de barrancos medo- nhos! Um dos primeiros proprietários, negocian- tes e viajantes d'esta povoação é Antonio VIL Joaquim Rodrigues,— homem muito traba- lhador e muito conhecedor de Portugal e da Hespanha, pois em marchas e contra-mar- chas tem percorrido até hoje milhares de le- goas nos dois paizes. Nasceu n'esta povoação em 1835 e casou em Lagoaça com Angelina Raquel Antunes, prima do fallecido conde de Lagoaça e so- brinha do ultimo capitão-mór de Lagoaça, todos da família Antunes, bem conhecida n'este concelho. Antonio Joaquim Rodrigues é fllho de Ma- nuel Rodrigues Ganhão, também dado á mesma industria, natural d'esta freguezia, e de Maria Joaquina Cardosa, natural de Es- calhão; — neto paterno de José Rodrigues Ga- nhão, também muito trabalhador e dado á mesma industria, natural d'esta freguezia, e de Anna Joaquina Antunes, de Lagoaça, — e materno de Antonio Fernandes Cardoso e de Maria Nunes,— elle de Escalhào e ella de Villarinho de Gallegos,— todos dados á mes- ma industria, que é hereditária' n'esta famí- lia. Antonio J. Rodrigues principiou a correr mundo com o seu pae aos 12 annos e teve do seu consorcio vários filhos, todos igual- mente trabalhadores. Costumam ir com os seus negócios de commissão e conta própria, dentro do nosso paiz até Miranda, Bragança, Mirandella, Cha- ves, Almeida, Covilhã, Fundão, Évora, Beja, Lisboa, Coimbra, Porto, Guimarães e Bra- ga,—e dentro da Hespanha até Valhadolid, Zamora, Salamanca e Cidade Rodrigo. Apuram dinheiro, mas trabalham muito, muito ! . . . As festas principaes que hoje aqui se ce- lebram são:— a de S. Miguel, orago d'esta freguezia,— a de Nossa Senhora da Assum- pção, orago da sua annexa,— e as de S. Je- ronymo e S. Barlholomeu. Como os habitantes d'esta freguezia eram tidos por constitucionaes e ricos, soffreram muito, — roubos, ferimentos, prisões e algu- mas mortes,— durante o governo do sr. D. Miguel, desde 1828 até 1834. VILLARINHO DA LOMBA,- freguezia ex- VIL VIL 1361 tincta, hoje aldeia da freguezia de Quiraz, i concelho e comarca de Vinhaes, districto e j diocese de Bragança. Em 1706 Villarinho da Lomba era um curato annexo á abbadia de Quiraz, no ter- mo e concelho da villa de Villar Secco da Lomba, comarca de Miranda, e tinha como orago Nossa Senhora do Rosario, segundo se lê na Chorographia Portugueza,—e em 1768, segundo se lè no Port. S. e Profano, tinha como orago Nossa Senhora da Assum- pção;—o seu paroeho era cura da apresen- tação do mesmo abbade de Quiraz, que lhe dava 64000 réiã de côngrua, alem do ren- dimento do pé d'altar — e contava 3o fogos. Hoje tem 42 fogos e ainda conserva a sua matriz,— uma capella dedicada a Nossa Se- nhora da Assumpção, bem tractada e bem conservada. Alem da povoação de Villarinho da Lom- ba, comprehende a freguezia de Quiraz as povoações de Edroso e Cisterna, que foram também outr'ora freguezias independentes. A freguezia de Quiraz, contando apenas 178 fogos e 800 habitantes, segundo se lê no ul- timo recenseamento de 1878, representa na- da menos de quatro freguezias ? 1 . . . Bellesas do districto e do bispado de Bra- gança. V. Villa Verde, freguezia d'este concelho de Vinhaes, vol. XI, pag. 1099, col 2.» Esta povoação de Villarinho demora na raia e tem um posto fiscal, pertencente á delegação de Vinhaes e ao districto adua- neiro de Bragança. V. Quiraz n'este diccionario e note-se que a exlincta parochia de Villarinho da Lomba está, como dissemos, annexa á freguezia de Quiraz e não v. v. como ali se lê, o que foi lapso do meu antecessor. Terminaremos dizendo que a freguezia de Quiraz com as suas 3 annexas pertencia ao concelho de Santalha, extincto pelo decreto de 3 de dezembro de 1853, pelo qual passou para o de Vinhaes. VILLARINHO DA LOUSÃ, outr'ora Villa- rinho das Moitas,— freguezia do concelho e comarca da Lousã, districto e diocese de Coimbra, província do Douro (I) Priorado. Orago S. Pedro Apostolo;— fogos 415, — habitantes 1:850. Em 1708, segundo se lê na Chorographia Portugueza, era vigairaria do cabido da Sé de Coimbra;— pertencia á comarca (corre- gedoria) de Monte-móro Velho (?!...) pro- vedoria e diocese de Coimbra— e contava 60 fogos 1 Em 1768 era priorado da mesma apre- sentação; rendia para o seu prior 350$000 réis— e contava 370 fogos 1 Custa a crer que a sua po- pulação no pequeno período de 60 annos augmentasse 310 fogos. O censo de 186'* deu-lhe 388 fogos e 1:759 habitantes,— e o de 1878 deu-lhe 411 fogos e 1832 habitantes. Demora esta freguezia em terreno fértil e suavemente ondulado ao norte e Das faldas da serra da Lousã e a E. N. E. da villa d'este nome, entre os rios Arouce e Ceira. A povoação de Villarinho, séde d'esta pa- rochia, dista da Lousã 4 kilometros para E. N. E.;— 4 e meio do rio Arouce, con- fluente do Ceira, também para E. N. E.;— 5 do rio Ceira, confluente do Mondego, para S.;— 27 de Coimbra para S. E.;— 146 do Porto— e 245 de Lisboa. Comprehende as aldeias seguintes:— Vil- larinho, séde da parochia; ao nascente:— Franco, Prilhão, Cabanões, Casaes, Ribeira dos Casaes e Covão;— ao poente:— Sarnadi- nha, Freixo, Gandara, Casal do Espirito Santo e Valle;— ao norte -.-Rogella e Bo- que;— ao sul:— Fiscal e Povoa do Fiscal. Comprehende também as quintas de Ri- beira Menor, Cachaça e Reguengo do Pri- lhão, todas pouco importantes,— e vários moinhos e azenhas que logo mencionare- mos. Freguezias limitrophes:— a E. Serpins;— a O. Lousã;— a N. Casal d'Ermio;— a S. um braço da serra da Lousã, ramificação da grande serra da Estrella. Producções dominantes: — milho, vinho, 1362 VIL VIL trigo, centeio, azeite, cevada, castanhas e lã, pois também cria gado lanígero nos seus chãos e na serra. É também mimosa de fructa, hortaliça, hervagens e de coelhos, perdizes e lebres. Cortam e servem esta freguezia as seguin- tes estradas a macadam : 1. a— Beal n.° 52 da Foz d'Arouce a Cas- tello Branco, em continuação da real n.° 14, de Coimbra á Foz d'Arouce. 2. »— Disirictal n.° 57, que entronca em Villarinho na real n.° 52, segue para Cabe- ços, etc. 3. »— Municipal, da aldeia do Covão para a ponte de Serpins, sobre o rio Ceira. Templos Alem da egreja matriz de Villarinho, bem conservada e bastante antiga, mas relativa- mente moderna, pois a 1.» esteve no sitio das Moitas, então povoado de castanheiros, pelo que esta freguezia se denominou— S. Pedro das Moitas— ha n'esta parochia as ca- pellas seguintes: 1. »— Senhora das Preces. 2. »— S. Domingos. Ambas em Villarinho. 3. '— Santo Antonio, na aldeia de Franco. 4. " — Santa Eufemia, em CabanÕes. 5. » — S. Bartholomeu, na aldeia de Prilhão. 6. »— Santo Ignacio, na aldeia do Boque. 7. » — S. Sebastião, na aldeia do Fiscal. 8. » — Espirito Santo, no casal d'este nome. 9. » — Santo Amaro, na povoação da Ro- gella. Estas 9 são todas publicas e estão bem tra- ctadas, exceptuando a 3.», de Santo Anto- nio. 10. »— Senhora das Dores, na aldeia do Co- vão. 11. «— Santa Rita, na aldeia do Reguengo. 12. »— Santa Rita, (outra) na aldeia do Fiscal. 13. » — S. Luiz, na povoação do Freixo. Estas ultimas 4 são particulares;— estão todas muito bem tractadas — e entre ellas avulta e merece especial menção a de Santa Rita (n.° 12) na aldeia do Fiscal. Tem uma elegante e custosa frontaria de pedra enearnada, extrahida das pedreiras d'Alveite, — e interiormente um bom retá- bulo de talha dourada com sacrário,— bel- las alfaias e Santíssimo permanente. As festas principaes que hoje aqui se ce- lebram são as seguintes: — S. Pedro (o ora- go) e Senhora do Rosario, na matriz; — Es- pirito Santo e Santo Amaro, ambas com ro- maria, nas capellas próprias. Tem esta freguezia, na aldeia do Fiscal, dois edifícios brasonados: — um pertencente á nobre família Quaresma, — outro aos her- deiros de José Pedro Fernandes e que foi dos Mexias. Banham esta parochia os 4 ribeiros se- guintes : 1. ° — Ribeiro Maior. 2. ° — Ribeiro Pequeno. Correm ambos de S. a N.; — a pequena dis- tancia fazem juncção — e desaguam na mar- gem esquerda do rio Ceira, junto da aldeia do Boque, a distancia de 4 kilometros. 3. °— De Villarinho, que passa junto da al- deia d'este nome. 4. ° — Passa ao sul d'esta freguezia. Estes 2 veem da serra da Lousã, — fazem juncção na aldeia do Valle— e desaguam também nò rio Ceira, junto da povoação de Ceira dos Valles, na distancia de 5 kilome- tros. Movem 11 moinhos e 2 azenhas de ce- reaes, — 4 lagares d'azeite e uma fabrica de papel, no sitio do Valle das Éguas, perten- cente á viuva Lemos & Filhos, da Lousã. Aguas férreas Brota n'esta freguezia, na sua extremida- de sul e na raiz da grande serra que a li- mita por este lado, uma nascente d'aguas férreas no sitio que chamam Agua Alta, por- que a tal nascente cae ali de grande altura, formando uma espécie de cascata. É muito medicinal para o tractamento de varias doenças e nunca augmentou com as chuvas no inverno— nem diminuiu com a secca na estiagem,— fenómeno raríssimo e que talvez tenha a sua explicação no facto de brotar a dieta nascente de uma rocha VIL duríssima no bôjo da grande serra, formada J de rocha compacta, igualmente dura e por consequência difficil de penetrar pela chuva e pelo calor. Em outro tempo vinham de grande dis- tancia, inclusivamente de fóra d'este conce- lho, muitas pessoas fazer uso d'estas aguas; hoje essa concorrência afroixou, mas ainda muitas pessoas d'este concelho fazem uso d'ellas, bebendoas na localidade ou condu- zindo-as para suas casas, em vasos de vidro ou de barro. Em Villarinho ha também uma fonte d'agua potável, digna de menção pela sua puresa 6 levesa. v É talvez a melhor agua d este concelho— e a dieta fonte denomina se Fonte Godinha. Pessoas notáveis Entre os filhos mais beneméritos d'esta parochia mencionaremos apenas dois:— Ma- nuel Furtado de Mesquita e Távora, que nas- ceu na aldeia de Villarinho;— foi capitão de cavallos na guerra da restauração, caval- leiro professo da ordem de Christo, etc. Pelos seus relevantes serviços el-rei D. João IV lhe concedeu a pensão de 40$000 réis e a um seu filho deu de propriedade o juisado dos orphãos, na vi lia da Lousã. Foi morto na villa de Penamacor, baten- do-se contra os hespanhoes, em 17 de feve- reiro de 1650, e é um dos mais nobres as- cendentes do actual visconde da Foz de Arouce. Foi homem distincto pelas armas no sé- culo xvn; distinguiu-se porem mais ainda pelas lettras em nossos dias um outro filho d'esta parochia : Vicente Ferrer Neto Paiva A biographia de sL ex.% a quem nós co- nhecemos muito de perto, porque vivia em Coimbra e era lente da Universidade— e lente distinctissimo— quando nós nos for- mamos em 1851 a 1856 —daria um grosso volume e não a comportam as paginas d'este diccionario. Indicaremos, pois, apenas alguns tópicos: VIL 1363 Era filho legitimo do alferes Manuel Fran- cisco Neto e de D. Constança Maria da En- carnação, da casa, quinta e aldeia do Frei- xo, d'esta freguezia;— neto paterno de José Francisco e de D. Theresa Maria de Pai- va, senhores da mesma casa e quinta,— e materno de Caetano de Mattos e Anna de Jesus, da Povoa de Serpins. Nasceu n'esta freguezia, na sua casa e quinta do Freixo, em 27 de junho de 1798; — foi baptisado n'esta mesma freguezia pelo rev. João de Mattos Antunes em 4 de julho do dicto an- no;— foram seus padrinhos o rev. Vicente Ferrer Neto Paiva, seu homonymo e tio pa- terno, e D. Maria Luisa Cândida (ou D. Ma- ria Joanna) irmã do biographado — Falleceu solteiro na dieta sua casa e quinta do Frei- xo na noite de 11 de janeiro de 1886, con- tando 87 annos e meio e alguns dias— e dei- xou a maior parte da sua fortuna— cerca de 160 contos de ré^s,— ao seu sobrinho, lente de direito publico na Universidade de Coim- bra, o dr. Vicente José de Seiça Almeida e Silva, que pouco tempo lhe sobreviveu. Ape- nas nove mezesl. ■ . 1 Foi 9. ex ■ uma illustração superior e um cavalheiro respeitabilissimo, do conselho de Sua Magestade, fidalgo da casa real, com- mendador da ordem de Nossa Senhora da Conceição de Villa Viçosa, doutor, lente ca- thedratieo e decano da faculdade de direito na Universidade de Coimbra, reitor da mes- ma Universidade, deputado em varias le- gislaturas, ministro dos negócios eeclesias- ticos e de justiça, par do reino, sócio effe- ctivo da Academia Real das Sciencias de Lis- boa, do Conservatório Real da mesma cidade e do Instituto, de Coimbra, collaborador de differentes jornaes políticos e litterarios, au- i Era também par do reino e uma excel- lente pessoa. w „ Nasceu na villa da Louza em 3 d agosto de 1809 e falleceu em Coimbra no dia 21 de outubro de 1886, igualmeute solteiro, dei- xando uma fortuna de mais de duzentos con- I tos ao seu irmão José Maria de Seiça, rico proprietário, morador na freguezia de S. | Silvestre, concelho de Coimbra. I V. Louzã no supplemento. 1364 VIL ctor de varias obras, indicadas por Innocen- cio Francisco da Silva, etc. Tornou se também benemérito dainstruc- çào publica fuodaodo em casas próprias, ao lado da sua do Freixo, n'esta fregu^zia, em 1877, duas aulas d'instrucção primaria para os dois sexos, dotou-as convenientemente e ainda por ultimo as beneficiou e contemplou no seu testamento, deixando á camará mu- nicipal da Lousã 4:000£000 réis nominaes em inscripçòes para repartir o seu producto annual por 20 alumnos e 20 alumnas que frequentem as dietas escolas e pertençam ás famílias mais necessitadas das freguezias de Villarinho e da villa da Lousã. O grande historiador Alexandre Hercu- lano era intimo amigo do nosso biographado e tanto que no seu gabinete d'estudo, em Valle de Lobos, tinha apenas 3 retratos:— o do famoso estadista Mousinho da Silveira, —o do nosso grande poeta Soares de Passos — e o de Vicente Ferrer Neto Paiva. No cen- tro estava o de Mousinho e á direita o de Ferrer. Também o nosso biographado era dedica- díssimo a Herculano, como provam, entre outros muitos, os factos seguintes: 1.*— Em 20 de setembro de 1877,-13 dias depois do fallecimento de Alexandre Hercu- lano, dirigiu uma carta ao Jornal do Com- mercio de Lisboa, pranteando a morte do grande historiador.—lembrando que se de- via erigir-lhe um monumento por meio de uma subscripção publica— e logo offereceu 400^000 réis para a dieta subscripção. 2/— Na sessão do Instituto de Coimbra, de 23 de maio de 1878, leu uma memoria interessantissima, fazendo o elogio histórico do grande historiador. Terminaremos dizendo que o nosso bio- graphado, em 17 de novembro de 1870, foi agraciado com o titulo de visconde do Frei- xo, mas não o acceitou (honra lhe seja!) pre- ferindo aos títulos nobiliarchicos a conside- ração e a nobresa do seu aureolado nome. A biographia mais completa e mais inte- ressante que até hoje temos lido com rela- ção ao sábio lente Vicente Ferrer Neto Pai- V1L va é a que o sr. Joaquim Martins de Carva- lho, seu bom amigo e contemporâneo, illus- trado redactor e proprietário do Conimbri- cense, publicou no seu jornal desde o n.° 4.007 de 16 de janeiro de 1886, até o n.» 4:018 de 23 de fevereiro do mesmo anno, para onde remettemos os leitores. Esta parochia e as circumvisinhas soffre- ram muito em 1811, nos dias 14, 15 e 16 de março, quando por aqui passou de escanti- lhão o exercito francez de Massena, retiran- do das linhas de Torres Vedras por Pombal, RediDha, Condeixa, Miranda do Corvo, Foz d'Arouce, Ponte da Murcella, Celorico e Guarda, em marcha penosíssima, batido e acossado pelo exercito angloluso, que o não deixou respirar um momento, obrigando-o a queimar muitos carros de bagagens e a perder muita artilheria, muitos muares e soldados na passagem do rio Ceira e do Alba. Não se imagina o que soffreu Massena des- de Condeixa até á Ponte da Murcella, prin- cipalmente em Foz d'Arouce, na passagem do rio Ceira, junto d'esta parochia de Villa- rinho, que foi litteralmente aberta e devas- tada, bem como todas as parochias circum- visinhas, pelos dois grandes exércitos. Temos sobre a nossa banca de estudo uma descripção minuciosa, interessantissima e authentica d'aquelles reveses, escripta por M. Guingret, testemunha ocular, pois fazia parte do exercito de Massena, como chefe de um batalhão do 6.° corpo, commandado pelo marechal Ney, incumbido de proteger a retirada, e que nó revez da Foz d'Arouce, na passagem do Ceira, se cobriu de vergo- nha e perdeu o commando do dicto corpo. Bem quiséramos dar ao menos um extra- cto d'aquelle interessantíssimo tópico, mas é muito longo e estamos anciosos por fechar este diccionario. Appeílamos para o supple- mento; entretanto veja-se o artigo Villar Formoso e a Relation historique et militaire de la campagne de Portugal sous le maré- chal Massèna par M. Guingret,~L\moges, 1817,— pag 153 a 175. VILLARINHO DA MÓ,— aldeia da fregue- zia de B ça, concelho de Boticas, comarca VIL VIL 1365 de Montalegre, districto de Villa Real, pro- víncia de Traz-os-Montes, arcebispado de Braga. V. Beça, vol. I, pag. 355, col. !.■— e per- mittam-nos o fazermos algumas addições áquelle artigo: A mencionada freguezia de Beça ou Bessa comprehende as aldeias seguintes:— Beça, a sede da parochia,— Torneiros, Quintas e Seirrãos, na margem esquerda do rio Beça, — e Villarinho da Mó, Lavradas e Carvalhe- lhos, na margem direita, puis o rio Beça, do qual adiante fallaremos, corta pelo meio esta freguezia, que em 1706 pertencia ao termo e concelho da Villa de Montalegre, comarca e ouvidoria de Bragança;— com- prehendia as mesmas 7 povoações: Bessa com 50 fogos,— Torneiros com 26— Quintas e Seirrãos com 56,— Lavradas com 30,— Carvalhelhos com 20— e Villarinho da Mó com 15,— total 197 fogos,— e era da apresen- tação da casa de Bragança. Em 1757 era abbadia da mesma apresen- tação;—rendia 200^000 réis— e contava 46 fogos!— segundo se lê no Port. S. e Profano- O censo de 1864 deu-lhe 229 fogos e 971 habitantes,— e o de 1878 deu-lhe 251 fogos e 1:211 habitantes. Os dízimos d'esta parochia no meiado do uitimo século rendiam 650:000 réis, dos quaes recebia o abbade as quintas nonas— e a Patriarchal as quartas nonas (?!.. .) — por bulia pontifícia do papa Benedicto XIV, com data de 27 de julho de 1747. Producções dominantes:— milho, centeio, batatas, muitas castanhas, algum vinho ver- de e fructas na margem esquerda do rio Beça, por ser o chão mais quente e mais productivo,— e apenas centeio, batatas e cas- tanhas na margem direita, por ser o chão mais frio. Também abunda em caça grossa e miúda e lã, pois cria bastante gado lanígero e vac- cum da raça barrozã, — e é mimosa de pei- xe, nomeadamente trutas, do rio Beça. Alem da sua egreja matriz, que nada offe- rece de notável, tem as 7 capellas seguintes, todas publicas e abertas ao culto: 1. * — Senhora da Apresentação, na aldeia de Beça. 2. » — S. Bento, na aldeia das Quintas. 3. * — S. Martinho, em Seirrãos. 4. » — Santa Margarida, em Torneiros. 5.4— S. Gonçalo, em Carvalhelhos. 6. *— Santo Antonio, nas Lavradas. 7. " — S. Mamede, em Villarinho da Mó, — todas decentes, mas singelas. Demora esta freguezia na parte Occiden- tal da serra de Leiranco, em uma quebrada da dieta serra, que é ramificação da de Bar- roso. Atravessa esta freguezia de norte a sul o rio Beça — e de nascente a poente a anti- ga estrada real de Chaves a Braga, que tem aqui uma solida ponte de cantaria sobre o Beça. Pela dieta estrada e pela dieta ponte passou o exercito francez do general Soult em março de 1809, quando seguia de Cha- ves para Braga e Porto. A dieta estrada segue aproximadamente o traçado de uma das vias mitítares roma- nas de Braga para Astorga. Para evitarmos repetições, vide— Estradas romanas, — Vias férreas, Villar da Veiga, Villar de Perdises, S. Miguel e Villarinho dos Padrões. As aldeias de Quintas e Seirrãos eram casaes cerrados 1 e tinham grandes privilé- gios concedidos por el-rei D. João I, em carta de 28 de novembro de 1426; mas os seus habitantes eram obrigados a defender o antigo castello de Seirrãos, que se erguia a pequena distancia da dieta estrada e das outras povoações, entre esta freguezia e a ribeira de Term. Ainda hoje ali se vêem as ruinas do men- cionado castello e diz a tradição que n'elle vivera uma tal sr.« D. Loba, a quem os mo- radores das dietas aldeias pagavam fóros de tudo, — até das cordas dos carros! . . . Também a mesma sr." D. Loba, ou outra do mesmo nome, residiu algum tempo no Castello de Lanhoso, segundo se lê na vida 1 V. Montalegre, vol. V, pag. 444, col. 2.* — e Villar de Perdizes, orago Santo An- dré. 1366 VIL de S. Geraldo, no Fios Sanctorum do illus- trado dominicano Fr. Diogo do Rosario. Pessoas illustres Francisco Antonio Barroso Pereira, ba- charel formado em direito pela Universi- dade de Coimbra. Nasceu n'esla freguezia, na aldeia das La- vradas;—foi delegado do procurador régio em Montalegre por despacho de 3 d'agosto de 1852— e falleeeu em Montalegre no dia 17 de novembro de 1854; 3 dias depois (a 20 do dicto mez e anno) falleeeu a viuva, — D. Albina de Moraes Caldas, ambos no vigor da idade, — e no dia 14 do mesmo mez e anno falleeeu na mesma villa de Montalegre o sr. José Rebello Guimarães, ali medico do partido da camará, natural da freguezia de Tourem. Foram todos tresvietimasdocholera-mor- bus, que ao tempo assolava as povoações da raia, na Galliza. Todo este concelho ficou aterrado com a morte d'aquellas 3 pessoas em tão poucos dias. O general Manoel José Vaz Thomé, filho legitimo de Aeurcio^Vaz e de Anna Pereira, humildes proprietários da aldeia das Lavradas, nasceu n'esta parochia no dia 18 d'outubro de 1803. Sendo ao todo seis irmãos e muito pobres, o Thomé foi para Lisboa com dois dos seus irmãos trabalhar na lavoura, e um bello dia, andando a apanhar laranjas para embarque, foi preso e obrigado a assentar praça em um dos regimentos de Lisboa, pelos annos de 1828 a 1829. Serviu algum tempo no exercito de D. Mi- guel, mas por occasião do cerco do Porto, sendo já official, passou para o exercito de D. Pedro, e d'ahi em diante seguiu sempre o partido da sr.a D. Maria II. Foi major da Guarda Municipal do Porto; — d'ali passou para major do regimento de iufanteria n.° 13, estacionado então em Chaves (hoje em Villa Real); d'ali passou como tenente coronel para iufanteria n.° 8, onde serviu até que, sendo promovido a co- VIL ronel. passou para infanterian." 11 e depois para infanteria n.° 6, onde serviu até que se reformou em general de brigada e falleeeu aproximadamente em 1875, na sua casa de campo, junto do Porto. Quando o prenderam e o obrigaram a as- sentar praça, ia muito violentado e com a boa intenção de fugir no primeiro ensejo, pelo que, sendo o seu nome Thomé, trocou-o pelo de Manoel José Vaz; — com este foi sempre conhecido no exercito e, affeiçoan- do-se á carreira militar, chrismou-se e tro- cou o seu nome de baptismo pelo de Ma- noel, com o qual falleeeu. Quando o prenderam e com tanta violên- cia deixou a faina de jornaleiro, mal imagi- nava elle que a sua negregada sorte ia fa- zel-o general?! . . . Foi feliz e muito feliz, mais feliz porem foi ainda o seu patrício Domingos Mendes Dias, por alcunha o Manteigueiro que, tendo sido em Lisboa marçano e aguadeiro, che- gou a ser fidalgo da casa real e um dos maiores capitalistas de Lisboa no seu tem- po, deixando a bagatella de dois mil e seis- centos contos de réis?! . . . V. Vicente da Chã (8.) freguezia do con- celho de Montalegre, vol. x, pag. 534, col. 1.» Como já dissemos, atravessa e banha esta freguezia o rio Beça, já deseripto sob este nome no vol. i, p?g. 355, — e sob o nome de Berça ou Verça no artigo Villar de Cunhas, pois não sabemos qual seja o seu verdadei- ro nome. O nosso bom amigo e eyreneu José dos Santos Moura, abbade de Caires e muito co- nhecedor d'este concelho de Montalegre, de- nominava-o rio Beça. E parece que natu- ralmente assim deve denominar-se, por ba- nhar e cortar a meio a freguezia denominada Beça; mas o sr. dr. Moura Coutinho, de Cabeceiras de Basto, homem muito illus- trado e ancião venerando, nos apontamen- tos que nos deu para o seu concelho, que elle conhecia perfeitamente, disse que este rio se denominava Berça ou Verça e não Bessa ou Beça. E nos meus mappas effectivamente se en- ' contra com o nome de Bersa\ . . . VIL VIL 1367 Não nos atrevemos a cortar o nogordio, porque nunca (mercê de Deus!) andámos por semelhantes barrancos e despenhadei- ros;— aquelles dois nossos amigos e bene- méritos informadores já falleceram ambos — e não temos ali hoje relações. V. Villar de Cunhas. O mencionado rio tem dupla origem a O. das aldeias de Pedrario e Lamas de Sarra- quinhos;— recebe na margem direita o ri- beiro do Carregão; — cerca de 6 kilometros ~a jusante, junto da aldeia do Cortiço, recebe o ribeiro de Avesso, que nasce no valle de Firvidas, — e o riacho da Cova do Forno, que nasce junto da aldeia de Morgade; — atravessa depois a freguezia de Cervos, re- cebendo na margem esquerda o ribeiro de Varziellas e um pouco a juzante o de Cer- vos. Tendo atravessado a meio toda a fre- guezia de Beça e a de Canedo e recebido de ambos 06 lados differentes ribeiros, entre os quaes avulta o de Covas, cerca de 8 kilo- metros a jusante d'este ultimo recebe o rio do Couto de Dornellas; — toma então o nome de rio das Mestras— e cerca de 4 kilometros a jusante morre na margem direita do Tâ- mega, defronte da povoação de Daivães, freguezia do Salvador, da villa e concelho de Ribeira de Pena, tendo banhado já com o nome de rio de Mestras a freguezia de Villar de Cunhas, concelho de Cabeceiras de Basto. Tem 35 a 40 kilometros de curso e varias pontes, entre ellas 3 de cantaria: — Cortiço, Rebordello e Beça. Este rio é o maior affluente do Tâmega. VILLARINHO DO MONTE, — freguezia do concelho e comarca de Macedo de Cavallei- ros, districto e diocese de Bragança, provín- cia de Traz-os-Montes. Curato. Orago S. Sebastião;— fogos 60, — habitantes 245. Em 1768, segundo se lê no Portugal S. e Profano, era curato da apresentação do ab- bade de Nozellos, bispado de Miranda; — rendia para o cura 30:OUO réis — e contava 36 fogos. Em 1852, segundo se lê no Flaviense, pertencia ao concelho de D. Chama, extin- [ cto peío decreto de 24 d'outubro de 1885 í pelo qual passou para o de Macedo de Ca- valheiros;— contava 55 fogos— e era da co- marca de Mirandella. Demora esta freguezia na margem es- querda da grande ribeira de Villares, af- fluente do Tuella, da qual dista 3 kilome- tros para S.;— 8 da margem esquerda do Tuella, uma das nascentes do Tua, para E., — e 20 de Macedo de Cavalleiros para N. O. Produeçòes dominantes:— cereaes, fructas e lã, pois cria bastante gado lanígero. Também antes da invasão phylloxeriea destroçar os seus vinhedos, produzia bas- tante vinho de boa qualidade. Banham esta freguezia a W. a grande ri- beira de Villares— e a N. outra grande ri- beira, confluente da de Villares. Nós mencionamos esta freguezia como in- dependente, porque assim a encontramos no Mappa das Novas Dioceses, publicado em 1882, bem como no Flaviense e no Diccio- nario Chorographico d'Almeida, mas não podemos adiantar mais, porque não a lobri- gamos na Chorogr. Port., nem na Chrogr. Moderna, nem recebemos para a sua descri- pçào apontamentos especiaes. Na Chorogr. Moderna, apenas se faz men- ção de uma aldeia com o nome de Villari- nho do Monte, pertencente á freguezia das Arcas, d'este concelho de Macedo de Caval- leiros, mas não sabemos se a tal aldeia será, como suppomos, a freguezia de que nos oc- cupamos, porque ali nem sequer se diz que foi paroehia extinctal . . . O censo de 1864 também não a mencio- nou. Dista da freguezia das Arcas 6 kilometros para O. S. O.—e da villa de D. Chama, 7 para S. E., mettendo-se de permeio a ri- beira de Villares, na qual deve ter moinhos. Dado que esta freguezia de Villarinho foi, como suppomos, annexa á das Arcas, repre- senta esta hoje nada menos de 4:— a das Arcas, propriamente dieta,— a de Villarinho do Monte,— a. de Mogrão que em 1706 era uma simples aldeia da freguezia de Ala, de- pois tornou-se paroehia independente e por ultimo volveu a ser uma simples aldeia, 1368 VIL VIL mas da íreguezia das Areas,— e a de Nozel- los, também hoje simples aldeia, mas que outr'ora foi freguezia e villa antiquíssima, pois já D. Diniz lhe deu foral. E na casa da camará havia um freio para metter na bocea dos ealumniadores e das mulheres de má linguall.. . V. Arcas e Nozellos. O vinho da freguezia das Arcas é o me- lhor do alto d'esta província de Traz-os- Montes,— e tem a dieta parochia muitos moinhos, taes são: — o da Ponte, — Ponte de Mogrão, — Carrascal, — Fontainhas, — Lamel- las, — Ribeira— e Moinho do Mocho. Villarinho do Monte nunca foi villa, mas no século xvi teve esperanças de o ser, por- que D. Manoel lhe prometteu foral próprio. Podem ver se os Apontamentos para ellena Reforma dos Foraes do Sr. Rei D. Manoel, Maço 9 de foraes antigos, n.° 11. Se teve foral velho, Franklin não o men- ciona. VILLARINHO DAS PAR AN HE IRAS, — fr e - euezia do concelho e comarca de Chaves, districto de Villa Real, arcebispado de Bra- ga, província de Traz-os-Montes. Reitoria. Orago S. Francisco d'Assis;— fo- gos 98,— habitantes 402. Em 1706 era um curato da apresentação do reitor de Moreiras;— pertencia ao termo e concelho da villa de Chaves, comarca de Bragança e á grande commenda de Santa Maria de Moreiras da Ordem de Christo, então do duque de Cadaval, commenda que comprehendia sete parochias, — e contava esta 50 fogos. Em 1768 era da mesma apresentação; — rendia para o cura 50$000 réis — e contava 55 fogos. O censo de 1864 deu-lhe 86 fogos e 396 habitantes, — e o de 1878 deu-lhe 96 fogos e 391 habitantes. Demora na extremidade N. da decantada Ribeira d' Oura e a O. do monte de Santa Barbara, em terreno mimoso, pittoresco, saudável e fértil na margem esquerda do Tâmega, do qual dista cerca de um e meio kilometros para S. E.; — 4 do grande estabe- lecimento hydrotherapico de Vidago, para N. N. O.;— 15 de Chaves para S. O.;— 50 de Villa Real; — 78 da estação da Regoa, hoje a mais próxima, na linha férrea do Douro; — 182 do Porto pela estação da Regoa e linha férrea do Douro,— e 520 de Lisboa. Este itinerário deve soffrer grande modi- ficação, logo que se construa a linha férrea, hoje em estudos, de Chaves a Viseu pelo valle do Tâmega e que deve cortar a linha do Douro e ter n'ella entroncamento e esta- ção própria junto da estação do Marco de Canaveses, cerca de 44 kilemetros a jusante da Regoa, encurtando muito a distancia en- tre o Porto, Villarinho das Paranheiras, e Chaves. Esta parochia apenas comprehende a po- voação de Villarinho; — os casaes ou quintas da Baccaria, Lamalonga, Limões, Amieira, Corgo, Carvalhal e Pecho, mencionados na Chorographia Moderna,— e 3 moinhos no Tâ- mega, cada um com 4 rodas, — mais 2 moi- nhos e 2 azenhas no ribeiro das Olgas. Freguezias limitrophes:— Anelhe, Arcos- só, Villela do Tâmega e Salhariz. Producções dominantes : — vinho, mi- lho, centeio, azeite, castanhas, batatas e fructa. O vinho é, como vinho de pasto, excel- lente; do melhor da Ribeira d"Oura, d'esta província e do nosso paiz; mas infelizmente os seus vinhedos soffrem muito com o oi- dium, porque os enxofram tarde e mal, — coui a phylloxera e com outras doenças, pelo que já produzem muito menos do que ou- trora produziram e tendem a desapparecer em praso breve ! . . . Também aqui os olivaes soffrem muito com a ferrugem, que os invadiu approxima- damente em 1840, por ser o terreno fundo e quente, o que determinou alguns proprie- tários a cortarem e arrancarem grande nu- mero d'oliveiras, pelo que esta freguezia também hoje colhe muito menos azeite do que outr'ora colheu. Também aqui, eomo em todo o nosso paiz, estão muito doentes os castanheiros. V. Villa Real de Traz-os-Montes, vol. XI, pag. 1016. VIL VIL 1369 Banham esta freguezia o Tâmega, con- fluente do Douro, e um ribeiro, confluente do Tâmega. Nasce o dicto ribeiro nas faldas do monte de Santa Barbara, cerca de 3 ki- lometros a E. N. E. de Villarinho; — toca n'esta povoação do lado sul; — rega e ferti- lisa muitos campos — e morre na margem esquerda do Tâmega, um pouco a jusante do poldrado, de que vamos fazer menção x. Move 2 moinhos de cereaes e 2 de azeite — e tem uma boa ponte de pedra, construída em 1870 para passagem da estrada real a macadam. Ha n'este ribeiro, a montante de Villari- nho e onde as margens principiam a ser cul- tivadas, uma grande represa ou deposito d'agua no verão, d'onde saem duas levadas que regam os campos a juzante até o Tâ- mega. Até 1785 a agua da grande represa era distribuída por dois repartidores nomea- dos pelo juiz da vintena; mas, como houves- se quasi sempre desgostos, provenientes da desigualdade na distribuição, por serem os repartidores proprietários e interessados na partilha, o juiz de fòra da villa de Chaves, Domingos Alvares Lobo, providenciou de forma que terminaram as questões e quei- xumes até hoje I No tempo das regas, todos os sabbados o thesoureiro da egreja, por meio de toque do sino, convoca o povo e, reunido este no adro, ahi lé o rol extraindo da sentença, na parte relativa á semana próxima seguinte e assim cada proprietário fica sabendo quando tem de regar. A agua dos domingos é da egreja. Não se distribue, mas arremata-se e adjudica-se a quem mais der, sendo o seu producto ap- plicado para a fabrica da egreja, pelo que esta, apesar de ser muito antiga, se acha limpa e decente. Na tarde de 3 d'agosto de 1842 cairam so- 1 Tem dois nomes o dicto ribeiro:— desde a sua nascente atè á povoação de Villarinho denomina-se Pecho — e d"ali até o Tâmega Ribeiro das Olgas. bre esta freguezia apenas algumas leves got- tas d'agua, mas trovejou a leste e choveu tão copiosamente no monte de Santa Barbara, que o pobre ribeirinho de que estamos fal- tando engrossou rapidamente como não ha memoria,— transformou- se em um rio cau- daloso,—galgou os campos marginaes e le- vou na torrente as arvores, as paredes, a terra e tudo, causando prejuisos enormes, que alé hoje não foram completamente re- sarcidos I . . . O Tâmega corre aqui fundo e esta paro- chia tira pouco proveito das suas aguas, pelo que em 1843 resolveram os habitantes d'esta freguezia construir n'elle um dique para levantamento e captagem das aguas, alguns kilometros a montante, no limite de Villela do Tâmega, e um grande açude que, partindo d'ali, regasse e limasse todas as terras de Villarinho, que ficam a jusante do dicto açude. Louvável resolução foi aquella, mas infe- lizmente não deu o resultado que podia e devia dar e que talvez dé no futuro. Duas vezes construíram o dique e outras tantas o levou o Tâmega nas enchentes, — se é que alguém mal intencionado não apro- veitou o ensejo de o destruir, carregando o Tâmega cora a culpa, como ao tempo se pro- palou. O dique foi feito á custa do benemérito proprietário João Bernardino Machado— e o açude foi feito pelo povo. E nunca se tornou tão precisa como hoje tal obra, porque poderia transformar em campos e prados magníficos grande exten- são de vinhedos que se acham quasi mor- tos e que tendem a desapparecer em praso breve. Açudes muito mais dispendiosos teem as íreguezias de Villar de Mouros, no concelho de Caminha, — de Villa Cova a Coelheira, no concelho de Ceia, — e de Alvarenga no con- celho d'Arouea. Veja-se a descripção das duas primeiras íreguezias n'este diccionario e a da ultima no supplemento. O Tâmega tem aqui um poldrado, cons- 1370 VIL VIL truido era 1786, á custa dos concelhos de Chaves e Montalegre, e que dá passagem a pedestres e cavalgaduras — no verão e com aguas medias, pois n Tâmega nas enchentes eobre-o, — fica interrompida a passagem— e custa-nos a crer que ainda o não derrubas- se I Anteriormente a passagem era feita em barcas, pois desde a ponte de Cavêz até á de Chaves, na extensão de 60 a 70 kilometros, o Tâmega não tinha ponte alguma de pedra. Hoje tem uma na freguezia d'Arcossó, a jusante do dicto poldrado, para passagem da nova estrada districtal a macadam, n.° 14, de Villa Pouca d'Aguiar a Boticas de Bar- roso,—e na freguezia de Santa Marinha de Ribeira de Pena ha também outro poldrado, construído approximadamente em 1860. Tem finalmente esta parochia de Villari- nho no Tâmega 3 moinhos de cereaes com 12 rodas. Templos A egreja matriz é um dos melhores tem- plos que ha n'estas circumvisinhanças. Tem altar-mór e 4 lateraes. O altarmór é um bom retábulo de talha antiga dourada com columnas d'ordem,co- rinthia; — no topo se vé o symbolo da ordem seraphiea e as quinas das armas portugue- zas,— e aos lados as imagens de S. Francisco d'Assis (o padroeiro) e de S. Sebastião. Também no tecto da capella-mòr se vê pintada a oleo e em tamanho natural a ef- figie do padroeiro. Altares lateraes: — Senhor Crucificado e Senhora das Dores, do lado da epistola, — e do lado do evangelho a Senhora da Saúde e o Senhor da Columna. Este e o da Senhora das Dores são de talha moderna simples e mal pintada,— os outros dois são de boa ta- lha antiga dourada, pois pertenciam á egreja velha. A imagem do Senhor Crucificado perten- ceu ao convento franciscano de Chaves, co- mo logo diremos, — e a da Senhora da Saúde tem pomposa festa annual, no 2.° dia da oi- tava de Pentecostes, feita pelos seus devotos, entre os quaes se distingue ocommendador Miguel Augusto de Carvalho, sócio fundador e gerente do grande estabelecimento hydro- therapico de Vidago. Em cumprimento d'um voto que fez em certa doença, dá todos os anãos avultada esmola para a dieta festa e já deu também para adorno da imagem um manto de setim branco bordado a ouro, um veu de filó, também bordado a ouro, e uma coroa de prata. Sua esposa M m8 Carva- lho, deu um fio de pérolas, avaliado em 700000 réis. Ha também n'esta egreja uma irmandade do Salvador do Mundo, muito antiga, pois nos seus estatutos, reformados em 1706 pelo sr. D. Rodrigo de Moura Telles, arcebispo de Braga, se diz que os estatutos anteriores necessitavam de reforma pela sua grande antiguidade. Foram posteriormente reforma- dos no principio d'este século pelo veneran- do arcebispo D. Fr. Caetano Brandão. Esta irmandade tem por fim suffragar as almas dos irmãos fallecidos — e possue ricos paramentos para as suas funcções fúnebres. Tem pomposa festa a 6 d'agosto, dia da Transfiguração, e na 1." seguDda feira de se- tembro, um anniversario pelos irmãos falle- cidos. Ha n'esta egreja também uma confraria do Santo Nome de Deus— e outra da Senhora da Natividade. Foi esta egreja reedificada nos fins do sé- culo xvm até£o arco cruzeiro. A eapella- mór foi concluída em 1805. Toda a despeza feita com as obras da ca- pella-mór correu por conta da commenda de Santa Maria de Moreiras, que recebia os dízimos d'esta egreja, e também deu para ella muitos paramentos e alfaias, que ainda hoje se conservam em bom estado. Usos e costumes Ha n'esta egreja um curioso Livro de usos e costumes, mandado fazer pelo dr. Francisco Velho de Faria, em 7 de dezembro de 1707, na forma da pastoral do sr. D. Rodrigo de Moura Telles com data de 20 de novembro de 1706. No mencionado livro, entre outras coisas se diz — que pertence ao parocbo o seguinte: 1.°— De cada baptisado um vintém de pão VIL VJL 1371 e uma candeia de cera (vela de 10 réis!...) — e o mesmo por cada casamento. 2.° — De cada fallecimento de freguez adul- to, tem o parocho dois viniens de luctuosa e 100 réis pela missa do enterro, — mais 2 almudes de vinho velho, se tiver logar o fal- lecimento antes do dia de S. Martinho, — um vintém de pão, — uma vela de 10 réis — e a cera dos 3 altares; — e, tendo officio de corpo presente, tem mais um carneiro e outra can- deia. 3 ° — Para resar por cada defunto em to- dos os domingos um responso, á estação da missa conventual, tem um vintém de pão em cada domingo, meia canada de vinho e uma candeia de 2 palmos ou 2 libras de cera por todas estas candeias. Pelos fallecimentos de menores tem tanto como pelos baptisados e casamentos, — e por cada pobre que assiste aos funeraes tem mais um vintém de pão e uma candeia. 4. ° — Tem de cada freguez um alqueire de centeio, de offerta. 5. " — Alem do que fica mencionado, rece- .bia de estipendio da commenda: — 12$500 réis em dinheiro, 40 alqueires de centeio, 32 almudes de vinho, 6 libras de cera e 2 alqueires de trigo. Hoje recebe dos mortuorios o mesmo que recebia — e, em compensação do estipendio que lhe dava o commendador, recebe as pri- mícias:— um alqueire de pão e um almude de vinho por cada freguez que colher 7 al- queires de pão e 7 de vinho, — e d'ahi para cima. Tem mais de offertas — um alqueire de pão de cada freguez — e de toda a freguezia réis 4011000 de côngrua, em dinheiro, arbitrados pela junta das côngruas, — mais 45^000 réis que a freguezia em commum se obrigou a dar ao parocho desde 1884, — e nem assim ha quem pretenda este beneficio. Tal é a escassez de clero na actualida- de 1 .-. . Em 1847 ainda contava esta parochia en- tre os seus filhos 7 ecclesiasticos; — hoje con- ta apenas dois, mas não residentes n'ella: — os rev.0í srs. Manuel Henrique da Silva Ma- chado, de quem logo faltaremos, e José Gae- tano d'Amorim, reitor de Friões, no conce- lho de Val Passos. D'aquelles 7 ecclesiasticos um era o rev. Fr. José Antonio de Carvalho, franciscano da província da Soledade,-- -outro era o rev. João Pereira, vigário collado em Seara Ve- lha, n'este concelho, — eos dois irmãos: José Joaquim da Fontoura, minorista, e Joaquim Manuel da Fontoura, subdiacono, ambos can- tores notáveis pela sua exeellente voz e pe- los conhecimentos que tinham do cantochão. O 2.° era também bom latino, moralista, li- turgista e de costumes irreprehensiveis. Não completou a sua ordenação, porque no *empo do governo do sr. D. Miguel foi riscado do numero dos ordinandos, quando ia reeeber a ordem de diácono, por ser tido como liberal. Depois da convenção d'Evora- Monte bem podia ordenar-se e obter mesmo pingues benefícios, mas, pela sua modéstia e escrúpulos, julgou-se indigno de ascender ao presbyterato e não completou a sua or- denação; viveu porem sempre com a maior honestidade, cumprindo pontualmente os ónus da ordem recebida. Falleceu em 17 de junho de 1874. Pessoas notáveis Nasceu n'esta freguezia em 1728 e n'ella viveu e falleceu em 1798, contando por con- sequência 70 annos de idade, o rev. Domin- gos Gomes, muito virtuoso, muito conside- rado e muito illustrado. Era a gloria do clero da Ribeira d' Oura e deixou sobre theologia mystica vários ma- nuscriptos, que infelizmente se perderam, quasi todos 1 Foi muito amante da sua terra natal e n'ella promoveu durante a sua longa vida muitos melhoramentos materiaes e moraes de toda a ordem. Era ascendente do seguinte: Padre Manuel Henrique da Silva Machado Nasceu n'esta parochia a 26 d'abril de 1834, sendo filho de João Bernardino Ma- chado e de D. Anna Carolina da Silva. Frequentou o curso triennal de sciencias ecclesiasticas do seminário de S. Pedro em 1372 VIL VIL Braga, de 1856 a 1859; — completou a sua ordenação nas têmporas de S. Matheus em 1860; — em junho de 1862 fez concurso para a egreja de Santa Comba da Ermida, conce- lho de Villa Beal de Traz-os-Montes, na qual foi provido e se collou; — em 1866 desistiu d'aquelle beneficio — e por decreto de 14 de julho de 1871 foi apresentado em concurso j documental na reitoria de S. Martinho de Bornes, concelho de Villa Pouca d'Aguiar, onde se collou no dia 1.° de dezembro do dicto anno, tomando posse no dia 5 de fe- vereiro de 1872. Ali se conserva ainda e é um parocho de bons costumes e muito illustrado. • Tem uma livraria superior a 3:000 volu- mes, comprehendendo muitas obras clássi- cas e raras, o que é um assombro em tal sertão. 1 Em setembro de 1884 S. M. el-rei o sr. D. Fernando (falleceu no anno seguiatel . . .) achando -se no grande estabelecimento hy- dro-therapico das Pedras Salgadas com sua esposa, a sr.a condessa d'Edla, e com o sr. infante D. Augusto (V. Villa Meã de Bornes) visitou a egreja e a residência de S. Marti- nho de Bornes e por essa occasião o rev. reitor Manuel Henrique da Silva Machado lhe offereceu alguns objectos archeologicos que possuía. Os 3 maiores proprietários de Villarinho das Paranheiras na actualidade são: — Anto- nio José Teixeira, José Antonio Gomes e Francisco Manuel Gomes. Foram também naturaes d'esta freguezia: — Afíonso Domingues. Deu á egreja do convento de S. Francisco de Chaves a imagem do Senhor Crucificado, que hoje ali se venera no novo convento, no forte de Nossa Senhora do Bosario, hoje de- nominado de S. Francisco. Trouxe a dieta imagem do México, onde foi feita por um gentio, segundo se lê na Chronica da Pro- víncia da Soledade. 1 V. Verea de Bornes, tomo X, pag. 304, col. 2.» Também deu para a dieta egreja um cá- lix, cortinas e frontaes de primavera da ín- dia, etc, — e os frades lhe deram uma ima- gem de S. Francisco e a do Senhor Crucifi- cado, que elle deu para a sua egreja de Vil- larinho, onde se venera ainda hoje em altar próprio, como jà dissemos. É de inferior esculptura. — Francisco Teixeira Alvão. Vivia ainda em meiado d'este século; — era um dos primeiros proprietários d'esta freguezia — e foi por vezes vereador da ca- mará municipal de Chavez — Nicolau Teixeira, um dos avós do an- tecedente. Foi cavalleiro professo da ordem de Chris- to. — Padre José Antonio de Miranda. Vivia no meiado d'este século; foi vigá- rio e um dos maiores proprietários d'esta freguezia. — Padre João Antonio Alves Calvão, tam- bém vigário d'esta freguezia., sua terra na- tal. No dia 12 de julho de 1884 foi com outro seu collega pescar no Tâmega, mas infeliz- mente no seu regresso caiu do cavallo que montava e fracturou uma perna — e no dia seguinte uma congestão cerebral o matou! — José Antonio Vinhaes, natural d 'esta fre- guezia, rico negociante no Maranhão. No sitio da Ribeira, junto do Tâmega, se encontram restos de muros antiquíssimos no termo d'esta parochia, geralmente attri- buidos aos romanos, bem como outros mui- tos restos de muros que se encontram nas margens do Tâmega desde aqui até Chaves e que levam a crer a demorada residência dos romanos n'estes sitios. V. Chaves. Até o fim do ultimo século os parochos d'esta freguezia eram curas amovíveis, prin- cipiando então a serem collados com o ti- tulo de vigários, mas teve somente Ires. To- dos os outros até hoje teem sido encommen- dados. Alem da sua egreja matriz tem esta paro- chia apenas uma capella dedicada a Santa Senhorinha. VIL VIL 1373 É publica e está em minas. Actualmente esta parochia não tem aula alguma, nem sequer de instrucçào primaria elementar 1 Cora vista aos illustres ve- readores de Chaves. Em agosto de 1885 deu sen'esta parochia um lamentável acontecimento : Certo iDdividuo dispondo-se para ir á ca- ça, encostou a arma a uma parede, da qual estava próxima sua mulher com uma filhi- nha de quatro annos no regaço. Esvoaçando casualmente uma gallinha, lançou ao chão a arma e esta disparou-se com tanta infeli- cidade que matou instantaneamente a pobre mãe e deixou a filha em misero estado! Em todo o arcebispado de Braga esta pa- rochia de Villarinho é a única dedicada a S. Francisco d'Assis. Fóra d'este arcebispado temos com igual invocação hoje apenas a da Amieira, concelho de Oleiros, districto de Castello Branco, bispado de Portalegre, — e a da villa da Ponte de Sôr, no concelho d'este nome, districto e bispado de Portalegre tam- bém. Atravessa esta freguezia e quasi que toca na povoação de Villarinho das Paranheiras a estrada real a macadam, n.° 5, de Chaves á Villa da Begoa por Vidago, Pedras Salga- das, Villa Pouca d'Aguiar e Villa Beal de Traz-os-Montes. Não sabemos ao certo qual a etymologia do nome d'esta parochia. Como paranho significava honra, couto, amparo ou isento, segundo se lê em Viter- bo, talvez que Villarinho das Paranheiras tomasse este nome por ser terra isenta ou muito privilegiada em outres tempos, posto que nunca foi villa nem teve foral próprio. Também é possível que se denominasse Villarinho das Paranheiras por haver n'esta povoação desde tempos muito remotos e ainda hoje grande numero de fornos do lado exterior das habitações, mas ligados com el- las, e sobre a bocca dos dictos fornos cha- minés, aqui denominadas paranheiras, que servem para absorver e desviar das casas o VOLUME XI fumo e as chammas, quando aquecem os fornos. Em abono d'esta opinião diz o meu illus- trado informador que vira um documento antigo, no qual esta freguezia se denomi- nava Villarinho das Paranheiras dos For- nos. Ao meu bom amigo e collega, o rev. sr. Manuel Henrique da Silva Machado, filho d'esta parochia e reitor da de S. Martinho de Bornes, agradeço os apontamentos que se dignou enviar-me. VILLARINHO DA RAIA ou Villarinho do Extremo, — aldeia da freguezia de Villarelho, concelho e comarca de Chaves. Vide. Esta aldeia demora na raia, da qual to- mou o nome, e também se denomina Verim portuguez, porque brota n'ella uma nascente d'aguas alealino gazosas, semelhantes ás do próximo Verim gallego e ás nossas de Vi- dago, Pedras Salgadas e Bensaude. VILLARINHO DE S. ROMÃO,— outr'ora villa e ha muito simples freguezia do con- celho de Sabrosa, comarca e districto de Villa Real, diocese de Lamego, província de Traz-os-Montes. Reitoria. Orago S. Romão; — fogos 220, — habitantes 950. Em 1706 era "vigairaria da apresentação dos cónegos de S. João Evangelista (lóios) do convento do Porto;— pertencia ao termo, concelho, comarca e ouvidoria de Villa Real de Traz-os-Montes, — e contava 85 fogos. Em 1768 era curato da apresentação do reitor de Celleiròs;— pertencia ao arcebis- pado de Braga; — rendia para o cura 50:000 réis— e contava 80 fogos. O censo de 1864 deu-lhe 205 fogos e 866 habitantes, — e o de 1878 deu-lhe 215 fogos e 796 habitantes, no que não ha proporção. Comprehende duas aldeias:— Villarinho, séde da parochia, e Paradellinha, — í habi- tações no sitio das Levadas,— 2 em Val d' Arcas, — 3 na margem direita do rio Pi- nhão— e varias quintas, entre as quaes avul- tam duas: — a do sr. Visconde de Villarinho de S. Bomão e a do sr. Barão das Lages. A aldeia de Villarinho de S. Romão de- 87 1374 VIL mora em sitio alto, alegre e vistoso, e em j terreno mimoso, saudável e fértil eutre Pro- j vezende e Sabrosa, na margem direita do Douro e do Pinhão, confluente do Douro. Dista 3 kilometros da villa de Sabrosa para S. — outros 3 da margem direita do Pi- nhão para O. S. O ;— 5 da villa de Prove- zende para N. N. 0.;— 10 da estação do Pi- nhão (a mais próxima) na linha férrea do Douro;— 22 de Villa Real;— 137 do Porto— e 474 de Lisboa. Não passa nem toca n'esta freguezia es- trada alguma a maeadam. A mais próxima é a de Villa Real a Freixo de Espada á Cinta (V. Villar de Maçada) que toca em Sabrosa. É a única estrada a maeadam que hoje tem este concelho, já concluída e ser- vida por diligencias desde Villa Real até Sa- brosa. Ha muito que está em projecto e estudos uma estrada districtal a maeadam de Sa- brosa á estação do Pinhão. E bem precisa é, porque servirá e porá em contacto com a linha férrea do Douro as villas de Provezen- de e Sabrosa e outras povoaçõos importan tes, nomealamente Celeiros e Villarinho de S. Romão, muito próximas da mencionada linha, mas separadas d'ella por Íngremes en- costas e barrancos medonhos; até hoje po- rém a dieta estrada ainda não passou do pro- jecto e dos estudos, posto que muito lidou e trabalhou para a construcção d'ella, despen- dendo bom dinheiro, o nosso chorado amigo José Augusto Pinto da Cunha Saavedra, de Provezende, um dos cavalheiros mais ricos, mais illustrados e mais considerados d'este concelho. Falleceu s. ex.« no dia 26 d'abril de 1885, sem ver nem sequer dar principio á sua tão querida estrada. V. Provezende n'este diccionario e no supplemento,— e Villa Real de Traz-os-Mon- tes, vol. XI, pag. 967, col. 2.» Freguezias limitrophes:— Sabrosa a N.,— Provezende a S.,— Passos a N. O.,— o rio Pi- nhão a E.— e Valle de Mendiz alem do Pi- nhão. Producções dominantes: — vinho, milho, centeio, azeite, batatas, castanhas e fructa. A sua producção principal era o vinho, VIL pois em 1840 produziu a bagatella de 2:553 pipas de 559 litros cada uma e ha memoria de haver produzido 3:000 pipas; mas infe- lizmente hoje pouco vinho já produz, por- que a maldicta phylloxera anniquilou a maior parte dos seus vinhedos, bem como os da maior parte do Alto Douro e d'esta província. Para evitarmos repetições, vejam-se os ar- tigos Villa Jusã, Villarinho de Cottas, Villa- rinho dos Freires, Villa Flor e Villa Real de Traz- os- Montes, vol. XI, pag. 1012, col. 2.» e segg. O vinho da parte alta d'esta parochia era de consumo, de pasto ou de mesa, mas o da parte baixa e mais próxima do Pinhão era do melhor do Alto Douro, pois estava em in- timo contacto com o de Vol de Mendiz, que só tinha rival no do Roncão, — absolutamente o melhor do Alto Douro 1 Esta parochia foi riquíssima antes da in- vasão phylloxerica, mas hoje soffre muito, porque a phylloxera, como já dissemos nos artigos citados supra, principiou por atacar os vinhedos que produziam o vinho mais ge- neroso, pelo que esta freguezia, como todas as do Alto Douro, perdeu a maior parte do seu melhor vinho tambem--e não sabemos quando reconstituirá os seus vinhedos. O melhor antídoto contra a phylloxera é o sulphurelo de carbone e o nosso governo (honra lhe seja!) montou no Porto uma fa- brica onde o prepara e o fornece aos lavra- dores pelo terço do seu custo, mas a sua ap- plicação é diffleil e cara. Só nas vinhas sim- plesmente manchadas e não de todo invadi- das, como estão hoje as do Alto Douro, se pôde fazer uso do sulphureto com vantagem. Além d'isso, defeca as vinhas e tem de ser acompanhado de adubos, o que torna a con- servação d'ellas tão dispendiosa, que a pro- ducção não compensa o lavrador l Rem perto d'aqui, na outra margem do Pinhão, está a quinta do Noval, que foi de José Maria Rebello Valente e é hoje do seu genro o sr. visconde de Villar d'AUen *. Era i V. Villar d'Allen. VIL VIL 1375 uma das quintas mais notáveis do Alto Dou- ro (V. Douro Illuslrado, pag. 119,) mas, co- mo toda estava na região do melhor vinho, foi toda atacada cruelmente pela maldicta phylloxera. O sr. visconde de Villar d'AUen, acreditado negociante do Porto e um dos mais illustrados lavradores do Douro, tem empregado todos os meios para a salvar, pro- digalisando-lhe os maiores carinhos e não se •poupando a enormes despezas com o sul- phureto, adubos variadíssimos e grangeios extraordinários de toda a ordem! Tem con- seguido como por milagre o conserval-a ver- de e viçosa no meio da devastação gera); mas, tão doentes estão as videiras que, de- vendo a mencionada quinta, .flor e orgulho do valle do Pinhão, produzir, como já pro- duziu, 200 a 300 pipas de vinho, — nos últi- mos annos não tem dado 50?!... Alguém confia das videiras americanas a reconstituição dos viohedos do Douro. O maior apologista e propagandista das taes videiras é o sr. dr. Joaquim Pinheiro d'Aze- vedo, de Provezende, que nas suas quintas d'este valle do Pinhão, a partir com a men- cionada quinta do Noval e com esta paro- chia de Villarinho, já tem hoje (1886) cerca de 35:000 videiras americanas, das qualida- des mais resistentes, estando enxertadas 15:000, que este anno produziram 18 pipas de vinho do Douro — e produziriam 30, ou mais, se não fôra o grande desavinho, pro- veniente das oscillações climatéricas; mas não se imaginam os cuidados que o sr. dr. Joaquim Pinheiro d'Azevedo prodigalisa ás videiras americanas — e as grandes sommas que tem despendido com ellas 1 . . . As vides americanas mal se adaptam aos terrenos chistosos e ardentíssimos do Alto- Douro, — nem todas são iudemnes — e a sua producção directa é muito differente do nos- so Port Wine, pelo que, para se reconstituir com as vides americanas os vinhedos do Douro, devem ser enxertadas n'ellas as nos- sas castas europeias, mas de modo que os garfos não toquem na terra; — o que torna a enxertia muito melindrosa, muito precária, e as vides pouco duradouras. Entretanto muitos lavradores d'este con- celhO} nomeadamente os visinhos do sr. dr« Joaquim Pinheiro, estão ensaiando em gran- de escala a cultura das vides americanas, a sua adaptação aos terrenos phylloxerados, os differentes processos da enxertia, etc. Temos também já grandes viveiros de vi- des americanas nos differentes postos expe- rimentaes das nossas commissões anti-phyl- loxericas, nomeadas e subsidiadas pelo nosso governo ao sul e ao norte do nosso paiz, avultando entre aquelles viveiros o do Porto, muito inteligentemente dirigido pelo sr. José Duarte d'01iveira Júnior, redactor do Jornal de Horticultura Pratica e d'outras publica- ções,— cavalheiro muito trabalhador, muito illustrado e muito rico, pois ó filho único do sr. José Duarte d'01iveira, um dos primei- ros negociantes do Porto e grande proprie- tário no Minho, no Douro e em vários pon- tos d'esta província de Traz-os-Montes, no- meadamente em Murça. Também S. M. el-rei o sr. D. Luiz (honra lhe sejal) mandou fazer grandes viveiros de vides americanas na Tapada de Villa Viço- sa e nas cereas d'outros palácios seus, — e já est'anno de 1886 offereceu ás commissões anti-phylloxericas 35:000 pés das taes vi- des. É hoje também presidente da commissão anty-phylloxerica do norte, com séde no Porto, o sr. José Taveira de Carvalho, ali re- sidente e negociante de vinhos, engenheiro civil muito illustrado, cavalheiro estimabi- lissimo e dedicadíssimo pelo Douro— e um dos maiores proprietários do concelho de Amarante, sua terra natal. Tendo uma gran- de fortuna e negócios importantes seus, — tudo põe de parte (honra lhe sejal) para servir gratuitamente o Douro, ao qual tem prestado e está prestando relevantes servi- ços, como anteriormente prestaram, occu- pàndo tão espinhosa presidência, os ex.mo" srs. conde de Samodães e visconde de Villar d'Allenf— cavalheiros também muito illus- trados e dedicadíssimos pelo Douro. Já que estamos fallando dos cavalheiros a quem o Douro mais deve e que mais rele- vantes serviços lhe teem prestado na medo- nha crise que o assola no momento, bem 1376 VIL quizeramos mencional-os todos, mas isso nos é impossível, porque felizmente sSo muitos, — tornaríamos este artigo demasiado loDgo e por certo nos exporíamos a omissões involuntárias, pois não temos a honra de os conhecer a todos; não podemos porem deixar de consignar aqui entre os mais be- neméritos os nomes dos ex.""" srs. Barão das Lages e Manuel Joaquim Guimarães Pestana Ferreira da Silva. Ao 1.° se deve tudo o que o Douro tem auferido e espera auferir da cultura do tabaco,— ao 2.° os maiores esfor- ços em favor da tão necessária, como santa e justa lei de marcas. Seja-nos licito esboçar muito resumida- mente estes dois tópicos.  cultura do tabaco Em seguida á invasão phylloxerica e des- troçados os vinhedos do Alto Douro, a fome invadiu aquella importante região, pelo que vários cavalheiros lembraram a conveniên- cia de ensaiar ali outras culturas, emquanto se não reconstituíam os vinhedos. Uma des- sas culturas indicadas foi a do tabaco e quem mais abertamente se pronunciou logo em fa- vor d'ella foi o sr. Barão das Lages, por ter no Douro,— aqui em Villarinho de S. Romão, —uma boa quinta, já mencionada, e saber que o tabaco foi sempre cultivado, embora a occultas, no Douro, principalmente para a colónia dos jornaleiros da Galliza. Também s. ex." desde logo se convenceu de que, assim como no Douro as uvas e to- dos os fructos teem um aroma e sabor par- ticulares, deliciosos, também o tabaco deve ser de primeira qualidade. A instancias suas a commissão anti-phyl- loxerica do norte pediu ao governo permis- são para ensaiar a dieta cultura, mas o go- verno, aliás sempre disposto (honra lhe se- ja I) a amparar o Douro em tão medonha crise, trepidou e não deferiu, com receio de prejudicar a grande receita (milhares de contos ! . . .) provenientes dos direitos sobre o tabaco. Não se deu por vencido o sr. barão das Lages. Tanto lidou e trabalhou, fazendo pro- VIL paganda oral em reuniões e comícios e pela imprensa em differentes jornaes a favor da sua ideia, que o Douro se agitou; — fez co- mícios e representações enérgicas; — repre- sentou também novamente a commissão an- ti phylloxerica do norte— e, post tot tantos- que labores, o governo em 1881 auctorisou os ensaios da cultura do tabaco, mas so- mente na estação amplo-phylloxerica do Douro. Redobrou as suas instancias o sr. barão das Lages e o governo por lei de 13 de março de 1884 permittiu aos lavradores do Douro a dieta cultura, por espaço de 3 annos, em 1:000 hectares1 de terreno phylloxerado,— e por decreto da mesma data nomeou uma commissão para dirigir a dieta cultura. Foi presidente d'aquella commissão o sr. conde de Samodães2 e publicou um inte- ressantíssimo relatório sobre a cultura do tabaco. Foram vogaes da dieta commissão os mesmos vogaes da commissão anti-phyl- loxerica do norte— mais o director da Al- fandega do Porto, o chefe da fiscalisação ex- terna da mesma alfandega— e os srs. barão das Lages, Manuel Joaquim Guimarães Pes- tana Ferreira da Silva e dr. Adriano de Pai- va Faria Leite Brandão 3. Posteriormente o governo ampliou o praso dos 3 annos para os ensaios da cultura do 1 Note-se que o terreno das vinhas com- pletamente phylloxeradas e perdidas, pó no Douro, regula por quarenta mil hectares !... 2 O sr. conde de Samodães já foi deputa- do às cortes, ministro da fazenda, etc, e é par do reino, bacharel formado em mathe- matica, o primeiro escriptor catholico do nosso paiz na actualidade, uma illustração superior em línguas e diversas seiencias, dono de uma grande casa, muito trabalha- dor e com aptidões variadíssimas, pelo que tem sido presidente de centos de commissões, todas gratuitas, e algumas muito espinho- sas e muito importantes. Apesar da ?ua enorme actividade nao tem um momento de seu ! Agora é elle provedor da importantíssima casa da Misericórdia do Porto, já recondu- sido, e tem publicado relatórios que são obras primas na especialidade. Para a biographia e genealogia de s. ex.a vide — Samodães e Gogim. 3 V. vol. 6.°, pag. 92, col. 2.» VIL VIL 1377 tabaco no Douro e mandou o distincto agró- nomo M. C. Rodrigues de Moraes á Hollanda, Argel e França estudar os processos da cul- tura e preparação do tabaco. Hoje (1886; é presidente da dieta commis- são o próprio sr. barão das Lages, que ainda não perdeu a fé nas vantagens que pôde of- ferecer ao Douro a nicociana, posto que até hoje não teem sido muito invejáveis, por dif- ferentes rasoes. Occorem-nos as seguintes: 1. » — Porque os lavradores do Douro, ha- bituados a colher nas suas quintas vinho e só vinho, tão estimado em todo o mundo, a custo acceitam outra cultura, certos de que nenhuma outra (e é assim 1...) se adapta tão bem a terrenos tão áridos, nem lhes pô- de dar um rendimento equivalente ao que auferiam do vinho. 2. a — porque o vinho era cultivado livre- mente e sem peias, emquanto que o nosso governo impoz aos cultivadores do tabaco uma enorme serie de condições duríssi- mas 1 . . . 3. " — Porque os lavradores do Douro sa- biam cultivar e preparar perfeitamente o vi- nho, m»9 nada, absolutamente nada sabiam da cultura e preparo da nicociana, o que de- manda longo tirocínio, pelo que muitos per- deram as suas plantações e outros não tira- ram d'ellas ainda o partido que podiam e •deviam tirar. 4. » — Porque os donos das nossas fabricas de tabacos muito sórdida e vilmente se con- luiaram e estabeleceram um preço extre- mamente baixo para o tabaco do Douro:— 240 a 300 réis por cada kilo do melhor 1... 5. »— Porque o tabaco demanda terra suc- culenta, bem adubada e regas — e mal se desenvolve sem grande dispêndio no chão das vinhas phylloxeradas, por ser muito árido e schistoso e estar empobrecido com a cultura da vinha desde seeulos. Passemos adiante, para que os zoilos não digam que é tabaco de mais. A lei das marcas Produzindo outr'ora o Douro, ante9 da in- vasão phylloyerica, cerca de 100 mil pipas de vinho, de 559 litros cada uma, hoje não produz a quarta parte, ou 15:000 pipas, e na região do vinho fino produzirá 2 por cento, — quando muito. Ora, sendo o vinho do Douro, o afamado Port Wine, inveja do mundo inteiro, devia subir de preço na pro- porção da escassez, mas infelizmente não succede assim, porque os negociantes do Porto que teem o monopólio da exportação, descaradamente, sem pejo nem vergonha, meltem nos seus armazéns vinho da Bairra- da, da Beira e da Extremadura, — lotam-no e pintam-no com o vinho do Douro;— sem pejo nem vergonha exportam aquella mooci- nifada como vinho do Porto ou do Douro e assim abastecem os mercados estrangeiros, burlando os consumidores e roubando' ao Douro o nome e o credito dos seus vinhos. Ahi vae a nota official da exportação pela barra do Porto nos últimos 15 annos— ou desde antes da invasão phylloxerica até ho- je, pois a phylloxera manifestou se no Douro em 1872;— em 1880 já tinha invadido todo o Cima-Gorgo, a região do vinho fino,— e em 1884 o Baixo-Corgo— e por consequência to- da a região vinícola do Douro, reduzindo a sua producção ás mesquinhas proporções indicadas supra; não obstante porem isso, a exportação não fraquejou, como os leitores vão ver,— nem fraqueará emquanto houver vinho, embora muito mais inferior, nas ou- tras regiões do nosso paiz, e o nosso gover- no não pozer cobro à mistificação. Eis a nota da exportação do vinho pela barra do Porto nos últimos 15 annos: Annos Pipa» ' 1870 42:695 1871 .... 43:501 1872 50:182 1873 49:649 1874. 56:531 1875 60:672 1876 58:888 1877 61:277 1878 48:720 1879 48:691 1880 62:041 1 As pipas do Douro são de 22 1/2 almu- I des ou de 559 litros. 1378 VIL VIL Annos Pipas 1881 55:313 1882 59:327 1883 65:792 1884 62.022 1885 64:721 Do exposto se vê que se a exportação em 1870 era de 42:695 pipas, — quando o Douro produzia approximadamente 100:000 pipas, — em 1880 devia baixar muito — e em 1884 descer á quarta parte, ou approximadamen- te a 10:673, mas não succedeu assim. Pelo contrario: — subiu espantosamente, fabulosa- mente, passando muito alem da producção total, pois não produzindo já n'aquelle anno toda a região vinícola do Douro 25:000 pi- pas, os taes senhores exportaram como vi- nho do Douro (?) 62:022 pipas,— mais do que o dobro da producção total d'aquella região, — graças ao milagre operado pela industria da tinturaria, que tem sido e continua a ser a maior desgraça do Douro I A fraude é manifesta, evidentíssima e cla- ra como o sol, mas, como os taes tintureiros são os acreditados negociantes da praça do Porto, verdadeiroestado no estado, — ninguém se atrevia a protestar com medo do papão; graças, porém, ao muito benemérito sr. Ma- nuel Joaquim Guimarães Pestana Ferreira da Silva, o medo acabou e temos esperanças de que também acabará tão sórdida especu- lação. Por iniciativa de s. ex.afundou-seno Porto uma Commissão de defesa do Douro, tendo por presidente o sr. conde de Samodães e por vogaes o sr. Pestana e outros muitos, dos grandes proprietários d'aquella região, 1 bem como alguns dos negociantes de vinhos que não vivem da tinturaria. Representaram ao governo em nome do infeliz Douro, pedin- do uma lei de marcas para o vinho d'aquella região e as providencias precisas para que somente o vinho do Douro possa exportar-se 1 O sr. M. J. G. Pestana é dono da celebre quinta da Romaneira, uma das melhores do Roncão, no Alto Douro. V. Villarinho de Cottas — e o Douro lllus- trado. com o nome de Vinho do Douro ou do Por- to, pelo qual é conhecido em todo o mundo,. — deixando plena liberdade ao commercio para exportar pela barra do Porto ou por qualquer outra os vinhos da Bairrada, da Beira., Extremadura, etc, com os seus no- mes próprios ou sem designação determi- nada,—mas não com o de Vinho do Porto ou do Douro. Nada mais justol Mal imaginam porem os leitores como os acreditados tintureiros fi- caram fulos quando tal souberam! Como o seu deus é a ganância e pouco lhes importa que leve o diabo o Douro ou Portugal todo, comtanto que a coisa lhes renda, — tocaram logo a capitulo: botaram sandices e baboseiras de toda a ordem na imprensa e em reuniões da familia na As- sociação Commercial; coloriram com as suas melhores tintas uma contra-representação que enviaram ao governo e tiveram a des- façatez de mandarem circulares a muitos la- vradores do Douro, pedindo-lhes que decla- rassem (credite posteril) que estavam muito satisfeitos com o statu quo, ou com a burla, com a expoliação ou com a tal pouca vergo- nha da tinturaria, e que muito estimavam que os taes especuladores e exploradores continuassem com a sua honrada industria e fizessem bom negocio vendendo como vi- nho do Douro o vinho das outras regiões vi- nícolas, roubando ao Douro o nome e o cre- dito e reduzindo os seus proprietários á mi- séria?!. . . Escusado é dizer que todos os lavradores do Douro lhes devolveram as circulares, fa- zendo-lhes figas ao som da bem conhecida lettra de Cambrone. Tiveram a resposta que mereciam e com toda a certesa receberiam outra um pouco- mais dura. . . se, em vez de mandarem, co- mo mandaram, as dietas circulares, fossem pessoalmente ao Douro botar as baboseiras e sandices que botaram pela imprensa e nas suas reuniões. A dieta Commissão de defesa tem traba- lhado muito. Convocou na Rego?», Lamego, Armamar, Mezâofrio e Sabrosa, grandes co- mícios de lavradores do Douro, sendo muito VIL VIL 1379 applaudida no seu justíssimo empenho e se- cundada com representações de varias ca- marás do Dour o;— tem tractado amplamente a questão na imprensa, pulverisando todos os sophismas dos adversários;— já teve di- versas conferencias com o governo— e nu- tre bem fundadas esperanças de conseguir o seu desideratum. Deus o queira. Fecharemos este tópico mencionando ain- da entre os cavalheiros que mais serviços teem prestado ao Douro em tão negra con- junctura o sr. barão da Roéda, pelos seus titânicos esforços na lucta contra a phyllo- xera, — rivalisando com os srs. "Visconde de Villar d'AUen e Manuel Pestana. Que sacrifícios não teem ss. ex.a" feito— o 1. ° para salvar a sua quinta da Roèda—o 2. ° a sua quinta do Noval— e o ultimo a sua quinta da fíomaneira ? ! . . . Não podemos também deixar de mencio- nar com louvor os beneméritos ministros das obras publicas— Lourenço de Carvalho {visconde de Chancelleiros) — Saraiva de Carvalho, Antonio Augusto d'Aguiar e Emy- gdio Navarro,— bem como os presidentes dos diversos conselhos de ministros— Fontes Pereira de Mello, Anselmo Braamcamp e José Luciano de Castro, pois todos teem at- tendido sempre os clamores do Douro e feito quanto é possível fazer-se para o salvar, cal- culando-se em 60 a 70 contos de réis o que o nosso governo tem despendido e está des- pendendo annualmente na lucta contra a phylloxera. O assumpto é momentoso e bem quizera- mos dar-lhe mais desenvolvimento, aprovei- tando o ultimo ensejo que se nos offerece de faltarmos d'elle no texto d'este diccionario, mas não o permittem as acanhadas propor- ções d'um simples artigo; poremos pois aqui ponto final e passemos adiante. V. Victoria, freguezia do Porto, vol. X, pag. 597 e segg.,— Villa Real de Traz-os- Montes, vol. XI, pag. 1:013, col. 1/ e seg.— Villa Jusã, Villa Verde, séde de concelho, no mesmo vol. pag. 1:105, col. 2.» in-fine, — Villar de Besteiros, Villarinho do Bairro, Villarinho de Cottas e Villarinho dos Frei- res, pois em todos estes artigos temos falla- do dos nossos vinhedos e dos nossos vinhos. Banham esta parochia 2 ribeiros:— o das Levadas e o da Carrapata— que desaguam no Pinhão. Não teem pontes, mas regam vá- rios campos e movem 4 moinhos de cereaes. Tem esta parochia mais 2 moinhos no Pi- nhão—e 2 azenhas para fabrico do azeite,— uma é movida por agua e pertence ao vis- conde de Villarinho de S. Romão,— outra é movida por gado e pertence a João Bandei- ra Coutinho P. Mergulhão. Templos i.o—X egreja matriz,— bastante antiga e decente Tem capella-mór e 4 altares lateraes, sen- do 3 antigos e 1 moderno,— púlpito, sacris- tia, pavimento ladrilhado a granito e torre com 3 sinos, está porem muito pobre de pa- ramentos e alfaias. 2. °— Capella de Nossa Senhora do Pé da Cruz. Demora na povoação de Villarinho;— é publica;— está bem conservada, mas não tem paramentos próprios. 3. °— Capella de Nossa Senhora da Boa Morte. É particular;— está bem conservada— e pertence á sr.* D. Maria Amália Pereira Bar- bosa. 4. °— Capella de Nossa Senhora da Salva- ção. É também particular e a mais interes- sante e mais notável de todas pela sua remota antiguidade e pela riquesa e aeeio que em toda ella transluzem. Pertence ao sr. visconde de Villarinho de S. Romão, de quem logo fatiaremos, cavalheiro muito illustrado, muito tractavel e muito sinceramente reli- gioso. Qui viget in foliis venit e radicibus hu- mor 1 . . . Capricha em que nada falte na sua tão querida capella. Está muito bem alfaiada;— tem púlpito, altar- mór com a imagem da padroeira, outro lateral com a imagem de Santo Antonio, ri- 1380 VIL VIL còs paramentos, uma boa lâmpada de prata, bulia especial para exposição do Santíssimo, outras bulias com muitos privilégios e in- dulgências, um cofre d'ouro com varias re- líquias, uma linda garrafa de cristal com agua do rio Jordão, colhida no próprio rio em 1826 e conduzida por Manuel Glamouse Browne, ascendente (avô materno) do sr. visconde. Foi esta capella fundada e vinculada em 1462 e serviu de matriz emquanto se não fez a egreja actual. Assim o diz a tradição e o prova a pia baptismal que ainda hoje conserva. Na fronteria tem o brasão dos fundadores e uma lapide curiosa. N ella se vé em plano superior gravada uma caveira entre uma espada e um açoute com as lettras seguin- tes, tudo muito mal gravado : Justicia Dej mors flagelvm envolvendo os tres emblemas e dando-lhe a significação própria: Justiça de Deus, — morte — castigo. E em plano inferior, sobre a padieira da porta, se vê a inscripção seguinte em lettras inclusas: DOMUS MARIS DIROS AB IS SALVATIONIS VBI E SEPVLCRV HIS SUIIS 1592 Toda esta salgalhada se deve com certesa ao estúpido pedreiro que reconstruiu a ca- pella em 1592 e copiou as lettras da inscri- pção primitiva, 1 trocando umas, supprimin- do outras e baralhando-as todas, por não sa- ber latim nem decifrar as lettras inclusas. Na nossa humilde opinião aquella moxi- nifada quer dizer o seguinte: Domus Mariae Sàlvationis, ubi e8t sepulcrum heredibus suis. 1592 Em vulgar: Capella de Maria (ou de Nos- sa Senhora) da Salvação, onde está a sepul- 1 Sabe Deus qual seria também o latim 4'ellal..- lura para os seus herdeiros— ou dos senho- res d'esta capella e dos seus herdeiros, suc- cessores d'este vinculo. 1592. Do exposto se vê que esta capellinha, fun- dada em 1462, segundo se lê na instituição d'este vinculo e na genealogia dos nobres viscondes de Villarinho de S. Romão, foi restaurada em 1592, ou passados 130 an- nos. Também sabemos que o 2.° visconde de Villarinho de S. Romão, penúltimo adminis- trador d'esta capella, — Alvaro Ferreira Gi- rão—a mandou reedificar em 1872, ou pas- sados 280 annos. Foi cabeça de vinculo e é pantheon d'esta nobre família. N'ella se vê ainda o carneiro ou sepultura do fundador com a inscripção seguinte: Casa da ter a (terra) de Gosalo Lobo Fundou elle também uma Irmandade de Nossa Senhora da Salvação para a padroei- ra da sua capella, com estatutos próprios, que ainda existem no archivo d'esta casa, e á margem dos dictos estatutos lançou notas que revelam exaltado mysticismo. Viscondes de Villarinho de S. Romão 1. °— Antonio Lobo de Barbosa Ferreira Teixeira Girão, sócio da Academia Real das Sciencias, par do reino, 8.° senhor d'este morgado de Villarinho de S. Romão, etc. 2. ° — Alvaro Ferreira Carneiro Girão, so- brinho e herdeiro do antecedente, 9.° mor- gado de Villarinho de S. Romão, 17.° mor- gado do Paço dos Ferreiras do Carregal, no Porto, senhor do Paço de Avioso, etc. Nasceu em março de 1822 e falleceu no seu Paço do Carregal, no Porto, em outubro de 1879, já viuvo, contando apenas 57 an- nos de idade. A sua morte foi uma surpreza dolorosa para os seus amigos, que eram em grande numero, não obstante haver já algum tempo que se achava doente. Todos julgavam que a sua robusta compleição, ajudada dos re- cursos da sciencia e dos carinhos de seus VIL VIL 1381 extremosos filhos, triumpharia emfim da per- tinaz e dolorosa doença. Não succedeu, po- rém, assim. Dotado de excellentes qualidades de cora- ção, o finado visconde repellia de si o fausto e as honrarias. Como prova d'isto bastará dizer-se que era raro encontral-o nas sole- mnidades officiaes, recusando também do duque de Loulé a dignidade de par do reino. 3.° — Luiz Antonio Carneiro Vasconcellos Ferreira Girão, engenheiro civil pela Escola Polytechnica do Porto e filho do antece- dente. Casou em 1883 nà egreja de Santo Ilde- fonso, no Porto, com a ex.m» sr.a D. Maria Soares d'Ancede, filha de José Henriques Soares dAncede, 1.° barão d'Ancede, pardo Reino, etc, e de D. Anna Máxima de Lima, 1.» baronesa do mesmo titulo. A sr.a viscondessa actual de Villarinho de S. Romão tem 3 irmãos:— D. Elisa Soares d'Ancede, solteira, — Henrique Soares, 2.° barão d'Ancede, também solteiro ainda, par do reino, etc.,— e Frederico Soares dVAnce- de, bacharel formado em direito e offlcial maior do governo civil do Porto, ambos ca- valheiros de muito merecimento, sendo este ultimo casado l. O sr. visconde actual de Villarinho de S. Romão, hoje (1886) tem do seu consorcio apenas uma filha,— D. Maria Julia,— que nas- ceu na sua casa do Paço do Carregal, no Porto, em 9 de março de 1884 e foi bapti- sada por mim na egreja de S. Pedro de Mi. ragya, da dieta cidade, no dia 17 do mesmo mez e anno — com a agua do rio Jordão que o mesmo sr. visconde possue, como já disse- mos. Para a genealogia de s. ex.» veja-se o arti- go Miragaya, vol. V, pag. 267, col. 2.a e segg. Só temos a acerescentar — que os dois ir- mãos do actual sr. visconde, — Julio e Anto- nio,—se conservam ainda solteiros e vivem com o sr. visconde no Paço do Carregal, no Porto,— e que o tio de ss. ex.M, — Antonio Luiz Ferreira Girão, — ali mencionado, já não existe I. . . Fallecéu em Villa Nova de Famalicão, pa- ra onde tinha ido a ares, no dia 2 d'agosto de 1876. Posto que 69te artigo vae tão longo, não podemos resistir á tentação de transcrever da Palavra, jornal religioso do Porto, 1 as linhas que o sr. conde de Samodães dedicou á memoria do finado Antonio Ferreira Girão «Falleceu o ex.™» sr. Antonio Ferreira Gi- rão, professor na academia polytechnica. Era o illustre finado uma das maiores illustra- ções do Porto. Descendente de uma família distinctissima, o sr. Girão não se contentou com a nobresa herdada, mas por si próprio quiz additar-lhí novos brasões. O seu primeiro destino foi a vida militar, e assentou praça em 1842 no regimento de infanteria 6; ahi seguiu os postos inferiores e chegou ao de sargento de brigada. Exer- cia este posto quando a revolução de 9 de outubro de 1846, denominada da juncta do Porto, arrebentou n'esta cidade. Entrando em operações a tropa sublevada contra a parte do exercito, que se manteve fiel á rai- nha e que commandava o marechal duque de Saldanha, o sr. Girão seguiu o seu regi- mento e pela juncta revolucionaria foi pro- movido a alferes. Achava-se na divisão que capitaneava o tenente general conde do Bomfim, quando o marechal Saldanha por uma manobra habi- líssima conseguiu separal-a da outra divisão que dirigia o tenente general conde das An- tas. Então o marechal resolveu balel as em separado, e para isso atacou a divisão Bom- fim em Torres Vedras. O conflicto teve logar a 42 de dezembro e é sabido que a derrota foi completa, e o general conde das Antas, receiando egual êxito, retirou precipitada- mente sobre Coimbra. Ficando prisioneira toda a força, que foi batida, o sr. Girão foi preso e entrou na torre de S. Julião. Como depois da paz e amnistia não foram contem- plados os officiaes que não tinbam patente legal, o sr. Girão, como todos os outros of- 1 V. Victoria, freguezia do Porto, vol. X, pag. 646, col. 1.* i N.« 1:204 de 11 d'agosto de 1876. 1382 VIL VIL flciaes nomeados pela junta, teve baixa do serviço militar e ficou sem destino. Resolveu então ir frequentar a Universidade de Coim- bra e com esse intento se matriculou em 1847 nas faculdades de mathematica e phi- losophia. Foi desde essa eposha que elle principiou a dar provas do seu talento, applicação e tino scientifico. Fez um curso distincto em ambas as faculdades e obteve formatura em philosophia e o grau de bacharel em mathe- matica. Concluído o seu curso com grande credito, mereceu os suffragios do districto de Villa Real para deputado ás cortes. No parlamento não re alistou em nenhum par- tido, mantendo uma posição ecléctica. Os seus discursos foram raros, porque o seu génio e caracter o desviavam de ostentações pretenciosas e das paixões politicas. Algu- mas vezes fallou em favor dos interesses pú- blicos e n'essas occasiões tinha a auctorida- de do seu saber, da sua probidade e da sua sisudez. A camará escutava-o com a maior attenção e sympathia. Os seus votos eram sempre conscienciosos e imparciaes; todavia como não vestira a libré dos partidos, não se habilitou para as agitadas contendas dos ho- mens políticos. S. ex.anão progrediu na car- reira parlamentar, nem disputou novas can- didaturas. «Retirado do parlamento e não tendo car- reira, a que dedicasse a sua actividade, fez- se inscrever em concurso para uma cadeira da academia polytechnica d'esta cidade, na secção de philosophia, e foi provido com o maior applauso do corpo docente e do pu- blico. Nas cadeiras, que regeu, mostrou a solidez da seiencia alliada ao critério seguro da sua intelligeneia. Em chimica, minerajo- gia e metallurgia era uma notabilidade res- peitada em todo o paiz e fóra d'elle. Profes- sor serio, grave, e consciencioso, era amado por todos os seus collegas e discípulos; era estremecido por todos quantos tinham a for- tuna de conhecel-o, e quanto mais se conhe- cia, mais se apreciava. O sr. Girão era modesto até ao extremo. N'elle nunca entrou a sombra sequer de vai- dade, presumpção ou charlataneria. Apre- sentava-se em publico só quando não podia deixar de fazel-o; porém quando apparecia, quer escrevendo quer fallando, era uma de- licia ler os seus escriptos ou ouvir os seus discursos. Era catholico sincero e nós o vimos no congresso que se celebrou n'esta cidade em 1872; todavia o seu caracter retirado não lhe consentia que se pozesse em demasiada evidencia. Os seus escriptos não desmere- ciam das suas crenças, e com a ironia finís- sima, para que o habilitava a vastidão de seus conhecimentos, fulmioava com mais energia, do que com argumentos direetos, os destemperos dos modernos doutores na faculdade da ignorância e leviandade. O illustre finado não possuía esses arre- biques de titulos e fitas com que tantas nul- lídades por ahi se adornam. Para nobreza bastava-lhe o seu claro nascimento. Para a consideração dos homens de seiencia sobra- va-lhe saber e provas d'elle. Era tão somente professor e sócio da aca- demia real das sciencias. Em ambas as aca- demias a posição, que oceupava, não era de- vida ao favoritismo nem á mingoa de ho- mens. Conquistara-a por provas publicas que subsistem para demonstrar que só o mere- cimento real lhe dera uma collocação em harmonia com a que lhe competia. Tendo tido, como dissemos, um desastre no começo da sua carreira, foi a elle que o sr. Girão deveu a posição, que depois adqui- rira. Sem esse contratempo é provável que houvesse vivido ingloriamente na monotonia da carreira militar em Portugal, limitando- se a fazer guardas, piquetes, rondas e desta- camentos, e a tomar parte em alguma pa- rada tão estúpida como inútil. Para as duas academias, a que pertencia, e cujo ornamento era, para a seiencia, pa- ra a sociedade, para os seus amigos, veiu uma morte prematura fazer um vasio pro- fundo. O distincto académico contaria apenas cincoenta annos, e era exactamente n'esta epocha da sua vida que, tendo amadurecido todos os ramos das sciencias naturaes e cor- relativas, o seu engenho promettia fructos perfeitamente sazonados, alguns dos quaes VIL VIL 1383 se publicaram, e outros restam em manus- cripto. Seja-noe permittido dar um publico testi- munho do meu sentimento por tão grande perda. Fui seu camarada no mç^smo regimen- to, contemporâneo na Universidade e col- lega na camará electiva; nunca se interrom- peram nossas relações e sempre lhe devi at- tenções e considerações, que sou incapaz de olvidar. Conde de Samodães.* Edifícios mais notáveis, brazonados O do sr. visconde de Villarinho de S. Romão. 2. °— O do sr. barão das Lages e que foi de Zeferino Pereira do Lago. 3. °— O que foi de José Barata da Costa Cardoso, hoje de sua filha D. Ignacia Ade- laide Cardoso Barata, viuva do desembarga- dor Bernardo de Lemos Teixeira d'Aguilar. Sem brasões 1. °— O que foi de Luiz Pinto de Sousa To- var, hoje de suas filhas. 2. °— O de Manuel Alves de Carvalho, hoje de seus filhos. 3. °— O que foi de Antonio Maria Alves de Carvalho, hoje de seu filho Francisco Alves de Carvalho. 4. °— O que foi de Antonio de Sousa Re- bello, hoje de seus filhos. Este ultimo demora na aldeia de Paradel- linha. Pessoas notáveis . Com rasão se orgulha esta parochia de haver produzido muitas pessoas notaveis} mas, para não alongarmos demasiadamente este artigo, mencionaremos apenas às seguin- tes : l.« — Antonio Lobo de Barbosa Ferreira Teixeira Girão, i.° visconde de Villarinho de S. Romão, mencionado supra e no citado artigo Miragaya. Foi um escriptor publico distinctissimo e pôde ver- se a lista das suas obras no Dic- cionario Bibliographico de Innocencio. Men- cionaremos aqui apenas duas, que prendem muito de perto com o Douro e com esta fre- guezia: — Memoria sobre a Epiamonia,o\i mo- léstia geral das vinhas, (Memorias da Acade- mia Real das Sciencias, tomo 1.° parte II da Nova Serie, Classe 1.')— e Manual pratico da cultura das batatas e do seu uso na eco- nomia domestica, publicado também pela Academia Real das Sciencias, em 1845. Dedicou s. ex.a a maior altenção ás videi- ras, como filho do Douro e bom patriota que era,— e, se ainda hoje vivéra, relevantes ser- viços lhe prestára na tremenda crise que o assola no momento. Foi também s. ex.", como se vé da Memo- ria supra, um dos nossos mais beneméritos propagandistas da cultura das batatas, se- cundando os esforços de sua mãe, que foi a primeira que as introduziu e cultivou n'esta parochia. 2. '— D. Thereza Luiza de Sousa Maciel, mãe do dicto sr. visconde. Em 1798, quando elle contava apenas 13 annos, a dieta senhora colheu mais de 400 alqueires de batatas e se immortalisou no concurso aberto ■ pela Academia Real das Sciencias, pois na acta de 9 de maio d'aquelle anno se lé textualmente o seguinte: • Em attenção a ter D, Thereza Luiza de Souza Maciel colhido para cima de 400 al- queires de batatas, em terreno pela maior parte até então inculto, em o sitio de Villa- rinho de S. Romão, onde fora a primeira a introduzir este ramo de agricultura: a ter descoberto um modo fácil de conservar as batatas por espaço de um anno sem corru- pção ou deterioramento: e a ter juntado aos seus documentos uma descripção da sua cul- tura, em que se patenteia maior intelligen- cia do que nos outros concorrentes: houve a Academia por bem distinguil-a extraordi- nariamente, conferindo-lhe em premio uma medalha de ouro no valor de 50$000 réis.» 3. » — Antonio Luiz Ferreira Girão, biogra- phado supra. 4. a— Antonio Maria Alves de Carvalho, dr. de capello pela universidade de Coimbra. Foi juiz de fóra no tempo do absolutismo. Franklim menciona um foral, dado por 1384 VIL VIL D. Affonso III, em Braga, a 5 d'abril de 1258, ] a Villarinho, termo de Panoias. Suppomos que se refere a este Villarinho de S. Romão, mas também estava no termo de Panoias o Villarinho da Samardã e por isso não sabemos com ceriesa a qual do9 2 Villarinhos aquelle foral se refere. Só pela leitura d'elle se poderá cortar o nó gordio. V. Liv. II de Doações do Sr. Rei D. Af- fonso III, fl. 3, in-finc, e Liv. de Foraes an tigos de Leitura Nova. fl. i4i, col. 2." Esta freguezia, bem coroo todas as d'este concelho e dos concelhos d'Alijó, Mezãofrio, Begoa, Santa Martha de Penaguião e 2 do concelho de Villa Beal, pertencem ecclesias- ticamente á diocese de Lamego, desde 1882, data da ultima circumscripção diocesana. Anteriormente esta e muitas da 9 outras per- tenciam ao arcebispado de Braga, — as res- tantes ao bispado do Porto. V. Villa Real de Traz-os-Montes, vol. XI, pag. 927. Fecharemos este artigo, mencionando um outro homem notável José Pereira Barbosa da Boa Morte Posto que não nasceu n'esta freguezia n'ella casou, viveu e falleeeu. Alem d'isso foi escriptor publico e o Diccionario Biblio- graphico de Innocencio d'elle fez menção, in- dicando duas das suas obras, mas do seu auctor apenas diz: *José Pereira Barbosa da Boa Morte, de cujas circumstancias pessoaes nada sei /» Vejamos pois se preenchemos a lacuna d'algum modo. Nasceu de paes abastados, pelos fins do ultimo século, na freguezia de Ancede, con- celho de Baião;— casou n'esta parochia de Villarinho, onde foi um bom proprietário e muito acreditado clinico;— n'ella viveu mui- tos annos e n'ella falleeeu de provecta idade approximadamente em 1850, deixando um filho e herdeiro que ainda existe: —Adriano Pereira Barbosa, casado e re- sidente no Castanheiro do Sul, freguezia do concelho da Pesqueira, districto de Vizeu. Era bacharel formado em medicina e phi- losophia pela Universidade de Coimbra, — muito illustrado e muito excentricol Quando o chamavam para ir ver doentes a pontos distantes e lhe mandavam caval- gadura sem estribos, addicionava ao appa- relho duas cestas, presas por cordas, e assim fazia a jornada o nosso doutor muito pausa- damente, com todo o aplomb d'um filho de Esculápio. Costumava passear só, sempre abstracto, levando nó inverno aos hombros um grande capote de que trivialmente se esquecia, dei- xando-o por vezes ir de rastos pela lama e, se alguém o advertia, costumava muito fleu- gmaticamente responder :— Que lhe importa? E muito fleugmaticamente proseguia com o capote de rastos. Era muito versado em mathematica e as- tronomia e fez prognósticos que ainda hoje se repetem com assombro, v. g.— que os as- tros, decorridos seculo9, marchariam todos em columna cerrada e linha recta fl..: Annos antes de fallecer, recommendou que o sepultassem no quintal da casa onde vivia; —marcou o sitio; — mandou ali abrir a cova e depois de aberta, deitou- se n'ella, só para ver se tinha a capacidade precisa. Era muito arrojado na sua clinica. Por vezes mandou embrulhar em um len- çol doentes com febres intensíssimas e des- pejar sobre elles agua fria com um borrifa- dor até os molhar bem ; — depois mettia-os na cama,— embrulhava-os em cobertores, — e assim salvou muitos doentes agonisantes. Escreveu e publicou varias obras sobre medicina e outros assumptos. Temos sobre a nossa banca de estudo a 1." mencionada por Innocencio e que elle intitulou Conden- sação de politica, moral, economia, adminis- tração, etc. Porto, 1841, 8.° de 187 paginas, afóra 2 cora a Advertência que termina d'es- ta fórma: «Vaticínio. Não me fundo em vãs conjecturas, mas em princípios necessá- rios. . . » A dieta obra é uma interessante collecção de máximas e pensamentos por ordem al- phabetica, muito semelhante á do conselhei- ro José Joaquim Bodrigues de Basto, embora muito mais reduzida e escripta com bastante paixão. D'ella se vô que o auctor não morria VIL VIL 1385 d'amores pelo papa, nem pelos padres e fra- des, nem pelos governos absolutos, — nem pelos próprios médicos e cirurgiões ! . . . Abre com este pensamento: «Absolutismo. Um rei que deseja o bem» consegue os fins sem custo.» São do mesmo livro os pensamentos se- guintes: — A adversidade restitue o juizo aos ho- mens. — A alegria é util ao homem e a tristesa consome-o. — A poesia é a arte de cantar a prosa em verso. —A pintura é a arte de copiar a naturesa — A architectura é a arte de edificar com segurança e gosto. —A beneficência é a segurança dos prín- cipes. — As mesmas acções são crim«s e virtu- des, segundo as leis e segundo os tempos. —Só Deus conhece o coração do homem. —Um espirito sublime approxima-se da loucura. — O diamante no esterco é precioso, e o pó elevado ás estrellas não deixa de ser vil. —Sejamos melhores do que somos e sere- mos muito mais felises. —Pela riqueza da caixa militar se deve calcular a valentia das tropas. —Bons livros são bons companheiros e os mais sinceros amigos. — O passado não volta;— o, presente vae fugindo;— é preciso sondar o futuro. —A inveja é a sombra da virtude. —Se não imprimissem senão o util, haveria centenares de vezes menos livros. — O que diz mal de todo o mundo, todo o mundo diz mal d'elle. — As apparencias mais felizes encerram ás vezes as maiores calamidades. —O corpo do homem é uma cloaca ambu- lante. Bastará. No supplemento ao artigo Ancede comple- taremos a biographia do medico da Boa Morte. A terra lhe seja leve ! VILLARINHO DA SAMARDÃ,— freguezia do concelho, comarca e districto de Villa Real, arcebispado de Braga, província de Traz-os-Montes. Reitoria. Orago S. Martinho,— fogos 194, —habitantes 880. Em 1706 era curato annexo a Santa Ma- ria de Adoufe eu Adaufe, cujo abbade apre' sentava o vigário de Villarinho;— pertencia ao termo, concelho, comarca e ouvidoria de Villa Real— e contava 100 fogos. V. Adoufe. Em 1768 era curato da mesma apresen- tação;—rendia 60$000 réis— e contava 131 fogos. O censo de 1864 deu-lhe 160 fogos e 972 habitantes,— e o de 1878 deu-lhe 188 fogos e 914 (?) habitantes. Foi curato;— depois vigairaria até agosto de 1852;— desde aquella data passou a ser reitoria, mas, fallecendo o seu reitor em ou- tubro de 1880, ficou em simples encommen- dação até hoje (1886). Demora em terreno bastante accidentado, precisamente na margem direita do Corgo, entre Villa Real e Villa Pouca d'Aguiar, dis- tando 13 kilometros de Villa Real para N.; — 40 da estação da Regoa, hoje a mais pró- xima, na linha férrea do Douro; — 144 do Porto— e 481 de Lisboa. Atravessa esta freguezia a estrada real a macadam n.° 5, de Villa Real a Chaves, ser- vida por diligencias, — e deve passar a pe- quena distancia a linha férrea, hoje em es- tudos, de Chaves a Lamego pelos valles do Corgo e do Varosa, tocando em Villa Real e na Regoa, onde atravessa o Douro. Comprehende esta freguezia as povoações seguintes: — Villarinho da Samardã, outr'ora Villarinho de Samardão, séde da parochia, — Banagouro, Covello e Samardã. Producções dominantes: — milho, centeio, batatas, castanhas, vinho e lã, pois lambem cria bastante gado lanígero e vaccum. É também mimosa de caça miúda e graú- da: coelhos, lebres, perdizes, lobos e rapo- sas. Freguezias limitrophes: — S. Thomé do Castello e Santa Maria de Adoufe, d'este con- celho de Villa Real; — Santa Cruz de Alva- dia, do concelho de Ribeira de Pena,— e S. 1386 VIL VIL Salvador de Tellõe3, do concelho de Villa | Pouca d'Aguiar. Templos: — a egreja matriz e 3 capellas, todos decentes e abertos ao culto, mas sem coisa alguma notável. É muito abundante d'agua esta parochia, pois banham-na o rio Corgo, confluente do Douro, e muitas ribeiras taes são:— o ribeiro da Samardã e o de Soutello, que nascem na serra de Moroucinhos, ramo da grande serra do Marão, e desaguam no Corgo, a distancia de 5 kilometros, — e os do Salgueiro, da La- gea e de Agrella, que nascem na serra de Villarinho e desaguam também no Corgo, a 2 kilometros de distancia. Estes simples- mente regam— e aquelles regam e moem, bem como o rio Corgo. Ha n'esta freguezia duas pontes de pedra: — a de Borralheiros e a de Soutello,—e um fôjo para caçar lobos, no fundo da serra de Moroucinhos. Data de tempo immemorial a occupação d'esta parochia, pois devia passar aqui uma estrada romana de 2." ou 3.» ordem, da cida- de de Aquae Fluviae (Chaves) para Lamego e Caria, atravez da cidade de Cauca (Villa Pouca d'Aguiar) e da de Panoias ou do seu termo, hoje representada por Villa Real. Para evitarmos repetições, vejam-se os ar- tigos correspondentes ás povoações indica- das. Note-se que os romanos, alem das suas estradas militares esplendidas, tinham, como nós hoje temos, estradas de 2.a, 3." e 4." classe, algumas das quaes nem eram calça- das de pedra, nem tinham marcos milliares. V. Estradas Romanas e Vias Férreas. E qáe o povo rei aqui viveu o prova o nome de Cividade, que ainda conserva um morro d'esta parochia, no qual, segundo diz a tradição, existiu um Castello e se tem en- contrado muitas moedas romanas. Também diz a tradição que houve um Cas- tello dos mouros (talvez dos romanos) no si- tio denominado Monte da Murada ou Mu- ralha, hoje fragoedo nú, mas que muito pro- vavelmente foi murado e fortificado outr'pra. Ha finalmente n'esta freguezia duas aulas officiaes de instrucção primaria para os dois sexos. O clima d'esta parochia é saudável; — tem- perado no verão, mas frio e áspero no in- verno. A povoação do Covello em 17S8 contava apenas duas casas e dois fogos. Casou n'esta freguezia em 1844 com o medico Francisco José d'Azevedo e aqui tem vivido e vive ainda hoje a ex."1»^.8 D. Ca- rolina Rita Rotelho Castello Rranco, no mo- mento já viuva, irmã do sr. Camillo Cas- tello Rranco, visconde de Correia Rotelho, nosso bom amigo e mestre — e príncipe dos nossos escriptores contemporâneos. A dieta senhora é mãe do bacharel for- mado em direito Antonio d'Azevedo Castello i Rranco e do bacharel formado em medicina José d' Azevedo Castello Rranco, — dois talen- tos de primeira ordem e distinctos escripto- res públicos lambem. Para evitarmos repetições, veja-se o artigo Villa Real de Traz-os-Montes, vol. XI, pag. 981 a 986. Etymologias Tantos povos habitaram desde tempos re- motíssimos este pobre Portugal e tantas na- ções estranhas e longínquas percorreram os portuguezes, tendo demorada residência em muitas d'ellas, que é hoje muito difficil mar- car ao certo a etymologia de grande numero de vocábulos do nosso idioma e dos nomes das nossas povoações. Ahi vae uma simples amostra do pano: Em 1840 um homem nonagenario, filho d'esta parochia, dizia que ella antigamente se denominou Villarinho de São Ardão ou de Sam Ardam e que d'ahi lhe provem o titulo de Samardão, hoje Samardã.* E possível;— e talvez que o Sam Ardam, que hoje se não encontra no kalendario, fos- se primitivamente Santo Adrião. É possível até que as nossas aldeias denominadas Sar- dão tomassem o nome do tal S. Ardão, posto que o meu antecessor no artigo Sardão e o académico Fr. João de Sousa nos seus Ves- tígios da lingua arábica deram o Sardão, al- deia d'Agueda, como proveniente do árabe VIL VIL 1387 hardão, lagarto, o que não nos satisfaz com- pletamente, porque temos no nosso paiz va rios sitios, easaes, quintas e aldeias com os nomes de Ardo, Arda (rio) Ardada, Ardão, Ardãos, Ardega, ou Agueda, Ardegão, Ardei- ra, Ardena, Ardido e Ardosa, que deveriam ter a mesma etymologia de Ardo, Arda e Ar- dão. Temos também — Samaça, Samaldo, Sa- maiões, Samão, Samardão, Samardan, Sa- marra, Samarrão e Samarruda, que teem muita affinidade, — e Sardão, Sardaça, Sar- dal, Sardoal, Sardoeiro, Sardoeira e Sar- doura, que parece terem a me»ma etymolo- gia comumm, mas Fr. João de Sousa, tendo dicto que Sardão provem do árabe hardão, lagarto, diz que Sardoeira e Sardoura pro- vêem do árabe fara, andar, e de daura, a roda, pelo que Sardão, segundo o mencio- nado aucior, quer dizer— (erra dos lagartos — e Sardoeira ou Sardoura — terra em que se anda á roda ou ás voltas I . . . VILLARINHO DAS TALHADAS, — aldeia da freguezia das Talhadas, concelho de Se- ver do Vouga, uistricto de Aveiro, bispado de Viseu. Vide Talhadas, freguezia, — e Talhadas, serra. O censo de 1878 deu a esta freguezia 220 • fogos e 984 habitantes. Comprehende as aldeias seguintes:— Ta- cadas, séde da parochia, — Doninhas, Vide, Seixo, Macida, Ereira, Areias, Fragoa, Po- voa, Silveira, Cortez, Villarinho e as quintas da Matta, Lameirinhos, Calçada e Dordeli- nho. Esta parochia é muito minha conhecida — e mais ainda a tal serra das Talhadas, pois muitas, vezes a atravessei durante a mi- nha formatura (1851-1856) seguindo de La- mego para Coimbra por Castro d'Ayre, S. Pedro do Sul, Vouzella, Talhadas, Rompe Ci- lhas, Agueda, Sardão, Mealhada e Fornos. Já lá vão 25 a 30 annos, mas nunca esque- ceremos tão deliciosos passeios. Note-se que concluímos a formatura sem saborearmos nem sequer uma diligencia ! Fazíamos a viagem de Lamego a Coimbra em sella, ordinariamente por aquelle rotei- ro. Outras vezes, para variar, fomos por Vi- seu, Tondella e Mealhada,— outras vezes pelo Porto, descendo o Douro embarcados, de- frontando com a morte na sua continuidade de cachoeiras e deixando quasi sempre a bombordo ou a estibordo barcos feitos em estilhas; — alugávamos em Villa Nova de Gaya mulas vareiras que nos levavam de re- torno até Ovar;— d'ali seguíamos de noite para Aveiro pelam— e d'Aveiro iamos para Coimbra nos clássicos gericos. A viagem pelo Porto era muito mais mo- rosa, pois durava sempre 3 a 4 dias. Mas fallemos das Talhadas : É uma serra triste, prosaica e oesgracio- sa, toda cheia de penedos, atravez da qual seguíamos pela velha estrada muito esca- brosa, principalmente no lanço denominado Rompe-cilhas, nome bem apropriado, por- que ali a estrada corta uma Íngreme ladeira d'alguns kilometros, aprumada sobre um rio que serpeia lá no fundo, pelo que os almo- creves, para não verem as cavalgaduras des- penhar-se no abysmo, iam sempre concer- tando as cargas e davam cabo das cilhas. E em que desgraçadas condições nós por ali passamos differeuíes vezes! . . . Ainda hoje se nos arripiam es cabellos, quando nos lembramos de que em 1854, por exemplo, nós atravessamos a galope to- da a dieta serra, comprehejideudo 8 tal lan- ço de Rompe cilhasl - V. Villa Maior, vol. XI, pag. 775. Hoje por preço nenhum repetiríamos a galopada!. . . Outra viagem medonha foi a que fizemos (salvo erro) em janeiro de 1853. • Em outubro do anno antecedente, pouco depois de nos matricularmos, o governo mandou fechar a Universidade, por se terem dado em Coimbra alguns casos de cholera. Betirámos todos para nossas casas — e em janeiro do annó' seguinte, havendo passado a peste, recebemos ordem do governo para regressarmos a Coimbra. Marchámos rapidamente debaixo d'um temporal medonho, com chuva torrencial e 1388 VIL VIL vento que atirava com as cavalgaduras para fóra do trilho. É um facto que eu só então observei na serra do Mezio, entre Lamego e Castro d'Ayre. •Nós éramos um bando de rapazes;— iamos todos folgados e bem montados;— não nos poupávamos a despezas e tanto que a maior parle dos criados, com o muito vinho e mui- ta aguardente que lhes dávamos para não succumbirem, iam bêbedos e fazendo sortes que muito nos distrairiam;— levanta vamo- nos de noite e rompíamos sempre a marcha corri archotes, mas gastámos 4 dias 1 para vencermos as 22 legoas de Lamego a Coim- bra 1 No primeiro dia pernoitámos em Castro d'Ayre, aonde chegámos já de noite, tendo andado apenas 4 legoas!— No segundo fo- mos dormir a Ponte Fóra, um pouco alem de Vouzella, na falda da serra das Talhadas; —no terceiro atravessámos a maldita serra e fomos dormir ao Sardão — e só no quarto dia chegámos a Coimbra. Horresco referens I . . . No meu 5." anno, concluída a formatura, fiz a mesma jornada, dè Coimbra para La- mego, em condições muito differentes, mas pouco invejáveis também. Para não ir em passo de medico, acom- panhando a cavalgadura que levava 2 bahus com a minha tenda (alguma roupa, muitos palitos e poucos livros)— e como era insup- porlavel o calor (junho de 1886)— mandei adeante o criado com a cavalgadura de carga — e eu deixei Coimbra por noite velha e fiz a viagem quasi toda de noite e sósinho.l Lo- go que apertava o calor apeava- me na pri- meira locanda— e ao declinar do sol prose- guia. Assim atravessei a tal serra das Talhadas e a do Mezio, etc, fazendo de valentão, mas por vezes senti meus arripios, principal- mente (bem me recordo ! . ,\) ao descer alta i Eu gastei 4 dias e meio, porque morava a distancia de 5 kilometros de Lamego, on- de se formou a caravana, e fui dormir ali na \espera. V. Corvaceira e Penajoia. noite para o Paiva, junto de Castro d'Ayre. por barrancos medonhos atravez de grande arvoredo, que tornava o caminho escuro como um prego. E ainda ha quem suspire pelas viagens d'outr'oral. . . Em 1879 fui eu até Paris e incommodei* me bem menos do que n'aquelle tempo me incommodáva para ir de minha casa a Lame- go, distante 5* kilometros apenas. Permittam-me pois que envie um saudoso adeus á tal serra das Talhadas. Fica-te em paz e ás moscasl. . . Terminaremos dizendo que na aldeia de Villarinho das Talhadas se descobriram era novembro de 1885 jazigos de cobre, chumbo e outros metaes. Fez-se o registro na camará de Sever do Vouga e consta-nos que já se organisou uma companhia para explorar o dicto minério. VILLARINHO DE TAROUCA,— aldeia da freguezia de S. João de Tarouca, coneelho de Mondim da Beira, distrieto de Vizeu. Não se confunda esta fre- guezia de S. João de Tarouca, orago S. Braz (?) concelho de Mondim da Beira, comarca de Armamar,— com a freguezia de Tarouca, orago S. Pedro, con- eelho de Tarouca no mesmo distrieto de Vizeu, comarca e bispado de Lamego. A freguezia de S. João de Tarouca, orago S. Braz, comprehende as aldeias seguintes: —Couto, Pinheiro, Villa Chã do Monte e Villarinho, aldeia muito antiga, anterior ao século XIII, pois a fl. 23 do livro de Doações do mosteiro cysterciense de S. João de Ta- rouca, extincto, cuja egreja é hoje a matriz d'esta parochia, se fazia menção de um praso feito no anno de 1221, comprehendendo cer- ta propriedade sita na mencionada aldeia de Villarinho de Tarouca, impondo ao emphy- teuta a pensão do quinto, uma teiga de trigo e dez ovos et post obitum vestrum cum De- cima de toto vestro aver mobili, et immobili I venialis ad Sepulluram S. Joannis... VIL VIL 1389 Em vulgar: «e quando falleeerdes sereis sepultados do nosso mosteiro de S. João, que por isso herdará a decima parle de todos os vossos bens moveis e immoveis ...» V. Jazedores em Viterbo,— artigo muito curioso e que rendeu ao seu illustrado au- ctor uma grande tunda, dada por Fr. For- tunato de S. Boaventura na Historia da Ab- badia d' Alcobaça, pag. 49 e 50, accusando-o de insultador e enxovalhador dos monges. Veja-se também Tarouca n'este dicciona- rio e no supplemento. VILLARINHO DAS TOUÇAS — freguezia extineta, hoje simples aldeia da freguezia de Montouto, concelho e comarca de Vinhaes, districto e diocese de Bragança. Contando a freguezia de Montouto apenas 104 fogos e 559 almas, representa nada me- nos de seis freguezias, pois alem da povoa- ção de Montouto, séde da parochia, compre- hende as povoações seguintes: — Casares, Cerdedo, Candedo, Carvalhas e Villarinho das Touças, que já foram parochias indepen- dentes. Só n'este malfadado districto de Bragança se encontra uma desgraça assim ! . . . V. Casares, Montouto, Villa Verde de Mi- randella, vol. XI, pag. 1:094, col. 2.*— Villa Verde de Vinhaes, no mesmo vo!. pagina 1:099— e Villa Real de Traz-os-Montes, no mesmo vol. também, pag. 1:016. A povoação de Villarinho das Touças de- mora na raia, em intimo contacto com a po- voação gallega denominada Chargoaçozo e entre as duas tem havido grandes desordens, muita pancadaria, ferimentos e mortes por causa dos montados, não levando a melhor os gallegos, posto que muito superiores em numero, pois Chargoaçozo conta cerca de 100 fogos, emquanto que Villarinho conta ape- nas 17; felizmente essas desordens acalma- ram com a ultima delimitação official da raia. Por vezes se envolveram na lucta não só os habitantes de Villarinho e Chargoaçozo, mas os clavineiros hespanhoes e os guardas fiscaes portuguezes, cruzando-se fogo entre uns e outros. Foi sempre grande a ani- mosidade entre o povo portu- VOLUME XI guez e o povo hespanhol e é na raia que essa animosidade se conservou e conserva ainda hoje mais viva,— na raia, onde os dois povos se acham em in- timo contacto. O terreno de Villarinho das Touças é ás- pero e montanhoso, mas fértil em centeio, batatas e hervagens;— cria muito gado lani- gero, principalmente cabrum, — e também bovino e suino. Também abunda,em caça grossa e miúda: — coelhos, lebres, perdizes, raposas elobosl Ao sr. Emiliano Antonio de Sousa, de Vi- nhaes, agradeço os apontamentos que se di- gnou enviar-me. VILLARÓCO, — freguezia do concelho e comarca de.S. João da Pesqueira, districto de Viseu, diocese de Lamego, província da Beira Alta. Abbadia. Orago S. Bartholomeu;— fogos 236 —habitantes 990. A Chorographia Port. nem sequer fez men- ção d'esta freguezia ! O Port. S. e Profano em 1768 disse que o seu parocho era o abbade da apresentação da mitra;— rendia 500$000 réis— e contava 170 fogos. Segundo se lê na Hist. Eccl. de Lamego, eseripta approximadamente n'aquella data, rendia 600$000 réis;— o parocho era abbade da mesma apresentação, por concurso,— e contava 206 fogos e 530 almas. O censo de 1864 deu-lhe 207 fogos e 738 habitantes,— e o de 1878 deu-lhe 220 fogos e 853 habitantes. Demora em sitio alto e plano, — mui- to arborisado, saudável e fértil, na margem direita do rio Torto, do qual dista 2kilome- tros para N. E.;— 10 da villa da Pesqueira para S. E.;— 25 da estação do Pinhão, hoje a mais próxima na linha férrea do Douro; —152 do Porto— e 489 de Lisboa. Freguezias limitrophes:— Pereiros, Valle de Figueira, Trovões, Vallongo do Azeite e Pesqueira. Producções dominantes:— cereaes, azeite, batatas, castanhas, frueta e vinho de mesa 1390 VIL VIL em pequena quantidade depois que a mal- dieta phylloxera anniquilou os seus vinhe- dos, pois anteriormente era o vinho a pro- dueção principal d'esta parochia e de todas as d'este concelho, pelo que hoje é um dos mais pobres, tendo sido um dos mais ricos, do districto de Viseul . . . As freguezias da margem esquerda do Al- to Douro tiveram a mesma sorte das da mar- gem direita. V. Villa Real de Traz-os-Monles, vol. XI, pag. 1013 e segg. Esta parochia alem da povoação de Vil- larôco, séde da matriz e que hoje conta 140 fogos, comprehende a de Vidigal, com 86 fo- gos,— e a da Senhora da Estrada com 10, — mais 8 moinhos no rio Torto. Banham esta freguezia alguns regatos que desaguam no rio Torto e no Douro, passan- do um d'elles entre as povoações do Vidi- gal e Villarôeo. Também a limita e banha o rio Torto, confluente do Douro. O rio Torto aqui corre fundo por entre encostas áridas ardentíssimas, aprumadas e schistosas, pelo que as suas margens d'aqui até o Douro produziam bello Port Wine, principalmente as quintas do Seixo e Retiro. Templos i.° — A egreja matriz. É muito antiga mas tem sido restaurada e reedificada muitas vezes. Oecorrem-nos as seguintes:— Em 1760 pelo abbade dr. Lopes Monteiro. Em 1874 foi alteada pelo abbade Antonio Augusto d'Almeida, de Villa Nova de Fos- côa. Em 1881 a junta de parochia demoliu e reedificou a capella-mór, que tem um bom retábulo de talha dourada antiga e um tecto riquíssimo de talha dourada também,— uma capella particular e 3 altares lateraes, sendo um de Nossa Senhora do Rosario, outro de S. Sebastião, outro de SanfAnna,— uma bel- la custodia de prata dourada e cinzelada, estylo manuelino,— e uma imagem da Con- ceição, lambem de prata. Nos fins do ultimo século tinha também 3 irmandades: — uma do Santíssimo, — outra de Nossa Senhora do Rosario, — outra das Almas. 2° — Capella de Nossa Senhora da Estra- da, a meio da pequena povoação d'este no- me, no caminho da Barca d'Alva. 3. ° — Capella de Santa Barbara. 4. ° — Capella de Santo Antonio, hoje den- tro do cemitério, ao poente de Villarôeo. 5. ° — Capella de Santa Eufemia. Estas são publicas e estão limpas e bem conservadas. 6. ° — Capella de S. Miguel, na povoação do Vidigal. Pertence a Miguel Augusto Pacheco, mor- gado de Villarôeo. 7. ° — Capella de Nossa Senhora do Repou- so, no alto do Vidigal. Pertence ao morgado d'este titulo, Eduardo de Sousa Donas Boto. 8. ° — Capella de Nossa Senhora da Concei- ção. Demora na Praça de Villarôeo e pertence ao visconde de Proença a Velha, residente em Penamacor. No frontispício da dieta capella, que for- ma parte da fachada do palacete do mesmo visconde, se vè aberto em granito o brasão d'armas com uma coroa de conde. A Historia Ecclesiastíca de Lamego men- ciona também as capellas seguintes : 9. ° — Santa Luzia, hoje Santa Luzia Ve- lha, em ruinas. Ha outra capella nova com a mesma invocação, no termo dos Pereiros, e tem festa annual, mas não pertence á fre- guezia de Villarôeo. 10. ° — Espirito Santo. Já não existe. 11. ° — S. Domingos. Tem hoje a invocação de Santa Eufemia e é a mesma já mencionada sob o n.° 5. 12. ° — Santa Theresa, defronte da egpeja. Ainda existe e foi sempre particular, per- tencente á família Almeidas Ribeiros. 13. ° — Nossa Senhora do Desterro, dentro da egreja paroehial. Pertencia n'aquelle tempo a Fr. Francisco Xavier, que tinha também um oratório ou capella particular na sua casa. Também n aquelle tempo os abbades d'esta freguezia tinham a seu cargo toda a fabrica VIL VIL 1391 da egreja parochial — e a fabrica da capella- mór e sacristia de Val de Figueira, onde apresentavam o cura e recebiam os dízimos, ficando a cargo dos freguezes o corpo da egreja. Não ha hoje n'esta freguezia festas an- nuaes em dias determinados; apenas d'aqui vae todos os annos, na primeira segunda feira de Pasehoa, uma romaria ao santuário de S. Salvador do Mundo, junto da Pesquei- ra, em cumprimento de um antigo voto. V. Salvador do Mundo. Pessoas notáveis Teve esta parochia muita nobresa e pro- duziu muitas pessoas notáveis pelas vir- tudes, armas e lettras, mas soffreu muito com as lutas civis entre liberaes e realistas desde 1820 até á convenção d'Evora Monte {1834)— e com os exeessos e represálias pos- teriores á dieta convenção. Foram cruelmente perseguidos e tiveram de homisiar-se muitos filhos desta parochia, — outros foram barbaramente assassinados, ■ — algumas das suas primeiras casas ficaram reduzidas á miséria com os sequestros— e outras- se extinguiram. Data d'aquelle ominoso tempo a decadên- cia desta parochia, — decadência que a mal- dicta phylloxera nos últimos annos coroou, aniquilando os seus vinhedos. Entre as pessoas notáveis que produziu, occorrem-nos as seguintes : 1. a— D: Claudia, da nobre familia Bragas, da casa da Praça. Casou com João de Gou- veia Osorio e teve o sr. visconde de Proença a Velha. João de Gouveia Osorio foi homem de grande importância n'esta freguezia, gene- ral de divisão do sr. D. Miguel e fidalgo de antiga linhagem, natural de Penamacor. 2. ° — Antonio Cardoso Corte Real e Serpa, também fidalgo distincto, coronel das milí- cias de Trancoso, etc. Tinha o seu palacete junto do átrio da egreja e n'elle se vé àinda o seu brasão der- mas,—um dos brazões de mais merecimento artístico d'estas redondezas, tendo por tim- bre uma coroa de conde. É espaçoso e com- prehende muitos emblemas bellicos, peças» bandeiras, armas, tambores etc. 3. ° — O dr. Antonio d' Azevedo Coutinho Pa- checo, afamado jurisconsulto. Escreveu varias obras sobre jurisprudên- cia, mas não chegaram a ver a luz da pu- blicidade. Acommettido de monomaniareligiosa,sui- cidou-se, precipitando-se de umajanellaem avançada idade. Falleceu no dia 14 de março de 1808, ten- do casado com D. Maria Theresa, da nobre casa e quinta dos Vieiros, e deixou dois fi- lhos— o morgado, primogénito, — e Miguel Antonio Coutinho Pacheco. O morgado foi tenente de milícias e mor- reu solteiro, deixando um filho bastardo, por nome Luiz, que falleceu em 1884, casa- do e com dois filhos : — Antonio, que pere- ceu afogado no Douro em 1867, — e Manuel^ que ainda vive. Miguel Antonio Coutinho Pacheco, filho segundo do grande jurisconsulto, casou com D. Cândida Fortunata de Sousa Ferreira, da qual teve 4 filhos que ainda vivem e são proprietários n'esta parochia:— D. Maria Pa- checo, Miguel Augusto Pacheco, João Al- berto Pacheco e o rev. Antonio Ayres Pa- checo, sacerdote de muito merecimento e vice-reitor no seminário diocesano do Fun- chal. 4. ° — Dr. Francisco Xavier d" Almeida Sá e Meneses, fidalgo distincto, grande proprietá- rio e excellente pessoa. Falleceu solteiro e deixou a sua grande casa a um filho natu- ral, Joaquim Augusto de Sá Meneses, hoje casado com sua prima, filha de Luiz de Cas- tro Pereira, residente e grande proprietário em Freixo de Numão. V. Villarinho da Castanheira. 5 0 — O dr. João Antonio Ribeiro de Sousa Almeida e Vasconcellos, desembargador da casa da supplicação por el-rei D. João VI, e depois aggravista^e desembargador do Paço no tempo do sr. D. Miguel, F. C. R., C. P. da O. de Christo e um dos desembargadores da ominosa Alçada. Frequentando ainda a Universidade, ca- sou em 1790 com D. Anna Josepha Freire Soare3 de Miranda, da nobre casa dos dou- 1392 VIL VIL tores Mirandas de Figueira de Castello Ro- drigo, hoje desbaratada e em estranhos, por causa das vicissitudes que tiveram por epi- logo a convenção d'Evora-Monte. A dieta senhora era prima do celebre ge- neral Gomes Freire \ com o qual teve o seu casamento tractado. O desembargador João Antonio, sendo ain- da juiz de fóra em Mafra, acompanhou D. João VI ao Brazil e por ordem do mesmo D. João VI veiu para Portugal alguns annos an- tes do regresso da família real. Era muito legitimista;— foi procurador por Figueira de Castello Rodrigo, em 1828, ás cortes, ou junta dos 3 estados, que em Lisboa acclamaram D. Miguel como rei, e tanto se pronunciou em favor d'elle, durante a grande lucta, que foi preso por duas ve- zes e viu toda a sua casa sequestrada. Desde 1834 viveu homisiado em Lisboa, onde falleceu, em janeiro de 1843. Do seu consorcio com a prima de Gomes Freire teve os filhos seguintes: — Albano Antonio Freire Ribeiro de Sousa Almeida e Vasconcellos, desembargador e corregedor de Villa Real de Traz-os-Montes no tempo do sr. D. Miguel. Por elle foi es- colhido para seu secretario quando, em se- guida á convenção d'Evora-Monte, partiu para o exílio, — cargo que o dr. Albano re- cusou por suggestões d'um seu amigo libe- ral, mas antes elle annuisse, pois em 1836 foi barbaramente assassinado por motivos politicos. Não deixou descendência. — D. Libania Thomasia Freire de Sousa e Almeida Vasconcellos. Casou com Francisco Pinto de Gouveia e Castro, da Prezegueda, concelho da Regoa. Ambos já falleceram s. g. — D. Maria Henriqueta d' Almeida Vascon- cellos. Morreu solteira. — João Antonio Freire Ribeiro de Sousa Al- meida e Vasconcellos, freire de Christo, mo- ço fidalgo com exercício no paço, etc. Foi assassinado em 1843 em Figueira de Castello Rodrigo pelo antigo feitor da sua V. Lisboa, vol. 4.° pag. 116, in fine. casa e filhos d'este, quando, por fallecimento do desembargador seu pae, ali foi para lhes tomar contas e entrar na posse da casa, abandonada desde a partida do pae para o Brazil. Que tempos?!. .. — Francisco — e Sebastião. Falleceram de tenra edade. —Antonio Pedro Ribeiro de Sousa Almei- da e Vasconcellos. Entrou para o Collegio Militar por uma provisão regia de D. João VI, que o dispen- sou do pagamento de toda e qualquer pen- são, em attenção aos relevantes serviços do pae, não obstante o não ser este militar, mas pertencente á alia magistratura. Antonio Pedro foi premiado em diversos annos e commandante do batalhão collegial. Assentou praça em cavallaria 7 no anno de 1823, sendo reconhecido cadete; — tomou parte no pronunciamento realista, pelo que 3 vezes emigrou para a Hespanha com o marquez de Chaves, Magessi, etc , e fez toda a campanha realista até á convenção d'Evo- ra-Monte, 1 sendo n'essa data capitão, por distineção e ajudante d'ordens do general Tovar iTAlbuquerque. Terminada a lucta civil em 1834, abando- nou inteiramente a politica e casou em Lis- boa n'esse mesmo anno com D. Maria José Fêo de Siqueira Coutinho, filha de José Ma- ria Fêo de Siqueira Coutinho, C. F. C. R., C. P. O. Ch., escrivão do Real Erário, etc, cuja vida, semeada de aventuras e galanteios com actrizes, cantoras e damas lisbonenses, dava assumpto para ura grande romance I... Do seu consorcio com D. Maria J. Féo te- ve entre outros filhos o seguinte: Antonio Pedro Ribeiro de Sousa Almeida e Vasconcellos Usa vulgarmente o nome de Antonio de Sousa Vasconcellos e é um cavalheiro muito illustrado e de muito merecimento,— secre- 1 Falleceu em LÍ9boa a 17 de março de 1882, contando 83 annos de idade e sendo ainda realista intransigente, pelo que a Na- ção lhe dedicou um pomposo necrológio. VIL VIL 1393 tario geral da Companhia real dos caminhos de ferro portuguezes, commissario do go- verno junto do theatro de D. Maria II, pro- fessor de historia da arte e esthetica na aca- demia real de bellas artes de Lisboa e dis- tincto escriptor publico. É auctor de diversos artigos litterarios e obras dramáticas, entre as quaes citaremos o drama histórico— Duquesa de Caminha, — que foi representado no beneficio da actriz Emilia das Neves, no theatro de D. Maria II, em a noite de 10 de novembro de 1877, e premiado pelo conservatório dramático no concurso de 1877 a 1878. Também foi director litterario e artístico do interessante periódico A Arte, cuja pu- blicação cessou ha poucos annos com viva magoa dos apreciadores e estudiosos das let- tras e artes porluguezas. É F. C. C. Real com moradia no Paço, commendador da O. Ch. — cavalleiro da Or- dem de Nossa Senhora da Conceição de Villa Viçosa e de S. Gregorio Magno, etc. Nasceu em Lisboa e ali casou com D. Isa- bel Maria da Costa Freire, filha de Ceslau da Costa Freire, offieial do antigo senado da camará de Lisboa, Cavalleiro da Ordem de Christo e de Nossa Senhora da Conceição de Villa Viçosa, etc. É um dos poucos representantes que ain- da hoje restam da nobre família do desem- bargador João Antonio Ribeiro de Sousa Al- meida e Vasconcellos, irmão de Manuel An- tonio Ribeiro de Sousa Almeida e Vascon- cellos, que foi o ultimo sargento-mór do Vil- larôco, tendo sido este cargo hereditário na família desde largos annos. Ainda em 1853 vivia n'esta freguezia do Villarôco D. Eugenia Thomasia de Sousa Ri- beiro, irmã do dicto sargento-mór, a qual falleceu solteira e sem successão. O brasão d'esta família é esquartellado, tendo no 1.° quartel as quinas e leões dos Sousas do Prado;— no 2.° as 5 meias luas dos Pintos; — no 3.° as 3 fachas verdes dos Ribeiros;— no 4." as fachas pretas dos Vas- concellos—e por timbre um leão rompente. Foi também natural d'esta freguezia Mar- cos da Fonseca, fidalgo distincto e cavalleiro d'Aviz, que em 1706 administrava o hospi- tal Real de Moncorvo e recebia a 4 ■ parte das rendas d'elle, por alvará régio, sendo as 3 partes restantes applicadas para a fabrica do dicto hospital. Também esta parochia tem produzido ho- mens que se tornaram notáveis pela sua per- versidade. Occorrem-nos os seguintes: 1.° — Francisco Rebollo, assassino e ladrão. Matou e roubou 3 homens em 1835, mas por seu turno foi morto pelo celebre Ribei- rinha de S. Mamede de Riba Tua, em 1839, junto da capella de Santa Barbara. Também tentou matar um seu irmão, de nome Albano, que ainda vive, coxo d'uma perna, em virtude de um tiro que sobre elle disparou o tal Francisco Rebello. %°—Rernardino de Sequeira, de profissão carreiro ou boieiro. Em 1871 matou por vingança um pobre trabalhador, chamado Antonio Carangue- jola. 3. ° — Antonio Alexandre Café. 4. °— Manuel Nunes, por alcunha Orelha Gata. 5. ° — Manuel, que por sobrenome não perca. 6. ° — Antonio Ferrador, da aldeia da Se- nhora da Estrada. Estes últimos 4 servos de Deus, todos fi- lhos d'esta parochia, fizeram parte da gran- de quadrilha de salteadores, capitaneada pelo celebre Traquina da Granja do Tedo, concelho d'Armamar,— quadrilha medonha e numerosa, pois d'ella faziam parte os 32 salteadores que foram presos, julgados e de- gredados em 1852, na comarca d' Armamar e em outras, onde, os taes senhores tinham crimes mai3 graves. V. Valença do Douro, vol. , pag. 105, co . I> e segg. A quadrilha era mais nu- merosa e toda podia e devia ser apanhada na rede, mas por por certas considerações foram poupados alguns dos confra- des I. . . O celebre capitão Traquina já voltou do degredo e ainda 1394 VIL VIL hoje . (1886) vive na Granja do Tedol... Em fevereiro de 1860, tendo chovido co- piosamente, deu- se n esta parochia o facto seguinte: Peias 10 horas da noite sentiu-se uma es- pécie de terremoto seguido de uma explo- são que fez tremer todas as casas do Villa- rôco e no dia seguinte appareceu a terra fen- dida até 20 metros de profundidade em uma tapada próxima, pertencente à João Alberto Pacheco, donde se deslocou um grande vo- lume de terra que, impellido pelo peso pró- prio e por grande volume d'agua represa- da, levou diante de si quanto encontrou, in- clusivamente oliveiras, algumas das quaes ficaram a distancia de mais de 100 metros e ainda hoje (1886) ali se conservam e dão fructo. Note-se que o terreno é declivoso. Também no dia 25 de julho de 1885 pesou sobre esta freguezia e sobre as eircumvisi- nhas até grande distancia,— Pesqueira, Fos- côa, iliodades, Trovões e Paredes da Beira, — uma medonha trovoada, causando prejui- sos enormes. A tradição local diz que esta parochia foi villa e teve casa de camará, cadeiá e pelou- rinho, mas de tudo isso nada, absolutamente nada resta, nem nos consta que tivesse em tempo algum foral próprio. Era comprehen- dida no foral que D. Manuel deu á villa de Avelloso em 21 d'abril de 1514. V. Avelloso. A mencionada villa foi camará dos bispos de Lamego e D. Manuel no seu foral men- cionou todas as rendas que os bispos de La- mego tinham ali, em Vallongo do Azeite, Valle de Ladrões, Canellas, Parada do Bis- po, Várzea do Bispo, Trovões e Villarôco. Esta freguezia, hoje da comarca da Pes- queira, pertenceu á comarca (corregedoria) de Trancoso, e anteriormente á de Pinhel, provedoria de Lamego. No século xvi, segundo se lé no Censual velho da mitra de Lamego, era da apresen- tação e confirmação dos bispos d'aquella diocese, aos quaes pagava meio marco de prata, ou i$340 réis, de confirmação,— 500' réis de visitação,— e tinha annexa a fregue- j zia de Val de Figueira. Entre os pergaminhos existentes no car- tório da Universidade de Coimbra se encon- tra um que prende com esta freguezia. Tem a data de 1561 e é a composição feita entre o parocho de S. Pelagio de Caria e o d'esta freguezia de Villarôco. Para maior desgraça d'esta freguezia, uma grande parte dos seus melhores terrenos pertencem a estranhos, pois teem aqui bons casaes os viscondes de Proença a Velha e da Torre do Terranho,— bem como o par do reino Antonio da Costa Lobo e um fidalgo de Penaguião. Não tem esta freguezia estrada alguma a macadam. A mais próxima é a real n.° 34, do Porto á Barca d'Alva, mas que até hoje ainda não passou da villa da Pesqueira, dis- tante do Villarôco 10 kilometros; deve po- rem passar perto d'esta freguezia a estrada districtal a macadam de Viseu á Pesqueira, mas tarde ali chegará, posto que já tem um lanço construído no concelho de Sernance- lhe, entre Villa da Ponte e Ferreirim de Fontearcada, na bifurcação com a estrada real n.° 44, de Lamego a Trancoso. Tem esta freguezia no rio Torto 8 moi- nhos de cereaes. Uns escrevem Villarôco, outros Villarou- co. Nós inclinamo-nos á opinião dos primei- ros, mesmo porque julgamos Villarôco uma variante de Villarinho, diminutivo de Vil- lar. É hoje abbade d'esta freguezia o rev. Ma- nuel de Jesus da Ressurreição Raphael, pa- rocho de bons costumes e muito digno, mas é o presbytero de mais diminuto corpo ou de mais pequena estatura que ha hoje em todo o bispado de Lamego ! Nasceu na aldeia e freguezia de Nagozel- lo, concelho de S. João da Pesqueira, em 10 d'abril de 1838, sendo seus paes João Ma- nuel Raphael e Claudia Justina, honrados, mas humildes lavradores. Note-se que no Alto-Douro se denominam lavradores to- VIL VIL 1395 dos os proprietários, por ve- zes fidalgos distinctissimos. Jà contava 18 annos quando principiou a estudar latim e 28 quando tomou a sagrada ordem de Presbytero. Foi parocho encommendado nas fregue- zias de Val de Figueira a Nova, concelho de Taboaço, e nas de Trovões e Valença do Douro; depois collou-se na de Cever, conce- lho de Moimenta da Beira, e ali se conser- vou 12 annos, desde 15 de julho de 1864 até 15 d'outubro de 1876; — d'alí passou para a de Nagozello, sua terra natal, em 15 de ou- tubro de 1876,— e em 17 de junho de 1885 passou para esta de Villarôco. Tanto esta freguezia como aã de Vallongo do Azeite, Ervedosa e S. João da Pesqueira, situadas na margem direita do rio Torto, teem moinhos na outra margem (esquerda) d'este rio. As casas principaes d'esta paroehia são as seguintes: Brasonadas 1. a— Do visconde de Proença a Velha. 2. "— De Antonio Cardoso Serpa. 3. a— De Antonio de Sousa Donas Botto. Não brasonadas 1. a— De Joaquim Augusto de Sá Menezes, casado com a filha de Luiz de Castro Pe- reira. 2. "— De D. Maria do Carmo de Sá Mene- zes, tia pateroa do antecedente. 3. a— De Miguel Augusto Pacheco. 4. a— De João Chrysostomo de Carvalho e Mattos. 5. »— Do Padre Antonio Manuel da Fonseca Moutinho. 6. a— De D. Maria do Bosario, que foi do seu marido Antonio Gaudêncio d'Almeida Ribeiro, que foi um dos grandes proprietá- rios d'esta freguezia. 7. a— Dos filhos e herdeiros de Miguel Pa- checo. 8. a— De Antonio de Sousa Júnior. 9. a— De José dos Santos Affonso, brazilei- ro e capitalista, que fez a dieta casa. Acaba de ser aberta á circulação a linha férrea do Douro desde Tua até o Pocinho, comprehendeodo este lanço 34 kilometros e 3 estações:— Vargellas, Freixo e Pocinho. Esta paroehia deverá demandar a estação de Vargellas, da qual dista apenas 7 kilo- metros;—22 da de Tua pela de Varzellas— e 161 do Porto pelas estações de Vargellas e Tua. VILLARTÃO, — freguezia extincta, hoje simples aldeia da de Bouçoães, concelho e comarca de Val Passos, districto de Villa Real, província de Traz-os-Montes, bispado de Bragança. V. Bouçoães, vol. l.° pag. 426 ,— e, como rectificação ao que o meu benemérito ante- cessor disse naquelle artigo, note-se que esta freguezia de Bouçoães pertenceu até 1853 (não 1855) ao concelho de Monforte de Bio Livre, extineto pelo decreto de 31 de dezembro d'aquelle anão, pelo qual passou para o concelho de Val Passos, comarca de Chaves, até que o concelho de Val Passos foi elevado á cathegoria de comarca tam- bém. A povoação de Bouçoães, séde da paro- ehia, dista 1 kilometro da margem direita do Babaçal, uma das origens do Tua,— e 21 kilometros de Val Passos para N. E. Alem da dieta povoação, comprehende es- ta freguezia as aldeias seguintes:— Villarlão, Picões, Lampaças, Tortomil, Regai Covo, Er- midas, Ledões e Bouças. A Chor. Portugueza menciona Villarlãa com 60 fogos; Tortomil e Hermos com 20; Lampaças com 10; Bouças com 5; Regai Covo com 4; Ermidas com 26 — e Picões com 8. Villartão foi séde de paroehia;— tinha co- mo orago S. Lourenço;— era curato da apre- sentação do abbade de Bouçoães que, em 1768, dava ao pobre cura apenas o rendi- mento do pé d'altar,— e contava 58 fogos. Ainda em 1852 era paroehia indepen- dente. VILLAS BOAS (—Paço e Torre de)-ca- sa nobilissima na freguezia de S. Jorge d& Ayró, concelho de Barcellos. 1396 VIL VIL V. Ayró, vol. l.° pag. 303, col. 2.» VILLAS BOAS,— freguezia do concelho e comarca de Chaves, districto de Villa Real, diocese de Braga, província de Traz-os-Mon- tes. Reitoria. Orago S. Gonçalo;— fogos 140, —habitantes 620. Comprehende 2 aldeias:— Villas Boas, a séde da freguezia, com 78 fogos,— e Pereira de Sellão com 62. Em 1706 era curato;— comprehendia 3 al- deias:—Villas Boas com 40 fogos,— Pereira de Sellão com 29— e Villa Rei 1 com 12,— total 81 fogos,— segundo se lê na Chorogra- phia Portugueza,—e pertencia ao termo e concelho de Chaves, comarca e ouvidoria de Bragança. Em 1768 era vigairaria da apresentação da camará ecclesiastica de Braga;— rendia para o seu vigário 60$000 réis— e contava 82 fogos. O censo de 1864 deu-Ihe 109 fogos e 505 habitantes,— e o de 1878 deu-lhe 117 fogos e 520 almas. Demora em terreno aecidentado e pouco mimoso, sobranceiro á extremidade N. da Ribeira d' Oura a E. da estrada real a maca- dam, n.° 5 de Villa Real a Chaves, da qual dista Villas Boas cerca de 4 kilometros para o nascente;— 12 de Chaves para S. O.;— 52 de Villa Real;— 79 da estação da Regoa, hoje a mais próxima, na linha férrea do Douro; —183 do Porto— e 520 de Lisboa. Estas distancias devem sof- frer modificação, logo que se abra ao tranzito a linha férrea de Foz-Tua á villa de Mirandella, quasi concluída,— e logo que se construam as linhas férreas em estudos de Chaves a Viseu pelos valles do Tâmega e do Paiva,— e de Chaves a Lamego 1 Ignoramos que povoação hoje representa a tal Villa Bei, pois nem a Chorographia Moderna, nem os meus apontamentos a men- cionam. pelos valles do Corgo e Va- rosa. V. Vias Férreas e Villari- nho das Paranheiras. . Não toca n'esta freguezia estrada alguma a macadam. As mais próximas são a já men- cionada de Villa Real a Chaves— e a de Cha- ves a Carrazedo de Montenegro, que passa a distancia de 5 kilometros. A antiga estrada real e militar de Villa Real a Chaves passava na aldeia de Pereira Sellão d'esta freguezia e ainda hoje por ali seguem muitos transeuntes, por ser o tra- çado mais curto, embora muito escabroso. Villas Boas dista da estação de Mirandel- la, na linha férrea do Tua, 40 kilometros. Freguezias limitrophes:— Villela do Tâ- mega, Loivos, Salhariz, S. Pedro d'Agostem e Villarinho das Paranheiras. ProducçÕes dominantes: — vinho, azeite, castanhas, batatas, milho, centeio e cortiça, que exporta. O vinho, posto que inferior com relação ao da Ribeira d'Oura, é a sua produeção principal e costuma exportal-o para Bar- roso. Não ha n'esta parochia edifícios brasona- dos nem sem brazões, dignos de menção. A egreja parochial é um templo modesto, mas decente e bem conservado. Foi cons- truída em 1790;— demora a meio da povoa- ção de Villas Boas e tem 3 altares,— o mór e dous lateraes, sendo um dedicado a Nossa Senhora da Apresentação— e o outro ao Se- nhor Crucificado. O altar-mór tem um bom retábulo de ta- lha dourada e em dois nichos envidraçados as imagens de Santo Antonio de Lisboa e de S. Gonçalo d'Amarante, o padroeiro, — ambas primorosas. Ha também rfesta freguezia uma capella com a invocação de Nossa Senhora das Ne- ves na aldeia de Pereira Sellão— e a mon- tante d'esta aldeia está o monte de Santa Barbara, assim denominado por ter no seu viso uma capella de Santa Barbara. Pertence o dicto monte a 3 freguezias: — Villela do Tâmega, S. Pedro d'Agostem & VIL VIL 1397 Villas Boas, — e n'elle se feriu em 13 de março de 1823 a batalha entre a divisão rea- lista do general Silveira e a divisão consti- tucional de Luiz do Rego, obtendo os rea- listas completo triumpho e aprizionando quasi toda a brigada de Moniz Pamplona, pelo que o general Silveira, Manuel da Sil- veira Pinto da Fonseca, sendo já por suc- cessão conde (2.°) d'Amarante, foi por D. João VI nomeado marquez de Chaves. V. Villa Real de Traz -os -Montes, vol. XI, pag. 1019, col. 2.a e segg. — e Villar d'Ossos. A batalha feriu-se na parte do monte per- tencente ao termo d'esta freguezia de Villas Boas e á de Villela do Tâmega. No alto do dicto monte se vêem restos de uma povoação e de fortificações antiquissi mas, talvez do tempo em que os romanos por aqui estanciaram, como provam as mui- tas moedas romanas que ali se teem encon- trado em diversas épocas, segundo se lê nas Memorias de Argote, vol. 2.° pag. 495,— e n'este diccionario, vol. 7.° pag. 123, col. 2.a in-fine. Ali houve também uma estação telegra- phica, no tempo dos teiegraphos de madei- ra, anteriores aos teiegraphos eléctricos actuaes A dieta estação correspondia-se com a de S. Francisco da villa de Chaves e com a de Carrazeda da Labugueira ou Cabugueira. Ha n'este monte excellente granito para construcções e d'ali vae para todas as obras mais importantes das circumvisinhanças. É parocho n'esta freguezia ha mais de 20 annos o rev. José Joaquim Alvares Guedes, sobrinho e successor do rev. Joaquim José Rodrigues, filho d'esta parochia e n'ella tam- bém parocho muitos annos e parocho di- gníssimo. Tem esta freguezia uma aula offieial de instrucção primaria para o sexo masculino — e uma feira mensal no dia 5 de cada mez. Foi creada no dia 5 de março de 1881. Em junho de 1886 pesou sobre esta fre- 1 V. Vias Férreas, vol. X, pag. 497, col. 1.» e segg.— e o artigo Teiegraphos. guezia uma medonha trovoada e uma chuva de graniso tão volumoso que destroçou com- pletamente toda a vegetação e causou pre- juízos avaliados em contos de reis. Foi natural d'esta parochia e n'ella viveu no ultimo século o rev. Francisco José de Queiroga, fecundo e distineto orador sagra- do, que em todos os seus sermões nunca cessou de inculcar aos fieis a devoção das Dores de Maria Santíssima, o que muito contribuiu para que esta devoção se propa- gasse em todas as freguezias do concelho de Chaves e em muitas dos concelhos circum- visinhos. A mencionada devoção foi introduzida em Portugal no anno de 1373 pelo rev. L. do Prado que veiu á Hespanha com a auctori- dade de missionário apostólico e lançou o habito das Dores ao nosso rei D. Fernando I, e a muitos dos seus vassallos. Com o decor- rer do tempo esfriou esta devoção e estava quasí extincta em 1708, quando a rainha D. Maria Anna d'Austria, mulher d'el rei D. João V, a fez reviver na côrte e em todo o nosso paiz, por haver a dieta senhora pro- fessado, como os seus augustos ascendentes, aquella devoção. Em 1735 um eremita de S. Paulo erigiu na egreja do seu convento de Lisboa uma irmandade das Dores; depois se erigiram ou- tras no nosso paiz e nas nossas colónias, mas nenhuma prosperou tanto como a que se fundou na egreja da congregação do Ora- tório, em Rraga, a 18 de junho de 1761. Antes de se erigir esta irmandade não ha- via em todo o nosso paiz imagem alguma da Senhora das Dores, mas somente algumas telas, vindas de Itália A primeira imagem da Virgem das Dores foi mandada fazer pela dieta irmandade e a seu exemplo outras muitas se fizeram no arcebispado e fóra d'elle. Ainda se conserva em Braga na egreja dos extínctos congregados a primeira, que é lin- díssima e tem pomposa festa annual na sexta feira da Paixão. I Terminaremos dizendo que esta freguezia 1398 VIL VIL pertenceu sempre e pertence ao arcebispado de Braga, bem como a maior parte (3o) d'este concelho de Chaves, mas pela ultima circumscripção diocesana de 1882 passaram para o bispado de Bragança as 11 fregue- zias d'este concelho de Chaves, que demora- vam na sua extremidade leste. V. Villa Real de Traz-os-Montes, vol. XI, pag. 927, col. 2." n'este diccionario. Ao meu illustrado collega Manuel Henri- ques da Silva Machado, reitor de S. Marti- nho de Bornes,, agradeço os apontamentos que se dignou enviar-me. VILLAS BOAS, — freguezia extincta, hoje simples aldeia da freguezia, villa e sede do concelho de Ferreira do Alemtejo, comarca, districto e bispado de Beja. Foi seu orago Nossa Senhora da Nativi- dade, que ainda hoje se venera na antiga matriz de Villas Boas;— em 1768 era prio- rado da apresentação do papa; — rendia réis 150^000— e contava 24 fogos. V. Ferreira e Villas Boas, vol. 3.° pag. 170, col. 2.» VILLAS BOAS,— villa e freguezia do con- celho de Villa Flor, comarca de Mirandella, districto e diocese de Bragança, província de Traz-os-Montes. Vigairaria. Orago Santa Maria Magdalena; fogos 301,— habitantes, 1290— diz o seu rev. parocho. Em 1706, segundo se lé na Chorographia Portugueza, era villa, freguezia e concelho da comarca de Moncorvo, diocese de Braga; — tinha como donatário de jure o conde de Sampaio, senhor da casa de Villa Flor, etc. (V. Villa Flor de Traz-os-Montes) que n'esta villa de Villas Boas apresentava os officios de tabellião;— formavam o seu governo ci- vil 2 juizes ordinários, vereadores com seus officiaes subordinados ao ouvidor de Villa Flor;— era seu juiz dos orphãos o mesmo de Villa Flor, bem como o capitão-mór, que ti- nha aqui em Villas Boas uma companhia de ordenanças; — a sua egreja matriz era vigai- raria ad nutum da apresentação do reitor de Mirandella— e os seus dízimos eram di- vididos em 3 partes: — uma para o arcebispo de Braga,— outra para os senhores de Villa Flor— e outra para um dos commendadores da villa de Mirandella, que o vulgo denomi- nava commenda dos nove ladrões ? ! . . . Co'ntava finalmente esta villa 4 fontes e 2 tanques,— uma egreja parochial, — 5 capei- las,— 145 fogos— e comprehendia no seu termo os logares seguintes: Sarzeda com 4 fogos, uma capella e uma fonte. Meirelles com 12 fogos, uma ermida e 3 fontes muito caudalosas ! Estas 2 aldeias pertenciam á parochia da villa. Vieira, freguezia pertencente á villa de Freixiel, com 25 fogos, uma capella e uma fonte. Villarinho das Azenhas, vigairaria com 30 fogos, 2 capellas e 3 fontes. V. Villarinho das Azenhas. E mais não disse d'esta parochia e d'esta villa o padre Carvalho! Vejamos se pode- mos adiantar alguma coisa mais. Em 1768 era vigairaria da mesma apre- sentação do reitor de Mirandella;— o vigário recebia 11 $600 réis. de côngrua, alem do rendimento de pé d'altar, — e contava 160 fogos. O censo de 1864 deu-lhe 168 fogos e 952 habitantes,— e o de 1878 deu-lhe 302 fogos e 1:108 habitantes. Não ha relação entre os dois censos— nem proporção entre os fogos e habitantes que lhe deram um e outro. Não é crivei que esta freguezia, contando em 1864 apenas 168 fogos, contasse em 1878, ou passados 14 annos, 302 fogos,— sem re- ceber como annexas outras freguezias. Também não pôde crer-se que 168 fogos dessem 952 habitantes I Quando muito de- viam dar 700 a 750. E os 302 fogos deviam dar pelo menos 1:250 habitantes e não so- mente 1:108! Estão assim as nossas estatísticas. Comprehende esta freguezia 3 povoações: — Villas Boas, séde da egreja parochial, — Meirelles e Bibeirinha. VIL VIL 1399 Villas Boas, a villa propriamente dieta, demora em sitio alto, alegre, saudável e vis- toso na margem esquerda do Tua, do qual dista cerca de 4 kilometros para E. S. E.— 5 da estação de Villa Flor, a mais próxima, na linha férrea do Tua, ainda em construc- ção, para S.;i— 7 de Villa Flor para N. O.; —20 de Mirandella para S.;— 40 da estação de Foz-Tua na linha férrea do Douro, pela linha férrea do Taa e pela estação de Villa Flor, prestes a abrir-se á circulação;— £79 do Porto— e 516 de Lisboa. A povoação de Meirelles demora também em sitio alto, vistoso, saudável e fértil, ao nascente e sopé do píncaro de Nossa Senho- ra d'Assumpção, cerca de 300 metros tam- bém ao nascente da estrada real de Miran- della a Villa Flor e cerca de 3 kilometros a E. N. E. de Villas Boas, no alto do formoso e amplo valle de Meirelles que olha para N. e se prolonga até o Tua,— ou até á Azenha do Cachão, margem esquerda do Tua e ter- mo d'esta freguezia de Villas Boas, na sua extremidade N., onde fizeram a estação de Villa Flor, entre o Tua e a estrada real n.° 38 de Mirandella a Villa Flor, que passa a poucos metros de distancia da dieta esta- ção. Este valle de Meirelles produz bastante azeite e cereaes. Também produzia bastante vinho, antes da phylloxera destroçar os seus vinhedos, mas nunca foi devidamente apro- veitado, pois na sua máxima parte produziu sempre cereaes de pragana, quando todo o valle se prestava admiravelmente para a cultura da vinha e das oliveiras, — e agora, destroçadas as videiras, podia e devia ser todo um olival compacto, lindíssimo e riquís- simo, dos maiores e melhores da província e de fácil plantação e cultura, porque todo o seu vasto chão é fundo, fértil e arável, e não tem despenhadeiros nem penedia. É provável que a nova linha do Tua e a .estação de Villa Flor determinem os proprie- tários d'este lindo e amplo valle a enchel-o 1 V. Vias Férreas, vol. X, pag. 478, col. 1.»— e Villarinho das Azenhas. todo de oliveiras, o que lhe centuplicará a valor. Corre por este valle a ribeira de Meirelles que desagua na margem esquerda do Tua, um pouco a jusante (sul) da estação de Villa Flor e é atravessada em duas pontes pela linha férrea e pela estrada real n.° 38. O dicto valle também produz bastante fructa, sendo muito saborosa e uma espe- cialidade distincta a sua pera corni-cabra ou do S. João,— pera. muito têmpora. A povoação da Ribeirinha, demora ao sul de Villarinho das Azenhas, cerca de 5 kilo- metros a S. O. de Villas Boas, na margem esquerda do Tua e quasi a beber n'elle, pelo que tomou o nome de Ribeirinha. Está em sitio fundo, ardentíssimo no ve- rão, muito atreito a sesões — e forma a ex- tremidade S. da meia lua ou do semi-cir- culo que descreve o termo d'esta freguezia, batendo a ponta N. também na margem es- querda do Tua, um pouco a montante da estação de Villa Flor, e ficando encravada na centro do semi-circulo, também na margem esquerda do Tua, a parochia de Villarinho das Azenhas, que deve ser extineta e annexa á freguezia de Villas Boas, como foi a da Ribeirinha *. O chão da Ribeirinha é escabroso e pro- duz azeite e cereaes. Também produzia vinho, e óptimo coma vinho de mesa, antes da invasão phylloxe- rica. Produz pois esta freguezia hoje — pouco vinho,— muitos cereaes, bastante azeite, fru- cta, hortaliças e lã, pois também cria bas- tante gado lanígero. Freguezias limitrophes:— Roios, Val Fri- choso, Freixiel, Villa Flor e Villarinho das Azenhas, todas d'este concelho de Villa Flor, — e Barcel na outra margem (direita) do Tua, concelho de Mirandella. Templos 1.° — Egreja parochial. Demora em um pequeno outeiro contíguo 1 V. Ribeirinha, vol. 8.° pag. 187, in prin- cipio. 1400 VIL VIL á povoação de Villas Boas e está era recons- I trucção. A capella-mór já foi toda feita de novo, dourada e pintada;— ainda nào boliram no corpo da egreja, por falta de meios, mas pro- poem-se fazel-o de novo e mais amplo, pois já construíram a fronteria cerca de 3 me- tros adeante da fronteria velha, approxima- damente em 1878. 2. °— Capella de S. Sebastião, no largo da Lamella, o principal da vi 11a. É publica e foi reedificada a expensas de um devoto. 3. °— Capella de Santo Antonio, no alio da villa. Ê também publica. 4. ° — Capella da Senhora do Rosario. Demora tarnbem na villa; — é particular e brasonada; — pertenceu á casa da baronesa d'Alverca e ó hoje de José Vicente Teixeira de Castro. N'ella se acha estabelecida uma antiga ir- mandade das Santas Chagas. 5. °— Capella de Santa Marinha, na povoa- ção de Meirelles. É publica, humilde e pobre e está muito maltraetada. 6. ° — Capella de Santo Antonio, na povoa- ção da Ribeirinha. É também publica e muito pobre. 7. ° — Capella de S. Christovam na serra do Pharo. É também publica e está em ruinas, já meio demolida. 8. ° — Santuário de Nossa Senhora da As- sumpção, hoje o primeiro d'esta província. D'elle fallaremos adiante em tópico espe- cial, como bem merece. Ha em Villas Boas 3 edifícios brazonados: — a casa que foi de Antonio José de Mace- do e Vasconcellos, — outra casa, pertencente não sabemos a quem,— e a capella de Nossa Senhora do Rosario, de que já fizemos men- ção. Avultam n'esta freguezia dois altos pín- caros que dominam como gigantes grande parte d'esta província e das da Beira Alta e Beira Baixa. São o pincaro de Nossa Senho- ra da Assumpção, onde se ergue o sanctua- rio d'este nome, — e o pincaro da Serra do Pharo, que tem 2 pontos culminantes — um denominado Serrinha, — outro Cabeço Gordo, que é o mais elevado, superior mesmo em altitude ao de Nossa Senhora da Assumpção e pouco distante d'elle. Fazem pendant com a serra de Santa Comba, distante cerca de 30 kilometros pa- ra N. 0. — d'onde se avistam (nós já os vi- mos) perfeitamente, bem como de Miran- della, de toda a estrada real n.° 38, de Mi- randella a Villa Flor, que passa junto d'elles — e da estrada real n.° 6, de Villa ReaJ a Bragança, desde as proximidades de Murça até muito para alem de Mirandella. Nos dictos cabeços, tão defensáveis para os tempos d'armas brancas, se teem encon- trado ruioas de casas e de fortificações an- tiquíssimas, moedas romanas e sepulturas abertas na rocha, como se encontraram tam- bém no pavimento da egreja matriz, o que prova que estes sítios foram habitados des- de tempos muito remotos. Não ha n'esta freguezia minas em explo- ração nem simplesmente registradas, mas no sitio do Muro, junto da povoação da Ribei- rinha, se encontram claros indícios de car- vão de pedra; — nas faldas do grande morro de Nossa Senhora da Assumpção se encon- tram ainda montões de escorias que revelam exploração antiquíssima, talvez de cobre e ferro, — e na serra do Pharo deve haver jazi- gos de ferro, porque da raiz do dicto mon- te,, na sua pendente sobre o Tua, brotam muitas nascentes d'aguas férreas, como já dissemos no artigo Villarinho das Azenhas. Villas Boas foi villa e séde de concelho atè 1834 ou 1835; nada porém já resta da sua casa da camará. O pelourinho ainda se vê no largo da Lamella e denota muita an- tiguidade. Segundo se lê na Chorographia Portu- gueza esta villa teve foral velho, dado por D. Affonso IV, mas Franklim menciona ape- nas o foral novo, dado por D. Manuel em Lisboa no dia 4 de maio de 1512. Liv. de Foraes Novos de Traz-os-Montest fl. 14, col. 2.a Veja-se a Minuta para este foral na Gav- 20, maço 11, n.° 19. VIL VIL 1401 Nos fins do ultimo século pesou sobre es- ta freguezia uma medonha trovoada que a escalavrou e arrasou, reduzindo-a á miséria durante muitos aonos. Foi uma espécie de tromba marinha que levou d'envolta para o Tua penedos, pare- des, arvores, campos e vinhas, deixando em grande parte da pendente sobre o Tua sò fragoedo esbulhado I . Ainda hoje se vè na margem do Tua enor- me quantidade d'areia e pedras que a dieta trovoada arrojou. Também no dia 7 de julho do passado anno de 1886 pesou sobre este concelho e sobre esta freguezia de Villas Boas uma tro- voada medonha I Causou prejuízos avalia- dos em centos de contos de réis, mas as fre- guezías que mais soffreram foram as da parte leste ou da pendente sobre a ribeira da Villariça: — Nabo, Horta, Junqueira, Sam- paio, Seixo de Manhoses, Carvalho d'Egas e Villa Flor, nomeadamente esta ultima; a única victima, porém, foi um homem fulmi- nado por uma faisca eléctrica na povoação de Meirelles. V. Villa Flor de Traz-os-Montes no sup- plemento a este diccionario. Esta parochia não tem cemitério. Ainda se fazem os enterramentos dos cadáveres na sua egreja matriz, mas por -fortuna ali o chão rapidamente os consome. Também esta freguezia tem pouca agua potável — e má; comtudo, é bom, tempe- rado e saudável o clima de Villas Boas, por estar em sitio alto, enxuto e muito are- jado. Os 3 maiores proprietários d'esta fregue- zia na actualidade são — Manuel da Cesta Pinto, de quem logo fallaremos,— João de Moraes e Manuel da Costa Pessoa (irmão do 3.° conde de Vinhaes) casado com uma filha e herdeira de Antonio José de Macedo e i Vasconcellos, de Villarelhos. V. Vinhaes. Também aqui possuem um bom casal, que foi da baroneza d'Alverca, os srs. José Vi- cente Teixeira de Castro e filhos. A casa da baronesa d'Alverca foi a mais rica e nobre d'esta villa e produziu muitas pessoas importantes, militares d'alta gra- duação, bispos e homens de lettras. Tem hoje esta freguezia uma aula official d'instrucção primaria para o sexo mascu- lino. Villas Boas, antes de passar para o senho- rio dos condes de Sampaio, foi dos Leões, descendentes de D. Pedro Soares de Leão, a quem D. Fernando 1 deu o senhorio d'esta villa e da de Torre de D. Chama. Vide. Curiosa estalistica Segundo se lê na Descripção da Provin- da de Traz-os-Montes pelo dr. Columbano Pinto Ribeiro de Castro, corregedor de Mon- corvo e juiz demarcante da dieta provín- cia1, o concelho de Villas Boas em 1796 contava 234 fogos e 934 habitantes, sendo homens 483, mulheres 451, presbyteros se- culares 8, barbeiros 1, sem profissão 13, ci- rurgiões 1, boticários, 1, lavradores (talvez proprietários) 92, jornaleiros 144, alfaiates 7, sapateiros 5, carpinteiros 4, ferreiros 3, moleiros 2, pastores 25, criados 134, cria- das 87. Não tinha pessoa alguma litteraria (pro- fessores nem bacharéis) nem negociantes, nem pedreiros, nem ferradores, nem almo- creves, nem cardadores, posto que produzia muita lã, pois criava muito gado lanígero. Igual nota se encontra no mesmo codiee relativamente a cada um dos 20 concelhos que ao tempo eomprehendia a grande co- marca de Moncorvo. Eram os seguintes: — Agua Revez, Alfandega da Fé, Carrazeda d'Anciães, Chacim, Castro Vicente, Cortiços, Frechas, Freixo d'Espada á Cinta, Miran- della, Moncorvo, Monforte de Rio Livre, Moz, Pinho Velho, Sampaio, Sezulfe, Torre de D. Chama, Val d'Asnas, Villa Flor, Villarinho da Castanheira e Villas Boas. No supplemento daremos a estatística dos mencionados concelhos, exceptuando os 3 últimos, porque já se encontra nos artigos próprios, escriptos por nós, pois tomámos conta d'este diccionario quando já ia a meio do artigo Vianna do Castello. 1 Códice 486 da Biblíotheca Municipal do Porto. 1402 VIL VIL Santuário de Nossa Senhora da Assumpção I Como reminiscência da nossa visita a esta província em setembro e outubro de 1883, escrevemos na Folha de Chaves de 16 de agosto de 1884, em uma correspondência do Porto com data de 14 do dicto mez, entre outras coisas o seguinte : «Também se realisa ámanhã (referiamo- nos ao dia IS d'agosto de 1884) a grande festa e romagem de Nossa Senhora da As- sumpção no vistoso e poético santuário d'es- te nome junto de Villa Flor,— o 1.° santuá- rio da província de Traz-os-Montes e um dos mais notáveis do nosso paiz. «Parece suspenso nas nuvens 1 Tão alto e esguio é o píncaro onde está o formoso tem- plo, dominando um extensíssimo horisonte para todos os quadrantes, desde a Serra da Estrella até ás do Marão e de Cenabria, na Hespanha, e uma infinidade de povoações, taes são logo ao sopé: — Villas Boas, Meirel- les e Villa Flor; mais ao longe Mirandella, Passos, Franco, Avidagos, Lamas dOrelhão, as capellinhas de Santa Comba eS. Leonar- do; Jou, Carrazedo de Montenegro, Murça, Jalles, Moncorvo, Carrazeda d'Anciães, Me- da, Marialva, Trancoso, etc. «Já estivemos no santuário de Nossa Se- nhora do Castello, junto de Mangualde, co- roando também um monte com amplo hori sonte e largas vistas; — na capellinha do Se- nhor do Calvário, em Gouvêa, na Serra da Estrella, que offerece largas e surprehen- dentes vistas também; — no Bom Jesus do Monte e no Santuário do Sameiro, tão decan- tados pelas largas vistas que d'aquelles dois pontos se gosam; mas desde que vimos o santuário da Assumpção de Villa Flor, ja- mais o poderemos esquecer 1 . . . «Se não tem o apparato de jardins, lagos, hotéis, chalets, capellas e escadarias que abundam no santuário do Bom Jesus do Monte, ou mesmo uma escadaria tão ma- gestosa como a do santuário dos Bemedios em Lamego, a i.a escadaria de todos os san- tuários de Portugal, — tem um templo novo, amplo, elegante e vistosíssimo, coroando o alto píncaro, — um bom carrilhão de 10 si- nos, feito em Lisboa — um bonito adro, — boa escadaria, varias capellas e todos os annos festa pomposa e arraial esplendido. «Graças a todos os protectores do famoso santuário, nomeadamente ao meu bom visi- nho1 Augusto dos Santos Gomes, filho de Villas Boas e o mais benemérito de todos. «A virgem da Assumpção lhe pague em bênçãos o muito que lhe deve tão formoso santuário.» Foi isto o que a vol d'oiseau então disse- mos d'este santuário; seja-nos licito porem agora dedicar-lhe mais algumas linhas. II Demora no termo d'esta freguezia e dista da povoação de Villas Boas pouco mais de 1 kilometro para leste, mas geralmente dão- lhe o nome de Santuário de Nossa Senhora da Assumpção de Villa Flor, por ser esta villa a séde do concelho e estar a pequena distancia também, — cerca de 6 kilometros a N. O Santuário Marianno, tomo 4.° (titulo LXIII, pag. 224) escripto por fr. Agostinho de Santa Maria e publicado em 1712, diz o seguinte : «Quatro legoas distante da villa da Torre de Moncorvo para o norte, tem seu assento a villa de Villas Boas 2. «Tem 150 vísinhos, e demais da egreja parochial 5 ermidas; a principal d'el.las ha dedicada a Nossa Senhora da Assumpção, e fica pouco distante, coroando a imminencia de hum monte, que he o mais alto d'aquelle distrieto. Estava esta Ermida tão esquecida da devoção dos fieis, — e tão despresada que, nos tempos da calma entravão nella os ga- 1 É negociante no Porto, na rua Nova da Alfandega. 2 Contavam então 3 legoas de Moncorvo a Villa Flor— e outras 3 de Villa Flor a Mi- randella. Hoje contam 28 kilometros de Mi- randella a Villa Flor e outros 28 de Villa Flor a Moncorvo; — e, como o santuário dista de Villa Flor 6 kilometros para N., as taea 4 legoas dão hoje cerca de 34 kilometrosl... V. Villa Flor de Traz os Montes, vol. XI, pag. 730, col. 2." VIL VIL 1403 dos a sestear l Nem he desculpa o ser aquelle sitio muito áspero, e tão alto, que delle se veem terras de sete bispados, 1 assim de Por- tugal, como de Castella. Porem hoje (refe- re-se ao anno de 1712) he este saDtuarío muito celebre n'aquella província, pelas muitas e grandes maravilhas que Deos tem obrado nella pelos merecimentos de sua Mãy Santíssima.» E prosegue com a historia da capella da Senhora da Assumpção. Em resumo diz o seguinte: Data de tão remota antiguidade que já em 1712 se não sabia quando nem por quem foi fundada. Foi um templo muito humilde na sua ori- gem e pelo meiado do seeulo xvn cahiu em tal abandono que os gados riella sesteavam, mas um facto muito extraordinário a salvou do olvido. Em 4 de setembro de 1673 (Sant. Marian- no, logar citado) uma menina de Villas Boas, por nome Maria, de 10 annos de idade, fi- lha de Jacome Trigo, estando a lavar em um ribeiro contíguo á vi lia, âppareceu-lhe uma mulher de surprehendeote bellesa que a cha- mou;— lançou-lhe a beDção; — levou-a a uma ribanceira próxima, da qual brotou no mo- mento uma fonte d'agua; — banhou-lhe a ca- beça com a dita agua e lhe disse:— «estás sã do mal que padecias, mas a sesão que tives- te na sexta feira te ha-de repetir ainda ho- je; vae pois para tua casa e depressa, para que te não dê no caminho.» Disse-lhe mais: «lembras-te de quando ias defronte da minha Casa, na Portella de Val Formoso, e eu peguei em ti sem o sa- beres, livrando-te de perderes a vida em um despenhadeiro, indo em teu seguimento João Lopes e Aífonso Trigo que te levou nos braços para ca9a? Eu sou a Virgem da As- sumpção. Vae e dize aos teus visinhos que jejuem a primeira sexta feira e concertem a minha casa, porque eu não cessarei de in- terceder por vós todos. . . » Aliás de 14. Logo os indicaremos. P. A. F. No dia 7 do mesmo mez, estando a me- nina com seus paes em uma eira limpando um pouco de pão, a mesma Senhora lhe ap- pareceu outra vez, sendo já sol posto, e lhe disse que fosse á sua capella. Foi. A meio da ladeira do monte encontrou a Senhora; viu a capella com as portas fechadas e toda cheia de luzes, e a Senhora, tomando uma cruz de madeira que estava na encosta, deu-a á menina e lhe disse: «vaeá villare- commendar de novo a todos que não se es- queçam do jejum— e dà-lhes a beijar esta cruz.» Apenas chegou a casa de seus paes, onde encontrou Bento Lopes e um moço chamado João, pediu lhes que a acompanhassem, ao que elles annuiram, e, tomando duas velas accesas, percorreram a povoação com a me- nina, dando esta a beijar a cruz a todos e recommendando-lhes o jejum. No dia seguinte, sexta feira, 8 de setem- bro, dia da Natividade da Senhora, foi a me- nina repôr a cruz no sitio donde a -havia trazido. . A Senhora de novo lhe appareceu e lhe disse que todos os sabbados fosse vel-a á sua capella, o que a menina cumpriu. Em breve se divulgaram estes factos e lo- go se avivou a fé com a Virgem da Assum- pção nos povos circumvisinhos até muitas legoas de distancia, augmentando espanto- samente de dia para dia a concorrência dos fieis e as rendas do santuário com as offer- tas em cumprimento de votos e em signal de gratidão pelas curas maravilhosas que experimentavam os enfermos. Na pequena sacristia se guardava em 1712 um livro em que se achavam registrados muitos milagres, entre elles os seguintes: —Maria Nunes da freguezia de Sebade- lhe, concelho de Foscôa. estando entrevada desde muitos annos, invocou a intercessão da Virgem e logo se restabeleceu. — Domingos, filho de Francisco Esteves, da freguezia do Peredo, aleijado havia um anno, foi visitar a Senhora e ficou immedia- tamente são. —Domingos do Sil, de Villa Flor, estando coberto de lepra, foi lavar-se na fonte da Senhora e ficou limpo. 1404 VIL VIL —Era 1708 um aleijado de nascimento, que só se movia de rastos, esteve 9 dias na capella da Senhora e ficou illeso e são. Sendo extraordinária a concorrência dos fieis e não havendo outro caminho alem d'uma escabrosa e estreita senda para subir até á capellinha da Senhora, um capitão-mór de Lamego mandou fazer á sua custa uma estrada em que trabalharam 15 homens oito dias— e calculou-se em 15:000 pessoas a concorrência dos fieis só n'aquelle anno. A imagem da Virgem é uma primorosa esculptura de madeira, medindo 3 palmos d'altura, e já em 1712 se festejava com pom- pa a 15 d'agosto e no dia da Ascenção do Senhor, presidindo o parocho de Villas Boas, a cuja matriz a capellinha estava annexa. A isto se reduz a historia d'este santuário até 1712, segundo se lê no Santuário Ma- rianno;— agora cumpre-nos dar a continua- ção d'ella até hoje, aproveitando os peque- nos dados que nos foi possível colher. III É pouco interessante e pouco edificante a historia d'este santuário desde 1712 até 1843, pois durante aquelle longo período de 131 annos conservou-se por assim dizer es- tacionário e reduzido a mesquinhas propor- ções, sendo administrado por mesas compos- tas de um juiz ou presidente, de um vice- presidente e de um thezoureiro, todos de eleição popular e (salvas honrosas exce- pções) pouco zelosos em promoverem o es- plendor do santuário e em administrarem as rendas d'elle. O santuário reduzia-se a uma pequena e humilde capella no topo do cabeço, com altar môr e dois lateraes, um campanário e uma sineta 1 Subia-se para a humilde capella por uma escadaria informe e muito estreita, descre- vendo uma esoecie de semi círculo em volta de uma grande fraga que se erguia quasi em frente da capella, — e do lado N. ou de Meirelles 1 havia também um grande cabeço 1 O santuário dista da povoação de Mei- relles 1 kilometro para S. mais alto do que a capella. Não só lhe tirava as vistas, mas affrontava muito o adro, pois entre o dieto cabeço e a capellinha ape- nas ficava livre o espaço de um metro, ou pouco mais, para passagem dos romeiros. A mesa de 1837 deu principio ao novo templo, mas em 1843 ainda estava sicut erat in principio, por falta de recursos, pois todo o rendimento do santuário se evaporava!... Assim se conservaram as coisas até 1843. data em que fizeram por junto a capellinha do Calvário, na encosta do monte, a l.a das 5 que hoje lá se vôem. No anno seguinte o administrador do con- celho,—Francisco Leite Pereira d'Almeida, cunhado do sr. visconde de Seabra,— dese- jando pôr cobro a tanto desleixo e tão má administração, depois de conferenciar com o governador civil do distrieto, propoz-lbe para gerir as rendas do santuário uma com- missào composta dos 9 cavalheiros seguin- tes:—Antonio Ayres de Soveral, prezidente, — José Diogo de Moraes Ferraz, secretario, — João Tenreiro de Figueiredo, — Adrião Máximo de Sá Magalhães (todos 4 de Villa Flor), — José do Carmo da Costa Pinto, the- soureiro,— José Vicente Teixeira de Castro, ambos de Villas Boas, — Manuel Gomes da Silva Pinto de Magalhães Pegado, da fregue- zia de Roios,— Justiniano de Moraes Madu- reira Lobo, de Freixiel,— e Antonio Manuel Vaz de Magalhães, de Samões— commissão respeitabilissima e que já presidiu á festa de 15 d'agosto de 1844. N'aquelle anno (1844 1845) rendeu o san- tuário apenas 234$850 réis, mas em breve o seu rendimento se elevou a mais de um conto de réis por anno? l . A primeira commissão desenvolveu logo muita actividade e nos poucos annos da sua administração teve a gloria de ver augmen- tar consideravelmente a devoção dos fieis e as rendas do santuário. Mandou edificar na encosta 4 capellas, comprando as respectivas imagens, etc. — instituiu em 1859 a festa de Santa Eufemia, cuja imagem foi feita no mesmo anno e le- vada em procissão com grande pompa, de VIL VIL 1405 Villa Flor para o santuário, no 3.° domingo de setembro, dia da sua festa;— em 1854- 1855 mandou construir a casa da commis- são, ou dos Milagres, que importou em réis 1:450$850, e deu novo brilho e esplendor á festa e romagem do dia 15 d'agosto, que é a principal. Deixou de si memoria honrosissima, sen- do unicamente para lamentar que não su- bordinasse a um plano harmónico e com- pleto as obras todas que fez e as que de fu- turo deviam fazer- se n'este santuário e nas suas dependências: — capellas, escadarias, fontes, arborisação, etc. O santuário é hoje o primeiro da provín- cia, mas podia brilhar muito mais, se todas as suas obras obedecessem a uma planta bem traçada e apropriada ás condições de tão esplendido e vistoso sitio. Terminou a benemérita commissão a sua gerência em 1860. No primeiro anno teve de rendimento apenas 234*850 réis— e no ul- timo 1:226*285?!... Apurou durante a sua zelosa gerência 7:980*313 réis;— despendeu 6:900*485—6 deixou de saldo 1:079*828 réis. A 2." commissão, nomeada por offlcio do governo civil de 12 de julho de 1860, foi a seguinte: — Antonio José de Macedo e Vas- concellos, presidente, — José do Carmo da Costa Pinto, thesoureiro, — José Vicente Tei- xeira de Castro, (todos 3 de Villas Boas e os dois últimos reconduzidos); — João Pedro Miller, secretario, Bento José Vaz, Miguel Corte Beal e Antonio Joaquim de Moraes Medeiros, todos 4 de Villa Flor. Um dos primeiros cuidados d'esta com- missão foi tornar mais accessivel o santuá- rio, para o que, em substituição da estreita escadaria, fez a escadaria actual, concluída nos fins de 1862, mas tragada infelizmente sem um plano harmónico também, pelo que demoliram por essa occasião duas das 7 ca- pellinhas já feitas, ficando reduzidas a cin- co !.. . Em 1864, nas noites de 13 a 14 e de 25 a 26 de dezembro, sentiram-se aqui dois tre- mores de terra tão f#rtes que fizeram cair metade da casa do ermitão e arruinaram a egreja, abrindo-lhe uma grande fenda junto da porta travessa do lado norte. Reconstruí- ram logo a casa do ermitão, mas a egreja conservou-se fendida até 1870. Em 1866 foi encarregado de levantar uma planta do santuário, aproveitando todas as obras já feitas, o engenheiro Eduardo Diniz Lopes de Sousa, que em dezembro do mes- mo anno a concluiu e entregou á commissão, mas infelizmente, alem de ser extemporâ- nea, pouco teem aproveitado d'ellal . . . Ali se diz, entre outras coisas, o seguinte: «O santuário de Nossa Senhora da As- sumpção fica situado próximo a Villas Boas, no cume de uma montanha que se eleva cerca de 555m,0 sobre o rio Tua. 1 Es^a mon- tanha apresenta uma superfície cónica, ten- do as encostas muito rápidas, de modo que a subida, que já hoje se faz com um peque- no lacete, é ainda muito difficil, o que obriga a abandonar este caminho e bem assim al- gumas obras que não teem regularidade al- guma I» A 17 de maio de 1868 foi resolvida a re- construcção da egreja, por estar fendida e ameaçando ruinas, e por ser muito aca- nhada. Em 1870 já estava concluído o corpo da egreja;— em 1872 coneluiu-se a torre; — em 1874 concluiu-se toda a obra de pedra 2— e em 1875 fez-se toda a obra de carpinteiro. Em 1870 a 1871 demittiu-se a 2.a commis- são e foi nomeada a 3.a, composta dos 5 ca- valheiros seguintes: — José do Carmo da Costa Pinto (reconduzido pela 2.a vez) pre- sidente,— Leonardo dos Santos Costa, the- zoureiro, ambos de Villas Boas, — José Ma- nuel Teixeira Malheiro, 3 Antonio Joaquim 1 O templo da Senhora está na altitude de 150 metros sobre o nivel da povoação de Villas Boas,— diz o meu informador. P. A. F. 2 O mestre pedreiro foi José de Carvalho Gomes. 3 E o dono da quinta e das celebres aguas alcalino -gasosas de Bensaude. V. Villariça e Villa Flor de Traz-os-Mon- tes. VOLUME XI 89 1406 VIL de Moraes Medeiros e Miguel Corte Real, to- dos 3 de Villa Flor. Esta eommissão continuou as obras da egreja, mas durante pouco tempo, porque em 1873, por fallecimento do presidente José do Carmo da Costa Pinto, foi substituída pela 4." eommissão, composta dos vogaes seguin- tes:— Manuel José da Costa Pinto, de Villas Boas, presidente, — Leonardo dos Santos Cos- ta, Antonio Joaquim de Moraes Medeiros e José Manuel Teixeira Malheiro, reconduzi- dos. Hoje (1886) a eommissão gerente (5.«) compõe-se do mesmo sr. Manuel José da Costa Pinto, presidente reconduzido, e José Baptista Negreiros, ambos de Villas Boas — Leonardo dos Santos Costa e Antonio Joa- quim de Moraes Medeiros, reconduzidos,— Diogo Miguel Pereira Cabral.. Abel de Sá Ta- veira e Samuel Miller, todos 3 de Villa Flor. Em 1877 foi encarregado da obra de en- talha o hábil artista José da Costa, de Man- gualde, que satisfez com louvor e concluiu em setembro de 1879 a tarefa toda: — retá- bulo, tribuna e banqueta da capella-mór, 2 altares lateraes, púlpitos, tocheiros, grades do coro, etc, tudo por 2:200$000 réis. Depois continuaram com as obras do adro. Em 1883 (14 d'agosto) foi collocado na torre que decora a fronteria da egreja e se levanta a meio d'ella, um carrilhão de 10 si- nos, feito em Lisboa, (custou 1:200$000 réis) — e em 1885 um para-raios, comprado na Inglaterra. Em 8 de março de 1886 deram principio ao douramento de toda a obra d'entalha, que a estas horas (novembro do dicto anno) deve estar concluída. Arrematou-a por 1:600#000 réis o mesmo entalhador José da Costa, sendo todo o ouro de 23 quilates, — e, antes de se dar principio ao douramento, foi estucado o tecto de toda a egreja, com o que despendeu a eommissão 150$000 réis. Foi lambem concluído este anno o lagea- mento!de todo o adro, que custou 700$000 réis,— só o lageamento,— obra muito precisa, porque o vento, em rasão da grande altura do sitio, desabrigado de todos os lados, le- VIL vantava não só a poeira, mas areias e pe- dras!... Alem d'isso favorece a conserva- ção dos altos e caros muros de supporte, porque foram tomadas com argamassa todas as juntas das pedras que formam o lagea- mento. Ficou este com superfície plana, ten- do apenas o declive necessário ao esgoto, para o que foram demolidos os 2 penhascos de que já fizemos menção supra, — e está em esquadria perfeita, o que obrigou a fazer grandes muros de supporte, nomeadamente nas esquinas, por ser de fórma cónica o alta píncaro. A parede do lado sul tem 15 metros de altura?!... Para obviar a sinistros ê todo guarnecido por grades de ferro com colu- mnatas de granito e nos 4 ângulos se er- guem 4 estatuas de louça, de tamanho natu- ral, representando a Fé, Esperança, Carida- de e Gratidão. No dicto adro, lado norte, se vé a casa da eommissão ou dos Milagres, onde se rece- bem os donativos dos fieis— e a meio do mesmo adro se ergue o novo templo, que, se não tem bellesas architeetonicas, é muito elegante e muito solido, condição indispen- sável para resistir á fúria dos vendavaes, que faziam voar as telhas, embora duplas e bem argamassadas, pelo que toda a telha do novo templo é de Marselha e está presa ao madeiramento com arame de cobrei. . . A nova egreja tem de comprimento 19m,50 — e de largura 7m,0 por ser quasi impossí- vel dar maior desenvolvimento ao adro. A sacristia prolonga-se com a egreja e está unida á capella-mór. É pequena, mas tem as accommodações precisas em dois pa- vimentos e favorece a exposição do Santís- simo nos dias de festa, porque a imagem da Senhora que decora o Ihrono está firme em uma porta e basta abrir esta para se collo- car no alto do throno a sagrada custodia. Terminada a festa, retira-se a custodia e, feehando-se outra vez a porta, fica immedia- tamente no seu logar a imagem da Virgem. Sobe-se hoje para o adro por duas esca- darias de pedra: — uma de 30 degraus a N., que é o lado mais accessivel, — outra de 138 degraus, a 0., que é a principal. VIL VIL 1407 Juoto (Teste pinearo se vê ainda restos de um muro que mostra ter feito parte de for- tificação antiquíssima;— ali e em volta do mesmo pinearo se teem encontrado muitas moedas romanas, sepulturas cavadas na rocha, e outras feitas de tijolo; — em um pe- queno outeiro próximo, do lado de Villa Flor, se vêem restos de edificações;— no chão onde hoje está a eapellinha do Calvário se encontrou uma cisterna—e, quando se fez a escadaria próxima, encontrou-se o encana- mento que devia conduzir a agua para a di- eta cisterna. Também, como já dissemos, a pequena distancia do mesmo pinearo se vê ainda grande quantidade de escorias de prepara- ção de metaes. Tudo isto revela claramente a remota oc- cupação d'estes sitios. E nada mais natural, porque são muito vistosos, lindissimos, e tanto o pinearo de Nossa Senhora da As- sumpção como o do Pharo, que lhe é contí- guo e se ergue do lado sul, a distancia de 2 kilometros, não só eram muito defensáveis para os tempos d'armas brancas, mas pres- tavam-se admiravelmente para atalaias, pois dominam todo o terreno circumjacente até grande distancia,— e para darem por meio de fogos signal d'alarme em oecasião de guerra, como se praticou desde o tempo dos antigos lusitanos até á invasão franceza, em nossos dias. V. Almenara, Facho, Telegraphos e Vias Férreas, vol. X, pag. 497, col. 2.» e segg. Os fachos e almenaras foram os telegra- phos d'outr'ora. Ainda hoje temos no nosso paiz vários montes denominados do Facho, porque n'el- les se aecendiam os taes fogos— e estamos certos de que este monte do Pharo tomou também o nome dos fogos que n'elle ardiam, pelo que não deve denominar-se monte do Faro, mas do Pharo, que em portuguez si- gnifica torre com farol. E bom farol podia e devia ser— e foi com toda a certesa, — porque do alto d'elle, bem como do pinearo da Senhora da Assumpção, se avista a Serra da Estrella, a S.,— a do Marão a N. 0.,— a de Senabria, em Hespa- nha, a N. E., — e outras, cujos nomes igno- ramos, — comprehendendo terras não de 7 bispados, como diz o Santuário Marianno, mas de 14, ou dos mesmos já indicados no artigo Villarinho da Castanheira: — Bragau- ça, Braga, Porto, Lamego, Viseu, Guarda e Coimbra, em Portugal,— e na Hespanha:— Cidade Bodrigo, Zamora, Salamanca, Placeo- cia, Coria, Orense e Tuy. * A isto se reduz o santuário de Nossa Se- nhora da Assumpção no momento. Contando muitos séculos, nunca atraves- sou um periodo de tanta prosperidade como desde 1843 até hoje e, se não afrouxar o zelo dos seus administradores, muito prosperará no futuro. A parte mais importante está feita e estão vencidas as maiores difficuldades. Restam só os embellesamentos que bem merece e que já estão indicados na planta do engenheiro Lopes de Sousa. São 3 as festas que hoje aqui se celebram: —as duas da Virgem no dia da Ascenção do Senhor e a 15 d'agosto, e a de Santa Eufe- mia no 3.° domingo de setembro, sendo a de 15 d'agosto a principal. Costumam convidar para ella uma banda regimental de Bragan- ça;—prégou no anno de 1886 o rev. José Maria d' Almeida, de Villa Nova de Foscôa; — renderam as offertas só rtaquelle dia mais de um conto de réis — e foi extraordinária a concorrência do povo,attrahido pelos encan- tos do local, pelo renome da festa e da Vir- gem e pela bellesa do templo, que está lindo como os amores, — alvo de neve exterior- mente, e interiormente muito bem acabado e todo estucado e dourado de noVo. É hoje o templo mais bello da província e, se foi extraordinária a concorrência no anno de 1886, maior deve ser logo que se abra ao transito a linha férrea do Tua, porque o santuário dista apenas 3 a 4 kilometros da estação de Villa Flor;— está ligado com ella pela estrada real a macadam n.° 38,— e fica por consequência em intimo contacto com todas as povoações servidas pela linha fér- rea do Tua e pela do Douro, desde o Porto até Salamanca,— linhas que por oecasião da 1408 VIL VIL grande festa baratearão 09 preços, o que muito contribuirá para o augmento da con- corrência e esplendor da grande festa. Tem pois deante de si este santuário o mais auspicioso futuro. Muitos teem 9ido os protectores d'este san- tuário e bem quizeramos mencional-os to- dos, mas, para não fatigarmos os leitores, mencionaremos apenas os seguintes : Francisco Leite Pereira d' Almeida, o ad- ministrador que o libertou do marasmo em que jazia, entregando-o á zelosa gerência das beneméritas commis9Ões. Manuel José da Costa Pinto, caracter no- bilíssimo, presidente da eommissão actual e que o ama do coração. Antonio Joaquim de Moraes Medeiros, di- gníssimo vogal da 2.» 3.» 4." 5." e ultima commissões. Tem prestado muito relevantes serviços a este santuário desde julho de 1860 — ou du- rante 26 a 27 annos consecutivos, sem que jamais fraquejasse a sua inimitável dedica- ção. Merecem, também justos kuvores outros muitos vogaes das diversas commissões, mas entre todos os bemfeitores e protectores d'este santuário o mais benemérito até hoje tem sido o sr. Augusto dos Santos Gomes Nasceu n'esta freguezia, na povoação de Villas Boas, em 8 de novembro de 1834 e foram seus paes Manuel Antonio Gomes e Maria José de Jesus. É negociante no Porto, e preso comos seus negócios, jà não vem a esta freguezia desde 1876; mas, como bom cidadão, bom filho e sinceramente religioso, nunca esqueceu a sua terra natal e menos ainda a Virgem da Assumpção, a quem elle desde a infância to- mou por mãe cariDhosa e por sua protecto- ra,—e, como os seus negócios lhe sorriem, deseja mostrar-se grato! Desde que principiou a restauração do templo e do santuário da Virgem da Assum- pção, muito espontaneamente e com intimo jubilo tem auxiliado a empresa com os re- cursos de que felizmente dispõe. i Deu todas as cordas que se gastaram na J construcção da egreja e quasi todos os obje- ctos de prata que boje tem o santuário: — um cálix, uma campainha, um par de galhe- tas, uma lâmpada, thuribulo, naveta, etc. Deu mais 4:000 azulejos, as 4 estatuas que estão nos ângulos do adro, 2 sinos do carri- lhão e o para-raios, que lhe custou 100$000 réis na Inglaterra e o mandou assentar pelo seu filho Ambrósio dos Santos Gomes, indo do Porto ali expressamente. Pagou também a um homem que veiu ex- pressamente de Lisboa ensinar a tocar o carrilhão e, pedindo-lhe uma das commis- sões licença para collocar o seu retrato na casa dos Milagres, em signal de gratidão, elle muito generosamente offereceu o retrato que lá se vê e que é uma photographia esplen- dida. Também pagou generosamente n'este an- no (1886) os dois sermões ao orador de Fos- côa e sabemos que, apenas se abra ao tran- sito a linha férrea do Tua, tenciona abri- lhantar a primeira funcção com um dos mai9 distinctos oradores do Porto e ir elle pró- prio visitar o santuário que tanto tem pro- tegido. Deu também para a imagem da Senhora um manto de seda, que lhe custou 90#000 réis— e, se Deus lhe conservar a existência, l não serão estes os últimos donativos, por certo. Pode computar-se em 500 a 600^000 réis tudo o que até hoje tem despendido com o santuário. A virgem lhe pague em bênçãos tanta de- dicação e tanto amor. Fecharemos este tópico lembrando ás be- neméritas commissões administrativas d'este santuário 3 coisas: l.a— A arborisação do píncaro,— do ter- reno adjacente — e da estrada real a maca- dam desde o santuário até á estação de Villa Flor, escolhendo de preferencia sovereiros e oliveiras, porque são arvores muito vivases, de muita duração e de muito rendimento. Podem com ellas embellesar o santuário e crear uma importante verba de receita no futuro. VIL VIL 1409 2 *— Crear uma feira annual na véspera e no dia da grande romagem — 14 e 15 de agosto. 3.» — Empregar todos os meios para abas- tecer d'agua o santuário, embora a condu- zam de distancia, de Villas Boas ou de outro qualquer ponto, em tubos de ferro. Ao meu bom amigo e cyreneu, o sr. An- tonio José de Moraes, de Carrazeda d' An- ciães, mas residente em Villa Flor. agradeço os apontamentos que se dignou enviar-me. VILLE, — freguezia do concelho e comarca de Caminha, districto de VianDa do Castel- lo, arcebispado de Braga, província do Mi- nho. Vigairaria. Orago S. Sebastião; — fogos 46, —habitantes 250. Em 1706 era curato da apresentação do collegio de S. Bento de Coimbra; — rendia para os frades 70$000 réis e 30 para o cura; — pertencia ao termo e concelho de Cami- nha, comarca de Vianna— -e contava 50 fo- gos. Em 1768 era da apresentação do D. Ab' bade benedictino do convento de Tibães; — rendia para o cura 8$000 réis, alem do pé d 'altar— e contava 42 fogos. O censo de 1864 deu-lhe 44 fogos e 237 habitantes,— e ô de 1878 deu-lhe 52 fogos e 230 habitantes. Comprehende 3 povoações: — Egreja, Que- lha e Serrape. Demora em terreno muito saudável, mi- moso e fértil na linda ribeira ^Ancora e na margem direita do rio d'este nome, 1 do qual dista cerca de 1 kilometro para N.;— 3 (approximadamente), da linha férrea do Minho, — da estrada real a macadam n.° 4, de Vianna a Caminha,— da beira-mar, e da estação d'Aneora, na linha férrea do Minho, para E., mettendo-se de permeio a freguezia de Gontinhães;— § de Caminha;— 18 de Vian- na;— 100 do Porto— e 437 de Lisboa. 1 A Chorographia Moderna diz que está na margem esquerda do Coural Foi lapso. Está na margem direita do Ancora. ProducçÕes dominantes: — milho, vinho, trigo, centeio, fructa e hervagens, pelo que também engorda bastante gado bovino para a Inglaterra, posto que hoje esta industria se acha muito decadente. V. Villar d'Andorinho. Também é mimosa de caça dos seus mon- tes e de peixe do mar e do Ancora. Fregueziaslimitrophes:— Gontinhães a O.; —Riba d^ncora a E.— e a N. Azevedo, met- tendo-se de permeio os montes de Varaes, que são divididos pelas duas freguezias. A S. fica encravada entre as freguezias de Ri- ba d'Ancora e Gontinhães que tomam toda a margem direita do Ancora e não deixam tocar n'elle esta paroehia de Ville, estando aliás tão próxima do rio, aqui atravessado pela celebre ponte de Abbadim, entre as fre- guezias d'Ancora e Gontinhães. V. Abbadim, aldeia, vol. l.° pag. 10, col. 2." — e note-se que a dieta ponte não é me- tade do concelho de Vianna e metade do concelho de Caminha, como disse por lapso o meu benemérito antecessor no logar ci- tado. É toda do concelho de Caminha, porque a este concelho pertencem as duas freguezias d'Ancora e Gontinhães, posto que a fregue- zia d'Ancora está na margem esquerda do rio e por consequência devia pertencer ao concelho de Vianna. O chão d'esta paroehia estreita gradual- mente ao passo que avança para o sul e ter- mina d'este lado em semicírculo a menos de 150 metros d3 margem direita do Anco- ra?!... A ponte de Abbadim tem a avenida S. na freguezia d'Ancora. A avenida N. está na freguezia de Gontinhães, mas quasi que to* ca também n'ella a freguezia de Riba d'An- eora, pelo que pôde dizer-se que a mencio- nada avenida é n'este ponto a linha divisó- ria das duas freguezias. A ponte actual de Abbadim não è a ponte romana, como disse o meu antecessor. Essa estava cerca de 30 metros a jusante. Ainda lá se vêem claros vestígios nas duas mar- gens e não ha muito que d'ali se tirou al- 1410 VIL VIL guma cantaria para concerto das guardas da ponte actual que, segundo diz a tradição, é do tempo dos Filippes e nós assim o cremos, pois na dieta ponte se vê a data 1608. Ha lambem no Ancora, cerca de 1 kilo- metro a montante da ponte de Abbadim, umas alpondras para passagem no verão, — e a jusante, junto da capella de S. Braz, um pontão denominado Ponte da Torre, posto que hoje nas circumvisinhanças não ha tor- re ou fortalesa alguma. Ainda com relação á ponte de Abbadim a tradição diz que o mestre da obra vivia na próxima aldeia de Áspera, freguezia de An- cora, nas casas que hoje são dos herdeiros de Cypriano AíTonso e que estão no peque- no Largo de Santa Luzia, a uns 40 metros da ponte;— que, ouvindo em certo dia esta- lar os azimbres d'ella, suppoz que ella tinha desabado e tanto se assustou e impressionou que em breve morreu, — e que o grande ar- co da ponte ficou sem fecho. Ficaria, mas hoje está completo e não ac- cusa defeito; pelo contrario, apesar da sua grande altura, está muito solida e tanto que na grande cheia de 1865,— a maior de que ba memoria na Ribeira d' Ancora e que le- vou a antiquíssima ponte de Soutello e a no- va de 3 arcos junto da foz do Ancora, na estrada real a macadam, bem como todos ou quasi ;odos os moinhos do rio Ancora, o enorme volume d'agua cobriu as avenidas e o grande arco da ponte. Apenas ficou a des- coberto o centro do leito d'ella, por ser um pouco mais alto. A ponte oscillou, como vi- ram muitas pessoas que presencearam tão imponente espectáculo, mas ficou firme e firme se conserva ainda hoje, apesar dos seus 268 annos e do violentíssimo embate d'aquella enorme cheia e do grande volume d'arvores e madeira das casas e dos moi- nhos que a torrente levou d'envolta contra a ponte. Esta freguezia não tem estrada alguma a macadam, passa porem muito perto, como já dissemos, a estrada real n.° 4, e mais per- to ainda a districtal, que partindo da esta- ção d' Ancora deve entroncar na de Vianna a Ponte de Lima, seguindo por Gontinhães, Riba d'Ancora, Soutello, Orbacem, S. Lou- renço, etc, — estrada importante, porque ser- virá muitas freguezias da ribeira d* Ancora e do valle do Lima; infelizmente porem a sua construeção vae a passo de lesma! . . . A egreja matriz está muito bem situada no centro da freguezia e foi feita ou recon- struída em 1675. É esta a data que tem no púlpito— e no altar das Almas tem essou- tra:— 1676. Foi também reconstruída em 1867 com o subsidio de 1001000 réis dado pela Bulla da Ousada;— em 1876 fez-se de novo a capella-mór; — foi ampliada a sacris- tia,— e estucado e pintado o corpo da egre- ja. Fez-se também um novo campanário e n'elle se collocaram 2 sinos: — o do campa- nário velho e um outro mandado fazer de novo,— tudo a expensas do benemérito pa- rochiano Luiz Bernardo Gonçalves Pereira, filho de Antonio José Pereira e de Maria Gonçalves, casado com uma filha do com- mendador José Bento Ramos Pereira, natu- ral de Riba d'Ancora e rezidente no Porto, cavalheiro de muito merecimento e também generoso bemfeitor da egreja e freguezia de Riba d' Ancora, onde possue uma luxuosa vivenda. Luiz B. G. Pereira vive actualmente no Rio de Janeiro, onde é negociante, mas, em- bora longe da pátria, nunca esqueceu a ter- ra que lhe foi berço. Pelo contrario (honra lhe seja !) sempre lhe dedicou o mais entra- nhado affecto, como dedicam ao nosso paiz todos os portuguezes que constituem a nossa respeitabilissima colónia brazileira,-- gloria e orgulho de Portugal e inveja de todo o Brazil I . . . : A egreja está extremamente limpa e tem 4 altares: — o mór, onde se vê a imagem do padroeiro, e 3 lateraes, sendo um, o do la- do da epistola, dedicado ao Coração de Ma- ria— e os dois do lado opposto dedicados á Virgem do Rosario e Almas. A festa principal que hoje aqui se celebra è a do Corpo de Deus e Coração de Maria, simultaneamente, em fins d'abril ou princí- pios de maio. - Esta egreja teve o seu principio em uma VIL VIL 1411 capellinha de S. Sebastião que desde tempo immemorial esteve era um monte próximo, hoje povoado de pinheiros e denominado Pinheiral do Santo, nome que tomou da ve- lha capellinha, porque n'estes sitios e em grande parte do Minho o martyr S. Sebas- tião era e é denominado por antonomásia o Santo. Assim ainda hoje em Ancora e Gon- tinhães, onde ha duas capellas de S. Sebas- tião, as aldeias contíguas ás dietas capellas são vulgarmente denominadas aldeias do Santo — e os habitantes das mesmas aldeias são também conhecidos pelo appellido do Santo. Como a primitiva capella se achasse em ruinas e os habitantes de Ville, ou das po- voações da Eyreja, Quelha e Serrape, não tivessem outro templo, pois a sua egreja ma- triz era a do antiquíssimo convento benedi- ctino de S. Pedro de Varaes, muito distante 1 e comnrium também aos povos que hoje cons- tituem a freguezia de Azevedo (logo expli- caremos isto), resolveram restaurar a dieta capella de S. Sebastião e transferil-a, como transferiram, para o local que hoje oceupa no centro das dietas povoações, para ficar mais accessivel a todas. Finalmente, desli- gando-se os povos de Ville e d'Azevedo da egreja do convento de Varaes e constituin- do-se em parochias independentes, os de Ville arvoraram a dieta capella em egreja matriz— e o padroeiro d'ella S. Sebastião em orago e padroeiro da nova freguezia. SuppÕe-se que a dieta capella outr'ora estava approximadamente no sitio onde hoje se vé um dolmen, já sem cobertura, a meio do Pinhal do Santo de Ville, cerca de i ki- lometro a jusante do local que hoje oceupa a egreja. É possível que atèem outros tempos hou- vesse ali alguma povoação, mas ha muito que no tal sitio apenas se vêem as ruinas do dolmen. Tem esta freguezia residência parochial, — um pequeno passal — e um cemitério. De- mora este junto da egreja matriz, lado sul; 1 Cerca de 3 kilometros de péssimo cami- nho para N., em sitio alto, ermo e desabrido. — sobe-se para elle por 3 degraus, — tem fronteria de granito, porta de ferro e 18 me- tros de comprimento por 14 de largura; — foi benzido solemoemente no dia 28 de fe- vereiro do anno de 1886, assistindo ao acto differentes presbyteros das parochias cir- cumvisinhas — e terminou a benção com um TeDeum. Está muito decente e é o 2.° benzido na Ribeira d' Ancora. O 1.° foi o da parochia de Riba d' Ancora. Benzeu-se no dia 9 d'outu- bro de 1885, havendo por essa occasião festa apparatosa, Te Deum, missa cantada e ser- mão allusivo ao assumpto; — o 2.° foi este de Ville;— o 3.° foi o de Freixieiro de Sou- -tello. Benzeu-se no dia 10 de outubro do anno de 1886 e é um dos mais espaçosos e mais luxuosos da Ribeira d' Ancora. Tem 36 me- tros de comprimento — 28 de largura— e de- mora também a pequena distancia da egreja parochial; mas de todos os d'esta ribeira o mais vantajosamente situado e que está pres- tes a concluir-se, é o da freguezia d'Ancora. Está mesmo em frente da porta principal da egreja, mettendo-se de permeio apenas o adro. Tem frontaria de granito, portão de ferro, etc. Antes da construcção do cemitério de Ville, os enterramentos eram feitos no adro. Fabricou-se outr'ora n'esta freguezia boa telha e tijolo em abundância, mas acabou a dieta industria por falta de matéria prima. A telha e tijolo que se gastam hoje aqui veem da freguezia d'Alvarães, concelho de Vianna. Também pesou cruelmeute sobre esta pa- rochia de Ville a medonha trovoada de que já se fez menção no artigo Mollêdo, vol. 5.° pag. 370, col. e que assolou varias fre- guezias d'este concelho no dia 10 de junho de 1874. A saraiva tinha o volume de ovos de pom- ba;— fazia um ruido assustador — e destro- çou vidros, arvores, videiras e todos os re- novos dos campos, causando prejuisos ava- liados em mais de 50 contos de réis I . . . De passagem diremos que o Flaviense, o Port. S. e Profano e a Chorogr. Port. deno« 1412 VIL VIL minam esta parochia Villa e não Ville, co- mo hoje a denominam todos. Convento de Varaes Houve ao norte d'esta freguezia, no monte que a separa da freguezia d'Azevedo e que é uma projecção da serra d'Arga, um con- vento benediclino antiquíssimo, talvez do século vii, como o de S. Salvador de Ma- nhente e o de S. João d'Arga l. Era o dieto convento denominado de S. Pedro de Varaes; — deu o nome ao dicto mon- te— e estava precisamente no sitio onde ainda hoje se vê a capella de S. Pedro de Varaes, outrora egreja do extincto convento e que durante muitos séculos foi egreja parochial dos povos que hoje constituem a freguezia d' Azevedo a N. e esta de Ville a S. — desde 1640 a 1641. É isto o que dizem a Chorogr. Port., a Descripção da Villa de Caminha e a tradi- ção, mas a Benedictina Luzitana nem sequer menciona tal convento, o que muito estra- nhamos, pois temos dados que nos levam a crer não só que elle existiu e foi dos frades bentos, mas que teve rendas próprias de certa importância. O padre Carvalho, fallando da freguezia de de S. Miguel d'Azevedo, diz: «Esta freguezia e a que se segue (S. Se- bastião de Ville) eram ambas huma, e então a parochia em S. Pedro de Varaes, que ain- da hoje (1706) se vê na cerca, e foi mosteiro da Ordem de S. Bento, e seu Commendata- rio Fernão Velho, que em Jium praso que fez a Lucrécia Lobo, se intitula Abbade Rey- tor, como consta do original, que vi em Viana, em mão de Afonso Pereira da Silva, senhor d'este praso.» Os povos das duas mencionadas fregue- zias tornaram-se independentes e constitui- ram-se em freguezias próprias para evita- rem o incommodo de demandarem a matriz que estava distante e completamente isolada no meio do monte. Foi isto pelos annos de 1640 a 1641, pois o estatuto da irmandade de Santo Isidoro * diz que em 1641 se aggregaram á dieta ir- mandade estas duas freguezias que se haviam separado, pelo que a irmandade de Santo Isidoro, que atê aquella data comprehendia só 14 freguezias, ficou comprehendendo 15. Também é certo que esta parochia de Ville e a de Azevedo, depois da desmembra- ção, ficaram pertencendo ao convento bene- dictino de Tibães, do qual passaram para o collegio benedictino de Coimbra, por terem sido dos frades bentos antes da separação. A mesma capella de S. Pedro de Varaes ainda hoje revela muita antiguidade e em uma das suas paredes se vêem claros vestí- gios de ligação com o extincto convento, cuja fabrica devia ser modesta e humilde, come a de todos os primitivos conventos de monges. Dividida em duas a antiga parochia de S. Pedro de Varaes, ficou a velha matriz per- tencendo a esta parochia de Ville, cujo pa- rocho todos os annos no dia de S. Pedro cos- tumava ir cantar a missa do antigo padroei- ro na velha matriz de Varaes, o que era bastante violento para o parocho e mais ain- da para os paroehianos, porque ficava a no- va matriz sem missa e elles tinham de ir ou- vil-a a Varaes, o que os determinou a cede- rem a antiga capella aos habitantes d'Aze- vedo, que ha muito reclamavam e preten- diam chamal-a sua, tendo havido por causa d'ella varias pendências entre os dois po- vos 2; mas em breve reconheceram os mes- mos inconvenientes que determinaram os habitantes de Ville a ceder-lh'a. Os de Azevedo por seu turno a cederam á irman- dade de Santo Isidoro, que a reparou e con- serva, para satisfazer a um clamor annual do seu compromisso. Vae ali a irmandade com o dicto clamor na sexta feira da segunda semana da qua- resma, em cumprimento de um antigo voto. É este hoje o único dos muitos clamores que ali costumavam ir em outros tempos. 1 V. Gondinhães, vol. 3.°, pag. 306, col. I.8,— e Arga (S. João de) vol. l.° pag. 238 M, col. 2* 1 V. Mollêdo, freguezia d'este concelho de Caminha, vol. V, pag. 369, col. 2.» e segg. 2 V. Azevedo, vol. 1.° pag. 292, col. 2.». VIL VIL 1413 Principia o clamor em um cruzeiro que está no meio d'uns rochedos a juzante da capella e termina com missa cantada e ser- mão, depois de cantarem a ladainha dos san- tos. Na dieta capella se vé ainda hoje (1886) uma sepultura metida na parede e ha me- moria de se encontrarem ali outras sepul- turas semelhantes. A cerca do convento era espaçosa;— está hoje transformada em uma grande bouça— e em 1834 pertencia aos frades de Tibães. Abundavam também n'esta parochia ter- ras foreiras, pertencentes a diversos senho- rios e que originariamente foram de um convento, que se suppõe ser o de Varaes; mas com o decorrer do tempo todos aquel- les foros se acham remidos e as terras li- vres e allodiaes, pelo que esta parochia, apesar de pequena, é hoje remediada. Pôde até dizer-se rica. Felix Pereira e Luiz do Rego foram os di- rectos senhorios do grande praso de Varaes, depois da extineção do convento de Tibães. A cerca foi do visconde da Torre das Do- nas (Joaquim d'Azevedo) ao qual a comprou o rev. José Pires Cubai, hoje seu possuidor, — e no tombo se mencionavam outras cer- cas, feitas com pedras altas em terreno bal- dio,— cercas que o visconde da Torre das Donas despresou e deixou aos moradores d'esta parochia Do exposto se vé que uma grande parte do chão d'esta freguezia pertenceu ao dicto convento de Varaes. Rectificações Esta parochia de Ville nunca esteve uni- da á de Gontinhães, mas somente á âe Aze- vedo quando ambas formavam uma só e tinham por matriz commum a egreja do convento de Varaes; diz porem a tradição — que em tempos muito remotos todos os habitantes da Ribeira d'Ancora formavam uma só freguezia, cuja matriz era a capella de S. Braz, que ainda hoje se vê na veiga I 1 V. Gondinhães e Azevedo, logar citado, i d'este nome, junto do rio Ancora, na mar- gem direita d'elle. É certo que o adro da dieta capella, hoje povoado de oliveiras e sovereiros, foi ou- trora cemitério, pois ali se teem encontrado sepulturas antiquíssimas. Ainda ha poucos annos a família do rev. José Pires Cubai, que possue um campo fronteiro ao adro, em cer- tas escavações que fez no caminho que passa entre o dicto campo e o adro, encontrou se- pulturas feitas de pedras quadradas, com uma pequena lousa sobre a cabeceira, con- tendo ossada» humanas que, apenas se ex- poseram ao ar, de repente se transformaram em pó. Do exposto se vê que estes sitios foram habitados desde tempos muito remotos, in- clusivamente pelos celtas, como prova o dol- men, de que já fizemos menção e que já foi reconhecido e estudado pelo sr. dr. Martins Sarmento, dislincto archeologo de Guima- rães,— e o dolmen já indicado pelo meu be- nemérito antecessor. V. Gondinhães e note-se: 1. ° — Que assim como o meu antecessor estranhou ninguém ter descoberto até aquel- la data o dolmen indicado por elle, alguém estranha que elle, demorando-se bastante tempo n'esta ribeira d'Ancora, como admi- nistrador que então era da casa do Covo1, não reconhecesse o outro dolmen do Pinhal do Santo de Ville, estando aliás muito pró- ximo, distante apenas 1 kilometro do de Gontinhães, ou da Barrosa, para E. 2. °— Que no mencionado artigo (V. Gon- dinhães, tomo 3.° pag. 306, col. 2." in-prin- cipio) — estranhou não achar n'esta ribeira d'Ancora vestígios alguns de mamoas, tendo reconhecido muitas no termo da freguezia d'Ancora. V. vol. 1.° pag. 213, col. 1.» in- principio. 3. ° — Que a veiga de Sapor, indicada no ar- tigo Ancora, pertence a esta parochia de 1 V. Covo e Villa Chã, vol. XI, pag. 683, col. 1.» De passagem diremos que a nobre casa do Covo já vendeu todas as propriedades que por aqui possuía. 1414 VIL VIL Ville. Demora a S. dos Pinhaes do Santo e está unida a elles. 4. °— Que a veiga de Batalhoz, (vulgo Ta- lhoz) ali também indicada, prende com a de Sapor, mas pertence à freguezía de Gonti- nhães. 5. °- Que não ha hoje na ribeira d' Ancora veiga alguma com o nome de Balthasares. 6. °— Que a veiga de S. Braz também se denomina veiga dos Ibres e dos Hebres. Ainda o dolmen O sr. dr. Francisco Martins Sarmento, de- pois de visitar este dolmen, dedicou-lhe no Pero Gallego, jornal de Vianna, em abril de 1882, um artigo que vamos extractar: • O monumento está muito arruinado. Ninguém se lembra de o ter visto com a res- pectiva mesa, mas ainda existe o individuo que aproveitou parte dos seus supportes para um lagar»— e diz que o tal homem n'essa oceasião encontrou ali um objecto de pedra, que talvez fosse um punhal de rocha dioritica despontado. • A anta de Ville 1 conserva ainda uma das pedras trazeiras, um supporte inteiro e ou- tro traçado pelo meio, mas apesar de estar consideravelmente mutilada, nenhuma du- vida pode haver de que é um monumento do mesmo typo que a Lapa dos Mouros (o dolmen de Gontinhães) supposto que de mais pequenas dimensões. Em compensação a ma- moa de Ville pôde dizer-se perfeita, e mos- tra á ultima evidencia que cobria toda a anta. . . » «A sua orientação era a mesma que a da anta da Barrosa 2. Contra a minha expecta- tiva, a exploração d'este terreno volvido, e revolvido, apenas produsiu uma ponta de se- ta de quartzo branco, outra de silex escuro de uma delicadeza extrema, e uma macha- dinha inteira, de matéria pouso differente da encontrada na Lapa dos Mouros (dolmen de Gontinhães). — Um pedaço de schisto, 1 O sr. dr. Sarmento denomina anta o que outros denominam dolmen. 2 Refere-se ao dolmen de Gontinhães, que está na veiga da Barrosa. Ambos olham pa- ra o nascente. P. A. F. mostrando visivelmente ter servido de poli- dor ou afiador, pertence de certo á me9ma epocha d'estes instrumentos de pedra. Não é a primeira vez que os tenho encontrado juntos. . •» Ainda como prova da remotíssima occu- pação d'estes sitios, mencionaremos o Monte da Osseira, cujo nome revela grande batalha e grande carnificina em tempos de que não ha lembrança. Demora a leste do exlincto convento de Varaes, no termo d'esta paro~ chia de Ville,— e na vertente sul do dieto monte ha um grande morro denominado Çurucho dos Mouros, muito defensável, que foi oceupado e fortificado in Mo tempore I ... É formado por medonha penedia muito Íngreme, escalvada e nua; — termina em um planalto de difficil accesso— e fui defendido por importantes obras d'arte, de que ainda hoje se vêem claros vestígios:— restos de muros e de fossos e grandes movimentos de terra. Ainda em 1833 a 1834, por oceasião da lucta civil entre D. Pedro e D. Miguel, ali se deu o ultimo feito d? armas. Indo a este valle de Ancora uma grande escolta para prender muitos milicianos mi- guelistas desertores, pertencentes a esta pa- rochia de Ville e ás de Azevedo, Goutinhães, Venade, Riba d'Ancora e outras, os taes de- sertores, em numero de mais de 100— e to- dos armados,— fugiram para o monte de Va- raes. Vendo-se perseguidos pela escolta, su- biram para o tal Curucho dos Mouros e d'ali fizeram fogo sobre a escolta, obrigando-a a bater em retirada e a deixal-os em paz. É um miradouro lindíssimo. A pequena distancia do tal Curucho dos Mouros ha um sitio denominado Chão da Vermelha e outro Cabeça ou Cabeço de Ferro' Este ullimo tornou-se tristemente notável» porque nos princípios d'este século um mal- vado ali assassinou barbaramente uma mu- lher com uma faca e depois, para desviar de si as provas do crime, arrojou a faca para um fragoedo ínaccessivel, onde foi vista du- i fante muitos annos por differenies pessoas ' de Ville, quando iam colher matto n'aquel- les sitios. VIL VIL 1415 José Fernando Pereira Deville Com razão se orgulhara esta parochia e este eoncelho de contar entre os filhos mais beneméritos o sr. José Fernando Pereira De- ville, actualmente professor no Lyceu Na- cional d'Evora,— cavalheiro muito estimado e considerado pela sua não vulgar illustra- ção e pela nobresa de sentimentos e encan- tadora affabilidade que o distinguem. Ao seu nome erigiu perdurável monu- mento o sr. D. Antonio da Costa no seu for- moso livro Auroras da Instrucção, pag. 71. Nasceu1 n'esta parochia de Ville, que to- mou por appellido;— foram seus paes Luiz Fernandes Pereira e Maria Gonçalves; — cursou o Lyceu e o Seminário de Braga; — em 1853 foi despachado para Caminha como professor de latim;— em 1859 foi transferido para Alcobaça;— em 1866 para Estremoz— « em 1880 para o Lyceu Nacional d'Evora. Casou em Extremoz com D. Maria Caro- lina Segurado, da casa histórica d'Evora Monte (V.) onde em 1834 se celebrou a con- venção que poz termo á lucta civil entre D. Miguel e D. Pedro. A dieta senhora falleceu em 1882 e era viuva do coronel Rodrigo Maria Cordeiro Vinagre, irmão do Morgado da Talha. Durante a sua residência em Estremoz foi o sr. Deville eleito vereador da camará em 3 biennios successivos, oceupando sem- pre o logar de presidente com louvor e dei- xando de si memoria honrosissiina, pois não só restaurou a cadeia da villa e a egreja do extincto convento franciscano, mas fundou a Bibliotheca municipal e o Muzeu annexo, inaugurados solemnemente no dia 2 de maio de 18b0, o que lhe mereceu do governo uma lisougeira portaria de louvor. V. Estremoz n'este diccionario e no sup- plemento. Já depois de transferido para Évora foi (em 1881) eleito procurador á junta geral do districlo por Estremoz e durante o exer- cício d'este cargo tem sido desde 1882 eleito pela mesma junta membro effectivo da res- 1 Em 23 d'abril de 1832. pectiva commissão executiva e vogal da commissão inspectora da Escola Normal. Ao meu illuslrado amigo e collega, o rev. sr. Manuel José Gonçalves, filho ^Anco- ra, agradeço os apontamentos que se dignou enviar-me. VILLELA,— freguezia do concelho e co- marca de Amares, distrieto e diocese de Braga, província do Minho. Abbadia Orago S. Thiàgo apostolo,— fo- gos 86,— habitantes 390. Em 1706 era abbadia da mitra; — rendia 150$000 réis;— pertencia ao concelho de Santa Martha de Bouro, comarca de Vian- na, — e contava 100 fogos. Em 1768 era abbadia da mesma apresen- tação;— rendia 350^000 réis — e contava 96 fogos. O censo de 186i deu-lhe 86 fogos e 426 habitantes,— e o de 1878 deu-lhe 87 fogos e 398 habitantes. Segundo se lê na Chor. Moderna compre- hende as aldeias seguiDtes: — Assento, sede da parochia,— Fontes, Cabaduço, Traz de Devesa, Pomariuho, Monte, Carvalho, Pi- nheiro, Quialães, Faquiães, Chouzellas, Li- nharelho, Portella do Valle e Charilhe. Freguezias limitrophes: — Guães a E.; — Seramil a N.;— Paredes Seccas a O.— e Dor- nellas a S. Producçõe3 dominantes: — cereaes, casta- nhas, batatas, vinho verde e lã, pois também cria gado vaccum e lanígero. Demora em terreno muito escabroso e ac- cidentado na vertente meridional do monte de Santa Cruz, ramificação da serra do Ge- rez,—e o logar do Assento dista 4 kilome- tros da margem direita do Cavado para N. O.;— 4 da villa de Amares para N.; — 5 da margem esquerda do rio Homem para S. E. —8 de Villa Verde para E.;— 19 de Braga (por Villa Verde); — 74 dó Porto— e 411 de Lisboa. Foi da comarca de Vianna;— d'esta pas- sou para a de Braga, — depois para a de Villa Verde — e por ultimo para a de Amares. Administrativamente pertenceu ao conce- lho de Santa Martha de Bouro, extincto pelo 1416 VIL VIL decreto de 31 de dezembro de 1853, pelo qual passou para o de Amares — e lambem uma parte d'ella pertencia ao concelho de Paredes Seccas, extincto pelo mesmo de- creto de 31 de dezembro de 1853. Não tem estrada alguma a macadam; pas- sava porem ao norte d'esta freguezia a ce- lebre estrada da Geira. Tinba ella aqui um marco milliar que esteve e não sabemos se está ainda no alpendre ou gallilé da matriz, com a inscripção seguinte : Ha: Astula: icaul. g: c. bav TO QUIRINALi: VAL. S. Festo leg. Avg: M. P. X. Assim a deu Fr. Bernardo de Brito na Monarchia Lusitana, parte 2.*, pag. 50, v.; — d'ali a copiaram Argote {Memoriai, tomo 2. ° pag. 536, v. — e De Antiquitatibus, vol. 3. ° das dietas Memorias, pag. 292) — bem co- mo o dr. Levy Maria Jordão, — Portugaliae Inscripliones, pag. 57, n.° 150. A inscripção é a mesma. Apenas se no- tam algumas pequenas variantes provenien- tes das differentes copias. Quer dizer: que Rancio da familia Quirina e Valério Festo, legados do imperador, fo- ram os intendentes da reedificação d'aquella estrada — e que de Astula a Braga eram 10:000 passos, ou duas léguas e meia. Alem da egreja matriz, que é um templo modesto, ha n'esta freguezia 2 capellas par- ticulares: l.a — Senhora da Conceição. Demora no logar e quinta do Pinheiro e foi feita no anno de 1747 por ordem e á custa de Domingos Loureiro, natural da freguezia de Valdozende, concelho de Ter- ras do Bouro e senhor da mencionada quin- ta, então residente no Rio de Janeiro, im- pondo-lhe a obrigação de uma missa quoti- diana e 3 festas:— uma no dia da padroeira, —outra no dia de Santo Antonio — e outra no dia de S. Gonçalo; mas ha muito tempo nada d'isto se cumpre. É actualmente possuidor da quinta e Ca- pella Manuel Joaquim Ramalho, da dieta pa- rochia de Valdozende. 2.a— Santo Antonio. Demora na povoação de Chouzellas e foi mandada fazer em 1851 pelo rev. Antonio José Gonçalves d' Azevedo, natural d'esta fre- guezia, impondo lhe a obrigação de duas missas annuaes: — uma no dia de S. José— outra no dia de Santo Antonio. VILLELA, — freguezia do concelho e co- marca da Povoa de Lanhoso, distrieto e dio- cese de Braga, província do Minho. Abbadia. Orago S. Miguel;— fogos 144, — habitantes 602. Em 1706 era abbadia da apresentação da mitra; — pertencia ao termo e concelho de Lanhoso, comarca de Guimarães; —rendia 200#000 réis— e contava 60 fogos. Em 1768 era da mesma apresentação; — rendia 3501000 réis— e contava 96 fogos. O censo de 1864 deu-lhe 140 fogos e 574 habitantes,— e o de 1878 deu-lhe 139 fogos e 560 habitantes. Nos apontamentos que me enviou em 1884 o digno administrador d'este concelho disse que esta parochia comprehendia 2 aldeias e 33 quintas ou herdades principaes;— em ou- tros apontamentos que o seu digno parocho mais tarde me enviou, deu-lhe 5 aldeias: — Ribeira, Outeiro, Santa Catharina, Paço No- vo e Pomar Maior;— e o sr. Antonio Julio Rodrigues d'Azevedo Coutinho, nos aponta- mentos qne se dignou enviar me lambem, disse:— «não ha n'esta parochia aldeias pro- priamente dietas, mas simplesmente logares com mais ou menos habitações. São os se- guintes:—Boa Vista, Chão, Boucinha, De- vesa, Monte, Outeiro, Paço Novo, Paço Ve- lho, Poça da Villa, Ribeira, Portella, Pomar Maior, S. Thomé e Santa Catharina». A Chorogr. Mod. ainda acerescenta os se- guintes:—Lama, Telhado e Chã. Das suas 33 quintas apenas mencionare- mos as mais importantes: S. Domingos, de José Ferreira Guimarães. Tapada, de Manuel Pereira. Outeiro, de Manuel Antonio Velloso d'Al- meida. Pomar Maior, de Antonio Fernandes da Silva Villela. Paço Novo, de Francisco Manuel Soares d'Almeida. VIL VIL 1417 Freguezias limitrophes: — Campo, Galle- gos, Garfe, Louredo, Thaide e Fontearcada, todas deste concelho. Producções dominantes: — milho grosso, vinho verde, centeio, feijões, azeite, fructa, linho e hervagens, pelo que também cria muito gado bovino e depois de gordo o ex- porta para a Inglaterra, posto que hoje esta industria se acha decadente. V. Villar d' An- dorinho. Não cria gado lanígero. É também mimosa de caça dos seus mon- tes e de peixe dos seus rios, — nomeadamen- te de trutas. O seu vinho é verde ou rascante, mas de superior qualidade, principalmente o da quinta de S. Domingos, — e nos últimos an- nos tem sido exportado por bom preço para a França, como todo o do Minho, da Bairra- da, da Beira e da Extremadura. V. Villa Verde, séde de concelho,— Villar dAndorinho, vol. XI, pag. 1189— e Villari- nho do Bairro. Demora na margem direita do Ave, do qual dista 1 kilometro (a egreja matriz) pa- ra N.;— 4 da Povoa de Lanhoso para S. E.; — 17 da cidade de Guimarães e da estação terminus (a mais próxima) na linha férrea de Guimarães á estação da Trofa, entronca- mento na linha férrea do Minho; — 19 de Braga; — 73 do Porto pela linha de Guima- rães e 74 pela de Braga, — e 410 ou 411 de Lisboa. Atravessa esta freguezia a estrada distri- ctal a macadam da Povoa de Lanhoso a Gui- marães,—e nas Caldas das Taipas entronca na estrada real n.° 23, de Ponte de Lima ao Peso da Regoa, por Braga e Guimarães. Banha esta parochia ao sul o rio Ave, se- parando-a da freguezia de Garfe, o quai tem aqui uma ponte de pedra, denominada do Barreiro, para communicação das duas fre- guezias. Banham -n'a também os ribeiros da Povoa e de Vides, confluentes do Ave; — desa- guam na margem direita d'elle, no termo d'esta freguezia, e ambos movem 8 moinhos de eereaes, sendo 5 de moagem particular — e 3 de moagem para o publico. S O ribeiro de Vides tem 2 pontes : Porta- j gido e Lameiro. — e o da Povoa 3:— Gani- douro, Leiras e Ponte Velha. Ha pois u'esta freguezia 6 pontes de pe- dra,—8 moinhos — e uma azenha com 2 ro- das no Ave, um pouco a montante da ponte do Barreiro. Segundo se lê na Chorographia Portugue- za, houve n'esta freguezia 2 torres muito antigas uo Paço de Villela, de que foi senhor Matheus Mendes de Carvalho. Das mencionadas toires nada, absoluta- mente nada hoje existe alem da memoria, porque a casa do Paço Velho ou de Villela, solar dos Villelas, foi vendida a João Anto- nio da Silva Vaz, do lugar de Simães, fre- guezia de Fontearcada, já fallecido, que man- dou demolir os restos das duas torres, em- pregando a excelleute cantaria d'ellas na mesma casa e em paredes de prédios rústi- cos. Deu slle esta casa em dote a sua filha D. Maria da Silva Ferreira, quando casou com José Joaquim Ferreira de Mello e An- drade, da nobre casa das Agras, freguezia de Fontearcada, e estes a doaram ao seu filho Alvaro Herculano Ferreira de Mello e An- drade, a quem actualmente pertence. Esta parochia não tem hoje edifícios no- táveis. Os mais importantes são os seguin- tes : 1. °— A casa de Manuel d'Almeida, no lo- gar do Outeiro, a qual foi de seu tio, falle- cido na mesma casa e solteiro, — Damião de Sousa Leite. 2. °— A casa de Manuel José Fernandes, na Portella, e que a herdou de seu pae Manuel Fernandes. 3. °— A casa de José Daniel Barbosa e Cas- tro, na aldeia do Monte, e que foi dos seus paes e avós. Nenhuma d'ellas é brazonada, nem mesmo a do Paço de Villela, depois do vandalismo porque passou. Templos l.°—A egreja matriz. Demora era sitio alto, enxuto, alegre e vis- toso no centro da freguezia;— é elegante e 1418 VIL VIL espaçosa; — está limpa e bem conservada;— tem altar-mór, onde está o Santíssimo, e 5 : lateraes: — Senhora 'das Dores, Senhora do Rosario, Coração de Maria, Senhor dos Pas- sos e Salvador, com a invocação das Cinco J Chagas. Tem côro, boa sacristia, etc. Foi este templo construído em 1755 a. 1764, pois em um livro de Visitas que se guarda no archivo parochial, se lê que em 1755, no tempo do arcebispo D. José, man- dou o visitador que se edificasse a igreja — e no capitulo da Vizita de 1764 achou a já concluída, pelo que louvou o abbade Manuel do Valle Araujo e os seus parochianos, sen- do já arcebispo D. Gaspar. É de architectura dórica e elegante, ape- sar do que soffreu com as obras posterio- res, pois para ampliarem a sacristia taparam uma das janellas da egreja e cobriram um lanço de cornija, do lado do Evangelho.— Também demoliram o campanário, fazendo outro a pequena distancia d elia, com o que lhe alteraram a fronteria e em parte a enco- briram 2. ° — Capella da Senhora das Maravilhas, na povoação de S. Thomé. Está bem conservada e é publica. 3. ° — Capella da Senhora do Ó. É maior do que a antecedente e de archi- tectura dórica elegante e custosa; — pertence á casa do Valle, da aldeia do Paço Novo, mas infelizmente já não tem imagens e está profanada e transformada em adega?!... Causa dó, mesmo porque é muito mais an- tiga do que a egreja parochial. As festas principaes que hoje se celebram n'esta parochia, todas na matriz e sem ro- magens, são as do Santíssimo Sacramento, — S. Miguel Arehanjo (o padroeiro) — e S. Sebastião. Esta freguezia, além dos seus estabeleci- mentos de moagem, não tem fabricas, mas tece muito linho em teares singelos e de systema antigo, movidos a braço. Tem uma escola offlcial de instrucção pri- maria para o sexo masculino e duas parti- culares, também de instrucção primaria, para- os dois sexos. Os 3 maiores proprietários d'esta fregue- zia na actualidade são: — Manuel d'Almeida e o rev. Firmino Fortunato de Sousa Leite, ambos da povoação do Outeiro, — e José Da- niel Barbosa e Castro, da povoação do Monte. Clima temperado e saudável. Não ha aqui doenças predominantes. Nunca foi villa nem teve foral próprio. Esta freguezia teve um bom passal, que foi desamorlisado em 1876 e arrematou-o em hasta publica por menos de metade do seu valor, Constantino Rodrigues da Costa, da freguezia de Oliveira, d'este mesmo conce- lho, fallecido na cidade do Porto, pouco tem- po depois. É hoje do seu irmão e herdeiro Sebastião Rodrigues da Costa. Por descuido do parocho d'aquelle tempo, nem uma simples horta foi reservada, como a lei permitte. Ficou apenas para os abbades a residên- cia parochisl. Em frente da matriz ha um cruzeiro que tem a data 1684. Ha n'esta freguezia uma pobre lapide, já mutilada e muito antiga. Tem andado a bal- dão e hoje está junto do alpendre do passal, a pouco mais de 50 metros da egreja. Diz o meu informador que não foi marco milliario Í mas talvez lapide sepulcral;— tem de com- primento 0°\60; — de largura 0m,40; — de es- pessura 0m,20 — e restos de uma inscripção, em que hoje apenas se pode ler o seguinte: ... Te: ... II F... Ao norte d'esta freguezia estende-se o monte da Ganidoura até á freguezia de Fou- tearcada ; pertence aos moradores de Vil- lela parte d'elle e dos montes de Gallegos e Louredo, — diz um dos nossos informadores; — outro diz que no monte denominado de Villela ha uma enorme lagea, conhecida pelo nome de Laja de-Villa, onde se secca o mi- lho d'esta parochia, podendo estender-se ali a um tempo quarenta moios ?!. .. V. Villares, freguezia do concelho de Trancoso, onde fizemos menção d'outra eira semelhante, que é o assombro e inveja d'a- quelles sitios. VIL VIL 1419 Factos memoráveis Houve, ha annos, aqui dois incêndios pa- vorosos:— um na casa das Ribeiras, que foi toda pasto das chammas, perecendo no gran- de incêndio o dono d'ella— João do Valle; —outro na casa de Domingos José de Cas- tro. No dia 16 de maio de 1846, por occasião da revolução da Maria da Fonte ou do Mi- nho, assim denominada porque n'ella se dis- tinguiu muito esta província e particular- mente, o concelho de Vieira e este da Povoa de Lanhoso, que se orgulham de ter dado o berço — aquelle ao padre Cazimiro, notável guerrilheiro intitulado general defensor das Cinco Chagas ,— e este á celebre Maria da Fonte, que se tornou lendária e eclipsou a gloria do próprio padre Cazimiro, 1 — alguns guerrilheiros quizeram tirar violentamente as armas aos habitantes d'esta freguezia. es- tes porem reagiram e os repelliram a fogo. Os taes guerrilheiros juraram desforço, mas não se exposeram a nova tentativa. Em 1809 muitos habitantes d'esta fregue- zia e das circumvisinhas tentaram oppor-se i V. Porto. vol. VII, pag. 366, col. 2.'-- j Gramido, Snbroso, Verêa de Bornes, Vian- na do Castello, vol. X. pag. 409, col. 1.» e sp per, — Villa Pouca $ Aguiar, vol. XI, pa» 906, col. 2.a— Val de Paços, vol. X.— Villa Nova de Foscôa, vol. XI, pag. 842, col. 2."— Paus, vol. VII, pag. 510, col. 1.» e segg.— o livro Apontamentos -para a historiada revo- lução do Minho em 1846, ou da Maria da Fonte pelo padre Cazimiro (Braga, Typog. Lusitana, 4883) — o outro livro Maria da Fonte por Camillo Castello Branco (Porto, Livraria Cívilisação, 1885)— e a colleeção do jornal A Maria da Fonte, que desde janeiro do corrente armo (1886) se publica na Po- voa de Lanhoso e de que é redactor princi- pal o sr. Antonio Julio Rodrigues d\Azevedo Coutinho, um dos nossos informadores. De passagem diremos que é hoje muito diíhYil e talvez impossível averiguar com certesa quem foi a tal heroina que deu o no- me á revolução popular de 1846— e a terra onde nasceu. V. Maria da Fonte e Povoa de Lanhoso no supplemento. 1 á invasão do exercito francez no monte de Ganidoura, mas foram cruelmente rechaça- dos. No jornal A Maria da Fonte, de 7 de fe- vereiro do corrente anno, se descreve a triste occorrencia nos termos seguintes : «O CUME DOS TRES NOMES (Scenas da guerra peninsular) A sueste e nos subúrbios d'esta villa (Po- voa de Lanhoso) levanta-se o monte de Ga- nidoura, que em 1812 foi dado de fôro pela camará aos habitantes das freguezias de Vil- leia e Fonfearcada. Em 1809, quando o exercito francez pisa- va o solo luzitano para conquistar a pérola da península e o reino preparava-se para a defesa com os poucos elementos de que po- dia dispor, o cume do monte de Ganidoura foi theatro de uma scena de saDgue. O capitão de ordenanças João Baptista, da casa d' Alem, freguezia de FonfArcada, que- rendo defender os seus conterrâneos, collocou no cimo do dicto monte uma peça d'artilhe- ria, para d'ali fazer frente ao inimigo. Ficou então aquelle sitio denominado— Alto da Peça. Constando na manhã do dia 15 de março do referido anno, que a artilheria n °4e al- guns corpos de milicianos se batiam em Sa- lamonde com as tropas invasoras, o capitão Baptista reuniu no Alto da Peça todo o povo que vinha retirando e na tarde do mesmo dia eslava aquelle sitio coalhado de gente. No dia immediato foi a peça experimentada, sendo com ella disparados alguns tiros so- bre uma columna de tropa franceza que a tres kilometros de distancia marchava pela estrada real. O general Corvoisieu mandou uma forte brigada em observação ao ponto d'onde eram ameaçados. Travou-se a peleja durante pouco tempo, porque foi tal a mor- tandade nos paisanos que ficou o sitio jun- cado de cadáveres. Desde então o cume do monte passou a denominar-se Alto da Matança. Ha annos foi ali collocado por ordem do governo um marco de granito para a confec- 1420 VIL VIL ção do mappa geodésico, e desde esse tem- po tornou-se roais conhecido aquelle monte pelo nome de Outeiro do Marco.* Na mesmo periódico (n.° 4 de 24 de ja- neiro do corrente anno de 1886) se lé o se- guinte : Pesca no monte e caça no rio\ i «O sr. Antonio José Pereira, da freguezia de Villela, andando á caça nas fraldas orien- taes do monte da Ganidoura, encontrou jun- to d'um rego, que conduz a agua d'umas po- ças próximas, uma grande enguia viva, que decerto viera na agua, pois que o rego es- tava ainda molhado. Dias depois, indo o mesmo individuo pes- car ao rio Ave e estando de rede armada, occulto com uns amieiros, viu uma lebre, que açoada por uns rapazes se dirigia para o rio, ao qual se lançou a nado. O caçador, com metade do arco da rede fóra d'agua es- perou a lebre, que casualmente entrou na armadilha, sendo tirada viva para terral São dois casos singulares, e que pessoa fidedigna nos garante como verdadeiros.» Vae pelo mesmo preço. Paço Novo Terminaremos dizendo que a aldeia de Paço Novo tomou o nome de uma casa no- bre muito antiga que ali houve, denominada Paço Novo com relação á do Paço Velho ou das Torres, solar dos Villelas, dos quaes ain- da hoje se apontam descendentes n'esta fre- guezia e na de Fontearcada. Achando-se em ruinas o Paço Novo foi a sua pedra vendida, approximadamente em 1850, e desde essa data o chão que occupou está cultivado e sem vestígios alguns de construcção ? 1 . . . Também consta que á dieta casa os habi- tantes d'esta freguezia pagavam muitos fo- j ros, mas que por accordo com o directo se- i nhorio se obrigaram a leval-os á casa do Castro, no concelho de Amares, que era do mesmo dono— o conde da Figueira,— e que este os vendeu approximadamente em 1870 a um iDdividuo de Braga, que ainda hoje os recebe na dieta casa do Castro. Ao rev.° sr. Manuel de Freitas Ribeiro, abbade d'esta freguezia,— e ao sr. Antonio Julio Rodrigues d'Azevedo Coutinho, inven- tor de uma engenhosa machina de sommar e illustrado redactor do jornal A Maria da Fonte, agradeço os apontamentos que se di- gnaram enviar me. VILLELA, — freguezia do concelho e co- marca de Paredes, districto e diocese do Porto, província do Douro. Reitoria. Orago Santo Estevam; — fogos 270— habitantes 1:150. Em 1706 era curato da apresentação dos frades eruzios do convento da Serra, no Por- to, para os quaes rendia 800^000 réis e para o pobre cura 35$000 réis; — pertencia ao termo e concelho d'Aguiar de Sousa, comar- ca do Porto, — e contava 145 fogos. Em 1768 era curato da mesma apresen- tação;—rendia para o cura 30$000 réis— e eontava 170 fogos. O censo de 1864 deu-lhe 236 fogos e 962 habitantes,— e o de 1878 deu-lhe 256 fogos e 847 habitantes, no que houve grande ine- xactidão, pois 256 fogos deviam ter pelo me- nos 1:050 habitantes. Comprehende as aldeias seguintes: — Mos- teiro, séde da paroehia,— Maia. Cerrado, Es- trada, Lamella, Covello, Giesta, Costa, Mu- ro.. Aldarem, Arnellas, Crasto (Castro), Mar- nel, Sarilhos, Capellão, Coucieiro, Guilhade, Sá, S Salvador. Outeiro de Cima, Outeiro de Baixo, Cantinho, Boa Vista, Varziella, Code- çal, Cunha, Pinta, Presa, Costa, Figueira, Pena, Penedo, Cornido. Calvário, Moinhos, Amaral, Portas, Lagea, Ferreiros, Fonte,Fon- tinha, Aldeia, Souto, Pomarinho, Noval, Ca- bouco, Ribeira, Cunha, Cantinho, Villar, Villela de Cima e Villela de Baixo. Quintas 1. »— Mosteiro, de Julio Cesar Nogueira de Seabra. Comprehende as ruinas do extincto con- v vento dos eruzios, a cerca e mais dependên- cias. 2. a— Maia, de Belmiro Henrique Coelho de Carvalho. VIL VIL 1421 3 » — Coucieiro, de Manuel Joaquim Coelho Leal. k.*— Moinhos, de Joaquim da Silva Leal. g.a — Fonte, de José Joaquim Machado. 6. a— Penedo* de José Narciso Carneiro Leão. 7. *—Varziella, de João Leite da Gama, M. F. C. Real. Freguezias limitrophes:— Arreigada e Mo- dellos, do concelho de Paços de Ferreira, a N.;— Sobrosa a E.;— Duas Egrejas a S.;— e S. Salvador de Lordello a O.,— todas 3 d'este concelho de Paredes. Producções dominantes : — milho grosso, vinho verde, centeio, feijões e hervagens com que engorda muitos bois para a Inglaterra, industria muito rendosa ainda ha pouco tempo, mas que hoje se acha decadente. V. Villar d Andorinho. Em compensação nunca vendeu tão bem o seu vinho, embora verde e rascante, pois no ultimo anno (1885) os francezes compraram por bom preço e leva- ram para Bordéus a maior parte do vinho d'esta província e das do Minho, Beira e Es- tremadura. V. Villa Verde, séde de concelho, Villari- nho do Bairro, Villarinho de Cotas e Villari- nho de S. Romão. Demora esta freguezia na estrada nova a macadam de Paços de Ferreira á villa de Paredes, da qual e da sua estação na linha férrea do Douro dista approximadamente 6 kilometros para N. O,;— 41 do Porto pela di- eta estação — e 378 de Lisboa. É atravessada a leste pela dieta estrada a macadam, que em parte é districtal e em parte municipal. Também está projectada e já estudada uma estrada real a macadam que deve to- car na povoação do Mosteiro a O.— e na da Boa Vista a E. A egreja que foi do extincto convento e que é e foi sempre a matriz d'esta paroehia. Está em sitio agradável e vistoso, na en- costa de um pequeno monte, lado N.;— tem uma boa fronteria ladeada por duas torres VOLUME XI com sinos e relógio; — mede interiormente 31m,3 de comprimento e 9m,90 de largura no corpo da egreja, que é de uma só nave, e 6°, 15 de largura na capella mór. Tem guar- da-vento; — côro alto e muito espaçoso; — al- tar-mór com um soberbo throno e retábulo de talha antiga dourada; — 2 altares aos la- dos do arco cruzeiro, também ambos com ricas decorações de talha antiga dourada, — um do Senhor Crucificado, outro da Senhora do Rosario, — e no corpo da egreja mais 2, sendo um de N. Senhora da Boa Nova e ou- tro de Santo Estevam, ambos de talha mo- derna e barata. No retábulo do altar-mór se vê do lado da Epistola a imagem de Santo Agostinho — e do lado do Evangelho a de Santo Estevam. Tanto este altar como os dois do arco cru- zeiro teem preciosos frontaes de talha an- tiga dourada. Este templo foi reedificado em 1783 e re- parado interiormente em 1876 e 1878 *. Tem duas sacristias, — uma pertencente a fabrica, — outra ás 3 confrarias do Santíssi- mo Sacramento (tem óptimas alfaias anti- gas)— Senhora do Rosario e Almas. A sacristia da fabrica era privativa dos frades e communicava com o côro por uma grande sala contigua a este, sala que ficou pertencendo á egreja desde 1834, mas o pos- suidor do convento se apoderou d'ella, de mãos dadas com a junta de paroehia. Este venerando templo está limpo e bem conservado e n'elle se fazem pomposas fes- tas, sendo as principaes a de Santo Antonio e as dos oragos das 3 confrarias. Logo fallaremos do convento. Capellas i.« — Senhora do Seixoso. Demora ao sul da* matriz, distando d'ella cerca de 300 metros, no alto do monte do Seixoso, pelo que tem esplendidas vistas. Foi reedificada e augmentada em 1873 por alguns devotos, nomeadamente pelo commendsdor Eulálio Coelho da Silva, que i Em outubro de 1876 o nosso govefno deu para as dietas obras 600#000 réis. 90 1422 VIL VIL despendeu com as obras mais de 1:000*000 réis. Está muito limpa e mesmo aceiada; — tem altar-mór com throno e retábulo de talha dourada, arco cruzeiro, palpito com grades de ferro, coro, sacristia e, unida a esta, lado E., uma casa para diversos misteres. A sua invocação é Nossa Senhora da Saú- de de Seixoso;--tero pomposa festa com ro- magem no dia da Ascensão — e também aqui ae festeja o martyr Santo Thyrso no 4.» do- mingo" d'agosto. 2. *— Santo Antonio. Demora a 40 metros da egreja parochial para N. e no mesmo nivel da egreja, domi- nando a maior parte d'esta freguezia. Está bem tractada e bem conservada, mas, por ser muito singella e pequena, a festa annual do padroeiro, muito querido dos ha- bitantes d'esta parochia, é feita na matriz. 3. »— Senhor dos Passos. Era uma casa das mencionadas confra- rias, mas em 1878 o commendador Eulálio Coelho da Silva transformou-a em capella, na qual collocou a imagem do Senhor dos Passos em um andor e fez um altar, onde se diz missa. Esta capella está unida á egreja parochial, do lado N. E.— e contigua á sacristia das confrarias. Todas 3 são publicas. 4. »— Na casa da Varziella. 5/— Na casa da Fonte,— ambas particula- res, mas com porta franca ao publico. Edifícios mais notáveis {.•—-A casa de Varziella, Pertence a João Leite da Gama, da ilha de S. Miguel, F. C. R., descendente da nobre família Leites Ga- mas de Santo Ovidio de Avelleda. É brasonada. 2. °— Casa da Boa Vista, do commendador Eulálio e construída por elle. 3. °— Casa da Maia, de Belmiro Henrique Coelho de Carvalho, que a houve de seus maiores. 4. °— Casa do Mosteiro, extincto convento, hdje pertencente a Julio Cesar Nogueira de Seabra. 5.* — Casa do Amaral, que tem no mesmo edifício uma grande loja de commercio. Pertence a Joaquim Ferreira Dias e foi construída por elle ha poucos annos, no lo- cal onde existia um pequeno "casebre. Estes últimos 4 edifícios não sãs brasona- dos. Banha esta freguezia um regato com duas nascentes que desagua no rio Ferreira a O. na distancia de 1 kilometro. Tem 2 ponti- lhões,—4 rodas de moinhos— e um engenho de serrar madeira. No fim das luctas civis que terminaram em 1834 todo o nosso paiz ficou muito tem- po coberto de salteadores, que assolaram também este concelho e os circumvisinhos. 1 N'e8se Deriodo calamitoso foram assalta- das n'esta freguezia as casas da" Varziella e do Penedo. O convento de Santo Estevam de Villela Foi seu fundador o capitão D. Payo Gu- terres, filho de D. Gutierres, que vieram pa- ra Portugal com o conde D. Henrique, se- gundo se lê no Nobiliário do conde D. Pe- dro, tit. 55, § 2.° e na Chronica dos Cónegos Regrantes, tomo -1.° pag. 523. O mesmo D. Payo fundou também o con- vento de S. Simão da Junqueira, nos arra- baldes de Villa do' Conde— e foi o tronco da nobre familia Cunhas de Portugal e Castel- la, para onde passou o conde Martim Vas- ques da Cunha no tempo d'el-rei D. João I e fundou as casas dos marquezes de Vilhe- na, duques de Escalona, e a dos duques de Ossuna. Ignora-se a data precisa da fundação d'es- te convento, mas é certo que já no anno 1118 de Christo se achava fundado e habi- tado por cónegos, sendo seu prior Affonso Paez, a quem uma senhora, por nome Gila Paez, na era de M. C. LVI, que corresponde ao dicto anno, fez uma doação que termina- va assim: 1 V. Várzea da Candosa,— Villa Nova de Foscôa, vol. XI, pag. 842 e segg.— Valença do Douro,— Azambuja e Falperra n'este dic- cionario e no supplemento. VIL VJL 1423 Do igitur omnes ilas haereditates . . . Em vulgar: Dou todas as propriedades supra e as offereço ao altar de Santo Este- vam de Villela, para que as tenham e pos- suam todos os clérigos e presbyteros que ahi morarem debaixo do governo do prior D. Af- fonso Paez e perseverarem com vida santa e religiosa, segundo a Regra do Padre Santo Agostinho. Foi feita esta carta de doação no mez de junho da era de 1156. Foi 2.° prior D. Garcia Pires, um dos pri- meiros cónegos a quem Santo Theotonio lançou o habito no mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. A este prior se fizeram algumas doações, entre ellas uma por Payo Pires no anno de 1138— e outra no mesmo anno pelo capitão Pero Vermuy, deixando ambos ao convento tudo quanto possuíam, para terem parte nas orações d'aquelles religiosos e sepultura no seu claustro. A estas se seguiram outras doações, que tornaram este convento muito rico, mas, passando com o 4empo ao poder de fidalgos commendatarios, que foram verdadeiros zan- gãos e a maior praga que pesou sobre os nossos conventos durante séculos, os taes senhores alienaram e deram aos seus paren- tes muitas das melhores propriedades que pertenciam a este convento. O seu ultimo ccmmendatario e o mais be- nemérito de todos foi Antonio Brandão, da nobre família Brandões, do Porto, hoje mui- to dignamente representada pela sr.* mar- queza de Monfalim, viuva, e pelo sr. dr. An- tonio Emilio Correia de Sá Brandão, dignís- simo juiz do supremo tribunal. Tractou generosamente os cónegos; — fez no convento varias obras em que poz as suas armas— e falleceu em 1590,— data em que este convento se uniu à congregação de Santa Cruz de Coimbra, mas, demorando-se as bulias da união 5 annos, só em 1595 to- mou posse d'elle a congregação, sendo prior geral o dr. D. Chrystovam. Aos commendatarios, de nefasta memoria, seguiram-se priores trienaes e em 9 de fe- vereiro de 1595 se elegeu o 1.°— D. Gaspar dos Reis, prior digníssimo que restaurou o convento, tanto no espiritual como no tem- poral. Em 1612 se uniu in perpetuum ao con- vento da Serra do Pilar, também da mesma congregação;— em 1706 habitavam-no ape- nas 2 cónegos, servinio um de presidente e outro de procurador, e conservava uma re- líquia do seu padroeiro o proto-roartyr San- to Estevam, que era annualmente festejado cora grande romagem no dia próprio. Or- çavam então em 800#000 réis as rendas que d'este convento iam para o da Serra, cujo prior apresentava n'este de Villela um cura secular, a quem dava de côngrua 35#000 réis. Foi couto, mas já nos princípios do sé- culo xvm havia perdido esse privilegio. Durante a guerra civil entre D. Pedro e D. Miguel (1832-1834) viveram n'este con- vento os cónegos seguintes :— D. André da Conceição, D. Prior,— D. Luiz da Annun- ciada, vigário, — D. João das Neves, procu- rador,—D. Joaquim do Coração de Maria, D. Francisco das Dores e D. Bernardo da Ave Maria, os quaes o abandonaram quando foram extinctas as ordens religiosas (1834) e levaram comsigo a relíquia de Santo Es- tevam, de que falia a Chorogr. Port. e que estava na egreja em um braço de prata. O edificio do convento demorava e demo- ra a S. O. da egreja e unido a ella, em sitio vistoso, alegre e saudável;— hoje, 1886, con- ta pelo menos 768 annos;— tem passado por muitas vicissitudes e diversas reedificações, mas está limpo e bem conservado. Não tem bellesas architectonicas, mas são dignas de menção a sua ampla escadaria e a sacada da sala que é hoje sala de visitas. Ainda o convento A rainha D. Theresa o coutou no anno de 1128 — e na dieta carta se lê entre outras coisas o seguinte : Do et dono quantum ego habeo intus istos términos ab integro. . . Sic aereditates cómo- do homines, cómodo Voce Regalia . . . Ego Ta- rasia Regina hanc Kariam jussi fieri, et ma- nu mea roboravi. 1424 VIL VIL Em vulgar: «Dou e concedo quanto eu tenho dentro d'estes termos na sua integra, ... tanlo herdades, como homens e , vozes reaes (multas ou coimas que se pagavam á coroa). . . Eu a Rainha D. Theresa mandei fazer esta carta e a assignei por minha mào.i V. Voz e Cruz em Viterbo — e as Disser- tações de João Pedro Ribeiro, tomo 3.° pa- gina 89. Fr. Nicolau de Santa Maria (Clironica dos Cónegos Regrantes, logar citado) não pôde adduzir documento algum que provasse a existência d'este mosteiro antes do anno 1118; temos porem um documente anterior que prova não só a existência dVste mos- teiro no século xi, mas que elle então era de monges e por consequência benedictino ! . . . É um letigio que no anno de 1086 (era 1123) ainda no reinado de D. Affonso VI de Leão, moveram os monges d'este convento de Villela contra Eirigu Asiulfiz e outros^ pe- rante D. Egas Ermigiz, que julgou a favor dos monges. Versava o pleito sobre propriedades sitas na villa e freguezia de Sancta Marina de Fi- garia (Santa Marinha de Figueira, hoje fre- guezia do concelho de Penafiel). É um documento interessantíssimo para a historia d'este convento e pôde vêr-se na in- tegra nas Dissertações Chronol. e Cvit. de João P. Ribeiro, tomo 1.° pag. 228 e 229. Ê em latim e principia n'estes termos : Temporibus Mis. v Em vulgar: «No tempo em que D. Affon- so, rei das Hespanhas, conquistou aos mou- ros a cidade de Toledo, rebentou um letigio entre os frades do mosteiro de Villela e os herdeiros de S. Mamede de Fafilanes. Estes litigantes eram Diogo, presbytero e monge (Monacus) que ao tempo presidia ao mos- teiro de Santo Estevam de Villela, contra Eirigu Asiulfiz e outros, por causa das ter- ras da egreja de S. Mamede de Fafilanes si- tuadas no termo da villa de Santa Marinha da Figueira . . . . » Na divisão que das rendas do bispado do Porto foi feita no anno de 1195 entre o bis- po e o cabido, ficou pertencendo ao bispo este convento de Villela, alem d'outros e de varias terras e egrejas. V. Dissert. de João Pedro Ribeiro, vol.5.° pag. 90 e segg. Também ali (pag. 63) se encontra um ou- tro documento curioso que prende com este convento. É a doação que no anno de 1302 fez Beringeira Ayres ao Bispo do Porto D. Giraldo, dando lhe este convento e muitos outros de que era padroeira, para que elle e seus successores lhe defendessem o con- vento d'Almosler, — a encommendassem a Deus nas suas orações— e mandassem dizer pela alma d'ella uma missa annual no dia 15 d'agosto. Finalmente nas mesmas Dissertações, to- mo 2.° ftag. 255, se encontra na sua' integra o accordo celebrado no convento depen- durada em 24 d'agosto do aono de 1387, en- tre os prelados de muitos conventos, inclu- indo este de Villela, obrigando-se os dictos conventos a suffragarem mutuamente os re- ligiosos que fallecessem em qualquer d'el- les. No dia 22 de junho de 1885 pesòu sobre este concelho e sobre os concelhos limitro- phes:— Paços de Ferreira, Penafiel e Santo Tbyrso, uma trovoada medonha, que ater- rou a todos e causou muitos prejuízos. N'esta freguezia uma faísca eléctrica in- cendiou uma corte onde estava uma junta de bois, matando um d'elles. No concelho de Paços de Ferreira cairam mais de 50 faíscas eléctricas. Uma d'ellas incendiou uma casa na freguezia de Frea- munde,—outra duas choupanas na fregue- zia de Figueiró— e outra um rolheiro de pa- lha na freguezia de Pena Maior. No concelho de Penafiel cairam também differentes faíscas e mesmo na cidade duas: uma na casa do sr. Silva Cabral, partindo a haste de uma bandeira e alguns vidros, — outra junta do paiol de infanteria 6, que não tem para- raios. Também cairam varias faíscas eléctricas no concelho de Santo Thyrso. Uma d'ellas na freguezia da Reguenga incendiou uma casa habitada por uma mulher que estava na cama com uma creancinha, sendo ambas VIL VIL 1425 salvas pelos visinhos atravez das chammas que devoraram o prédio. Ao meu illustrado collega, o muito rev. sr. Pedro Celestino Cardoso Osorio, abbade de Santa Maria de Duas Egrejas e vigário da vara no 5.° districto eeclesiastieo de Pena- fiel, agradeço os apontamentos que se dignou enviar-me. VILLELA DAS CHOÇAS ou simplesmente Villela,— freguezia do concelho e comarca dos Arcos de Val de Vez, districto de Vian na do Castello, arcebispado de Braga, pro vincia do Minho. Abbadia. Orago Nossa Senhora da Concei ção (Santa Maria)— fogos 112,— habitantes 430. Em 1706 era abbadia do Ordinário;— per- tencia ao mesmo termo e concelho dos Ar- cos de Val de Vez, então comarca de Vianna; — rendia 300$000 réis— e contava 100 fogoá. Em 1768 era da mesma apresentação, mas corria pleito entre o arcebispo de Braga e os frades bernardos do convento de Fiães, — pleito que os frades venceram;— rendia réis 300#000-e contava 91 fogos. Em 1834 era da apresentação da mitra. O censo de 1864 deu-lhe 86 f-gos e 426 (!) habitantes,— e o de 1878 deu-lhe 122 fogos e 415 habitantes. Nenhum dos dois censos merece credito, pois 426 habitantes são habitantes de mais para 86 fogos,— e 122 fogos deviam dar pelo menos 500 habitantes. Comprehende as aldeias seguintes:— So- bre-Egreja, Villa Nova. Telhado, Sordieiro, Redondo, Costa, Quinteiro, Gogido e Casal do Eido. A egreja parochial demora na margem es- querda do rio Vez, do qual dista meio kilo- metro para N. E.; — 2 da estrada real a ma- cadam n.° 1, dos Arcos a Monsão;— 10 da villa dos Arcos para N. N. O.; — 15 da villa da Ponte da Barca;— 32 de Ponte de Lima; —55 de Vianna;— 137 do Porto pela estação de Vianna e pela linha férrea do Minho, — e 474 de Lisboa. 1 1 A estação de Valença fica mais próxima Producções dominantes: — milho grosso, vinho verde, feijões, hervagens e fructa. É também mimosa de peixe do seu rio e de caça dos seus montes. Terreno fértil e mimoso, principalmente na margem do Vez, onde tem campos lindís- simos e bellos açudes para irrigação e re- creio. O seu clima é temperado e saudável, mas varia com as altitudes. Nas margens do Vez é mais quente do que frio; — nos seus montes é áspero— e a meia encosta temperado. Freguezias limitrophes: — S. Pedro de Sá a N. N. E.;—S. Cosme e Damião a S. S. E. — Sabbadim e Aboim das Choças a O. S. O., alem do rio Vez. Esta parochia é muito antiga e anterior ao século xu, pois já na era de 1225 (anno i 187) D. Sancho 1 doou a F. Fernandiz me- tade d'ella e do reguengo de Sabbadim na parochia d'este nome e sua limitrophe, na outra margem do Vez. A dieta doação principia assim : Ego Rex D. Sancius, una cum uxore mea D. Dulcia, . . . Em vulgar: • Eu rei D. Sancho, juntamen- te com miuha mulher a rainha D. Dulce e meus filhos o rei D. Affonso e o rei D. Hen- rique, e minhas filhas a rainha D. Theresa e a rainha D. Sancha. . .» Maço 12 de Foraes Antigos, n.° 3, fl. 64, v. na Torre do Tombo,— e Dissertações de J. P. Ribeiro, tomo 2.° pag. 289,— e 3.° parte 1.», pag. 178. Esta parochia nunca foi villa nem teve fo- ral próprio, mas foi terra muito priveligia- da, por ser expressamente comprehendida no foral que el-rei D. Manuel deu em 2 de junho de 1515 á villa de Val de Vez. Livro de Foraes Novos do Minho, fl. 77, col. 1.» V. Val de Vez, vol. X, pag. 92, col. 2.»— e Arcos de Valle de Vez n'este diccionario e no supplemento, onde ampliaremos aquelles de Villela, mas dista da de Vianna 49 kilo- metros para N. e obriga a maior percurso, quem houver de dirigir-se para o sul 1426 VIL VIL artigos e mencionaremos todas as povoações comprebendidas no foral de D. Manuel. Não as mencionamos agora aqui por serem mui- tas e o local menos próprio; entretanto po- dem ver se em Franklin. Esta paroehia. nunca foi vílla, como já dis- semos, mas outr'ora pertencia ao termo da antiquíssima e extincta villa das Choças,c\x- ja séde se "ignora. A tradição apenas diz que comprehendia a aldeia das Choças de Cima, hoje pertencente á freguezia de Alvora,— a das Choças de Baixo, hoje da freguezia de Aboim das Choças, — e uma porção de ter- reno a O. do rio Vez, n'esta farochia de Villela, cujos habitantes não querem se de- nomine Villela das Choças, porque uma das taes aldeias assim denominadas foi um me- donho covil de ladrões. Só em um anno d'ali foram 7 degredados para a Afriea I. . . , Diz também a tradição que a tal villa das Choças tomara o nome das choças, casebres on tendas, onde por estes sitios bivacaram os exércitos de D. Affonso Henriques e de D. Affonso VII de Leão em 1128 ou 1129, por occasião da batalha de Valle de Vez. V. Arcos de Val de Vez. Gomo reminiscência da extincta villa das Choças ainda hoje se apontam na aldeia das Choças de Cima, em Alvora, os restos das pa- redes de um edifício que (dizem) foi casa da Misericórdia, transferida para a villa dos Arcos. Também dizem que a matriz da extincta villa estava nas Choças de Aboim, no local que hoje occupa a capella de S. Pedro, Ca- pella que ainda pelos annos de 1850 era um templo vasto, — a velha matriz. Esta paroehia é banhada pelo rio Vez e pelo regato dos Curtos (talvez Curutos) ou dos Pinheiros, confluente do Vez, e tem n'este rio uma ponte de pedra e vários moi- nhos. Os seus templos reduzem-se á egreja pa- rochial, de uma só nave, reconstruída no ultimo século e bem conservada, — e a uma capella de S. Gonçalo d' Amarante. Ha nos montes d'esta freguezia 2 morros notáveis, denominados Côto do Viso e Côto do Signo Samão. Este ultimo é formado por grandes penedos sobrepostos. Em maio de 1886 foi annexada ecclesias- ticamente a esta paroehia de Villela a de S. Pedro de Sá. Terminaremos dizendo que não nos foi possível encontrar documento algum es- cripto com relação á villa das Choças, posto que fizemos inspeccionar o actual archivo da camará de Val de Vez, que representa os archivos das camarás extinctas n'este con- celho; nada porém ali se encontra a tal res- peito, porque foi pasto das chammas, não sabemos quando. Houve e não sabemos se ha n'esta paro- ehia uma família nobre, por appellido Li- ma Brito, que em 1805 era representada por Antonio de Lima Brito, filho de Manuel de Lima Brito e de sua mulher D. Laura de Sousa Rodrigues, neto paterno do dr. Anto- nio de Brito de. Lima e materno de Domin- gos Rodrigues. Ao mencionado Antonio de Lima Brito foi a 7 d'outubro d'aquelle anno concedido por D. João VI o brasão d'armas seguinte: — es- cudo partido em pala, tendo na 1." as ar- mas dos Britos e na 2." a dos Limas. Ao meu íllustrado collega, o rev. sr. Fran- cisco Joaquim da Rocha, parocho actual d'esta freguezia, agradeço os apontamento» que se dignou enviar-me. Nasceu s. ex.» a 10 de dezembro de 1858, na freguezia de Giella, d este concelho, e fo- ram seus paes José Maria Cerqueira da Ro- cha, antigo sargento das milícias dos Arcos de Val de Vez, e D. Maria Clara da Cunha Varejão; — neto paterno de João Miguel Cer- queira, forriel das milícias dos Arcos na guerra da península, e materno de Francisco Antonio Pereira Varejão, alferes do terço de Coura no regimento de milícias de Vianna, em 1833 a 1834. O rev. Francisco J. da Rocha foi alumno do seminário de Braga;— ordenou-se em 23 de setembro de 1882 e collou-se n'esta fre- guezia de Villela em 8 de junho de 1886. VILLELA SECCA,— freguezia do concelho e comarca de Chaves, districto de Villa Real, VIL VIL 1427 diocese de Braga, província de Traz-os-Mon- tes. Rei toria. Orago Nossa Senhora da Assum- pção;— fogos 150,— habitantes 684. Era 1706 era curato da mitra; — pertencia ao termo e concelho de Chaves, comarca e ouvidoria de Bragança, — e contava 50 fogos. Em 1768 era vigairaria da apresentação do abbade de Villarelho;— rendia 60#000 rs. e contava 73 fogos. O censo de 1864 deu-lhe 123 fogos e 535 habitantes— e o de 1878 deu-lh^ 143 fogos e 684 habitantes. Toda a sua população está concentrada na grande aldeia de Villela Secca, na margem direita ao Tâmega, do qual dista 3 kilome- tros para O.;— 11 de Chaves para N.;— 85 de Villa Real;— 112 da estação da Regoa (hoje a mais próxima) na linha férrea do Douro; —216 do Porto— e 553 de Lisboa. Estas distancias devem modifkar-se, logo que se construam as 3 linhas férreas proje- ctadas e em estudos: — 1.» de Chaves a Gui- marães;—2." de Chaves a Viseu pelo valle do Corgo, Regoa e Lamego;— 3.» de Chaves a Viseu lambem pelos valles do Tâmega e do Paiva. Esta ultima devé encurtar consideravel- mente a distancia entre Chaves e o Porto e por consequência entre Chaves e Lisboa, porque, segundo os estudos já feitos, entron- ca na linha do Douro no kilornetro 58, en- tre a estação do Marco e- o apeadeiro da Li' vração, 46 kilometros a jusante da Regoa, e poupará os viandantes ao fastidioso per- curso de 101 kilometros em diligencia da estação da Regoa até Chaves. Confina ao norte com a nossá freguezia de S. Thiago de Villarelho da Raia; — ao sul com a de Santa Maria de Bustello; — ao poen- te com a de S. Martinho do Couto de Erve- dedo — e ao nascente com a Gallisa, metten- do-se o Tâmega de permeio. Producções dominantes: — milho grosso, muito vinho, feijões, trigo, cevada, herva- gens e fructa. Também cria muito gado bovino e é mi- mosa de peixe do Tâmega e de caça miúda. A egreja matriz, com altar-mór e dois la - teraes, é um templo modesto, mas decente, — e ha também n'esta freguezia uma capella dedicada ao Senhor dos Milagres. Demora a N. da povoação de Villela e está hoje den- tro do cemitério parochial, que e um dos melhore» d'estes sitios. Viveu muitos annos n'esta parochia o rico proprietário Francisco Fernandes de Moura, ha pouco fallecido. Era natural da freguezia de Santa Maria de Gralhas, irmão do rev. João Alvares de Moura, muito digno procu- rador do seminário de S. Paulo, em Braga, e sobrinho do rev. dr. João Alvares de Mou- ra, muito illustrado e muito virtuoso deão da sé do Porto, onde foi advogado distin- ctissimo e por vezes governador da diocese, — irmão do zeloso missionário e virtuosíssi- mo cónego regrante, bacharel formado em philosophia, D. Joaquim da Boa Morte Alva- res de Moura, natural da povoação de Me- deiros, freguezia de S. Vicente da Chã, con- celho de Montalegre. V. vol. X, pag. 530. É natural d'esta freguezia de Villela o rev. Felisbino Garcia de Oliveira, parocho colla- do na freguezia de Nossa Senhora da Con- ceição de Lama d'Arcos e Villa-Frade, n'este mesmo concelho de Chaves,— e é hoje reitor d'esta freguezia de Villela o rev. Manuel Cae- tano Rodrigues, natural de S. Vicente de Redondello. Villela Secca não tem estrada alguma a macadam. A mais próxima é a de Çhaves a Verim, que atravessa as duas formosas vei- gas assim denominadas e passa a pequena distancia da margem esquerda do Tâmega. É uma estrada lindíssima e toda tão pla- na que até aborrece, como nos succedeu quando em outubro de 1883 visitámos Ve- rim. A grande industria desta parochia e de todas as nossas da raia é o contrabando. Nós temos hoje um corpo de guardas fiscaes numeroso e muito bem montado, mas, ape- sar de tudo, o contrabando continua em to- da a raia e com tanta facilidade que os con- trabandistas, dando-se-lhes apenas mais 10 por cento alem do custo das fazendas em 1428 VIL VIL Hespanha, obrigam-se a pol-asem qualquer ponto do nosso paiz. E cumprem religiosa- mente,— a despeito de toda a vigilância fis- cal l. . . Esta freguezia também já pertenceu ao concelho de Ervededo, extincto pelo decreto de 31 de dezembro de 1853, pelo qual pas- sou para o de Chaves. Em 1884 Joaquim de Sousa, casado, filho d'esta parochia de Villela, mas residente em Verim, tendo assassinado ali a pobre mu- lher, foi preso e sentenciado á pena de mor- te na forca, segundo as leis da Hespanha. Apenas constou o facto na nossa villa de Chaves, o benemérito delegado do procura- dor régio, dr. João de Sousa Vilhena, recla- mou a intervenção do nosso governo. Diri- giu-se este ao rei da Hespanha Affonso XII, o qual generosamente accedeu, commutando a pena do reu na imniediata. Ao meu bom amigo e collega, o rev. sr. Manuel Henrique da Silva Machado, reitor de S. Martinho de Bornes, agradeço os apon- tamentos que se dignou enviar-me. VILLELA DO TÂMEGA, — freguezia do concelho e comarca de Chaves, districto de Villa Real, diocese de Braga, província de Traz-os-Montes. Reitoria. Orago Nossa Senhora da Assum- pção;—fogos 184,— habitantes 790. Em 1706 era curato do mesmo concelho e diocese, mas da comarca e ouvidoria de Bragança,— e contava 80 fogos. Em 1768 era vigairaria da apresentação dos arcebispos de Braga;— rendia para o vi- gário 70^000 réis— e contava 88 fogos. O censo de 1864 deu-lhe 174 fogos e 720 almas,— e o de 1878 deu-lhe 170 fogos e 660 almas. Comprehende as 3 aldeias seguintes: li* — Villela do Tâmega, sede da parochia. Em 1706 contava 40 fogos;— hoje conta 124. 2. a— Rodeai. Em 1706 contava 30fogos;— hoje conta 44. 3. « — Moure. Em 1706 contava 10 fogos;— hoje conta 16. Ha também n'esta parochia 6 quintas:— ' Oliveira, Ribeira, Regueiral, Souto, Prados e Outeiro;— 5 casas de moinhos de cereaesno Tâmega, movidos por agua— e 2 moinhos de azeitona em Villela, movidos por bois. Demora em terreno accidentado ao sul da serra de Santa Barbara e na margem es- querda do Tâmega, do qual a povoação de Villela dista 1 kilometro para S. E.;— 11 de Chaves para S. O ;— 55 de Villa Real;— 82 da estação da Regoa, hoje a mais próxima, na linha do Douro;— 186 do Porto pela es- tação da Regoa— e 523 de Lisboa. Estas distancias devem soffrer grande mo- dificação, logo que' se construam as linhas férreas projectadas e em estudos: — de Cha- ves a Guimarães, em continuação das de Guimarães ao Porto pela Trofa e pela Povoa de Varzim, já construídas e em exploração; — de Chaves a Vizeu pelo Valle do Corgo, Regoa e Lamego,— e a outra de Chaves a Viseu também pelos valles do Tâmega e do Paiva. V. Villela Secca e Vias Férreas, vol. X pag. 471 e segg. Passa n'esta freguezia na direcção O. N. O. pelo fundo da povoação de Villela a estrada real a maçada m n.° 5, de Villa Real a Cha- ves, servida pelas diligencias e mala-posta que trabalham entre Chaves, Guimarães e Regoa e que suspenderão as suas carreiras logo que se construam as linhas indicadas supra. A dieta estrada real é plana e lindíssima desde esta parochia até Chaves, bem como de Chaves até á fronteira e mesmo até Ve- rim, pois já do sitio da Aveleira, termo de Villarinho, se descobre a vasta planieie de Chaves, toda cultivada e cortada a meio pela dieta estrada e pelo Tâmega, aqui muito se- reno e orlado de amieiros, salgueiros, ala- mos e freixos, regando e fertilisando as vei- gas de Chaves e de Verim, que formam por assim dizer uma só. Abrigam a veiga de Chaves a S. e S. E. o monte Minheu e a serra de Padrella — e a N. e N. O. as serras de Bar- roso. Templos : — a egreja matriz e 2 capellas VIL VIL 1429 publicas,— uma na aldeia de Rodeai, com a invocação de S. Thiago,— outra na aldeia de Moure, com a invocação de Santo Antonio, — e uma particular na povoação de Villela, com a invocação de Nossa Senhora das Do- res. A egreja matriz, templo modesto, mas de- cente, está muito bem situada na povoação de Villela, em .terreno alto, alegre e vistoso, dominando toda a povoação, que lhe fica a jusante,— a estrada real a macadam— e um largo horisonte. Foi reconstruída em 1750 e pintado o te- cto em 1880. Tem uma nave e 5 altares:— o mór com o Santíssimo e as imagens da padroeira e de Santo Amaro, e 4 lateraes:— Senhor Cruci- ficado e S. Sebastião, do lado da epistola;— Senhora do Amparo e Senhor dos Passos, do lado do Evangelho. 1 Festividades principaes:— a da padroeira a 15 d'agosto— e 2 menores:— a da Senhora das Candeias e a do Santo Nome de Deus. Tem adro murado que serve de cemitério, desde que se prohibiram os enterramentos nas egrejas. Producçòes dominantes :— vinho, milho, centeio, azeite, batatas, castanhas, muita fru- cta de caroço e hervagens, pelo que também cria bastante gado bovino e lanígero. É também mimosa de caça dos seus mon- tes e de peixe do Tâmega. O vinho era a sua producção principal, mas infelizmente hoje a phylloxera ameaça de morte os seus vinhedos e já pouco vinho produzem, como todos os d'esta província transmontana. Freguezias limitrophes:— Villas Boas a S.„ — S. Pedro d'Agostem a E.,— Villarinho das Paranheiras a O.,— o Tâmega a N. E.— e S. Vicente de Bedondello, alem do Tâmega. É povoação muito antiga e data pelo me- 1 A imagem actual da padroeira foi man- dada fazer pelo parocho e mais devotos em 1703, em substituição da primitiva, que se achava muito deteriorada com o peso dos séculos. V. Santuário Marianno, vol. 7.° pag. 432. nos da occupação romana, o que é natura lissimo, por ser um arrabalde e*dependen- cia da celebre cidade Aquae Flaviae (Cha- ves) e demora na via militar para as cida- des romanas de Panoias, Lamego e Caria— e talvez para a de Cauca, hoje Villa Pouca d'Aguiar, na opinião d'alguns auctores. V. Chaves, Villa Pouca d? Aguiar e Villa Real de Traz-os-Montes. j Ainda hoje aqui, no termo d'esta paroehia de Villela, se encontram junto do Tâmega claros vestígios de con«trucçÕes romanas, que o povo denomina obras dos mouros, e uma ponte de pedra com assentos de pedra também aos lados. Também ha memoria de se terem encon- trado moedas romanas em vários pontos d'esta freguezia. As margensdo Tâmega são planas e lin- díssimas a jusante d'esta paroehia, no termo de Villarinho das Paranheiras, e mais ainda a montante, atravez da esplendida veiga de Chaves, mas aqui, no termo de Villela, são em grande parte escabrosas,— e no sitio do Chapeirão, um pouco a montante do açude que os de Villarinho das Paranheiras cons- truíram, ha um pégo respeitável. O monte de Santa Barbara, de que já fi- zemos menção nos artigos Chaves, Villas Roas e Villarinho das Paranheiras, princi- pia a erguer-se de N. 0. no termo d'esta freguezia, junto do Rodeai, e é dividido por ella, pela de Villas Roas e Dela de S. Pedro d'Agostem, pertencendo a esta ultima a ca- pellinha de Santa Barbara, pelo que em 1823, quando no dicto monte se feriu a batalha entre a divisão realista do general Silveira e a divisão liberal de* Luiz do Bego tam- bém soffreu bastante esta freguezia de Vil- lela. Ainda hoje o seu actual reitor bem se re- corda do susto que então teve ! . . . Também por occasião da medonha tro* voada de que ja fizemos menção e que pe- 1 V. Villa Real de Traz-os-Montes, vol. XI, pag. 1020, col. 1.»,— Rarbara (Santa) serra, vol. l.° pag. 322, — Villar d'Ossos e Santa Barbara. 1430 VIL VIL sou sobre o disto monte no dia 3 d'agosto de 1842, as aguas, dividindo-se em torren- tes, causaram muito prejuiso n'esta paro- chia, principalmente nas povoações de Vil- leia e Rodeai. V. Villarinho das Paranheiras. Alem da trovoada de 3 d'agosto de 1842, também outra não menos medonha pesou sobre esta freguezia e sobre as povoações de S. Pedro d'Agoslem, Bobeda, Seixo e Loivos no dia 26 de junho de 1876. A agua era tão abundante e tomou tal vulto e força, que inundou os campos e le- vou na torrente penedos de um tamanho descommunal. Os estragos foram muitos. A agua, na sua maior força, demoliu paredes de dois e tres metros de altura, arrancou ar- vores e muitas vinhas, cobriu de areia mui- tos lameiros e fez escavações na profundida- de de dez metros. Os trigos e centeios foram todos levados pela torrente. Um raio matou, ao pé de tíubeda, um homem chamado Amador Gomes, que n'essa occasião andava no campo com os bois; finalmente, muitos lavradores ficaram arruinados. Galculou-se o prejuiso, approximadamente em 12 a 15 contos de réis, diz o Flaviense, folha de Cha- ves. Ha n'esta freguezia uma escola offlcial de instrueção primaria para o sexo masculino — e uma casa única brasonada, da qual va- mos fazer menção. Pessoas notáveis Dr. Eduardo Jobé Coelho, bacharel formado em direito, fidalgo distincto, ca- valheiro muito illustrado e de muito mere- cimento. Nasceu na sua nobre ca 3a de Rodeai, a única brasonada e absolutamente a mais rica d'esta parochia, e é juiz de uma das varas em Lisboa, tendo sido juiz de direito nos Açores (Ilha do Pico) Rezende, Villa Pouca d'Aguiar, Ceia, Tondella e Beja, deputado ás cortes em varias legislaturas, governador ci- vil de Bragança, etc. Casou com a sr." D. Carolina d'Almeida Pessanha, da nobre familia Pessanhas dos subúrbios de Mirandella, irmã de Carolino d'Almeida Pessanha, já fallecido, que foi deputado em differentes legislaturas/, — r-e so- brinha do digno par do reino João) PPedro d'Almeida Pessanha, venerando amei.ãao na actualidade e uin dos cavalheiros maus i ricos d'esta província. O sr. dr. Eduardo José Coelho é fiilhho de Silvestre José Coelho, lambem cavallheiíiro de muita probidade e dignidade, poir \ vezes administrador e vereador d'este comiccelho, — e de D. Anna Angelica Gomes de Moourat já fallecida, herdeira e senhora da mobrfe ca- sa de Rodeai. É s. ex.* também sobrinho, por afffluiiddade, do bacharel Antonio Victor de Carrvaltlho e Sousa, da illustre casa da Ponte des tCuavêz» morador que foi na aldeia de Villa fito Con- de, freguezia de Valloura, concelho d aó)vem- bro de 1822;— foi coadjutor na de S. fPedro de Miragaya, no Porto, desde 1849 até 11860; —passou depois para o patriarchado, onde parochiou em varias freguezias — e é ali actualmente prior de Odivellas, des*de í 1865. 3<«_0 rev. Luiz Alves. É distincto professor de latim, nauitto es- timado e considerado pela sua nãio vrulgar illustração e pelo seu exemplar compjorta- mento. 4. »— João Antonio de Carvalho, meídico- cirurgico e cavalheiro estimabilissuno tam- bém. Casou na freguezia de Carrazedo de Mon- tenegro, onde fixou a sua residenci a e falle- eeu ha annos. Era um hábil clinico. 5. »— O rev. Jeronymo José de Sousa Mar- tins. Nasceu n'esta freguezia em 8 dor ser taxado de liberal foi perseguido e pireso e esteve na cadeia de Chavez du- rantte o governo do sr. D. Miguel. F'alleceu em 26 de julho de 1845 — e sue- ced